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DIREITO ELEITORAL

5º PERÍODO

ÂNGELA ISSA HAONAT

PALMAS – TO

2010
UNIVERSIDADE DO TOCANTINS
Reitoria
Osmar Nina Garcia Neto

Vice-Reitoria
Lívio William Reis de Carvalho

Pró-Reitoria de Graduação
George França dos Santos

Diretoria de EaD e Tecnologias Educacionais


Igor Yepes

Diretoria de Ensino
Patrícia Martins Buhler Tozzi

Coordenadoria de Planejamento Pedagógico e Midiático


Rodrigo Barbosa e Silva

Coordenador do Curso
Kasuo Otsuka

MATERIAL DIDÁTICO
Organização de Conteúdos Acadêmicos
Angela Issa Haonat

Coordenação Editorial
Maria Lourdes F. G. Aires

Responsável Técnico de Área


Naíma Worn

Revisão Linguístico-Textual
Ivan Cupertino

Revisão Didático-Editorial
Silvéria Aparecida Basnik Schier

Gerente de Divisão de Material Impresso


Katia Gomes da Silva

Revisão Digital
Rogério Adriano Ferreira da Silva

Projeto Gráfico
Albânia Celi Morais de Brito Lira
Katia Gomes da Silva
Márcio da Silva Araújo
Rogério Adriano Ferreira da Silva
Vladimir Alencastro Feitosa

Ilustração
Geuvar Silva de Oliveira

Capa
Rogério Adriano Ferreira da Silva
APRESENTAÇÃO
Prezado estudante,
O Direito Eleitoral representa a garantia e a instrumentalização de
um dos direitos mais caros – que é o direito à democracia, pilar de sustentação
do Estado Democrático de Direito. Apresentaremos a disciplina de forma a
familiarizá-lo com o direito reputado como o mais paritário de todos, que é o
direito ao voto. Distribuímos o conteúdo da disciplina em sete capítulos de
forma a apresentá-la de forma sucinta, mas, ao mesmo tempo proporcionando-
lhe uma visão panorâmica sobre esse ramo do Direito. Mesmo guiando o seu
estudo por este caderno, não deixe de buscar outras fontes atualizadas, como
a Constituição, compêndios, jurisprudências, leis e artigos que versem sobre o
assunto em temáticas mais pontuais.
O primeiro capítulo traz uma introdução ao Direito Eleitoral, o qual
aborda conceitos, fontes e princípios do Direito Eleitoral.
O viés constitucional dado ao tema será abordado no segundo
capítulo, no qual estudaremos os direitos políticos previstos na Constituição
Federal de 1988, além de analisarmos a aquisição e a perda desses direitos.
A Justiça Eleitoral, que possui as suas peculiaridades, e o Ministério
Público Eleitoral serão estudados no terceiro capítulo, dando-nos suporte para
enfrentar o tema dos partidos políticos e o registro de candidatos no quarto
capítulo, já adentrando em aspectos mais específicos da matéria.
O quinto capítulo aborda os atos preparatórios, a votação e a
apuração das eleições, sendo-lhe apresentado cada um desses procedimentos
com pormenores.
A propaganda eleitoral e a prestação de contas serão estudadas no
sexto capítulo, a partir do qual você poderá compreender como a lei evoluiu no
sentido de coibir distinções prejudiciais aos candidatos, visto que criminalizou
uma série de condutas que antes eram permitidas.
Fechando o nosso conteúdo, será apresentado, no capítulo sétimo,
a matéria processual do Direito Eleitoral, em que você estudará o Direito
Processual Eleitoral, os recursos cabíveis e os crimes eleitorais.
Desejo-lhe um semestre bastante proveitoso.
Profª Ângela Issa Haonat
PLANO DE ENSINO
Curso: Fundamentos Jurídicos
Disciplina: Direito Eleitoral
Período: 5º

Ementa
Conceito e objeto. Fontes. Relações com outras disciplinas jurídicas. História e
evolução. Direito Eleitoral no Brasil. Organização eleitoral. Justiça Eleitoral.
Sistema eleitoral. Capacidade eleitoral. Elegibilidade. Inelegibilidade. Ministério
Público Eleitoral. Processo eleitoral. Garantias eleitorais. Invalidade dos atos
eleitorais. Recursos eleitorais. Crimes eleitorais. A propaganda eleitoral dos
partidos políticos.

Objetivo
Reconhecer os conceitos e as fontes do Direito Eleitoral a partir da análise da
regulamentação eleitoral brasileira, a fim de desenvolver uma visão crítica
sobre o processo eleitoral, do alistamento até a fase de diplomação inclusive os
crimes e direito processual eleitoral.

Conteúdo programático
• Conceito, fontes e princípios do Direito Eleitoral
• Aquisição e perda dos direitos políticos. Sufrágio, sistema de voto e
escrutínio. Alistamento eleitoral
• Órgãos da justiça eleitoral. Magistratura eleitoral. Ministério Público
Eleitoral
• Conceito e natureza jurídica dos partidos políticos. Convenções
partidárias para escolha dos candidatos. Coligações
• Organização das zonas e seções eleitorais. Mesa receptora. Juntas
eleitorais. Fiscalização. Escrutinadores e auxiliares. Votação eletrônica.
Apuração. Diplomação dos eleitos
• Princípios da propaganda política. Espécies. Da arrecadação e da
aplicação dos recursos na campanha eleitoral
• Processo eleitoral. Ações. Espécies de recursos. Crimes eleitorais e
políticos

Bibliografia básica
CÂNDIDO, Joel José. Direito Eleitoral Brasileiro. 13. ed. Bauru: Edipro, 2008.
COSTA, Tito. Recursos em matéria eleitoral. 8. ed. São Paulo: RT, 2004.
VELLOSO, Carlos Mário da Silva. Direito Eleitoral. Belo Horizonte: Del Rey,
1987.

Bibliografia complementar
BULOS, Uadi Lamego. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2008.
CHIMENTI, Ricardo Cunha. Direito Eleitoral. São Paulo: Paloma, 2001.
COELHO, Marcus Vinícius Furtado. Direito Eleitoral e Processo Eleitoral:
Direito Penal Eleitoral e Direito Político. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.
COSTA, Adriano Soares da. Instituições de Direito Eleitoral. Belo Horizonte:
Del Rey, 2006.
FUHRER, Maximiliano Roberto Ernesto; FUHRER, Maximiliano Cláudio
Américo. Dicionário Jurídico: matéria por matéria. 2 ed. São Paulo: Malheiros,
2009.
MICHELS, Vera Maria Nunes. Direito Eleitoral. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2006.
NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano; ARAÚJO, Luiz Alberto David de. Curso de
Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2006.
QUEIROZ, Ari Ferreira de. Direito Eleitoral. 10. ed. Goiânia: IEPC, 2006.
RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 3. ed. Niterói: Impetus, 2009.
SPITZCOVSKY, Celso; MORAES, Fábio Nilson Soares de. Direito Eleitoral.
São Paulo: Saraiva, 2009. v. 27.
Sumário

Capítulo 1 – Introdução ao Direito Eleitoral

Capítulo 2 – Direitos políticos

Capítulo 3 – Justiça Eleitoral e Ministério Público Eleitoral

Capítulo 4 – Dos partidos políticos e do registro de candidatos

Capítulo 5 – Dos atos preparatórios, da votação e da apuração das eleições

Capítulo 6 – Da propaganda política e da prestação de contas

Capítulo 7 – Do processo, dos crimes e dos recursos eleitorais


Capítulo 1 – Introdução ao Direito Eleitoral

Introdução

Você estudou na disciplina Introdução ao Estudo do Direito que o


Direito, para fins didáticos, é classificado em ramos. São estes ramos: público,
privado e difuso. Como você estudou, o Direito Eleitoral pertence ao ramo do
Direito Público.
Normalmente o Direito Eleitoral é estudado como matéria optativa na
maioria das universidades. Constitui assim um privilégio o estudo desta
disciplina em nosso Curso, porque o seu conhecimento contribuirá na
construção da democracia.
O Direito Eleitoral é o responsável pela sistematização do sufrágio
(ativo e passivo), na busca de estabelecer harmonia entre a vontade do povo e
a atividade daqueles escolhidos para exercitar essa vontade, por meio da
representatividade.
Para reconhecer a importância do Direito Eleitoral, além de distinguir
as suas peculiaridades em relação aos demais ramos do Direito e identificar as
fontes do Direito Eleitoral, é importante que você conheça um pouco de nossa
história enquanto modelo de Estado. Para esse fim, elegemos um artigo de
autoria de Jaime Barreiros Neto, contido no sítio
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=12872>. Você perceberá por
quantas mudanças passamos até chegarmos ao modelo democrático
atualmente vigente em nosso sistema eleitoral.
Neste capítulo inicial, estudaremos os aspectos mais introdutórios da
disciplina, como o seu conceito, fonte e princípios.

1.1 Considerações iniciais acerca do Direito Eleitoral


De acordo com Marcos Ramayana (2009, p. 5) o Direito Eleitoral
pode ser conceituado como
[...] um conjunto de normas jurídicas que regulam as capacidades de
votar e ser votado, o processo de alistamento, no registro de
candidaturas, a propaganda política eleitoral, votação, apuração,
proclamação dos eleitos, prestação de contas de campanhas
eleitorais e diplomação, bem como as formas de acesso aos
mandatos eletivos através dos sistemas eleitorais.
Como percebemos, o Direito Eleitoral regula todos os procedimentos
atinentes à ocorrência das eleições, ou seja, tanto a capacidade ativa (direito
de votar), como a capacidade passiva (direito de ser votado), passando por
todos os trâmites garantidores dessa capacidade passiva.
Outros autores também conceituam o Direito Eleitoral. Vamos
conhecer outros conceitos. Para Joel J. Cândido (2007, p. 25), o Direito
Eleitoral é
[...] é o ramo do Direito Público que trata de institutos relacionados
com os direitos políticos e das eleições, em todas as suas fases,
como forma de escolha dos titulares dos mandatos eletivos e das
instituições do Estado.

Ainda sobre o tema, Marcus Vinícius Furtado Coelho (2008, p. 67),


leciona que constitui objetivo do Direito Eleitoral
[...] assegurar e implementar um processo que respeite as normas,
destinado a garantir a soberana e livre manifestação da vontade
popular na escolha dos representantes que irão, em nome do povo,
exercer o poder político nas esferas legislativas e executivas.
Em outras palavras, visa [a] ordenar um devido processo legal capaz
de legitimar, através de eleições livres, a escolha das pessoas a
quem o povo outorga mandatos, cumprindo o art. 1º da Constituição
Federal que estabelece a democracia representativa no estado de
direito como o regime político da nação.

O Direito Eleitoral viabiliza a concretização do processo democrático


conforme estabelece a Constituição da República Federativa do Brasil. Na
sequência, veremos quais são as fontes do Direito Eleitoral.

1.2 Fontes do Direito Eleitoral

O significado de fonte em sentido lato pode ser compreendido como


nascente, fonte de água, ou ainda como o local de onde provém algo.
Aplicando essa metáfora ao Direito, teremos o significado de fonte como o
lugar de onde Direito se origina, ou ainda, de onde ele nasce.
O Direito Eleitoral, tal qual os demais ramos do Direito, para fins
didáticos, tem fontes específicas. Essas fontes podem ser classificadas, de
acordo com Queiroz (2006, p. 35-38), em fontes principais, próprias e
subsidiárias. Passemos, pois, ao seu estudo conforme o quadro 1.
Quadro 1 - Fontes do Direito Eleitoral
a) Constituição Federal: Lei Fundamental. A Constituição estabelece as
diretrizes gerais do Direito Eleitoral (direitos políticos e organização da Justiça
FONTE Eleitoral).
PRINCIPAL b) Leis Complementares: regulamentam as normas constitucionais que
demandam essa regulamentação; (necessidade deve vir expressa na norma
constitucional). Ex. 1 - LC 64/90 (disciplina a questão da inelegibilidade em
sentido material e processual). Ex. 2 - O Código Eleitoral (Lei 4.737/65) que é
uma lei híbrida (as disposições sobre a organização e competência da Justiça
Eleitoral possuem status de lei complementar, e as demais normas têm status
de lei ordinária).
a) Código Eleitoral: como visto, o Código Eleitoral tem status de Lei
Complementar apenas quanto às normas de organização e competência da
Justiça Eleitoral. Os demais assuntos têm status de Lei Ordinária (capacidade
ativa e passiva, do alistamento eleitoral, votação, apuração, entre outros).
b) Lei dos Partidos Políticos: regula o funcionamento dos partidos políticos
FONTES (art. 17 da CF/88), estabelecendo normas de criação, fusão, extinção e regras
PRÓPRIAS para filiação e desfiliação dos partidos.
c) Leis Eleitorais transitórias: elaboradas para disciplinar uma eleição em
particular. Ex.: Lei 8.214/91 - regulamentou as eleições de 1992; a Lei
8.713/93 - regulamentou as eleições de 1994; a Lei 9.100/95 – regulamentou
as eleições de 1996; e a atual Lei Eleitoral, Lei n° 9.504/97, que foi editada
para regulamentar as eleições de 1998, mas acabou regulamentando,
também, uma vez que continua em vigor, as eleições seguintes, ressalvando-
se que revogou o Código Eleitoral, apenas naquilo em que forem conflitantes.
a) Leis em geral: funcionam como fontes subsidiárias, complementando as
fontes primárias. Ex. o Código Penal (conceitos como imputabilidade e
punibilidade) e o Código Civil (conceito de capacidade, maioridade e
FONTES responsabilidade). São ainda considerados, como fonte subsidiária, o Código
SUBSIDIÁRI de Processo Penal e o Código de Processo Civil.
AS b) Resoluções dos Tribunais Eleitorais: importante fonte do Direito Eleitoral,
pois em sua maioria são emanadas do TSE, especialmente para regulamentar
eleições e disciplinar temas específicos do pleito.
c) Estatutos dos partidos: regem os seus respectivos partidos,
especialmente nas questões relativas à composição de seus órgãos, os
critérios de escolha dos candidatos aos cargos eletivos, a filiação partidária,
entre outros.
Fonte: Queiroz (2006, p. 35-38)
Como você pode perceber, as fontes do Direito Eleitoral têm suas
características específicas, com o que se destaca o estabelecimento das
normas gerais na Constituição Federal, a necessidade de Lei Complementar
nos casos expressos na Constituição e o caso específico do Código Eleitoral
que tem natureza híbrida. Fontes próprias são caracterizadas por leis de
caráter transitório (regulam especificamente uma eleição), além de lei de
partidos políticos e do próprio Código, naquilo que se tratar de lei ordinária.
Além dessas, destacam-se as Resoluções editadas pelo TSE, as leis em geral
e os estatutos dos partidos, constituindo o que a doutrina nominou de fonte
subsidiária. Depois de analisarmos as fontes do Direito Eleitoral, examinaremos
seus princípios.

1.3 Princípios do Direito Eleitoral


Você estudou acerca dos princípios no ordenamento jurídico
brasileiro e, portanto, sabe serem os mesmos uma das fontes do Direito que
mais suscitam discussões. Há autores que nem mesmo os consideram como
tal. Inegável porém que a doutrina mais moderna empresta-lhes um status de
norma jurídica com características próprias, distinta da das regras. Celso
Antonio Bandeira de Mello citado por Coelho (2008, p. 83), assim, leciona
sobre os princípios
Mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele,
disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas
compondo-lhes o espírito e servindo de critério para a sua exata
compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a
racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe
dá sentido harmônico.

Os princípios específicos do Direito Eleitoral, como os demais


princípios jurídicos, além de nortearem a disciplina, emprestam-lhe força
normativa. E, de acordo com Coelho (2008, p. 83), os princípios eleitorais
encontram-se dispostos “na Constituição Federal, Código Eleitoral, Leis
Eleitorais e Resoluções do TSE”, entre os quais podemos destacar

[...] o princípio do aproveitamento do voto, da celeridade, isonomia,


da devolutividade dos recursos, preclusão instantânea, anualidade,
responsabilidade solidária entre os candidatos e partidos políticos,
irrecorribilidade das decisões do Tribunal Superior Eleitoral.

Lembrando que o autor aponta alguns dos princípios reconhecidos


pela doutrina e que você poderá encontrar diversa nomenclatura e rol para
designar esses e outros princípios que deixamos de mencionar neste capítulo,
pois serão tratados em capítulo específico. Nos próximos, analisaremos os
princípios do Direito Eleitoral.

1.3.1 Princípio da celeridade

Conforme Coelho (2008, p. 84), no Direito Eleitoral, a celeridade é a


tônica, visto que tanto o processo eleitoral, como o pleito eleitoral propriamente
dito, têm períodos limitados. Assim, a Justiça Eleitoral carece de maior
celeridade. Leciona ainda que
A celeridade é característica intrínseca ao processo eleitoral. O início
e o término pré-estabelecidos do processo impõem que as decisões
eleitorais sejam imediatas, evitando-se que se estendam para após
as diplomações, que constituem a sua última fase. (COELHO, 2008,
p. 84)

Inúmeros fatores demonstram a especificidade da Justiça Eleitoral


quanto ao princípio da celeridade. É o que apresentamos no quadro 2.

Quadro 2 - Princípio da celeridade


Três dias para interposição de recursos ([Art. 258, CE]; e alguns em 24 horas [Art. 58, § 5º da
Lei 9504/97].
24 horas para a Justiça Eleitoral proferir decisões nos processos e direito de resposta [Art. 58,
§ 6º da Lei n. 9504/97].
Execução imediata das decisões, que poderá ser feita por ofício, telegrama ou cópia de
acórdão [Art. 257, parágrafo único, do CE].
Prioridade para os feitos eleitorais, no período do registro das candidaturas até cinco dias
após as eleições, ressalvados apenas os habeas corpus e mandado de segurança [Art. 94 da
Lei n. 9504/97].
Prazo de 48 horas para apresentação de defesa [representação do Art. 96 da Lei n.
9504/97].
Continuidade dos prazos relacionados à impugnação do registro de candidatura que não se
suspendem aos sábados, domingos e feriados [Art. 16 da LC 64/90].
Fonte: Coelho (2008, p. 84)

Como demonstrado no quadro 2, a celeridade é fundamental para


uma prestação jurisdicional adequada. Os prazos para defesa, recurso e
impugnações são diferenciados tanto no quantitativo dos dias, como na forma
de contagem do prazo.

1.3.2 Princípio da Isonomia ou princípio da lisura das eleições

A isonomia é direito fundamental assegurado na Constituição


Federal de 1988. Reforçando essa ideia, Coelho (2008, p. 84-85) assim dispõe
sobre esse princípio:
O regime democrático permite que quaisquer cidadãos no gozo de
seus direitos políticos, que preencham as condições de elegibilidade
e que não estejam limitados por alguma causa de inelegibilidade,
disputem, em igualdade de condições, os cargos eletivos que os
conduzirão ao mandato parlamentar ou executivo.
Essa disputa, porém, deve ser pautada pela igualdade de
oportunidades e pela lisura dos meios empregados nas campanhas
sem privilégios em favor de determinada candidatura.

O princípio da isonomia, como qualquer outro direito fundamental,


não é absoluto, encontra limites impostos pela própria Constituição que
estabelece regras, por exemplo, quanto à idade mínima para candidatar-se a
determinados cargos ou ainda ao estabelecer que alguns cargos só podem ser
ocupados por brasileiros natos.
O que se quer resguardar com esse princípio é a lisura dos
processos, bem como a igualdade nas oportunidades, evitando que haja
distinções em prejuízo de um ou de outro candidato nas campanhas eleitorais.
Conforme Coelho (2008, p. 85), esse princípio aplica-se a todos os envolvidos
no processo eleitoral, como “Ministério Público, partidos, meios de
comunicação, candidatos e eleitores, a fim de que as regras sejam iguais para
todos”.
O exemplo de como o legislador preocupou-se com a concretização do
princípio da igualdade está nos dispositivos a seguir mencionados.
Artigo 14, § 9º da CF/88

Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os


prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade
administrativa, a moralidade para o exercício do mandato,
considerada a vida pregressa do candidato, e a normalidade e
legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o
abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração
direta ou indireta.

Art. 23 da LC 64/90

O Tribunal formará sua convicção pela livre apreciação dos fatos


públicos e notórios, dos indícios e presunções e prova produzida,
atentando para circunstâncias ou fatos, ainda que não indicados ou
alegados pelas partes, mas que preservem o interesse público de
lisura eleitoral.

Essa preocupação do legislador constitucional e infraconstitucional


encontra-se em consonância com a proteção que se quis reservar a esse
princípio.

1.3.3 Princípio da devolutividade dos recursos

Como regra, e em respeito ao princípio da celeridade, os recursos


no Direito Eleitoral têm apenas efeito devolutivo. De acordo com Coelho (2008,
p. 86), “a ausência de efeito suspensivo ao recurso faz com que a decisão do
juiz automaticamente seja cumprida, independente se a parte recorre ou não,
para que, assim, a celeridade ocorra”. A exceção a essa regra está contida na
própria lei. Como exemplo da mitigação dessa regra, o autor destaca a Ação de
Impugnação de Registro de Candidatura e de Recurso Contra a Expedição do
Diploma (CE Art. 216) e Art. 15 da LC 64/90, segundo a qual, “transitada em
julgado à decisão que declarar a ilegalidade do candidato, ser-lhe-á negado
registro, ou cancelado, se já tiver sido feito, ou declarado nulo o diploma, se já
expedido”.

1.3.4 Princípio da preclusão

Sobre esse princípio, Coelho (2008, p. 86) leciona que


O processo eleitoral é constituído por uma sucessão de fases bem
definidas e sucessivas, tendo seu início com as convenções
partidárias para a escolha dos candidatos e sua última etapa a
diplomação dos candidatos eleitos.
Assim sendo, o princípio da preclusão determina que, encerrada uma
fase, não mais poderão ser impugnados atos relativos às fases
anteriores. As impugnações e nulidades devem ser alegadas
imediatamente, sob pena de preclusão — perda da faculdade de agir.

Você já estudou acerca da preclusão, mas a título de relembrar o


que você estudou, temos que preclusão, de acordo com Fuher e Fuher (2009,
p. 82), é a “proibição de retorno a fases já superadas no processo (Art. 473 do
CPC. Corresponde à perda do direito de praticar determinado ato”.
Como exemplo de preclusão no âmbito do Direito Eleitoral, Coelho
(2008, p. 86-87) ressalta que,
No momento da efetivação do voto do eleitor, ocorre a preclusão
instantânea temporal quanto a qualquer impugnação, como expresso
no Art. 147, § 1º do CE, pelo qual “a impugnação à identidade do
eleitor, formulada pelos membros da mesa, fiscais delegados,
candidato ou qualquer eleitor, será apresentada verbalmente ou por
escrito, antes de ser o mesmo admitido a votar”.
[...]
Art. 149 do CE: “Não será admitido recurso contra a votação, se não
tiver havido impugnação perante a Mesa Receptora, no ato da
votação, contra as nulidades arguidas”.

O princípio estudado visa a resguardar o direito do cidadão que


tenha realizado o voto, descabendo, a partir desse ato, qualquer alegação
sobre a impugnação dele, que deveria ser oposta em momento oportuno como
facultado pela lei. Ressalta ainda Coelho (2008, p. 87) que a “preclusão não
incide em relação a matérias constitucionais e a erros na intimidade da justiça”.

1.3.5 Princípio da Anualidade ou Princípio da Anterioridade da Lei


Eleitoral

Para Coelho (2008, p. 87), esse princípio consagra-se na máxima de


que “não se pode mudar as regras do jogo no meio do campeonato, que
traduzindo para seara jurídica eleitoral significa que, não se devem fazer leis
casuísticas para preservar o poder político, econômico ou autoridade”.
O Art. 16 da CF/88 dispõe que “a lei que alterar o processo eleitoral
entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que
ocorra até um ano da data de sua vigência”., com a redação dada pela EC
04/1993.
Como vemos o princípio da anualidade integra os direitos e as
garantias fundamentais assegurados na Constituição Federal de 1988.
Cerqueira citado por Coelho (2008, p. 86) ressalta a distinção entre
eficácia e vigência, que você também já estudou em Introdução do Estudo do
Direito. Segundo ele não se deve
[...] confundir vigência [aplicação imediata — não incidência da vactio
legis] com eficácia [aplicação um ano após a sua promulgação].
Portanto, toda lei que alterar o processo eleitoral, tem vigência
imediata à data de sua publicação. Porém terá apenas eficácia
imediata [efeitos já aplicados], se publicada um ano antes da eleição
em trâmite e eficácia contida [para próximas eleições]. Trata-se de
eficácia condicionada ao intervalo de um ano, preservando o princípio
da rule of game, para impedir leis casuísticas, eletistas e frutos de
poder econômico ou político.

Como vemos, esse princípio está atrelado ao princípio da rule of


game, em que se impede a mudança das regras durante o jogo, isto é, proíbe-
se a edição de leis casuísticas. Essa proibição não se estende, porém, às leis
de cunho meramente instrumental e que não interfiram nas regras do processo
eleitoral, como as que digam, por exemplo, a respeito do preenchimento de
formulários entre outros.

1.3.6 Princípio da responsabilidade solidária entre candidatos e partidos


políticos

Ao falar da responsabilidade solidária existente entre os candidatos e


os partidos políticos, Coelho (2008, p. 89-90) explica que
Tanto o candidato (pessoa física) quanto os partidos políticos (pessoas
jurídicas) possuem solidariedade em relação à responsabilidade cível,
administrativa e penal pelos abusos e excessos cometidos por eles
durante o processo eleitoral, isso caracteriza o princípio da
responsabilidade solidária entre candidatos e partidos políticos.

Essa responsabilidade decorre de previsão expressa da Lei e da


jurisprudência como se apresenta no quadro 3.
Quadro 3 - Das responsabilidades do candidato e do partido político
Art. 241 do CE Toda propaganda eleitoral será realizada sob a responsabilidade dos partidos
ou dos seus candidatos, por eles paga, imputando-se-lhes solidariedade nos
excessos praticados pelos candidatos e adeptos.
Art. 17 da Lei n. As despesas da campanha eleitoral serão realizadas sob a responsabilidade dos
9.504/97 partidos políticos, ou de seus candidatos, e financiadas na forma dessa Lei.
Art. 38 da Lei n. Independe da obtenção de licença municipal e de autorização da Justiça Eleitoral a
9.504/97 veiculação de propaganda eleitoral pela distribuição de folhetos, volantes e outros
impressos, os quais devem ser editados sob a responsabilidade do partido,
coligação ou candidato.
Jurisprudência “II - Há solidariedade entre partidos políticos e seus candidatos no tocante à
TSE realização da propaganda eleitoral destes”. (TSE, Acórdão RESPE 21418, DJ
21/6/2004, p. 89).

Fonte: Coelho (2008, p. 90)


Vale ainda ressaltar que também a doutrina aponta na mesma direção
sinalizada pela lei e pela jurisprudência. A única ressalva a se fazer é quanto à
responsabilidade penal que, de acordo com Coelho (2008, p. 90), a própria
Constituição Federal assegura ser pessoal e intransferível. De forma que, ao
prever, a Constituição veda a imposição de “sanção sobre quem não possui
comprovadamente participação, ainda que omissiva, na concretização”.

1.3.7 Princípio da irrecorribilidade das decisões do Tribunal Superior


Eleitoral

A irrecorribilidade das decisões do TSE está prevista no Art. 281 do


CE, com a seguinte disposição:
São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior, salvo as que
declararem a invalidade de lei ou ato contrário à Constituição Federal e
as denegatórias de habeas corpus ou mandato de segurança, das quais
caberá recurso ordinário para o Supremo Tribunal Federal, interposto no
prazo de 3 (três) dias.

De acordo com Coelho (2008, p. 91), esse princípio está previsto na


CF/88, com certas ressalvas, que são justamente em relação às decisões que
contrariarem a Constituição e as denegatórias de habeas corpus e mandato de
segurança. De modo que, segundo o autor, o STF só é chamado a intervir nessas
hipóteses, o que faz do TSE o órgão de última instância em matéria eleitoral.
Como exemplo de cases em que o STF foi chamado a intervir o autor aponta: a
verticalização das eleições, a perda de mandato por infidelidade partidária e a
inelegibilidade decorrente da vida pregressa, todos esses motivos são de
conotação constitucional.
Estudamos, no primeiro capítulo, as bases que nos servirão para
aprofundamento de nossos estudos no decorrer dos demais capítulos. Perceba
que iniciamos pelo conceito e pelo objeto do Direito Eleitoral, passando pelo
estudo de suas fontes e, por fim, destacamos os princípios que, além das fontes
normativas, orientam e norteiam a disciplina.

No próximo capítulo, você estudará os direitos políticos e como eles


se encontram protegidos na Constituição Federal com status de direito
fundamental. Além do estudo dos direitos políticos propriamente ditos, você
analisará as hipóteses de aquisição e perda desses direitos.

Atividades
1. O artigo 281 do Código Eleitoral dispõe que

São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior, salvo as que


declararem a invalidade de lei ou ato contrário à Constituição Federal
e as denegatórias de habeas corpus ou mandato de segurança, das
quais caberá recurso ordinário para o Supremo Tribunal Federal,
interposto no prazo de 3 (três) dias.

A partir da interpretação do artigo mencionado é possível afirmar que


será irrecorrível a decisão do TSE, salvo aquela que:
I – contrariar a Constituição Federal;
II – denegar mandado de injunção;
III – decretar a inelegibilidade de candidato à Presidência da República;
IV – denegar habeas corpus;
Pode-se afirmar que estão corretas
a) I e IV apenas.
b) I, II e III apenas.
c) I, II e IV apenas.
d) II e III apenas.

2. O princípio da devolutividade dos recursos não possui efeitos suspensivos.


Contudo, pela análise do Art. 216 do CE “enquanto o Tribunal Superior não decidir
o recurso interposto contra a expedição do diploma, poderá o diplomado exercer o
mandato em toda a sua plenitude” e, pelo Art. 15 da LC 64/90 “transitada em
julgado a decisão que declarar a inelegibilidade do candidato, ser-lhe-á negado
registro, ou cancelado, se já tiver sido feito, ou declarado nulo o diploma, se já
expedido”, podemos afirmar que
a) a ação de impugnação de registro de candidatura e o recurso contra a
expedição do diploma mitigam a regra do Direito Eleitoral quanto ao efeito dos
recursos.
b) entre as ações manejadas no processo eleitoral apenas o recurso contra a
expedição do diploma tem efeito suspensivo.
c) os recursos interpostos em sede de decisão de mandado de segurança e
habeas corpus no âmbito do processo eleitoral têm ambos os efeitos devolutivo
e suspensivo.
d) o recurso interposto em sede de habeas data e de mandado de injunção em
sede de processo eleitoral têm efeitos devolutivo e suspensivo.

3. Quanto aos efeitos da lei que venha a alterar o processo eleitoral e, com base no
Art. 16 da CF/88 que assim dispõe: “a lei que alterar o processo eleitoral entrará
em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um
ano da data de sua vigência”, podemos afirmar que:
I. o princípio da anterioridade refere-se apenas ao período de vacatio legis da
lei;
II. a lei não poderá entrar em vigor enquanto não tiver eficácia plena;
III. a lei poderá entrar em vigor desde a sua publicação ressalvando-se quanto a
sua eficácia o período mínimo de um ano;
IV. o princípio da anterioridade fere direito consagrado na Constituição Federal.
Estão corretas as assertivas
a) I, II e III apenas.
b) I e II apenas.
c) III, e IV apenas.
d) III apenas.

4. Todos os ramos de Direito, ao atestar sua autonomia, indicam fontes e


principiologia próprios. Em relação ao Direito Eleitoral,
a) quais são as fontes específicas do Direito Eleitoral; e qual a especificidade
que se pode destacar quanto ao Código Eleitoral?
b) quanto ao status dos princípios que norteiam a disciplina, você os
classificaria como fonte do direito? Justifique utilizando argumentos
constitucionais, distinguindo os princípios das regras.

Comentário das atividades


Na atividade 1, você acertou se apontou a letra (a), pois a
alternativa lista duas das três possibilidades que você estudou como passíveis
de mitigar o princípio da irrecorribilidade às decisões que contrariarem a
Constituição, as denegatórias de habeas corpus e mandato de segurança. A
(II) está incorreta, pois trata do mandado de injunção que, apesar de remédio
constitucional como o HC e o MS não se aplicam por falta de previsão na lei. A
(III) está incorreta, porque não se aplica à espécie.
Na atividade 2, assinalou a letra (a), pois apenas a ação de
impregnação de registro de candidatura e o recurso contra expedição do diploma
se aplicam os efeitos suspensivos dos recursos. Nos demais casos esse efeito, que
é a exceção e não a regra, não se aplica. A alternativa (b) está incorreta, pois
menciona a hipótese como a única alternativa, quando a possibilidade se aplica
também à ação de impugnação de registro de candidatura. A alternativa (c) está
incorreta por mencionar como ensejadores da exceção à regra os recursos
interpostos em sede de HC e MS. A letra (d) está incorreta por mencionar que em
sede de habeas data e mandado de injunção em sede de processo eleitoral têm
efeitos devolutivo e suspensivo.
Na atividade 3, você deve ter optado pela letra (d) que prevê que
apenas a assertiva (III) está correta. A assertiva (I) está incorreta, pois o princípio
da anterioridade diz respeito tanto a vacatio legis quanto à eficácia da lei (que não
poderá ser aplicada se o prazo da sua entrada em vigor até a sua aplicação no
caso concreto for menor de que um ano). A assertiva (III) está incorreta, a lei
vigorará, não podendo, contudo, ser aplicada por falta de eficácia. A assertiva (IV)
está incorreta por afirmar que o princípio da anterioridade fere direito consagrado
na Constituição Federal, quando é justamente o contrário, ele assegura direitos
fundamentais.
Na atividade 4, para responder de forma correta você deve pesquisar
acerca da classificação das fontes específicas do Direito Eleitoral. Atente-se
para o fato de o Código Eleitoral ser considerado como uma espécie de lei
híbrida e qual são os efeitos dessa especificidade. Analise na doutrina sobre
princípios e regras, quais são as especificidades de cada um. Para saber mais
sobre princípios e regras, pesquise no sítio
<http://www.direitodoestado.com/revista/REDE-2-ABRIL-2005-
SERGIO%20GUERRA.pdf>.

Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília: Senado, 1988.
______. Código Eleitoral. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4737.htm>. Acesso em: 12 nov.
2009.
CÂNDIDO, Joel José. Direito Eleitoral Brasileiro. 13. ed. Bauru: Edipro, 2007.
COELHO, Marcus Vinícius Furtado. Direito Eleitoral e Processo Eleitoral:
Direito Penal Eleitoral e Direito Político. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.
FUHRER, Maximiliano Roberto Ernesto; FUHRER, Maximiliano Cláudio
Américo. Dicionário Jurídico: matéria por matéria. 2. ed. São Paulo:
Malheiros, 2009.
QUEIROZ, Ari Ferreira de. Direito Eleitoral. 10. ed. Goiânia: IEPC, 2006.
RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 3. ed. Niterói: Impetus, 2009.
Capítulo 2 - Direitos políticos

Introdução

Os diretos políticos formam a base de nosso sistema eleitoral. Com


fins puramente didáticos inicialmente, apresentar-lhe-emos os conceitos de
soberania, federação, cidadania, sufrágio, escrutínio e voto, para então
apresentar como estão dispostos na Constituição Federal e ainda quais as
formas de aquisição e da perda dos direitos políticos.
Ainda ressaltaremos a condição especial de algumas pessoas que,
em razão das funções exercidas, como os magistrados, membros do ministério
público e os militares, têm uma condição especial para o gozo e o exercício
desses direitos.
Você estudou os aspectos mais conceituais da disciplina no capítulo
1. Todos os conceitos estudados serão importantes para a compreensão dos
direitos políticos expressos na Constituição Federal e o reconhecimento da
distinção entre a suspensão e a perda dos direitos políticos. Recomendamos
assim a leitura dos artigos 14 a 16 da Constituição Federal, que você poderá
acessar pelo sítio <www.planalto.gov.br> (clicando no item legislação e depois
elegendo no menu o item Constituição).
Os direitos políticos passaram por relevantes modificações desde
que foram instituídos. Acompanhe essa evolução lendo o artigo A evolução
político – eleitoral do Brasil, da autoria de José Valente Neto, disponível no sítio
<http://www.unifor.br/notitia/file/1680.pdf>. Você perceberá que a luta pela
conquista dos direitos políticos se deu de forma lenta, por exemplo, o direito de
voto só foi concedido à mulher na década de 1930. Pesquise mais sobre o
assunto do voto feminino em notícia disponibilizada no sítio
<http://www.jusbrasil.com.br/noticias/129517/direito-ao-voto-feminino-
comemora-75-anos>.

2.1 Considerações iniciais acerca dos direitos políticos

Os direitos políticos perfazem o rol de espécies que compõem os


direitos e as garantias fundamentais previstos na Constituição Federal de 1988.
O professor André Ramos Tavares (2006, p. 696), os conceitua como “o
conjunto de regras destinadas a regulamentar o exercício da soberania
popular”. Para o autor, a expressão direitos políticos em sentido amplo significa
a) O direito de todos participarem e tomarem conhecimento das
decisões e atividades desenvolvidas pelo governo.
b) O Direito Eleitoral.
c) A regulamentação dos partidos políticos.

Em suma, para Tavares (2006, p. 696), os direitos políticos


constituem-se como “o conjunto de normas que disciplinam a intervenção,
direta ou indireta, no poder”.
Para Celso Spitzcovsky e Fábio Nilson Soares de Moraes (2009, p.
1), os direitos políticos “são aqueles voltados à regulação do exercício da
soberania dentro de determinado Estado”. Os autores fazem menção aos Arts.
1º parágrafo único e 14 da Constituição a seguir reproduzidos.
Art. 1° Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição.
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e
pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos
da lei, mediante:
I - plebiscito;
II - referendo;
III - iniciativa popular.

De acordo com o lecionado, pode-se concluir que os direitos políticos


podem ser compreendidos como o direito de participação do cidadão na
formação do governo e sua atividade, abrangendo o direito de votar e ser
votado nas eleições, o direito de voto nos plebiscitos e referendos e direito de
manifestação por meio de iniciativa popular (Art. 14, incisos I, II e III da CF).
Antes de adentrar ao tema propriamente dito vamos ao estudo de
alguns conceitos importantes.

2.2 Conceitos correlatos aos direitos políticos


O conhecimento de alguns conceitos correlatos aos direitos políticos
é essencial para adentrarmos em nosso estudo. Apresentamo-los no quadro 2.
Quadro 2 - Conceitos aplicáveis aos direitos políticos
Cidadania 1. A cidadania no direito positivo brasileiro está ligada ao atributo eleitoral
e político. Ser cidadão significa ser o titular do direito de votar (cidadania ativa)
e de ser votado (cidadania passiva) (RAMAYANA, 2009, p. 41).
Voto 1. O voto é o instrumento, a ferramenta do direito de sufrágio. Ex.: o
eleitor considerado facultativo, se não votar, não precisa justificar a ausência
ou pagar multa, pois seu voto é considerado um direito, se encontrado em dia
com suas obrigações eleitorais. O voto é igual para todos. É um direito público
subjetivo que expressa uma função social da soberania popular. (RAMAYANA,
2009, p. 42).
2. O voto é personalíssimo (não pode ser exercido por procuração), pode
ser direto (como determina a atual CF) ou indireto. É direto quando os eleitores
escolhem seus representantes e governantes sem intermediários. É indireto
quando os eleitores (denominados de 1.º grau) escolhem seus representantes
ou governantes por intermédio de delegados (eleitores de 2.º grau), que
participarão de um Colégio Eleitoral ou órgão semelhante.
3. O voto é secreto para garantir a lisura das votações, inibindo a
intimidação e o suborno. O voto com valor igual para todos é a aplicação do
direito político da garantia de que todos são iguais perante a lei.
Sufrágio 1. O sufrágio é um direito abstratamente assegurado. Ex.: o maior de 70
anos tem direito ao sufrágio assegurado pela Constituição Federal. A
universalidade do sufrágio por si só afasta eventual interpretação restritiva e
que possa limitar grupos de eleitores. Classifica-se o sufrágio em:
a) sentido irrestrito: é o mesmo que sufrágio universal (não aceita as
restrições atinentes às condições de fortuna ou capacidade intelectual),
encontra limites, por exemplo, em relação aos conscritos, os menores de 16
anos e os estrangeiros.
b) sentido restrito: compreende limitações a determinado tipo de situações.
Mestre José Afonso da Silva citado por Ramayana (2009, p. 41) expõe
que
a) sufrágio capacitário: reserva o direito de voto para pessoas que tenham um
determinado grau de instrução;
b) sufrágio censitário: restringe o voto a determinadas pessoas com certas
condições de fortuna.
Os sufrágios capacitário e censitário não são mais utilizados no Brasil. Os
exemplos se referem ao período da Constituição Imperial de 1824. Atualmente
ainda encontramos fragmentos do sufrágio restrito em relação aos estrangeiros,
conscritos e absolutamente incapazes (RAMAYANA, 2009, p. 41- 42).

Representa o direito de votar e ser votado e é considerado universal quando se


outorga o direito de votar a todos que preencham requisitos básicos previstos
na Constituição, sem restrições derivadas de condição de raça, de fortuna, de
instrução, de sexo ou de convicção religiosa.

Identifica um sistema no qual o voto é um dos instrumentos de deliberação.

Os conceitos apresentados serão exaustivamente cobrados em todos


os capítulos daqui por diante. Procure fixá-los para melhor aproveitamento de
nosso conteúdo.
Vamos conhecer um pouco sobre o plebiscito, o referendo e a iniciativa
popular.

2.3 Do plebiscito, do referendo e da iniciativa popular


Ao lado dos conceitos estudados, temos ainda dois institutos de
exercício do poder, na verdade três, já que o Art. 14 da Constituição Federal
menciona o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular, mas aqui daremos
ênfase apenas aos dois primeiros.
Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 10) consideram que os dois
instrumentos – plebiscito e referendo – “têm em comum o fato de surgirem como
meios de consulta direta à população”. Distintos, porém, uma vez que “o plebiscito
surge como instrumento de consulta direta à população, em caráter originário,
enquanto o referendo, em caráter derivado ou secundário”.
Esses instrumentos estão regrados pela Lei n. 9.709/98, que
regulamenta o Art. 14 da Constituição e dispõe em seu Art. 3° que,
Nas questões de relevância nacional, de competência do Poder
o
Legislativo ou do Poder Executivo, e no caso do § 3 do art. 18 da
Constituição Federal, o plebiscito e o referendo são convocados
mediante decreto legislativo, por proposta de um terço, no mínimo, dos
membros que compõem qualquer das Casas do Congresso Nacional, de
conformidade com esta Lei.

Se caso for aprovado, o ato convocatório, as providências para dar


seguimento ao procedimento estão contidas no Art. da mencionada lei.
Vejamos quais são essas providências.
o
Art. 8 Aprovado o ato convocatório, o Presidente do Congresso
Nacional dará ciência à Justiça Eleitoral, a quem incumbirá, nos
limites de sua circunscrição:
I – fixar a data da consulta popular;
II – tornar pública a cédula respectiva;
III – expedir instruções para a realização do plebiscito ou referendo;
IV – assegurar a gratuidade nos meios de comunicação de massa
concessionários de serviço público, aos partidos políticos e às frentes
suprapartidárias organizadas pela sociedade civil em torno da matéria
em questão, para a divulgação de seus postulados referentes ao
tema sob consulta.

Como exemplo desses instrumentos, mencionamos duas ocorrências


recentes no Brasil. Veja no quadro 3.
Quadro 3 - Distinção entre plebiscito e referendo
PLEBISCITO REFERENDO
O plebiscito realizado em nosso país para O referendo realizado no Brasil, em outubro
que a população pudesse decidir acerca da de 2005, a fim de que a população opinasse
forma e do sistema de governo, por força confirmando ou não as regras já
expressa determinação estabelecida no Art. estabelecidas pelo Art. 35 do Estatuto do
2º do ato das disposições constitucionais desarmamento [Lei n.10.826/2003].
transitórias disposto a seguir. Art. 35. É proibida a comercialização de arma
Art. 2º ADCT de fogo e munição em todo o território
Art. 2º. No dia 7 de setembro de 1993, o nacional, salvo para as entidades previstas no
eleitorado definirá, por meio de plebiscito, a art. 6º desta Lei.
forma (república ou monarquia § 1º Este dispositivo, para entrar em vigor,
constitucional) e o sistema de governo dependerá de aprovação mediante referendo
(parlamentarismo ou presidencialismo) que popular, a ser realizado em outubro de 2005.
devem vigorar no país. § 2º Em caso de aprovação do referendo
popular, o disposto neste artigo entrará em
vigor na data de publicação de seu resultado
pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Fonte: Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 11)

A iniciativa popular, assegurada no inciso III do Art. 14 também é


regulamentada pela Lei 9.709/98. Ressalta-se, contudo, que o Art. 13 da referida
lei apenas repete as regras do Art. 61 § 2° da Constituição, como podemos ver no
quadro 4.
Quadro 4 - Iniciativa popular
CONSTITUIÇÃO FEDERAL LEI 9.709/98
Art. 61 § 2º - A iniciativa popular pode ser Art. 13. A iniciativa popular consiste na
exercida pela apresentação à Câmara dos apresentação de projeto de lei à Câmara dos
Deputados de projeto de lei subscrito por, Deputados, subscrito por, no mínimo, um por
no mínimo, um por cento do eleitorado cento do eleitorado nacional, distribuído pelo
nacional, distribuído pelo menos por cinco menos por cinco Estados, com não menos de
Estados, com não menos de três décimos três décimos por cento dos eleitores de cada
por cento dos eleitores de cada um deles. um deles.
o
§ 1 O projeto de lei de iniciativa popular
deverá circunscrever-se a um só assunto.
o
§ 2 O projeto de lei de iniciativa popular não
poderá ser rejeitado por vício de forma,
cabendo à Câmara dos Deputados, por seu
órgão competente, providenciar a correção de
eventuais impropriedades de técnica
legislativa ou de redação.

Fonte: Brasil (1988), Brasil (1998)

Pelo quadro apresentado percebemos que a Lei apenas


regulamenta, nos parágrafos 1° e 2°, a recepção do projeto de lei, sem
contrariar ao disposto na Constituição. Ademais, como afirmam Spitzcovsky e
Moraes (2009, p. 11), pela redação do texto constitucional “cumpre notar que a
observância dos requisitos ali estabelecidos não assegura a aprovação do
projeto encaminhado, mas, tão somente, o seu recebimento pela câmara dos
Deputados”.
Uma matéria importante em nosso contexto é a aquisição dos direitos
políticos. Passemos à sua análise.

2.4 Aquisição dos direitos políticos

De acordo com Tavares (2006, p. 699), os direitos políticos e a


cidadania são adquiridos “por meio do alistamento eleitoral, a ser realizado na
forma da lei”. Como explica o autor
O alistamento eleitoral é a efetiva apresentação do indivíduo perante
a Justiça Eleitoral, solicitando o seu enquadramento como eleitor. O
alistamento eleitoral é obrigatório para os brasileiros maiores de
dezoito anos de idade. É, ao contrário, facultativo para os maiores de
dezesseis e menores de dezoito anos de idade (Art. 14, § 1°, I e II da
CF)

Antes de analisar os requisitos do alistamento eleitoral, investigaremos


o que é e como se dá o alistamento eleitoral.

2.4.1 Do alistamento eleitoral


Para Ramayana (2009, p. 44-45), o alistamento eleitoral pode ser
considerado como o “instrumento que ordena a manifestação individual do
eleitor”. Como ensina o autor, o alistamento é a fase inicial do processo
eleitoral e “decorre de um procedimento administrativo cartorário que se perfez
pelo preenchimento do requerimento de alistamento eleitoral (RAE), na forma
da Resolução (TSE n. 21.538\ 2003)”.
É também de Ramayana (2009, p. 45) a afirmativa de que é, por
meio do alistamento eleitoral, “que a pessoa qualifica-se e inscreve-se como
eleitor, passando a ter o atributo jurígeno constitucional da cidadania, podendo
votar e, portanto, exteriorizar sua capacidade eleitoral ativa”.
Saiba Mais
Para conhecer as etapas do procedimento do alistamento eleitoral,
que tem início com o preenchimento do RAE pelo servidor da Justiça Eleitoral,
dê uma olhada na Resolução do TSE n. 21.538/2003, no sítio
<www.tse.jus.br>.

Caso o eleitor devidamente alistado necessite transferir o seu título? A


matéria também encontra respaldo na Resolução n. 521.538/2003,
especialmente no Art. 18 que dispõe acerca dos pressupostos para a
transferência do eleitor. Ressalte-se que as exigências requeridas são
justificáveis sob o ponto de vista da tentativa de evitar burla à legislação
eleitoral. Vejamos essas exigências no Art. 18 da Resolução n. 521.538.
Art. 18. A transferência do eleitor só será admitida se satisfeitas as
seguintes exigências:
I - recebimento do pedido no cartório eleitoral do novo domicílio no
prazo estabelecido pela legislação vigente;
II - transcurso de, pelo menos, um ano do alistamento ou da última
transferência;
III - residência mínima de três meses no novo domicílio, declarada,
sob as penas da lei, pelo próprio eleitor (Lei n. 6.996/1982, art. 8º);
IV - prova de quitação com a Justiça Eleitoral.

Se preenchidos os requisitos esposados na Lei, não há como negar


o direito ao cidadão que pleiteia a transferência do seu título de eleitor.
Como esse é um assunto muito discutido judicialmente à época das
eleições, a própria Resolução prevê as medidas cabíveis tanto para as
decisões que negarem o alistamento como a transferência, observados os
prazos distintos estabelecidos quanto ao deferimento e ao indeferimento do
alistamento e da transferência. Ramayana (2009, p. 48) nos ensina
O despacho do juiz eleitoral que deferir o alistamento do eleitor
poderá ser alvo de recurso, interposto pelos partidos políticos e,
embora a lei não faça expressa menção, pelo promotor eleitoral, no
prazo de dez dias. O prazo é contado da colocação da listagem dos
eleitores à disposição dos partidos. Sobre o assunto, ver a Lei n.
6.996\82, Art. 7º, e a Resolução n. 21.538\03, o TSE, Art. 16,§ 1º. Ao
contrário, do despacho que indeferir o pedido de alistamento, o eleitor
(e entendemos que os partidos políticos e o promotor eleitoral)
poderá recorrer, no prazo de cinco dias. Os partidos políticos e o
Ministro Público possuem legitimidade para todos os recursos
eleitorais, considerando a amplitude de suas fiscalizações e a
salvaguarda da lisura do regime democrático. Sobre a transferência,
a regra é idêntica (Arts. 8º da Lei n. 6.996\82 e 18, § 5º, da Resolução
nº 21.538\03).

Como você perceberá, quando estudar os recursos eleitorais no


capítulo 7, os prazos de recursos em matéria eleitoral são bem mais exíguos
do que nos demais ramos do Direito.
Vamos conhecer os requisitos do ato do comparecimento ao turno
eleitoral.

2.4.2 Comparecimento ao turno eleitoral


O voto é obrigatório para os maiores de 18 e facultativo para os
analfabetos, os maiores de 70 anos e os maiores de 16 e menores de 18 anos
(Art. 14, § 1°, I e II) da Constituição Federal, ressalvados os casos especiais
em que a própria lei impõe limites (ex. conscrito e os estrangeiros). Assim o
não comparecimento às urnas para quem se enquadra na hipótese de voto
obrigatório – maiores de 18 anos – acarretará consequências.
Para Ramayana (2009, p. 48), o não comparecimento do eleitor, seja
no primeiro ou no segundo turno das eleições “enseja a aplicação de multa e,
deixando o eleitor de votar em três eleições consecutivas (Art. 71, V, do Código
Eleitoral), terá sua inscrição cancelada”.
A legislação eleitoral prevê justificativas distintas a quem não pode
comparecer às urnas. Se estiver fora de seu domicílio, é permito ao eleitor
justificar o seu voto em qualquer seção eleitoral. Aqueles que se encontrem
doentes, e/ou fora do país, também têm regras próprias. Vejamos o que diz
Ramayana (2009, p. 49)
O prazo de justificação (que não é para quem está fora do domicílio,
mas para quem não votou por doença, acidente etc.) é de 60 dias (Lei
n. 6.091/74, Arts. 7º e 16 da Resolução TSE 21.538/03, Art. 80). O
prazo de 30 dias é para quem retorna do exterior. O Código Eleitoral
está revogado tacitamente no Art. 7º, quanto ao prazo de 30 dias. É
de 60 dias.

Chamamos sua atenção para o fato de que muitos artigos do Código


Eleitoral encontram-se revogados, tanto de forma tácita, como expressamente.
Algumas situações específicas suscitam dúvidas quanto à
possibilidade do exercício de voto. Esquematizamos no quadro 5 algumas
dessas situações. Analise-as com atenção!
Quadro 5 - Direito e dever de voto no Brasil
Se o preso que está cumprindo decisão definitiva com trânsito em julgado
(Art.15, III, da Carta Magna) se encontra numa hipótese de suspensão dos
direitos políticos, não poderá votar nem tampouco ser votado. A questão
reside quanto às prisões cautelares ou que aguardam decisão definitiva. O
preso temporariamente, em flagrante delito, em decorrência de prisão
PRESOS preventiva, pronúncia ou condenatória recorrível pode votar, porque não
está com os direitos políticos suspenso. Impedimento legal não existe
nenhum. Existe um impedimento de fato, ou seja, a impossibilidade de o
preso comparecer à seção eleitoral para votar. A solução seria a criação
de uma mesa receptora de votos de natureza especial para esses casos.
Sustentamos que cabe à Justiça Eleitoral disciplinar essa matéria por
resolução possibilitando o exercício do direito de voto aos presos não-
condenados por sentença penal transitada em julgado.
O índio pode votar? Sim, desde que tenha possibilidade de exprimir-se na
língua nacional e seja habilitado pela FUNAI. Sobre o assunto, consultar o
Estatuto do Índio, que faz menção ao Índio integrado, semi-integrado e
não-integrado. O Estatuto do Índio (Lei n. 6.091, de 19 de dezembro de
1973) dispõe, no Art. 4º, o seguinte:
Art. 4º O índio é considerado brasileiro nato (Art. 5º do Estatuto do Índio) e,
no gozo de seus direitos políticos, pode ocupar os cargos privativos
listados no Art. 12, § 3º da Carta Magna.
ÍNDIOS
No Brasil, tivemos o famoso índio Juruna que foi Deputado Federal, mas
não chegou a ocupar efetivamente cargo privativo de brasileiro nato. Sobre
os índios, ver ainda os Arts. 231 e 232 da CRFB. Por fim, os direitos civis e
políticos dos índios ficam na dependência da verificação das condições
especiais estabelecidas na legislação especial do indigenato.
Os surdos-mudos só serão considerados absolutamente incapazes e
sujeitos à suspensão dos direitos políticos (Art. 15, II da CRFB) quando
SURDOS-
não tiverem a educação adequada para exprimirem suas vontades. Os
MUDOS surdos-mudos devem exercer o direito de voto como qualquer pessoa apta
E e capaz, desde que tenham conquistando a capacidade especial de
exteriorizar o voto. Não se pode excluir o surdo, os surdos-mudos e os
DEFICIENTES
deficientes se estiverem aptos à expressão e manifestação de vontade.
FÍSICOS A Resolução (TSE) 21.991\05 prevê no Art. 1º, § 2º, que não serão
canceladas as inscrições eleitorais (títulos eleitorais) de eleitores
portadores de deficiências físicas que estejam impossibilitados de votar, ou
cujo cumprimento das obrigações eleitorais seja extremamente oneroso.
Quanto ao estrangeiro, pouco importa se sabe a língua nacional;
simplesmente não pode alistar-se. Na verdade, a restrição ao voto do
ESTRANGEIRO
estrangeiro é a consagração do sufrágio do tipo restrito, de modo que o
estrangeiro não poderá votar. Diferente do brasileiro naturalizado, que
poderá votar e ser votado, excetuando-se alguns cargos específicos de
brasileiros natos.
Fonte: Ramayana (2009, p. 50-52)

Quando pairar dúvidas acerca do exercício do direito de voto,


relacione sempre esse direito com os conceitos de cidadania e de capacidade
de fato.
Passemos ao estudo da capacidade eleitoral ativa e passiva.

2.5 Capacidade eleitoral ativa e passiva


Você estudou o significado de direito de sufrágio no item 2.1. e, de
acordo com Bulos (2008, p. 675), esse direito “reúne, a um só tempo, as
capacidades eleitorais ativa (direito de votar = alistabilidade) e passiva (direito
de ser votado = elegibilidade)”.
De acordo com o afirmado pelo autor, a capacidade ativa, (direito de
votar) concretiza-se formalmente com o alistamento, ressaltando, contudo, que
o voto será facultativo para os maiores de 16 e menores de 18 anos, para os
analfabetos e para os maiores de 70 anos.
Já o direito de ser votado (legitimidade passiva), diferentemente do
direito de votar (legitimidade ativa) exige a observância de outros pressupostos,
que estão previstos no Art. 14, § 3° da CF. Vamos conhecê-los:
§ 3º do Art. 14 CF/88: São condições de elegibilidade, na forma da lei:
I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
V - a filiação partidária;
VI - a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República
e Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do
Distrito Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou
Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador.

Ao lado desses requisitos, o § 4° do Art. 14 prevê que “São


inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.” Bulos (2008, p. 675), ao tratar dos
direitos políticos passivos – capacidade passiva – leciona que “traduzem o
direito de ser votado, ou seja, a capacidade eleitoral passiva dos cidadãos.
Seus titulares são aqueles que preenchem as condições legais e
constitucionais para serem elegíveis ou eleitos”. Essas condições são as
dispostas nos §§ 3° e 4° do Art. 14 da CF/88.
Agora estudaremos a elegibilidade e a inelegibilidade.

2.5.1 Elegibilidade
Bulos (2008, p. 675) explica que a elegibilidade pode ser
compreendida como a “possibilidade de o cidadão ser votado em pleitos
eleitorais, observado as condições exigidas para o gozo da capacidade eleitoral
passiva”. Esses requisitos você já estudou no § 3° do Art. 14 da CF/88.

2.5.2 Da inelegibilidade
O estudo das inelegibilidades é mais complexo do que a
elegibilidade, porque a doutrina apresenta uma série de classificações.
Para Ramayana (2009, p. 73), quanto à análise das elegibilidades,
deve-se levar em conta que
Os direitos políticos possibilitam ao cidadão participar na vida política
com o exercício do direito de votar e ser votado. Assim, é indubitável
que as inelegibilidades surgem como exceções constitucionais e
infraconstitucionais, dentro do contexto normativo vigente. A exceção
merece tratamento exegético restritivo. Na interpretação das
inelegibilidades devem ser considerados certos fatores de
razoabilidade e ponderação dos interesses entre a preservação do
sistema República, as cláusulas pétreas e a capacidade eleitoral
passiva. O inelegível vota, mas não é votado.

Ante as considerações do autor, o conceito de inelegibilidade pode


ser traduzido segundo ele como “restrições temporárias à capacidade eleitoral
passiva, ou seja, ao direito de ser votado. Dessa forma, o inelegível pode votar
validamente. É o caso do analfabeto.”
Ramayana (2009, p. 73) ressalta que as inelegibilidades devem
estar previstas na Constituição e em Lei Complementar. Assim argumenta
acerca de sua conclusão
Todas as inelegibilidades só podem estar previstas na Constituição
Federal, por exemplo, Art. 14, §§ 4º e 7º, ou na Lei Complementar 64,
de 18 de maio de 1990 (Lei de natureza Complementar). Assim, Lei
Ordinária não pode tratar de hipótese de inelegibilidade, sob pena de
inconstitucionalidade formal, segundo preceitua o Art. 14, § 9º da
Constituição Federal, que exige lei de espécie normativa
complementar para disciplinar as hipóteses de inelegibilidades.

Você que já estudou sobre as espécies normativas lembrará a regra


básica acerca de necessidade expressa na norma de que a matéria seja
disciplinada por lei complementar.
Veja no quadro 6 as espécies de inelegibilidades na Constituição e
em Lei Complementar.
Quadro 6 - Espécies de inelegibilidades
a) Estrangeiros
I. Inalistáveis (CF/88, Art. 14, § 2°)
(CF/88, Art. 14, § b) Conscritos
4°) (CF/88, Art. 14, § 2°)
c) Menores de 16
anos (CF/88, Art. 14, §
ABSOLUTAS 1°, II, c)
d) Menores de 18
anos não alistados
(CF/88, Art. 14, § 1°, II,
c)

II. Analfabetos (CF/88, Art. 14, § 4°)


INELEGIBILIDADES
I. Funcional:
a) por motivo de reeleição (Art. 14, § 5°);
b) por motivo de desincompatibilização (Art. 6°)
II. Reflexiva:
a) cônjuge (Art. 14, § 7°);
b) parentes consanguíneos ou afins (Art. 14, §
7°).
III. Militares:
a) Com menos de 10 anos de serviço (CF, Art.
RELATIVAS 14, § 8°, I);
b) Com mais de 10 anos de serviço (CF, Art.
14, § 8°, II);

IV. Legais:
Previstas na LC n. 64/90, alterada pela LC n. 81/94

Fonte: Bulos (2008, p. 685)


Vista as espécies de inelegibilidades, resta conhecer a distinção entre
as espécies de inelegibilidade, que são, respectivamente, as absolutas e as
relativas.
É também Bulos (2008, p. 685-686) quem nos apresenta essa
distinção. Segundo o autor, a inelegibilidade absoluta “são impedimentos totais
para pleitear qualquer cargo eletivo” e caracterizada como medida de exceção,
“que só o constituinte, e não o legislador comum pode estabelecê-la”. Já a
inelegibilidade relativa é descrita pelo autor como “restrições específicas a certos
tipos de cargos ou funções eletivas”.
Pelo quadro 6 você pôde perceber onde cada qual dessas espécies
está prevista em nosso sistema jurídico, ressaltando que as absolutas só podem
ser previstas na Constituição.
Agora veremos um pouco sobre o tema da privação dos direitos
políticos no ordenamento jurídico brasileiro.

2.6 Da privação dos direitos políticos


Conforme Bulos (2008, p. 701), de forma excepcional, os sistemas
constitucionais aceitam que os cidadãos sejam despojados de seus direitos
políticos, mas apenas em caráter excepcional e em hipóteses previamente
previstas na Constituição.
Bulos (2008, p. 701) ressalta que, embora as hipóteses de perda e
suspensão estejam previstas na Constituição Federal, ela não estabeleceu de
forma expressa o que ensejaria uma ou outra. Essa tarefa é da doutrina. Vejamos
as hipóteses contidas no Art. 15, I a V, da Constituição.
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou
suspensão só se dará nos casos de:
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em
julgado;
II - incapacidade civil absoluta;
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem
seus efeitos;
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação
alternativa, nos termos do Art. 5º, VIII;
V - improbidade administrativa, nos termos do Art. 37, § 4º.

Como a distinção não está expressa na Constituição, essa tarefa


permaneceu com a doutrina.
Manoel Gonçalves Ferreira Filho citado por Ramayana (2009, p. 87)
leciona que
As pessoas privadas dos direitos políticos podem recuperá-los. Se
essa privação for a dita definitiva, ou perda, dependerá do
cumprimento de exigências legais. Se for a privação dita temporária
ou “suspensão”, a recuperação se fará, automaticamente, pelo
desaparecimento de seu fundamento ou pelo decurso do prazo.

Ramayana (2009, p. 87) destaca que


Há de considerar-se, ainda, o aspecto relativo a ponto de diferença
fundamental entre a perda e suspensão dos direitos políticos, pois, na
perda, o cidadão ficará afastado de suas capacidades ativas e
passivas (direito de votar e ser votado) por absoluta impossibilidade
de reversibilidade (reaquisição) destes direitos e deveres ou, ainda,
por ato de omissão voluntária. Não haverá estipulação de prazo final
do cerceamento das capacidades eleitorais. Na suspensão dos
direitos políticos, o cidadão sofre a restrição por prazo fixado na lei ou
aguarda a aquisição do direito pelo transcurso do prazo legal como
no caso, V,G., do menor de 16 anos de idade.

Para Queiroz (2006, p. 90), a suspensão dos direitos políticos diz


respeito a uma limitação temporária ao exercício dos direitos políticos (incisos
III e V do Art. 15 da CF/88) constituindo-se essas hipóteses como causas de
suspensão (caráter punitivo) e a perda de direitos (que não está relacionada a
esse caráter punitivo), ocorre nas hipóteses dos Incisos I, II e IV do Art. 15 da
CF/88. Observe o quadro 7:

Quadro 7 - Distinção entre perda e suspensão dos direitos políticos.


Suspensão dos direitos políticos Perda dos direitos políticos
Configura-se como uma limitação ao Configura-se como uma limitação ao exercício
exercício dos direitos políticos posterior à dos direitos políticos por determinada causa
sua aquisição. que, se fosse anterior à aquisição, impediria a
própria aquisição desses direitos.
Tem caráter punitivo e tem por
pressuposto a violação de alguma regra de Não tem caráter punitivo, não tem como
convivência. pressuposto a violação de regras de
convivência, bastando que se perca o
É temporária visto que visa à correção e à pressuposto necessário à sua aquisição.
integração social do indivíduo.
Fonte: Queiroz (2006, p. 90)

Como você estudou, os direitos políticos poderão excepcionalmente


ser suspensos ou perdidos, conforme as hipóteses taxativamente expressas
nos incisos I a V do Art. 15 da Constituição. Já a distinção entre as hipóteses
de perda ou suspensão é tratada apenas pela doutrina.
Saiba mais
Para saber mais acerca da perda e da suspensão dos direitos
políticos na Constituição Federal de 1988, veja o artigo do Ministro do Superior
Tribunal de Justiça - STJ - Teori Albino Zavascki, no sítio
<http://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/1974/1/Direitos_Politicos_Perda_Sus
pens%C3%A3o.pdf>.

Estudamos os direitos políticos na Constituição Federal de 1988 e a


forma como esse assunto está regulamentado por Lei Complementar.
Ressaltamos que os direitos políticos perfazem o rol das espécies de direitos e
garantias fundamentais contidos na Constituição.
No próximo capítulo, você estudará a Justiça Eleitoral e reconhecerá
as suas características peculiares. Ainda apresentaremos como se dá a
atuação do Ministério Público Federal e Estadual.

Atividades
1. Paulo Armando foi condenado por crime de tráfico de entorpecentes e a
sentença que o condenou já transitou em julgado. Quais são as
consequências que recaem sobre Paulo Armando?
a) Terá suspenso os seus direitos políticos, podendo ser candidato tão logo
cumpra a pena.
b) Terá cassado os seus direitos políticos, tornando-se inelegível para
sempre.
c) Terá suspenso seus direitos políticos, sendo inelegível para qualquer
cargo pelo período de três anos, após o cumprimento da pena.
d) Terá perdido os seus direitos políticos, sendo inelegível para qualquer
cargo pelo período de três anos, após o cumprimento da pena.

2. O alistamento eleitoral e o voto, em nosso sistema eleitoral, são


considerados, ao mesmo tempo um direito e um dever. A Constituição Federal
assegura que será obrigatório
a) para o maior de 16 anos e menor de dezoito anos.
b) para o maior de 18 anos.
c) para o maior de 21 e menor que setenta anos.
d) para as mulheres de 65 e os homens de 70 anos.
3. A norma infraconstitucional que estabelece hipóteses de inelegibilidade tem
caráter de
a) Medida Provisória.
b) Lei Ordinária.
c) Emenda à Constituição.
d) Lei Complementar.

4. Os direitos políticos poderão ser perdidos e/ou suspensos. De acordo com o


que você estudou a esse respeito, responda:
a) quais são as hipóteses de perda dos direitos políticos?
b) quais são as hipóteses de suspensão dos direitos políticos?

Comentário das atividades


Na atividade 1, você acertou se apontou a letra (c), pois é uma
causa de suspensão que decorre de previsão legal contida na Lei
Complementar 64/90 em seu Art. 1° - Vejamos: “Art. 1º São inelegíveis: I - para
qualquer cargo: [...] e) os que forem condenados criminalmente, com sentença
transitada em julgado, pela prática de crime contra a economia popular, a fé
pública, a administração pública, o patrimônio público, o mercado financeiro,
pelo tráfico de entorpecentes e por crimes eleitorais, pelo prazo de 3 (três)
anos, após o cumprimento da pena”. As demais alternativas estão incorretas,
pois a letra (a) fala em suspensão, mas não considera o lapso de três anos. A
letra (b) fala em cassação, instituto diferente da suspensão e da perda. A letra
(d) fala em perda e não em suspensão.
Na atividade 2, você assinalou a letra (b), que considera o alistamento e
o voto obrigatório para os maiores de 18 anos. As demais alternativas estão
incorretas, pois a idade estabelecida na letra (a) é a de faculdade e não de dever.
Na letra (c), temos o critério de maioridade do código civil já revogado (21 anos).
Na letra (d), temos uma distinção vedada na Constituição em relação ao direito de
sufrágio – homens e mulheres são iguais.
Na atividade 3, você apontou a letra (d), que menciona Lei
Complementar que é a espécie normativa para regular a matéria visto que a
Constituição expressamente dispõe essa necessidade. As demais (a), (b) e (c)
estão incorretas por tratarem de outras espécies normativas, diversamente ao que
estabelece a Constituição.
Na atividade 4, você pesquisou acerca da distinção entre perda e
suspensão dos direitos políticos. Lembrou-se de que a suspensão dos direitos
políticos é uma limitação ao exercício dos direitos políticos posterior à sua
aquisição com caráter punitivo e tem por pressuposto a violação de alguma regra
de convivência. A perda dos direitos políticos, por sua vez, é uma limitação ao
exercício dos direitos políticos por determinada causa que se fosse anterior à
aquisição, impediria a própria aquisição desses direitos e, diferente da suspensão,
não tem caráter punitivo.

Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília: Senado, 1988.
______. Código Eleitoral. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4737.htm>. Acesso em: 12 nov.
2009.
______. Lei n. 9.709/98. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9709.htm>. Acesso em: 12 nov. 2009.
______. Resolução n. 21.538/2003. Disponível em:
<http://www.tse.jus.br/servicos_online/catalogo_publicacoes/codigo_eleitoral/V
olume2/resolucoes/res_21538.htm>. Acesso em: 12 nov. 2009.
BULOS, Uadi Lamego. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2008.
QUEIROZ, Ari Ferreira de. Direito Eleitoral. 10. ed. Goiânia: IEPC, 2006.
RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 3. ed. Niterói: Impetus, 2009.
SPITZCOVSKY, Celso; MORAES, Fábio Nilson Soares de. Direito Eleitoral.
São Paulo: Saraiva, 2009. v. 27.b
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 3. ed. São Paulo:
Saraiva, 2006.
Capítulo 3 - Justiça Eleitoral e Ministério Público Eleitoral

Introdução
O primeiro capítulo trabalhou aspectos mais gerais da disciplina e o
segundo, a aquisição, a suspensão e a perda dos direitos políticos. Para
acompanhar o terceiro capítulo, é conveniente que você, além dos capítulos
estudados, releia o caderno de Teoria Geral do Processo e dali recolha alguns
conceitos como jurisdição, competência, sujeitos do processo etc.
Recomendamos a leitura do glossário com os principais conceitos de
Direito Eleitoral disponível no sítio do TRE - RN, que poderá ser acessado em
<http://www.trern.gov.br/nova/inicial/links_especiais/centro_de_memoria/artigos
/glossario_direitoeleitoral.htm>.
Para compreensão da composição da Justiça Eleitoral recomendamos, a
leitura do artigo A Justiça Eleitoral e sua Reforma Constitucional, da autoria de
Jeferson Schneider, disponível no sítio
<http://www.mt.trf1.gov.br/judice/jud8/just_ref.htm>.
Quanto às funções do Ministério Público, lembramos que essa é
instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado (Art. 127 da
CF). As funções institucionais do Ministério Público estão fixadas no Art. 129 da
Constituição Federal, bem como a sua composição no Art. 128. Assim
recomendamos a leitura desses artigos de forma reflexiva, a fim de
compreender a extensão da sua legitimidade e competência.
Neste capítulo, trataremos tanto da composição e da competência da
Justiça Eleitoral, como do Ministério Público Eleitoral. Por fins puramente
didáticos, optamos por tratar na primeira parte da Justiça Eleitoral. Como você
perceberá, ela tem características sui generis, tal como não ter um quadro de
carreira próprio. Você compreenderá que a Justiça Eleitoral é formada por um
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelos Tribunais Regionais Eleitorais (TRE),
pelos Juízes Eleitorais e pelas Juntas Eleitorais. Ainda analisaremos a
competência da Justiça Eleitoral em cada uma das suas esferas de atuação.
No que toca ao Ministério Público, você compreenderá a função
desempenhada tanto pelo Ministério Público Federal como pelo Estadual,
percebendo que o Ministério Público inaugura o Capítulo IV do Titulo IV da
Constituição Federal que trata “Das Funções Essenciais da Justiça”, assim,
pode-se dizer que, ainda conforme a Constituição, que o Ministério Público é
uma instituição permanente, fundamental à função jurisdicional do Estado,
cabendo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis. Neste capítulo, daremos enfoque
à atuação do Ministério Público diante da jurisdição eleitoral.

3.1 Considerações iniciais acerca da Justiça Eleitoral


Como leciona Ramayana (2009, p. 27), à Justiça Eleitoral cabe “a
nobre missão de resguardar o Estado Democrático, segundo balizadores do
Art. 1º e respectivos incisos da Constituição Federal, tutelando a soberania
popular, a cidadania e o pluralismo político”. Por essa razão, foram esses
conceitos trabalhados no capítulo primeiro.
Em termos de Direito, a Justiça Eleitoral é relativamente recente no
Brasil, foi criada pelo Código Eleitoral de 1932 e apenas alçou status
constitucional com a Constituição de 1934. Tem, uma particularidade, pois
funciona com juízes de outros órgãos desde o primeiro até os graus superiores
(QUEIROZ, 2004). A composição da Justiça Eleitoral está prevista tanto na
Constituição como no Código Eleitoral como apresentamos no quadro 1.
Quadro 1 - Composição da Justiça Eleitoral
Constituição Federal Código Eleitoral
Art. 118. São órgãos da Justiça Eleitoral: Art. 12. São órgãos da Justiça Eleitoral:
I - o Tribunal Superior Eleitoral; I – O Tribunal Superior Eleitoral, com sede na
II - os Tribunais Regionais Eleitorais; Capital da República e jurisdição em todo o País;
III - os Juízes Eleitorais; II – um Tribunal Regional, na Capital de cada
IV - as Juntas Eleitorais. Estado, no Distrito Federal e, mediante proposta
do Tribunal Superior, na Capital de Território;
III – juntas eleitorais;
IV – juízes eleitorais.

Fonte: Constituição Federal (1998), Código Eleitoral (1965).

Passemos, pois, ao estudo e à análise de cada órgão da Justiça


Eleitoral, começando pelo Superior Tribunal Eleitoral.

3.1.1 Tribunal Superior Eleitoral


O Tribunal Superior Eleitoral, que daí por diante passamos a
denominar apenas de TSE, é o órgão de cúpula da Justiça Eleitoral. O TSE
tem sede na Capital Federal e sua jurisdição estende-se por todo o território
nacional. Suas decisões são irrecorríveis, exceto, se forem contrárias à
Constituição ou ainda, as denegatórias de mandado de segurança e/ou de
habeas corpus (SPITZCOVSKY; MORAES, 2009).
Comentamos anteriormente que a Justiça Eleitoral é bastante
peculiar especialmente quanto à sua formação. Vamos primeiro conhecer a
composição do seu órgão máximo que é o TSE, que encontra previsão no Art.
119 da Constituição Federal.
Quadro 2 - Composição do TSE
Art. 119 da Constituição Federal
O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete membros, escolhidos:
I - mediante eleição, pelo voto secreto:
a) três juízes entre os Ministros do Supremo Tribunal Federal;
b) dois juízes entre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça;
II - por nomeação do Presidente da República, dois juízes entre seis advogados de notável
saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal.
Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-Presidente
entre os Ministros do Supremo Tribunal Federal, e o Corregedor Eleitoral entre os Ministros do
Superior Tribunal de Justiça.

Fonte: Brasil (1998, s/p)


Observada a composição do TSE, a questão que se põe é saber
qual a sua competência, que se encontra disciplinada no Código Eleitoral (Arts.
22 e 23), que recomendamos que você leia. Acesse-o pelo sítio
<www.planalto.gov.br>.

3.1.2 Tribunal Regional Eleitoral

As regras quanto à composição dos TRE estão dispostas nos Arts.


118, II e 120 da Constituição Federal. Conforme Ramayana (2009, p. 27-28), os
Tribunais Regionais Eleitorais são compostos por
02 Desembargadores dos Tribunais de Justiça (Presidente - Vice-
Presidente)
02 Juízes Estaduais escolhidos pelos Tribunais de Justiça (a escolha
segue o regimento interno e a Resolução- TSE nº 20.958\2001).
01 Juiz Federal escolhido pelo Tribunal Regional Federal (a escolha
segue o regimento interno do TRF e a Resolução do TSE
20.958\2001).
02 Advogados (classe dos juristas). A indicação deveria ser feita pela
OAB, Conselho Regional ou Seccional. No entanto, os Tribunais de
Justiça elaboram uma lista tríplice (Res.TSE 20.958/2001 Art. 12)
que é encaminhada ao Tribunal Superior Eleitoral, através dos
Tribunais Regionais Eleitorais, e após análise pelo TSE é submetida
ao Presidente da República para nomeação de um entre os três
nomes indicados pelo Tribunal de Justiça.
Como temos 27 Tribunais Regionais Eleitorais, corresponde a um
Tribunal por Estado. De acordo com Ramayana (2009, p. 28), a sua
competência compreende questões desde “as fases do alistamento,
convenções, registro de candidaturas, propaganda política eleitoral e partidária,
votação, apuração e diplomação dos candidatos, além de fiscalizar a prestação
de contas anuais dos Partidos Políticos”, como se percebe, abrange toda
matéria eleitoral que possa ser discutida em âmbito de processo.
Um dos aspectos peculiares da Justiça Eleitoral é a não existência
de carreira própria, temos, segundo Ramayana (2009, p. 28), no “Art. 1º da
Res. TSE 20.958\2001 os juízes dos tribunais eleitorais, efetivos ou
substituídos, servirão obrigatoriamente por dois anos e, facultativamente, por
mais um biênio”.

3.1.3 Juízes Eleitorais


Conforme Queiroz (2004), esclarece-se que não há um cargo, mas
apenas uma função exercida por um ou mais Juízes da Comarca, de acordo
com o número de Zonas Eleitorais existentes. Caberá ao Presidente do TRE
designar os Juízes, para exercerem cumulativamente a sua função, a função
de Juiz Eleitoral.

O § 2° do Art. 120 da Constituição assegura que

Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por


dois anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos,
sendo os substitutos escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo
processo, em número igual para cada categoria.

Esse artigo, de certa forma, regulamenta o período em que o


magistrado poderá funcionar como juiz eleitoral, acumulando, assim, as duas
funções jurisdicionais.

3.1.4 Juntas Eleitorais


As Juntas Eleitorais, como os demais órgãos, compõem a Justiça
Eleitoral e estão previstas na Constituição (Art. 118, IV da CF/88) e nos Arts. 36 a
41 do Código Eleitoral. Você já parou para pensar na distinção entre Junta e Juiz
Eleitoral? Vamos primeiro estabelecer essa distinção.
Quadro 3 - Distinção entre Junta Eleitoral e Juiz Eleitoral
Junta Eleitoral Juiz Eleitoral
Órgão colegiado de natureza transitória, que Função exercida por um ou mais Juízes da
tem competência exclusiva e limitada para a Comarca, conforme o número de Zonas
apuração das eleições. Eleitorais da localidade.
Fonte: Queiroz (2004, p. 44-45)

Conforme Ramayana (2009), as Juntas Eleitorais são compostas por


um Juiz de Direito, que será o Presidente da Junta Eleitoral, que pode ou não
ser titular da zona eleitoral, e de dois a quatro cidadãos de comprovada
idoneidade. Todos devem ser nomeados pelo Presidente do Tribunal Eleitoral e
indicados pelo Juiz Eleitoral.
Uma ressalva na lei impõe limites a quem pode fazer parte da Junta
Eleitoral (Art. 36, § 3° do Código Eleitoral), ou seja, não podem ser nomeados
membros das Juntas, escrutinadores ou auxiliares, os candidatos e seus
parentes, ainda que por afinidade, até o segundo grau, inclusive, bem como o
cônjuge, membros de diretorias de partidos políticos devidamente registrados e
nomes tenham sido oficialmente publicados, as autoridades e agentes policiais,
assim como os funcionários no desempenho de cargos de confiança do
Executivo e os que pertencerem ao serviço eleitoral.

3.1.5 Competência da Justiça Eleitoral


Conforme Ramayana (2009, p. 30), a competência da Justiça
Eleitoral é exercida “entre o alistamento e a diplomação dos eleitos.” Para o
autor,
Nos anos não eleitorais, a Justiça Eleitoral atua na questão sobre
alistamento, transferência de títulos, revisão do eleitorado e outras
matérias especialmente disciplinadas na Resolução TSE 21.538\03.
Com a diplomação dos candidatos nos anos eleitorais, a Justiça
Eleitoral encerra sua competência, mas lhe cumpre ainda processar e
julgar as ações decorrentes da propaganda política eleitoral, tais
como: a representação por abuso do poder econômico (Art. 22. Da
Lei Complementar 64, de 18 de maio de 1990) e a ação de captação
ilícita de sufrágio (Art. 41-A da Lei nº 9.504\97). Outrossim, prorroga-
se a competência da Justiça Eleitoral para julgar as ações de
impugnação ao mandato eletivo (Art., 14,§§ 10 e 11 da Constituição
Federal), e os recursos contra a expedição dos diplomas (Art. 262 do
Código Eleitoral), respectivamente ajuizados no prazo de 15 e 3 dias,
cujo marco inicial é a diplomação. (RAMAYAMA, 2009, p. 30)
Como se vê, a competência da Justiça Eleitoral é ampla e observa
prazos distintos do direito processual comum. Você estudará com mais detalhes o
seu procedimento no capítulo 7.

3.2 Do Ministério Público


Nesta segunda parte deste capítulo, enfocaremos a atuação do
Ministério Público junto à jurisdição eleitoral. Mas, antes de adentrar no
assunto, vamos lembrar a natureza dessa instituição, conforme prevista na
Constituição Federal

Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à


função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis.

Vemos que o Ministério Público é uma instituição permanente, além


de fundamental à função jurisdicional do Estado, cabendo-lhe a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis.

A título de esclarecimento didático, apresentamos o quadro 4, que


demonstra a divisão de planos do Ministério Público em horizontal e vertical,
quanto à sua atuação.

Quadro 4 - Do Ministério Público Eleitoral

Plano Horizontal Plano Vertical


Art. 128, I e II Art. 128, I
A divisão decorre da organização federativa, No plano vertical ou funcional somente
com a repartição da capacidade de auto- contemplam áreas comuns especializadas na
organização e de autogoverno entre a esfera da União Federal:
União, os Estados-Membros e o Distrito • o Ministério Público Federal;
Federal. Essa descentralização de índole • o Ministério Público do Trabalho;
política repercute na área funcional do • o Ministério Público Militar;
Ministério Público, tanto quanto na atividade • o Ministério Público do Distrito Federal
jurisdicional, abrangendo o mesmo conjunto e Territorial.
de instituições fundamentais, por meio das
ações articuladas que exercem, inerentes às
suas correspondentes funções. A exceção
se dá por conta do Município não ter
organização judicial própria, e como tal,
também não ter Ministério Público próprio.
Fonte: Michels (2006, p. 61)

Chama a atenção o fato de que a Constituição que menciona


expressamente as áreas comuns especializadas na esfera da União Federal
(Art. 128, I) silenciar-se a respeito do Ministério Público Eleitoral. Essa omissão
encontra justificativa plausível de acordo com Fávila Ribeiro citada por Michels
(2006, p. 62), sob o seguinte argumento:

A omissão, absolutamente, não coloca em dúvida a existência do


Ministério Público Eleitoral, nem é de molde a suscitar
questionamento sobre o seu caráter federal, por quanto a total
responsabilidade pelas atividades eleitorais vem encaixada na
exclusiva esfera da União Federal - a entidade política e não um
processo articulado na organização do Ministério Público -,
compreendendo a plenitude legiferativa, jurisdicional e executiva.

Dessa forma, a omissão da Constituição Federal, quanto à previsão


expressa do Ministério Público Eleitoral não pode ser interpretada como a
dispensa da participação dessa Instituição para atuar na Justiça Eleitoral.
A adequada interpretação do Art. 127 da Constituição reforça essa
ideia e impõe ao Ministério Público o dever de zelar pela defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis, no que se subtende incluso a Justiça Eleitoral.
Ademais, além da Constituição Federal, duas outras leis disciplinam
a atuação do Ministério Público. São elas: a Lei 8.625/93 de caráter nacional e
a Lei Complementar 75/93, de caráter federal.

3.2.1 Princípios norteadores do Ministério Público


Alguns princípios orientam a atuação do Ministério Público. Entre
eles, destacaremos o princípio da unidade, da independência ou da autonomia
funcional, da indivisibilidade e do promotor natural. Vamos conhecer um pouco
de cada um deles no quadro 5.

Quadro 5 - Princípios aplicáveis ao Ministério Público Eleitoral


Os membros do Ministério Público integram um só órgão, sob direção
única. Essa unidade se verifica tão somente dentro de cada órgão do
Princípio da Ministério Público de modo que as diretrizes estabelecidas na órbita
Unidade federal não vinculam a esfera estadual, que continua mantendo sua
autonomia.
Princípio da É o Ministério Público órgão independente no exercício de suas funções,
independência ou seja, mesmo internamente, só se concebe hierarquia no sentido
ou autonomia administrativo pela chefia do Procurador-Geral da República, a nível
funcional federal, e Procurador-Geral de Justiça, a nível estadual.
Princípio da O Ministério Público é uno, uma vez que seus membros não se vinculam
indivisibilidade aos processos nos quais atuam, podendo ser substituídos uns pelos
outros, de acordo com as normas legais.
Princípio do Esse princípio impede as designações arbitrárias de promotores para
promotor cargo ou funções de outro promotor que seria afastado compulsoriamente
natural de suas atribuições e prerrogativas legais. Com isso, objetiva-se garantir a
imparcialidade da instituição, tanto em sua defesa quanto da sociedade
que representa.
Fonte: Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 98-99)

Reconhecidos os princípios que orientam a atuação do Ministério


Público, vamos falaremos especificamente do Ministério Público Eleitoral.

3.3 Do Ministério Público Eleitoral


Como dissemos, ao apresentar os planos horizontais e verticais, de
atuação do Ministério Público, a Constituição Federal não fez qualquer menção
expressa quanto ao Ministério Público Eleitoral ao contrário da lei, que, como
dissemos, há a Lei n. 8.625/93 de caráter nacional e a Lei Complementar
75/93, de caráter federal que disciplinam essa atuação.
Na Lei Complementar n. 75/93, encontramos alguns fundamentos
quanto à sua atribuição que valem a pena ser destacados, a exemplo do Art.
72, que estabelece que “Compete ao Ministério Público Federal exercer, no
que couber, junto à Justiça Eleitoral, as funções do Ministério Público, atuando
em todas as fases e instâncias do processo eleitoral”.

Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 101) expõem que

A leitura do dispositivo legal reproduzido, ao estabelecer que o


Ministério Público Federal exerce junto à Justiça Eleitoral todas as
funções do Ministério Público, acaba por nos conduzir à diretriz
estabelecida no Art. 127 da Constituição Federal, que atribuiu a ele a
defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis, como visto anteriormente.

Para os autores mencionados, a amplitude que se conferiu às


atribuições do Ministério Público no campo eleitoral, de forma a preservar a
normalidade das eleições, está expressa de forma clara no parágrafo único do
Art. 72 da LC n. 75/93, o qual reproduzimos a seguir.

Parágrafo único. O Ministério Público Federal tem legitimação para


propor, perante o juízo competente, as ações para declarar ou
decretar a nulidade de negócios jurídicos ou atos da administração
pública, infringentes de vedações legais destinadas a proteger a
normalidade e a legitimidade das eleições, contra a influência do
poder econômico ou o abuso do poder político ou administrativo
(grifo nosso).
Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 101) complementam que “o objetivo
delineado aqui pelo legislador é exatamente o mesmo previsto pela
Constituição ao expressar sua preocupação com a normalidade das eleições, a
teor do disposto no seu Art. 14, § 9º”, cujo conteúdo, não obstante você ter
estudado na disciplina de Direito Constitucional II, aqui repetimos:

§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e


os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade
administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada
vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das
eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do
exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou
indireta.

Se o Art. 127 da CF/88 incumbe ao Ministério Público a defesa da


ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis, o dever de zelar pela lisura do processo eleitoral, sem dúvida,
insere-se no rol de suas funções.
A Lei 75/93 cuida ainda da estrutura do Ministério Público Eleitoral.
Vamos conhecer um pouco dessa estrutura de acordo com as disposições
dessa lei.
Se o Art. 72 cuida da competência do Ministério Público Eleitoral, o
Art. 73 atribui ao Procurador Geral da República a função de Procurador Geral-
Eleitoral, ao que chamamos a sua atenção para a divisão de plano horizontal
(veja o quadro 4 no tópico 3.2 deste capítulo). O Art. 75 dispõe, além de outras
atribuições, sobre a designação do Procurador Regional-Eleitoral.
O Art. 76 prevê a designação do Procurador Regional Eleitoral e o
Art. 77 a sua respectiva competência, que poderá ser ampliada, conforme as
necessidades locais. Esse artigo dispõe que:
Art. 77. Compete ao Procurador Regional Eleitoral exercer as funções
do Ministério Público nas causas de competência do Tribunal
Regional Eleitoral respectivo, além de dirigir, no Estado, as atividades
do setor.
Parágrafo único. O Procurador-Geral Eleitoral poderá designar, por
necessidade de serviço, outros membros do Ministério Público
Federal para oficiar, sob a coordenação do Procurador Regional,
perante os Tribunais Regionais Eleitorais.

Quanto à recondução à função, os Procuradores Regionais


Eleitorais poderão ser reconduzidos apenas uma vez. Nesse quesito, os
Procuradores Regionais Eleitorais guardam certa semelhança com os
Magistrados que também atuam como Juízes Eleitorais. Ou seja, a regra do
Art. 121 § 2º da CF, quanto ao período de dois anos e a vedação de dois
períodos consecutivos, vale para ambos. (MICHELS, 2006).
Saiba mais

Para conhecer mais sobre o Ministério Público Eleitoral, pesquise no


sítio <http://www.angelfire.com/ut/jurisnet/art19.html>, que traz de forma
detalhada todas funções atinentes ao Ministério Público Eleitoral.

Vale ainda mencionar a limitação imposta ao Ministério Público


Eleitoral de forma a garantir a sua independência no campo eleitoral, na forma
do Art. 80 da LC n. 75/93, que prevê que a “filiação a partido político impede o
exercício de funções eleitorais por membro do Ministério Público até dois anos
do seu cancelamento”.
Com relação à Lei n. 8.625/93 – Lei Orgânica Nacional do Ministério
Público, que é de caráter nacional e dispõe acerca do Ministério Público
Estadual, destacamos dois artigos de suma importância, o Art. 10 e o Art. 32.
Vamos conhecer o teor de cada um deles.
Art. 10. Compete ao Procurador-Geral de Justiça:
[...]
IX - designar membros do Ministério Público para:
[...]
h) oficiar perante a Justiça Eleitoral de primeira instância, ou junto ao
Procurador-Regional Eleitoral, quando por este solicitado;
Art. 32. Além de outras funções cometidas nas Constituições Federal
e Estadual, na Lei Orgânica e demais leis, compete aos Promotores
de Justiça, dentro de suas esferas de atribuições:
[...]
III - oficiar perante a Justiça Eleitoral de primeira instância, com as
atribuições do Ministério Público Eleitoral previstas na Lei Orgânica
do Ministério Público da União que forem pertinentes, além de outras
estabelecidas na legislação eleitoral e partidária.

Em conclusão, as regras relativas ao Ministério público Eleitoral


permitem que possa atuar tanto como parte ou ainda como custus legis, de
forma a preservar os interesses da sociedade, desenvolvendo suas atividades
tanto no campo processual penal eleitoral quanto nos procedimentos civis e
administrativos. Ressaltamos ainda que outras previsões legais relacionadas
ao campo de atuação do Ministério Público Eleitoral encontram-se na
legislação esparsa, como, por exemplo, o Código Eleitoral, a Lei das
Inelegibilidades e, ainda, da Lei Orgânica dos Partidos Políticos.
(SPITZCOVSKY; MORAES, 2009).
Estudamos a composição da Justiça Eleitoral e o Ministério Público
Eleitoral. Chamamos a atenção para o fato de a Justiça Eleitoral não ter um
quadro próprio e, quanto ao Ministério Público Eleitoral, a falta de previsão
expressa na Constituição Federal.
Neste capítulo, você estudou como é composta a Justiça Eleitoral –
TSE, TRE, Juízes e Juntas Eleitorais, reconheceu a competência de cada um
deles. Ao lado dos órgãos que compõem a Justiça Eleitoral, você estudou o
Ministério Público Eleitoral, a despeito de não conter previsão expressa na
Constituição Federal, cuja interpretação do Art. 127 se mostra clara quanto ao
seu papel de zelar pela lisura das eleições.
No próximo capítulo, você estudará os partidos políticos e o registro
de candidatos. Verá que é também uma matéria de cunho constitucional, que o
direito dos partidos políticos integram os direitos fundamentais.

Atividades
1. Os Tribunais Regionais Eleitorais como órgãos da Justiça Eleitoral têm
suas peculiaridades. Entre as alternativas, qual é a que apresenta
características corretas dos Tribunais Regionais Eleitorais?
a) Não têm caráter permanente e são constituídos a cada eleição de forma
provisória.
b) Sua composição é de juízes escolhidos pelo Presidente da República
entre os Desembargadores dos Tribunais de Justiça.
c) Têm a atribuição de diplomar os Prefeitos e os Vereadores eleitos em
seu respectivo Estado.
d) Têm a atribuição de eleger seu Presidente e Vice entre os
Desembargadores que compõem o quadro.

2. As Juntas Eleitorais são consideradas como órgãos colegiados da


Justiça Eleitoral e de caráter transitório e, para a sua composição, a lei impõe
algumas condições. Considerando que (i) Lídia é parente consanguínea, em 2º
grau, de candidato; (ii) Victor é parente por afinidade, em 4º grau, de candidato;
(iii) Alberto é esposo de candidata; (iv) Antônia pertence ao serviço eleitoral; e
(v) Felipe é médico. A nomeação para compor a Junta poderá recair sobre
a) Felipe e Antônia.
b) Felipe e Victor.
c) Felipe e Alberto.
d) Lídia e Victor.

3. Entre as funções do Ministério público Eleitoral, nos termos da Lei, pode-


se considerar de forma correta que lhe incumbe:
I – propor ação penal pública incondicionada nas hipóteses de prática de
crimes eleitorais;
II- fiscalizar as eleições em conjunto com os candidatos, os Partidos Políticos e
as Coligações;
III- oficiar nas causas de competência da Justiça Eleitoral e representar sobre a
fiel observância da legislação eleitoral e partidária;
IV- promover debates entre candidatos e Partidos Políticos, visando a
esclarecer o eleitorado sobre importância do voto consciente no processo
democrático.
Estão corretas as assertivas

a) I, II, III e IV.

b) I, II e III apenas.

c) II, III e IV apenas.

d) I, II e IV apenas.

4. A Constituição Federal não fez menção expressa ao Ministério Público


Eleitoral como nos demais casos – Ministério Público Federal, Ministério
Público do Trabalho, Ministério Público Militar e Ministério Público do Distrito
Federal e Territorial.
a) Como justificar, com base na Constituição, a atuação do Ministério
Público Eleitoral?
b) Que leis infraconstitucionais regulam a atuação do Ministério Público
Eleitoral?

Comentário das atividades


Na atividade 1, você assinalou a letra (d), pois Tribunais Regionais
Eleitorais são compostos por dois Desembargadores dos Tribunais de Justiça
(Presidente, Vice-Presidente). As demais alternativas estão incorretas, pois a
letra (a) menciona não serem permanentes, o que não procede. A letra (b) fala
em juízes escolhidos apenas entre os membros dos TJ, o que não é verdade,
pois sua composição será de dois Desembargadores dos Tribunais de Justiça,
dois Juízes Estaduais escolhidos pelos Tribunais de Justiça, um Juiz Federal
escolhido pelo Tribunal Regional Federal e dois Advogados. A letra (c) fala em
competência para diplomar prefeitos e vereadores enquanto o Art. 215 do
Código Eleitoral fala que “Art. 215. Os candidatos eleitos, assim como os
suplentes, receberão diploma assinado pelo Presidente do Tribunal Regional
ou da Junta Eleitoral, conforme o caso”.
Na atividade 2, você assinalou a letra (b), que considera como aptos a
compor a Junta Eleitoral – Felipe e Victor – por não estarem impedidos nos
termos da Lei que é clara ao dispor que: Art. 36 [...] § 3º Não podem ser
nomeados membros das Juntas, escrutinadores ou auxiliares: I - os candidatos
e seus parentes, ainda que por afinidade, até o segundo grau, inclusive, e bem
assim o cônjuge; II - os membros de diretorias de partidos políticos
devidamente registrados e cujos nomes tenham sido oficialmente publicados;
III - as autoridades e agentes policiais, bem como os funcionários no
desempenho de cargos de confiança do Executivo; e IV - os que pertencerem
ao serviço eleitoral, o que caracteriza as demais alternativas (a), (c) e (d),
como incorretas por contrariarem o disposto na Lei.
Na atividade 3, você apontou a letra (b), pois as assertivas (I), (II) e (III)
constituem atribuição do Ministério Público Eleitoral e cuidam de questões de
direito indisponível. A assertiva (IV) está incorreta, pois trata de uma liberalidade e
não de função institucional obrigatória como as demais.
Na atividade 4, você pesquisou na Constituição Federal as funções
essenciais da Justiça – no que tange ao Ministério Público, e percebeu que,
embora a Constituição não tenha feito menção expressa ao Ministério Público
Eleitoral, essa instituição está implicitamente inserida nas funções institucionais
do Ministério Público. Quanto à legislação que se aplica ao Ministério Público,
você poderá acessar no sítio <www.planalto.gov.br> tanto a Constituição
Federal como as leis infraconstitucionais que disciplinam o assunto, como a LC
75/93 e a Lei 8.625/93.

Referências
BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa
do Brasil. Brasília: Senado, 1988.
______. Código Eleitoral. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4737.htm>. Acesso em: 12 nov.
2009.
______. Lei complementar n. 75, de 20 de maio de 1993. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp75.htm>. Acesso em: 12
nov. 2009.
______. Lei n. 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8625.htm>. Acesso em: 12 nov.
2009.
MICHELS, Vera Maria Nunes. Direito Eleitoral. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2006.
QUEIROZ, Ari Ferreira de. Direito Eleitoral. 10. ed. Goiânia: IEPC, 2006.
RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 3. ed. Niterói: Impetus, 2009.
SPITZCOVSKY, Celso; MORAES, Fábio Nilson Soares de. Direito Eleitoral.
São Paulo: Saraiva, 2009. v. 27.
Capítulo 4 – Dos partidos políticos e do registro dos candidatos

Introdução

Também trataremos de dois tópicos importantes no quarto capítulo,


que são respectivamente os partidos políticos e o registro das candidaturas e
suas peculiaridades. Comecemos, pois, pelos partidos políticos que compõem
os direitos fundamentais do cidadão.
Em um único artigo (Art. 17), a CF/88 dispõe sobre os partidos
políticos acerca de sua liberdade de criação, fusão, incorporação e extinção,
desde que resguardada a soberania nacional, o regime democrático, o
pluripartidarismo e os direitos fundamentais da pessoa humana. Além disso,
estabelece alguns princípios nos quatro incisos que o compõem. Estudaremos
ainda algumas leis ordinárias e resoluções do TSE, que também regulam os
partidos políticos.
Com relação ao registro das candidaturas, veremos que o registro
dos candidatos não é um ato isolado, mas que observa todo um processo que
não pode contrariar a Constituição. Por essa razão, a opção de estudar os dois
tópicos em um mesmo capítulo.
Para estudar os partidos políticos e o processo de registro das
candidaturas, é necessário que você releia o que estudou acerca dos direitos
políticos no segundo capítulo. Essa releitura proporcionará as bases
necessárias para compreender como a garantia dos direitos políticos é
importante para constituir as bases de um Estado Democrático de Direito.
Sugerimos a leitura do Art. 17 da Constituição e da Lei n. 9.096/95,
que dispõe sobre os partidos políticos. Ela poderá ser acessada no sítio
<www.planalto.gov.br>.

4.1 Considerações iniciais acerca dos partidos políticos


De acordo com Spitzcovsky e Moraes (2009), os partidos políticos
estão disciplinados no Capítulo V do título II da Constituição Federal de 1988,
ou seja, dentro do tópico dos “Direitos e Garantias Fundamentais”. Para os
autores isso significa que
[...] as normas que regulam toda atividade partidária só poderão ser
compreendidas, em sua essência, a partir do entendimento do papel
exercido por essas agremiações em um Estado Democrático de
Direito [...] Com efeito, o cerne do conceito de democracia está,
indubitavelmente, na noção de Governo do povo, revelado pela
própria etimologia do termo. A busca pelo alcance desse ideal foi uma
constante na história do Homem, registrando-se três momentos em
particular: a revolução Inglesa de 1689; a Declaração de
Independência das treze Colônias Americanas de 1776; e a
Revolução Francesa de 1789.

Os partidos políticos são conceituados tanto na doutrina como na Lei


n. 9.096/95. Comecemos, pois, pelo conceito legal contido no Art. 1° da referida
Lei
Art. 1º O partido político, pessoa jurídica de direito privado, destina-se
a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do
sistema representativo e a defender os direitos fundamentais
definidos na Constituição Federal.

Também a doutrina é farta em conceitos. Vejamos.


Grupos sociais, geralmente regulados pelo direito público, vinculando
pessoas que, tendo a mesma concepção sobre a forma desejável da
sociedade do Estado, se congregam para a conquista do poder
político, para realizar um determinado programa (PINTO FERREIRA
citado por MICHELS, 2006, p. 155).

(i) Uma forma de agremiação de um grupo social que se propõe


organizar, coordenar e instrumentalizar a vontade popular com o fim
de assumir o poder para realizar seu programa de governo (JOSÉ
AFONSO DA SILVA citado por SANTANA; GUIMARÃES, 2006, p.
81).

Os partidos políticos, conforme se extrai de sua definição legal, têm


natureza de pessoa jurídica de direito privado. Mas, por determinação do § 2°
do Art. 17 da CF/88, têm uma peculiaridade própria, pois, após adquirirem
personalidade jurídica na forma da lei civil, deverão registrar os seus estatutos
no Tribunal Superior Eleitoral. Para Queiroz (2006, p. 267), essa regra “[...]
impõe uma duplicidade de registros do partido: uma, para ter existência legal,
no cartório de registro das pessoas jurídicas; outra, depois daquela, para fins
políticos, no Superior Tribunal Eleitoral”.

4.1.1 Partidos políticos na Constituição Federal


O Art. 17 da Constituição Federal assegura que
Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos
políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o
pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e
observados os seguintes preceitos:
I - caráter nacional;
II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou
governo estrangeiros ou de subordinação a estes;
III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;
IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.

Comentando o artigo supra mencionado, Spitzcovsky e Moraes


(2009, p. 38), lecionam que não há dúvida quanto a “plena autonomia atribuída
aos partidos políticos, oferecendo-lhes a Constituição amplas possibilidades de
organização, respeitados, por óbvio, os parâmetros por elas estabelecidos”.
Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 38), desta mesma leitura extraem
duas espécies de liberdade, uma “liberdade externa, consistente na criação,
fusão, incorporação e extinção dos partidos, e uma interna, referente às
atividades por eles exercidas, seu programa político e o perfil ideológico que os
identifica”.

4.1.2 Partidos políticos na Lei n. 9.096/95

A Lei n. 9.096/95 - Lei Orgânica dos Partidos Políticos – foi editada


para regulamentar o Art. 17 da Constituição Federal. Como ressaltam
Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 40), essa lei “em alguns pontos, repete o que já
estava consignado na Constituição; em outros, acaba inovando [...]”.
O Art. 1° da referida lei reitera a diretriz constitucional quanto à
natureza jurídica dos partidos políticos como pessoas jurídicas de direito
privado. A eles é assegurada, nos termos do Art. 3º, plena autonomia para
definirem sua estrutura interna, organização e funcionamento.

4.1.3 Da criação e da extinção dos partidos políticos


O Art. 17 da Constituição Federal estabelece como os partidos
políticos podem ser criados e extintos. Queiroz (2006, p. 267) aponta duas
formas de criação em sentido macro. Para ele, pode-se falar em:

a) Criação originária: o partido político nasce de posições


ideológicas, sem a sombra ou idealismo de outro partido;
b) Criação derivada: o partido político advém de outro e ganha
nova forma a partir de atos de fusão e ou de incorporação; na criação
derivada o partido poderá conservar o nome do partido antecessor
e/ou adotar novo nome.
Ressalta-se que quanto à criação dos partidos políticos também se
observam as cláusulas limitativas impostas nos quatro incisos do Art. 17 da
CF/88.
A extinção dos partidos políticos está disciplinada nos Arts. 27 e 28
da Lei 9.096/95. Vamos conhecê-los.

Art. 27. Fica cancelado, junto ao Ofício Civil e ao Tribunal Superior


Eleitoral, o registro do partido que, na forma de seu estatuto, se
dissolva, se incorpore ou venha a se fundir a outro.
Art. 28. O Tribunal Superior Eleitoral, após trânsito em julgado de
decisão, determina o cancelamento do registro civil e do estatuto do
partido contra o qual fique provado:
I - ter recebido ou estar recebendo recursos financeiros de
procedência estrangeira;
II - estar subordinado a entidade ou governo estrangeiros;
III - não ter prestado, nos termos desta Lei, as devidas contas à
Justiça Eleitoral;
IV - que mantém organização paramilitar.

A hipótese do Art. 27 ensejará o cancelamento do registro, tanto no


Ofício Civil como no TSE, dos partidos que se dissolvam se incorporem e/ou se
fundam a outro. Diversa, porém, é a hipótese do Art. 28 que provém de fato
contrário à Constituição. Nesse caso, conforme leciona Michels (2006, p. 163),
o cancelamento deverá ser precedido de
[...] apuração em procedimento judicial regular, que assegure a ampla
defesa, sendo que o processo pode ser iniciado pelo TSE, à vista de
denúncia de qualquer eleitor, representante do partido, ou de
representação do Procurador Geral Eleitoral.

A ampla defesa deverá ser assegurada, seja o procedimento iniciado


pelo eleitor, pelo representante do partido e/ou pelo Procurador Geral Eleitoral,
para que se observe, quanto ao partido em questão, o devido processo legal.

4.2 Considerações sobre o registro das candidaturas


Segundo Queiroz (2006), nas eleições há sempre um número maior
de candidatos em relação às vagas existentes, o que torna necessário um
processo prévio de escolha para a disputa das vagas existentes.
Essa ideia é reforçada, como ressalta o autor, pelo fato de que
nosso sistema eleitoral não admite candidaturas avulsas. Daí a necessidade
das convenções para decidir quem irá concorrer às vagas determinadas, pois a
candidatura pertence ao partido e não ao candidato. Feita essa pequena
introdução, passamos ao tema específico das convenções, o segundo tema
deste capítulo.
Para compreender de forma clara os procedimentos do registro das
candidaturas, apresentaremos no quadro 1 os passos e os requisitos do
procedimento eleitoral para que você visualize todas as etapas e perceba onde
se insere o registro da candidatura que sempre será precedido da convenção
partidária.
Quadro 1 - Etapas da aplicação do Processo Eleitoral
• Alistamento eleitoral
• Convenções nacionais, estaduais ou municipais para a escolha de pré-candidatos
(Art. 8º da Lei n. 9.504\97)
• Pedidos de registro de candidaturas (Art. 11 da Lei n. 9.504\97)
• Propaganda política eleitoral (Art. 36 da Lei n. 9.504\97)
• Votação
• Apuração
• Proclamação dos eleitos
• Prestação de contas da campanha eleitoral
• Diplomação
Fonte: Ramayana (2009, p. 30)

Você estudou o alistamento eleitoral no segundo capítulo. Neste,


enfocaremos as convenções e o registro das candidaturas. As demais etapas
serão estudadas nos capítulos seguintes.
4.2.1 Das regras que antecedem a escolha dos candidatos
Para Sptizcovsky e Moraes (2009, p. 28), a filiação partidária,
estabelecida como uma das condições de elegibilidade, remete a outra questão.
Como escolher os candidatos? Os autores respondem que,
Nesse particular, o primeiro aspecto a ser registrado é aquele que
estabelece que as respectivas normas devam estar fixadas no estatuto
de cada partido, de forma a assegurar a sua autonomia estabelecida no
Art.17, § 1°, da CF, consoante a redação estabelecida no Art. 7° da Lei
n. 9.504/97.

O § 1° do Art. 17 assim dispõe

É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura


interna, organização e funcionamento e para adotar os critérios de
escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade
de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual,
distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de
disciplina e fidelidade partidária.

De sua leitura, retira-se que lhes é assegurado plena autonomia e


independência. Não obstante a disposição constitucional, o Art. 7° da Lei 9.504/97
assim estabelece “as normas para a escolha e substituição dos candidatos e para
a formação de coligações serão estabelecidas no estatuto do partido, observadas
as disposições desta Lei”.
Ambos, Constituição e Lei 9.504/97, fazem menção à observância dos
estatutos dos partidos. A Lei 9.504/97 estabelece outras regras que
obrigatoriamente devem ser seguidas pelos partidos. Entre elas, está o Art. 8° que
dispõe que “a escolha dos candidatos pelos partidos e a deliberação sobre
coligações deverão ser feitas no período de 10 a 30 de junho do ano em que se
realizarem as eleições, lavrando-se a respectiva ata em livro aberto e rubricado
pela Justiça Eleitoral”.

4.2.2 Das convenções partidárias


A convenção partidária é considerada como o processo de escolha
dos candidatos que participarão das coligações e concorrerão ao pleito.
Encontram-se as convenções partidárias disciplinadas na Lei 9.504/97.
Como dissemos no item anterior, as normas regulamentadoras
desse processo são, sobretudo, os Estatutos Internos dos respectivos partidos
que devem observar os ditames constitucionais e os limites estabelecidos na
Lei 9.504/97 (Art. 7°).
As convenções, de acordo com Michels (2006), classificam-se em
três espécies, as quais foram reproduzidas no quadro 2.
Quadro 2 - Das convenções partidárias
São compostas pelos eleitores do município, filiados ao partido, com a
antecedência que for fixada em Lei ou Resolução do TSE. Participação:
dirigentes partidários locais, vereadores do partido no município e os
Convenções parlamentares como senadores, deputados estaduais e federais.
municipais
São compostas pelos dirigentes dos partidos em nível regional; os
delegados dos partidos municipais e, eventualmente representantes de
Convenções comissões diretoras municipais provisórias e os parlamentares:
regionais senadores, deputados federais e estaduais filiados ao partido.
Compostas pelos dirigentes dos partidos em nível nacional, os delegados
Convenções dos diretórios regionais ou representantes dos órgãos regionais
nacionais provisórios e os parlamentares: senadores e deputados federais.
Fonte: Michels (2006, p. 110-111)
A data da convenção partidária está estabelecida no Art. 8° da Lei
9.504/97, ou seja, como você viu, entre os dias 10 a 30 de junho do ano em
que se realizam as eleições. Como requisito de validade, a ata deverá ser
lavrada em livro aberto e rubricado pela Justiça Eleitoral. Só então cada um
dos partidos marcará a data de sua convenção conforme sua conveniência.
O § 2° do Art. 8º da Lei 9.504/97 previu que para “a realização das
convenções de escolha de candidatos, os partidos políticos poderão usar
gratuitamente prédios públicos, responsabilizando-se por danos causados com
a realização do evento”, tudo com o intuito de resguardar os princípios da
isonomia e da democracia.

4.2.3 Das coligações partidárias


Conforme Queiroz (2006, p. 111), coligação é “a reunião de dois ou
mais partidos para lançar candidatos comuns às eleições, atendendo a razões
de conveniência partidária com o escopo de alcançar o poder”. Também
prevista no Art. 6° da Lei 9.504/97.

Art. 6º É facultado aos partidos políticos, dentro da mesma


circunscrição, celebrar coligações para eleição majoritária,
proporcional, ou para ambas, podendo, neste último caso, formar-se
mais de uma coligação para a eleição proporcional entre os partidos
que integram a coligação para o pleito majoritário.

Conforme o disposto no § 1° do Art. 6°, a coligação adquirirá


nomenclatura própria e a ela serão atribuídas as prerrogativas e obrigações de
partido político no que se refere ao processo eleitoral. O Art. 6°, § 3° da Lei
9.504/97 estabelece normas que deverão ser observada pelas coligações.
Essas normas estão reproduzidas no quadro 3.

Quadro 3 - Normas aplicadas às coligações


I - Na chapa da coligação, podem inscrever-se candidatos filiados a qualquer partido político
dela integrante.
II - O pedido de registro dos candidatos deve ser subscrito pelos presidentes dos partidos
coligados, por seus delegados, pela maioria dos membros dos respectivos órgãos executivos
de direção ou por representante da coligação, na forma do inciso III.
III - Os partidos integrantes da coligação devem designar um representante, que terão
atribuições equivalentes às de presidente de partido político, no trato dos interesses e na
representação da coligação, no que se refere ao processo eleitoral.
IV - A coligação será representada perante a Justiça Eleitoral pela pessoa designada na
forma do inciso III ou por delegados indicados pelos partidos que a compõem, podendo
nomear até:
a) três delegados perante o Juízo Eleitoral;
b) quatro delegados perante o Tribunal Regional Eleitoral;
c) cinco delegados perante o Tribunal Superior Eleitoral.
Fonte: Brasil (1997).

Todas essas regras reforçam o entendimento de que a candidatura é


do partido e não do candidato. E a elas todos os candidatos se submetem.
Outra questão importante diz respeito à escolha dos números e dos nomes dos
candidatos. É o que passamos a analisar.
4.2.4 Nomes e números dos candidatos
O Art. 12 e seus parágrafos da Lei 9.504/97 disciplinam a questão
da nomenclatura e do número dos candidatos. O candidato deverá indicar no
pedido de registro, o seu nome completo e as variações nominais com as quais
deseja ser registrado.
Além de apresentar os nomes, o candidato também precisa de um
número que o vincule ao partido em que se encontra ligado. Como ensina
Queiroz (2006, p. 119), “cada partido é identificado por um número com duas
casas, de 10 (dez) a 99 (noventa e nove)”. A forma de atribuição dos números
obedecerá a critérios específicos para cargos majoritários e proporcionais,
conforme quadro 4.

Quadro 4 - nome e número dos candidatos


Candidatos a Presidente da Serão identificados pelo número do partido a que estão
República, Governador e filiados.
Prefeito
Eleição da renovação de 1/3 do
Senado (cada partido apenas 1 O número será o mesmo do partido.
candidato)
Eleição da renovação de 2/3 do Cada um será identificado com o número identificador do
Senado (cada partido até 2 partido mais um algarismo à direita. Ex. PMDB (15) será
candidatos) 151 e 152.
Serão identificados com o número do partido mais dois
Candidatos a Deputado Federal algarismos à direita. Ex. PMDB (15) será 1511, 1512 e
assim por diante.
Serão identificados com o número do partido mais três
Os candidatos a Deputado algarismos à direita. Ex. PMDB (15) será 15111, 15112 e
Estadual assim por diante.
Fonte: Queiroz (2006, p. 120)

Saiba mais
Recomendamos que você leia o Art. 15 da Lei 9.504/97, o qual
dispõe acerca dos números dos candidatos.

4.2.5 Do registro dos candidatos


Os Arts. 10 a 16 da Lei 9.504/97 disciplinam o registro das
candidaturas. O pedido de registro (Art. 11 da Lei 9.504/97) será realizado por
partidos políticos e coligações junto à Justiça Eleitoral até as 19 horas do dia 5
de julho do ano das eleições. Sptizcovsky e Moraes (2009, p. 30) lembram que
O registro das candidaturas demanda a realização anterior de
convenções partidárias, as quais deliberarão sobre a lista de
candidatos, bem como acerca da aprovação, ou não, da formação de
coligações, devendo-se realizar no período de 10 a 30 de junho do
ano das eleições.

O Art. 10 dispõe que os partidos políticos poderão registrar seus


candidatos para a Câmara dos Deputados, Câmara Legislativa, Assembleias
Legislativas e Câmaras Municipais, até 150% do número de lugares a
preencher. E ainda, no § 1°, que em caso de eleições proporcionais, coligações
poderão registrar até o dobro do número de vagas a preencher. Os requisitos
para o registro formal propriamente dito são os listados no Art. 11, que impõe
ser o registro efetuado até as 19 horas do dia 5 de julho do ano que se
realizarem as eleições. Também os documentos que deverão instruir o pedido
de registro estão previstos no § 1° do Art. 11 da Lei 9.504/97. Confira os §§ 1°
e 2° do Art. 11 da Lei 9.504/97.
Art. 11. Os partidos e coligações solicitarão à Justiça Eleitoral o
registro de seus candidatos até as dezenove horas do dia 5 de julho
do ano em que se realizarem as eleições.
§ 1º O pedido de registro deve ser instruído com os seguintes
documentos:
I - cópia da ata a que se refere o Art. 8º;
II - autorização do candidato, por escrito;
III - prova de filiação partidária;
IV - declaração de bens, assinada pelo candidato;
V - cópia do título eleitoral ou certidão, fornecida pelo cartório
eleitoral, de que o candidato é eleitor na circunscrição ou requereu
sua inscrição ou transferência de domicílio no prazo previsto no Art.
9º;
VI - certidão de quitação eleitoral;
VII - certidões criminais fornecidas pelos órgãos de distribuição da
Justiça Eleitoral, Federal e Estadual;
VIII - fotografia do candidato, nas dimensões estabelecidas em
instrução da Justiça Eleitoral, para efeito do disposto no § 1º do Art.
59.
§ 2º A idade mínima constitucionalmente estabelecida como condição
de elegibilidade é verificada tendo por referência a data da posse.

Segundo Sptizcovsky e Moraes (2009, p. 30), o rol descrito no § 1°


do Art. 11 amplia as condições de elegibilidade previstas pelo Art. 14, § 3°, da
Constituição Federal, que estabelece apenas as condições mínimas para fins
de registro. Veja quais são essas condições no quadro 5.

Quadro 5 - Condições de elegibilidade


§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:
I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
V - a filiação partidária;
VI - a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-
Prefeito e juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador.
Fonte: Brasil (1988)
Sptizcovsky e Moraes (2009, p. 30) lecionam que
[...] as idades mínimas exigidas pela Constituição, como condição de
elegibilidade [Art. 14, § 3°, VI], devem estar caracterizadas nos atos
da posse, e não no momento do registro da candidatura, como, já se
viu ocasião em que será necessária apenas a prova do cumprimento
desse requisito, a teor do disposto no Art. 11, § 2°, da Lei 9.504/97.
Esse aspecto assume a importância na medida em que se revela de
forma acertada, que o requisito exigido pela Constituição justifica-se
para o exercício do mandato, e não para o simples registro da
candidatura. Se o candidato a cargo eletivo não contar, no momento
do registro de sua candidatura, a idade mínima exigida pela
constituição, mas vier a completá-la até o momento da posse, então
seu pleito deverá ser deferido pela Justiça Eleitoral. No entanto,
cumpre observar que o conteúdo do § 2° deve ser entendido de forma
restritiva, não se aplicando para as demais exigências estabelecidas
no § 1°, que deverão estar cumpridas no momento do registro. Assim,
se porventura algum candidato, no momento do registro de sua
candidatura, não estiver na plenitude dos seus direitos políticos, será
considerado inelegível.

Os requisitos do § 1° do Art. 11 deverão ser preenchidos já no


momento do registro da candidatura, sob pena de tornar o candidato inelegível
por não preencher, na forma da Lei, os pressupostos, diferentemente da
exigência de idade mínima, que poderá ser preenchido até a posse do
candidato.
Estudamos os partidos políticos e o registro das candidaturas dos
candidatos a cargos eletivos. Vimos que os partidos políticos são uma espécie de
pessoa jurídica de direito privado, mas com uma peculiaridade que é o duplo
registro. Analisamos também o processo de registro das candidaturas, que é
precedido de algumas etapas, como, por exemplo, as convenções partidárias.
No próximo capítulo, você estudará os atos preparatórios, a votação e a
apuração das eleições. Perceberá como são minuciosos esses atos e como
são resguardados os atos que cercam a votação e a sua apuração
propriamente dita.
Atividades
1. O Art. 17 da Constituição Federal dispõe acerca dos partidos políticos e
a Lei 9.096/05 os regulamenta. Com base nesses dois Diplomas, podemos
afirmar que:
I. o partido político, pessoa jurídica de direito público, destina-se a
assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema
representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição
Federal;
II. o partido político, pessoa jurídica de direito privado, necessita de registro
tanto junto ao Ofício Civil como no Tribunal Superior Eleitoral;
III. é livre a criação, a fusão e a incorporação dos partidos políticos, desde
que se respeite a soberania nacional;
IV. aos partidos políticos é licito receber recursos financeiros de entidade ou
de governos estrangeiros ou de subordinação a eles.
Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s)
a) I apenas.
b) II apenas.
c) I e III apenas.
d) III apenas.

2. A utilização de um prédio público para a realização de uma convenção


partidária é
a) vedada.
b) permitida desde que haja prévia autorização do Tribunal Regional
Eleitoral e mediante pagamento de aluguel.
c) permitida de forma gratuita.
d) permitida desde que haja prévia autorização do Tribunal Superior
Eleitoral e mediante pagamento de aluguel.

3. Os partidos políticos deverão solicitar à Justiça Eleitoral o registro de


seus candidatos até o prazo máximo de
a) 19 horas do dia 5 de julho do ano em que se realizarem as eleições.
b) 18 horas do dia 5 de julho do ano em que se realizarem as eleições.
c) 19 horas do dia 30 de julho do ano em que se realizarem as eleições.
d) 18 horas do dia 10 de julho do ano em que se realizarem as eleições.

4. As coligações adquiriram nomenclatura própria e lhe serão atribuídas as


prerrogativas e obrigações de partido político. Para fins de representação
junto a Justiça Eleitoral, quantos delegados poderão ser nomeados perante
a) o TSE?
b) os TRE?
c) o juízo eleitoral?

Comentário das atividades


Na atividade 1, você assinalou a letra (b), pois leva em
consideração a natureza jurídica dos partidos políticos, que é de pessoa
jurídica de direito privado que se submete a duplo registro. As demais estão
incorretas. A alternativa (a) menciona pessoa jurídica de direito público, o que
não corresponde à natureza dos partidos políticos que são equiparados a
pessoas jurídicas de direito privado, porém com suas peculiaridades. A
alternativa (c) faz menção a apenas um dos limites impostos pela Constituição,
enquanto que esses limites são respectivamente: o resguardado a soberania
nacional, ao regime democrático, ao pluripartidarismo e aos direitos
fundamentais da pessoa humana, além dos pressupostos contidos nos incisos I
a IV. A alternativa (d) menciona ser lícito receber recursos estrangeiros, mas a
Constituição veda essa prática de forma expressa.
Na atividade 2, você apontou a letra (c), visto que considera permitido o
uso gratuito dos prédios públicos para fins de convenção partidária. Aliás, essa
é uma determinação contida no § 2° do Art. 6° da Lei 9504/97. As demais
alternativas estão incorretas por proibirem este uso e/ou por o permitirem, mas
mediante pagamento e/ou autorizações prévia do TSE.
Na atividade 3, você acertou se respondeu a letra (a), visto que é o
prazo disposto na Lei de Eleições (Lei 9504/97), Art. 11, que prevê exatamente
até as 19 horas do dia 5 de julho do ano em que se realizarem as eleições. As
demais alternativas estão incorretas por considerarem lapso temporal diverso
do expresso na Lei.
Na atividade 4, você pesquisou na Lei das Eleições acerca da
representatividade das Coligações e dos Partidos Políticos junto à Justiça
Eleitoral. Verificou que, no § 3°, IV da Lei das Eleições há uma disposição
acerca do número de Delegados em cada instância da Justiça Eleitoral.
Poderão ser nomeados: três Delegados perante o Juízo Eleitoral, quatro
Delegados perante o Tribunal Regional Eleitoral e cinco Delegados perante o
Tribunal Superior Eleitoral.

Referências
BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa
do Brasil. Brasília: Senado, 1988.
______. Lei n. 9.096, de 19 de setembro de 1995. Dispõe sobre partidos
políticos, regulamenta os Arts. 17 e 14, § 3º, inciso V, da Constituição Federal.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9096.htm>. Acesso
em: 12 nov. 2009.
______. Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997. Estabelece normas para as
eleições. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9504.htm>.
Acesso em: 12 nov. 2009.
MICHELS, Vera Maria Nunes. Direito Eleitoral. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2006.
QUEIROZ, Ari Ferreira de. Direito Eleitoral. 10. ed. Goiânia: IEPC, 2006.
RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 3. ed. Niterói: Impetus, 2009.
SPITZCOVSKY, Celso; MORAES, Fábio Nilson Soares de. Direito Eleitoral.
São Paulo: Saraiva, 2009. v. 27.
SANTANA, Jair Eduardo; GUIMARÃES, Luís Fábio. Direito Eleitoral: para
compreender a dinâmica do poder político. 2. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2006.
Capítulo 5 – Dos atos preparatórios, da votação e da apuração das
eleições

Introdução

Neste capítulo, você estudará sobre os procedimentos preparatórios,


o próprio exercício do voto e a apuração das eleições. Verá que cada qual, em
seu contexto, é cercado da segurança necessária para a lisura das eleições.
Para estudar os atos preparatórios, o processo de votação e a
apuração dos votos, você precisa da leitura prévia da Lei n. 9.504/97 que rege
esse processo. Essa lei pode ser acessada no sítio <www.planalto.gov.br>.
Certamente você é eleitor ou ainda pode ser que seja ou venha a ser
um candidato. Tanto em uma hipótese como em outra, você seguramente já
compareceu às urnas para depositar o seu voto e pôde perceber que é um
procedimento bastante solene. Por essa razão vamos estudá-lo e você
perceberá que a lei cerca de segurança esse procedimento a fim de assegurar
o direito à democracia.

5.1 Das eleições


Você já deve ter se perguntado alguma vez, o motivo pelo qual um
determinado candidato recebeu mais votos que outro e o menos votado foi
eleito e aquele outro não. Tratamos no capítulo 4, entre outros assuntos, das
coligações. São essas, além dos sistemas que aqui apresentaremos –
proporcional e majoritário – que são responsáveis por essa peculiaridade em
nosso sistema eleitoral.
Para Ramayana (2009, p. 67), os sistemas eleitorais podem ser
conceituados como o “conjunto de técnicas legais, políticas e matemáticas, que
objetivam organizar a representação popular, com base nas circunscrições
eleitorais (divisões territoriais entre Estados, municipais, distritos, bairros etc.)”.
Vamos conhecer um pouco mais sobre os sistemas eleitorais, a
partir da exposição do quadro 1.
Quadro 1 - Sistemas eleitorais
SISTEMA PROPORCIONAL SISTEMA MAJORITÁRIO
A exigência é de apenas um número mínimo A vitória é do candidato que tiver mais votos,
de votos, podendo considerar-se como eleitos considerando a maioria absoluta ou relativa.
aqueles que alcançarem esse quociente Exemplo: eleições para prefeito em
mínimo. municípios com menos de 200 mil eleitores e
O sistema proporcional assegura aos para as eleições de senador é adotada a
diferentes partidos políticos no Parlamento maioria relativa. Em eleições para prefeitos
uma representação correspondente à força em municípios com mais de 200 mil eleitores
numérica de cada um. Ela objetiva fazer do (Art. 29.II, da CF), governadores de Estado,
Parlamento um espelho tão fiel quanto distrital e presidente da República, adota-se a
possível do colorido partidário nacional. maioria absoluta.
A maioria absoluta dá-se em dois turnos: no
primeiro, é eleito o candidato que tiver mais
votos que os votos de todos os concorrentes
somados. Não ocorrendo essa hipótese, é
realizado o segundo turno, com os dois mais
votados.
Em resumo, nesse sistema, os eleitores
votam na pessoa, sendo o eleito aquele que
obtiver mais votos.
Nesse modelo, vencerá aquele que receber
maior número de votos (maioria absoluta e
relativa).
Fonte: Ramayana (2009, p. 67)

O nosso sistema de representatividade deixa a desejar, pois tanto


um como outro oferecem vantagens e desvantagens. Mas isso é assunto para
ser discutido em uma pauta de reforma política.
Saiba mais
Para saber mais sobre os sistemas eleitorais brasileiros, visite o blog
do professor Matheus que pode acessar no sítio
<http://profmatheus.blogspot.com/2008/04/sistemas-majoritrios-e-
proporcionais.html>. Nesse sítio, o professor trata dos sistemas eleitorais com
linguagem clara e de forma bastante acessível. Aproveite!
Alguns conceitos são fundamentais para entendermos os resultados
das eleições. Entre eles, destacaremos alguns no quadro 2.
Quadro 2 - Conceitos aplicados às regras do sistema eleitoral
Os votos válidos são votos da legenda partidária e de todos os candidatos; os
Votos votos nulos e em branco não entram na contagem. O Art. 106 do Código
válidos Eleitoral determina a contagem dos votos em branco, mas o dispositivo legal
não foi recepcionado pelo Art. 77, § 2º, da Carta Magna.
O quociente eleitoral (Art. 106 do CE) é um mecanismo de cálculo determinado
pela divisão do número total de votos válidos pelo número de lugares na
Quociente Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais. Por
eleitoral exemplo: na Câmara Municipal de Sumidouro, existem nove lugares para
vereadores. O número 9 servirá para o critério de divisão dos votos válidos.
90.000 divididos por 9 = 10.000 votos válidos.
É o percentual (Art. 107 do CE) obtido por partido ou coligação da divisão do
número de votos alcançados pela legenda pelo quociente eleitoral. Atenção:
os votos de um determinado candidato contam para legenda. No exemplo
anterior, o quociente partidário ocorrerá da seguinte forma: se, na cidade de
Sumidouro, existirem em disputa três partidos políticos e o partido A teve
60.000 votos, o B, 20.000, e o C, 10.000, o quociente partidário (quantidade de
lugares ou vagas que determinado partido obterá na eleição) dar-se-á pela
divisão com o numero do quociente eleitoral. Hipótese, o partido A - 60.000
divididos por 10.000 = 6 lugares; B - 20.000 divididos por 10.000 = 2 lugares;
C- 10.000 divididos por 10.000 = 1 lugar. Para o cálculo do sistema
proporcional, somam-se os votos válidos, que são os votos atribuídos aos
candidatos e aos partidos políticos ou legenda. Em seguida, dividem-se os
Quociente votos válidos, excluindo-se os nulos e os em branco, pelo número de vagas ou
partidário cadeiras que serão preenchidas naquela eleição específica. Sobre o assunto,
consultar em relação às eleições de vereadores as Resoluções n. 21.702/04 e
21.803/04 do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral que disciplinam o número de
vagas nas Câmaras Municipais. Feita essa primeira divisão, obtém-se o
quociente eleitoral. Obtido o quociente eleitoral, procura-se saber quantos
votos foram conquistados por partido ou coligação e, em seguida, dividem-se
os votos pelo quociente eleitoral. Feita essa divisão, chega-se ao número de
cadeiras que cada partido ou coligação preencherá, o que se denomina de
quociente partidário.

Fonte: Ramayana (2009, p. 68-69)

5.2 Dos pleitos eleitorais


Como leciona Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 75), os pleitos
eleitorais ocorrerão
[...] em todo o País, no primeiro domingo de outubro do ano
respectivo. Dentro desse contexto, cumpre observar que, na eleição
para prefeito de municípios com mais de 200 mil eleitores e não
habitantes (Art. 3º, § 2º, da Lei n. 9.504/97), se nenhum candidato
alcançar maioria absoluta na primeira votação, far-se-á nova eleição
no último domingo de outubro, concorrendo os dois candidatos mais
votados, e considerando-se eleito o que obtiver a maioria dos votos
válidos.

O Título II da IV Parte do Código Eleitoral traz as regras básicas


sobre os pleitos eleitorais, disciplinando nos Arts. 114 a 116 os atos
preparatórios à votação.

5.3 Dos atos preparatórios


Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 75), ao comentar o Art. 114 do
Código Eleitoral, entendem que a fixação do prazo de 60 dias anteriores à data
marcada para a realização das eleições como data limite para a qualificação de
todos os eleitores e a entrega dos respectivos títulos, competindo aos juízes
eleitorais essa comunicação aos Tribunais Regionais quanto ao número de
eleitores alistados 30 dias antes, é relevante tanto para que a Justiça Eleitoral
tenha uma ideia do volume de eleitores, como para a resolução de eventuais
pendências relacionadas às listas anteriormente publicadas. O fim almejado é
sempre a realização de um pleito eleitoral transparente e que possa contribuir
com o fim almejado da realização da democracia. Assim tudo que se relaciona
com essa fase do pleito está expresso nos Arts. 114 a 116 do Código Eleitoral.
5.4 Das seções eleitorais
As disposições acerca das seções eleitorais estão arroladas nos
Arts. 117 e 118 do Código Eleitoral. Segundo o Art. 117, a organização dessas
seções se dará “à medida em que forem sendo deferidos os pedidos de
inscrição”, desde que não tenham mais de quatrocentos eleitores nas capitais
e, nem mais de trezentos e, nem menos de cinquenta eleitores, nas demais
localidades. De acordo com o § 1°, apenas nas hipóteses justificáveis, os TRE
poderão autorizar os números ultrapassados. E, com o fito de facilitar o
processo de votação, os juízes eleitorais deverão organizar uma relação
contendo os eleitores de cada seção, devendo ser remetida aos presidentes
das mesas receptoras.

5.5 Das mesas receptoras

Estão disciplinadas nos Arts. 119 a 130 do Código Eleitoral. De


acordo com o Art. 119, “a cada seção eleitoral corresponde uma mesa
receptora de votos”. A composição dessa mesa, deverá observar na forma do
Art. 120 do Código Eleitoral, “um presidente, um primeiro e um segundo
mesários, dois secretários e um suplente, nomeados pelo juiz eleitoral sessenta
dias antes da eleição, em audiência pública, anunciado pelo menos com cinco
dias de antecedência”.
A questão maior que se coloca é determinar quem pode e quem não
pode ser presidente e mesário. O § 1° do Art. 120 do CE arrola os impedidos
de comporem as mesas receptoras. Vamos identificá-los no quadro 3.
Quadro 3 - Impedimentos relativos aos membros das mesas receptoras
§ 1º Não podem ser nomeados presidentes e mesários:
I - os candidatos e seus parentes ainda que por afinidade, até o segundo grau, inclusive, e
bem assim o cônjuge;
II - os membros de diretórios de partidos desde que exerça função executiva;
III - as autoridades e agentes policiais, bem como os funcionários no desempenho de cargos
de confiança do Executivo;
IV - os que pertencerem ao serviço eleitoral.
Fonte: Código Eleitoral (1965)

O § 2° do mesmo artigo contribui no sentido de apontar, ao contrário,


quem preferencialmente deve ser nomeado. Entre os nomeáveis, encontram-se
“os eleitores da própria seção, e, entre estes, os diplomados em escola
superior, os professores e os serventuários da Justiça”.

Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 75) realçam que “da nomeação dos


integrantes das Mesas Receptoras pelo Juízo Eleitoral, os partidos poderão
recorrer ao Tribunal Regional Eleitoral, assegurado o contraditório e a ampla
defesa”, conforme determinação do Art. 121 do CE. Segundo eles, “resolvida a
questão relacionada à composição das Mesas Receptoras, os que foram
nomeados para integrá-las terão um prazo de cinco dias para apresentar
motivos para a sua recusa, bem como para declarar a existência de qualquer
impedimento” (SPITZCOVSKY; MORAES, 2009, p.75).

A competência das mesas receptoras está disposta nos Arts. 127 e


128 do Código Eleitoral, aos quais recomendamos que você os leia.

Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 76), inferem que

[...] os trabalho dos integrantes das Mesas Receptoras serão objeto


de fiscalização, não só pelo Juízo Eleitoral, mas também por cada um
dos partidos políticos participantes do pleito eleitoral, que terão direito
de nomear dois fiscais, com credenciais devidamente visadas,
expedidas por essas agremiações ou coligações, matéria esta
disciplinada não só pelo Código Eleitoral (Art. 131), mas também pela
Lei n. 9.504/97, a partir do seu Art. 65.

Ressaltam os autores que a fiscalização pelos partidos políticos se


dará também de forma ampliada, objetivando alcançar “a todas as fases do
processo de votação e apuração, bem como da totalização dos resultantes, a
teor do disposto no Art. 66 da Lei n. 9.504/97”. Outras garantias estão
dispostas nos §§ 1° a 5° do Art. 66 da Lei 9.504/97. De acordo com o § 7° do
Art. 66, os partidos políticos têm ainda um sistema de fiscalização, apuração e
totalização dos resultados.

5.6 Da votação
Ramayana (2009, p. 53) compilou as regras dos manuais do TSE,
que são didaticamente apresentados nas épocas de eleição aos mesários,
juízes e membros do Ministro Público. Colacionamos algumas a fim de
apresentá-las de forma didática para facilitar o seu estudo. Ou ainda, você
poderá acessar na íntegra esse manual no sítio do TSE <www.tse.jus.br>, no
setor de publicações.

5.6.1 Das providências iniciais


A seguir, são apresentadas as etapas que compõem o processo de
votação.

a) Da instalação da mesa receptora de votos


Resumimos, no quadro 4, as principais providências dos mesários.

Quadro 4 - Responsabilidade dos mesários


Conferir todo o material de votação, verificar se ele pertence à seção.
Conectar o cabo da urna na tomada de energia elétrica.
Ligar a urna, girando a chave e retirando-a em seguida. (Manter a chave presa ao cabo do
microterminal.)
Verificar, na tela da urna, se estão corretos os dados referentes a município, zona, seção, data
e hora e se a urna está operando com energia elétrica.
Colocar o microterminal sobre a mesa do presidente, seguindo o layout sugerido. (Fixar os
cabos da urna no chão, com fita adesiva, para evitar que o eleitor tropece neles.)
Instalar a cabina de votação ao redor da urna.
Afixar, em local visível na seção, a lista de candidatos
Fonte: Instruções do TSE (2008, p. 6).

b) Emissão da zerésima

Essa providência deverá ser tomada às 7 horas. Seguem os passos


de forma minuciosa e didática.

Quadro 5 - Emissão da zerésima


Apertar a tecla CONFIRMA na urna, para emitir a zerésima. Havendo algum fiscal presente,
convidá-lo para acompanhar o procedimento.
A zerésima deve ser assinada pelo presidente e pelos mesários e fiscais presentes.
Guardar a zerésima para envio à junta eleitoral, após o término da votação.
Fonte: Instruções do TSE (2008, p. 6)

c) Orientações preliminares
São orientações de cunho prático e que devem ocorrer na forma
prevista em lei. Vejamos:
• Preferência para votar: alguns eleitores, ao comparecerem à
seção eleitoral, têm preferência para votar. São eles: os candidatos, os juízes e
seus auxiliares, os servidores da Justiça Eleitoral, os promotores eleitorais, os
policiais militares em serviço, os eleitores maiores de 60 anos, enfermos,
portadores de necessidades especiais, grávidas e lactantes. (INSTRUÇÕES
DO TSE, 2008, p. 6).
• Identificação do eleitor: os mesários deverão prestar real
atenção a esse quesito. Havendo qualquer dúvida sobre a identidade, o Art.
147 do CE dispõe sobre as providências a serem tomadas. A regra da
identificação também está didaticamente inserida nas Instruções do TSE (2008,
p. 6-7). Vamos a ela.
Quadro 6 - Identificação do eleitor
O eleitor é identificado com a apresentação do título eleitoral.
Na falta do título, o eleitor só pode votar apresentando documento oficial de identificação com
fotografia: carteira de identidade, carteira de trabalho, certificado de reservista, carteira de
motorista ou identidade funcional (OAB, CRM etc.).
O eleitor deve ASSINAR, no caderno de votação, ANTES DE VOTAR. Ao colher a assinatura,
certifique-se de que o eleitor assinou no espaço correto, pois existem muitos nomes parecidos.
O eleitor só pode votar se o seu nome constar no caderno de votação e na urna. Na hipótese
de o nome não constar no caderno de votação, por falha da impressão, o eleitor pode votar,
desde que os seus dados estejam no cadastro da urna.
Se o título apresentado for daquela zona e seção, e o eleitor não constar no cadastro da urna,
deve-se reter o título e orientar o eleitor a procurar o cartório eleitoral.
No final do caderno de votação, há uma lista dos eleitores da seção impedidos de votar.
Fonte: Instruções do TSE (2008, p. 6-7)

O Art. 147 em seu § 1º determina que “a impugnação à identidade


do eleitor, formulada pelos membros da mesa, fiscais, delegados, candidatos
ou qualquer eleitor, será apresentada verbalmente ou por escrito, antes de ser
o mesmo admitido a votar.” O § 2º dispõe acerca da persistência dessa dúvida
determinando as providências ao presidente da mesa expostas no quadro 7.

Quadro 7 - Dúvidas na identificação e impugnação do eleitor


I - Escrever numa sobrecarta branca o seguinte: "Impugnado por "F".
II - Entregar ao eleitor a sobrecarta branca, para que ele, na presença da mesa e dos fiscais,
nela coloque a cédula oficial que assinalou, assim como o seu título, a folha de impugnação e
qualquer outro documento oferecido pelo impugnante.
III - Determinar ao eleitor que feche a sobrecarta branca e a deposite na urna.
IV - Anotar a impugnação na ata.
§ 3º O voto em separado, por qualquer motivo, será sempre tomado na forma prevista no
parágrafo anterior.
Fonte: Código Eleitoral (1965)

• Fiscalização e propaganda: são regras básicas estabelecidas


para a fiscalização e propaganda as expostas no quadro 8.

Quadro 8 - Regras aplicáveis à fiscalização e à propaganda


Aos candidatos registrados, seus advogados, delegados e fiscais
competirá: fiscalizar a votação, formular protestos e fazer impugnações.
FISCALIZAÇÃO Cada partido ou coligação pode nomear, para cada mesa receptora de
votos, dois fiscais, que devem atuar um de cada vez.
Os fiscais podem atuar em mais de uma seção.
Aos mesários é proibido o uso de vestuário ou objeto que contenha
qualquer propaganda de partido, coligação ou candidatos.
Aos fiscais só são permitidos, nas vestes ou nos crachás utilizados, o
PROPAGANDA nome e a sigla do partido ou da coligação a que sirvam, vedada qualquer
inscrição que caracterize pedido de voto.
Aos eleitores somente é permitida a manifestação individual e silenciosa
da preferência por partido, coligação ou candidato, revelada no uso de
camisas, bonés, broches ou dísticos.
Fonte: Instruções do TSE (2008, p. 7)

d) Início e término da votação

O início da votação será impreterivelmente às 8 horas e o término às


17 horas. Caso haja pessoas na fila aguardando para votar, serão distribuídas
senhas, resguardando-lhes o direito de votar.
Conforme Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 77), nas providências de
encerramento da votação o Art. 154 do Código Eleitoral estabelece uma série
de providências a serem tomadas pelo Presidente da Mesa Apuradora, entre
as quais destacamos
[...] o fechamento da urna e sua entrega para a autoridade
competente, bem com a lavratura da ata da eleição, com o relato de
todos os acontecimentos verificados no período de votação, tudo sob
a fiscalização dos fiscais e delegados partidários.

Essas providências são essenciais ao desenvolvimento das etapas


seguintes, entre as quais a apuração das eleições, situação que passamos a
examinar.

5.7 Da apuração das eleições


As disposições acerca da competência da apuração das eleições
estão previstas no Art. 158 do Código Eleitoral, vamos identificá-las
Art. 158. A apuração compete:
I - às Juntas Eleitorais quanto às eleições realizadas na zona sob sua
jurisdição;
II - aos Tribunais Regionais a referente às eleições para governador,
vice-governador, senador, deputado federal e estadual, de acordo
com os resultados parciais enviados pelas Juntas Eleitorais;
III - ao Tribunal Superior Eleitoral nas eleições para presidente e vice-
presidente da República, pelos resultados parciais remetidos pelos
Tribunais Regionais.
Cumpre observar que o Código Eleitoral foi editado na década de
1960 e, portanto, anterior ao sistema eletrônico de apuração das eleições. não
obstante, o § 1° do Art. 174, incluído pela Lei 6.978/82, prevê que “na
apuração, poderá ser utilizado sistema eletrônico, a critério do Tribunal
Superior Eleitoral e na forma por ele estabelecida”.
Atualmente a apuração tem início tão logo encerre a votação em
todas as seções e é totalizada em pouco tempo, produzindo o resultado,
dependendo do local, em poucas horas. Com o resultado da apuração, os
candidatos eleitos serão diplomados.

5.8 Da diplomação dos candidatos


Para Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 78), após o encerramento da
apuração de votos,
Os candidatos, antes da posse, passam pelo ato da diplomação, em
sessão presidida pelo mandatário maior do Tribunal Superior
Eleitoral, do Tribunal Regional Eleitoral ou da Junta Eleitoral,
conforme natureza do pleito, sendo ainda possível opor recursos
contra ela.

Como explicam os autores, “trata-se de um ato meramente


declaratório, uma vez que tem por objetivo apenas confirmar ou não o
resultado do pleito eleitoral”. Podendo, no prazo de 15 dias, a partir da
diplomação, ser proposta a impugnação do mandato eletivo (Art. 14, § 10, da
CF), cujo teor é o seguinte “o mandato eletivo poderá ser impugnado ante a
Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a
ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude”. A
Constituição (§ 11) determina que essa ação tramitará “em segredo de justiça,
respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé”.
Estudamos os atos preparatórios, a votação, a apuração e a
diplomação dos candidatos. Tudo isso precedido de noções básicas acerca de
nosso sistema eleitoral – majoritário e proporcional. Essa distinção se fez
necessária para você compreender por que, às vezes, um determinado
candidato que obtém mais votos deixa de ser eleito e outro, com menos votos,
é eleito.
Você também estudou tópicos importantes acerca dos atos
preparatórios para a votação, ou seja, aqueles que antecedem a chegada do
eleitor às urnas, em que os mesários têm de preparar o ambiente, como ligar
ligando as urnas, tirar a zerésima. Viu ainda que existe, na lei, previsão de
preferência para que determinadas pessoas realizem o exercício do voto, bem
como as peculiaridades no encerramento da votação. Falamos, por fim, sobre a
apuração, cuja totalização se dá quase imediatamente após o transcurso da
votação e da diplomação do candidato, caracterizada como um ato
declaratório.
No próximo capítulo, você estudará a propaganda política e a
prestação de contas, que são dois temas que causam grandes discussões.
Sobre a propaganda, você terá oportunidade de verificar que uma lei
específica, em 2006, modificou quase totalmente o sistema vigente buscando
maior igualdade entre os candidatos. Quanto à prestação de contas, você
perceberá que precisamos urgentemente de uma reforma política que abranja
esse aspecto, que é um tanto deficiente em nosso sistema.

Atividades
1. No dia da eleição, o horário da votação terá início impreterivelmente às 8
horas da manhã e o termino se dará às 17 horas. Após o horário determinado
em lei, poderão votar as pessoas que
a) tiverem recebido senha e entregaram seus títulos aos mesários.
b) tiverem chegado ao local de votação no prazo de tolerância de trinta
minutos, ainda que não tenham recebido senha.
c) apresentarem justificativas plausíveis e forem aceitas pelo Presidente da
Mesa.
d) comprovem morar em bairros distantes e/ou tenham qualquer dificuldade
em relação aos transportes públicos.

2. De acordo com as determinações da Lei das Eleições – Lei 9504/97, as


eleições para presidente e vice-presidente da República, governador e vice-
governador de Estado, prefeito e vice-prefeito, senador, deputado federal,
deputado estadual e vereador, ocorrerão, em todo o país, no primeiro domingo
de outubro do respectivo ano. De acordo com os comandos contidos na Lei
9.504/97 acerca das eleições, não podemos afirmar que
a) o partido eleitoral que, até um ano antes do pleito eleitoral, não tenha
registrado o seu estatuto junto ao Tribunal Superior Eleitoral, ou ainda, não
tenha constituído órgão de direção na circunscrição até a data da convenção
partidária, não poderá participar das eleições.
b) nas eleições para prefeito e vice-prefeito de municípios com mais de 200
mil habitantes, caso nenhum dos candidatos alcance a maioria absoluta na
primeira votação, ocorrerá nova eleição no último domingo do mês de outubro,
devendo a ela concorrer os candidatos que tiverem sido mais votados no
primeiro turno.
c) as eleições para presidente e vice-presidente, governador e vice-
governador de Estado, senador, deputado federal, deputado estadual, serão
sempre realizadas de forma simultânea.
d) as eleições municipais, ou seja, para prefeito e vice-prefeito e
vereadores, ocorreram impreterivelmente de forma simultânea.

3. O Código Eleitoral dispõe acerca de quem pode e quem não pode ser
mesário. Analisando a norma em questão, pode-se considerar que podem ser
nomeados como mesários
a) os funcionários que desempenhem cargos de confiança junto ao Poder
Executivo.
b) os parentes por afinidade de candidatos até o segundo grau.
c) as autoridades e os agentes policiais civis e militares.
d) os advogados e os jornalistas pertencentes à própria seção eleitoral.

4. Os componentes da mesa receptora são nomeados pelo Juiz Eleitoral.


a) Dessa nomeação caberá recurso pelos partidos políticos? Qual e em
qual prazo?
b) Dessa nomeação caberá pedido de escusa? Qual o prazo?

Comentário das atividades


Na atividade 1, você assinalou a letra (a), visto que esta alternativa
é a única que está de acordo com a lei. Vejamos o artigo que estabelece essa
regra: “Art. 153. Às 17 horas, o presidente fará entregar as senhas a todos os
eleitores presentes e, em seguida, os convidará, em voz alta, a entregar à
mesa seus títulos, para que sejam admitidos a votar”. Assim, A lei não prevê
nenhuma forma de justificativa para o voto extemporâneo, ainda que na própria
seção eleitoral, razão pela qual as demais alternativas (b), (c) e (d), estão
incorretas, pois se firmam em alguma forma de justificativa que não existe na
lei.
Na atividade 2, você marcou a letra (b), pois está incorreta devido o Art.
3°, § 2° determina de forma expressa que “§ 2º Nos Municípios com mais de
duzentos mil eleitores, aplicar-se-ão as regras estabelecidas nos §§ 1º a 3º do
artigo anterior.” Ou seja, a lei faz menção a 200 eleitores e não a 200 mil
habitantes. As demais alternativas propostas estão corretas e também com
base na determinação legal. Vejamos: Letra (a) está correta, pois é uma
exigência disposta na Lei 9.096/95, Art. 7°, § 2°: “Art. 7º O partido político, após
adquirir personalidade jurídica na forma da lei civil, registra seu estatuto no
Tribunal Superior Eleitoral. [...] § 2º Só o partido que tenha registrado seu
estatuto no Tribunal Superior Eleitoral pode participar do processo eleitoral,
receber recursos do Fundo Partidário e ter acesso gratuito ao rádio e à
televisão, nos termos fixados nesta Lei”. A letra (c) está correta com base no
artigo 1°, parágrafo único, inciso I: “Art 1º [...] Parágrafo único. Serão realizadas
simultaneamente as eleições: I - para Presidente e Vice-Presidente da
República, Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal,
Senador, Deputado Federal, Deputado Estadual e Deputado Distrital”. Letra (d)
está correta com base no artigo 1°, parágrafo único, inciso II: “[...] Parágrafo
único. Serão realizadas simultaneamente as eleições: II - para Prefeito, Vice-
Prefeito e Vereador”.
Na atividade 3, você acertou se respondeu a letra (d), visto que o Código
Eleitoral dispõe que preferencialmente deverão ser nomeados os mesários entre os
eleitores da própria seção, e, entre estes, os diplomados em escola superior, os
professores e os serventuários da Justiça”. (Art. 120, § 2º do Código Eleitoral).
Na atividade 4, você pesquisou nos Arts. 120, § 4° e 121 caput e § 1°
do Código Eleitoral que dispõem acerca do recurso dos partidos políticos e do
pedido de escusas do mesário. Tanto uma como outra (a escusa e o pedido
dos partidos políticos são no intuito de fazer valer o contraditório e a ampla
defesa). Vejamos os artigos indicados e a chave da resposta de nossa
questão:
Art. 120. Constituem a mesa receptora um presidente, um primeiro e
um segundo mesários, dois secretários e um suplente, nomeados
pelo juiz eleitoral sessenta dias antes da eleição, em audiência
pública, anunciado pelo menos com cinco dias de antecedência.
§ 4° Os motivos justos que tiverem os nomeados para recusar a
nomeação, e que ficarão a livre apreciação do juiz eleitoral, somente
poderão ser alegados até 5 (cinco) dias a contar da nomeação, salvo
se sobrevindos depois desse prazo.
Art. 121 Da nomeação da mesa receptora qualquer partido poderá
reclamar ao juiz eleitoral, no prazo de 2 (dois) dias, a contar da
audiência, devendo a decisão ser proferida em igual prazo.
§ 1º Da decisão do juiz eleitoral caberá recurso para o Tribunal
Regional, interposto dentro de 3 (três) dias, devendo, dentro de igual
prazo, ser resolvido.

A resposta, como você pode perceber, está contida na própria


legislação.

Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília: Senado, 1988.
______. Eleições 2008: instruções do TSE. 2. ed. Disponível em:
<http://www.tse.gov.br/servicos_online/catalogo_publicacoes/45_instrucoes_ele
icoes_2008.htm>. Acesso em: 20 set. 2009.
______. Lei 6.978, de 19 de janeiro de 1992. Estabelece normas para a
realização de eleições em 1982, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L6978.htm>. Acesso em:
12 nov. 2009.
______. Código Eleitoral. Disponível em: <
http://www.tse.jus.br/servicos_online/catalogo_publicacoes/pdf/codigo_eleitoral/
codigo_eleitoral2006_vol1.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2009.
RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 3. ed. Niterói: Impetus, 2009.
SPITZCOVSKY, Celso; MORAES, Fábio Nilson Soares de. Direito Eleitoral.
São Paulo: Saraiva, 2009. v. 27.
Capítulo 6 – Da propaganda e das prestações de contas

Introdução

A propaganda, de maneira geral, traduz uma ideologia e nisso reside


a sua distinção em relação à publicidade. Assim a propaganda política em si
mesma é um instituto lícito. No entanto os candidatos e os partidos políticos
fazem uso dela de forma desvirtuada, que poderá ser por ofensa aos seus
princípios regentes, ou ainda, por serem consideradas criminosas, isto é,
contrárias às disposições legais. Estudaremos os elementos necessários à
licitude da propaganda política e o que pode ser considerado como prática
ilícita.
Outro ponto que abordaremos são as prestações de contas e os
financiamentos das campanhas políticas, que são questões muito discutidas
em matéria de Direito Eleitoral pela necessidade de regras mais efetivas no
sentido de cobrar transparência e responsabilidade dos candidatos.
O estudo da propaganda política e das prestações de contas requer
que você conheça as mudanças que ocorreram a partir da vigência da Lei n.
11.300/06, pois trouxe maior paridade para os que concorrem ao pleito
eleitoral. Contudo alguns artigos da Lei 9.504/97 em relação ao tema
continuam em vigor. Daí a necessidade de pesquisar também essa lei. Ambas
poderão ser acessadas no sítio <www.planalto.gov.br>.

6.1 Considerações iniciais acerca da propaganda


Para Ramayana (2009, p. 153), a propaganda, de modo geral, pode
ser conceituada como “uma forma de difundir, multiplicar e alargar a atividade
política desenvolvida nas campanhas”. De acordo com a história, a propaganda
dos tiranos era formada por três elementos: “a) um discurso demagógico; b) o
embelezamento das cidades, despertando o sentimento de orgulho do povo da
região; e c) atitudes de impacto”. (RAMAYANA (2009, p.153)
Ramayana (2009, p. 153) traça ainda um panorama histórico de
períodos e locais em relação à propaganda. Resumimos suas ideias no quadro
1.
Quadro 1 - Evolução histórica da propaganda
Roma A propaganda passou a ser exercida de forma mais institucional, originando-se
uma formação de partidos políticos com estatutos e ideologias. As conquistas
territoriais eram divulgadas como propagandas políticas.
Período da A propaganda é tratada como uma verdade religiosa, dando-se publicidade
Inquisição aos castigos.
Grécia Na democracia grega, a propaganda estava baseada nas condições pessoais
do orador e nas retóricas.
Fonte: Ramayana (2009, p. 153)

Como se vê, a propaganda é utilizada desde os tempos mais


remotos como forma de promoção e tentativa de cooptar pessoas simpáticas a
determinada ideologia.

6.2 Da propaganda política eleitoral e partidária


Vimos no tópico anterior que propaganda é “uma forma de difundir,
multiplicar e alargar a atividade política desenvolvida nas campanhas”, nas
palavras de Ramayana (2009, p. 153).
Segundo Michels (2006, p. 73), a “propaganda eleitoral é toda ação
destinada ao convencimento do eleitor para angariar votos”. A autora lembra
que o aumento considerável da população urbana e rural, aliado à evolução
tecnológica dos meios de comunicação, e com que a propaganda adquirisse
grande importância, pois atinge de forma maciça a população.
De acordo com Joel Candido (2008), a propaganda política é um
gênero da qual decorrem três espécies: propaganda política eleitoral,
propaganda política intrapartidária e propaganda política partidária.
Conheceremos, no quadro 2, as distinções existente entre cada uma
delas.
Quadro 2 - Das espécies de propaganda
a) Conceito: propaganda que tem a finalidade de divulgar ideias
e programas dos candidatos.
Propaganda política b) Base legal: Arts. 36 a 41-A da Lei 9.504/97 e no Código
eleitoral Eleitoral (Arts. 240 a 256)
c) Início: somente no dia 6 de julho do ano da eleição, quando é
possível legalmente serem veiculados panfletos, faixas e cartazes
pelos candidatos. (Art. 36 da Lei 9.504/97, o Art. 240 do CE está
tacitamente revogado)
d) Gratuidade: o Art. 99 da Lei n. 9504/97 prevê a compensação
fiscal pela cedência do horário gratuito no rádio e na televisão.
e) Forma de captação de votos usada pelos partidos políticos,
coligações ou candidatos em época determinada por lei, por meio de
divulgação de suas propostas, visando à eleição a cargos eletivos.
É a realizada pelo filiado de um partido político, no período, para
Propaganda política isso, indicado pela lei, visando a convencer os correligionários do
intrapartidária partido, participantes da Convenção para a escolha dos candidatos,
a escolher seu nome para concorrer a um cargo eletivo. Deve
ocorrer nos 15 dias que antecedem a convenção do partido. O
interessado não poderá usar a mídia para difundi-la, devendo optar
por mala direta e visitas eleitorais, remessas de mensagens etc.
a) Conceito: a finalidade é divulgar os programas dos partidos,
transmitir mensagens aos filiados sobre certos programas de
atividade congressual e divulgar a posição do partido quanto aos
temas de interesse nacional, como: educação, saúde, cultura,
segurança pública etc.
Propaganda política b) Base legal: Arts. 45 a 49 da Lei 9.096/95 (Lei dos Partidos
partidária Políticos).
c) Vedações: não é permitida a participação de pessoas não
filiadas, nem tampouco a divulgação de propaganda de candidatos,
que, nesse caso, em episódios não raros, usurpam o horário para
divulgar de forma antecipada suas propagandas pessoais.
d) Gratuidade: são aplicáveis as mesmas regras já referidas
para a propaganda política eleitoral.
Fonte: Ramayana (2009); Candido (2008)

A Lei 9.504/97 trata de todas essas espécies de propaganda,


conforme Candido (2008, p. 152), em seu Art. 36, sendo “a eleitoral, no caput;
a intrapartidária no § 1°; e, por fim, a partidária no § 2°”. Fizemos essa distinção
para você perceber que, nem sempre, as disposições de lei são respeitadas
como deveriam.
Estudaremos os princípios que regem a propaganda eleitoral como
gênero.

6.3 Princípios orientadores da propaganda eleitoral


A propaganda, especialmente por estar ligada às questões de
liberdade, deve pautar-se por alguns princípios. Candido (2008) apresenta-nos
seis princípios que regem a propaganda política como gênero. Resumimo-los
no quadro 3.

Quadro 3 - Dos princípios que regem a propaganda


A ele se vinculam os demais princípios. Consiste na
Princípio da legalidade afirmação de que a lei federal que regula a propaganda
é norma de ordem pública, composta por regras
cogentes, indisponíveis e de incidência erga omnes.
Todos têm o livre direito à propaganda na forma que a
Princípio da liberdade lei assim o dispuser.
Toda a propaganda é de responsabilidade dos partidos
políticos e coligações, solidários com os candidatos e
Princípio da responsabilidade adeptos, bem como com os órgãos de imprensa, pelos
abusos e pelos excessos cometidos.
Todos, com igualdade de oportunidades, têm direito à
Princípio igualitário propaganda, paga ou gratuita.
Decorre do princípio da igualdade e significa que os
partidos políticos, coligações, candidatos e adeptos
Princípio da disponibilidade podem dispor da propaganda lícita, garantida e
estimulada pelo Estado, já que a lei pune com sanções
penais a propaganda criminosa e pune a propaganda
irregular com sanções administrativas eleitorais.
Incumbe a Justiça Eleitoral da aplicação das regras
Princípio do controle judicial jurídicas sobre a propaganda e, inclusive, o exercício
do seu Poder de Polícia.
Fonte: Candido (2008, p. 154-155)

Como se vê, dos princípios apresentados, a propaganda vincula a


todos, seja partidos políticos, candidatos e meios de difusão em razão da
responsabilidade solidária que se estabelece entre eles. Ademais, todos os
aspectos da propaganda eleitoral submetem-se às regras da administração
pública.
Esse raciocínio pode ser confirmado por Spitzcovsky e Moraes
(2009, p. 55), para quem o legislador constituinte preocupou-se em “proteger a
realização do pleito contra abusos do poder político e econômico, consoante
previsão estabelecida no Art. 14, § 9º, do Texto Constitucional”. Essa regra,
segundo eles, vale também para “assegurar a normalidade e a legitimidade das
eleições, bem como a isonomia entre todos os participantes do pleito eleitoral”,
o que se aplica de forma clara à regulação da propaganda política.
Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 55) mencionam ainda que
Reservou-se na Lei n. 9.504/97 um capítulo somente para esse tema,
assim subdividido: propaganda em geral e, posteriormente, em itens
específicos, relacionados aos meios de comunicação, nos quais são
abordadas questões relacionadas a outdoors, imprensa, rádio e
televisão. Oportuno registrar que a complexidade do tema ora em
análise, em decorrência das inúmeras variantes que pode assumir,
acabou por gerar a edição da Resolução n. 21.610, do TSE,
exclusivamente para discipliná-lo. Nesse sentido, os comentários a
serem desenvolvidos sobre esse tormentoso tema serão mesclados
pela transcrição de dispositivos tanto da Lei n. 9.504/97 quanto da
Resolução n. 21.610.

A Lei 11.300/06 modificou a Lei 9.504/97, chegando mesmo a


revogar alguns artigos dessa última. É na perspectiva dessa nova lei que
passamos a analisar a propaganda política.

6.4 Da época da propaganda de acordo com a Lei 9.504/97


O Art. 36 da Lei 9.504/97 dispõe que “a propaganda eleitoral
somente é permitida após o dia 5 de julho do ano da eleição.” Spitzcovsky e
Moraes (2009, p. 55) comentam esse artigo aduzindo que a propaganda
veiculada anteriormente ao período estabelecido em lei “revela-se intempestiva
e, por via de consequência inconstitucional, sujeitando o infrator às penalidades
estabelecidas no § 3º do Art. 36, desde que comprovada o seu prévio
conhecimento”. Os autores apontam uma exceção contida na própria lei (§1°
do Art. 36) que dispõe que “ao postulante a candidatura a cargo eletivo é
permitida a realização, na quinzena anterior à escolha pelo partido, de
propaganda intrapartidária com vista à indicação de seu nome, vedado o uso
de rádio, televisão e outdoor”. O que pretendeu o legislador com essa
mitigação da regra foi proporcionar ao candidato a possibilidade de divulgar
seu nome entre os membros dos partidos políticos a fim de ser escolhido na
convenção partidária de escolha dos candidatos realizada entre os dias 10 e 30
de junho do ano em que forem realizadas as eleições.
Quando ocorre o encerramento da propaganda? Segundo Candido
(2008, p. 156), “a lei não delimitou o fim do período de propaganda eleitoral, e
nem precisava fazê-lo. Naturalmente, com o fechar das urnas, na segunda fase
do processo eleitoral – a votação – encerra-se o período da propaganda lícita”.
Ressalta, ainda, que o Art. 240 do Código Eleitoral necessita de ser bem
interpretado, pois ele não proíbe, mas apenas restringe algumas formas de
propaganda no período compreendido entre 48 horas antes e 24 horas depois
das eleições, como está esquematizado na figura a seguir.

90
80
70
60
50 Les te
40
30 Oeste

20 Norte
10
0
1° 2° 3° 4°
Tri m Tri m T ri m T rim

ELEIÇÃO

24 H DEPOIS
Convenção 48 H ANTES
para escolha
candidatos

período de período de
propaganda restrita
propaganda
ampla

Figura - Períodos de propaganda


Fonte: Candido (2008, p. 156)

Outra vedação expressa de propaganda que merece menção é a


vedação que recai sobre os bens públicos, contida no Art. 37 da Lei 9.504/97
com redação dada pela Lei 11.300/06, vejamos
Art. 37. Nos bens cujo uso dependa de cessão ou permissão do
Poder Público, ou que a ele pertençam, e nos de uso comum,
inclusive postes de iluminação pública e sinalização de tráfego,
viadutos, passarelas, pontes, paradas de ônibus e outros
equipamentos urbanos, é vedada a veiculação de propaganda de
qualquer natureza, inclusive pichação, inscrição a tinta, fixação de
placas, estandartes, faixas e assemelhados. (BRASIL, 2006).

Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 57) comentam o artigo e trazem a


seguinte contribuição:
Como bem se observa o legislador, de forma correta, proibiu como
regra geral, a veiculação de propaganda eleitoral em bens públicos,
bem como naqueles dependentes de cessão ou permissão e,
também, nos de uso comum em respeito aos princípios
constitucionais que presidem a atividade administrativa, em particular,
os da impessoalidade, isonomia e moralidade. Com efeito, não faria
o menor sentido o Poder Público permitir a utilização de bens
pertencentes à coletividade para beneficiar os interesses de
determinado candidato ou específica agremiação partidária.

A Lei 11.300/06 trouxe maior rigor à disciplina da propaganda


política em nosso ordenamento jurídico, zelando pelos princípios que devem
pautar-se na administração pública.

6.5 Da classificação da propaganda política


As classificações em matéria de direito não são unívocas. Por essa
razão, traremos duas classificações de autores renomados para que você possa
adotar uma delas.
Como primeira classificação, traremos a que nos apresenta
Cerqueira (2007). Para ele, a propaganda política pode ser classificada quanto
à sua licitude, à sua regulamentação e à sua amplitude.

Quadro 4 - Classificação I da propaganda


Quanto à licitude a) Lícita: permitida nos termos da legislação e
resoluções do TSE.
b) Ilícita criminal: Arts. 323 a 335 e Art. 40 da Lei
9.504/97.
c) Ilícita cível: Art. 243 do CE e Arts. 24, VI e 37 da Lei
9.507.
a) Propaganda eleitoral permitida em Lei: propaganda
Quanto à gratuita no rádio e na TV.
regulamentação legal b) Propaganda eleitoral proibida por Lei: Ex.
propagandas em árvores e outras localidades públicas.
a) Lato sensu: engloba todas as espécies vistas nas
Quanto à amplitude classificações acima;
b) Strito sensu: subdivide-se em:
b.1) partidária;
b.2) intrapartidária; e
b.3) eleitoral propriamente dita (geral, rádio e TV gratuitos)
Fonte: Cerqueira (2007, p. 33-34)

Outra classificação que apresentamos é a de Candido (2008), que


também resumimos no quadro 5.
Quadro 5 - Classificação II da propaganda
Tem por pressuposto o princípio da liberdade da propaganda política. Será
lícita toda propaganda que não for proibida por lei (civil ou criminal).
Meios:
a) Divulgação escrita ou falada, de modo direto: Código Eleitoral, Art.
244, I e II – Restrições: Art. 39, § 5°, I, da Lei 9.504/97 com as modificações
da Lei 11.300/06; Art. 244, parágrafo único do CE
b) Divulgação pela imprensa
• Rádio e televisão
• Jornal e revistas
Restrições: princípio igualitário da propaganda
c) Divulgação por meios tradicionais: comícios, passeatas, carreatas,
reuniões, confraternizações e participações em solenidades partidárias e
sociais, distribuição de santinhos, folhetos, plataformas eleitorais etc.
Propaganda Restrições: Lei 9.504/97 Art. 39, § 5°, III
lícita d) Divulgação em lugares cedidos ou autorizados
• Em locais públicos: colocação de faixas, cartazes, bandeiras,
estandartes e outras formas de chamamentos, colocados em quadros e/ou
painéis, previamente indicados por autoridades administrativas, sob o
controle da Justiça eleitoral e com participação do Ministério Público (CE Art.
256)
• Em prédios particulares: é livre a propaganda lícita.
Restrição: legislação comum e código de posturas.
Segundo o autor há:
• garantia da propaganda eleitoral lícita (Art. 240, Caput, 245 e 256 do
CE);
• estímulo à propaganda eleitoral lícita (Arts. 248, 331 e 332 do CE)

Na propaganda irregular, não há proibição ou vedação, características da


propaganda criminosa, mas uma restrição ao princípio da liberdade da
propaganda política, em qualquer de suas modalidades. Ambas, propaganda
irregular e criminosa, ensejam sanções eleitorais stricto sensu. A
propaganda criminosa acarreta ao infrator, além das civis, as sanções
penais, o que distingue uma da outra.
São consideradas propagandas irregulares
as extemporâneas (Art. 36, caput da Lei 9.504/97);
Propaganda as realizadas a menos de 500 metros dos prédios dos Poderes Executivo,
Irregular Legislativo, Judiciário e dos hospitais, escolas, bibliotecas públicas, igrejas e
teatros quando em funcionamento e ainda outros.
Consequências
• Cassação do registro do candidato (Art. 334 do CE).
• Ineficácia contratual de candidatos e partidos com empresas que
possam burlar ou tornar inexequíveis quaisquer dispositivos do CE ou
instruções do TSE;
• Cassação do direito de transmissão da propaganda partidária gratuita
pelo rádio e pela televisão (Art. 45, § 2° Lei 9096/95;
• Anulabilidade da votação (Art. 222 do CE).
• Solidariedade dos partidos na responsabilidade imputada aos
candidatos (Art. 241 e 243, § 1° do CE).
• Inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos três anos
subsequentes à eleição em que se verificou o ato, além da cassação do
registro do candidato (LC 64/90, Art. 22, XIV).
Vimos a distinção entre a propaganda irregular e a criminosa no item
anterior. Aqui apresentaremos apenas os tipos penais relativos a esta
espécie.
Código Eleitoral:
Art. 323 - divulgação de fatos inverídicos;
Art. 324 - calúnia, 325 - difamação e 326 - injúria;
Propaganda Art. 331 - inutilizar, alterar, ou perturbar meio de propaganda;
criminosa Art. 332 - impedimento da propaganda eleitoral legítima;
Art. 334 - utilizar atividade comercial para fins de propaganda;
Art. 335 - fazer propaganda em língua estrangeira e
Art. 337 - propaganda que utiliza a participação de estrangeiros desprovidos
de direitos políticos.

Lei 9.504/97
Art. 39, §5º, I e II - uso de alto-falantes e amplificadores de som, promoção
de comício ou carreata e distribuição de material de propaganda;
Art. 40 - utilização na propaganda de símbolos, frases ou imagens,
associadas ou semelhantes às empregadas por órgão governamental ou
entidade da Administração Indireta.

Fonte: Candido (2008, p. 157-164)

Apresentada a classificação das espécies de propagandas políticas,


apontamos a você as principais modificações advindas da Lei 11.300/06, que,
como leciona Michels (2006, p. 91), se deram quanto às vedações de algumas
espécies de propaganda e, no acréscimo do § 8° no Art. 39 da Lei 9.504/97,
que tem a seguinte redação: “É vedada a propaganda eleitoral mediante
outdoors, sujeitando-se a empresa responsável, os partidos, coligações e
candidatos à imediata retirada da propaganda irregular e ao pagamento de
multa no valor de 5.000 (cinco mil) a 15.000 (quinze mil) UFIRs”. A autora
aponta ainda outra modificação que é a do § 7°, pois sua finalidade é
justamente evitar que o candidato de maior poderio econômico possa usufruir
dessa condição e oferecer showsmícios. É o que se depreende de sua leitura:
“É proibida a realização de showmício e de evento assemelhado para
promoção de candidatos, bem como a apresentação, remunerada ou não, de
artistas com a finalidade de animar comício e reunião eleitoral”.

6.5 Da arrecadação de recursos e da prestação de contas


Como lecionam Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 83), a arrecadação
de recursos está regrada nos Arts. 17 a 27 da Lei 9.504/97, com as
modificações advindas da Lei 11.300/06. Segundo eles, essa matéria tem por
objetivo “estabelecer limites e transparência durante as eleições, de forma a
proteger o pleito contra a influência do poder econômico ou o abuso no
exercício de função, cargo ou emprego na Administração direta e indireta”.
É certo que, com a nova lei, as exigências tornaram-se mais rígidas,
mas, ao mesmo tempo, mais fácil de controlar os gastos, razão pela qual a
legislação eleitoral exige que os partidos e coligações comuniquem à Justiça
Eleitoral o limite por candidatura, o que deverá ser providenciado juntamente
com o seu registro, sujeitando o responsável pelos excessos praticados,
conforme disposição do Art. 18 da Lei 9.504/97. No mesmo sentido, as
despesas realizadas durante a campanha eleitoral são de responsabilidade dos
partidos, sejam eles isolados ou sob coligação, ou de seus candidatos, nos
moldes do Art. 17, também da Lei 9.504/97.
Outros aspectos que merecem realce quanto à arrecadação e
prestação de contas, citamos o Art. 17-A, da Lei 9.504/97, que determina que a
cada eleição caberá à lei, observadas as peculiaridades locais, fixar até o dia
10 de junho de cada ano eleitoral o limite dos gastos de campanha para os
cargos em disputa.
O § 3o do Art. 22 da Lei 9.504/97, com a redação da Lei 11.300/06,
prevê que o uso dos recursos financeiros destinados a pagamentos dos gastos
eleitorais que não sejam provenientes de conta específica, conforme
determinação do Art. 22 caput, implicará a desaprovação da prestação de
contas do partido ou candidato.
Caso esteja comprovado abuso do poder econômico, o candidato
terá cancelado o registro da sua candidatura, ou caso já ter sido diplomado,
será cassado. E o § 4o prevê que, caso haja rejeição das contas, a Justiça
Eleitoral remeterá cópia de todo o processo ao Ministério Público Eleitoral.
A prestação de contas está disciplinada nos Arts. 28 a 32 da Lei
9.504/97. Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 86), expõem que “o Art. 28 da Lei n.
9.504/97 estabelece uma clara distinção na prestação de contas dos
candidatos a cargos majoritários e daqueles que concorrem às eleições
proporcionais.” Explicam que
[...] enquanto para os candidatos às eleições proporcionais abriu-se a
possibilidade de a prestação de contas ser realizada pelo comitê
financeiro, ou pelo próprio candidato, para as majoritárias deverá ser
apresentada, tão somente, pelo comitê financeiro, devendo ser
instruída com as exigências fixadas no § 1º, que a seguir se reproduz:
Art. 28 [...] § 1º § 1º As prestações de contas dos candidatos às
eleições majoritárias serão feitas por intermédio do comitê financeiro,
devendo ser acompanhadas dos extratos das contas bancárias
referentes à movimentação dos recursos financeiros usados na
campanha e da relação dos cheques recebidos, com a indicação dos
respectivos números, valores e emitentes.

Independentemente da modalidade escolhida, frisam Spitzcovsky e


Moraes (2009, p. 86) que “a prestação de contas deverá ser encaminhada à
Justiça Eleitoral até o trigésimo dia posterior à realização das eleições e,
havendo segundo turno, no mesmo prazo”. Outra inovação da Lei 11.300/2006
foi a inclusão do § 4° do Art. 28 da Lei 9.504/97, que estipulou a
obrigatoriedade de divulgação, pela internet, nos dias 6 de agosto e 6 de
setembro, de relatórios discriminando o uso de recursos financeiros pelos
partidos, coligações e candidatos.
Portanto estudamos a propaganda política como gênero e suas
espécies e também a arrecadação de recursos e a prestação de contas. Ambos
os assuntos receberam modificações recentes com a edição da Lei 11.300/06,
que mudou a Lei das Eleições.
Você estudou a propaganda eleitoral, o seu conceito, os seus
princípios norteadores e sua classificação em lícita, irregular e criminosa,
tratando especificamente da distinção entre a propaganda irregular e a
criminosa. Nesta última, o indivíduo também sofrerá a sanção penal.
Estudamos ainda o quanto a lei das eleições foi modificada em relação à
propaganda eleitoral, a arrecadação de recursos e a prestação de contas, que
foram os últimos tópicos estudados.
No próximo capítulo, você estudará o direito processual eleitoral, os
crimes eleitorais e os recursos eleitorais. Como os seis capítulos anteriores
trataram do Direito Eleitoral em seu aspecto material, estudaremos um pouco
do Direito Processual e do Direito Penal Eleitoral.

Atividades
1. As prestações de contas dos candidatos às eleições proporcionais serão
feitas
a) pelo comitê financeiro ou pelo próprio candidato.
b) pelo partido, pelo comitê financeiro e/ou pelo próprio candidato, à
escolha deste.
c) somente pelo partido.
d) somente pelo próprio candidato.

2. A propaganda eleitoral só será permitida a partir do dia


a) 4 de julho em diante do ano respectivo das eleições.
b) 6 de julho em diante do ano respectivo das eleições.
c) 5 de julho em diante do ano respectivo das eleições.
d) 10 de julho em diante do ano respectivo das eleições.

3. A utilização, na propaganda eleitoral, de símbolos, frases ou imagens,


associadas ou semelhantes às empregadas por órgão de governo, empresa
pública ou sociedade de economia mista constitui, de acordo com a Lei das
Eleições,
a) contravenção penal.
b) infração administrativa.
c) crime.
d) ilícito civil.

4. A que se pode atribuir o rigor quanto à apresentação escorreita da


prestação de contas eleitoral?

Comentário das atividades


Na atividade 1, você assinalou a letra (a), pois a Lei das Eleições
estabelece como deve se dar a prestação de contas (Art. 28). Só para você
recordar: Art. 28. A prestação de contas será feita: I - no caso dos candidatos
às eleições majoritárias, na forma disciplinada pela Justiça Eleitoral; e II - no
caso dos candidatos às eleições proporcionais, de acordo com os modelos
constantes do Anexo desta Lei; § 1° As prestações de contas dos candidatos
às eleições majoritárias serão feitas por intermédio do comitê financeiro,
devendo ser acompanhadas dos extratos das contas bancárias referentes à
movimentação dos recursos financeiros usados na campanha e da relação dos
cheques recebidos, com a indicação dos respectivos números, valores e
emitentes. Ou seja, a lei só impõe restrição para o sistema majoritário – que
deverá ser prestada por intermédio do comitê financeiro – já para o
proporcional, tanto poderá ser pelo candidato como pelo comitê. O que torna as
demais alternativas incorretas, pois são contrárias ao disposto na lei.
Na atividade 2, você marcou a letra (b). Pois o Art. 36 da Lei das
Eleições, que determina que a propaganda, só será permitida após o dia 5 de
julho do ano em que ocorrerão as eleições. O dia imediato após o dia 5 de julho
será o dia 6 de julho, considerando-se que a propaganda que observar essa
data será considerada lícita, do contrário será considerada extemporânea e,
por sua vez, irregular, o que pode trazer consequências graves ao candidato,
ao partido e ao meio de comunicação responsável por sua veiculação. As
alternativas (a), (c) e (d) estão incorretas por listarem datas diversas da
previsão legal.
Na atividade 3, você apontou a letra (c), pois será considerado crime por
determinação expressa no Art. 40 da Lei 9.504/97, que tem a seguinte redação: o
uso, na propaganda eleitoral, de símbolos, frases ou imagens, associadas ou
semelhantes às empregadas por órgão de governo, empresa pública ou sociedade
de economia mista constitui crime, punível com detenção, de seis meses a um ano,
com a alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo período, e
multa no valor de 10 mil a 20 mil UFIR. O que torna incorreta a alternativa (a), por
mencionar que se trata de contravenção penal, a alternativa (b), por considerar que
se trata de infração administrativa, e a alternativa (d), que considerou ser um ilícito
civil.
Na atividade 4, você pesquisou sobre as formas de prestação de contas e
os seus respectivos prazos, realçou que a preocupação do legislador é evitar o
financiamento de candidatos com recursos ilícitos e/ou advindos do erário público.
Veja a Lei das Eleições (Lei 9.504/97), com as alterações da Lei 11.300/2006.

Referências
BRASIL. Lei 9.504, de 30 de setembro de 1997. Estabelece normas para as
eleições. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9504.htm>.
Acesso em: 12 nov. 2009.
______. Lei 11. 300, de 10 de maio de 2006. Dispõe sobre propaganda,
financiamento e prestação de contas das despesas com campanhas eleitorais,
alterando a Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11300.htm>.
Acesso em: 12 nov. 2009.
CÂNDIDO, Joel José. Direito Eleitoral Brasileiro. 13. ed. Bauru: Edipro, 2008.
CERQUEIRA, Thales Tácito Pontes Luz de Pádua. Preleções de Direito
Eleitoral. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2007.
MICHELS, Vera Maria Nunes. Direito Eleitoral. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2006.
RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 3. ed. Niterói: Impetus, 2009.
SPITZCOVSKY, Celso; MORAES, Fábio Nilson Soares de. Direito Eleitoral.
São Paulo: Saraiva, 2009. v. 27.
Capítulo 7 – Do processo, dos crimes e dos recursos eleitorais

Introdução
Este capítulo encerra a nossa disciplina. Discutiremos a questão
processual (ações e recursos) e penal no âmbito do Direito Eleitoral. Na questão
processual, compreenderemos quais são as espécies de ações específicas do
Direito Eleitoral e qual o momento adequado para a sua propositura. Em matéria
de recursos apresentaremos a você qual é o recurso adequado em cada caso e
demonstraremos como os prazos são distintos (mais exíguos) do que no processo
civil comum. Em matéria de Direito Penal Eleitoral, conheceremos quais as
espécies de crimes são tipificados nesse ramo do Direito.
Este é o tema que mais vai exigir conhecimentos prévios.
Estudamos nos capítulos anteriores os aspectos relativos ao Direito Eleitoral
em seu aspecto material, com exceção do Direito Penal Eleitoral, que aqui lhe
apresentaremos. Para tanto, sugerimos que você dê uma olhada nos crimes
eleitorais previstos no Código Eleitoral e na Lei 9.504/97. A mesma sugestão
vale para a matéria das ações e dos recursos. Você poderá acessá-los no sítio
<www.planalto.gov.br>.

7.1 Considerações iniciais sobre os crimes eleitorais


Como lecionam Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 126), os crimes
eleitorais estão disciplinados nos Arts. 289 e 354 do Código Eleitoral, no Capítulo
II do Título IV, denominado “Das Disposições penais”. Já no Capítulo I, nas
disposições preliminares (Arts. 283 a 288), trata de conceitos aplicáveis aos tipos
penais, como o conceito de funcionário público e de regras específicas como a
questão da quantificação de pena e, por último (Art. 288), a fixação da
competência do Código Eleitoral nos crimes eleitorais cometidos por meio da
imprensa, do rádio ou da televisão.
Spitzcovsky e Moraes (2009) comentam que, não obstante, a
terminologia utilizada no Código Eleitoral – funcionário público -, esta deve ser
interpretada nos moldes da Constituição Federal – agentes públicos -, vez que o
legislador especificou de forma detalhada nos parágrafos do Art. 283, quem são
os assim considerados.
7.2 Da classificação dos crimes eleitorais
Classificar não é uma tarefa fácil. Em relação aos crimes eleitorais,
várias são as classificações encontradas na doutrina. Elegemos duas: a de Joel
Cândido (2008) e a de Sptizcovsky e Moraes (2009), por considerá-las as mais
didáticas de todas. Vamos conhecê-las.

Quadro 1 - Classificação dos crimes eleitorais


Número
CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES ELEITORAIS de Tipos
Penais
1. Crimes contra a organização administrativa da Justiça Eleitoral – 6
CE, Arts. 305, 306, 310, 311, 318, 340.
2. Crimes contra os serviços da Justiça Eleitoral –
CE, Arts. 289; 290; 291; 292; 293; 296; 303; 304; 341; 342; 343; 344; 345; 346;
347. 21
Lei n. 6.091/1974 – Art. 11, I, II, III, IV, V.
Lei Eleitoral – Art. 72, III
3. Crimes contra a fé pública eleitoral
CE – Arts. 313; 314; 315; 316; 348; 349; 350; 352; 353; 354.
Lei Eleitoral – Arts. 68, § 2°, 72, I; 72, II; 87 Caput e 87, § 2°. 15
4. Crimes contra a propaganda eleitoral 14
CE Arts. 323; 324, Caput; 324, § 1°; 325, 326, Caput; 337, parágrafo único.
Lei Eleitoral – Arts. 33, § 4°; 40
5. Crimes contra o sigilo ou o exercício do voto 18
CE, Arts. 295; 297; 298; 299; 300; 301; 302; 307; 308; 309; 312; 317; 339.
Lei 7.021/1982 – Art. 5°
Lei das Eleições – 39, § 5°, I; 39, § 5°, II; 39, § 5°, III; Art. 91, parágrafo único
6. Crimes contra os Partidos Políticos 07
CE, Arts. 319; 320; 321; 338.
LC 64/90, Art. 25
Lei das Eleições – Art. 34, § 2°, Art. 34, § 3°
TOTAL DE CRIMES ELEITORAIS 81
Fonte: Candido (2008, p. 282-283)

Quadro 2 - Classificação dos crimes eleitorais


Crimes eleitorais concernentes à formação do corpo eleitoral
Crimes eleitorais relativos à formação e funcionamento dos partidos políticos
Crimes eleitorais em matéria de inelegibilidades
Crimes eleitorais concernentes à propaganda eleitoral
Crimes eleitorais relativos à votação
Crimes eleitorais pertinentes à garantia do resultado legítimo das eleições
Crimes eleitorais concernentes à organização e funcionamento dos serviços eleitorais
Crimes eleitorais contra a fé pública eleitoral
Fonte: Sptizcovsky e Moraes (2009)

A partir desses autores, conheceremos um pouco dos crimes de


cada categoria.

7.2.1 Crimes eleitorais concernentes à formação do corpo eleitoral


Suzana de Camargo Gomes citada por Spitzcovsky e Moraes (2009,
p. 127) considera que, nessa categoria de crimes, se incluem “todas as
condutas delitivas previstas na legislação eleitoral que atentem contra a lisura
do alistamento eleitoral, ou seja, que afetem a inscrição e ulterior inclusão dos
eleitores no registro próprio”.
A autora expõe
[...] são crimes que podem se revelar através de condutas
denotadoras de fraude e perturbação no alistamento eleitoral, ou
então, pode consistir em violência, instigação e coação levadas a
efeito com um fim de conspurcar o cadastro eleitoral. (GOMES citada
por SPITZCOVSKY; MORAES, 2009, p. 127)

Podem ser assim considerados os seguintes tipos penais: inscrição


fraudulenta do eleitor (Art. 289); induzimento à inscrição do eleitor em infração
às normas legais (Art. 290); inscrição fraudulenta efetivada pelo juiz (Art. 291);
negativa ou retardamento de inscrição eleitoral sem fundamento legal (Art.
292); perturbação ou impedimento do alistamento (Art. 293); retenção de título
eleitoral ou do comprovante de alistamento eleitoral (Art. 295) (SPITZCOVSKY;
MORAES, 2009).
7.2.2 Crimes eleitorais relativos à formação e ao funcionamento dos
partidos políticos
Para Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 127), o legislador buscou
“estabelecer os tipos penais com o objetivo claro de resguardar não só a
legitimidade de formação dos partidos políticos como também o correto
desenvolvimento das atribuições a eles conferidas pela Constituição”. Segundo
eles, “os partidos políticos surgem como importantes figuras voltadas à
concretização da chamada democracia representativa, a teor do disposto Art.
1º do parágrafo único, da Lei Maior”.
São considerados como tipos penais que se amoldam a essa
categoria os seguintes:
Subscrição de mais de uma ficha de filiação partidária (Art. 319);
inscrição simultânea em dois ou mais partidos (Art. 320); coleta de
assinatura em mais de uma ficha de registro de partido (Art. 321); não
concessão de prioridade postal (Art. 239); utilização de prédios ou
serviços de repartições públicas para beneficiar partido ou
organização de caráter político (Art. 346) (SPITZCOVSKY e
MORAES, 2009, p. 128).

7.2.3 Crimes eleitorais em matéria de inelegibilidades


Suzana de Camargo Gomes citada por Spitzcovsky e Moraes (2009,
p. 128) ressalta o seguinte tipo penal: “arguição de inelegibilidade temerária ou
de má-fé”, conforme disposição do Art. 25 da LC n. 64/90. Lecionam
Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 128) que, embora tenha andado bem, o
legislador ao criminalizar a conduta tipificada, o problema em relação a esse
crime está na dificuldade de sua caracterização, já que “somente indícios não
se revelam suficientes para o atingimento desse contexto”.

7.2.4 Crimes eleitorais concernentes à propaganda eleitoral


Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 128) aduzem que “o objetivo do
legislador ao prescrever essa modalidade de crime foi impedir a realização de
propaganda eleitoral que possa comprometer o equilíbrio das eleições”. Essa é,
aliás, uma das matérias mais tratadas na Lei das Eleições - Lei n. 9.504/97.
Essa modalidade está disciplinada nos Arts. 36 a 57 da Lei das
Eleições e classifica-se propaganda eleitoral, em geral, propaganda mediante
outdoors, propaganda na imprensa e no rádio e televisão. Alguns atos foram
descriminalizados pela Lei n. 9.504/97 passaram a ser considerados apenas
como infração administrativa. Entre eles, destacam-se as condutas dos Arts.
322, 328, 329 e 333. A esse respeito veja o Art. 107 da Lei n. 9.504/97
(SPITZCOVSKY; MORAES, 2009).
De outro lado, outras condutas continuaram a ser criminalizadas no
Código Eleitoral, como
[...] divulgação de fatos inverídicos na propaganda eleitoral (Art. 323);
calúnia na propaganda eleitoral (Art. 324); difamação na propaganda
eleitoral (Art. 325); injúria na propaganda eleitoral (Art. 326); causas
de aumento de pena para os crimes de calúnia, difamação e injúria
(Art. 327); inutilização, alteração ou perturbação de propaganda (Art.
331); impedimento do exercício da propaganda (Art. 332); realização
de propaganda eleitoral no dia da eleição (Art. 39, § 5º, I e II, da lei n.
9.504/97); utilização de organização comercial para propaganda ou
aliciamento de eleitores (Art. 334); realização de propaganda eleitoral
em língua estrangeira (Art. 335); participação de pessoa não
detentora de direitos políticos em atividades partidárias e de
propaganda eleitoral (Art. 337); responsabilidade penal dos diretórios
locais de partidos políticos pela propaganda delituosa (Art. 336);
pesquisa fraudulenta (Art. 33, §, 4º, da Lei n. 9.504/97); não acesso
dos partidos aos dados relativos às pesquisas eleitorais (Art. 34, § 2º,
da Lei n. 9.504/97); e irregularidades nos dados publicados em
pesquisas eleitorais (Art. 34, § 3º c/c o Art. 35 da Lei n. 9.504/97)
(SPITZCOVSKY; MORAES, 2009, p. 128) (grifos dos autores).
Como se vê, essa modalidade é uma das que mais têm tipos penais,
totalizando 15 tipos penais. Chamamos a sua atenção para o fato de que, na
classificação de Candido, (2008) no item anterior, essa categoria teria apenas
14 tipos penais, visto que ele não incluiu, em sua classificação, a conduta
descrita no Art. 327 do Código Eleitoral.

7.2.5 Crimes eleitorais relativos à votação


Para Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 129), a intenção do legislador
ao criar os tipos penais foi de “preservar a possibilidade de o povo exercer o
poder de escolha dos seus representantes de forma livre, sem qualquer tipo de
pressão”. São tipificadas nessa modalidade as seguintes condutas:
[...] impedimento ou embaraço ao exercício do sufrágio (Art. 297);
prisão ou detenção do eleitor, membro de mesa receptora, fiscal,
delegado de partido ou candidato, fora das hipóteses legais
permitidas (Art. 298); corrupção eleitoral (Art. 299); coação visando à
obtenção de voto ou sua abstenção (Art. 300); violência ou grave
ameaça visando à obtenção de voto ou sua abstenção (Art. 301);
concentração de eleitores para embaraçar ou fraudar o exercício do
voto (Art. 302); majoração de preços de utilidade e serviços
necessários à realização das eleições (Art. 303); ocultação,
sonegação ou recusa de fornecimento de utilidades, alimentos e
transporte no dia da eleição (Art. 304); intervenção indevida de
autoridade junto à mesa receptora (Art. 305); não observância da
ordem de chamamento dos eleitores para votar (Art. 306);
fornecimento ao eleitor de cédula oficial já assinalada ou marcada
(Art. 307); fornecimento de cédula oficial rubricada a destempo (Art.
308); votação múltipla ou realizada em lugar de outrem (Art. 309);
práticas irregulares que determinam a anulação da votação (Art. 310);
votação de eleitor em seção eleitoral na qual não está inscrito ou
autorizado a votar (Art. 311); violação do sigilo do voto (Art. 312);
omissão no recebimento e registro de protestos, bem como sua
remessa à instância superior (Art. 316) (SPITZCOVSKY; MORAES,
2009, p. 129).

Ou seja, buscou-se ao máximo a garantia do exercício do direito ao


voto de forma plena, visto que é um dos instrumentos mais paritários que se
pode apontar em um Estado Democrático de Direito.

7.2.6 Crimes eleitorais pertinentes à garantia do resultado legítimo das


eleições
A tipificação das condutas enquadradas nesta modalidade justificam-
se, de acordo com Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 129),
[...] na medida em que de nada adiantaria uma campanha eleitoral
isenta de irregularidades, um pleito realizado sem qualquer mácula,
se no momento da apuração dos resultados não tivéssemos nenhum
tipo de regulamentação, abrindo ensejo a prática de irregularidades
que pudessem comprometer o resultado final das urnas.

Segundo os autores, foram tipificadas as condutas de


[...] omissão na expedição do boletim de apuração (Art. 313); omissão
de entrega do boletim de urna (Art. 68 da Lei n. 9.504/97); omissão
do recolhimento das cédulas apuradas, no fechamento e lacração da
urna (Art. 314); crimes atingido o sistema de tratamento automático
de dados (Art. 72 da Lei n. 9.504/97); violação do sigilo da urna ou
dos invólucros (Art. 317); contagem de votos dos eleitores em relação
aos quais houve impugnação (Art. 318); recebimento e registro de
protestos, bem como de sua remessa à instância superior (Art. 316)
(SPITZCOVSKY; MORAES, 2009, p. 129).

Essas tipificações buscam meios de garantir um resultado legítimo


na totalização das urnas.

7.2.7 Crimes eleitorais concernentes à organização e ao funcionamento dos


serviços eleitorais
Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 129) asseguram que a
criminalização dessas condutas busca “atingir todas aquelas irregularidades
que venham a comprometer as atividades desenvolvidas pelos órgãos da
Justiça Eleitoral”. Essas condutas são assim descritas
[...] promoção de desordem nos trabalhos eleitorais (Art. 296);
destruição ou ocultação de urna contendo votos ou documentos
eleitorais (Art. 339); fabricação, aquisição, fornecimento, subtração ou
guarda de materiais de uso exclusivo da Justiça Eleitoral (Art. 340);
retardamento ou não publicação de decisões, citações ou intimações
da Justiça Eleitoral (Art. 341); não apresentação de denúncia ou não
execução de sentença penal ordenatória no prazo legal (Art. 342);
não cumprimento, pela autoridade judiciária, do dever de representar
contra órgão do Ministério Público que não oferece denúncia no prazo
legal (Art. 343); recusa ou abandono do serviço eleitoral (Art. 344);
não cumprimento dos deveres impostos pelo Código Eleitoral à
autoridade judiciária e aos funcionários da Justiça Eleitoral (Art. 345);
desobediência a ordens ou instruções da justiça Eleitoral (Art. 347)
(SPITZCOVSKY; MORAES, 2009, p. 129).

A última modalidade a ser estudada na categoria de crimes eleitorais


são os crimes contra a fé pública eleitoral. É o que apresentaremos na próxima
seção.
7.2.8 Crimes eleitorais contra a fé pública eleitoral
Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 130) esclarecem que
[...] os crimes relacionados aos documentos veiculados durante o
processo eleitoral ganham enorme importância em razão da
presunção de legitimidade de que gozam, por força da regra
estabelecida no Art. 19, II, da Constituição Federal, que veda às
quatro pessoas integrantes da Federação negar fé a eles. Em outras
palavras, a previsão dessas modalidades criminosas tem por objetivo
evitar a manipulação de documentos públicos, de forma a
comprometer o resultado final das eleições.

São condutas que se enquadram nessa modalidade: falsificação de


documento público para afins eleitorais (Art. 348); falsificação de documento
particular para fins eleitorais (Art. 349); falsificação ideológica (Art. 350);
alteração do resultado da votação nos mapas ou boletins de apuração (Art.
315); reconhecimento indevido de firma ou letra para fins eleitorais (Art. 352);
uso de documento falso para fins eleitorais (Art. 353); obtenção de documento
falso para fins eleitorais (Art. 354) (SPITZCOVSKY; MORAES, 2009, p. 130).
Apresentamos, mesmo que forma breve, os crimes eleitorais
encerrando a parte material do Direito Eleitoral. Iniciamos a partir daí o estudo
do Direito Processual Eleitoral.

7.3 Direito Processual Eleitoral


Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 103) mencionam que,
[...] embora o legislador eleitoral tenha preconizado procedimentos
diferenciados para cada um dos instrumentos ali previstos, sobreleva
notar a necessidade não só de aplicação de dispositivos
estabelecidos na Constituição Federal, em particular o que prevê a
necessidade de contraditório e ampla defesa (Art. 5º, LV), como
também de aplicação subsidiária das regras do Código de Processo
Civil. Feitas essas observações de caráter preliminar, passaremos
agora a comentar cada um dos instrumentos estabelecidos pelo
legislador eleitoral, a começar pelas representações e reclamações.

O processo eleitoral é cheio de nuances próprias desse ramo de


direito, ou seja, ações e recursos específicos que passamos a apresentar.

7.3.1 Das reclamações e das representações por descumprimento da Lei das


Eleições
De acordo com Alexandre Issa Kamura (2006, p. 172), “o
descumprimento das prescrições contidas na Lei das Eleições deflagra a
possibilidade de ajuizamento de reclamação ou representação perante a Justiça
Eleitoral”. Para maior esclarecimento acerca dessas ações, o autor faz menção ao
Art. 96 da Lei 9.504/97
Art. 96. Salvo disposições específicas em contrário desta Lei, as
reclamações ou representações relativas ao seu descumprimento
podem ser feitas por qualquer partido político, coligação ou candidato,
e devem dirigir-se: I - aos Juízes Eleitorais, nas eleições municipais; II
- aos Tribunais Regionais Eleitorais, nas eleições federais, estaduais
e distritais; III - ao Tribunal Superior Eleitoral, na eleição presidencial.

A exceção à regra, nesse caso, é a hipótese do Art. 41-A, da mesma


Lei, cujo procedimento a ser adotado é o Art. 22 da Lei das Inelegibilidades. Os
legitimados para a sua propositura são os arrolados no quadro 3.
Quadro 3 - Dos legitimados para a propositura das reclamações e representações por
descumprimento da Lei das Eleições
Legitimados ativos Legitimados passivos
• Candidato • Reclamado ou Notificado
• Partido político (desde que não
• Municipalidade
integre coligação
• Coligação criada a partir das
agremiações partidárias em suas respectivas
convenções
• Ministério Público Eleitoral
Fonte: Kamura (2006, p. 174)

O procedimento deverá observar o disposto no Art. 96, §§ 1° a 10, da


Lei das Eleições, que recomendamos que você leia.

7.3.2 Ação de impugnação de Mandato Eletivo


Para Kamura (2006, p. 178), essa é uma ação de cunho eleitoral,
prevista nos §§ 10 e 11 do Art. 14 da CF/88, “cujo objeto é desconstituir o
mandato eletivo em função da prática de abuso de poder econômico, corrupção
ou fraude”. Fazemos no quadro 4 um resumo com suas principais características.
Quadro 4 - Principais características da ação de impugnação de mandato eletivo
Prazo 15 dias a contar da diplomação. Trata-se de prazo decadencial.
Legitimidade Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral.
Competência A Justiça Eleitoral (por seus órgãos, conforme se trate de mandato eletivo
municipal, estadual ou federal).
Provas A petição deverá conter os elementos de convicção que permita revelar, de
imediato, que a pretensão deduzida está apoiada em situação fática que será
apurada no curso do procedimento.
Procedimento Previsto na LC 64/90, para o registro de candidaturas e tramitará em segredo
de justiça, respondendo ao autor, na forma da lei, se temerária ou de má-fé. O
seu julgamento será, porém, público.
Fonte: Kamura (2006, p. 178-182)
7.3.3 Ação rescisória eleitoral
Kamura (2006, p. 186) leciona que a ação rescisória eleitoral
“circunscreve-se às questões de inelegibilidade”. Veja, no quadro 5, as suas
principais características.
Quadro 5 - Principais características da ação rescisória eleitoral
Competência Art., 22, I, “j” do CE “Compete ao TSE: j) a ação rescisória, nos casos de
inelegibilidade, desde que intentada dentro de cento e vinte dias de
decisão irrecorrível, possibilitando-se o exercício do mandato eletivo até
o seu trânsito em julgado”.
Legitimidade Partidos políticos, candidatos, coligações e o Ministério Público.
Procedimento Por inexistência de lei específica, segue o procedimento do CPC.
Fonte: Kamura (2006, p. 186-187)

7.3.4 Investigação judicial eleitoral por abuso de poder econômico e/ou


político
Essa ação, de acordo com Kamura (2006, p. 166), objetiva
“preservar o equilíbrio entre os candidatos a cargo eletivo contra eventual
violação por abuso de poder econômico e/ou político”. O Art. 22 da Lei das
Inelegibilidades (LC 64/90) assim dispõe
Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério
Público Eleitoral poderá representar a Justiça Eleitoral, diretamente
ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas,
indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para
apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do
poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de
comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político
[...]

O próprio artigo já nos traz informações sobre legitimidade e


procedimento. Quanto a essa ação, resta-nos ressaltar os seus efeitos, o que
demonstramos no quadro 6.
Quadro 6 - Principais efeitos da investigação judicial eleitoral por abuso de poder econômico
e/ou político
DECISÃO PROFERIDA EFEITOS
ANTES DA ELEIÇÃO Declaração de inelegibilidade por três anos e
cassação do registro
APÓS A ELEIÇÃO Declaração de inelegibilidade por três anos e
remessa de cópia dos autos ao MPE, para os
fins previstos no Art. 14, §§ 10 e 11 da CF/88
e 262, IV do CE
Fonte: Kamura (2006, p. 172)

7.3.5 Ação de impugnação ao pedido de registro de candidatura


Essa ação, para Kamura (2006, p. 161), visa a “indeferir pedido de
registro de candidato pela ausência de condições de elegibilidade ou pela
incidência de causa de inelegibilidade”. Veja suas principais características no
quadro 7.

Quadro 7 - Principais características da ação de impugnação ao pedido de registro de


candidatura

Fundamento legal Arts. 3º e 17 da LC 64/90


Prazo Cinco dias contados da publicação do edital (prazos peremptórios e
contínuos e correm em secretaria ou cartório e não se suspendem aos
sábados, domingos e feriados.
Legitimidade ativa Qualquer candidato, partido político, coligação, ministério público
Fonte: Kamura (2006, p. 161-162)

7.3.6 Direito de resposta


Para Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 105), essa ação “tem por
objetivo combater inverdades ou incorreções praticadas no momento da
manifestação do pensamento”, devendo a resposta “ser proporcional ao agravo
cometido”, o que gera algumas obrigações. Veja como os autores resumem
essas obrigações no quadro 8.

Quadro 8 - Direito de resposta


Cabe aos donos dos veículos de comunicação a obrigação de oferecer ao
ofendido o mesmo espaço concedido ao ofensor. Se o pensamento foi
IGUAL exteriorizado pela imprensa escrita, a resposta deverá ser oferecida com o
ESPAÇO mesmo número de toques, na linguagem jornalística. Na hipótese de o
pensamento ter sido exteriorizado no rádio ou na televisão, a resposta deverá
ser oferecida com a mesma duração de tempo concedido ao ofensor.
IGUAL Por essa característica, o ofendido teria direito a produzir sua resposta na
DESTAQUE mesma página (no caso da imprensa escrita) ou mesmo horário, ou, ainda, no
mesmo programa (no caso de rádio e televisão).
DE FORMA Essa característica impede que, a título de utilização do direito de resposta, o
NEUTRA ofendido cometa abusos. Em outras palavras, o agravado deve ater-se única e
exclusivamente à resposta à ofensa sofrida.
Fonte: Spitzcovsky e Moraes (2009, p. 105)

Apresentadas as principais ações eleitorais, passemos à análise dos


recursos específicos.

7.4 Recursos eleitorais


Conforme Kamura (2006, p. 189), “os recursos em matéria eleitoral
são cabíveis perante as juntas e os juízos eleitorais, perante os tribunais
regionais e perante o Tribunal Superior Eleitoral”. A primeira regra geral que o
autor aponta é que, de acordo com o Art. 121, § 3° da CF/88, as decisões do
TSE são irrecorríveis. Essa regra comporta mitigação quanto às decisões que
contrariarem a Constituição e as denegatórias de habeas corpus ou mandado
de segurança.
Kamura (2006, p. 169) faz a distinção ainda entre impugnação e
recurso. Segundo ele, “impugnação é oposição ou contradição, oral ou escrita,
podendo ser manifestada antes ou depois da decisão ou da prática do ato”.
Exemplifica, com uma correção na contagem de votos, um erro na identificação
do eleitor. É uma medida preparatória para uma ação posterior da qual a
impugnação funciona como um pré-requisito. Já o recurso, segundo ele, “é
manifestação de inconformismo da parte sucumbente no pleito judicial e, por
meio dele, almeja o reexame da matéria” (KAMURA, 2006, p. 196).
Via de regra, os recursos não têm efeito suspensivo (para garantia
da celeridade exigida no processo eleitoral), como também essa regra
comporta algumas exceções.
Kamura (2006) traça uma classificação didática dos recursos que
poderão ser interpostos em cada esfera da Justiça Eleitoral, que aqui trazemos
de forma resumida no quadro 9.
Quadro 9 - Recursos eleitorais
Recursos interpostos contra decisões dos juízes a) Recurso inominado
eleitorais
Recursos interpostos contra decisões das juntas a) Recurso parcial
eleitorais b) Recurso inominado
c) Recurso contra diplomação
Recursos interpostos contra decisões dos a) Recurso parcial
tribunais regionais eleitorais b) Recurso inominado
c) Recurso contra a diplomação
d) Recurso especial
e) Recurso ordinário
f) Agravo
Recursos interpostos contra decisões do Tribunal a) Recurso inominado
Superior Eleitoral b) Recurso extraordinário
c) Recurso ordinário
d) Agravo
Fonte: Kamura (2006, p. 196-205)

Saiba mais
Estudamos os crimes, as ações e os recursos eleitorais. Muito
assunto para pouco espaço, o que demanda que você pesquise muito além do
que foi indicado. Sugerimos que você pesquise no sítio do TSE, no link
<http://www.tse.gov.br/servicos_online/catalogo_publicacoes/indexr.htm>, a
obra Reforma eleitoral: delitos eleitorais, prestação de contas, partidos e
candidatos, que em muito contribuirá no sentido de conhecer as deficiências de
nosso sistema eleitoral e saber o que é preciso mudar.

Atividades
1. Tem legitimidade ativa para a impugnação do pedido de registro da
candidatura
a) a coligação.
b) o eleitor.
c) entidades de classe de âmbito nacional.
d) o Procurador Geral de Justiça.

2. A contar do pedido do registro de candidatura, a impugnação deverá ser


ajuizada no prazo de
a) sete dias.
b) seis dias.
c) cinco dias.
d) quatro dias.

3. O Art. 121, § 3° da Constituição determina que as decisões do TSE serão


irrecorríveis, salvo se contrariarem
a) Lei Complementar e decisão denegatória de habeas corpus.
b) Constituição e decisão denegatória de mandado de segurança e de
habeas corpus.
c) Constituição e as Resoluções do TSE.
d) Constituição e a Lei de Eleições.

4. Via de regra, os recursos eleitorais não têm efeitos suspensivo.


a) Essa regra têm exceção?
b) Em caso positivo, quais os recursos que têm esse efeito?

Comentário das atividades


Na atividade 1, você acertou se respondeu a letra (a), que traz como
alternativa a coligação. As demais alternativas estão incorretas, pois é uma
determinação que decorre da Lei 64/90, que lista como legitimado qualquer
candidato, partido político, coligação, Ministério Público. De forma que as
figuras previstas nas alternativas (b), (c) e (d) são estranhas à lide e não detém
qualquer legitimidade.
Na atividade 2, você marcou a letra (c), que menciona o prazo correto
de cinco dias para a impugnação do registro da candidatura. Esse prazo será
peremptório (ver Art. 16 da Lei Complementar 64/90). O que torna as demais
alternativas incorretas por exporem prazos distintos do exigido na lei.
Na atividade 3, você assinalou a letra (b), que menciona a
contrariedade à Constituição e as decisões denegatórias de mandado de
segurança e de habeas corpus. As demais alternativas estão incorretas, pois
contrariam o texto Constitucional no Art. 121, § 3°.
Na atividade 4, você pesquisou o Art. 257 do CE e soube que existem
exceções tanto no CE como em outros Diplomas. Assim, no CE (Art. 216),
como também o Art. 15 da LC 64/90 e, em alguns casos, a aplicação supletiva
do Código de Processo Penal (Art. 597 e Art. 581 a 592).

Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília: Senado, 1988.
______. Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997. Estabelece normas para as
eleições. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9504.htm>.
Acesso em: 12 nov. 2009.
______. Lei complementar n. 64, de 18 de maio de 1990. Estabelece, de
acordo com o Art. 14, § 9º da Constituição Federal, casos de inelegibilidade,
prazos de cessação, e determina outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp64.htm>. Acesso em: 12 nov.
2009.
CÂNDIDO, Joel José. Direito Eleitoral Brasileiro. 13. ed. Bauru: Edipro, 2008.
KAMURA, Alexandre Issa. Manual de Direito Eleitoral. São Paulo: Juarez de
Oliveira, 2006.
MICHELS, Vera Maria Nunes. Direito Eleitoral. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2006.
SPITZCOVSKY, Celso; MORAES, Fábio Nilson Soares de. Direito Eleitoral.
São Paulo: Saraiva, 2009. v. 27.

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