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Considerações introdutórias

1. Noção da história de direito

A História não tem um objeto exclusivamente seu, ocupa-se de um espnecífico segmento do


objeto das outras disciplinas do saber humano.

 Considera a globalidade do Homem ou um certo tipo de comportamentos humanos.

Como se distingue a História de cada um dos ramos do saber não históticos?

 Quid specificum do seu objeto, na especificidade do seu objeto formal.

Objeto em sentido material: matéria que está a ser tratada e sobre a qual incide o
estudo o estudo científico.

Objeto em sentido formal: reflete uma perspetiva particular relativamente ao


assunto sobre o qual é desenvolvido o estudo científico.

História: estudo de todas as realidades humanas, mas do ponto de vista do passado.

História do Direito: descreve e explica as instituições e a vida jurídica do passado nos seus
múltiplos sentidos e aspetos práticos, normativos, cientídicos e culturais.

 Diferente de Direito históricamente estudado- este é uma análise estrita do passado


jurídico do Direito hodiernamente vigente, enquanto que História do Direito estuda
todas as instituições e princípios jurídicos, independentemente da sua vigência atual.

História do Direito localiza-se entre uma ciência histórica e ciência jurídica:

 Ciência histórica pois o seu objeto é o estudo de uma sucessão de sistemas jurídicos
em interdependência com fatores culturais e materiais de diferentes épocas;
-História narrativa: única e pura descrição dos factos passados.
-História pragmática: procura extrair dos factos passados lições para o futuro,
considera-se que a história se repete ciclicamente.
-História genética: compreensão dos factos ou instituições do passado na sua
dependência/sequência orgânica, visa perceber porque as coisas acontecem de uma
maneira e não de outra (relação causa/efeitos).
-Enquanto ciência histórica, História do Direito é predominantemente genética.

 Ciência jurídica pois distingue no passado entre aquilo que é perene e aquilo que
muda, procura detetar permanências no Direito dos povos.
-Perspetiva técnica ou dogmática: olhar o Direito do prisma do presente,
interpretando-o e explicando a sua aplicação.
-Perspetiva filosófica: encra do Direito do ponto de vista das razões últimas,
supratemporalmente.
-Perspetiva histórica: procura perceber como surgiu o Direito que nos rege.
-Apenas a perspetiva histórica corresponde à História do Direito.

Ora, segundo Mário Júlio de Almeida Costa, História do Direito tem um estatuto misto, é uma
ciência histórica e jurídica.
2. Objeto da História do Direito

Três áreas fundamentais ínsitas no objeto de História do Direito:

 História das fontes (origem das normas jurídicas)


-filosoficamente: a fonte de direito é o seu fundamento de validade e obrigatoriedade.
-política ou organicamente: a fonte de direito é o órgão que cria e emana a norma
jurídica.
-tecnicamente: fonte de direito é o seu modo de formação e revelação.
-instrumentalmente: fonte de direito é o texto ou diploma que contém a norma
jurídica.
-socialogicamente: a fonte de direito é a razão cultural, política ou económica que
influencia o seu surgimento, vigência e cessação.
 História da instituições
-instituição como ideia que vive e perdura no meio social.
-Direito legislado: o que a lei dispunha sobre assuntos jurídicos passados.
-Direito vigente: realidade sociojurídica efetivamente verificada sobre essas matérias.
-sobreposição entre sistemas: Direito vigente pode não coincidir com o Direito
legislado (costume)
 História do pensamento jurídico
-estudo do modo de pensar o Direito: ciência do Direito
-estudo do modo de aplicar o Direito: prática jurídica
-estudo do modo de formar os juristas em cada sociedade: formação jurídica

3. Classificações da História do Direito

Leibniz:

 História interna do Direito: estudo dos sistemas jurídicos vigente no passado em todos
os seus aspetos, buscando o conhecimento do sistema jurídico em si.
 História externa do Direito: estudo dos fatores metajurídicos, extrajurídicos de ordem
política, social, económica, religiosa e cultural que influenciaram a conformação do
Direito no tempo.
 Crítica: apenas a história interna seria a verdadeira história do Direito.
 Deslocação:
-História interna: instituições jurídicas
-História externa: fontes de Direito do passado.

 História geral do Direito: visão de conjunto do Direito de cada época, estudo de todo o
sistema jurídico num dado período.
 História especial do Direito: estudo monográfico e pormenorizado de cada instituição,
estudo da sua evolução ao longo de todas as épocas.

Ora, a história interna tem o mesmo objeto que a história especial.


Toda a história externa é história geral do Direito mas bem toda a história geral é história
externa do Direito.
4. Método cronológico e método monográfico na exposição da História do Direito

 Método cronológico: expõe-se as fontes, instituições e pensamento jurídico ao longo


do tempo segundo períodos pré-estabelecidos para se ficar com uma visão de
conjunto sobre cada um deles. Permite uma visão de conjunto das diversas fontes,
isntituições e modos de pensamento jurídico.
-Desvantagem: introdução de quebras artificiais na sua evolução. Além disso o critério
de periodização mais adequado não é o mesmo para todas as instituições.
-É o mais adequado para o estudo da história geral.
 Método monográfico: apresentação da evolução das diversas instituições, cada uma
per si sem se avaliar influencias e interdependências entre umas e outras.
- Evita quebras artificiais.
-Desvantagem: não permite o confronto entre as diferentes instituições do mesmo
período histórico.
-É o mais adequado para o estudo da história especial.

Ruy de Albuquerque e Martim de Albuquerque:

 Não se deve separar demasiado a história externa da história interna (normativismo


ou formalismo rígido)
 O método de exposição deve seguir o método de análise.

Parte I- Elementos da História do Direito Romano


Capítulo I- Noções fundamentais

1. Direito Romano
A) Conceito

O Direito é uma realidade complexa, difícil de definir. O Direito não deve ser olhado como
conceito mas sim como arte ou prática.

António Santos Justo: o Direito Romano como um conjunto de normas ou regras jurídicas que
vigoram no mundo romano desde a fundação de Roma (753 a.C.) até 565 (morte de
Justiniano).

 Conceito meramente introdutório com a finalidade de delimitar o objeto de estudo.


 O facto de este período ser extenso e ter grande extensão espacial impõe um estudo
faseado e periorizado do Direito Romano.

B) Desenvolvimento

Critérios de periodização:

 Critério político: Divide a História de Roma em quatro fases, segundo as épocas


políticas.
 Critério jurídico-externo: ou normativo, divide a História de Roma em tantas fases
quantas as fontes de direito predominantes.
 Critério jurídico-interno: divide a História de Roma segundo as instituições próprias de
cada época (será o que vamos seguir).
Critério Político:

Época Período
Época monárquica (753 a.C. – 510 a.C.): desde a fundação de Roma até à revolução
republicana.
Época republicana (510 a.C. – 27 a.C.): desde a revolução republicana atè ao começo
do principado, com Augusto.
Época imperial (27 a.C. – 284 d.C): desde o começo do principado, com Augusto,
até ao incício do dominado, com Diocleciano.
Época absolutista ou (284 d.C. – final): a partir do reinado de Diocleciano, até à queda
dominado do império romano:
i. 476 d.C. no Ocidente (invasões bárbaras);
ii. 1453 d.C. no Oriente (ocupação turca, final da idade média).

Critério Jurídico-interno:

Época Período
Época arcaica (753 a.C. – 130 a.C.)
i. Época do Direito Romano nacionalista ou quiritário (até 242 a.C.)
ii. Época do ius gentium ou Direito Romano universalista (a partir
de 242 a.C.)
Época clássica (130 a.C. – 230 d.C)
i. Época pré-clássica (130 a.c. – 30 a.C.)
ii. Época clássica central (30 a.C. – 130 d.C.)
iii. Época clássica tardia (130 d.C. – 230 d.C.)
Época pós-clássica (230 d.C. – 530 d.C.)
i. Época de confusão na vida jurídica e de substituição da
iurisprudentia por uma ciência jurídica simplista e elementar (230
d.C. – 395 d.C.)
ii. Época de vulgarização, no ocidente, e de classicismo, no oriente
(395 d.C. – 530 d.C)
Época justinianeia (530 d.C. – 565 d.C.)

 Época arcaica: começa em 753 a.C. e termina em 130 a.C., data em que surge a lex
Aebutia de formulis que legaliza o processo formulário (agere per formulas) baseado
numa fórmula escrita e mais agil concedida pelo pretor, afastanto o sistema processual
de ações legais (legis actiones) integrado por atos rígidos e orais.
-época deficientemente documentada
-o jurídico surge imbricado no moral e no religioso
-instituições jurídicas numa fase elementar
o Época do Direito Romano nacionalista ou quiritário: termina em 242 a.C.,
data da criação da magistratura do praetor peregrinus (pretor peregrino).
o Época do ius gentium ou Direito Romano universalista
 Época clássica: começa em 130 a.C. termina em 230 d.C. com a substituição do
processo formulário pelo processo extraordinário (cognitio extra ordinem) e o
esgotamento da jurisprudência.
o Época pré-clássica: marcada pela ascensão da jurisprudência.
o Época clássica central: esplendor da jurisprudência, atinge o seu apogeu e
encontra o equilíbrio entre a estabilidade e o casuísmo, modernizando o ius
civile sem nunca se afastar de princípios doutrinais e regras jurídicas.
o Época clássica tardia: começo do declício da jurisprudência burocratizada
(depende do poder político) e voltada agora para o ius publicum. A Jurisdição
passa a pertencer ao Imperador ou aos funcionários imperiais.
 Época pós-clássica: inicia-se em 230 d.C. e termina em 530 d.C., ano em que Justiniano
encarrega Triboniano de elaborar os Digesta ou Pandectae.
o Primeira sub-época: termina em 395 d.C., ano em que Teodósio divide pelos
seus dois filhos o Império Romano em duas partes. É marcado pela confusão
na vida jurídica (prática e simplificação jurídica) e pela substituição da boa
jurisprudencia por uma má ciência simplista e elementar de resumos de
textos.
o Segunda sub-época: No ocidente continua a vulgarização e simplificação
jurídicas; no oriente há uma reação antivulgarista e de tentativa de retorno ao
direito clássico com ideias e princípios filosóficos helénicos.
 Época justinianeia: inicia-se em 530 d.C. e termina em 565 d.C. com a morte do
Imperador Justiniano. É caracterizada pelo classicismo e pela helenização e pela
elaboração da maior compilação de Direito Romano jamais realizada, o Corpus Iuris
Civilis, da qual os Digesta constituem uma parte.

Outras propostas:

Autores Álvaro D’Ors Sebastião Cruz, Santos Justo Duarte Nogueira


Critério Jurídico-Interno Jurídico-Interno Jurídico-Externo
predominante
Nº de fases 3 fases 4 fases 2 fases
o Época Arcaica (753 a.C. – 130 o Época Arcaica (753 a.C. – 130 a.C.) o Período Pluralista
a.C.) -Época do Direito Romano (753 a.C. – 27 a.C.)
-Época do Direito Romano Nacionalista ou Quiriério (até 242 o Período Monista
Nacionalista ou Quiriério (até a.C.) (27 a.C. – fim do
242 a.C.) -Época do Direito Romano reinado de
-Época do Direito Romano Universalista ou do ius gentium 8ª Justiniano, 565
Universalista ou do ius gentium partir de 242 a.C.) d.C.)
Periodização do 8ª partir de 242 a.C.) o Época Clássica (130 a.C. – 230 d.C.) -Primeira Época (27
Direito Romano o Época Clássica (130 a.C. – 230 -Época pré clássica (130 a.C. – 30 a.C. – 130 d.C.)
d.C.) a.C.) -Segunda Época
-Época pré clássica (130 a.C. – -Época clássica central (30 a.C. – (130 d.C – fim do
30 a.C.) 130 d.C.) (Sebastião cruz: final a reinado de
-Época clássica central (30 a.C. 212 d.C.) Justiniano, 565
– 130 d.C.) -Época clássica tardia (130 d.C. – d.C.)
-Época clássica tardia (130 d.C. 230 d.C.) (Sebastião Cruz: início a
– 230 d.C.) 212 d.C.)
o Época Pós-clássica (230 d.C. – o Época Pós-clássica (230 d.C. – 530
530 d.c.) d.c.)
-Dioclicianeia (230 d.C.-330 -1º etapa (230 d.C.-395 d.C.)
d.C.) -2º etapa (395 d.C. – 530 d.C.)
-Constantinianeia (330 d.C. – o Época Justinianeia (530 d.C. – 565
430 d.C.) d.C.)
-Teodosianeia (430 d.C. – 530
d.C.)
C) Caracterização

Características do Direito Privado Romano:

 Desinteresse pela codificação: escasso relevo das fontes escritas perante a importância
do costume e da jurisprudência.
 Prioridade da actio, do veículo ou meio processual sobre o ius, sobre o Direito
substantivo: não havendo Direito civile para aplicar, a resolução dos problemas
práticos era assegurada através da concessão de actiones concedidas pelo pretor,
substituiam a lei.
 A ausência ou escasso papel da lex permite a fluidez, espontaneidade e dinamismo
com que se formaram e desenvolveram instituições jurídicas romanas.
 Simplicidade de soluções e ausência de um sistema: a naturalidade e simplicidade
verificam-se a utilização do mesmo instituto jurídico para a obtenção de fins práticos
diversos. De sublinhar o caráter casuístico das leges e das obras de iurisprudentia.
 Diferenciação de conceitos: separação rpgressiva do jurídico, dos usos sociais e das
regras religiosas. Os jurisconsultos romanos manejavam poucos conceitos e distinções
fundamentais mas os que utilizavam eram dotdos de um caráter universalista.
 Força da tradição: a evolução das instituições jurídicas e as transições políticas fizeram-
se lenta e prudentemente.procurava-se assegurar a observância material do
precedente.
 Ponderação e coordenação entre liberdade e autoridade: a liberdade evidenciava-se
na existencia de um livre jogo de vontades e a autoridade estava presente no
formalismo negocial destinado a tutelar a certeza, segurança e os princípios
fundamentais do comécio jurídico.
 Influência de vínculos sociais e morais no Direito: considerados vínculos pré-jurídicos
ou para-jurídicos e tinham influência no Direito vigente.
o Fides: ser digno de confiança, quem já se comprometeu não pode voltar atrás.
o Officium: obrigava o particular a ser útil aos outros, altruisticamente (sem
esperar nada em troca) prestando-lhes serviços.
o Humanitas: dever moral que obrigava os romanos a respeitar e a valorizar a
pessoa humana.
o Amisticia: amizade, valor importante na esfera social e moral e no campo
jurídico.

D) Utilidade do estudo do Direito Romano

 O grande contributo na formação dos juristas: o seu estudo transite uma relativa
liberdade e independência perante a lei vigente; ensina a criar, interpretar e aplicar a
norma jurídica adequada a cada situação;manifesta a solidez de princípios perante
transformações e crise da vida poítica.
 A perfeição técnico-jurídica da jurisprudência romana: rigor na criação de figuras
jurídicas, formulação de princípios e regras de direito, consagração de terminologia
jurídica (nasce o alfabeto e gramática da linguagem jurídica, segundo ihering).
 Interesse histórico do estudo do Direito Romano: segundo Sebastião Cruz, o Direito
Romano é o melhor laboratório jurídico pois poermite estudar como se dá o
nascimento, apogeu e decadência dos institutos jurídicos concretos.
 O interesse comparatístico do estudo do Direito Romano: permite fundamentr a
Ciência do Direito Comparado por ser a raiz comum dos sistemas jurídicos romano-
germânicos atuais.
 O interesse do Direito Romano para o estudo do Direito Europeu: estudo dogmático,
cmo se estivesse em vigor. Muitas leis portuguesas são a transposição de normas
europeias.

2. Ius e fas

 Inicialmente tinham significados idênticos: reportavam o que era ou não lícito aos
homens fazer em face da ação divina.
 Fas evoluiu e passou a significar norma ou conjunto de normas que estabeleciam as
condutas lícitas aos homens perante os deuses e cuja inobservância era punida com
sanções de natureza religiosa. Aproximou-se do ius divinum.
 Ius aproximou-se do ius humanum (secularização e autonomização entre jurídico e
religioso), é o conjunto de normas reguladoras dos homens e disciplinadoras da sua
interação.

3. Sentidos do ius

o Sentido objetivo: a coisa devida


o Sentifo normativo: conjunto de normas que disciplinam a vida social, é uma
medida positiva do Direito
o Sentido subjetivo: faculdades ou poderes da doação do particular

4. Iustitia e Aequitas

Ulpianus: A justiça é a constante e perpétua vontade de dar a cada um o seu direito.

Aristóteles dintingue:

 Justiça comutativa: aquilo que se deve entre pessoas.


o Igualdade aritmética entre as coisas (igualdade de valor entre o bem e o
respetivo preço).
 Justila distributiva: aquilo que a coletividade deve ao indivíduo.
o Igualdade de proporção entre as coisas que se dão às pessoas e as pessoas que
as recebem.
o O critério de distribuição proporcional varia: a cada um segundo a sua
condição, segundo as suas capacidades, segundo a sua contribuição para a
sociedade e segundo as suas necessidades. O igualitarismo causa grandes
injustiças.
o Papel do Estado e de outras coletividades (ONG).
 Justiça geral ou legal: aquilo que é devido pelo indivíduo à coletividade (cumprimento
das leis).
o Igualdade entre o que é mandado pelas leis e o que é efetivamente cumprido.
o Hoje é designada por justiça social.
As normas jurídicas levam sempre em si mesmas uma inerente pretensão de justiça. Mas,
aquilo que é justo é frequentemente enuncido em normas gerais e abstratas. Isto leva-nos a
falar de equidade.

Equidade: correção da deficiência da norma, resultante da sua universalidade (generalidade e


abstração.

 Equidade-justiça
 Equidade-misericórdia: suavização da justiça por outros valores e sentimentos.

Funções da aequitas:

 Suavizar a aplicação do Direito: equidade secundum legem


 Completar o Direito: regime subsidiário, equidade praeter legem
 Afastar o Direito quando este conduz a soluções concretamente injustas: equidade
contra legem

Em Roma, segundo Celsus: a arte do bom e do equitativo.

 Ela não foi apenas a justiça do caso concreto, positivou-se no ius civile através do
legislador e do jurisconsulto: criação, interpretação e transformação do direito
positivo.

Época pós clássica, Constantino: É necessário, em todas as coisas, que a razão da justiça e da
equidade esteja primeiro que a do direito escrito.

5. Iuris Praecepta
 Os princípios fundamentais do Direito (Ulpianus):
o Viver honestamente.
o Não prejudicar os outros.
o Atribuir a cada um o seu direito.
 Viver honestamente é um princípio meta-jurídico: quatro virtudes cadeais do agir
humano (prudência, temperança, fortaleza e justiça)
 Apenas os outros dois preceitos pertencem ao âmbito estritamente jurídico.

6. Ius publicum e Ius privatum

O pupulus romano era regido pela lex e ao civis utilizavam nas ruas relações inter pares o ius
(civile).

 Isto deixoud e fazer sentido quando a lex se tornou facto de produção normativa do
ius.
 Surgem os conceito de ius publicum e de ius privatum.

Quanto à origem:

 Ius publicum era o direito criado pelos órgãos estatais (normas da Lei das XII Tábuas);
 Ius privatum eram as normas e princípios elaborados e conservados pela
jurisprudência.

Quando ao objeto:
 Ius publicum disciplinava e organizava a política e os poderes públicos nas relações
internas e internacionais;
 Ius privatum era o Direito que disciplinava as relações entre particulares.

Segundo Ulpianus, estas dintinções são duas perspetivas do mesmo Direito, o Direito visto em
duas perspetivas.

7. Ius Scriptum e Ius non scriptum

Ulpianus:

 Ius scriptum: leis, plebiscitos, senatusconcultos, constituições imperiais, editos dos


magistrados, respostas dos jurisconcultos: registado por escrito.
 Ius non scriptum: aquele que o uso comprovou e que imitariam as leis: não registado
por escrito.
 Esta dintinção deve mais aos compiladores justinianeus pois, no século VI d.C. todas
estas fontes de ius scriptum já não existiam (exceto as constituições imperiais) dadas
as vicissitudes políticas e a evolução socioeconómica romana.

Ius non scriptum:

 Mores maiorum: tradição moral dos antepassados, segundo antónio Santos Justo.
 Costume: tácito consenso do povo e da sua convicção à obrigatoriedade da sua
observância.
 Interpretatio: as respostas dos jurisconsultos eram dadas oralmente (jurisprudência)

8. Ius Civile, Ius Praetorium e Ius Honorarium

Ius Civile: Direito próprio da cidade romana.

 Fontes: leis plebiscitos, senatusconsultos, constituições imperiais, jurisprudência e


costume.
 Leis: declarações solenes com valor normativo, acordo entre o autor e o destinatário.
 Plebiscitos: deliberações da plebe reunida no concilium que votava a proposta do
tribuno da plebe.
 Senatusconsultos: ordenações e emanações normativas do Senado (carater consultivo
durante muito tempo).
 Jurisprudência: ciência do Direito, revelava, desenvolvia e adapatava o Direito às
exigências da cidade e dos particulares.
 Costume: prática geral reiterada (corpus) aompanhada da convicção da sua
obrigatoriedade (animus)

Era um direito formalista e rígido que, inicialmente, regulava os diversos poderes do


paterfamilias mas que, progressivamente se foi estendendo a peregrinos até o Édico de caracla
(212 d.C.) conceder a cidadania romana a todos os habitantes do Império, estendendo o
âmbito de aplicação do ius civile.

Ius Praetorium: associado à magistratura do pretor.

 367 a.C.: praetor urbanus: parente próximo mas subalterno dos cônsules, investido de
poderes e imperium, potestas e iurisdictio. Podia conceder e denegar actiones, coagir
as partes a assumirem e cumprirem as suas obligationes, outorgar interinamente a
posse de bens em litígio, ignorar os efeitos de determinados atos jurídico e conceder
proteção processual a meras situações de facto.
 224 a.C.: praetor peregrinus: admnistrava a justiça entre cidadãos romanos e
peregrunos e entre peregrinos entre si, sujeitos à jurisdição romana.
o Publicava inicialmente o edictum ou album (repentina ou perpetua, mediante
tivesse aplicação em casos concretos ou durasse um ano)
o Foi-lhes importa a Lex Cornelia de iurisdictione (67 a.C.) pois nem sempre
atuavam dentro dos limites dos edicta. Eram então obrigados a não
extravasarem ou contrariarem o vertido nos edicta.
o Edictum Perpetuum: Iulianus elabora a redação deinitiva do edicto do pretor
 Primeiramente, apenas avaliavam o cumprimento das leis e dos costumes por parte do
povo romano.
 Depois, integraram as lacunas de lei e diminuiram o rigor e rigidez do ius civile.
 Por fim, protegiam casos não previstos n o ius civile atraves da concessão de actiones
o Novo sistema: dualismo jurídico até à compilação justiniana.

Como se coordenavam o ius civile e o ius praetorium?

 Dupla função do pretor: aplicava ambos os sistemas jurídicos.


 Função da jurisprudência na interpretatio : atenuava a rigidez do ius civile e retirava da
atividade do pretor as regras e princípios que faciliatriam a posterior integração num
único sistema.
 Fontes diferentes:
o Ius civile: costume, lei, plebiscitos, senatusconsultos, jurisprud~encia e
constituições imperiais.
o Ius praetorium: poder jurisdicional do pretor.
 Conteúdo e espíritos diferentes:
o Ius civile é rígido, formalista e inflexível.
o Ius praetorium é elástico, sem frandes formalidades e flexível.
 Modo de operar diferente:
o Ius civile é de eficácia automática e imediata.
o Ius praetorium depende da atividade processual do pretor.
 Diferença no âmbito processual:
o No ius civile primeiro existe o ius e depois a actio.
o No ius praetorium o ius só surge através da criação da actio.

Ius honorarium: todo o ius não civil constituido pelas normas criadas pelos magistrados com
poder para tal (pretores, edis-curuis e governadores das províncias).

9. Ius Gentium e Ius naturale

Princípio da personalidade do Direito: a cada um aplica-se, não a lei do território em que se


encontra, mas a lei da comunidade a que se pertence.

 Inicialmente as relações de Roma com os povos de outras cidades em reguladas por


tratados internacionais, apenas enquanro eram relações entre iguais.
 A expanção de Roma gerou um desequilíbrio entre as partes: aplica-se normas
romanas semelhantes a outros direitos civis estrangeiros, de fácil aplicação a todos
(romanos e peregrinos)
 Formou-se o ius gentium, ius gentium em sentido técnico.
 A criação do praetor peregrinus acentuou a diferença entre o ius civile e os ius
gentium:
o Institutos do ius gentium mais simples e elásticos. A sua força vinculativa
apoia-se na bona fides, na aequitas e na vontade das partes.
 Ius gentium, Gaius: direito das gentes, como se fosse o direito que todas as gentes
utilizam.
o Naturalis ratio: o ius gentium como direito comum a todos os homens é
tambem um Direito para os Romanos- ius gentium em sentido essencial,
direito natural. Logo, os institutos e princípios jurídicos foram-se formando em
todos os povos.
 O ius gentium em sentido essencial é que possibilita a existência do ius gentium em
sentido técnico.
 O ius gentium não impediu os povos de se regerem pelos seus próprios direitos civis.

A distinção entre ius gentium e ius civile foi pouco importante:

 A proteção sempre se concretizava através da jurisdição do pretor peregrino.


 Em 212 d.C. a distinçõ perde-se com a extensão da cidadania romana a todos os
habitantes do império: aplicação do ius civile.

Gaius: as normas e institutos do ius gentium fundam-se na ordem natural das coisas. As obras
dos jurisconsultos romanos mostram o direito natural praticamente vivo dentro de um
ordenamento jurídico vigente.

Notas comuns sobre o Direito Natural:

 Quanto á terminologia, os juristas clássicos são práticos e não filósofos.


 Os juristas têm consciencia de que um instituto jurídico pode ser ou não conforme à
ordem natural das coisas.

A grande lição reside na integração do direito natural no trabalho prático dos juristas
romanos.A naturalis ratio aparece como um elemento de interpretação do ordenamento
jurídico e da busca da solução justa para os casos concretos.

10. Ius commune e Ius singulare. Beneficium e Privilegium.

 Ius comune: conjunto de normas jurídicas de caráter geral que se aplicavam à


generalidade das situações. Direito comum.
 Ius singulare: conjunto de normas jurídicas de caráter especial, aplicavam-se apenas a
determinadas situações em que se verificava alguma razão objetiva contrária à razão
geral. Direito especial.
 O ius singulare por força da jurisprudência romana cgehou a converter-se em ius
commune.

Beneficium: quando o ius singulare se traduzia numa situação de vantagem para aquelas
pessoas a quem se aplicava.

Privilegium: norma que estabelecia um tratamento jurídico diferenciado para um particular


relativamente àquele que lhe seria devido pelos ius commune.
Mais tarde privilegium começou a ser sinónimo de situação favorávelm aproximando-se do
conceito de beneficium.

11. Ius novum ou extraordinarium

Ius Novum ou Extraordinarium: com a sucessiva acumulação de funções pelos Imperadores,


as constituições imperiais tornaram-se a fonte predominante do direito. As normas jurídicas
desta fonte, denominam-se ius novum em contraposição com o ius antiquum, ou ius
extraordinarium em contraposição com o ius ordinarium.

Contudo, não se pode considerar as Constituições imperiais como um novo ordenamento


jurídico oposto ao ius civile e ius honorarium, porque muitas disposições imperiais limitavam-
se a interpretar o ius civile e porque as normas inovadoras invocadas processualmente através
da cognitio ex.

12. Algumas conceções jurídicas modernas aplicadas ao Direito Romano


A) Preliminares

A moderna técnica jurídica (civilística, em particular) deve ao Direito Romano uma significativa
quota-parte metodológica e criativa.

É certo que os juristas romanos não criaram conceitos como “direito subjetivo” ou “abuso do
direito” mas, segundo António Santos Justo, pressentiram-nos.

 As realidades a que hoje esses conceitos se reportam foram por eles identificadas
 Os Glosadores, Comentadores e Pandectistas foram correntes jurídicas que receberam
o legado dos romanos e fazendo com que chegasse até nós.

B) Direito em sentido normativo (desenvolvimento)


I) Um conceito já conhecido

O sentido original do termo “Direito” é o Direito enquanto objeto ou coisa devida. Este sentido
encontra-se na própria definição de justiça (perpétua e constante vontade de dar a cada um o
que é seu, ou o seu direito).

Direito em sentido normativo: conjunto de normas jurídicas que disciplinam a vida social. É
neste sentido que se fala de ius civile, ius gentium e ius honorarium, assim como foi neste
sentido que se definiu “Direito Romano”.

II) Âmbito pessoal, espacial e temporal do Direito (em sentido normativo)

Âmbito pessoal: o Direito Privado Romano rege-se pelo princípio da personalidade na


aplicação das normas jurídicas:

 Aplica-se apenas a cidadãos romanos, sem prejuízo de algumas exceções, atentas a


inevitáveis relações com estrangeitos, aos quais primeiro se palicou o ius gentium.
 Distigue-se do princípio da territorialidade (aplica o direito a todos os residentes num
determinado território, independentemente da nacionalidade)

Âmbito espacial: respeitava-se a autonomia jurídica das cidades aliadas ou conquistadas, as


quais continuaram a reger-se pelo seu próprio Direito.

 A partir do Principado até ao Dominado houve a pretensão de hegemonia político-


jurídica, logo, existiram desvirtuamentos.
 Porém, mesmo no apogeu desta tendência de centralização, Roma não conseguiu
fazer os povos conquistados desapegarem-se das suas instituições mais características.

Âmbito temporal: regra da não retroatividade da lei (as leis não tinham rpetensão de se
aplicar a factos ocorridos antes da sua entrada em vigor).

 Respeitava-se os direitos adquiridos e transmitia-se maior segurança ao comércio


jurídico.

III) Cessação da vigência

O povo ou o Legislador que criam as normas jurídicas positivas podem fazer cessar a sua
vigência dos mesmos modos por que as criam.

Cessar um costume:

 Surgimento de um costume contrário.


 Pelo simples desuso.
 Por uma lex de sentido contrário (o que era raro devido ao respeito pelo costume)

Cessar uma lei:

 Caducidade: decorrido o hiato temporal ou verificado o evento para o qual a lei foi
cirada, desapareceram os pressupostos que a motivaram.
 Revogação: surge uma nova lei a retirar a vigência à lei anterior.
o Parcial: a lei nova derrogou a antiga.
o Total: a lei nova abrogou a lei antiga.
o Expressa: resulta explicitamente da nova lei.
o Tácita: resulta da remodelação global da matéria legislada ou da contradição
das normas da nova lei com a lei anterior.
 Surgimento de um costume contra legem: isto acontecia porque a lei e o costume
tinham o mesmo valor.
o Segundo Ialianus, a vigência da lei e a vigência do costume derivava da
vontade do povo, logo era indiferente que esta vontade se manifestasse por
escrito atraves da lex ou atraves da prática (costume).
o Uma constituição imperial de Constantino (319 d.C.) retira ao costume o poder
de revogar uma lei.

C) Direito em sentido subjetivo (desenvolvimento)

Ainda que o sentido habitual de ius seja o de coisa devida, a jurisprudência tambem utilizou o
termo ius no sentido de faculdade ou poder de atuação do sujeito particular.

 É nesta aceção subjetiva que os romanos utilizarm o termo “direito” para se referirem,
quer no plano substantivo, ao direito do proprietário sobre uma coisa, quer no plano
processual, à actio (permite a defesa dos direitos materiais) ou á exceptio (permite
provar factos que tornam improcedente uma actio).
 O exercício de um direito subjetivo pode ter efeitos normativos.
 O uso de um direito subjetivo consiste na realização das faculdades que integram o
seu contudo. Quando essa realização se integra num uso normal desse direito o
exercício não é limitado pelo ordenamento jurídico.
o Proibição do animus nocendi: proibição do exercício de um direito para
prejudicar outrem e sem que daí resulte utilidade para o titular (Justiniano).
o Posteriormente por influência estóica e cristã e pelos trabalhos dos Glosadores
e dos Comentadores, isto desembarca na doutrina do abuso do direito.
D) Interpretação

Interpretatio é o ato metodológico que procura, perante o texto da norma, fixar-lhe um


sentido que forneça um critério de qualificação e de decisão de casos concretos.

 Não se trata apenas de compreender o texto mas também de extrair um sentido


normativo (critério de qualificação e de decisão de casos concretos).
 O interprete faz a mediação entre a norma positiva e as exigências normativas da
dignidade da pessoa humana.
 Elementos (determinam o espírito da lei):
o Gramatical: texto da lei.
o Lógicos: elementos histórico, sistemático e teleológico)
 Regras:
o Interpretar, mesmo que o texto seja claro
o Considerar o texto integralmente e não parcialmente
o Privilegiar a finalidade da lei em relação às palavras utilizadas.
 Quanto ao resultado encontamos uma interpretação declarativa, extensiva, restritiva,
ab-rogante ou revogatória, enunciativa, corretica e analógica.
 Quanto ao sujeito que realiza a interpretação:
o Autêntica: feita por uma fonte do mesmo nível.
o Usual: aquela que é realizada pelo costume.
o Doutrinal: feita pela jurisprudência.
o Judicial: realizada pelo juíz.
 Devido ao escasso número de leis e à simbólica e esquemática linguagem das poucas
existentes, a interpretatio jurisprudencial foi crucial para o desenvolvimento e
dinamização do velho ius civile.
 Os jurisconsultos romanos tiveram o cuidado de realizar a sua interpretatio no sentido
reclamado pelas exigências sociais: caso a norma jurídica suscitasse dúvidas, era
interpretada no sentido negativo.
 Pomponius: os jurisconsultos romanos foram verdadeiros iuris auctores, a eles se
devendo o desprendimento do ius civile dos quadro rígidos de uma interpretatio
exegético-positivista.
o Os jurisconcultos, ao interpretar, criam o direito.
o Ius non scriptum com base na interpretação do jurisconsulto.

Capítulo II- Organização política

13. Direito e política

Se o Direito Romano é perfeito, deve-se à organização política romana, ele constituiu uma
expressão do poderio político de Roma.
A organização política romana constitui um laboratório interessante para o estudo do Direito
Constitucional e do Direito Comparado.

14. Roma primitiva

Roma terá sido fundada em 754 ou 753 a.C. na planície do Lácio, por um conjunto de povos
que partilhavam o sentimento político de pátria universal, sobressaindo a influência etrusca
(fornem os primeiros reis a Roma).

Até ao século III a.C. Roma era uma cidade-estado: conjunto de homens livres, estabelecidos
num exíguo território, dispostos a defendê-lo e participando nas decisões comuns através de
órgãos políticos fundamentais.

 A família é o núcleo primitivo e originário a cujo chefe (paterfamilias) se submetem


pessoas e coisas.
 Quando as familae se agregam (motivos militares, economicos ou religiosos), formam
uma gens.
 Quando várias gentes se agregam nasce a civitas de Roma.
 A emersão da civitas não assinala o fim da familia, apenas a extinção pregressiva das
gentes.

Instituições políticas:

 Rex: monarca vitalício designado pelo seu antecessor ou pelo interrex, sendo
aclamado pelo populus (lex curiata de imperio: o poder derivava do povo).
o Dirigia a civitas
o Desempenhava funções religiosas, militares e judiciais
o Era sumo-sacerdote, supremo chege militar e o último juíz
 Senatus: subsistem algumas dúvidas. Assembleia constituida pelos patres das gentes
que fundaram a civitas num número de 100.
o Concediam a auctoritas patrum às decisões tomadas pelas assembleias
populares
o Concediam o interregnum a um senador durante a vagatura da coroa
o Importante função consultiva junto do Rex
 Comitia Curiata: assembleia de populus romanis onde se reuniam as 30 curiae (religião
e cultos próprios, base de recrutamento militar).
o Aqui os magistrados e o Rex eram nessas qualidade investidos com a lex
curiata de imperio.
o É duvidoso se desempenharam funções legistaltivas.
15. A República

Em 510 a.C. o último rex da monarquia roma é deposto na sequência de uma revolução
elaborada pelos patrícios, sendo que depois os plebeus associaram-se e vão aumentando os
seus direito.

 Existem quatro circunscrições político-administrativas chamadas tribus.


 O populus roma é organizado em cinco novas classes que constituem 193 centúrias
que formam a base do exército.
 As centúrias determinam o surgimento de uma nova assembleia: Comitia Centuriata.
 Força da tradição:
o O rex manteve durante bastante tempo as funções religiosas
o A organização política da República clarifica-se no século IV a.C. com a
institucionalização das magistraturas que substituem o rei
 Denote-se a solidariedade entre patrícios e plebeus, este últimos em luta pela
igualdade de direitos:
o Magistraturas
o Assembleias populares (democratico)
o Senado (aristocrático)
A) Magistraturas

O desempenho das cinco magistraturas ordinárias não eram apenas um encargo mas também
uma honra porque o exercício das funções não era acompanhado de qualquer remuneração.

 Todas elas têm competências específicas e estava distribuido pelas cinco o poder de
governar (executivo)
 A mais elevada era os censores.
o Administração do ager publicus
o Elaboração das listas dos senadores
o Organização do recenseamento dos cidadãos romanos
o Tutela da moralidade romana
o Eram eleitos por 5 anos nos comitia centuriata
 Seguiam-se os consules.
o Eram os sucessores do rex
o Gozavam de poder de soberania (imperium):
-comandar o exército
-convocar o senado e assembleias populares
-administrar a justiça (a partir de 367 a.C. e extraordinariamente com a criação
da pretura)
o Eram eleitos por 1 ano nos comitia centuriata
 Surgiam os praetores, colegas minores dos consules (abaixo deles).
o Administração da justiça entre cidadãos (a cargo do praetor urbano) ou entre
cidadãos e peregrinos e entre peregrinos entre sisujeitos á jurisdição romana
(a cargo do praetor peregrino)
o Nos tempos do processo fomulário, os praetores presidiam a fase in iure onde
analisavam o aspeto jurídico da causa e proclamavm a (in)existência do direito
do qual o autor se arrogava e pretendia fazer valer.
 Seguem-se os aediles curules.
o Fiscalização da limpeza da cidade
o Manutenção das vias e dos edifícios públicos
o Vigilância do trânsito
o Regulamentação dos preços
o Organização dos espetáculos
o Guarda dos arquivos do Estado
o Gozavam do poder punitivo (coercitio), exercendo ainda o poder jurisdicional
o Não dispunham de ius imperii.
 Os Quaestores são eleitos nos comitia tributa e tornam-se uma magistratura própria.
o Administram a justiça criminal
o Cobram multas
o Ocupam-se dos confiscos e do governo da tesouraria estatal.
Ditadura: uma magistratura extraordinaria. É nomeado em momentos de perigo pelos
consules por acordo ou sorteio confirmado numa lex curiata (investidura pela assembleia
popular como fundamento de todo o poder.

 Dictator optima lege creatus: tinha poder absoluto. Concentra todos os poderes
durante 6 meses, podendo exercê-lo com total independência e irresponsabilidade.
 Dictator imminuto iure: para uma função concreta

O tribuno da plebe era outra magistratura extraordinária.

Poderes dos magistrados:

 Potestas: poder de representar o populus romano.


 Imperium: poder de soberania, poder de mandar a que nenhum cidadão pode eximir-
se, permite dirigir o governo do Estado. Cabia apenas aos consules, pretores e ditador.
o Faculdade de comandar o exército
o Consultar os auspícios divinos (muito supersticiosos)
o Direito de editar normas jurídicas (pretores, edis curuis e governadores das
províncias)
o Iurisdictio e da coercitio
o Convocar e dirigir o Senado e os comícios.
 Iurisdictio: poder normal de administrar a justiça.
o pertence aos pretores nas causas cíveis
o pertence aos edis curuis na administração da cidade
o pertence aos questores nas causas criminais.

Limitações do poder dos magistrados:

 Temporalidade: duram um ano, em regra.


 Colegialidade: dentro de cada magistratura há dois titulares com ius intercessiones
(direito de veto) sobre as decisões do outro.
 Pluralidade: o poder está repartido por várias magistraturas.
 Provocatio ad populum: direito de qualquer cidadão de apelar das decisões dos
magistrados para os comitia, para as assembleias populares, exceto quando ao
ditador.
 Responsabilidade: respondem pelos atos praticados contra a lex no fim do exercício
do cargo (maiores) ou antes de cessarem (menores).

B) Assembleias populares
 Comitia curiata: vêm da época monárquica e começam a perder poder.
 Comitia centuriata: a mais poderosa. São a base de recrutamento militar. Intervêm na
eleição de magistrados com imperium. Votam as leis propostas por esses magistrados.
 Comitia tributa: a unidade de voto é a tribo (vota qum lá reside). Elegia alguns
magistrados menores e votava certas leis.

Existia tambem os Consilia plebis (conselho da plebe) que terá funcionado primeiro por cúrias
e depois por tribos.

 Elege os tribunos da plebe e os seus auxiliares (edis da plebe)


 Vota os plebiscita, decisões propostas por tribunus e edis da plebe
 Recebe a provocatio contra determinadas pelas aplicadas pelos tribunos
 Tornaram-se assembleias legislativas quando os plebiscitos gozaram de
obrigatoriedade geral, valem como leis

São convocadas por um magistrado que preside. Se for os comitia centuriata tem de ser um
magistrado superior (com imperium). Se for os concilia plebis preside um tribuno da plebe.

C) O senado
 Composição: agora é a assembleia dos homens considerados mais representativos
pela sua riqueza e autoridade (antes representavam os patres). Inicialmente incluaia
apenas patrícios, depois também plebeus. Em número de 300 nomeados pelo censor.
 Funções: a maior establidade dá-lhe o papel político mais importante.
o Guerra e direção do exército
o Administração pública
o Culto
o Designação dos governadores
o Distribuição de funções entre magistrados
o Possibilidade de conferir poder absoluto aos consules (ditadura) em caso de
guerra
o Confirmação das leges, concedendo-lhes a auctoritas patrum
-inicialmente ela é condição de validade (votação da assembleia, confirmação
do senado)
-depois passa a ser concedida antes da votação nos comitia torna-se a
verdadeira deliberação
 A convocação e presidência cabem a um magistrado com imperium.
 As decisões que são tomadas por maioria chama-se senatusconsulta

Como 1/4 ou 1/3 da população era escrava, não participava.

16. O Principado

Motivos de transição:

 Grande extensão, no séc. I a.C. ocupa todo o Mediterrâneo, da Hispânia até à Ásia
Menor.
 Mudança de mentalidade: velha mentalidade romana sob influência das mentaidades
grega e oriental.
 Surge uma forte classe endinheirada de armadores e de banqueiros.
 Crise moral e social: decadência das virtudes romanas tradicionais. A velha aristocracia
afunda-se. A classe média rural (equilíbrio social) arruína-se. Cresce o antagonismo
entre ricos e pobres, entre cidadãos e estrangeiros. Lutas de escravos pela liberdade.
 Crise política: conflito contínuo nos séc. II e I a.C. de lutas e de golpes de Estado.
o Depois da sua vitória sobre Marco António, Octávio é encarregado de
restaurar a paz e afastar o caos na vida e nos costumes.

O Principado estabelece-se em 27 a.C. com Octávio. São-lhe concedidos vários poderes que
são o embrião da futura monarquia.

Poderes do Princeps:

 Potestas tribunicia: direitos e deveres de um tribuno da plebe com carater vitalício.


 Imperium proconsulare infinitum: poder não limitado no espaço, império próprio para
o cônsule.
 Maius: superior ao dos governadores das províncias senatoriais.

É o primeiro dos órgãos constitucionais (princeps civium) concentrando em si os poderes dos


outros órgãos. Foi denomidado pater patriae, augustus e imperator.

As velhas magistraturas vão perdendo importância, embora sejam mantidas.

 O poder do senado:
o Primeiro momento: grande valor. Os senatusconsuta adquirem valor
legislativo.
o Depois a dependência do princeps acentua-se, este passa a designar os
senadores e a dominar as suas atividades legislativa e eleitoral.
o Perde influência militar e financeira, deixa de dirigir a política externa e de
controlar as províncias.
 Assembleias populares: Deixam progressivamente de funcionar.
o os seus poderes são transferidos para o Senado e para o exército que se vai
afirmando como um elemento político.
 Administração pública: burucratiza-se com novos funcionários que dependem do
princeps. Transforam o poder das magistraturas em simples títulos honoríficos.
o O princeps nomeia legati, praefecti, curatores, procuratores, rodeia-se de um
consilium principis que acompanha a atividade legislativa e jurisdicional do
príncipe.
17. O Dominado

O absolutismo imperial surge da evolução lenta no sentido da absorção e esgotamento dos


órgãos de poder republicanos. A transformação foi consumada por Diocleciano e Constantino.

 Acentuação da crise social e política: lutas pelo poder e decadência da autoridade e do


controla da periferia. Maior relaxamnto da moral. Oposição do paganismo ao
cristianimo nascente. A crise económica acentua-se. Pressão dos bárbaros nas
fronteiras.

Diocleciano:

 Nova constituição: concentração absoluta do poder.


 Divisão do império em duas partes governadas por imperadores diferentes (pars
occidentis com capital em Roma e pars orientis com capital em Bizâncio).
 Tetrarquia: dois Caesares auxiliam e sucedem a dois augusti.
 O imperador é dominus et deus: investidura divina. Considera-se Deus. Exige adoratio
(perseguição dos cristãos).
 Estado patrimonial: senado era um simples órgão municial e as assembleias populares
já não existem. O funcionário substitui o magistrado.

Constantino:

 A nova constituição consolida-se.


 Liberdade de culto aos cristãos (313), fim das perseguições.
 A administração pública resume-se numa hierarquia de funcionários com funções
determinadas e regulamentadas.
Em 476 cai o Império do Ocidente, Odoacro chefe de um grupo misto de mercenários, depões
Rómulo Augusto (último imperador). O Império Oriental cairá em 1453 com a conquista de
Constantinópola pelos turcos.

18. Administração local.

Roma cresce, logo surge a necessidade de organizar a administração local.

A) Na República

Dois modelos:

 Sistema de federação: maior autonomia. Constituído por três espécies de cidades:


o Civitas latinae: cidades do antigo Lácio com as quais Roma estabeleceu
alianças. Até 338 a.C., Roma era apenas uma das cidades que integravam a liga
latina, reconhecendo-se direitos:
-Ius commerci (direito de fazer negócios)
-Ius conubii (direito a casar-se)
-Ius migrandi (direito de emigrar)
Porém, com a vitória militar de Roma sobre as restantes cidades, a liga foi
dissolvida, proibindo Roma que as cidades compactuassem entre si e
retirando-lhes o ius belli ac pacis (direito de fazer guerra e paz), sem prejuízo
de manterem a sua autonomia.
o Coloniae latinae: núcleos urbanos fundados em Roma para consolidar as suas
conquistas. Sem reconhecer cidadania romana conferiu um status análogo ao
das civitates latinae (latinidade colonial).
o Civitas foederatae: cidades ligadas a Roma por tratados suja elaboração podia
ser pacifica ou após conquista militar. Conservavam instituições próprias e as
suas relações com Roma faziam-se através do ius gentium. Não tinham ius
belli, fornecendo a Roma contingentes militares.
 O sistema de federação terminou em 89 a.C. com a aprovação da lex Paulitia Papiria
que alargou a cidadania romana a todos os latinos que a solicitassem.
 Sistema de incorporação: o território adquirido tornou-se ager romanus (território
romanos) e os habitantes civis romani (cidadãos romanos).
o Por vezes a organização administrativa de uma tribo incorporava novas tribos
o Podiam ser tambem aglomerados de cidadãos romanos que se concentravam
e desenvolviam junto a estradas, por exemplo.

Fora da Península Itálica, os territórios conquistados iam sendo incorporados no Estado


Romano (direito de propriedade sobre tais territórios). O governo destes territórios era
confiado a um magistrado com imperio.

A esfera de competência do governador recebeu o nome de provincia.

Administração da justiça: território dividido sobre égide do governador em distrios denomidos


conventus que eram visitaos, aplicando-se normas de ius praetorium ás relações entre civis
romani e normas constantes de costumes locais e do ius gentium nos demais casos.

Regulamentação administrativa provincial:


 Regime das civitates foederatae: ligação a Roma por intermédio de um tratado que
lhes reconhecia autonomia e exercício da sua jurisdição. Os civitis eram independentes
e tinham domínio sobre os seus território.
 Regime das civitates liberae: situação análoga mas precária pois a autonomia não
promava de um tratado mas numa simples concessão benéfica.
 Regime das civitates immunes: isentas do pagamento de tributos a Roma.
 Regime das civitates stipendiariae: cidades conquistadas que não tinham qualquer
domínio sobre os seus próprios territórios, pagando a Roma uma tributação fixa pela
sua utilização. A intervenção do governador era sentida de forma intensa.

B) Principado

No séc I a.C., culmina a unificação e a romanização da Peníncula Itálica: todo o solo é romano
e todos os seus habitantes são cidadãos romanos.

A partir de Augusto foi imposto o regime municipal: elimina-se a diferença entre coloniae e
municipia. O regime passou a ser uniforme, procurando reproduzir o sistema de governo de
Roma ao nível das magistraturas e das assembleias.

O território foi isentado do pagamento de impostos, a jurisdição criminal foi conferida a


praefecti. A jurisdição civil continuou a pertencer, até Adriano, aos praetores urbanos e
peregrinus.

 Com Adriano os praetores foram substituídos por quatro consulares (ex consules) por
ele nomeados.

Fora da Península Itálica:

 Províncias senatoriais: confiadas ao Senado (natureza mais romanizada e tranquila)


 Províncias imperiais: diratamente vigiadas pelo Princeps (especiais cuidados militares).
 Eram presididas pelos governadores sujeitos ao imperium do Princeps e eram
remunerados.
o Proconsules: províncias senatoriais (um ano)
o Propaetores ou legati Augusti: provínciais imperiais (funções administrativas,
militares e por tempo indefinido)

No Egipto o governo foi confiado a um praefectus especial que representava o princeps


(sucessor do antigo faraó).

Regime municipal das cidades (regulado pela respetiva lex municipalis):

 Magistrados: eleitos por um ano, magistrados superiores e magistrados inferiores.


 Senado: cem membros eleitos sentre ex-magistrados pelos magistrados superiores.
Exerciam vitalicitamente os cargos e tinham grandes honras mas estavam sujeitos a
responsabilidade patrimonial pessoal pela cobrança de impostos.
 Comitia: agrupavam os municipes em dez cúrias ou tribos tendo funções eleitorais até
ao séc. II d.C., depois passarão a incumbir também ao Senado.

A inegerência do poder do princeps sentiu-se nas províncias através de governadores e


funcionários que intervinham no controlo das finanças da cidade.

C) No Dominado
O Império estava dividido em pars occidentalis e pars orientis, tendo cada parte duas
prefeituras:

 Gallia e Italia na pars occidentalis


 Illiricum e Oriens na pars orientis
 Cada prefeitura era chefiada por um praefectus e estava dividida em dioceses que se
subdividiam em províncias.

A administração militar era distinta da administração civil, as respetivas circunscrições eram


chefiadas por comites e duces.

Uniformidade administrativa
completa
Nas cidades o regime mantém-se mas mais homogeneizado com menor intervenção do
populus na vida da civitas que passou a ser dirigida pela aristocracia local. A autonomia dos
magistrados locais estava cada vez mais coarctada pela intervanção dos representantes do
poder central.

Apenas Roma e Constantinópola conservam vestígios como o Senado (funções formais), as


antigas magistraturas (referências honoríficas) e a existência de um praefectus urbis e outros
funcionários imperiais no governo da cidade.

Capítulo III- Fontes do Ius Civile

19. Preliminares

“Fontes de Direito” como uma metáfora clássica introduzida na línguagem juridica por Cícero
ou Tito Lívio.

 Existiam cíticas dada a sua plasciticidde e tentativas de substituição

A fonte é o local onde a água (Direito) mano e se recolhe com facilidade.

 Distinção entre fontes de ius civile e fontes de ius praetorium (perdura até Justinano).

Segundo Gaius existiam três tipos de fontes:

 Fontes exsistendi: órgãos que estão na origem da existência das normas jurídicas:
populus, comitia, consilia plebis, senatus, algusn magistrados, imperador e
jurisconsultos.
 Fontes manifestandi: modos de formação e de exteriorização das normas jurídicas:
costume, lex publica, lex privata, plebiscitum, senatusconcultum, edictum, constitutio
imperial ou responsum dos jurisconsultos.
 Fontes cognoscendi: suportes ou textos que contêm as normas jurídicas: corpus iuris
civilis, institutiones de Gaius, Sententiae de Paulus, Codex Theodosianus.

Até ao final da época clássica verificou-se a existência de várias fontes manifestandi, todas com
igual valor. Mas, o processo de centralização política (auge com a época justinianeia) levou a
que a constitutio imperial fosse a única fonte manifestandi e que o Imperador fosse a única
fonte exsistendi de Direito.
 Os costume do populus cedem perante a tribuição de competência legislativa aos
comitia e aos concilia plebis, os quais a perdem para o Senatus que vê absorvida pelo
Princeps.

20. O Costume

Entre 753 a.C. e 450 a.C., os costumes são a principal fonte de Direito em Roma (falta de
leges).

 Usus: simples hábitos de agir sem obrigação ou dever (não dá lugar a regras jurídicas).
 Mos ou mores: regras jurídico-religiosas cuja interpretação cabia aos sacerdotes que
integravam o património cultural do povo romano e que a tradição comprovava e
conservava. Eram a tradição de uma comprovada moralidade que a interpretatio
identificava e adaptava às novas circunstâncias da vida.
 Consuetudo: surge na época pós-classica e designa uma regra estritamente jurídica.

obrigatoriedade

Constância
prática geral

prática

 Prática geral: generalidade das pessoas que participam habitualmente numa


determinada relação.
 Observada num longo hiato de tempo: não podia ser interrompida por atos
praticados no sentido oposto. Cabia aos magistrados a faculdade de apreciar se o
decurso do tempo era já relecante para a fixação da prática habitual como costume
(diferenças assinaláveis).
 Opinio iuris vel necessitatis: convicção de obrigatoriedade de observância da prática,
dintinguindo-se assim do simples hábito de agir.

Segundo Ulpianus, o costume era fundado no tacitus consensus populi: quer a lex, quer o
costume consubstanciavam expressões da vontade do povo, logo era indiferente que se
manifestasse por escrito ou através de atos.

Eficácia:

 Secundum legem
 Praeter legem
 Contra legem
 A lex e o costume tinham o mesmo valor jurídico. Tanto a lex podia fazer cessar um
costume como o costume podia fazer cessar uma legem.
o Só um costume contra legem poderia fazer cessar uma lex
o O costume contra legem revogava a lei, enquanto que o mero desuso apenas
não a aplicava.
Durante a época arcaica até à Lei das XII Tábuas, os mores maiorum foram a principal fonte
de Direito Privado romano. A partir de 450 a.C. essa importância foi-se esbatendo. Mais tarde
a constituição imperial era a principal fonte de Direito no período pós-clássico.

Em 319 d.C. cada a concentração na figura do Princeps do poder político, Constantino dá como
impossivel o costume revogar uma lei.

 Uma lei não pode determinar diretamente os pressupostos de que depende a vigência
de um costume.

21. A lei

A Lei em Direito Romano


 Sentido Amplo
-Lex privata
-Lex publica (sem sentido amplo)
 Lex publica em sentido próprio
-Lex rogata
-Lex data
-Plebiscito
 Extensão do conceito de lex publica
-Senatusconsultum
-Edictum do pretor (não integra as fontes de ius civile)
-Constituição imperial
 A lex publica, quanto à sua eficácia
-Lex perfecta
-Lex minus quam perfecta
-Lex imperfecta

Lei, Sebastião Cruz: toda a declaração solene (formal, escrita) com valor normativo (que
manda), baseada num acordo (expresso ou tácito) entre quem a emite e o destinatário ou
destinatários (acordo).

 Privata: toda a declaraçao solene com valor normativo baseada num acordo entre
particulares.
o Os particulares tinham um poder jurisgénico, de criação do Direito através da
conclusão de contratos que, inter partes, tinham força de lei: lei privada
reconhecida pela Lei das XII Tábuas.
o A lex privata precede a lex publica
 Publica: lex aprovada pelos órgãos de governo da cidade.
 Lex rogata: protótipo da lex publica, nascia de uma proposta feita por um magistrados
aos comitia que a aprovavam e que recebia a auctoritas patrum do Senado.
 Lex data: lex dada por um magistrado no uso das faculdades delegadas pleos comitia
contendo normas e carater administrativo.

As leges rogaetae passavam por um procedimento de formação com seis fases:

 Promulgatio: afixação do projeto da lei num local público para conhecimento geral.
 Conciones: reuniões informais na praça pública para discussão do projeto da lex.
 Rogatio: pedido formulado pelo magistrado para que a assembleia comicial aprovasse
o projeto da lex.
 Votação: numa primeira fase, oralmento, depois secretamente e por escrito.
 Aprovação pelo Senado: concessão à lex da auctoritas patrum senatorial.
 Afixação no foro: a lex era levada ao conhecimento público

A lex rogata tinha três segmentos:

 Praescriptio: prefácio ou encabeçamento onde figurava o nome do magistrado


poponente da lex, o lugar e a data de votação, nome da cúria, centúria ou tribo que
abriu votação e do cidadãos que primeiro votou.
 Rogatio: texto da lex.
 Sanctio: fixava os termos precisos para assegurar a eficácia da lex.

Eficácia:

 Lex perfecta: declarava nulos todos os atos praticados em sentido contrário.


 Lex minus quam perfecta: impunha penas aos transgressores, não obstante não
invalidar atos realizados em sentido oposto.
 Lex imperfecta: não estabelecia nenhuma sanção pela sua violação, estabelecendo à
mesma uma obrigação legal. A coerbilidade (≠obrigatoriedade) não faz parte da
essencia da lei.
 Esta distinção perde importância quando Teodósio II em 438 d.C. impôs a lex perfecta
como regra.

Eram poucas as leges publicae em Roma, versando sobre Direito publico, constituindo a Lei das
XII Tábuas uma das exceções à regra.

Princípio da necessidade: faz-se leis quando estas são necessárias.

22. Plebiscito

Era uma deliberação da plebe que, reunida na sua assembleia, aprovava a proposta feita pelo
seu tribuno.

Inicialmente não tinha carater vinculativo vindo a adquiri-lo, entre plebeus com a lex Valeria
Horatia de plebiscitis (449 a.C.) e com eficácia estendida aos patrícios com a lex Hortensia de
plebiscitis (287 a.C.), passando a ter a mesma força que as leges aprovados nos comícios.

 Era indiferente falar em lex ou plebiscito, a única diferença (para além da fonte
exsistendi) era o facto de o plebiscito ser identificado por um único nome.
 Posteriormente o termo lex abarcou tambem os senatusconsultos, os éditos pretóritos
e as constituições imperiais.

23. Senatusconsultos

O senado que ordena e constitui. Inicialmente tinham mero valor consultivo e não vinculativo.

 Com a institucionalização progressiva da República, começa a assumir-se como o


centro de maior importância política.
 A partir do séc. I d.C., no Principado o poder legislativo deslocou-se das assembleias
para o Senado.
 A partir do séc. II, com Adriano, o Princeps acolhia todas as propostas orais e escritas,
logo a aprovação senatorial era uma simples formalidade.
 A partir do séc. III o Princeps passou a legislar diretamente através das constituições
imperiais.

Nem todos os senatusconsultos tinham valor normativo pois tinham também funções judiciais,
financeiras, sociais e religiosas.

Estrutura:

 Praefatio: nome do magistrado que convocou o Senado e dos senadores que


contribuiram para a redação do senatusconsuto, o lugar e a data de deliberação.
 Relatio: contemplavam-se os motivos do senatusconsulto, a proposta formulada e a
resolução final.

Para se designar um sentusconsulto fazia-se referência ao nome do magistrado proponente,


do Pinceps ou da pessoa que deu motivo à decisão.

24. Constituição imperial

Segundo Gaius, era aquilo que o imperador constitui por crédito ou edicto ou epístola.

No começo do Principado, o Princeps não tinha funções legislativas, tornando-se, no


Dominado, o único criador de Direito, sendo as constituições imperiais a única fonte jurídica.

Os séc. I e II d.C. são de transição, convertendo-se a atividade legislativa do Senado numa mera
formalidade, esgotando-se as outras fontes de Direito.

 Necessidade de afastar dúvidas sobre qual o Direito a aplicar


 Adriano com o Edictum Perpetuum (130 d.C.), retira ao pretor a atividade invadora,
ficando o Princeps com atividade legislativa.
 As constituições imperiais começam no séc II a ter valor prático de leis.
 A partir do séc. III adquirem valor de lei.
 Com Diocleciano no Dominado, no incicio do séc. IV d.C., a constituição imperial é a
única fonte de Direito.

Modalidades principais:

 Edicta: disposições gerais do imperador.


 Decreta: sentenças proferidas pelo imperador nos processos cognitórios, primeiro so
valendo para o caso concreto e depois com aplicação análoga.
 Rescripta: respostas a consutas jurídicas dirigidas por magistrados, funcionários ou
particulares apenas para o caso concreto
 Mandata: instruções emitidas pelo imperador em materia administrativa, sendo os
destinatários os governadores das provínciais.

As normas so princips não integravam o ius honorarium mas apenas o ius civile. As
constituições imperiais arrancaram as bases de vários institutos e princípios da época
justinianeia , passando para o Direito moderno.

25. Jurisprudência
Ciência do Direito tendo a função de revelar, desenvolver e adaptar o Direito ás exigências de
cada momento. O prudente não era apenas o conhecedor do Direito mas sobretudo o seu
criador.

Funções:

 Respondere: resolver questões jurídicas através da emissão de pareceres (responsa)


dados a partculares ou magistrados, emitidos oralmente.
 Cavere: calcular. Aconselhar os particulares quanto ao modo de realizaçao dos seus
negócios jurídicos.
o Palavras a utilizar
o Cláusulas a empregar
o Teor dos documentos escritos que deviam redigir
 Agere: aconselhamento dos particulares em matéria de formalismo, terminologia e
prazos processuais.

Os prudentes cuidaram de determinar o justo e não o politicamente correto, tendo por base
elementos metajurídicos fornecidos pela Teologia (ciencia das coiss divinas) e pela Filosofia
(ciencia das coisas humanas).

 Ela começou na época arcaica, era uma atividade sagrada confiada aos pontífices,
guardas dos mores (patrícios, ricos porque não era remunedaro).
 A laicização progressiva com a Lei das XII Tábuas, a publicação da compilação das
ações legais e o começo do ensino publico so Direito, touxe gente não patrícia.
 Na República a jurisprudência é eminentemente criadora e tem como suporte a mera
auctoritas (saber socialmente reconhecido) que os investia de honra para serem
conhecidos como iuris periti e como principes civitatis.
 Os prudentes recusavam receber qualquer tipo de remuneração.

Os prudentes desempenhaam uma importante função junto dos pretores, respondendo e


contribuindo para elaboração dos edicta.

Jurisconsultos destacados:

 Aelius: cônsul e autor da Tripertita obra onde se inclui a Lei das XII Tábuas e asua
interpretação assim como um conjunto de legis actiones utilizáveis em litígio.
o Marcou a transição de uma orientação casuística (situaçoes concretas) para
uma orientação sistemática (grupo de casos).
 Scaevola: cônsul e pontifex maximus.
o Primeiro tratado sistemático do ius civile, iuris civiles libri decem octo.
 Aquilius: pretor e criador de institutos jurídicos como a actio doli ou a stipulatio
aquiliana.

A jurisprudência atinge o seu apogeu na época central (Principado): desenvolve o ius


conciliando as exigências casuísticas com as regras e princípios gerais para responder às novas
necessidades do tempo. Participavam na elaboração de senatusconsultos e de constituições
imperiais contriuindo para dotar o ius civile de maior elasticidade, delicadeza e elegância.

 O Princips coarctava-o.
 Autoridade política: Augusto concedeu a alguns jurisconsultos ius respondendi ex
auctoritate principis, o direito de responder a solicitações concretas com a autoridde
política do Princeps, impondo-se ao próprio juíz.
 Autoridade legal: Adriano regulamentou a função legal da jurisprudencia. O Juís só era
obrigado a seguir as responsa dos prudentes investidos do ius respondendi ex
auctoritate principis desde que elas fossem coincidentes.
o Se não fossem, poderia escolher livremente a orientação mais correta,
conforme à justiça

Lei das citações: Teodódio II e Valentiniano III- vinculação judicativa às obras de 5 autores
(Paupinianus, Paulus, Ulpinianus, Modestinus e Gaius).

A liberdade volta a ser restringida com o Corpus Iuris Civilis (apenas estes textos tinham valor
de lei).

Duas escolas:

 Escola Proculeiana: a mais inovadora. Fundada por Labeo, pretor no tempo de


Augusto, recusou a magistratura de cônsul para se dedicar ao estudo.
o Destaca-se também Proculus, discipulo de Labeo e comentador da sua obra.
o Pomponius: jurisconsulto compilador reuniu as doutrinas mais importantes da
jurisprudência clássica até ao seu tempo.
 Escola Sabiniana: mais conservadora. Principiada por Capito que exerceu várias
magistraturas procurando rivalizar com Labeo mas teve sempre menos influência,
talvez por ter escrito pouco.
o Sabinus: escreveu Tres Libri Iuris Civilis comentados por juristas ultriores. Foi o
primeiro jurista não patrícia a ser agraciado com o ius respondendi ex
auctoritate princips.
o Salvius Iulianus: o maior jurisconsulto romano. Por vezes tinha posições típicas
da escola Proculeiana. Integrou o Consilium Princips e foi autor do Edictum
Perpetuum (responsável pela criação do direito pretório, indicando
decadência)
 Gaius: pouco se sabe, a ela se devem as institutiones (elevado valor expositivo e
didático)
 As duas escolas extinguiram-se no final do séc. II d.C.

Época clássica tardia:

 Papinianus: foi praefectus praetorio (2º personagem do Estado). Muito íntegro,


acusou o imperador de fraticínio. Obra com muita sobriedade, apenas exprimia o
essencial. Contribui para a humanização do ius civile.
 Paulus: Colaborador de Papinianus e membro do consilium principis (aconselhava o
imperador). Autor prolífico, deixou mais de 90 obras e demonstra agudeza e
independência de factores externos.
 Ulpianus: praefectus praetorio e membro do consilium principis tinha grande cultura
jurídica e filosófica, grande sintetizador. Legou 2462 fragmetos espalhados pelo Corpus
Iuris Civiles.
 Modestinus: discipulo de Ulpianus.

A partir do séc. IV a ciência da criação jurídica romana encontra-se em fraco declínio.


 Confusão no direito
 Vulgarização do Direito Romano sobretudo no ocidente
 Já não já jurisprudência viva mas sim escolas que recorriam a glosas, glosemas e
resumos.

Escolas oficiais:

 Roma, Beirute (a mais importante pelo contribuito da Digesta) e Constantinópola.


 Até aos séc. III quem queria ouvir o jurisconsulto tinha de se deslocar ao seu
estabeleciemento.
 Razões para a sua criação:
o Necessidade de existência de muitos juristas (extensão da cidadania)
o O Direito começa a dar muita saída
o Os juristas famosos estavam absorvidos pela cancelaria imperial

Capítulo IV- Compilações

26. Compilações Pré Justinianeias

Nos princípios do séc. IV d.C. a ciência jurídica em Roma entrou em decadência, esgotando-se
a jurisprudência e sendo incerto o Direito aplicável. Havia necessidade de promover e
organizar compilações dos melhores textos jurídicos.

 Compilações Justinianeias exclusivas de iura tendo todas elas, exceto Pauli Sententiae
a influência de Gaius.
o Pauli Sententiae: pequena exposição de Direito Romano com base nas obras
do jurisconsulto clássico Paulus.
o Epitome Gaii: síntese de três primeiro livros das Institutiones de Gaius, da
autoria de uma escola gálica.
o Gaio de Autun: resumo das institutiones de Gaius com propensão didática.
o Ulpiani Regularum Liber Singularis ou Tituli ex Corpore Ulpiniani: não é uma
compilação baseada numa obra de Ulpinianus mas sim uma obra que tem por
base as institutiones de Gaius, um obra elemtentar.
o Res Cottidianae ou Libri Aureorum Gai: exposição decalcada das institutiones
de Gaius e de alguns segmentos de Ulpianus e de Paulus. Feita por um
discioulo de Gaius.
 Compilações de constituições imperiais:
o Codex Gregorianus: compilação privada devida a Gregório, feita no oriente.
Reúne as constituições imperiais desde Adriano a Diocleciano, todas
ordenadas cronologicamente ao longo de 15 livros subdividios em títulos.
o Codex Hermogenianus: é uma compilação privada realizada por
Hermogenianus no Oriente. Reune num só livro constituições de Diocleciano,
completando a compilação anterior.
o Codex Theodosianus: primeira compilação de carater oficial. Reune
constituições imperiais promulgadas em 313 e 438, ordenadas
cronologicamente ao longo de 16 livros, subdivididos em títulos. Foi
promulgada no Oriente por Teodósio II e no Ocidente por Valentiniano III.
 Compilações mistas:
o Fragmenta Vaticana: compilação privada reune as obras de Papinianus, Paulus
e Ulpianus e, por outro lado, constituições imperiais, sobretudo de
Diocleciano. Elaborada no Ocidente com fins práticos e escolásticos.
o Collatio legum mosaicarum at romanorum: comparação entre princípios
fundamentais do Direito Moisaico e do Direito Romano com o objetivo de
mostrar que O Direito Romano procedia das leis moisaicas. Contém textos de 5
juristas da Lei das Citações e algumas constituições imperiais retiradas das
compilações de leges antes referidas.
o Consultatio veteris iurisconsultis: desenvolvida na Gália. Contém constituições
imperiais retiradas as compilações de leges referidas e também textos das
Pauli Sententiae.
o Livro Siro-romano: manual didático de Direito Romano compsoto por um
cristão numa província oriental do império. Exposição de ius civile com
modificações a partir de Constantino. Foi traduzida para árabe vendo vigorado
em vários países arábicos.
o Scholia Sinaitica: conjunto de breves comentários em grego aos livros 35 a 38
da obra de Ulpiano. Referências a outros juristas e constituições de algumas
compilações já mencionadas.
 Leis romano-bárbaras: coletâneas de testos de Direito Romano organizadas por reis
bárbaros nos Estados germânicos europeus, após as invasões.
o Breviarium Alarici ou lex romana wisigothorum: promulgada por Alarico e
esteve vigente na Península Ibérica, França, Alemanha e Inglaterra. Resumo
das institutiones de Gaius e textos de Paulus e de Papinianus, assim como
constituições imperiais das várias compilações pré-justinianeias.
o Lex romana Burgundionum: promulgada pelo Rei burgúndio Gundobado para
a população romana do sul de França. Fragmentos das compilações pré-
justinianeias, novelas pós-teodosianas, institutiones de Gaius e Sententiae de
Paulus.
o Edictum Theoridici: compilação promulgada pelo rei ostrogodo Teodorico que
se considerava governador da Itália e representante do Imperador do Oriente.
Tem por base as mesmas fontes das demais leis romano-bárbaras e é
destinada a romanos e bárbaros, pretendendo uma fusão dos dois povos.

27. Corpus Iuris Civiles

Concretizar de uma velha aspiração romana: reunir num só corpo e sem misturas, um
conjunto de iura e leges.

 Paternidade: Imperador Justiniano


 Execução prática: Triboniano
 Denominação actual: Dionísio Godofredo, publicou-o em 1583 em Genebra.

Necessidades da época:

 Acabar com a confusão na prática judicial


 Dificuldade de apreender e compreender toda a produção legislativa e jurisprudencial
anterior
 Premência da resolução de divergências jurisprudenciais e dúvidas de séculos
anteriores
 Vontade de expurgar os vestígios do paganismo do Direito Romano anterior.

Codificação vs Compilação:

 Apesar de certo caráter orgânico e unitário e dos cuidados empregues na sua


realização, ainda não é uma codificação.
 Codificação: transformação, muda-se o Direito.
 Compilação: reunião de excertos e de textos de diversas origens num só documento
com objetivos pragmáticos de consolidação jurídica (finalidade legislativa e didática)
 Codificação e compilação, em sinto amplo, são o mesmo, em sentido técnico não.

Partes:

 Institutiones: a segunda a ser publicada. É um manual elementar de Direito Romano


destinado aos estudantes que principiam os seus estudos.
o Tem por base as institutiones de Gaius e as Res Cottidianae bem como
instituições de outros autores clássicos.
o Elaboração confiada a Trinoniano, Teófilo e Doroteu.
o Publicada em 21 de Novembro de 533 pela Constituição Imperatoriam
maiestatem, adquirindo força de lei com a constituição Tanta.
o Três grupos: pessoas, coisas e ações ao longo de 4 livros ordenados por títulos
e subdivididos em parágrafos.
 Digesta ou Pandectae: primeira a ser publicada. Compilação de fragmentos das obras
dos principais jurisconsutos clássicos.
o Era suposto recorrem a 16 jurisconsultos todos investidos de ius respondendi
ex auctoritate principis.
o Margem de discricionariedade: objetivo prático e legislativo sem preocupação
de preservar o pensamento histórico dos antepassados, autorização para fazer
todas as interpolações necessárias.
-Coligir os fragmentos que considerassem melhores
-Suprimir o supérfulo ou caído em desuso
-Eliminar antinomias e semelhanças desnecessárias
-Adaptar os textos às novas circunstâncias
o Tem 50 livros ordenados em títulos subdivididos em fragmentos e estes em
parágrafos.
o Foi publicada e obteve força de lei com a constituição Tanta em 16 Dezembro
de 533.
o Substituiu todos os livros jurídicos nas escolas e tribunais.
 Codex: terceiro a ser publicado. Compilação de leges desde Adriano até Justiniano.
o 12 livros ordenados em títulos subdividios em leis cronologicamente
ordenadas.
o Puplicado pela Constituição Cordi em 16 Novembro de 534.
 Novellae: quarto a ser publicado. Constituições imperiais promulgadas depois do
Codex. Não existe uma versão original mas temos acesso a três coletâneas privadas:
o Epitome Iuliani Novellarum: 122 constituições por ordem cronológica de 535
a 555. Atribuidas a Juliano. Publicado em versão latina para vigorar em Itália
dada a conquista parcial da Península Itálica (norte).
o Authenticum: 134 novelas de 535 a 556 ordenadas cronologicamente
transcritas em grego e traduzidas em latim. Duvidosa a sua autenticidade hoje.
o Coletânea Grega: a mais importante com 168 novelas quase todas em grego.
Pertence a Justiniano, Justino II e Tibério II e ao seus praefectus praetorio.
Grande infuência no mundo bizantino.

Poder político a controlar e cristalizar o ensino e a rodução doutrinária:

 Promulgação de um manual para o ensino jurídico e de soluções criadas pelos


jurisconsultos
 Estabeleceu quais os jurisconsultos citáveis
 Interveio sobre os proprios textos
 A concentração do poder político trouce a centralização da vida jurídica e o controlo so
ensino.

Justiniano foi, mais do que grande jurista, um grande legislador.

28. Compilações Pós-Justinianeias

Justiniano proibiu que se fizessem comentários ao Digesto.

 Opinião comum: proibição absoluta


 Sebastião Cruz : proibição relativa.
 Proibiu-se comentários extensos e com força de lei
 Substituição pelo Digesto de todos os livros jurídicos nas escolas e tribunais
o Traduções para Grego
o Observações para elucidar títulos
o Análise científica das suas disposições (interpretatio).

No entando, as necessidades da prática e do ensino impediram a consecução do propósito de


Justiniano. Surgem glosas, índices, traduções e obras monográficas.

 Paraphrasis Institutionum: comentário em grego das Institutiones atribuído a Teófilo


que participava na elaboração das Institutiones que integravam o Corpus Iuris Civiles.
 Ecloga legum: súmula em grego das obras de Justiniano e de outras disposições
posteriores versando principalmente sobre relações familiares.
 Procheiron e Epanagoge: ambas são sínteses de Direito justinuaneu para uso nos
tribunais mandas fazer por ordem imperial.
 Basílicos: recompilação oficial das compilações justinianeias e das novelas realizada no
Oriente por ordem de Leão, o Filósofo para completar a obra de seu pai, Basílio, o
Macedo.
o Acrescentados, século X, os Escolios: extratos de textos de jurisconsultos dos
séc. VI e seguintes.
o Possui a vantagem de reunir num só corpo textos de diversas compilações que
se referem a um único caso.
 Hexabiblos: manual de Direito Romano bizantino feito em 1345 por um Juíz de
Tessalónica, Constantino Harmenópulo. Divido em 6 livros e compreendia o Direito
vigente à época.
o Vigorou na Grécia até ocupação turca em 1835, mostrando como eprdurou o
Direito Romano bizantino na Europa Oriental.

Capítulo V- Supervivência do Direito Romano

29. Preliminares
Como é possivel ter perdurado durante tanto tempo em tantos povos?

 Explicações de cariz histórico-político: paixão pelo império perdido e procura de novos


monarcas em encontrar no Direito Romano um sólido ponto de apoio para a
centralização do seu poder.
 Explicações de cariz económico: utilizado nas transações internacionais
 Explicações de cariz religioso: Direito Canónico progride utilizando soluções de Direito
romano
 Explicações de cariz cultural: sucessivos renascimentos da cultura clássica
o Séc. IX, XII, XV
 Reconhecida perfeição técnico-jurídica do Direito Romano (soluções jurisprudenciais
clássicas, soluções casuísticas, justiça e equidade)

Porém, no Ocidente vulgariza-se e adormece entre VI e XI para depois resnacer no séc. XII para
ser a matriz dos Direitos dos novos Estados da Europa Ocidental.

No Oriente continua a ser aplicado mesmo com presença turca.

30. No Oriente

Apesar da proibição de Justiniano de se fazer comentários ao Digesto, as necessidades


conduziram a vários comentários (enumerados atrás).

Na Grécia, os textos normativos justinianeus e pós justinianeus vigoraram quer durante a


ocupação turca quer após a libertação, sucedendo o mesmo na Bulgária, Sérvia e Rússia.

Foi também aplicado em vários países árabes pelo Livro Siro-romano e também em países
como a Turquia e Japão pelos Códigos Civis ocidentais, profundamente romanizados.

31. No Ocidente

Invasões bárbaras: coexistência do Direito Romano com os Direitos dos invasores de base
consuetudinária. Direito das pessoas ou do território?

 Escola dos Glosadores: fundada por Irnério, séc. XII em Bolonha, retoma do interesse
ds compilações justinianeias.
o Utilizavam a Glosa como instrumento de trabalho.
o Fizeram renascer a importânica do Direito romano justinianeu
o Bolonha como centro cultural com alunos de todo o velho continente.
 Escola dos Comentadores: séc. XIV com Bártolo. Utilizavam como instrumento o
comentário aos textos.
 Renascimento: séc. XVI, exaltação do humanismo e do classicismo. Novo método:
histórico-crítico.
 Escola racionalista do Direito natual: faz a cultura romana entrar em crise no séx.
XVIII, considera o Direito produto da razão humana igual para todos os povos e comum
para todos os tempos.
o Nesse século há quem tente recuperar o Direito Romano para o adaptar aos
tempos correntes: usus modernus pandectarum.
 Escola Histórica do Direito: séc. XIX, tenta adaptar cientificamente o Direito Romano à
atualidade na sua vertente historico-crítica.
 Código civil alemão: triunfo da dogmática, estudo do Direito romano consolida-se
enquanto ciência histórica seguindo o método histórico-crítico (textos que importam
reconstituir).

O Direito Romano nunca deixou de se estudar no Ocidente. Os atuais códigos positivos são
legados romanistas. Ele é de grande importância para a formação de todo e qualquer jurista.

Capítulo VI- instituições de Direito romano

32. Introdução. Breves referência à familia romano germânica

Formou-se na Europa e acabou por penetrar a América Latina, as zonas de África que não
pertencem à família muçulmana ou à família da Common Law e várias zonas da Ásia.

A unidade da família de direitos romano-germânicos fez-se através do estudo e aplicação do


Corpus Iuris Civiles.

 O direito dos países pertencentes à família romanogermânica (entre os quais


destacamos Portugal, França e Alemanha) teve a sua base no Direito Romano.
o Isto é notório mesmo no caso da Alemanha, em que a influência romana foi
geograficamente limitada (com efeito, a fronteira do Império Romano
englobava as atuais zonas sul e oeste da Alemanha, mas excluía as zonas norte
e oriental) e nem por isso o ordenamento jurídico deixa de ser profundamente
romanista
 Apresenta um Direito codificado, em que a lei é a fonte de direito primacial, com
prevalência sobre as demais.

33. Imugnação Pauliana em Roma e na atualidade


A) Impugnação Pauliana em Roma

Teve o seu antecedente histórico na restitutio in integrum: “um expediente utilizado pelo
magistrado que, por motivos de equidade, declara não reconhecer os efeitos a um facto ou
acto jurídico plenamente válido e eficaz segundo o ius civile. É provável que tenha surgido
depois da Lex Aebutia de formulis (do ano 130 a. C.) porque se apoia num amplo poder do
magistrado e a sua actuação contraria o ius civile.”

Concessão da restitutio in integrum:

 Produção de um prejuízo, consequência da rigorosa aplicação do ius civile.


 Existência de uma causa justificativa
o Editum do pretor urbano: beneficiava os credores prejudicados por actos que
o devedor praticou com a intenção de fraudulentamente criar ou aumentar a
sua insolvência.
 Inexistência de meios jurídicos que permitam reparar o prejuízo sofrido (actiones)

Não é qualquer empobrecimento do devedor, mas sim empobrecimento do devedor que


origine uma fraude (prejuízo doloso) ao credor.

 dolo (dolus) – Num sentido amplo, dolus significa a intenção má de prejudicar outrem,
isto é, não só a vontade de realizar o ato mas também a consciência de que esse ato é
lesivo dos direitos ou interesses de outrem; verifica-se um ilícito intencional;
 Fraude (fraus) – é um prejuízo doloso. Portanto, na fraude há dois elementos: prejuízo
(ou dano) e dolo (ou vontade e consciência de prejudicar);
 Má fé (mala fides) – traduz-se aqui na consciência da fraude, isto é, no caso concreto
da r. i. i. ob fraudem creditorum, conhecimento bem consciencializado da fraude
(prejuízo doloso) causada ao credor.

B) Impugnação Pauliana na atualidade

Prevista nos artigos 610º a 618º do atual Código Civil.

 Exige que o acto envolva diminuição da garantia patrimonial, isto é, diminuição dos
valores patrimoniais que, nos termos do artigo 601º, respondem pelo cumprimento da
obrigação.
o É necessário que resulte do acto a impossibilidade para o credor de obter a
satisfação integral do seu crédito, ou o agravamento dessa impossibilidade.
o O crédito seja anterior ao acto ou, sendo posterior, tenha sido o acto realizado
dolosamente com o fim de impedir a satisfação do direito do futuro credor.
 Sendo o acto oneroso, a impugnação só é legítima se devedor e terceiro tiverem agido
de má fé; se o acto for gratuito, a impugnação procede, mesmo que um e outro
tenham agido de boa fé.
 É necessário, em primeiro lugar, que possa ser impugnada a primeira alienação (nº 1,
alín. a)).
o Não o podendo ser, não se justifica a impugnação da subsequente, sob pena
de se criar um grave e injusto gravame para o primeiro adquirente de boa fé.
o Em segundo lugar, em relação a esta, é necessária a má fé tanto do
transmitente como do adquirente, se a transmissão for a título oneroso (nº1,
al. b)).
o Por exclusão, sendo a transmissão a título gratuito, basta a verificação do
requisito da alínea a).

34. Servião predial em roma e na atualidade


A) Servião predial em Roma

Provêm de acordos primitivos precariamente celebrados.

Designadas servitutes ou iura praediorum: direitos reais sobre coisas alheias e a sua disciplina
jurídica conferia-lhes autonomia e individualidade próprias. Satisfaziam necessidades de um
prédio (dito dominante), permitindo ao seu titular determinadas actividades no prédio
onerado (dito serviente) ou impondo ao proprietário deste a abstenção de certas práticas: na
primeira hipótese, a servidão dizia-se positiva; na segunda, negativa.

 Rústicas: mais antigas. Facilitavam a produtividade dos prédios.


o Servidões de passagem
o Servidões de água
 Urbanas: origem mais tardia, destinavam-se a proporcionar uma habitação mais
cómoda.
o servidões de estilicídio
o servidões de parede
o servidões de luz

Características:
 inseparabilidade (a servidão é insuscetível de alienação independentemente do fundus
dominante)
 indivisibilidade (a servidão subsiste integralmente se os fundi dominante e serviente
forem divididos)

B) Servidão predial na atualidade

Encargo imposto num prédio em proveito exclusivo de outro prédio pertencente a dono
diferente. Pode ser constituída por contrato, testamento, usucapião ou destinação do pai de
família.

 é um encargo (constitui uma restrição ou limitação ao direito de propriedade sobre o


prédio dito serviente);
 recai sobre um prédio (é uma restrição ao gozo do prédio serviente, inibindo o seu
proprietário de praticar os actos que possam prejudicar o exercício da servidão);
 beneficia outro prédio dito dominante;
 os prédios (serviente e dominante) devem pertencer a donos diferentes.

Características:

 inseparabilidade: a servidão, enquanto direito real limitado, está ligada a um prédio e


dele não poder separar-se, não pode ser cedida independentemente do prédio a que
respeita.
 Indivisibilidade: a divisão dos prédios, seja do prédio dominante, seja do prédio
serviente, não pode atribuir a cada parcela direitos mais amplos ou impor maiores
encargos do que os que lhe correspondiam antes da divisão.
 conteúdo atípico: as servidões podem ter por objeto quaisquer utilidades, ainda que
futuras ou eventuais, suscetíveis de ser gozadas por intermédio do prédio dominante,
mesmo que não aumentem o seu valor (principio da atipicidade do conteudo das
servidões).
 ligação objetiva: a servidão tem necessariamente de incidir sobre um prédio em
benefício de outro. Por isso, se se tratar da fruição de utilidades em benefício pessoal,
e não por intermédio de um prédio dominante, estaremos perante uma relação
obrigacional

Classificação:

 servidões voluntárias: constituídas por negócio jurídico ou ato voluntário


 servidões legais: Aquelas cuja vida percorre dois momentos sucessivos:
o no primeiro, o seu titular tem um direito potestativo que lhe confere a
faculdade de constituir uma servidão sobre determinado prédio,
independentemente da vontade do seu dono;
o no segundo, exercido este direito, a servidão legal converte-se numa
verdadeira servidão

Oliveira Ascensão prefere chamar, à servidão legal, servidão coativa, pois a servidão legal não
tem que ser coativamente imposta, mas sim ser passível de o ser.

35. Conclusão

O estudo que aqui fazemos não é um estudo comparativo, nem acabado, mas antes
incompleto, pois não foi analisado aqui todo o regime jurídico de tais institutos.
 Apenas se salienta a importância do estudo do direito romano para efeitos da
compreensão destes e de mais institutos do direito civil português atual, na medida
em que muitos deles têm origem romana.

Parte II- Elementos de História do Direito Peninsular


Capítulo I- Período Primitivo

Periodização com base no critério étnico: há tantas épocas quantos os povos dominantes.

O Direito Peninsular condiciona e entrelaça-se no direito português dada a falta de


sincronismo entre a independência política de um Estado e a plena autonomização do seu
direito (o primeiro direito português é o de Leão).

1. Característica básica. Fontes de conhecimento

Período primitivo ou ibérico precede a dominação romana da Península Ibérica. É paralelo à


época arcaica (critério juridico-interno).

 Diversidade: etnias, cultuas, religiões, arganizações políticas, económicas e jurídicas.


 Dada a escassez das fontes, poucas instituições chegaram aos nossos dias. Muitas
estavam escritas em línguas desconhecidas.
 A reconstituição fragmentária deste período teve por bases textos parcelares (por
vezes dissonantes) da autoria de historiadores e geógrafos gregos e latinos. São uma
breve documentação da perspetiva de estrangeiros.
o Políbio, Estabão, Júlio César e Tito Lívio.

2. Povos anteriores à conquista humana


2.1.Principais Povos autóctones

Autoctones- naturais do sítio onde se vive.

A multiplicidade étnica traduzia-se em enormes disparidades culturais e de desenvolvimento


económico entre povos peninsulares primitivos (o litoral era mais vantajoso).

 Tartéssios: destacam-se os Turdetanos, são o povo mais culto e evoluído da Península


que estava estabelecido na bacia do baixo Guadiana.
 Iberos: destacam-se os Cantábricos que ocupavam inicialmente a orla oriental mas
expandiram-se para o interior. Iberos acabou por designar os povos ibéricos em geral.
 Celtas: sobressairam os Galaicos (Minho e Sul do Tejo), fixaram-se no Noroeste e
Sudoeste da Península Ibérica.
 Celtiberos: destacam-se os Lusitanos e assumiram-se um dos grupos mais importantes
da Península.
 Franco-Pirenaicos: evidenciaram-se os Vasconsos e tiveram um significativo
desenvolvimento cultural, estabelecendo-se nas regiões de Navarra e País Basco.

2.2.Colonizações estrangeiras
 Fenícios: comerciantes e navegadores do Mediterrâneo oriental, dominaram este mar
entre IX e VIII a.C.. Fundaram várias colónias e feitorias (Cádiz). O declinio deste povo
deu-se nos séc. VII e VI a.C..
 Gregos Focenses: originário da Foceia, na Ásia Menor. Vêm à Peninsula por interesses
comerciais: Andaluzia oriental, Baleares e fundaram Marselha.
 Cartagineses: fixados em Cartago, uma das mais fortes e ricas cidades mediterrânicas
e tinham supremacia económica e política com os Gregos Focenses. Superaram os
Gregos pela luta armada e fundação das colónias. As ligações comerciais com a
Península remontam ao séc. VI a.C.. Fundaram a cidade de Cartagena (centro difusor
de cultura). Deram início a uma conquista territorial e penetração nas zonas interiores.
O declínio dá-se com a Guerra Púnica.

3. Organização política e social


3.1.Organização política

A Península tinham uma multiplicidade de unidades políticas, mesmo dentro de cada grupo
étnico de reduzidas dimensões.

 Há duvidas quanto à unidade política: tribo ou cidade?


o A tribo preponderava enquanto forma de organização política.
o As tribos podiam ser clãs ou povoados.

Estados-tribo Cidade Gentilidades Famílias

 As Clãs eram pequenas comunidades criadas em torno de vínculos familiares.


 Os Povoados eram grupos locais.
 Ambas eram círculos fechados de considerada autonomia, tendo pouco contacto com
o exterior:
o Acordos de clientela: um grupo concedia proteção a membros de outras
comunidades que ficariam na sua dependência.
o Acordos de hospitalidade: carater paritário, não incluiam vínculo de
subordinação.
 Preponderavam monarquias hereditárias ou vitalícias e repúblicas aristocráticas.
o Assembleias populares e assembleias aristocráticas com configuração
representativa.

Confederações e subordinações de Estados

 Estado como conjunto de células territoriais mais ao menos autónomas.


 As confererações surgia quando era necessário fazer frente a um inimigo comum.
 O domínio e anexação de tribos e cidades originava um império, como Tartéssio
o Subordinação de várias unidades políticas à cidade-metrópole de Tartessos.

3.2.Classes sociais
 Homens livres: titulares de uma verdadeira e própria personalidade jurídica
o A classe privilegiada destacava-se da maioria da população que ocupava uma
posição social inferior
o Nobilies, principes, primores e maximi natun : pela sua linhagem, riqueza, força
militar ou desempenho de cargos públicos, gozavam de um satus social de
poder.
o A grande maioria dos homens livres eram plebeus ou homens do povo suja
classe social e económica não era homogénea.
o Muitos socorriam-se das relações de clientela estabelecidas com os mais
poderos. Implicavam um forte vínculo de dependência que unia o patrono ao
cliente.
-proteção económica e social do cliente
-obrigação absoluta de lealdade e submissão, tendo a liberdade pessoal
fortemente limitada.
 Escravos: reduzidos ao estatuto de coisas, sendo objetos do Direito.

4. Direito peninsular pré-romano

Impera a diversidade- conjunto de sistemas jurídicos que serviam os diferentes povos


peninsulares antes da conquista romana da Península.

 Eles não foram eliminados pela dominação romana, perduraram no tempo através da
continuidade das suas instituições e princípios próprios.

4.1.Direito dos povos autóctones

Fontes de Direito

 Principalmente de natureza consuetudinária.


 Pactos de hospitalidade: equiparação de direitos a todos ou a parte dos membros,
sendo as relações reguladas por normas jurídias proprias.
 Leis: sul e leste da Península, zonas de maior progresso cultural e social dada a
influência dos colonizadores estrangeiros.
o preceitos consuetudinários reduzidos a escrito para garantir maior solidesz e
publicidade
 Mistura entre jurídico e religioso
 Manifestações legislativas reduzidas e localizadas

Instituições jurídicas:

 Dúvidas e incertezas.
 Dois métodos de investigação:
o Método comparativo: reconstituição de instituições de um determindado
povo primitivo através de elementos conhecidos de outro, servindo-se de
caracteristicas que lhes são análogas.
-Método dedutivo: parte de outros elementos e depois particulariza-se.
-instituições conhecidas dos Celtas em França e na Irlando ou dos Iberos do
Norte de África.
Fragilidades: meras aproximações que podem levar a uma visão desajustada.
o Método das sobrevivências: conhecimento de um determinado período
histórico através da procura dos seus vestígios em épocas posteriores.
-Se não é dos periodos conhecidos, então, provavelmente será do período
desconhecido.
-Fragilidades: não permite determinar com absoluta segurança a rigem de uma
instituição.
 Organização familiar:
o Predomínio da família monogâmica e patrialcal
-Exceções no Norte da Península: sistema matriarcal.
 Há quem diga que os Vaceus (povo do centro da Península) organizavam a sua
economia em torno de um regime de propriedade agrária do tipo coletivo.
 Contexto judicial: os mais jovens Tartásios não podiam testemunhar contra o mais
idoso.
 Direito penal: rudeza e violência das sanções com legitimação mitológica e religiosa.

4.2.Direito dos povos colonizadores

Praticamente não existem vestígios do Direito das comunidades dos Fenícios, dos Gregos
Focenses e dos Cartagineses, dizendo-se ser análogo ao das respetivas metrópodes sediados
no Mediterrâneo Oriental.

 O costume seria uma importante fonte de direito embora se registe uma forte
componente legislativa.
 Dominação cartaginesa: ocupação terriorial efetiva. Dualidade jurídica:
o Direito cartaginês: direito dos conquistadores e de toda a organização pública
o Direito autóctone: direito dos povos submetidos que não podia contrariar o
cartaginês.
 Influências recíprocas, sendo mais obvia a influência dos direitos mais desenvolvidos
dos colonizadores.
o Efiteuse: forma particular de domínio sobre as coisas.

Capítulo II- Período Romano

 Fase de conquista: expulsaram os cartagineses, subjgaram os povos peninsulares e


extrairam inúmeras riquezas.
 Fase de romanização: procuraram integrar a populações subjugadas na civilização
romanam promovendo homogeneização económica, política, administrativa e jurídica
do Imperio.
 Não são fases completamente separadas: em plena fase de conquista houve
adaptação lenta e pregressiva dos indígenas à civilização romana. Na fase de
rmanização, os romanos não esqueceram os interesses económicos e militares.

5. A conquista da Península pelos Romanos


 Primeiro momento: II Guerra Púnica, os romanos desembarcam nas colónias
peninsulares dos cartagineses cujos exercitos haviam invadido Roma.
 Segundo momento: lutas civis entre Mário e Sila, lutas pela independência nas
províncias.
 Terceiro momento: concluiu a conquista plena da Península com o render dos povos
cantábricos e ástures, com Augusto.

6. A romanização da Península

Quando completamente dominado e pacificado o território peninsular iniciou-se uma


verdadeira romanização metódica e intensiva dos povos autoctones.

 Assimilação lenta e gradual da cultura e civilização romana pelos povos indígenas.


 Concessão da latinidade aos habitantes da Hispânia (Vespasiano)
 Concessão da cidadania romana a todos os subditos do império (Édito de caracala na
constituição Antonina).

6.1. Assimilação da cultura e da civilização dos Romanos pelos povos autoctones


 Acção das legiões romanas: permaneceram por muito tempo na peninsula dadas as
insurreições constantes. Acabaram por desenvolver relações mercantis e de prestação
de serviços entre uns e outros. Os colonos iam impondo os seus hábitos e a
aprendizagem da língua.
 Acção dos funcionários administrativos e dos colonos: além dos funcionários
administrativos, muitos colonos eram atraídos em busca de fazer fortuna no comércio,
industria ou negócios.
 Abertura de estradas: servia fins estratégicos (militares) e objetivos económicos e
políticos.
 Superioridade da técnica romana: constução de infraestruturas com a colaboração de
indígenas que iam tomando contacto com a técnica romana.
 Desenvolvimento do regime municipal: cada cidade como uma pequena Roma.
 Culto religioso: do paganismo passou-se para o culto do imperador e de Roma e mais
tarde para a difusão do Cristianismo: religisão de vocação universal (não de um só
povo), baseado em relações fraternas.
 Latim como língua única: o latim providencial combinava elementos trazidos por
legionários, colonos e comerciantes romanos com formas alatinadas de vocábulos
indígenas primitivos.

6.2.Romanização jurídica

Inicialmente, os povos indígenas estavam sujeitos aos direitos nacionais. Depois pretendeu-se
abrange-los no ordenamento jurídico romano.

 Mais rápido e eficaz no Sul do que no Norte dadas as maiores dificildades de


comunicação e do caráter hostil dos seus povos.

Concessão de latinidade: Vespasiano outorga o ius latii aos povos peninsulares em 73 ou 74


a.C.

 Passou a dintinguir-se, entre os homens livres:


o Cidadãos romanos: capacidade jurídica plena face ao ius civile.
-No âmbito do Direito Privado, gozavam de ius connubii (contrair matrimónio
e constituir família legítima) e ius commercii (celebrar validamente negócios
jurídicos).
-No âmbito do Direito Público gozavam de ius suffragii (direito de votar nos
comícios), ius honorum (direito de exercer funções públicas, participar nas
magistraturas) e ius militiae (direito de servir nas legiões).
o Peregrinos: estrangeiros. Não cabia nenhum desses direitos. Inicialmente
eram hostes ou inimigos de Roma, eram os habitantes que apenas tinham
alguns direitos próprios como a liberdade pessoal (regem pelos seus direitos
nacionais) e acesso às instituições do ius gentium.
o Latinos: Categoria intermédia, semi-cidadania.
-Latinos antigos: originários do Lácio dispunham de ius connubii, ius
commercii e ius suffragii.
-Latinos junianos: classe de escravos libertos.
-Latinos coloniais: habitantes das províncias e tinham ius commercii e ius
suffragii
-Os latinos antigos e coloniais acediam á cidadania pelo desempenho de certos
cargos públicos. Poderia ser uma magistratura local (latinidade menor) ou
participação no senado local ou cúria (latinidade maior).
 O ius suffragii teve pouco impacto, muito dificilmente um latino peninsular estaria em
Roma na celebração de comícios romanos.
 O ius commercii fez com que as relações jurídicas dos latinos se passassem a reger
pelo Direito Romano, podendo recorrer a tribunais romanos.
 A partir do momento em que um habitante conseguia a latinidade, o estatudo de
cidadão estendia-se ao resto da família.

Concessão da cidadania:

Em 212, o imperador Caracala estendeu a cidadania romana a todos os habitantes do


império.

 À data, cerca de metade da população peninsular possuia a cidadania romana


 A outra metade estava agraciada pelo ius latii

7. Fontes de Direito Romano relativas à Península

Vigorava o Direito Romano de aplicação geral mas a distância impedia uma efetiva aplicação
daquele Direito.

 Ius providenciale: conjunto de normas do Direito público que disciplinavam as


relações entre províncias e Roma. Emanavam através de éditos e decretos de
magistrados, senatusconsultos e constituições imperiais.
 Abundavam as leis romanas relativas à fundação de colónias e municípios: Tábuas de
Aljustrel (Adriano).
 Os povos indígenas conservaram os seus costumes e preceitos tradicionais. O Direito
indígena era dominante nos meios rurais.
 Ius gentium: inicialmente regulava relações entre peregrinos e romanos e mais tarde
foi o direito comum a todos os povos.

8. Direito vigente na Península ao tempo das invasões germânicas. O Direito romano


vulgar

Época pós-clássica:

 Vulgarização do Direito Romano no Ocidente.


o Simplificação de conceitos
o Confusão de noções clássicasm
o Predomínio do aspeto prático
o Desordem na exposição das matérias
 No Oriente isto manifestou se mas foi travado por uma reação classicista que conduz
ao Corpus Iuris Civile.
 Vulgarização enquanto tendência prática: “deixa andar”, classicismo é intencional. A
vulgarização teve lugar nas províncias, não em Roma.
 Direito romano vulgar: produto misto com elementos romanos e autoctones.
o Descaracterização do sistema jurídico romano, já modificado
o Persistencia ou revitalização dos direitos locais ou regionais
o Não há um mas vários direitos romano-vulgares
Fatores para a descaracterização do Direito Romano:

 Generalização da cidadania: flixibilização do Direito Romano.


 Não existiam jurisconsultos e órgãos judiciais suficientes para a aplicação sistemática
do Direito Romano.
 Diferenças culturais das populações provinciais leva à não compreensão do Direito.
 A decadência do poder central leva a que tudo entre em crise, nomeadamente o
Direito.
 As instituições e princípios fundamentais prinvinciais não foram combatidos.

Isto satisfez as exigências da época ao permitir a adaptação da ordem jurídica às realidades


sociais. Facilitou tambem o encontro entre o Direito Romano e os Direitos dos povos
Germânicos. Permitiu a continuação de expressivos elementos romanísticos.

Capítulo III- Período Germânico ou Visigótico

9. Razão da ordem

Destaca-se o protagonismo dos Visigodos. A par deste povo, os Suevos, Alanos e Vândalos
ocuparam a península.

10. Os Germanos antes das invasões


A) Assentamento primitivo. Grupos em que se subdividiam

Os germanos eram um povo originário da Ásia e Europa Central, de raço indo-europeia que se
fixou nas margens do Mar Báltico.

A fragmentação aconteceu dados os fluxos migratórios devido a conflitos bélicos e à


necessidade de procura de recursos económicos.

 Germanos antigos ou ocidentais: sede no Mar báltico. O grupo mais numeroso.


 Germanos do norte: migraram para o Norte da Europa
 Germanos orientais: migraram para a Europa oriental.
 Alguns deste grupos estavam já individualizados antes das invasões bárbaras.
 Eram chamados de bárbaros porque eram alheios à civilização e à cultura do império,
mantendo relações de hostilidade.

B) Cultura, religião e direito

Eles chegaram até nós pelas obras de Júlio césar e de Tácito mas são obras que distam certa de
seis e cinco séculos face à época de invasões.

A conversão ao cristianismo por parte dos Visigodos e de outros povos germânicos determina
a sua mudança de cultura.

Os germanos eram menos desenvolvidos que os Romanos. O direito romano vulgar era muito
mais desenvolvido que o direito trazido pelos invasores.

11. As invaões germânicas e o início dos tempos medievais


A) Natureza e causas determinantes

As invasões foram um processo lento de penetração no Império Romano com início no séc. III
dado o enfraquecimento do poder de Roma.
 A idade média não pode ser vista como séculos de escuridão (conceção inventada pelo
iluminismo) pois tem grandezas e fraquezas.

Motivos das invasões bárbaras:

 Fatores económicos: o acréscimo da população germânica e a carência de meios de


subsistência e o esgotamento do solo ocupado.
 Fatores étcnicos: carater guerreiro e aventureiro dos povos germânicos num
permanente clima de hostilidade.
 Fatores ligados à decadência económica, institucional e política do império romano:
a crise do império tornou-o permeável à lenta infiltração dos bárbaros nas províncias
do império. Primeiro instalaram-se pacificamente (vistos como aliados de Roma) e
depois de modo violento.

B) Formação dos novos Estados germânicos

Apresentavam grande tendência migratória. Organizavam-se em povoados criados em torno


de uma comunidade económica-agrária conhecida por marca. Evoluia-se para a propriedade
privada. Do ponto de vista social e jurídico tinha relevância as unidades formadas por
camponeses da mesma família.

O nucle político era denominado civitas e chefiado por um rei ou conselho de principes. A
assembleia popular detinha os poderes supremos da qual faziam parte os homens livres com
capacidade para integrar o exército.

Os Estados germânicos depois das invasões assumiamram a forma política de monarquias


eletivas.

C) Persistência do Direito Romano nos Estados germânicos

Por lado os povos bárbaros mantiveram as suas tradições jurídicas e, por outro lado, não as
impuseram às populações romanizadas.

 Princípio da personalidade ou da nacionaldiade do direito: cada povo regulava as


duas relações jurídicas pleo direito da respetiva raça, coexistencia de diferentes
sistemas jurídicos.
 Princípio da territorialidade do direito: aplicação uniforme do mesmo direito a todos
os sujeitos fixados num determinado território.
 A par dos preceito germânicos existiam os iura dos juristas clássicos e as leges dos
imperadores romanos.
 O principio da personalidade não vigorou em absoluto pois foi-se desenvolvendo um
conjunto de regras consuetudinárias das relações entre Germanos e populações
romanizadas.
 A organização política manteve-se praticamente intocada, principalmente quando
existiu um Pacto com Roma.
 Fusão de sistemas: segundo processo de vulgarização do Direito Romano marcado por
soluções empíricas.
o Princípios e normas consuetudinárias unificados

12. Fontes de direito dos Estados germânicos (em geral). Documentos de aplicação do
direito.
12.1. Fontes de Direito
A) Carater exclusivamente consuetudinário do primitivo direito germânico Redução
desse direito a escrito após as grandes invasões.

Até ao séc. V, o costume era a única fonte de direito dos povos germanos.

 As compilações elaboradas eram apenas reduções a escrito dos preceitos


consuetudinários tradicionais.

Entre o séc. V e IX registou-se um movimento codificador , refletindo a convivência dos povos


barbaros com a civilização romana e cristã.

Dividiam-se em três categorias.

B) Leis dos bárbaros ou leis populares

Estão em causa um conjunto de normas jurídicas essencialmente consuetudináris reduzidas a


escrito.

 Transmissão oral de geração em geração.


 Leis populares porque o seu elemento basilar é o povo.
o Origem do costume e contribui para elaboração das compilações no seio das
assembleias populares.
 Conteúdo: direitos e processos criminais correspondendo a tabelas de crimes e
respetivas composições pecuniárias.
 As leis dos visigodos e burgúndios incidiam sobre direito e processo civis.
 As leis bárbaras eram redigidas no latim corrente da época e não apresentavam ordem
ou método.
 Todas as leis bárbaras foram preparadas após a conversão dos povos ao cristianismo.

C) Leis romanas dos bárbaros

Coletâneas de textos de Direito Romano elaboras nos Estados Germânicos com propositos
diversos.

 Parte delas destinavam-se a romanos e bárbaros


 Outra parte só á população romana
 Outra parte asumia natureza subsidiária.

D) Capitulares

Divididas em capítulos, constituiam normas jurídicas avulsas emitidas pelos monarcas


germânicos. Eram verdadeiros diplomas legislativos.

 Ocupavam-se maioritariamente do Direito Público tratando assuntos eclesiásticos


também.

12.2. Documentos de aplicação do direito. Os formulários e os textos de atos


jurídicos.

Elementos de estudo e reconstituição do direito vivido. Complementam fontes normativas


como por vezes as integram. Proporcionam o conhecimento de certas instituiões jurídicas dos
Estados germânicos.
Formularios: coletâneas de fórmulas com vista á celebração de contratos e de outros atos
jurídicos. Apesar de anónimos são conhecidos 20 formulários (Formulas visigóticas, formulas
andecavenses, fórmulas de marculfo).

 Grande influência do direito romano vulgar pois adotaram o sistema socumental


romano.

Textos de atos jurídicos concretos: pouscos existem que digam respeito á peninsula ibérica
(invasões muçulmanas).

Papel da igreja catolica na conservação de valores culturais (documentos conservados no livro


de registos de mosteiros e nas sés).

13. Traços gerais da história política da Península desde as invasões germânicas até à
queda do Estado visigótico

Referência ao desenrolar dos acontecimentos históricos na peninsula ibérica entre os séculos


V e VIII, entre as invasões bárbaras e a chegada dos muçulmanos.

 Germanos ocidentais: suevos


 Germanos orientais: alanos, Vândalos e Visigodos.

A) Estabelecimento na peninsula dos Alanos, Vândalos e Suevos

Em 409, vindos da Gália transpuseram os Pirenéus e invadiram a Peninsula. Fixaram-se povos


inteiros que nunca nates haviam tido contacto com os romanos.

 Dois primeiros anos: libertinagem dos povos invasores, sobretudo do Vândalos.


 411: relativa acalmia dado o acordo sobre a ocupação da península com os romanos
(falta de autoridade de roma e fraqueza do império)
o Os suevos e vandalos asdingos estabelecem-se na Galécia.
o Vandalos silingos fixam-se na bética
o Alanos ocupam a lusitania e cartaginense ocidental
o Hispano-romanos dominam tarraconense e cartaginense oriental
 429: vandalos e alanos expulsos para o norte de áfrica (conquistado em 533 por
justiniano)

B) O reino suevo. Figura de s. martinho de dume

A migração dos alanos e vandalos para o norte de áfrica permitiu que os suevos expandissem a
sua ocupaçao na peninsula ibérica, abrangendo o noroeste, a bética, lusitania e cartaginense.

 O centro da monarquia sueva permanecia em Gallaecia, logo no restante territorio os


hispano-romanos eram em numero superior aos suevos.

Quatro fases:

 Primeira: opressão das população hispano-romanas que foi travada em 438 com a paz
entre suevos e cidades romanas.
 Segunda: dominio da peninsula expandindo-se para sul.
o Em 448 assinala-se a conversão dos suevos ao cristianismo posteriormente
aderiram a uma forma herética da religião cristã, o arianismo (nega a
divindade de cristo)
o 456: crise da independencia sueva pois os visigodos aliam-se a roma. Os
visigodos, embora vencedores, retiram-se para a Gália.
 Terceira: apagamento e decandencia mas os visigodos não conseguem anexar a
monarquia sueva.
 Quarta: renascimento.
o 559: suevos convertem-se definitivamente ao catolicismo, fundindo-se com os
hispano-romanos

S. Martinho de Dume: papel unificador assumido pela religião. Origem hungara chega á
peninsula em 550 como missionario. É o responsavel pela reconversão dos suevos ao
catolicismo.

 Preside os Concilios de Braga


 Autor de De Correctione rusticorum (emanar superstições das populações rurais) e
Capitula Martini (coleção de canones de concilios orientais, italianos, africanos e
gauleses)

Entre 576 e 585: anexação definitiva da monarquia sueva pelos Visigodos

Legado: inexistente. Eram um povo rude, menos civilizado que os hispano-romanos e o seu
direito era pouco desenvolvido.

C) Ocupação da peninsula pelos visigodos

Antes do seu assentamento na Gália eram o povo germanico com maior contacto com os
romanos mas nem sempre pacifico.

376- visigodos encetam a primeira penetração no império romano como aliados deste.

 Alarico, chefe supremo dos visigodos, rompe a aliança com os romanos


 Conjunto de incursoes no império romano pelas zonas orientais (chegaram a ocupar
roma)

Instalação na Gália

Em 418 instalam-se definitivamente na Gália dado um acordo de hospitalidade militar


celebrado com o imperador romano do ocidente.

 Obtiveram o devido reconhecimento apos terem combatido juntos contra os alanos e


vandados silingos
 Fixaram a sua sede no sul da Gália, sendo a Toulouse a sua capital

Incursões no território penunsular durante o século V

Realizaram várias expedições militares na peninsula com objetivo de sauear e devastar


territorios.

Estabelecimento definitivo na Peninsula

 Deu-se com a queda do império romano e a situação caotica dos territorios


 Declaram a sua independencia face ao império pressionados pelos Francos, invadindo
a peninsula
o Derrota contra os francos
 Alarico II estendeu a hegemonia visigotica a toda a hispania exceto nos territorios dos
suevos.
 Capital transferida para toledo.

Estado visigótico na peninsula:

 Entre os anos 576 e 585 o rei Leovigildo lança uma campanha militar e anexa os
Suevos.
 A peninsula fica praticamente toda dominada pelos visigodos
o Exceção da parte sul dominada pelas tropas de Justiniano
 622: expulsam definitivamente os Bizantinos da peninsula
 A hegemonia dos visigodos será aniquilada pelas invasões muçulmanas

14. Condições em que os visigodos se instalaram na Peninsula

As condições sociais e politicas deste fenomeno são importantes contributos para o estudo da
História do Direito embora não sejam claros os termos.

 Analogia com o sistema que adotaram na Gália pois têm por base o mesmo acordo de
hospitalidade militar. Método comparativo.

A) Repartição de terras entre visigodos e hispano-romanos

418- foedus que permitiu aos visigodos instalarem-se na Gália como recompensa por se terem
aliado aos Romanos.

 Os prédios rústicos eram divididos em 3 partes: duas aos visigodos e uma aos romanos
providenciais.
o Baldios e terras comuns disponiveis para todos os proprietarios da localidade
 Repartidas as alfaias agricolas e escravos em partes iguais.

B) Fiferenças étnicas e culturais. O seu desaparecimento lento.

Tres nucleos:

 Hispano-romanos
 Suevos
 Visigodos
 Inicialmente não se misturavam
o Divergencias religiosas, os visigodos eram arianos
 Entretanto houve aproximação e miscegenação dos povos:
o Conversão dos visigodos ao catolicismo
o Adoção do latim pelos visigodos
o Derrogação da norma que proibia casamentos mistos.

Inicios do séc. VI e inicios do séc. VII há uma fusão das populações que habitavam a eninsula
ibérica embora persistam algumas diferenças.

Ocupação germanica traduz a união do elemento romano e do germanico:

 O elemento germanico não pode ser sobrevalorizado, as invasões não representam a


substituição de uma civilização por outra
 O elemento romano embora se tenha degragado contou com defensores como S.
Martinho de Dume e S. Isidoro de Sevilha.

15. Fontes de direito do periodo visigotico

Incertezas quanto:

 Elenco das fontes normativas visigoticas


 Carater pessoal ou territorial destas
 Persistencia de um direito consuetudinario
 Fontes jurídico-canonicas
15.1. Referencia sumarias as principais fontes de direito do periodo visigotico

Os textos legais completos do período visigótico, cuja autoria e data são conhecidas são:
- Breviário de Alarico de 506
- Lei de Teudis de 546
- Código Visigótico nas versões
- de Recesvindo de 654
- de Ervígio de 681

Apresentam algumas dúvidas:


- Código de Eurico
- Código Revisto de Leovigildo

I- Código de Eurico

Promulgado pelo rei Eurico, constitui a primeira coletânea sistemática de Direito visigótico.
Enquadra-se no grupo das leis dos bárbaros. Atém-se, sobretudo, ao Direito Privado e reflete a
receptividade ao Direito Romano vulgar

II- Breviário de Alarico

Também designado por Lei Romana dos Visigodos (Lex Romana Visigothorum), foi sancionado
por Alarico II. Enquadra-se no grupo das leis romanas dos bárbaros e compreende uma seleção
de fontes romanas (de iura e de leges):

 iura: compostos pelo Epítome de Gaio (resumo das Institutiones de Gaius) e as


Sentenças de Paulus, mas também por disposições dos Códigos Gregoriano e
Hermogeniano e um fragmento de Papinianus
 leges: compostas pelo Codex Theodosianus e por novelas pós-teodosianas

É de realçar a interpretatio – notas interpretativas com o intuito de esclarecer o seu conteúdo.


Estas interpretações, por vezes, modificavam por completo o sentido do preceito interpretado.

III- Código Revisto de Leovigildo

Também designado por Codex Revisus, tem em vista a repressão dos abusos cometidos na
cobrança de custas judiciais. Constituiu uma refundição e atualização do Código de Eurico,
promovida pelo rei Leovigildo.

IV- Código visigotico


É resultado de um processo de incremento legislativo iniciado por Chindasvindo e concluído no
tempo do seu sucessor Recesvindo. Tomou as designações de Lex Visigothorum Recesvindiana,
Liber Iudiciorum, Liber Iudicum e Forum Inducium. Conheceu três versões:

 forma recesvindiana – a primeira


 forma ervigiana – reforma oficial do rei Ervígio
 forma vulgata – conjunto de manuscritos de diferentes épocas e resultado de reformas
sucessivas, tomando por base a forma ervigiana transformada e acrescida

Resulta do cruzamento dos elementos romano, germânico e canónico, dos quais sobressai o
elemento romano.

15.2. O Problema da personalidade ou territorialidade da legislação visigotica


 da personalidade – a cada pessoa aplica-se o Direito do seu povo, coexistindo no
mesmo território vários ordenamentos jurídicos
 da territorialidade – existência de um único ordenamento jurídico aplicável a todos,
dentro de um território delimitado

A partir de Leovigildo, não restam dúvidas que a legislação visigótica foi de aplicação
territorial, até porque o Código Revisto de Leovigildo continha algumas normas territoriais.

A) Tese da personalidade:

Autor Tese
Existência de dois tipos de juízes entre os
Visigodos:
 thiuphadus (só julga aquilo que diz
respeito a Visigodos)
Eichhorn  iudex (só julga pleitos relativos a
romanos)
O Código de Eurico e o de Leovigildo
aplicam-se aos Visigodos e o Breviário de
Alarico aplica-se aos romanos
Ureña Código Revisto de Leovigildo já tinha
vigência territorial.
Dahn Os litigantes podiam escolher um dos
ordenamentos (romano ou visigótico)
Bethmann-Hollweg Prevalece o forum rei, pelo que se aplicava a
lei do tribunal do lugar da coisa em litígio
Brunner e Zeummer Supremacia da lei visigótica

O fracasso das teses personalistas deve-se essencialmente ao facto de não conseguirem dar
resposta ao problema dos assuntos mistos.

B) Tese da territorialidade

Para García-Gallo, as leis teodoricianas, as restantes leis avulsas e as codificações visigóticas


foram já de aplicação conjunta à população romana e visigótica. Assim, ter-se-ia verificado a
seguinte sucessão legislativa:

Código de Eurico -> Breviário de Alarico -> Código de Leovigildo -> Código de Recesvindo

Os argumentos utilizados são:


 não existe nenhuma fonte normativa que suporte o princípio da personalidade
 no Código de Eurico existem leis territoriais e leis que revogam os preceitos romanos
 o Código de Eurico foi revogado por uma espécie de circular (Commonitorium) que
acompanhou a promulgação do Breviário de Alarico
 inclusão, no Breviário de Alarico, da Lei de Teudis a que se confere caráter territorial

C) Posição atual do problema:

Paulo Merêa propõe uma solução conciliadora:

 distinção da territorialidade das codificações e leis avulsas visigóticas


 distinção das sucessivas revogações de Códigos e leis

Não acredita que o Código de Eurico tenha sido revogado pelo Breviário de Alarico e este pelo
Código de Leovigildo. O Breviário de Alarico é considerado fora da sequência da legislação
visigótica, como uma compilação subsidiária. O Código de Eurico foi uma lei geral, de vigência
continuada, para assegurar à população goda uma posição especial dentro do Estado. O
Breviário de Alarico teve apenas o objetivo de limitar os iura e leges. Assim, a sucessão
legislativa foi:

Código de Eurico -> Código de Leovigildo -> Código de Recesvindo

O Código de Recesvindo revogou simultaneamente o Código de Leovigildo e o Breviário de


Alarico. A discussão mantém-se, pois verifica-se a falta de fontes seguras que prejudica a
solução do enigma.

15.3. Direito consuetudinário ou visigótico

A possível subsistência de um direito consuetudinário visigótico assenta em dois fatores:

 o sistema jurídico peninsular era dotado de uma relativa uniformidade


 este sistema era diferente do postulado no Código Visigótico e mais próximo do direito
germânico

Não terá havido uma discrepância total entre o direito oficial e a prática jurídica. Todavia,
parece ser de aceitar a possível sobrevivência de alguns costumes do antigo direito germânico,
sobretudo, nas regiões periféricas. No Estado Visigótico sempre terá prevalecido
tendencialmente o direito escrito, graças à conhecida atividade legislativa que o marcou.

15.4. Direito canonico. Os concilios de Toledo

Verifica-se a importância do Direito Canónico no reino Visigótico, cujo âmbito compreendia:

 estrutura da Igreja Católica


 assuntos espirituais
 aspetos da vida secular dos fiéis

A conversão ao catolicismo, com Recaredo, alargou substancialmente o âmbito de aplicação


do Direito Canónico. No reino Visigótico, eram aplicáveis as normas jurídico-canónicas comuns
e o direito canónico particular, de origem nacional.

Neste contexto, destacam-se os concílios nacionais que, na monarquia visigótica, eram os


Concílios de Toledo – criação de preceitos jurídico-canónicos e elevação a instituição auxiliar
da realeza, para assuntos políticos e legislativos. Registava-se uma receção recíproca entre a
legislação civil e os cânones conciliares. Verifica-se promiscuidade e confusão entre o poder
religioso e o poder político.

16. Ciência do Direito e prática jurídica na época visigótica


16.1. Ciência do Direito. A personalidade e a obra de Santo Isidoro, bispo de
Sevilha

Depois das invasões bárbaras, as escolas de Direito Romano da época pósclássica


encontravam-se em franca decadência. Contudo, o período visigótico conhece eminentes
juristas como Santo Isidoro.

Bispo de Sevilha, presidiu ao Concílio de Sevilha e ao IV Concílio de Toledo. Escreveu as


Etimologias – primeira enciclopédia cristã.

 O seu contributo essencial deve-se às suas qualidades de jurista e de conhecimento e


domínio expressivo do Direito Romano.
 Foi também autor dos Libri Sententiarum, onde se alarga em reflexões acerca de
problemas políticos. Sustentava que a organização política se integrava na ordem
divina da criação, isto é, os reis existiam a bem da Igreja, já que esta carecia de força
temporal para impor a fé cristã. O príncipe não representava senão uma dádiva divina,
era de Deus que os povos recebiam os bons reis.

16.2. Pratica jurídica


A) Falta de documentos desta época. Os formulários.

Os formulários são coletâneas de minutas que os notários utilizavam para redigir os vários atos
jurídicos, são de destacar as Fórmulas Visigóticas e as Fórmulas de Holkham. Estas últimas são
compostas por duas:

 juramento das testemunhas com vista a provar a inocência do réu


 prova caldária, juízo de Deus ou ordálio, o acusado era considerado inocente ou
culpado consoante a sua mão, mergulhada em água a ferver, apresentasse ou não
visíveis melhoras, no final de alguns dias

B) Fórmulas visigóticas

Conjunto de fórmulas relativas, na sua maioria, a atos privados (manumissões, vendas,


doações, testamentos, permutas). Baseiam-se no sistema documental romano e reflete um
ambiente romano e cristão.

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