Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DIREITO
DO
URBANISMO E AMBIENTE
3.ª Edição
2023
Página 1 de 404
Plano geral
PARTE 1
DIREITO DO URBANISMO
PARTE 2
DIREITO DO AMBIENTE
Página 2 de 404
Capítulo XXII - Polícia do ambiente: prevenção, minimização,
combate e reparação como função policial
Capítulo XXIII - ONGAs
Capítulo XXIV - Tutela administrativa e jurisdicional do ambiente
Capítulo XXV - Direito do ambiente: mares e oceanos
Página 3 de 404
Parte I
Página 4 de 404
20. Estrutura do sistema de gestão territorial: programas e planos
20.1. Em geral
20.2. Ponderação de interesses públicos e privados
21. Elaboração e aprovação dos programas e planos
22. Execução dos programas e planos territoriais
22.1. Execução sistemática e não sistemática
22.2. Monitorização e avaliação
23. Violação dos programas e planos territoriais
24. Invalidade urbanística
25. Punição de prática de invalidade
26. Controlo administrativo das operações urbanísticas
27. Redistribuição de benefícios e encargos; perequação
28. Valor do solo e das edificações
29. Níveis do sistema de gestão territorial
30. Vinculação jurídica dos programas e dos planos
31. Direito à informação e direito de participação
31.1. Direito à informação
31.2. Direito de participação
32. Garantias dos particulares
33. Harmonização dos interesses públicos e privados: justa ponderação
34. Interconexão entre programas nacionais e regionais
35. Interconexão entre planos intermunicipais e municipais
Página 5 de 404
53. Parecer, aprovação ou autorização em razão da localização
54. Informação prévia
55. Procedimento de licença em especial
55.1. Em geral
55.2. Consulta pública
55.3. Vinculação da decisão sobre o pedido de licenciamento
55.4. Procedimentos especiais
55.5. Controlo pela CCDR
55.6. Loteamento
55.7. Obras de urbanização
55.8. Caução
55.9. Contrato de urbanização
55.10. Execução por fases
55.11. Obras de edificação
55.12. Diretor de obra
56. Procedimento de autorização de utilização de edifícios e suas frações autónomas
57. Validade e eficácia dos atos de licenciamento e autorização de utilização e efeitos
da comunicação prévia
57a. Efeitos jurídicos de situações de facto decorrentes de atos nulos de gestão
urbanística
58. Responsabilidade civil da Administração
59. Caducidade e revogação da licença e autorização de utilização e cessação de efeitos
da comunicação prévia
60. Títulos das operações urbanísticas
61. Execução das obras e sua fiscalização
62. Ação substitutiva pela câmara municipal
63. Execução por terceiro
64. Conclusão e receção dos trabalhos
65. Utilização e conservação do edificado
66. Fiscalização
67. Livro de obra
68. Contraordenações
Página 6 de 404
76. Participação e concertação de interesses
77. Apoios do Estado
Página 7 de 404
111. Contraordenações e coimas
111.1. Em geral
111.2. Contraordenação do ordenamento do território e urbanística
111.3. Sanções acessórias
111.3.1. Em especial: apreensão e perda a favor do Estado dos objetos
apreendidos usados ou produzidos aquando da infração
111.3.2. Em especial: interdição do exercício de profissões ou atividades;
111.3.3. Em especial: privação do direito a benefícios ou subsídios;
111.3.4. Em especial: privação do direito de participar em conferências, feiras
ou mercados;
111.3.5. Em especial: privação do direito de participar em arrematações ou
concursos públicos;
111.3.6. Em especial: encerramento de estabelecimento;
111.3.7. Em especial: cessação ou suspensão de licenças, alvarás ou
autorizações
111.3.8. Em especial: perda de benefícios fiscais e de benefícios de crédito;
111.3.9. Em especial: selagem de equipamentos destinados à laboração;
111.3.10. Em especial: imposição das medidas adequadas à prevenção de
danos ambientais, à reposição da situação anterior à infração e à
minimização dos efeitos decorrentes da mesma;
111.3.11. Em especial: publicidade da condenação;
111.3.12. Em especial: apreensão de animais.
112. Prescrição das contraordenações graves e muito graves
113. Perda de mandato
114. Crimes e penas criminais
PARTE 2
DIREITO DO AMBIENTE
CAPÍTULO XII
ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO
DIREITO DO AMBIENTE
115. Das origens medievais ao passado recente
116. Fundamentos histórico-evolutivos do moderno direito do ambiente
CAPÍTULO XIII
FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL, DA UNIÃO EUROPEIA E
DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DO
DIREITO DO AMBIENTE
Página 8 de 404
CAPÍTULO XIV
DIREITO DO AMBIENTE EM GERAL
121. Em geral
122. Objetivos da política ambiental
123. Princípios jurídico-ambientais
124. Direitos e deveres ambientais
125. Interação entre os componentes ambientais naturais e humanos
126. Instrumentos da política de ambiente
CAPÍTULO XV
RESPONSABILIDADE AMBIENTAL
127. Responsabilidade da Administração e dano ambiental
127.1. Em geral
127.2. Precisão terminológica
127.3. Responsabilidade objetiva
127.4. Responsabilidade subjetiva
127.5. Fiscalização e contraordenações
128. Tutela jurídica ambiental efetiva
CAPÍTULO XVI
INFORMAÇÃO ADMINISTRATIVA AMBIENTAL
129. Em geral
129-A. Precisão conceptual
130. Componentes ambientais: ar, água solo, biodiversidade
CAPÍTULO XVII
REGIME JURÍDICO DA CONSERVAÇÃO DA
NATUREZA E DA BIODIVERSIDADE
Página 9 de 404
139. Inspeção e fiscalização
140. Contraordenações e sanções
141. Outras contraordenações ambientais
141.1. Em geral
141.2. Publicidade da condenação
141.3. Apreensão cautelar e sanções acessórias
141.4. Reposição da situação anterior
142. Conclusão
CAPÍTULO XVIII
PREVENÇÃO E CONTROLO DAS
EMISSÕES DE POLUENTES PARA O AR
143. Em geral
144. Monitorização das emissões
145. Sanções acessórias e apreensão cautelar
CAPÍTULO XIX
DOMÍNIO PÚBLICO HÍDRICO
146. Em geral
147. Leito e seus limites
148. Margem e sua largura
149. Leitos e margens privados de águas públicas
150. Águas patrimoniais e águas particulares
151. Classificação e registo das águas do domínio público
152. Servidões administrativas sobre parcelas privadas de leitos e margens de águas
públicas
153. Zonas ameaçadas pelo mar: zonas adjacentes
CAPÍTULO XX
REGIME JURÍDICO DA ÁGUA
154. Em geral
155. Princípios fundamentais da gestão da água
156. Precisão terminológica
157. Regiões hidrográficas
158. Regiões hidrográficas internacionais
159. Agência Portuguesa do Ambiente: missão e funções
160. Autoridade nacional da água
161. Comissões de coordenação e desenvolvimento regional
161. Conselho Nacional da Água
162. Administrações portuárias
163. Ordenamento e planeamento dos recursos hídricos
164. Ordenação das utilizações dos recursos hídricos
165. Planeamento das águas
166. Proteção e valorização dos recursos hídricos
167. Medidas de proteção das captações de água
168. Zonas vulneráveis à poluição das águas
169. Medidas de proteção contra cheias e inundações
170. Medidas de proteção contra acidentes graves de poluição
Página 10 de 404
171. Estado de emergência ambiental
172. Objetivos ambientais
173. Monitorização do estado das águas
174. Utilização dos recursos hídricos
175. Informação prévia
176. Associações de utilizadores
177. Infraestruturas hidráulicas
178. Princípio da utilização sustentável dos recursos hídricos
179. Taxa de recursos hídricos
180. Participação das pessoas singulares e coletivas
181. Sistema nacional de informação de recursos hídricos
182. Acesso à informação
183. Fiscalização e sanções
184. Planos de inspeção e de fiscalização
185. Acesso a instalações, à documentação e à informação
186. Responsabilidade civil pelo dano ambiental
187. Contraordenações, embargos e sanções acessórias
CAPÍTULO XXI
GESTÃO DE RESÍDUOS
188. Em geral
189. Precisão terminológica
190. Princípios gerais da gestão de resíduos
191. Autoridades e planos de gestão de resíduos
192. Licenciamento das atividades de tratamento de resíduos
192.1. Em geral
192.2. Procedimento de licenciamento
193. Registo de informação e acompanhamento da gestão de resíduos
194. Regime económico e financeiro da gestão de resíduos: taxas
195. Mercado de resíduos
196. Fiscalização e contraordenações
CAPÍTULO XXII
POLÍCIA DO AMBIENTE: PREVENÇÃO, MINIMIZAÇÃO, COMBATE E
REPARAÇÃO COMO FUNÇÃO POLICIAL
197. Em geral
CAPÍTULO XXIII
ONGAs
198. Organizações não governamentais em geral
CAPÍTULO XXIV
TUTELA ADMINISTRATIVA E JURISDICIONAL DO AMBIENTE
199. Resolução de conflitos entre interesses públicos incompatíveis entre si
CAPÍTULO XXV
DIREITO DO AMBIENTE: MARES E OCEANOS
200. Em geral
201. Direito internacional público dos mares
Página 11 de 404
LEGISLAÇÃO DO URBANISMO
LEGISLAÇÃO DO AMBIENTE
Página 12 de 404
Regime jurídico da conservação da natureza e da biodiversidade (aprovado pelo DL
n.º 142/2008, de 24 de julho, última alteração dada pelo - DL n.º 42-A/2016, de
12/08)
Prevenção e controlo das emissões de poluentes para o ar - decreto-lei n.º 39/2018,
de 11 de junho.
Regime geral da gestão de resíduos (DL n.º 178/2006, de 5 de setembro, última
alteração: Lei n.º 75-B/2020, de 31/12).
Organizações Não-Governamentais de Ambiente (ONGAs) (lei n.º 35/98 - última
alteração dada pela Lei n.º 82-D/2014, de 31/12).
PRINCIPAIS SIGLAS
ACCS - Administração Central do Sistema de Saúde
ACEPI - Associação de Economia Digital
ACES - Agrupamento de Centros de Saúde
ACPMR - Associação Cluster Portugal Mineral Resources
AD&C - Agência para o Desenvolvimento e Coesão
ADENE - Agência para a Energia
ADL - Associação de Desenvolvimento Local
ADSL - Asymmetric Digital Subscriber Line
AECT - Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial
AEM - Ambulâncias de Emergência Médica
AICEP - Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal
AM - Área Metropolitana
AMA - Agência para a Modernização Administrativa
AML - Área Metropolitana de Lisboa
AMP - Área Metropolitana do Porto
Página 13 de 404
AMT - Autoridade da Mobilidade e dos Transportes
ANA - Aeroportos de Portugal
ANAC - Autoridade Nacional da Aviação Civil
ANACOM - Autoridade Nacional de Comunicações
ANAFRE - Associação Nacional de Freguesias
ANI - Agência Nacional de Inovação
ANMP - Associação Nacional de Municípios Portugueses
ANPC - Autoridade Nacional de Proteção Civil
ANQEP - Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional
ANSR - Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária
APA - Agência Portuguesa do Ambiente
APAP - Associação Portuguesa Arquitetos Paisagistas
APAV - Associação Portuguesa de Apoio à Vítima
APDC - Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações
ARDITI - Agência Regional para o Desenvolvimento da Investigação, Tecnologia e Inovação
ARPT - Agências Regionais de Promoção Turística
ARS - Administração Regional de Saúde
ARU - Áreas de Reabilitação Urbana
AT - Autoridade Tributária e Aduaneira - Finanças
BCAA - Boas Condições Agrícolas e Ambientais
BPRPVPC - Bases da Política e do Regime de Proteção e Valorização do Património Cultural
CAAP - Comissão de Acompanhamento da Arquitetura e Paisagem
CADAC - Comissão para a Aplicação e Desenvolvimento da Convenção de Albufeira
CAOP - Carta Administrativa Oficial de Portugal
CAP - Confederação dos Agricultores de Portugal
CASES - Cooperativa António Sérgio para a Economia Social
CCDR - Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional
CE – Código das Expropriações
CE = EC - Comissão Europeia
CEC - Commission of the European Communities
CEE - Comunidade Económica Europeia
CEP - Convenção Europeia da Paisagem
CIIC - Procedimento de classificação dos bens imóveis de interesse cultural, bem como o regime jurídico das
zonas de proteção e do plano de pormenor de salvaguarda
CIM - Comunidade Intermunicipal
CIRAC - Maps of Floods and Risk in Climate Change Scenarios
CM - Câmara Municipal
CNADS - Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável
CNCDA - Comissão Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar
COMPETE - Programa Operacional Temático Competitividade e Internacionalização
COS - Carta de Uso e Ocupação do Solo
COSA - Carta de Uso e Ocupação do Solo para os Açores
COTEC - Associação Empresarial para a Inovação
CP - Comboios de Portugal
CPCJ - Comissão de Proteção de Crianças e Jovens
CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
CRP – Constituição da República Portuguesa
CRUS - Carta do Regime de Uso do Solo
CSI - Complemento Solidário para Idosos
CSM - Conselho Superior da Magistratura
CSM - Conta Satélite do Mar
CSP - Cuidados de Saúde Primários
CTEM - Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática
DGADR - Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural
DGAE - Direção-Geral das Atividades Económicas
DGAEP - Direção-Geral da Administração e do Emprego Público
DGAJ - Direção-Geral da Administração da Justiça
DGARTES - Direção-Geral das Artes
DGEEC - Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência
DGEG - Direção-Geral de Energia e Geologia
DGOTDU - Direção-Geral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano
DGPC - Direção-Geral do Património Cultural
DGPJ - Direção-Geral da Política de Justiça
DGRSP - Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais
DGS - Direção-Geral da Saúde
DGT - Direção-Geral do Território
DGTF - Direção-Geral do Tesouro e Finanças
Página 14 de 404
DLBC - Desenvolvimento Local de Base Comunitária
DLD - Desempregado de Longa Duração
DLRA- Regime Jurídico da Responsabilidade por Danos Ambientais
DPH - Domínio Público Hídrico
DPM - Domínio Público Marítimo
DRAP - Direção Regional de Agricultura e Pescas
DRC - Direção Regional de Cultura
EDEC - Esquema de Desenvolvimento do Espaço Comunitário
EDM - Empresa de Desenvolvimento Mineiro
EEA - European Environment Agency
E-learning - Ensino à distância
EMPIS - Estrutura de Missão Portugal Inovação Social
ENCNB - Estratégia Nacional da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (2030)
ENEA - Estratégia Nacional de Educação Ambiental
ENGIZC - Estratégia Nacional para a Gestão Integrada da Zona Costeira
EPIC - Explicitly Parallel Instruction Computing (EPIC WebGIS)
ERT - Entidade Regional do Turismo
ESPON - European Spatial Planning Observation Network (Observatório em Rede do Ordenamento do
Território Europeu)
ET 27 - Estratégia para o Turismo
ETAR - Estação de Tratamento de Águas Residuais
ETC - Equivalente a Tempo Completo
ETC - European Territorial Cooperation
EUA - Estados Unidos da América
EUROSTAT - Autoridade Estatística da União Europeia
FAO - Food and Agriculture Organization (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura)
FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia
FCUL - Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
FEEI - Fundos Europeus Estruturais e de Investimento
FLUP-CEGOT - Faculdade de Letras da Universidade do Porto - Centro de Estudos em Geografia e
Ordenamento do Território
FTTH/B - Fibra Ótica
GAL - Grupo de Ação Local
GEE - Gases com Efeito de Estufa
GEMCAT - Generación de Empleo de Calidad Transfronterizo (Criação de Emprego de Qualidade
Transfronteiriço)
GEP - Gabinete de Estratégia e Planeamento
GEP/MTSSS - Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança
Social
GNL - Gás Natural Liquefeito
GNR - Guarda Nacional Republicana
GPP - Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral
I&D - Investigação e Desenvolvimento
IAPMEI - Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação
ICNF - Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas
ICS - Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa
IDE - Investimento Direto Estrangeiro
IEFP - Instituto do Emprego e Formação Profissional
IGeoE - Instituto Geográfico do Exército
IGFEJ - Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça
IGOT/UL - Instituto de Geografia e Ordenamento do Território/Universidade de Lisboa
IGT - Instrumento de Gestão Territorial
IH - Instituto Hidrográfico
IHRU - Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana
IMT - Instituto da Mobilidade e dos Transportes
INE - Instituto Nacional de Estatística
INEM - Instituto Nacional de Emergência Médica
InfP - Infraestruturas de Portugal
INMLCF - Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses
INSA - Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge
Interreg - European Territorial Cooperation - ETC
IP - Itinerário Principal
IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change
IPMA - Instituto Português do Mar e da Atmosfera
IPPAR - Orgânica do Instituto Português do Património Arquitetónico
IPSS - Instituição Particular de Solidariedade Social
Página 15 de 404
IRN - Instituto dos Registos e do Notariado
ISA - Instituto Superior de Agronomia
ISS - Instituto da Segurança Social
JF - Junta de Freguesia
JRC - Joint Research Centre
JUL - Janela Única Logística
KET - Key Enabling Technologies
LA - Lei da água
LBA - Lei de Bases da Política do Ambiente
LBA- Lei de Bases do Ambiente
LBG PPSOTU - Política Pública de Solos, de Ordenamento do Território e de Urbanismo
LDI - Land Degradation Index
LEADER - Ligações Entre Ações de Desenvolvimento da Economia Rural (Programa)
LMPMAVE - Linha de Máxima Preia-Mar de Águas Vivas Equinociais
LNEG - Laboratório Nacional de Energia e Geologia
LOG – Lei orgânica do Governo
LQCA - Lei quadro das contraordenações ambientais
LUISA - Territorial Modelling Platform Land Use-based Integrated Sustainability Assessment
MAFDR - Ministério da Agricultura, Florestas e do Desenvolvimento Rural
MAI - Ministério da Administração Interna
MAmb - Ministério do Ambiente
MC - Ministério da Cultura
MCTES - Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
MEcon - Ministério da Economia
MEdu - Ministério da Educação
MF - Ministério das Finanças
MJ - Ministério da Justiça
MMar - Ministério do Mar
MPI - Ministério do Planeamento e das Infraestruturas
MPMA - Ministério da Presidência e da Modernização Administrativa
MS - Ministério da Saúde
MTSSS - Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social
NAV - Navegação Aérea de Portugal - NAV Portugal
NEET - Not in Education, Employment, or Training (jovens que não estão a trabalhar, não frequentam o
sistema de ensino, nem estão em formação)
NUTS - Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos
OMS - Organização Mundial de Saúde
ONG - Organização Não-Governamental
ONGA - Organização Não-Governamental de Ambiente
ONGD - Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento
ONU - Organização das Nações Unidas
OOM - Observatório Oceânico da Madeira
OPF - Organização de Produtores Florestais
OT - Ordenamento do Território
PAC - Política Agrícola Comum
PALOP - Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa
PAMUS - Planos de Ação para a Mobilidade Urbana Sustentável
PANCD - Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação
PCEPA - Prevenção e controlo das emissões de poluentes para o ar
PDI - Plano Diretor Intermunicipal
PDM - Plano Diretor Municipal
PDR - Programa de Desenvolvimento Rural
PEM - Posto de Emergência Médica
PENSAAR - Plano Estratégico de Abastecimento de Água e Saneamento de Águas Residuais 2020
PEOT - Plano Especial de Ordenamento do Território
PERSU - Plano Estratégico de Resíduos Sólidos Urbanos
PET - Plano Estratégico de Transportes
PETI 3+ (2014-2020) - Plano Estratégico de Transportes e Infraestruturas
PGF - Plano de Gestão Florestal
PGR - Procuradoria-Geral da República
PGRH - Plano de Gestão de Região Hidrográfica
PGRI - Plano de Gestão dos Riscos de Inundações
PIB - Produto Interno Bruto
PIDT&I - Plano de Ação para a Investigação, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da Região
Autónoma da Madeira
PME - Pequenas e Médias Empresas
PNA - Plano Nacional da Água
Página 16 de 404
PNAP - Política Nacional de Arquitetura e Paisagem
PNDFCI - Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios
PNPOT - Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território
PNR - Programa Nacional de Reformas
POAP - Plano de Ordenamento de Área Protegida
POBH - Plano de Ordenamento de Bacia Hidrográfica
POC - Programa para a Orla Costeira
PORDATA - Base de Dados Portugal Contemporâneo
POSF - Programa Operacional de Sanidade Florestal
PP - Plano de Pormenor
PPC - Paridade do poder de compra
PPI - Plano de Pormenor Intermunicipal
PPP- Princípio do poluidor pagador
PPS - Parceria Portuguesa para o Solo
PREPCRAM - Plano Regional de Emergência de Proteção Civil da Região Autónoma da Madeira
PRN - Plano Rodoviário Nacional
PROF - Programa Regional de Ordenamento Florestal
PROT - Plano Regional de Ordenamento do Território
PROT OVT - Plano Regional de Ordenamento do Território do Oeste e Vale do Tejo
PROTRAM - Plano Regional de Ordenamento da Região Autónoma da Madeira
PS - Plano Setorial
PSP - Polícia de Segurança Pública
PU - Plano de Urbanização
PUI - Plano de Urbanização Intermunicipal
RA - Responsabilidade ambiental
RAA - Região Autónoma dos Açores
RAIAA - Regime de acesso à informação administrativa e ambiental
RAM - Região Autónoma da Madeira
RAN - Reserva Agrícola Nacional
RCM - Resolução do Conselho de Ministros
RCP - Representative Concentration Pathways
REN - Reserva Ecológica Nacional
REOT - Relatório do Estado do Ordenamento do Território
RFCN - Rede Fundamental de Conservação da Natureza
RGA - Recenseamento Geral da Agricultura
RGEU - Regulamento Geral das Edificações Urbanas
RGGR - Regime Geral da Gestão de Resíduos
RH - Região Hidrográfica
RJAL - Lei das autarquias locais
RJCNB - Regime jurídico da conservação da natureza e da biodiversidade
RJIGT - Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial
RJREN - Regime Jurídico da Reserva Ecológica Nacional
RJRU - Regime jurídico da reabilitação urbana
RJSPTP - Regime Jurídico do Serviço Público do Transporte de Passageiros
RJTA - Regime jurídico da tutela administrativa
RJUE - Regime Jurídico da Urbanização e Edificação
RLVT - Região de Lisboa e Vale do Tejo
RN2000 - Rede Natura 2000
RNAP - Rede Nacional de Áreas Protegidas
RNCCI - Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados
RPRDE- Regime de Prevenção e Reparação do dano Ecológico
RSES - Rede de Serviços e Equipamentos Sociais
RSI - Rendimento Social de Inserção
RTE-T - Rede Transeuropeia de Transportes
SAU - Superfície Agrícola Utilizada
SCI - Sistema de Contas Integradas
SCML - Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
SCT - Sistema Científico e Tecnológico
SCTA - Sistema Científico e Tecnológico dos Açores
SEALRA - Secretário de Estado da Administração Local e Reforma Administrativa
SEC - Secretário de Estado da Cultura
SECI - Secretaria de Estado para a Cidadania e a Igualdade
SEF - Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
SEIPD - Secretaria de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência
SGMJ - Secretaria-Geral do Ministério da Justiça
SIARL - Sistema de Informação de Apoio à Reposição da Legalidade
SIC - Sítios de Interesse Comunitário
Página 17 de 404
SICAD - Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências
SIMPLEX - Simplificação Administrativa e Legislativa
SIPA - Sistema de Informação para o Património Arquitetónico
SIV - Suporte Imediato de Vida
SNAC - Sistema Nacional de Áreas Classificadas
SNIAMB - Sistema Nacional de Informação de Ambiente
SNIC - Sistema Nacional de Informação Cadastral
SNIG - Sistema Nacional de Informação Geográfica
SNIRH - Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos
SNIT - Sistema Nacional de Informação Territorial
SNM - Subida do Nível Médio do Mar
SNS - Serviço Nacional de Saúde
SPGM - Sistema Português de Garantia Mútua
SPMS - Serviços Partilhados do Ministério da Saúde
SRTT - Sistema Regional de Transferência de Tecnologia
TDT - Televisão Digital Terrestre
TER - Turismo no Espaço Rural
TFUE - Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia
TIC - Tecnologias da Informação e Comunicação
TICE - Tecnologias de Informação, Comunicação e Eletrónica
TIP - Ambulância Transporte Inter-hospitalar Pediátrico
TIPAU - Tipologia das Áreas Urbanas
TP - Turismo de Portugal
UE - União Europeia
UMIPE - Unidade Móvel de Intervenção Psicológica de Emergência
UMVI - Unidade de Missão valorização do Interior
UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura)
URBACT - Programa de Cooperação Territorial Europeia com o objetivo de promover o desenvolvimento
urbano sustentável em cidades da Europa
UTA - Unidade de Trabalho Anual
VAB - Valor Acrescentado Bruto
VIH - Vírus da Imunodeficiência Humana
VMER - Viatura Médica de Emergência e Reanimação
ZC - Zona de Caça
ZEC - Zona Especial de Conservação
ZEE - Zona Económica Exclusiva
ZIF - Zona de Intervenção Florestal
ZPE - Zona de Proteção Especial
Página 18 de 404
NOTA PRÉVIA
Página 19 de 404
imposição legislativa de inúmeras noções legais, recomendou que nos
ativéssemos, quanto possível, aos termos da lei, como forma de assegurar
aos estudantes maior fidelidade e contacto direto com a legislação vigente.
Página 20 de 404
Bibliografia principal
Página 21 de 404
Bibliografia complementar estrangeira
Página 22 de 404
MACHADO, Paulo Affonso Leme (2011): Direito Ambiental Brasileiro, 19.ª ed. São
Paulo: Malheiros.
MERLI, P., CHOAY, F.: Dictionnaire de l’urbanisme et de l’amenagement, Presses
universitaires de France, 2000.
MILARÉ, Édis (2011): Direito do Ambiente, 8.ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais.
MOREIRA Neto, Diogo de Figueiredo (1975): Introdução ao Direito Ecológico e ao
Direito Urbanístico. Rio de Janeiro: Forense.
MORENO M. ÁNGEL. Manuel: Derecho comunitario del medio ambiente, ISBN: 84-
9768-305-6.
PADILHA, Norma Sueli (2010): Fundamentos Constitucionais do Direito Ambiental
Brasileiro. Rio de Janeiro: Elsevier.
RODRIGUES, Marcelo Abelha (2002): Instituições de Direito Ambiental. Vol. I., São
Paulo: Max Limonad.
ROUANET, S. P.: “A cidade iluminista”, in: Revista USP, São Paulo (26): 154-163,
Jun./Ago., 1995.
SARLET, Ingo Wolfgang/FENSTERSEIFER, Tiago (2011): Direito Constitucional
Ambiental: Estudos sobre a Constituição, os Direitos Fundamentais e a
Proteção do Ambiente. São Paulo: Revista dos Tribunais.
SÉGUIN, Elida (2006): O Direito Ambiental: nossa casa planetária, 3.ª ed. Rio de
Janeiro: Forense.
SILVA, José Afonso da (2007): Direito Ambiental Constitucional, 6.ª ed. São Paulo:
Malheiros.
Página 23 de 404
PARTE I
DIREITO DO URBANISMO
Capítulo I
Génese, evolução, objeto e caracterização
Página 24 de 404
A formação das cidades recua a um passado longínquo, do qual ainda
não sabemos tudo. Sabe-se, no entanto, que na antiga Mesopotâmia
existiram, por volta de 2.500 a. C, cidades importantes como Ur (que
atingiu 50.000 habitantes) e Babilónia (que atingiu 80.000 habitantes),
com os seus célebres Jardins Suspensos da Babilónia (uma das sete
maravilhas do mundo antigo), no território do atual Iraque, entre o Tigre e
o Eufrates. Posteriormente, sugiram, no vale do Nilo, cidades como Tebas,
Mênfis e Alexandria. Na Índia surgiu Mohenjodaro, e na China surgiram
grandes cidades como Pequim e Hang-chou.
Na América central, no território ocupado pela atual Cidade do
México, por volta 500 a. C. surgiu Tenochtitlán, capital do Império Asteca,
que chegou a ter cerca de 100 mil habitantes.
Posteriormente, Atenas, na Grécia antiga, chegou a ter cerca de 250
mil habitantes1 e Roma, a capital do Império Romano, tinha no século 1º d.
C., mais de um milhão de habitantes. A grandiosidade urbanística da
cidade de Roma na Antiguidade clássica pode ser apreciada in
https://www.archdaily.com.br/br/871653/video-mostra-como-era-roma-no-
auge-do-imperio. Uma cidade com aquela grandiosidade só foi possível
pela observância de muitas e importantes regras de segurança e salubridade
urbana, para o que foi necessário criar eficazes sistemas de abastecimento
de água e de saneamento básico. A qualidade de vida e a estética urbana
foram cuidadosamente tomadas em consideração.
De então para cá, as concentrações urbanas não pararam de aumentar
em número e população, apesar de frequentes epidemias que dizimaram
grande parte da população.
1
O território de Atenas é habitado há 3.400 anos. Entre os anos 500 a. C. e 300 a. c., sua
época de ouro, Atenas foi o principal centro cultural e intelectual do Ocidente.
Página 25 de 404
1.3. A idade média portuguesa
2
Grande parte do património cultural está recuperado, mas há ainda muito a fazer e com
urgência. Veja-se, por exemplo, o sítio “os 10 lugares abandonados mais fantásticos de
Portugal” ou “imagens de património degradado”.
3
Também a ponte romana de alcântara, sobre o rio tejo, em Cáceres, Espanha, foi
mandada erguer pelo imperador romano Trajano.
Página 26 de 404
de Queluz, o Convento de Mafra, o Mosteiro dos Jerónimos e a Batalha são
alguns exemplos maiores deste período.
Quanto às caraterísticas das cidades medievais portuguesas, destacam-
se as grandes muralhas, as ruas estreitas de pedra, a presença de
castelos, pelourinhos, igrejas, torres de vigia, casas medievais. Cidades
como Monsanto, Castelo Rodrigo, Óbidos, Monsarz, Marvão, Almeida,
Valença, Beja, Elvas, ao que se acrescenta Lisboa, Porto, Braga
Coimbra, são exemplos de muito rico significado histórico e arquitetónico.
Na Idade Contemporânea, destaca-se a arquitetura neoclássica e
neogótica, a arte nova, o ecletismo, a arte deco, a arte moderna, a arte pós-
moderna e a arte contemporânea.
Na perspetiva do direito do urbanismo tem uma relevância especial a
reconstrução de Lisboa após o terramoto de 1755, pelo marquês de Pombal,
especialmente marcada por amplas avenidas e ruas direitas, em linha
com as grandes capitais europeias, como Paris ou Londres.
4
John STEINBECK, The Pearl, 1947.
Página 27 de 404
Londres, Paris, Berlim, Roma e Madrid tornaram-se cidades grandes no
panorama europeu.
Fora da Europa, destacou-se especialmente Nova Iorque, S. Paulo e
Rio de Janeiro. Depois da 2.ª Guerra Mundial surgiram cidades
gigantescas, como Tóquio, Pequim, S. Paulo e Cidade do México.
A População mundial não tem parado de aumentar. Atualmente, a
população mundial ronda os 7.6 biliões de seres humanos, quando em 1960
era, aproximadamente, de 3 biliões. Cerca de 2/3 da população mundial é
população urbana (68% da população mundial).
Esta grande concentração urbana trouxe consigo inúmeros problemas
sociais, amplamente inventariados pela ONU, dos quais se destacam a
insuficiência de habitação condigna, de escolas e de hospitais. 30% da
população urbana mundial sofre em pobreza extrema e cerca de mil
milhões de pessoas vivem em favelas ou barracas.
As cidades crescem exponencialmente e com elas crescem também
muitos problemas a elas associados: segurança, habitação, escolas
hospitais, igrejas, estradas e ruas, canalização de água, transportes, jardins
públicos, etc.
Surgiu, com maior urgência, a necessidade de regular juridicamente a
vida na cidade, para que a ordem e as condições de vida sejam asseguradas.
Surgiram os planos de urbanização como instrumentos juridicamente
vinculativos e com estes, surgiu o direito do urbanismo. As migrações das
últimas décadas trouxeram problemas acrescidos de organização social, de
multiculturalismo, de choque de culturas.
Página 28 de 404
O urbanismo moderno em Portugal desenvolveu-se sobretudo a partir
do último quartel do séc. XIX, impulsionado pela tendência geral na
Europa e pelas novas necessidades surgidas com a corrida das pessoas do
campo para a cidade à procura de emprego na muitas indústrias nascentes,
formando uma extensa massa operária, que compreendia frequentemente
mulheres e crianças, em geral mal paga, trabalhando muitas horas
(frequentemente até vinte horas por dia) e vivendo em fracas condições
habitacionais, de que ainda subsistem alguns vestígios, como as ilhas na
cidade do Porto.
No último quartel do séc. XIX, foi, assim, necessário preparar a
cidade para mais população, para a circulação dos “americanos” (puxados
por cavalos e posteriormente elétricos), dos comboios urbanos e
interurbanos e depois dos automóveis. Elaboraram-se planos urbanísticos,
expropriaram-se imóveis rústicos e urbanos e rasgaram-se longas avenidas
e ruas direitas, como a av. de Fernão Magalhães, avenida da Boavista, a rua
da Constituição no Porto ou as avenidas Fontes Pereira de Melo (1819-
1887) e 24 de julho, entre outras, em Lisboa.
Fontes Pereira de Melo, um dos políticos mais influentes do séc. XIX,
mandou abrir muitas estradas e a primeira linha de caminhos de ferro, entre
Lisboa e o carregado (12 quilómetros), inaugurada em 1856; deu início à
construção das linhas de caminhos de ferro de Vendas Novas e Sintra, a par
de ter mandado instalar a primeira linha telegráfica. Fontes Pereira de Melo
iniciou também uma determinante revolução dos transportes e das
comunicações, criou carreiras regulares de barcos a vapor, nomeadamente
para as ex-colónias, Madeira, Açores e Brasil, implementou os serviços
postais (primeiro selo no Reino Unido 1840; primeiro selo em Portugal –
1853) e as redes telefónicas (1877 em Lisboa e 1882 no Porto). A
importante revolução nas vias de comunicação e nos transportes
impulsionada por Fontes Pereira de Melo ficou conhecida por fontismo.
Página 29 de 404
A tarefa de dotar o país das infraestruturas necessárias ao seu
desenvolvimento prosseguiu ao longo de todo o séc. XX. Construíram-se
portos e aeroportos, caminhos de ferro e estradas. As cidades dotaram-se de
equipamentos importantes para a sua segurança e bem-estar, especialmente
a instalação de redes de esgotos, de canalização de água e de rede elétrica,
telefones, etc., mas também casas de espetáculos, hospitais, recintos
desportivos, escolas, etc., criaram-se espaços livres, como jardins públicos
e zonas de lazer (parques naturais), para tornar a cidade mais habitável e
mais confortável. A qualidade das habitações foi objeto de uma importante
regulamentação em 1951 (Regulamento Geral das Edificações Urbanas),
que em parte ainda está em vigor, e que visou dotar as habitações das
necessárias condições de higiene, salubridade e segurança, regulando
aspetos como a entrada de luz e ar nas habitações, o pé direito (altura
mínima) das divisões, as áreas mínimas dos compartimentos, etc.
Na história recente do direito do urbanismo em Portugal regista-se o
facto de, desde a segunda metade do séc. XIX e até à Constituição de 1976,
a Administração pública ter adotado, por imposição legislativa,
documentos internos, como desenhos e planos, que serviram de orientação
para as suas políticas e decisões urbanísticas, que vinculavam os serviços
administrativos, mas dos quais não resultavam direitos para os particulares.
Merecem particular destaque, neste âmbito, os “anteplanos”, impostos a
partir de 1944 e que vigoraram até o surgimento da moderna legislação
urbanística, já na vigência da Constituição de 1976, concretamente com o
surgimento, em 1982, da primeira legislação urbanística. De então para cá,
o direito do urbanismo não parou de se desenvolver e de se aprofundar,
como resulta, de forma insofismável, da vasta e rica legislação vigente,
para o que contribuiu determinantemente o estudo destas matérias nas
Faculdades de Direito, especialmente desde o alvor do presente século,
Página 30 de 404
tanto como unidade obrigatória do plano curricular da licenciatura, como
também em cursos de mestrado e doutoramento.
Num plano estritamente jurídico, o desenvolvimento da cidade
acompanhou o desenvolvimento dos direitos humanos ao ponto de hoje
podermos afirmar que que o cidadão ganhou um novo direito: o direito à
cidade, que deve ser entendido como direito a uma vida urbana em
segurança e bem estar. Trata-se de um direito individual de terceira
geração, que convive com um correspondente direito coletivo e difuso, tal
como a cidade é, enquanto espaço sustentável e de bem estar,
simultaneamente de cada um e de todos.
Bibliografia:
Gago, Rita: O surgimento do conceito de Urbanismo: teorias e práticas na Câmara
Municipal de Lisboa
Gomes, Bernardino António (1867): Relatório sobre os trabalhos da conferencia
sanitária internacional reunida em Constantinopla em 1866, Lisboa, Imprensa
Nacional.
Gomes, Bernardino António (1871): O esgoto, a limpeza e o abastecimento das aguas
em Lisboa, Lisboa, Typographia da Academia das Sciencias.
Silva, Álvaro Ferreira da (1996): “A construção residencial em Lisboa: evolução e
estrutura empresarial (1860-1930)”, in: Análise Social, 136-137, pp. 599-629.
Silva, Álvaro Ferreira da (1997): Crescimento urbano, regulação e oportunidades
empresariais: a construção residencial em Lisboa (1860-1930), Florença, EUI,
diss. de doutoramento.
Silva, Álvaro Ferreira da (1998): “Público e privado na modernização das infra-
estruturas: o abastecimento de água a Lisboa no século XIX”, comunicação ao
XVIII Encontro da Associação de História Económica e Social, Lisboa, Museu da
Água, EPAL.
Simões, Francisco (1886): Duas palavras acerca da avenida da Liberdade, Lisboa,
Typographia Portugueza.
Soares, Luís Bruno: “Sobre a estrutura urbana de Lisboa”, in: Arquitectura, abril 1980,
p. 27.
5
O território nacional é “o território historicamente definido no continente europeu e
os arquipélagos dos Açores e da Madeira” (art.º 5.º, n.º 1, da CRP). E ainda: “o Estado
é unitário e respeita na sua organização e funcionamento o regime autonómico insular e
os princípios da subsidiariedade, da autonomia das autarquias locais e da
descentralização democrática da administração pública” (n.º 2). Ao que acrescenta: “os
arquipélagos dos Açores e da Madeira constituem regiões autónomas dotadas de
estatutos político-administrativos e de órgãos de governo próprio” (art.º 6.º, da CRP).
Página 32 de 404
relações jurídico-administrativas, as quais, no entanto, se regem,
amplamente, por um regime jurídico próprio, para melhor corresponderem
e se adaptarem às necessidades do caso concreto. A vastidão, a
complexidade e as características próprias do direito do urbanismo fazem
dele uma matéria difícil de abarcar cientificamente, com uma linguagem
própria6, institutos próprios, princípios específicos. A “juventude” do
direito do urbanismo enquanto ciência jurídica autónoma contribui também
para a relativa instabilidade de alguns dos seus domínios específicos.
Página 34 de 404
obriga a que eles sejam usados nesse preciso sentido. Assim, por exemplo,
o art.º 128.º, n.º 2, do RJIGT, determina que “os programas e os planos
territoriais são obrigados a aplicar os conceitos técnicos e as definições
nos domínios do ordenamento do território e do urbanismo fixados por
decreto regulamentar7, não sendo admissíveis outros conceitos,
designações, definições ou abreviaturas para o mesmo conteúdo e
finalidade.”8 Por outro lado, o art.º 203.º, n.º 1, al. d), do mesmo diploma
determina que os regulamentos definem “os conceitos técnicos nos
domínios do ordenamento do território e do urbanismo, designadamente,
relativos aos indicadores, aos parâmetros, à simbologia e à sistematização
gráfica, a utilizar nos programas e nos planos territoriais”. E, o Decreto
Regulamentar n.º 9/2009, de 29 de maio, estabelece os conceitos técnicos
nos domínios do ordenamento do território9 e do urbanismo.
7
Trata-se do Decreto Regulamentar n.º 5/2019, de 27 de setembro, art.º 4.º, n.º 1, “a
utilização dos conceitos técnicos fixados nos termos do presente decreto regulamentar
dispensa a respetiva definição nos instrumentos de gestão territorial”. E, nos termos do
n.º 2, deste preceito, “os conceitos técnicos, como tal fixados pelo presente decreto
regulamentar, são de utilização obrigatória nos instrumentos de gestão territorial, não
sendo admissíveis outros conceitos, designações, definições ou abreviaturas para o
mesmo conteúdo e finalidade”
8
Conhecendo a relevância da vinculação do legislador e da Administração a uma
mesma linguagem técnica, na sua forma e conteúdo (expressões usadas e sua substância
conteudal) e das graves consequências de uma tal não vinculação, o legislador vinculou
expressamente os programas e os planos territoriais à aplicação dos conceitos técnicos e
das definições fixadas nos domínios do ordenamento do território e do urbanismo, ao
mesmo tempo que proibiu “outros conceitos, designações, definições ou abreviaturas
para o mesmo conteúdo e finalidade” (art.º 128.º, n.º 2, da LBG PPSOTU).
9
O regime jurídico do ordenamento do território em Portugal mantém uma ligação
estreita com o correspondente regime jurídico alemão constante, fundamentalmente, da
Lei Federal do Ordenamento do Território (Raumordnungsgesetz – ROG), regime que
se alarga especialmente a matérias como o urbanismo (Städtebau), o regime jurídico dos
solos (Bodenrecht) e o planeamento (ou planificação) setorial (Fachplanung). Sobre
uma primeira abordagem destas matérias no nosso país, cf. Sousa, António Francisco
de, A Estrutura Jurídica das Normas de Planificação Administrativa – directivas da
planificação, interesses em conflito, “discricionariedade de planificação”, Editora
Danúbio, Lisboa 1987 (este estudo resulta da tradução, com algumas adaptações, do
nosso estudo realizado em Freiburg i. Br., em 1985, sob a orientação do Prof. Doutor
Rainer Wahl, sob o título “Normative Struktur der Fachplanung: Planungsdirektiven,
Página 35 de 404
CAPÍTULO II
FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL DO
DIREITO DO URBANISMO
11
Nos termos do art.º 52.º, n.º 1, da CRP, “1. Todos os cidadãos têm o direito de
apresentar, individual ou coletivamente, aos órgãos de soberania, aos órgãos de
governo próprio das regiões autónomas ou a quaisquer autoridades petições,
representações, reclamações ou queixas para defesa dos seus direitos, da
Constituição, das leis ou do interesse geral e, bem assim, o direito de serem
informados, em prazo razoável, sobre o resultado da respetiva apreciação.”
12
O art.º 1305.º do Código Civil determina, sob a epígrafe, propriedade das coisas”,
que “o proprietário goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso, fruição e
disposição das coisas que lhe pertencem, dentro dos limites da lei e com observância
Página 37 de 404
como garantia estruturante do Estado de direito democrático.
Subjacente está a ideia fundamental de que o cidadão se realiza pela sua
liberdade e que esta pressupõe o poder ser proprietário de bens que
garantam a sua realização pessoal, de modo a poder satisfazer as suas
necessidades materiais e imateriais, como comprar ou arrendar habitação,
comprar alimentos, medicamentos, vestuário, meios de transporte, etc. A
dignidade humana realiza-se pela liberdade de desenvolvimento pessoal
e esta exige meios materiais assentes na propriedade. Sendo a propriedade
privada uma garantia fundamental do Estado de direito e da Constituição
portuguesa, e podendo exigir a gestão do território o uso, ou mesmo a
expropriação, da propriedade privada, a Constituição faz exigências
rigorosas a quaisquer formas de restrição do direito fundamental à
propriedade privada, estabelecendo neste âmbito uma rigorosa reserva de
lei: “a requisição e a expropriação por utilidade pública só podem ser
efetuadas com base na lei e mediante o pagamento de justa
indemnização” (art.º 62.º, n.º 2, da CRP)13.
Especificamente sobre o urbanismo, a Constituição determina que
compete ao Estado, às regiões autónomas e às autarquias locais a definição
das “regras de ocupação, uso e transformação dos solos urbanos”,
nomeadamente por meio de “instrumentos de planeamento” (art.º 65.º,
n.º 4), tudo nos limites das leis de ordenamento do território e urbanismo.
Para o efeito, aquelas entidades podem, nos limites da lei, expropriar14 os
das restrições por ela impostas.” Temos, assim, que o proprietário goza de três direitos:
uso, fruição e disposição.
13
A lei prevê outras formas de limitação da propriedade (e de vinculação social da
propriedade), como a venda forçada, o arrendamento forçado e a colocação sob
reserva.
14
A lei prevê outros meios de intervenção pública no solo, entre os quais se destaca a
reserva do solo, a venda e o arrendamento forçado de prédios urbanos, no caso de os
proprietários não cumprirem os ónus e deveres a que estão obrigados pelos planos
territoriais.
Página 38 de 404
solos necessárias à realização dos fins de utilidade pública urbanística em
concreto.
O enquadramento constitucional da habitação no urbanismo é feito no
art.º 65.º, n.ºs 1 a 3, da CRP. Consagra-se, como princípio fundamental, o
“direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão
adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a
intimidade pessoal e a privacidade familiar” (n.º 1) e o princípio do livre
acesso à habitação (n.º 3). Por outro lado, ao Estado incumbe a tarefa de
assegurar, na prática, o direito à habitação, para o que deve: a) estabelecer
e executar programas de política habitacional enquadrados em planos de
ordenamento geral do território e em planos de urbanização; b)
estimular a construção privada de habitação e o acesso à habitação,
própria ou arrendada; c) incentivar e apoiar as regiões autónomas e as
autarquias locais no desenvolvimento e realização de políticas de
habitação, bem como fomentar o surgimento de cooperativas de
habitação e a autoconstrução.
Incumbe ainda ao Estado, através de organismos próprios e “com o
envolvimento e a participação dos cidadãos” “ordenar e promover o
ordenamento do território, valorizando a paisagem (art.º 66.º, al. b), da
CRP), “criar e desenvolver reservas e parques naturais e de recreio,
bem como classificar e proteger paisagens e sítios, de modo a garantir a
conservação da natureza e a preservação de valores culturais de
interesse histórico ou artístico” (art.º 66.º, al. c), da CRP); promover, em
colaboração com as autarquias locais, a qualidade da vida urbana,
nomeadamente no plano arquitetónico e da proteção das zonas
históricas (art.º 66.º, al. e), da CRP).
Por outro lado, a Constituição refere-se ao domínio público e
enumera os bens que integram o domínio público, dos quis se destacam,
para além das águas territoriais e respetivos fundos marinhos, os lagos,
Página 39 de 404
Temos um prédio rústico no Porto (numa zona cheia de hotéis, uma zona onde há algum valor). Muda o PDM e o nosso
solo, por acaso é reclassificado como se fosse urbano. O preço do solo vai aumentar. Quando o solo é classificado como
urbano em princípio vai ficar mais caro. Antes a lei além destas duas figuras tinha o conceito de "solo urbanizável"
que é entre o solo rústico e o solo urbano, podia ser afeto às mesmas finalidades que o solo urbano "urbanização
programada ou cuja urbanização é possível urbanizar". Em 2014 acabou-se com isto.
Página 41 de 404
informado, o direito de acesso aos arquivos e registos administrativos, a
garantia de tutela jurisdicional efetiva, incluindo o direito de impugnar as
normas administrativas.
CAPÍTULO III
Ver aula prática dia Administração Direta
1/03/2023 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DO URBANISMO Administração Indireta
Administração Autónoma
6. Em geral
16
As CCDRs são serviços periféricos da Administração direta do Estado, dotados de
autonomia administrativa e financeira.
17
As entidades intermunicipais compreendem as Áreas Metropolitanas (AM) de Lisboa
e do Porto e as Comunidades Intermunicipais (CIM), que foram criadas há alguns anos
para assumirem as competências das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento
Regional (CCDRs), que deveriam ser extintas. No entanto, as CCDR mantêm-se e as
CIM também, naturalmente com custos muito elevados para o Estado.
Página 42 de 404
7. Estado: Governo, Ministérios, Secretarias de Estado, CCDRs
7.1. Governo
7.2. Ministérios
Página 44 de 404
administrativo nos respetivos gabinetes”. Em geral, os Secretários de
Estado não dispõem de competência própria.
Página 45 de 404
sobre a Inspeção-Geral das Atividades Culturais e a Direção-Geral do
Património Cultural.
O Ministro do Ambiente e da Ação Climática formula, conduz,
executa e avalia as “políticas de ambiente, ordenamento do território,
cidades, transportes urbanos, suburbanos e rodoviários de passageiros,
mobilidade, clima, silvicultura, conservação da natureza, energia, geologia
e florestas, numa perspetiva de desenvolvimento sustentável e de coesão
social e territorial. Ele exerce a direção sobre a Secretaria-Geral do
Ministério do Ambiente, o Gabinete para a Mobilidade Elétrica em
Portugal e a Direção-Geral de Energia e Geologia. Compete-lhe, ainda,
exercer a superintendência e a tutela sobre a Agência Portuguesa do
Ambiente, I. P.19, sobre o Laboratório Nacional de Energia e Geologia,
I. P. e sobre o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I.
P.
O Ministro das Infraestruturas e da Habitação formula, conduz,
executa e avalia as “políticas de infraestruturas, nas áreas da construção, do
imobiliário, dos transportes e das comunicações, incluindo a regulação dos
contratos públicos, bem como as políticas de habitação, de reabilitação
urbana e dos transportes marítimos e dos portos”. Ele exerce
superintendência e tutela sobre o Instituto da Mobilidade e dos
Transportes, I. P. (em coordenação com o Ministro da Administração
Interna, com o Ministro do Ambiente e da Ação Climática e com o
Ministro do Mar, em razão das matérias relacionadas com as respetivas
áreas) e sobre o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, I. P.
19
A Agência Portuguesa do Ambiente, I. P., tem por missão, “propor, desenvolver e
acompanhar a gestão integrada e participada das políticas de ambiente e de
desenvolvimento sustentável”. Ela exerce, nomeadamente, funções de Autoridade
Nacional da Água, de Autoridade Nacional de Segurança de Barragens, de Autoridade
Nacional de Resíduos, de Autoridade Nacional para a Prevenção e Controlo Integrados
da Poluição, de Autoridade Nacional de Avaliação de Impacte Ambiental e de
Autoridade de Avaliação Ambiental Estratégica de Planos e Programas, e de autoridade
competente para o regime de responsabilidade ambiental.
Página 46 de 404
A Ministra da Coesão Territorial formula, conduz, executa e avalia
as “políticas de coesão territorial, de cooperação territorial europeia, de
desenvolvimento regional e de valorização do interior, tendo em vista a
redução das desigualdades territoriais e o desenvolvimento equilibrado
do território, atendendo às especificidades das áreas do país com baixa
densidade populacional e aos territórios transfronteiriços.” Ela é
responsável pelo Programa de Valorização do Interior e pelo Programa de
Revitalização do Pinhal Interior. Compete-lhe, ainda, exercer a direção
sobre as comissões de coordenação e desenvolvimento regional (em
coordenação com a Ministra da Modernização do Estado e da
Administração Pública, no que diz respeito à relação com as autarquias
locais, e com o Ministro do Ambiente e da Ação Climática, em matérias de
ambiente e ordenamento do território).
Página 47 de 404
Administração periférica do Estado. Será que as CCDRs têm personalidade jurídica? Não. Elas fazem parte da
Administração Direta do Estado
imprimir às políticas de ambiente, de ordenamento do território, de
desenvolvimento regional e de administração local, articulando ações
concretas com os serviços locais dos organismos centralizados,
promovendo a atuação coordenada dos serviços desconcentrados de âmbito
regional e o apoio técnico às autarquias locais e às suas associações, num
quadro potenciador de maior eficiência na gestão dos recursos públicos.”
Nos termos do art.º 1.º do DL 228/2012, as comissões de coordenação
e desenvolvimento regional são “serviços periféricos da administração
direta do Estado, dotados de autonomia administrativa e financeira”. Nos
termos do n.º 3, do referido art.º 1.º, “a definição das orientações
estratégicas e a fixação de objetivos para as CCDRs, nos domínios do
ambiente, ordenamento do território, conservação da natureza e cidades”, e
o acompanhamento da sua execução, bem como a designação dos
respetivos cargos de direção superior, “são articulados entre os membros do
Governo responsáveis pelas áreas do desenvolvimento regional e do
ambiente e ordenamento do território, sem prejuízo de competir ao membro
do Governo responsável pelas áreas do ambiente e ordenamento do
território decidir sobre as matérias relativas ao ambiente, ordenamento do
território, conservação da natureza e cidades, bem como as relativas à
Paisagem Cultural Evolutiva e Viva do Alto Douro Vinhateiro”
(património mundial da UNESCO).
As CCDRs atuam numa área geográfica que corresponde à
circunscrição dos municípios nela integrados.
Em Portugal, existem as seguintes cinco CCDRs:
a) Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do
Norte (CCDR Norte), com sede no Porto20;
20
Abarca os seguintes municípios: Arcos de Valdevez, Caminha, Melgaço, Monção,
Paredes de Coura, Ponte da Barca, Ponte de Lima, Valença, Viana do Castelo e Vila
Nova de Cerveira. Amares, Barcelos, Braga, Esposende, Terras de Bouro e Vila Verde.
Cabeceiras de Basto, Fafe, Guimarães, Mondim de Basto, Póvoa de Lanhoso, Vieira do
Página 48 de 404
b) Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do
Centro (CCDR Centro), com sede em Coimbra21;
c) Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de
Lisboa e Vale do Tejo (CCDR LVT), com sede em Lisboa22;
d) Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do
Alentejo (CCDR Alentejo), com sede em Évora23;
Vila Viçosa. Aljustrel, Almodôvar, Alvito, Barrancos, Beja, Castro Verde, Cuba,
Ferreira do Alentejo, Mértola, Moura, Ourique, Serpa e Vidigueira.
24
A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR
Algarve) abarca os seguintes municípios: Albufeira, Alcoutim, Aljezur, Castro Marim,
Faro, Lagoa, Lagos, Loulé, Monchique, Olhão, Portimão, São Brás de Alportel, Silves,
Tavira, Vila do Bispo e Vila Real de Santo António.
Página 50 de 404
O conselho de coordenação intersectorial promove a coordenação
técnica da execução das políticas da administração central, à escala da
região. O conselho de coordenação intersectorial é composto pelo
presidente e pelos “dirigentes máximos dos serviços locais desconcentrados
da administração central do Estado e dos serviços periféricos da
administração direta e indireta do Estado para as áreas da agricultura,
florestas, mar, ambiente, ordenamento do território, economia, emprego e
formação profissional, administração interna, igualdade, saúde, obras
públicas, transportes, energia, educação, desporto, juventude, ciência,
defesa nacional e cultura e pelos presidentes das juntas metropolitanas e
das comunidades intermunicipais.”
O conselho regional é um órgão consultivo da CCDR que representa
vários interesses e entidades relevantes para a prossecução dos fins da
CCDR. Ele é constituído pelos presidentes das câmaras municipais
abrangidas, por dois representantes das freguesias abrangidas e por outros
representantes de entidades e organizações abrangidas.
São atribuições das CCDRs exercer os poderes de autoridade do
Estado na respetiva área geográfica de atuação, “nomeadamente no que
respeita:
a) À liquidação e cobrança, voluntária ou coerciva, de taxas que lhes
sejam devidas nos termos da lei e, bem assim, dos rendimentos
provenientes da sua atividade;
b) À execução coerciva das decisões de autoridade, nos termos da
lei geral;
c) À defesa dos bens do domínio público sob a sua administração;
d) À prevenção, ao controlo de infrações e à aplicação de sanções
por atividades ilícitas, designadamente nos domínios do ambiente, do
ordenamento do território e da urbanização e edificação, de acordo com
a legislação aplicável;
Página 51 de 404
e) À competência para requerer a declaração de utilidade pública,
com ou sem caráter de urgência, para o efeito de expropriação de bens e
direitos nos termos da lei;
f) Ao reconhecimento de capacidade judiciária para efeitos da
efetivação de responsabilidade civil extracontratual visando a reparação
de danos causados ao ambiente ou aos interesses gerais do
ordenamento do território”.
Os funcionários das CCDRs que exerçam funções de fiscalização e
vigilância nas áreas do ambiente e do ordenamento do território são
detentores de poderes de autoridade (autoridades de polícia
administrativa) e são competentes para:
“a) Solicitar a colaboração das autoridades policiais quando
necessário à imposição de comportamentos legalmente devidos, à
prevenção de infrações à lei ou à salvaguarda da inviolabilidade de
bens públicos e interesses gerais no âmbito das atribuições das CCDRs;
b) Determinar, a título preventivo, e com efeitos imediatos, mediante
ordem escrita e fundamentada, a suspensão ou cessação de atividades
lesivas ou potencialmente danosas para o ambiente, o encerramento de
instalações quando da não aplicação dessas medidas possa resultar
risco iminente para a proteção da saúde pública e para segurança de
pessoas e bens;
c) Identificar quaisquer pessoas ou entidades que violem disposições
legais e regulamentares nos domínios do ambiente e do ordenamento
do território;
d) Intimar à imediata remoção de ocupações ilegais em bens do
domínio público sob a administração das CCDRs e determinar o embargo
de quaisquer construções em áreas de ocupação proibida ou condicionada
em zonas de proteção estabelecidas por lei ou em violação da lei, dos
regulamentos ou das condições de licenciamento ou autorização.”
Página 52 de 404
Os trabalhadores das CCDRs que desempenhem funções de
fiscalização e vigilância (verdadeiras autoridades de polícia
administrativa) usam um documento de identificação próprio, de modelo
aprovado pelo membro do Governo de que dependem as CCDRs. Trata-se
de um documento identificativo que deve ser apresentado, pelo menos
quando solicitado, aos destinatários das ações de fiscalização.
8.1. Em geral
25
Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro (última versão dada pela Lei n.º 66/2020, de 4 de
novembro).
Página 53 de 404
O regime das autarquias locais refere-se ainda a outras entidades além das próprias Autarquias Locais.
- da proteção dos direitos e interesses dos cidadãos; e
- da intangibilidade das atribuições do Estado.
8.2. Freguesias
26 Tenha-se presente a Lei n.º 23/96, de 26 de julho, lei dos serviços públicos, (alterada
pela última vez pela Lei n.º 51/2019, de 29 de julho), que consagra a proteção do
“utente de serviços públicos essenciais”, seja qual for a natureza jurídica da entidade
prestadora. A Lei n.º 23/96, de 26/07, foi complementada, nomeadamente, pelo
Decreto-Lei n.º 194/2009, de 20/08, cujo art.º 1.º, estabelece “o regime jurídico dos
serviços municipais de abastecimento público de água, de saneamento de águas
residuais urbanas e de gestão de resíduos urbanos”. O art.º 10.º da Lei n.º 23/96, sob a
epígrafe de “prescrição e caducidade”, estabelece um prazo de prescrição de seis meses
após o termo do período da prestação do serviço.
27
Nos termos do Dec. Regul. 5/2019, Anexo I, “operações urbanísticas são as operações
materiais de urbanização, de edificação, utilização dos edifícios ou do solo desde que,
neste último caso, para fins não exclusivamente agrícolas, pecuários, florestais, mineiros
ou de abastecimento público de água”.
Página 54 de 404
- “participar, nos termos acordados com a câmara municipal, no
processo de elaboração dos planos municipais de ordenamento do
território”,
- “colaborar, nos termos acordados com a câmara municipal, na
discussão pública dos planos municipais do ordenamento do
território”,
- “facultar a consulta pelos interessados dos planos municipais de
ordenamento do território”,
- “emitir parecer sobre a denominação das ruas e praças das
localidades e das povoações”,
- “colaborar com a autoridade municipal de proteção civil na
iminência ou ocorrência de acidente grave ou catástrofe”,
- “promover a conservação de abrigos de passageiros existentes na
freguesia”,
- “gerir, conservar e promover a limpeza de balneários, lavadouros
e sanitários públicos”,
- “gerir e manter parques infantis públicos e equipamentos
desportivos de âmbito local”,
- “conservar e promover a reparação de chafarizes e fontanários
públicos”,
- “colocar e manter as placas toponímicas”,
- “conservar e reparar a sinalização vertical não iluminada
instalada nas vias municipais”,
- “proceder à manutenção e conservação de caminhos, arruamentos
e pavimentos pedonais”,
- “conceder terrenos, nos cemitérios propriedade da freguesia, para
jazigos, mausoléus e sepulturas perpétuas”,
- “gerir, conservar e promover a limpeza dos cemitérios
propriedade da freguesia”,
Página 55 de 404
- “administrar e conservar o património da freguesia”,
- “elaborar e manter atualizado o cadastro dos bens móveis e imóveis
propriedade da freguesia”,
- “declarar prescritos a favor da freguesia, após publicação de avisos,
os jazigos, mausoléus ou outras obras, bem como sepulturas perpétuas
instaladas nos cemitérios propriedade da freguesia, quando não sejam
conhecidos os proprietários ou relativamente aos quais se mostre que, após
notificação judicial, se mantém desinteresse na sua conservação e
manutenção de forma inequívoca e duradoura”,
- “proceder ao registo e ao licenciamento de canídeos e gatídeos”,
- “proceder à administração ou à utilização de baldios28 sempre que
não existam assembleias de compartes”,
- “licenciar a venda ambulante de lotarias, licenciar a atividade de
arrumador de automóveis”,
- licenciar “atividades ruidosas de caráter temporário que
respeitem a festas populares, romarias, feiras, arraiais e bailes” (art.º
16.º).
Compete ao presidente da junta de freguesia presidir à unidade local
de proteção civil, “determinar a instrução dos processos de
contraordenação e proceder à aplicação das coimas” (art.º 18.º).
A Lei Quadro das Contraordenações Ambientais (Lei n.º 50/2006,
de 29 de agosto, última alteração dada pela Lei n.º 25/2019, de 26/03)
define, no art.º 1.º, n.º 4, a contraordenação do ordenamento do
28
A Lei n.º 68/93, de 4 de setembro, define, no seu art.º 1.º, n.º 1, baldios como “os
terrenos possuídos e geridos por comunidades locais”. Estas comunidades locais são
constituídas pelos respetivos universos de compartes. O n.º 3, do art.º 1.º, determina
que os compartes, como “moradores de uma ou mais freguesias ou parte delas, segundo
os usos e costumes, têm direito ao uso e fruição do baldio”.
Página 56 de 404
território como a violação dos planos municipais e intermunicipais e
das medidas preventivas29.
Ao direito do urbanismo e ambiente aplicam-se, em primeiro lugar, as
normas contraordenacionais específicas e, subsidiariamente, o regime
geral das contraordenações, previsto e regulado no DL n.º 433/82, de 27
de outubro, que aprovou o “Ilícito de Mera Ordenação Social”, alterado
pela última vez pela Lei n.º 109/2001.
8.4. Municípios
29
A Lei Quadro das Contraordenações Ambientais (Lei n.º 50/2006, de 29 de agosto,
última alteração dada pela Lei n.º 25/2019, de 26/03) define, no seu art.º 1.º, n.º 2, a
contraordenação ambiental como “todo o facto ilícito e censurável que preencha um
tipo legal correspondente à violação de disposições legais e regulamentares relativas ao
ambiente que consagrem direitos ou imponham deveres, para o qual se comine uma
coima”. Também constitui contraordenação ambiental a violação dos regulamentos de
gestão dos programas especiais (art.º 1.º, n.º 5, do mesmo diploma).
30
A “polícia municipal” é uma das atribuições mais antigas dos municípios e dos
antigos concelhos. O art.º 52.º do Código Administrativo de 1940 estabelecia que “as
deliberações das câmaras municipais podem revestir a forma de postura ou regulamento
policial sempre que contenham disposições preventivas de carácter genérico e execução
permanente”. O § 1.º deste art.º 52.º proibia às câmaras “fazer posturas sobre matérias
estranhas às suas atribuições ou já reguladas por lei” e o § 2.º permitia que posturas
cominassem certas penas. O âmbito da “polícia municipal” pode ser melhor
compreendido se tivermos presente o art.º 50.º do Código Administrativo de 1940, que
atribuiu às câmaras, no uso das suas atribuições de polícia (âmbito em que os
municípios podem emitir regulamentos autónomos em matéria policial, isto é, posturas),
competência para deliberar: 1 - Sobre tudo o que interesse à segurança e comodidade do
trânsito nas ruas, praças, cais e mais lugares públicos e não seja das atribuições de
outras autoridades; 2- Sobre o estacionamento de veículos nas ruas, praças e cais e
condições em que devem prestar os seus serviços ao público; 3- Sobre a iluminação
pública nas povoações e vias públicas sujeitas à sua jurisdição. 4- Sobre a denominação
das ruas e praças da povoação; 5- Sobre a segurança, elegância, salubridade e prevenção
Página 57 de 404
Compete à assembleia municipal, sob proposta da câmara municipal:
“Aprovar as taxas do município e fixar o respetivo valor; (…) c)
deliberar em matéria de exercício dos poderes tributários do município;
d) fixar anualmente o valor da taxa do imposto municipal sobre imóveis,
bem como autorizar o lançamento de derramas;” (…); g) aprovar as
posturas e os regulamentos com eficácia externa do município; h)
aprovar os planos e demais instrumentos estratégicos necessários à
prossecução das atribuições do município; deliberar sobre a afetação
ou desafetação31 de bens do domínio público municipal;” (…) r)
aprovar as normas, delimitações, medidas e outros atos previstos nos
regimes do ordenamento do território e do urbanismo”. E, nos termos
do n.º 2, al. i, do mesmo artigo, “elaborar e aprovar o regulamento do
conselho municipal de segurança” (art.º 25.º).
Compete, nos termos do art.º 33.º), à câmara municipal: a) elaborar
e submeter à aprovação da assembleia municipal os planos necessários à
realização das atribuições municipais; b) participar, com outras
entidades, no planeamento que diretamente se relacione com as
atribuições do município, emitindo parecer a submeter a apreciação e
deliberação da assembleia municipal; elaborar e aprovar a norma de
controlo interno, bem como o inventário dos bens, direitos e obrigações
patrimoniais do município e respetiva avaliação e ainda os documentos
Página 60 de 404
contraordenação e aplicar as coimas, com a faculdade de delegação em
qualquer dos outros membros da câmara municipal; p) conceder terrenos,
nos cemitérios propriedade do município, para jazigos, mausoléus e
sepulturas perpétuas.”
As autarquias locais regem-se pelos princípios da independência e
da especialidade (art.º 44.º e art.º 45.º).
Nos termos do art.º 62.º, “salvo se a lei prescrever forma especial, o
título dos direitos conferidos aos particulares por deliberação dos órgãos
das autarquias locais ou decisão dos seus titulares é um alvará expedido
pelo respetivo presidente”33.
33
Sobre os alvarás anteriores, cf. o art.º 125.º do RJUE.
34
A AMP compreende 17 municípios e conta com uma população de cerca de 1.800.000
habitantes. A AML compreende 18 municípios (Alcochete, Almada, Barreiro, Amadora,
Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Moita, Montijo, Odivelas, Oeiras, Palmela, Seixal,
Sintra, Sesimbra, Setúbal e Vila Franca de Xira) e conta com uma população de cerca
de 2.800.000 habitantes.
Página 61 de 404
executiva metropolitana e o conselho estratégico para o desenvolvimento
metropolitano”.
Compete ao conselho metropolitano, nomeadamente, “aprovar os
planos, os programas e os projetos de investimento e desenvolvimento de
interesse metropolitano, cujos regimes jurídicos são definidos em diploma
próprio, incluindo: i) plano metropolitano de ordenamento do território;
ii) plano metropolitano de mobilidade e logística; iii) plano metropolitano
de proteção civil; iv) plano metropolitano de gestão ambiental; v) plano
metropolitano de gestão de redes de equipamentos de saúde, educação,
cultura e desporto” (art.º 71.º).
Compete às comunidades intermunicipais35 prosseguir fins públicos,
como a “promoção do planeamento e a gestão da estratégia de
desenvolvimento económico, social e ambiental do território
abrangido”. Compete ainda às comunidades intermunicipais “assegurar
a articulação das atuações entre os municípios e os serviços da
administração central, nas seguintes áreas: a) redes de abastecimento
público, infraestruturas de saneamento básico, tratamento de águas
residuais e resíduos urbanos; b) rede de equipamentos de saúde; c)
rede educativa e de formação profissional; d) ordenamento do
território, conservação da natureza e recursos naturais; e) segurança e
proteção civil; f) mobilidade e transportes; g) redes de equipamentos
públicos; h) promoção do desenvolvimento económico, social e cultural;
i) rede de equipamentos culturais, desportivos e de lazer” (art.º 81.º).
Os órgãos da comunidade intermunicipal são a assembleia
intermunicipal, o conselho intermunicipal, o secretariado executivo
35
São as seguintes as comunidades intermunicipais: Alentejo Central, Alentejo Litoral,
Algarve, Alto Alentejo, Alto Minho, Alto Tâmega, Ave, Baixo Alentejo, Beira Baixa,
Beiras e Serra da Estrela, Cávado, Douro, Lezíria do Tejo, Médio Tejo, Oeste, Região
de Aveiro, Região de Coimbra, Região de Leiria, Tâmega e Sousa, Terras de Trás-os-
Montes, Viseu Dão Lafões.
Página 62 de 404
intermunicipal e o conselho estratégico para o desenvolvimento
intermunicipal (art.º 82.º).
Compete ao conselho intermunicipal: “aprovar os planos, os
programas e os projetos de investimento e desenvolvimento de interesse
intermunicipal, cujos regimes jurídicos são definidos em diploma próprio,
incluindo: i) Plano intermunicipal de ordenamento do território; ii) Plano
intermunicipal de mobilidade e logística; iii) Plano intermunicipal de
proteção civil; iv) Plano intermunicipal de gestão ambiental; v) Plano
intermunicipal de gestão de redes de equipamentos de saúde, educação,
cultura e desporto” (art.º 90.º).
Nos termos do art.º 111.º, “a descentralização administrativa
concretiza-se através da transferência por via legislativa de
competências de órgãos do Estado para órgãos das autarquias locais e
das entidades intermunicipais”. Nos termos do art.º 112.º, “a
concretização da descentralização administrativa visa a aproximação
das decisões aos cidadãos, a promoção da coesão territorial, o reforço da
solidariedade inter-regional, a melhoria da qualidade dos serviços prestados
às populações e a racionalização dos recursos disponíveis.”
9. Tutela administrativa
Página 65 de 404
Planos de Urbanização – PU: aplica-se numa parte do território
municipal. Nomeadamente, o PU define a rede viária
estruturante, a localização de equipamentos de uso e
interesse coletivo, a estrutura ecológica, o sistema
urbano de circulação e transportes, o estacionamento.
Planos Pormenor – PP: define com pormenor a ocupação e é a base
dos projetos de execução (v.g. da infraestrutura e da
arquitetura dos edifícios).
CAPÍTULO IV
POLÍTICA PÚBLICA DE SOLOS, DE ORDENAMENTO DO
TERRITÓRIO E DE URBANISMO
39
Sobre a relevância dos princípios jurídico-administrativos no Estado de direito, cf.
Sousa, António Francisco de: “Princípio jurídico-fundamentais no Estado de Direito:
sua função e relevância jurídica“, in: La fuerza institucional de la abogacía pública en el
contexto europeo: Vol. I / coord. por Rubén Miranda Gonçalves, Fábio da Silva Veiga;
José Julio Fernández Rodríguez (dir.), Vol. 1, 2020, ISBN 9788409177004, págs. 231-
320.
40
Sobre o princípio da economia e eficiência, cf. Sousa, António Francisco de,
“Princípio jurídico-fundamentais no Estado de Direito: sua função e relevância
jurídica“, in: La fuerza institucional de la abogacía pública en el contexto europeo: Vol.
I / coord. por Rubén Miranda Gonçalves, Fábio da Silva Veiga; José Julio Fernández
Rodríguez (dir.), Vol. 1, 2020, ISBN 9788409177004, págs. 231-320.
Página 68 de 404
Princípio da subsidiariedade, que simplifica e coordena os
procedimentos nos diferentes níveis da Administração Pública, como forma
de aproximar a decisão do cidadão.
Princípio da equidade, que assegura a justa repartição dos custos e
benefícios que resultam da aplicação dos programas, planos e instrumentos
de gestão territorial.
Princípio da participação dos cidadãos, que assegura o acesso à
informação e à participação na elaboração, execução, avaliação e revisão
dos programas e planos territoriais.
Princípio da harmonização de interesses públicos e privados, que
vincula reciprocamente as entidades públicas e privadas na realização dos
programas e planos territoriais.
Princípio da segurança jurídica e proteção da confiança, que
garante a estabilidade da lei e o respeito por direitos preexistentes e
consolidados.
Página 69 de 404
Aos cidadãos são garantidos alguns direitos, tais como:
- direito a um ordenamento do território racional, proporcional e
equilibrado;
- direito a usar e a fruir o solo;
- direito a aceder aos espaços coletivos e de uso público (incluindo
equipamentos, espaços verdes e outros espaços de utilização
coletiva);
- direito a intervir e participar nos procedimentos administrativos
relativos ao solo, ao ordenamento do território e ao urbanismo.
Aos direitos anteriormente referidos correspondem, simultaneamente,
certos deveres importantes, como o dever de utilização sustentável e
racional do território e dos recursos naturais, o dever de respeitar o
ambiente, o património cultural e a paisagem e ainda o dever de usar
corretamente os bens do domínio público, as infraestruturas, os serviços
urbanos, os equipamentos, os espaços verdes e quaisquer espaços de uso
coletivo, abstendo-se de atos ou atividades que representem perigo de
lesão ou desvalorização (medida precautória) desses bens.
Sobre o Estado, as regiões autónomas e as autarquias locais recai,
antes de mais, o dever de promover a concretização da política pública
de solos, de ordenamento do território e de urbanismo. Este dever geral
compreende determinados deveres específicos como o dever de planear e
programar o uso do solo, o dever de garantir a igualdade e a
transparência no exercício dos direitos e no cumprimento dos deveres
relacionados com o solo, o dever de garantir o uso sustentável do solo,
de garantir a criação de espaços públicos para as infraestruturas, os
equipamentos urbanos, espaços verdes ou de utilização coletiva e o
dever de fiscalização o cumprimento da lei quanto ao uso, ocupação e
transformação do solo pelos cidadãos.
Página 70 de 404
O direito de uso do solo exerce-se nos limites da Constituição, da lei
e dos planos territoriais (intermunicipais e municipais). Para um uso mais
adequado, o solo é classificado e qualificado.
41
Esta definição consta também do Decreto Regulamentar n.º 5/2019, Anexo I, que
define os termos técnicos para a área do urbanismo, de 17 de setembro de 2019. Cf.
ainda o art.º 71.º do RJIGT (Decreto-Lei n.º 80/2015, de 14 de maio).
42
Cf., neste sentido, o Dec. Reg. 5/2019, Anexo I. Cf. ainda o art.º 71.º do RJIGT
(Decreto-Lei n.º 80/2015, de 14 de maio), e o Decreto Regulamentar n.º 15/2015, de 19
de agosto, art.º 5.º e 7.º
Página 71 de 404
14. Vinculação social da propriedade: restrições de utilidade
pública
43
Contrariamente ao que muitas vezes é sustentado, a avaliação é uma operação
essencialmente vinculada, que não é realizada no âmbito de uma liberdade
discricionária de avaliação ou de uma livre margem de avaliação (que acabaria por
equivaler a uma liberdade discricionária por falta de controlo jurisdicional. Ilustrativo é
o recente ac. do Tribunal Administrativo Federal alemão em sede de avaliação de
desempenho ou de conhecimento de funcionários públicos, no qual o tribunal o faz
exigências jurídicas importantes, tendo acabado por exercer um controlo intenso (ac. de
1.3.2018), onde se lê: “l. A obrigação de tornar plausíveis as avaliações individuais
está relacionada com a faculdade de o funcionário suscitar objeções à sua exatidão ou
determinabilidade. Se o funcionário considerar que a explicação da sua avaliação pela
Administração não é suficientemente plausível, sobre ele recai o ónus de especificar
pontos concretos que considere que estão pouco claros ou incorretos. 2. Ao justificar a
avaliação global de uma avaliação, a ponderação dos diferentes elementos individuais
deve estar relacionada com as exigências estatutárias do cargo em causa. A
Administração deve assegurar que é uniforme a ponderação dos elementos
individuais de avaliação, no âmbito de aplicação de critérios de avaliação dentro de
um grupo de funcionários abrangidos” (tradução nossa, in: BVerwG, ac. de 1.3.2018 -
BverwG 2 A 10.17).
Página 72 de 404
Por outro lado, as áreas territoriais a reabilitar e a regenerar44 são
identificadas pelo Estado, pelas Regiões Autónomas e pelas autarquias
locais, entidades que devem também realizar as ações adequadas à
reabilitação e à regeneração.
Nos termos do Dec. Reg. 5/2019, Anexo I (que corresponde à
definição dada pelo art.º 61.º da Lei n.º 31/2014, de 30 de maio, LBG
PPSOTU), por “reabilitação entende-se uma forma de intervenção
territorial integrada que visa a valorização do suporte físico de um
território, através da realização de obras de reconstrução, recuperação,
beneficiação, renovação e modernização do edificado, das infraestruturas,
dos serviços de suporte e dos sistemas naturais, bem como de correção de
passivos ambientais ou de valorização paisagística”.
Nos termos do Dec. Reg. 5/2019, Anexo I (que corresponde à definição
dada pelo art.º 61.º da Lei n.º 31/2014, de 30 de maio, LBG PPSOTU), por
“regeneração entende-se uma forma de intervenção territorial integrada que
combina ações de reabilitação com obras de demolição e construção nova e
com medidas adequadas de revitalização económica, social e cultural e
de reforço da coesão e do potencial territorial”. Tenha-se presente que o
art.º 96.º, n.º 1, al. d), da CRP, estabelece como objetivo da política
agrícola “assegurar o uso e gestão racionais dos solos e dos restantes
recursos naturais, bem como a manutenção da sua capacidade de
regeneração”.
Página 74 de 404
- comparticipar nos custos de construção, manutenção, reforço ou
renovação das infraestruturas, equipamentos e espaços públicos de
âmbito geral;
- minimizar (ou mitigar) o nível de exposição a riscos coletivos.
Uma das manifestações possíveis da vinculação social da propriedade
(Sozialbindung des Eigentums) consiste na possibilidade de a
Administração impor ao proprietário a realização de operações
urbanísticas45 “necessárias à execução de um plano territorial de âmbito
intermunicipal ou municipal”, o que pode compreender, nomeadamente, a
obrigação de nele construir, conservar, reabilitar e demolir “as
construções e edificações que nele existam ou de as utilizar em
conformidade com o previsto em plano territorial” (art.º 15.º, n.º 1, da LBG
PPSOTU). Se não cumprir, pode haver lugar à expropriação ou à venda
forçada do imóvel para a realização dos fins em vista. Em certos casos, a
autoridade pode também substituir-se ao proprietário e realizar as obras,
a expensas deste (execução por ação substitutiva)46.
O “sacrifício” de direitos preexistentes e juridicamente consolidados
está sujeito ao pagamento de justa compensação ou indemnização (art.º
17.º da LBG PPSOTU). São igualmente indemnizáveis quaisquer
“sacrifícios” de efeito equivalente à expropriação.
Por outro lado, o solo pode ser sujeito ao regime de reserva, “para
infraestruturas urbanísticas47, equipamentos e espaços verdes e outros
45
Nos termos do Dec. Regul. 5/2019, Anexo I, “operações urbanísticas são as operações
materiais de urbanização, de edificação, utilização dos edifícios ou do solo desde que,
neste último caso, para fins não exclusivamente agrícolas, pecuários, florestais, mineiros
ou de abastecimento público de água”.
46
Por exemplo, nos termos do art.º 15.º, nº 3, al. f), do Regime Jurídico da
Responsabilidade Ambiental, a autoridade competente pode “executar subsidiariamente,
a expensas do sujeito responsável, as medidas de reparação necessárias quando a
gravidade e as consequências dos danos assim o exijam.”
47
Nos termos do Dec. Reg. 5/2019, infraestruturas territoriais são “os sistemas técnicos
gerais de suporte, os sistemas gerais de circulação e transporte, os sistemas gerais de
captação, transporte e armazenamento de água, os sistemas gerais de armazenamento,
Página 75 de 404
espaços de utilização coletiva”. A reserva é sempre a prazo (na falta de
outro prazo, 5 anos), sob pena de caducidade, e determina a obrigação de
aquisição pela Administração Pública no prazo estabelecido no plano
territorial ou no instrumento de programação.
51
Cf. o Decreto-Lei n.º 280/2007, de 7 de agosto, que aprovou o regime jurídico do
património imobiliário público.
52
Marcelo Caetano faz a distinção entre bens do domínio público natural (bens da
natureza) e bens do domínio público artificial, construídos pela ação humana (Direito
Administrativo, 1990: 922 e 923).
Página 77 de 404
arrendados ou locados (nomeadamente financeira de imóveis pelo Estado),
podendo haver despejo de imóveis.
Por acordo entre o proprietário e a Administração e sendo mais
adequado na perspetiva urbanística, a propriedade pode ser mantida ou
integrada em titularidade privada.
Cessando as restrições de utilidade pública, as servidões
administrativas de utilidade pública e a desafetação de imóveis do
domínio público ou dos fins de utilidade pública a que se encontravam
adstritos, fazem caducar o regime de uso do solo53 para eles
especificamente previsto nos planos territoriais de âmbito intermunicipal
ou municipal.
A afetação54 confere ao bem sobre que incide o estatuto de direito
público. A afetação é um ato “real”, porque os seus efeitos se projetam
diretamente sobre a coisa e não sobre a pessoa do seu titular.
Uma afetação consiste num ato de autoridade que confere a um bem
um status público específico (por exemplo, estrada rodoviária, caminho
agrícola, praça pública)55. A afetação estabelece o fim público a que o
bem se destina servir (por exemplo, o uso comum ou uso coletivo de uma
estrada ou caminho público)56. Por si só, a afetação não torna um bem
53
Nos termos do Dec. Reg. 5/2019, Anexo I, o regime de uso do solo “é o conjunto das
regras que regulam a ocupação, uso e transformação de uma determinada porção do
território”.
54
Sobre a afetação e a desafetação, cf. LBG PPSOTU, art.º 24.º e Código das
Expropriações, art.º 6.º. Na doutrina, cf. FRANZ-JOSEPH PEINE, Allgemeines
Verwaltungsrecht, 9.ª ed., C-F. Müller, 2008, n. m. 1370 e segs.; UDO STEINER,
HANS-WOLFGANG ARNDT, in: Besonderes Verwaltungsrecht: ein Lehrbuch, C. F.
Müller, 8.ª ed., 2006. P. 593 e segs.
55
Segundo MARCELO CAETANO a afetação é “o acto ou prática que consagra a
coisa à produção efectiva de utilidade pública” (Direito Administrativo, 1990: 922 e
923). A desafetação (do domínio público) é, como inverso da afetação, o ato, da lei ou
da Administração, de retirar ou subtrair a utilidade pública de determinada coisa,
retirando-a do regime jurídico do domínio público.
56
A afetação (ou “dedicação” ou “destinação”) confere o caráter público, por exemplo,
a uma via de comunicação (p. ex. estrada) pela vinculação da sua utilização
correspondente. A afetação confere à estrada, rua, praça, etc. o status de coisa pública.
Página 78 de 404
numa coisa pública. Para que a afetação seja efetiva, ela deve na realidade
ter sido colocada ao serviço do público, isto é, o bem deve estar acessível
ao público segundo o seu uso específico.
A afetação e o fim que ela tem em vista podem ser alterados a
posteriori, por ato de reafectação. À extinção da afetação chama-se
desafetação.
Para que um bem possa ser afetado a um fim público, a entidade
afetante deve ter o poder dispor do bem. É o que se verifica se o afetante
for o proprietário do bem e detiver o direito de uso. Se o afetante não for
titular do poder dispositivo do bem nos termos do direito privado ou não
dispuser do direito de uso do bem, terá de obter o necessário consentimento
do proprietário.
A afetação cria a obrigação de conservação, nos termos do direito
público. Se o afetante não for responsável pela conservação, ele necessitará
do consentimento do responsável pela conservação.
Se o proprietário e/ou o responsável pela conservação não tiver o
necessário consentimento, a afetação é ilegal e pode ser impugnada.
A afetação faz-se por ato de autoridade. Formalmente, a afetação
pode ser feita por lei, por regulamento ou por ato administrativo. Também
pode haver afetação de um bem com base no direito consuetudinário
(direito costumeiro), como acontece, p. ex., se um bem “desde tempos
imemoriais” for usado como coisa pública, como acontece, por exemplo,
com praias marítimas. Na maior parte dos casos, a afetação faz-se por ato
administrativo. A afetação é um ato administrativo necessitado do
consentimento do particular ou um ato multinível sempre que necessita
Como consequência legal da afetação, passa a ser permitido uso comum para o público
em geral. Na literatura comparada, cf. espec. Hans-Jürgen Kühlwetter: Widmung und
Entwidmung im öffentlichen Eisenbahnrecht - eine unbekannte Größe? In: Planung -
Recht – Rechtsschutz. Festschrift für Willi Blümel zum 70. Geburtstag am 6. Januar
1999, Schriften zum Öffentlichen Recht, vol. 772, (1999), p. 312 e segs.
Página 79 de 404
do consentimento do proprietário ou do responsável pela conservação do
bem.
Verifica-se reafetação (ou “mudança de estatuto”) quando, por ato
de autoridade, é alterado o status ou fim de uma coisa pública. É o caso,
por exemplo, de uma rua de circulação rodoviária geral ser transformada,
por reafectação, em “zona de peões” numa parte histórica da cidade.
Os bens imóveis do domínio privado do Estado, das regiões
autónomas e das autarquias locais podem ser afetados à realização de
fins de política pública de solos, como, por exemplo, a regulação do
mercado do solo, a redistribuição de benefícios e encargos, a localização
de infraestruturas, de equipamentos e de espaços verdes, a execução de
programas e planos territoriais.
Os bens imóveis de particulares podem passar a integrar a titularidade
pública ou ser afetados à realização de fins do Estado, das regiões
autónomas e das autarquias locais através de aquisição originária, de
reafectação, de compra e venda, de permuta, de arrendamento, de
locação financeira, de sucessão, de doação, de renúncia, de
expropriação por utilidade pública ou de cedência no contexto de
operação urbanística e de compensação perequativa. Sob pena de
reversão57, os imóveis cedidos para fins de utilidade pública, no âmbito de
operações urbanísticas58, não podem deixar de ser afetados a fins de
57
Sobre a reversão, cf. o art.º 45.º do RJUE: direito de reversão em caso de as
parcelas cedidas serem afetas a fins diversos daqueles para que hajam sido cedidas. Cf.
ainda ao cf. art.º 5.º do Código das Expropriações (direito de reversão) no caso de os
bens expropriados não serem aplicados, no prazo de dois anos, ao fim que determinou a
expropriação ou se, entretanto, tiverem cessado as finalidades da expropriação. Sobre
como se processa a reversão no caso de expropriação, cf. 74.º e segs. do CE.
58
Nos termos do Dec. Regul. 5/2019, Anexo I, “operações urbanísticas são as operações
materiais de urbanização, de edificação, utilização dos edifícios ou do solo desde que,
neste último caso, para fins não exclusivamente agrícolas, pecuários, florestais, mineiros
ou de abastecimento público de água”.
Página 80 de 404
utilidade pública, ainda que distintos dos que motivaram a cedência (art.º
24.º e art.º 25.º da LBG PPSOTU)59.
CAPÍTULO V
GESTÃO TERRITORIAL
18. Em geral
60
Nos termos do Dec. Regul. 5/2019, Anexo I, “operações urbanísticas são as operações
materiais de urbanização, de edificação, utilização dos edifícios ou do solo desde que,
neste último caso, para fins não exclusivamente agrícolas, pecuários, florestais, mineiros
ou de abastecimento público de água”.
61
Nos termos do Dec. Reg. 5/2019, Anexo I, operação de reabilitação urbana consiste
no conjunto articulado de intervenções visando, de forma integrada, a reabilitação
urbana de uma determinada área”.
Página 82 de 404
19. Sistema de gestão territorial: fins da gestão territorial
62
As energias renováveis (energias limpas) são de diversa ordem: solar, eólica,
geotérmica, hidráulica, maremotriz, hidrogénio, entre outras. A Central de Ondas do
Pico, foi a primeira central do mundo de energia das ondas ligada à rede. Esta Central
produziu, até 2010, 48MWh, tendo estado 1300 horas de funcionamento. A nível
mundial existem diversas centrais das maremotriz, destacando-se as da Escócia, Coreia
e do País Basco. A exploração das energias renováveis também está sujeita ao princípio
do aproveitamento racional e da eficiência, nomeadamente na relação custos-benefícios.
Página 83 de 404
f) A rentabilização de infraestruturas, evitando a extensão
desnecessária das redes e dos perímetros urbanos e racionalizando o
aproveitamento das áreas intersticiais63;
g) A aplicação de uma política de habitação que permita resolver as
carências existentes;
h) A reabilitação e a revitalização dos centros históricos e dos
elementos do património cultural classificados, bem como do respetivo
parque habitacional em detrimento de nova construção;
i) Promover a acessibilidade de todos os cidadãos aos edifícios, bem
como aos espaços públicos e de uso coletivo;
j) A recuperação e regeneração de áreas degradadas;
k) A prevenção e redução de riscos coletivos”64 (art.º 37.º da LBG
PPSOTU).
20.1. Em geral
65
Entre os planos estratégicos nacionais destacam-se os seguintes: Quadro de
Referência Estratégica Nacional (QREN), Estratégia Nacional para o Desenvolvimento
Sustentável (ENDS), Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e da
Biodiversidade (ENCNB), Estratégia Nacional para o Mar, o Plano Nacional para as
Página 85 de 404
sustentabilidade territorial, em termos económicos, sociais, culturais e
ambientais, a médio e longo prazo” (n.º 2). As entidades responsáveis pela
elaboração, aprovação, alteração, revisão, execução e avaliação dos
programas e planos territoriais asseguram a coordenação entre as diversas
políticas com incidência territorial e a política de ordenamento do território
e urbanismo.
Os programas territoriais de âmbito nacional definem o quadro
estratégico para o ordenamento do espaço nacional e para a sua integração
na União Europeia. Para o efeito, estes programas estabelecem as
diretrizes a considerar a nível regional e a compatibilização das políticas
públicas sectoriais do Estado (art.º 40.º da LBG PPSOTU).
Os programas regionais estabelecem as opções estratégicas de
organização do território regional (art.º 41.º), as infraestruturas e os
equipamentos de utilização coletiva66 de interesse regional, e ainda as áreas
de interesse regional (agrícolas, florestais, ambientais, ecológicos e
económicos).
Os programas regionais formam o “quadro de referência
estratégico” dos programas intermunicipais e dos planos territoriais de
âmbito intermunicipal e municipal.
O programa intermunicipal é de elaboração facultativa (art.º 42.º). Ele
assegura a articulação entre o programa regional e os planos territoriais de
âmbito intermunicipal ou municipal.
67
Nos termos do Dec. Reg. 5/2019, Anexo I, o regime de uso do solo “é o conjunto das
regras que regulam a ocupação, uso e transformação de uma determinada porção do
território”.
68
De acordo com o art.º 40.º, n.º 3, os programas sectoriais “estabelecem, no âmbito
nacional e de acordo com as políticas sectoriais da União Europeia, a incidência
Página 87 de 404
de interesse nacional e estabelecem os princípios e as regras orientadoras
da disciplina a definir pelos programas regionais (art.º 44.º, n.º 1, da LBG
PPSOTU). Os programas regionais prosseguem os objetivos de interesse
regional. Os planos territoriais intermunicipais e municipais desenvolvem e
concretizam as orientações definidas nos programas territoriais nacional ou
regional.
Os programas e os planos territoriais asseguram a respetiva
articulação.
Os programas territoriais vinculam as entidades públicas (art.º
46.º). Os planos territoriais intermunicipais e municipais vinculam as
entidades públicas e os particulares.
O Estado, as regiões autónomas e as autarquias locais podem celebrar
contratos prévios em matéria de elaboração, alteração, revisão, suspensão
e execução de planos territoriais intermunicipais ou municipais.
70
No preâmbulo do RJRU, lê-se que na “operação de reabilitação urbana sistemática” é
“acentuada a vertente integrada da intervenção, dirigindo-se à reabilitação do
Página 89 de 404
operações urbanísticas71 integradas são precedidas de programação
municipal, com vista à transformação, reabilitação ou regeneração
ordenada do território abrangido. Na execução não sistemática, as
operações são feitas sem prévia programação integrada, isto é,
pontualmente ou ad hoc.
Página 92 de 404
com o qual devessem ser compatíveis ou conformes”. E o n.º 2 do mesmo
artigo determina que também são nulos os programas e os planos
territoriais aprovados em violação de instrumentos de ordenamento do
espaço marítimo, sempre que não tenham sido previstas as necessárias
medidas de compatibilização, de acordo com o disposto no artigo 25.º”. Por
outro lado, nos termos do art.º 130.º do RJIGT, “são nulos os atos
praticados em violação de qualquer plano de âmbito intermunicipal ou
municipal aplicável”.
O art.º 143.º do RJIGT comina com a nulidade “os atos
administrativos que decidam pedidos de licenciamento ou admitam
comunicações prévias, com inobservância das proibições ou limitações
decorrentes do estabelecimento de medidas preventivas e de normas
provisórias, que violem os pareceres vinculativos emitidos ou que
tenham sido praticados sem prévia solicitação dos pareceres
vinculativos devidos.”
No âmbito do RJUE, o art.º 67.º determina que “a validade das
licenças ou das autorizações de utilização depende da sua conformidade
com as normas legais e regulamentares aplicáveis em vigor à data da sua
prática”. E, mais especificamente, o art.º 68.º do RJUE enumera as
seguintes nulidades de licenças, de autorizações de utilização e de decisões
relativas a pedidos de informação prévia:
- se violarem o plano municipal ou intermunicipal de ordenamento do
território, plano especial de ordenamento do território, medidas preventivas
ou licença ou comunicação prévia de loteamento em vigor;
- se não tiverem sido precedidas de “consulta das entidades cujos
pareceres, autorizações ou aprovações sejam legalmente exigíveis, bem
Página 93 de 404
como quando não estejam em conformidade com esses pareceres,
autorizações ou aprovações”76.
Para melhor assegurar o respeito pela lei e pelo direito, o legislador
estabeleceu, no art.º 69.º do RJUE, um dever geral de qualquer pessoa de
participação ao M.º P.º dos factos geradores das nulidades e quaisquer
outros factos de que possa resultar a invalidade dos atos administrativos
(nos termos do RJUE).
Uma especificidade do regime da nulidade no âmbito do RJUE é a
caducidade da sua invocação decorridos dez anos após a sua prática,
regime que também é válido para os factos comunicados por qualquer
pessoa. Esta caducidade só não se verifica quando se trate de monumentos
nacionais e respetiva zona de proteção (art.º 69.º, n.º 4, do RJUE).
Nos termos do art.º 25.º da Lei n.º 54/2005, de 15 de novembro (lei do
domínio público hídrico ou lei dos recursos hídricos), depois de
estabelecer diversas proibições na “zona de ocupação edificada proibida”
(n.º 2) e de estabelecer limitações nas “zonas de ocupação edificada
condicionada” (n.º 5), declara que são “nulos e de nenhum efeito” todos
os atos ou licenciamentos que desrespeitem as referidas interdições ou
limitações.
76
Segundo ROGÉRIO SOARES, “os pareceres conformes são vinculantes apenas num
sentido: o de que impedem uma decisão positiva se o parecer é negativo (caso de
necessidade de parecer favorável) ou impedem uma decisão negativa se o parecer é
positivo (caso de recusa só possível com apoio num parecer)” (Direito Administrativo,
ed. cop., págs. 138). Os pareceres vinculativos que instruem os procedimentos
urbanísticos são “pareceres conformes”, pois apenas são vinculativos quando sejam
desfavoráveis.
Página 94 de 404
dos seus poderes funcionais; algumas destas violações podem configurar o
crime de abuso de poder, previsto e punido no art.º 282.º do CP, que diz:
“O funcionário que, fora dos casos previstos nos artigos anteriores, abusar
de poderes ou violar deveres inerentes às suas funções, com intenção de
obter, para si ou para terceiro, benefício ilegítimo ou causar prejuízo a
outra pessoa, é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de
multa, se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição
legal.”
Mais especificamente, o art.º 382.º-A do CP, prevê expressamente o
crime de “violação de regras urbanísticas por funcionário”, nos
seguintes termos: “1 - O funcionário que informe ou decida
favoravelmente processo de licenciamento ou de autorização ou preste
neste informação falsa sobre as leis ou regulamentos aplicáveis, consciente
da desconformidade da sua conduta com as normas urbanísticas, é
punido com pena de prisão até três anos ou multa. 2 - Se o objeto da licença
ou autorização incidir sobre via pública, terreno da Reserva Ecológica
Nacional, Reserva Agrícola Nacional, bem do domínio público ou terreno
especialmente protegido por disposição legal, o agente é punido com pena
de prisão até cinco anos ou multa.”77
77
Sobre este tipo de crime, cf. Matos, Ricardo Jorge Bragança de: “O Crime de violação
de regras urbanísticas por funcionário: uma perspectiva (necessariamente) dirigida ao
direito do urbanismo”, in Revista do Centro de Estudos Judiciários, 2013, I, pág. 89 a
114.
Página 95 de 404
O controlo administrativo das operações urbanísticas visa três fins
principais: por um lado, assegurar a conformidade das operações
urbanísticas (cf. art.º 2.º, al. j), do RJUE) com as disposições legais e
regulamentares aplicáveis; por outro lado, prevenir perigos ou danos
para a saúde pública e a segurança de pessoas e bens (fins tipicamente
policiais); por outro lado, ainda, garantir uma efetiva responsabilização dos
técnicos e dos particulares responsáveis por eventuais prejuízos.
O controlo preventivo pode ser dispensado (por lei) se a salvaguarda
dos interesses públicos em causa for compatível com um mero controlo
sucessivo. A dispensa ou não de controlo preventivo não afasta o controlo
sucessivo.
As operações urbanísticas realizadas sem o controlo prévio obrigatório
podem ser regularizadas nos termos da lei. Esta regularização não
dispensa a eventual aplicação de sanções, bem como eventuais medidas de
tutela da legalidade urbanística (art.º 102 e segs.).
As edificações devem, nos termos da lei, respeitar as regras de
segurança, salubridade e estética. Por outro lado, os proprietários devem
manter as edificações em condições de utilização, realizando as
necessárias obras de conservação (art.º 60.º da LBG PPSOTU).
A lei prevê um regime jurídico de reabilitação78, com vista à
valorização do edificado, através da realização de obras de reconstrução,
recuperação, beneficiação, renovação e modernização. A reabilitação
também pode compreender obras de correção de passivos ambientais ou
de valorização paisagística.
A regeneração79 combina ações de reabilitação, de demolição, de
construção nova e de revitalização económica, social e cultural (art.º 61.º
78
Cf. Decreto-Lei n.º 307/2009, de 23 de outubro, última alteração dada pelo DL n.º
66/2019, de 21 de maio.
79 Também pode haver regeneração dos recursos naturais (art.º 11.º, n.º 1, do Decreto-
Lei n.º 147/2008, de 29 de julho, que aprovou o regime da responsabilidade ambiental).
Página 96 de 404
da LBG PPSOTU). Nos termos do art.º 61.º, n.º 2, do mesmo diploma, “a
regeneração é a forma de intervenção territorial integrada que
combina ações de reabilitação com obras de demolição e construção
nova e com medidas adequadas de revitalização económica, social e
cultural e de reforço da coesão e do potencial territorial”.
80
Nos termos do Dec. Reg. 5/2019, Anexo I, “a perequação consiste na redistribuição
equitativa dos benefícios e dos encargos resultantes da execução de um instrumento de
gestão territorial vinculativo dos particulares ou de outro instrumento de intervenção
urbanística a que a lei atribua esse efeito.”
Página 97 de 404
(que acabaria por equivaler a uma liberdade discricionária por falta de
controlo jurisdicional). Ilustrativo da vinculação na avaliação é o recente
ac. do Tribunal Administrativo Federal alemão, tomado em sede de
avaliação de desempenho ou de conhecimento de funcionários públicos, no
qual o tribunal o faz exigências jurídicas importantes, tendo acabado por
exercer um controlo intenso (ac. de 1.3.2018), onde se lê: “l. A obrigação
de tornar plausíveis as avaliações individuais está relacionada com a
faculdade de o funcionário suscitar objeções à sua exatidão ou
determinabilidade. Se o funcionário considerar que a explicação da sua
avaliação pela Administração não é suficientemente plausível, sobre ele
recai o ónus de especificar pontos concretos que considere que estão pouco
claros ou incorretos. 2. Ao justificar a avaliação global de uma avaliação,
a ponderação dos diferentes elementos individuais deve estar relacionada
com as exigências estatutárias do cargo em causa. A Administração deve
assegurar que é uniforme a ponderação dos elementos individuais de
avaliação, no âmbito de aplicação de critérios de avaliação dentro de um
grupo de funcionários abrangidos”81. No mesmo sentido apontam os
critérios de avaliação estabelecidos no art.º 70.º e seg. da LBG PPSOTU.
O estabelecimento pelo legislador de critérios de avaliação82 (→ 46)
revela a vontade de vinculação do legislador. O art.º 69.º da LBG PPSOTU
estabelece os seguintes critérios de avaliação do solo: “1 - O solo é
avaliado pelo método de avaliação mais apropriado, tendo em consideração
a sua situação concreta (…). 2 - A avaliação do solo faz-se de acordo com
os métodos comparativo de valores de mercado, de capitalização do
rendimento ou de custo de reposição, a definir em lei. 3 - A avaliação das
edificações tem em conta o respetivo estado de conservação”. É notória a
intenção de vincular o avaliador, como forma de assegurar uma “avaliação
81
Tradução nossa, in: BVerwG, ac. de 1.3.2018 - BverwG 2 A 10.17.
82
Cf. também o art.º 26.º do CE.
Página 98 de 404
justa” e, assim, uma indemnização justa e a correta prossecução do
interesse público.
A avaliação do solo compara os valores de mercado e tem em conta
capitalização do rendimento. As benfeitorias são avaliadas de forma
independente relativamente ao solo. As plantações são avaliadas pelo
método de capitalização do rendimento. A avaliação das edificações tem
em conta o respetivo estado de conservação.
Página 99 de 404
Nível plano diretor vinculam as entidades
intermunicipal intermunicipal; públicas e, direta e
planos de urbanização imediatamente, os
intermunicipais; e particulares
plano de pormenor
intermunicipais
Nível plano diretor municipal; vinculam as entidades
municipal planos de urbanização; públicas e, direta e
planos de pormenor imediatamente, os
particulares
84
Nos termos do art.º 33.º, n.º 1, da LAL, compete à câmara municipal “elaborar e
submeter à aprovação da assembleia municipal os planos necessários à realização das
atribuições municipais”.
Página 102 de 404
104.º);
b) plano de pormenor
de reabilitação urbana85
(art.º 105.º);
c) plano de pormenor
de salvaguarda (art.º
106.º).
RJPPS).
imediatamente, os particulares.
85
Nos termos do art.º 13.º do RJRU, “a delimitação das áreas de reabilitação urbana é
da competência da assembleia municipal, sob proposta da câmara municipal”. Nos
termos do art.º 25.º, n.º 1, al. h), da LAL, compete à assembleia municipal “aprovar os
planos e demais instrumentos estratégicos necessários à prossecução das atribuições do
município”
Página 103 de 404
outra documentação, escrita e desenhada), de obter cópias de atas (de
reuniões deliberativas), certidões, informações e conhecer
condicionantes, servidões administrativas e outras restrições ao uso do
solo. O direito à informação faz-se, essencialmente, pelo recurso a meios
informáticos.
86
O sistema urbano compreende uma da estrutura do povoamento e uma política para
as cidades, com objetivos quantitativos e qualitativos coerentes e sustentáveis.
87
Do regime jurídico dos instrumentos de gestão territorial (RJIGT), aprovado pelo
Decreto-Lei n.º 80/2015, de 14 de maio.
Página 106 de 404
O legislador distingue áreas agrícolas, florestais e pecuários, áreas de
reserva agrícola, de obras de aproveitamento hidroagrícola e de regime
florestal (art.º 14.º). A adequada proteção destas áreas faz-se por
programas setoriais, que “devem estabelecer os objetivos e as medidas
indispensáveis ao adequado ordenamento agrícola e florestal do território,
considerando as necessidades atuais e futuras.”
O património arquitetónico, arqueológico e paisagístico abarca os
vestígios arqueológicos, os elementos e conjuntos construídos, enquanto
testemunhos da história da ocupação e do uso do território. Estes são
valores de interesse relevante para a memória e a identidade das
respetivas comunidades, razão por que são identificados nos programas e
nos planos territoriais.
Os programas e os planos territoriais definem a localização e a
distribuição das atividades económicas, sejam industriais, turísticas, de
comércio ou de serviços. O mesmo acontece com as redes de transporte e
mobilidade e com as redes de infraestruturas e equipamentos
coletivos.
Sobre o Estado, as entidades intermunicipais e as autarquias locais
recai o dever de coordenação das correspondentes intervenções territoriais.
A justa ponderação (Abwägunsgebot) exige, como condição prévia, a
correta e completa identificação do material a ponderar. Só depois de
identificados, se poderá proceder à justa ponderação dos bens em presença.
Capítulo VI
PROGRAMAS E PLANOS DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
88
Nos termos do DL 169/2012, art.º 2.º, al. m), o estabelecimento industrial é “a
totalidade da área coberta e não coberta sob responsabilidade do industrial, que inclui as
respetivas instalações industriais, onde é exercida atividade industrial”. O mesmo
diploma define a instalação industrial como “a unidade técnica dentro de um
estabelecimento industrial na qual é exercida uma ou mais atividades industriais
Página 109 de 404
Os programas setoriais89 são instrumentos programáticos ou de
concretização das diversas políticas com incidência na organização do
território (art.º 39.º). Eles estabelecem opções setoriais e objetivos a
alcançar. Os programas setoriais contêm opções estratégicas e traçam
objetivos a alcançar no quadro das diretrizes nacionais.
Os programas especiais têm por objeto (área de incidência) a orla
costeira, as áreas protegidas, as albufeiras de águas públicas e os estuários.
Eles estabelecem, exclusivamente, regimes de salvaguarda de recursos e
valores naturais. Eles são elaborados pela administração central e visam
objetivos indispensáveis à tutela de interesses públicos e de recursos
naturais de relevância nacional (ver art.º 42.º e segs. do RJIGT).
Tanto os programas setoriais, como os programas especiais são
aprovados por resolução do Conselho de Ministros (art.º 51.º do RJIGT).
Os programas regionais estão à responsabilidade das comissões de
coordenação e desenvolvimento regional (CCDRs), embora eles sejam
aprovados por resolução do Conselho de Ministros. Eles definem a
estratégia regional de desenvolvimento territorial (art.º 52.º), integram as
opções estabelecidas a nível nacional e consideram estratégias sub-
regionais e municipais de desenvolvimento local. Os programas regionais
constituem o “quadro de referência para a elaboração dos programas e dos
planos intermunicipais e dos planos municipais”.
90
Nos termos do Dec. Reg. 5/2019, Anexo I, o regime de uso do solo “é o conjunto das
regras que regulam a ocupação, uso e transformação de uma determinada porção do
território”.
Página 111 de 404
39. Classificação e qualificação do solo
91
Cf., neste sentido, o Dec. Reg. 5/2019, Anexo I. Cf. ainda o art.º 10.º da Lei n.º
31/2014, de 30 de maio (LBG PPSOTU), o art.º 71.º do RJIGT (Decreto-Lei n.º
80/2015, de 14 de maio), e o Decreto Regulamentar n.º 15/2015, de 19 de agosto, art.º
5.º e 7.º
Página 112 de 404
40.1. Em geral
92
Nos termos do Dec. Reg. 5/2019, “equipamentos de utilização coletiva são as
edificações e os espaços não edificados afetos à provisão de bens e serviços destinados à
satisfação das necessidades coletivas dos cidadãos, designadamente nos domínios da
saúde, da educação, da cultura e do desporto, da justiça, da segurança social, da
segurança pública e da proteção civil.”
93
Dec. Reg. 5/2019, Anexo I.
Página 114 de 404
coletiva94 e a organização espacial das demais atividades de interesse
geral.” (art.º do 101.º RJIGT). O plano de pormenor pode assumir
modalidades específicas: plano de intervenção no espaço rústico; plano de
reabilitação urbana; plano de salvaguarda (art.º 103.º do RJIGT). No artigo 103º distinguem-se
vários Planos Pormenor
diferentes
94
Cf. art.º 21.º do RJIGT, art.º 43.º do RJUE.
Página 115 de 404
A lei prevê a possibilidade de regularização de operações
urbanísticas realizadas sem o necessário controlo prévio ou operações
urbanísticas para a finalização de operações urbanísticas inacabadas ou
abandonadas pelos seus promotores (art.º 59.º da LBG da PPSOTU). A
regularização das operações urbanísticas é, geralmente, acompanhada da
aplicação de sanções e de medidas de tutela da legalidade urbanística95,
no cumprimento dos planos e demais legislação aplicável.
95
Tenha-se presente que, nos termos do art.º 100.º, n.º 1, “o desrespeito dos atos
administrativos que determinem qualquer das medidas de tutela da legalidade
urbanística previstas no presente diploma constitui crime de desobediência, nos
termos do artigo 348.º do Código Penal”. Em geral, sobre as medidas de tutela da
legalidade urbanística, cf. art.º 102.º e segs.
Página 116 de 404
A regeneração urbana combina ações de reabilitação com obras de
demolição e construção nova, bem como com medidas de revitalização
económica, social, cultural, de reforço da coesão e do potencial territorial
(art.º 61.º da LBG PPSOTU). A reabilitação urbana é objeto de estudo mais
desenvolvido mais adiante.
96
Esta definição corresponde à definição dada pelo Dec. Reg. 5/2019, Anexo I.
97
Nos termos do Dec. Reg. 5/2019, a fachada é “cada uma das faces aparentes do
edifício, constituída por uma ou mais paredes exteriores diretamente relacionadas entre
si”.
Página 119 de 404
divisões interiores, ou a natureza e cor dos materiais de revestimento
exterior, sem aumento da área total de construção98, da área de
implantação99 ou da altura da fachada;
e) ‘Obras de ampliação’, as obras de que resulte o aumento da área
de implantação, da área total de construção, da altura da fachada ou do
volume de uma edificação existente;
f) ‘Obras de conservação’, as obras destinadas a manter uma
edificação nas condições existentes à data da sua construção, reconstrução,
ampliação ou alteração, designadamente as obras de restauro, reparação
ou limpeza;
g) ‘Obras de demolição’, as obras de destruição, total ou parcial, de
uma edificação existente;
h) ‘Obras de urbanização’, as obras de criação e remodelação de
infraestruturas destinadas a servir diretamente os espaços urbanos100 ou as
edificações, designadamente arruamentos viários e pedonais, redes de
esgotos e de abastecimento de água, eletricidade, gás e telecomunicações, e
ainda espaços verdes e outros espaços de utilização coletiva101;
i) ‘Operações de loteamento’, as ações (noção mais ampla que
trabalhos e obras) que tenham por objeto ou por efeito a constituição de um
ou mais lotes destinados, imediata ou subsequentemente, à edificação
98
Nos termos do Dec. Regul. 5/2019, a “área total de construção é o somatório das
áreas de construção de todos os edifícios existentes ou previstos numa porção
delimitada de território”.
99
A área de implantação de um edifício corresponde à área de solo ocupada pelo
edifício. A área de solo é uma porção de território delimitada em planta por uma linha
poligonal fechada.
100
Os espaços urbanos de utilização coletiva são “áreas de solo urbano, distintas dos
espaços verdes de utilização coletiva, que se destinam a prover, entre outras,
necessidades coletivas de estadia, recreio e lazer ao ar livre” (Dec. Reg. 5/2019, Anexo
I).
101
Esta definição corresponde integralmente à definição dada pelo Dec. Regul. 5/2019,
Anexo I.
Página 120 de 404
urbana e que resulte da divisão (parcelamento) de um ou vários prédios
ou do seu reparcelamento;
j) ‘Operações urbanísticas’, as operações materiais de urbanização,
de edificação, utilização dos edifícios ou do solo desde que, neste último
caso, para fins não exclusivamente agrícolas, pecuários, florestais, mineiros
ou de abastecimento público de água;
l) ‘Obras de escassa relevância urbanística’, as obras de edificação
ou demolição que, pela sua natureza, dimensão ou localização tenham
escasso impacte urbanístico (impacte de pouca relevância);
m) ‘Trabalhos de remodelação dos terrenos’, as operações
urbanísticas (trabalhos concretos) não compreendidas nas alíneas
anteriores que impliquem a destruição do revestimento vegetal, a alteração
do relevo natural e das camadas de solo arável ou o derrube de árvores de
alto porte ou em maciço para fins não exclusivamente agrícolas, pecuários,
florestais ou mineiros;
o) ‘Zona urbana consolidada’102, a zona caracterizada por uma
densidade de ocupação que permite identificar uma malha ou estrutura
urbana já definida, onde existem as infraestruturas essenciais e onde se
encontram definidos os alinhamentos dos planos marginais por edificações
em continuidade.
p) ‘Arrendamento forçado’, o arrendamento de edifícios ou frações
autónomas, assumido por uma entidade administrativa, pelo prazo
estritamente necessário para o efeito, com o objetivo de garantir o
ressarcimento das despesas incorridas com a realização de obras
coercivas, através do recebimento das rendas relativas a contrato
previamente existente à intervenção que se mantenha em vigor ou, quando
102
O Dec. Reg. 5/2019, define a “área urbana consolidada” como “uma área de solo
urbano que se encontra estabilizada em termos de morfologia urbana e de
infraestruturação e está edificada em, pelo menos, dois terços da área total do solo
destinado a edificação”.
Página 121 de 404
este não exista ou tenha cessado a sua vigência, pela celebração de novo
contrato” (ver o art.º 36.º do LBG PPSOTU103, o art.º 161.º do RJIGT, o
art.º 59.º do RJRU).
103
Nos termos do art.º 36.º, n.º 2, da LBG PPSOTU, “os prédios rústicos e os prédios
mistos sem dono conhecido e que não estejam a ser utilizados para fins agrícolas,
florestais, silvo-pastoris ou de conservação da natureza, podem ser disponibilizados na
bolsa nacional de terras”.
104 Neste sentido, cf. o ac. do STA de 21.03.2004 (proc. 035338), que concluiu: “o ius
108
O Decreto-Lei n.º 148/2015 de 4 de agosto, estabelece o regime da classificação e
da inventariação dos bens móveis de interesse cultural. Nos termos do art.º 3.º, n.º 1,
deste diploma, “um bem móvel ou um conjunto de bens móveis pode ser classificado
como de interesse nacional, de interesse público ou de interesse municipal”.
Página 125 de 404
Nos termos do art.º 35.º, n.º 8, do RJUE, “a câmara municipal deve,
em sede de fiscalização sucessiva109, inviabilizar a execução das operações
urbanísticas objeto de comunicação prévia e promover as medidas
necessárias à reposição da legalidade urbanística110, quando verifique
que não foram cumpridas as normas e condicionantes legais e
regulamentares, ou que estas não tenham sido precedidas de pronúncia
obrigatória111, nos termos da lei, das entidades externas competentes, ou
que com ela não se conformem.” Mas, o referido poder-dever de exercer a
fiscalização sucessiva caduca 10 anos após a data de emissão do título da
comunicação prévia (art.º 35.º, n.º 9, do RJUE).
Um exemplo: perante uma situação de suposta ilegalidade urbanística
(p. ex. na sequência de uma ação de fiscalização baseada numa queixa
particular), o respetivo circunstancialismo deve ser confirmado pelos
serviços técnicos da edilidade. Concluindo-se que foi realizada construção
que não estava prevista no projeto de arquitetura previamente aprovado e
que a obra realizada sem a necessária licença é insuscetível de
enquadramento no regime de “obras de escassa relevância
urbanística” (art.º 6.º-A do RJUE)112 e é igualmente insuscetível de
legalização, por incumprimento das normas regulamentares em vigor (v.g.
do Plano Diretor Municipal e respetivo Regulamento), nomeadamente no
109
Cf. também o art.º 60.º, n.º 3, e o art.º 102.º do RJUE.
110
A reposição da legalidade urbanística é uma forma de restabelecimento da legalidade
violada. Nos termos do art.º 59.º da LBG da PPSOTU, que tem por epígrafe
“regularização de operações urbanísticas”, “a lei estabelece um procedimento
excecional para a regularização de operações urbanísticas realizadas sem o controlo
prévio a que estavam sujeitas bem como para a finalização de operações urbanísticas
inacabadas ou abandonadas pelos seus promotores” (n.º 1). E acrescenta: “a
regularização das operações urbanísticas não prejudica a aplicação de sanções e de
medidas de tutela da legalidade urbanística” (n.º 2).
111
Trata-se de um parecer obrigatório. Quanto ao “prévio parecer favorável da
administração do património cultural competente”, cf. o art.º 43.º, n.º 4, e o art.º 54.º, n.º
1, da Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro (bases da política e do regime de proteção e
valorização do património cultural).
112
Isto é, “obras de edificação ou demolição que, pela sua natureza, dimensão ou
localização tenham escasso impacte urbanístico” (cf. art.º 2.º, al. l), do RJUE).
Página 126 de 404
que respeita aos afastamentos legais, deve ser emitida ordem de demolição
e desencadeadas as respetivas providências, devido à insusceptibilidade de
a mesma vir a satisfazer os requisitos legais e regulamentares de
urbanização (art.º 106.º do RJUE). Em caso de incumprimento da medida
da tutela da legalidade urbanística (ordem de demolição), deve ser
determinada a posse administrativa do imóvel, por forma a poder ser
realizada a respetiva execução coerciva (art.º 107.º do R.J.U.E.)113.
As operações urbanísticas sujeitas a “comunicação prévia” vêm
enumeradas no art.º 4.º, n.º 4, do RJUE. No entanto, a lei não impõe aqui
um controlo prévio pela via de “comunicação prévia”. Antes, mesmo
relativamente a estas operações urbanísticas, o interessado pode optar pelo
regime do licenciamento (art.º 4.º, n.º 6, do RJUE). A comunicação prévia
é titulada por comprovativo eletrónico. Tal como acontece com o pedido
de licenciamento, também a comunicação prévia de operação urbanística
deve ser publicitada sob a forma de aviso114, e deve ser colocado no local
de execução da operação (art.º 12.º do RJUE).
A comunicação prévia de loteamento está prevista na lei e vem
referida, por exemplo, no art.º 39.º, no art.º 68.º, al. a), no art.º 79, n.º 2,
art.º 116.º, n.º 2, do RJUE.
A comunicação prévia não consiste numa mera informação, mas a
sua eficácia está sujeita a “admissão”, que é uma forma de controlo
prévio. À admissão da comunicação prévia referem-se, por exemplo, o
143.º do RJIGT115, o art.º 44.º, n.º 1, al. a), o art.º 51.º, n.º 1 e n.º 3, o art.º
53.º-F, o art.º 77-C, n.º 1, al. b), todos do RJRU. No entanto, esta
“admissão” da comunicação prévia parece não estar em perfeita sintonia
113
Na jurisprudência, cf. ac. do TCA do Sul, de 20 de novembro de 2011, processo n.º
42/11.0 BELLE, in http://www.dgsi.pt. e ac. do Supremo Tribunal Administrativo, de
16 de junho de 2004, Processo 02011/03, in http://www.dgsi.pt/jsta.
114
Sobre os dizeres do aviso e a sua publicidade, cf. o art.º 78.º RJUE.
115
O art.º 143.º do RJIGT fala em ato de admissão de comunicação prévia.
Página 127 de 404
com o art.º 34.º, n.º 2, do RJUE, que determina: “A comunicação prévia
consiste numa declaração que, desde que corretamente instruída, permite
ao interessado proceder imediatamente à realização de determinadas
operações urbanísticas após o pagamento das taxas devidas, dispensando a
prática de quaisquer atos permissivos.” Parece haver contradição, ou
pelo menos falta de sintonia, entre as normas aqui indicadas.
A comunicação prévia não configura um procedimento administrativo
de controlo prévio. Trata-se apenas de uma declaração às autoridades
competentes que deve ser feita pelo interessado antes de iniciar a operação
urbanística. O fim desta comunicação é o de permitir realisticamente o
controlo administrativo sucessivo.
As obras sujeitas a comunicação prévia situam-se num nível
intermédio, entre as obras de maior relevância, sujeitas a licença, e as
obras de escassa relevância urbanística. Não estão em causa bens de
proteção de extremo valor urbanístico. A intensidade do controlo prévio
adequa-se (exigência da proporcionalidade) à relevância dos bens em
perigo.
Estão sujeitas a comunicação prévia as seguintes operações
urbanísticas: a) As obras de reconstrução sem aumento da altura da
fachada ou do número de pisos; b) As obras de urbanização e os trabalhos
de remodelação de terrenos em área de operação de loteamento; c) As
obras de construção, de alteração ou de ampliação em área de operação de
loteamento ou de plano de pormenor; d) As obras de construção, de
alteração ou de ampliação em zona urbana consolidada sem elevação da
cércea116 em relação às fachadas da frente edificada do lado do arruamento
116
A cércea é a altura da edificação. Mede-se a partir da soleira e consiste na a
dimensão vertical até ao ponto mais alto do edifício, incluindo a cobertura e demais
volumes edificados, mas exclui chaminés e elementos acessórios e decorativos.
Segundo o regulamento do Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC), cércea, é a
“dimensão vertical da construção, contada a partir do ponto de cota média do terreno no
Página 128 de 404
da nova edificação; e) A edificação de piscinas associadas a edificação
principal; f) As operações urbanísticas precedidas de informação prévia
favorável; (al.s g) e h) revogadas); i) As obras após intimação da câmara
municipal (art.º 4.º, n.º 4, do RJUE).
118
A “postura” é um termo típico da Administração medieval portuguesa, mantendo-se
agora como um tipo específico de regulamento (regulamento de polícia municipal) que
para ser devidamente compreendido (e, assim, devidamente interpretado) exige uma
ligação à história da Administração pública portuguesa: as posturas foram
historicamente regulamentos concelhios. Esta é também uma fonte de dificuldade
acrescida para o tradutor de textos jurídicos. Segundo FRANZ-PAUL LANGHANS,
“as posturas parecem designar as leis novas ou estabelecimentos que as entidades com
poder para legislar elaboravam para os casos não previstos nas leis antigas e nos
costumes. A própria etimologia da palavra facilita esta interpretação. Pôr
regulamentação legal aos casos concretos ainda não submetidos à disciplina jurídica”
(in: Estudos de Direito Municipal. As Posturas, Lisboa, 1938, pág. 18. O termo
“postura” integrou a legislação municipal do liberalismo, especialmente nos códigos
administrativos, tendo passado depois para a legislação concelhia da República. O
Código Administrativo de 1940, determinava no seu art.º 52.º: “As deliberações das
câmaras municipais podem revestir a forma de postura ou regulamento policial sempre
que contenham disposições preventivas de carácter genérico e execução permanente”.
119
Este n.º 1 do art.º 32.º da LBG PPSOTU corresponde, ipsis verbis, ao art.º 158.º, n.º
1, do RJIGT (DL 80/2015).
Página 130 de 404
mesmo diploma fala no n.º 1 em autorização prévia de utilização de
recursos hídricos, enquanto o n.º 2 submete a licença prévia de utilização
certas atividades quando incidem sobre leitos, como p. ex. a extração de
inertes.
49.1. Em geral
120
O art.º 3.º, n.º 2, al. a), do RJUE, determina que os regulamentos municipais devem
“concretizar quais as obras de escassa relevância urbanística para efeitos de delimitação
das situações isentas de controlo prévio”. Cf. Isto é, “obras de edificação ou demolição
que, pela sua natureza, dimensão ou localização tenham escasso impacte urbanístico”
(cf. art.º 2.º, al. l), do RJUE).
Página 132 de 404
c) A edificação de estufas de jardim com altura inferior a 3 m e área
igual ou inferior a 20 m2;
d) As pequenas obras de arranjo e melhoramento da área
envolvente das edificações que não afetem área do domínio público;
e) A edificação de equipamento lúdico ou de lazer associado à
edificação principal com área inferior à desta última;
f) A demolição das edificações referidas anteriormente;
g) A instalação de painéis solares fotovoltaicos ou de geradores
eólicos associada à edificação principal, para produção de energias
renováveis121, incluindo de microprodução, que não excedam, no primeiro
caso, a área de cobertura da edificação e a cércea desta em 1 m de altura, e,
no segundo, a cércea da mesma em 4 m e que o equipamento gerador não
tenha raio superior a 1,5 m, bem como de coletores solares térmicos para
aquecimento de águas sanitárias que não excedam os limites previstos para
os painéis solares fotovoltaicos;
h) A substituição dos materiais de revestimento exterior ou de
cobertura ou telhado por outros que, conferindo acabamento exterior
idêntico ao original, promovam a eficiência energética;
i) Outras obras, como tal qualificadas em regulamento municipal.”
49.3. Exceções
121
A Diretiva Energias Renováveis (Diretiva (UE) 2018/2001), que entrou em vigor em
dezembro de 2018, surgiu no âmbito do pacote “Energias limpas para todos os
europeus”. Esta Diretiva estabelece a meta vinculativa de eficiência energética até 2030
de, pelo menos, 32 % do consumo final de energia e a quota de combustíveis renováveis
nos transportes até 2030 de pelo menos 14%.
Página 133 de 404
b) Imóveis situados em zonas de proteção de imóveis classificados
ou em vias de classificação;
c) Imóveis integrados em conjuntos ou sítios classificados ou em
vias de classificação.” (ver também o art.º 4.º do RJUE)
123
Também o art.º 90.º, n.º 1, al. a), da Lei da Água (L. 58/2005) fala em fiscalização
sistemática. O mesmo acontece no art.º 40.º, n.º 1, al. a), do RJCBiod. O legislador faz
Página 135 de 404
diferentemente, a fiscalização é pontual ou casuística quando ocorre na
sequência de queixas e denúncias de particulares124.
125
Cf. art.º 132.º da LBG da PPSOTU.
Página 137 de 404
O parecer obrigatório e favorável126 da CCDR constitui um
mecanismo de controlo prévio, quando a lei o exija, com vista à
salvaguarda de interesses públicos de nível superior, geralmente de nível
nacional.
A CCDR respetiva é a entidade coordenadora territorialmente
competente para emitir uma decisão global e vinculativa para toda a
administração quanto à “consulta de entidades da administração central,
direta ou indireta, do setor empresarial do Estado, bem como de entidades
concessionárias que exerçam poderes de autoridade, que se devam
pronunciar sobre a operação urbanística em razão da localização”. As
entidades consultadas pela CCDR pronunciam-se no prazo imperativo de
20 dias. Sendo a decisão tomada em conferência decisória127, os pareceres
emitidos têm natureza não vinculativa. Se o parecer da CCDR não for
favorável a uma operação urbanística (por esta ser desconforme com
instrumento de gestão territorial) e revestindo-se a operação de especial
relevância regional ou local, a CCDR pode, por sua iniciativa ou a
solicitação do município, propor ao Governo a aprovação, em resolução do
Conselho de Ministros, da alteração, suspensão ou ratificação, total ou
parcial, de plano relativamente ao qual a desconformidade se verifica (art.º
13.º do RJUE).
126
Quanto ao “prévio parecer favorável da administração do património cultural
competente”, cf. o art.º 43.º, n.º 4, e o art.º 54.º, n.º 1, da Lei n.º 107/2001, de 8 de
setembro (bases da política e do regime de proteção e valorização do património
cultural).
127
Sobre a conferência procedimental, cf. CPA, Parte III, Título I, Capítulo III (art.ºs
77.º a 81.º). O CPA também prevê a possibilidade de celebração de acordos
endoprocedimentais (art.º 57.º).
Página 138 de 404
Também a informação prévia da autoridade pode ser considerada
como uma forma de controlo prévio, com a especificidade de não ser
obrigatória e ocorrer apenas por iniciativa do particular.
A informação prévia pode revelar-se, no caso concreto, de grande
relevância teórica e prática, jurídica e material, para o particular, mas
também para o interesse público. A informação prévia permite ao particular
projetar melhor os seus investimentos e correr menores riscos. Ao interesse
público, a informação prévia permite prevenir futuras situações de conflito
com os particulares e, assim, uma maior pacificação social, ao mesmo
tempo de contribui para a redução da burocracia e das despesas da
Administração.
Do ponto de vista jurídico-administrativo, cabe questionar qual a
natureza da informação prévia: tratar-se-á de uma “promessa-ato” ou de
uma “pré-decisão”?128
A promessa-acto “tem em vista a prática de um ato administrativo, a
pré-decisão constitui um verdadeiro ato administrativo. A pré-decisão, que
incide sobre questões prévias, diz respeito apenas a alguns pressupostos da
decisão final global, mas decide de forma definitiva sobre eles. Na pré-
decisão, a Administração resolve em termos definitivos questões concretas
relevantes para decisões posteriores”129. As pré-decisões são sobretudo
tomadas nos chamados procedimentos de múltiplas fases.
Na informação prévia a autoridade administrativa presta aos
interessados uma informação prévia, autovinculando-se a ela. É o caso da
informação prestada ao requerente de uma obra de urbanização e
128
Estas figuras jurídico-administrativas estão particularmente estudadas e
desenvolvidas no direito alemão nas figuras da Vorbescheid e da Zusicherung. Sobre as
figuras jurídicas da pré-decisão e da informação prévia, cf. Sousa, António Francisco
de, Manual de direito administrativo, Porto 2019, pág. 626 e seg.
129
cf. Sousa, António Francisco de, Manual de direito administrativo, Porto 2019, pág.
626.
Página 139 de 404
edificação, nos termos do Dec.-Lei n.º 555/99, de 16 de dezembro (art.
14.º130).
A lei permite que os interessados possam solicitar à câmara municipal
informação prévia sobre a viabilidade de realização de determinada
operação urbanística, sobre os respetivos condicionamentos legais ou
regulamentares, como por exemplo infraestruturas, servidões
administrativas e restrições de utilidade pública, índices urbanísticos,
cérceas, afastamentos e outras condicionantes. Podem também ser pedidas
outras informações prévias, como volumetria, alinhamento, cércea e
implantação da edificação e dos muros de vedação (cf. art.º 14.º do RJUE).
A câmara municipal tem o prazo de 20 dias para deliberar sobre o pedido
de informação.
A informação prévia favorável tem efeito vinculativo, durante um
ano, para as entidades competentes para a decisão de licenciamento e para
o controlo sucessivo de operações urbanísticas.
55.1. Em geral
130
O n.º 1 do referido art.º 14.º determina: “1 - Qualquer interessado pode pedir à
câmara municipal, a título prévio, informação sobre a viabilidade de realizar
determinada operação urbanística e respetivos condicionamentos legais ou
regulamentares, nomeadamente relativos a infraestruturas, servidões administrativas e
restrições de utilidade pública, índices urbanísticos, cérceas, afastamentos e demais
condicionantes aplicáveis à pretensão.”
Página 140 de 404
de ordenamento no território, planos especiais de ordenamento do
território, medidas preventivas, área de desenvolvimento urbano prioritário,
área de construção prioritária, servidões administrativas, restrições de
utilidade pública e quaisquer outras normas legais e regulamentares
relativas ao aspeto exterior e a inserção urbana e paisagística das
edificações, bem como sobre o uso proposto” (art.º 20.º do RJUE)131.
A câmara municipal delibera sobre o pedido de licenciamento no
prazo de 45 dias, tratando-se de operação de loteamento e no prazo de 30
dias, no caso de obras de urbanização (art.º 23.º do RJUE).
Em geral, as declarações de responsabilidade dos autores dos
projetos de arquitetura (termo de responsabilidade) constituem garantia
suficiente do cumprimento das normas legais e regulamentares aplicáveis
quanto aos aspetos interiores das edificações.
A deliberação final de deferimento do pedido de licenciamento
consubstancia a licença para a realização da operação urbanística (art.º 26.º
do RJUE).
A autorização consubstancia um controlo prévio de utilização do
edifício ou habitação. É com esta delimitação que o legislador usa o termo
autorização, embora não a defina e a distinga expressamente da licença.
Também a comunicação prévia é uma forma de controlo prévio, que
tem lugar nos casos expressamente previstos na lei (art.º 34.º e segs.). A
comunicação prévia é dirigida, através da plataforma eletrónica, ao
presidente da câmara municipal.
131
Regime idêntico é válido para a apreciação dos projetos de loteamento, obras de
urbanização e dos trabalhos de remodelação de terrenos pela câmara municipal (art.º
21.º do RJUE).
55.6. Loteamento
132
Também o art.º 5.º do CE trata da reversão, estabelecendo o seu regime no âmbito
do Código das Expropriações, especialmente no caso de os bens expropriados não terem
sido aplicados ao fim que determinou a expropriação. A reversão dos bens
expropriados segue o procedimento estabelecido nos art.ºs 74.º e segs. do CE, regime
que prevê a possibilidade de um “acordo de reversão” – art.º 76.º - A do CE).
133
Por exemplo, por intermédio da administração de condomínios.
134
Por exemplo, piscinas, campos de ténis, etc.
Página 144 de 404
O art.º 2.º, al. h), do RJUE, define ‘obras de urbanização’, as obras
de criação e remodelação de infraestruturas destinadas a servir
diretamente os espaços urbanos135 ou as edificações, designadamente
arruamentos viários e pedonais, redes de esgotos e de abastecimento de
água, eletricidade, gás e telecomunicações, e ainda espaços verdes e outros
espaços de utilização coletiva”
O órgão competente para o licenciamento das obras de urbanização
(em geral, a câmara municipal) determina as condições a observar na
execução das mesmas, o prazo para a sua conclusão, a caução de garantia
da boa e regular execução das obras, as condições gerais do contrato de
urbanização (→ 55.9; sendo esse o caso). Se a obra se encontrar em fase
de acabamento, o presidente da câmara municipal pode, a requerimento do
interessado, conceder a prorrogação e nova prorrogação, mediante o
pagamento de uma taxa (art.º 53.º).
55.8. Caução
137
O contrato de urbanização tem a sua origem no direito alemão de urbanização e
edificação na figura do Erschließungsvertrag, previsto no § 123 do Código das
Edificações alemão (BauGB).
Página 146 de 404
Nos termos do Dec. Reg. 5/2019, Anexo I, a edificação é a atividade
ou o resultado da construção, reconstrução, ampliação, alteração ou
conservação de um imóvel destinado a utilização humana, bem como de
qualquer outra construção que se incorpore no solo com carácter de
permanência”138.
Compete à entidade licenciadora (geralmente, a câmara municipal)
fixar as condições que devem ser observadas na execução da obra. Estas
condições acompanham o deferimento do pedido de licenciamento das
operações urbanísticas (art.º 57.º RJUE)139.
As edificações antigas, realizas à luz de regime jurídico anterior,
bem como as respetivas utilizações não são prejudicadas por normas
legais e regulamentares posteriores. Não pode ser recusada a licença de
obras de reconstrução ou de alteração das edificações com fundamento em
normas legais ou regulamentares supervenientes à construção originária,
salvo se as novas obras derem origem ou agravarem desconformidade com
as normas em vigor. As novas obras devem melhorar as condições de
segurança e de salubridade da edificação. Este regime aplica-se, com as
devidas adaptações, à fiscalização sucessiva de obras sujeitas a
comunicação prévia (art.º 60.º RJUE).
138
Esta definição corresponde ipsis verbis à definição dada pelo art.º 2.º do RJUE.
139
Cf. o Decreto-Lei n.º 120/2013, de 21 de agosto, que “aprova o regime excecional de
extensão de prazos previstos para a execução de obras, a caducidade de licença ou
admissão de comunicação prévia e a apresentação de requerimento do respetivo alvará
de licenciamento ou de autorização de utilização, previstos nos artigos 58.º, 59.º, 71.º e
76.º do Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de dezembro”.
Página 147 de 404
imperecível” no exterior da edificação a identificação do diretor de obra
(art.º 61.º do RJUE).
140
O Decreto-Lei n.º 120/2013, de 21 de agosto, “aprova o regime excecional de
extensão de prazos previstos para a execução de obras, a caducidade de licença ou
admissão de comunicação prévia e a apresentação de requerimento do respetivo alvará
de licenciamento ou de autorização de utilização, previstos nos artigos 58.º, 59.º, 71.º e
76.º do Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de dezembro”.
Página 153 de 404
Em geral, nos termos do art.º 62.º da LAL, “salvo se a lei prescrever
forma especial, o título dos direitos conferidos aos particulares por
deliberação dos órgãos das autarquias locais ou decisão dos seus titulares é
um alvará expedido pelo respetivo presidente.” Por sua vez, nos termos do
art.º 38, n.º 3, al. h), da LAL, o presidente da câmara pode delegar a
competência para “emitir alvarás exigidos por lei na sequência da decisão
ou deliberação que confiram esse direito”.
No caso da licença e da autorização de utilização, o título tem a
designação técnica de alvará. Nos termos do art.º 74.º, n.º 1, do RJUE, “as
operações urbanísticas objeto de licenciamento são tituladas por alvará,
cuja emissão é condição de eficácia da licença”. Nos termos do n.º 3, do
mesmo art.º 74.º do RJUE, a autorização de utilização dos edifícios é
titulada por alvará. E, nos termos do art.º 125.º do RJUE, as operações
urbanísticas sujeitas a licenciamento são tituladas por alvará, o qual é
condição de eficácia da licença141.
As operações urbanísticas sujeitas a comunicação prévia são
tituladas pelo comprovativo eletrónico da sua apresentação (que é
emitido pela plataforma eletrónica), acompanhado do comprovativo do
pagamento das respetivas taxas.
As operações de loteamento são tituladas, ainda, por documento
comprovativo da prestação de caução e da celebração do instrumento
notarial ou por declaração da câmara municipal relativa à sua
inexigibilidade.
141
Nos termos do art.º 53.º, n.º 6, do RJUE, a prorrogação do prazo de realização de
operação urbanística não dá lugar à emissão de novo alvará nem à apresentação de nova
comunicação prévia, mas apenas a um averbamento no alvará ou comunicação
existentes. Por outro lado, nos termos do art.º 55.º, n.º 4, do RJUE, tendo sido celebrado
um contrato de urbanização, ele será averbado no alvará ou comunicação. Por outro
lado, os prazos de execução da obra começam a contar da data de emissão do respetivo
alvará, da data do pagamento de taxa devida e da prestação de caução (art.º 58.º, n.º 3,
do RJUE).
Página 154 de 404
A autorização de utilização dos edifícios é titulada por alvará (art.º
74.º). O alvará obedece a um modelo-tipo aprovado por portaria do
membro do Governo responsável pelo ordenamento do território. O alvará
de licença de operação de loteamento ou de obras de urbanização deve
especificar diversos elementos, como por exemplo a identificação do
titular do alvará, a identificação do prédio objeto da operação de
loteamento ou das obras de urbanização, a identificação dos atos dos
órgãos municipais relativos ao licenciamento da operação de loteamento e
das obras de urbanização e o enquadramento da operação urbanística em
plano municipal ou intermunicipal de ordenamento do território (art.º 77.º
RJUE). O alvará está sujeito a publicidade por parte do seu titular e da
câmara municipal. O titular do alvará “deve promover, no prazo de 10 dias
após a emissão do alvará, a afixação no prédio objeto de qualquer
operação urbanística de um aviso, visível do exterior, que deve permanecer
até à conclusão das obras”. Este “aviso” deve conter os dados fundamentais
do alvará. A câmara municipal publicita o aviso através de publicação em
boletim municipal, na página da Internet do município ou em edital (a
afixar nos paços do concelho e nas sedes das juntas de freguesia
abrangidas). A publicação do aviso de alvará de loteamento pode ser feita
num jornal de âmbito local (quando o número de lotes seja inferior a 20),
ou num jornal de âmbito nacional, nos restantes casos (art.º 78.º RJUE).
O alvará (ou o título da comunicação prévia) pode ser cassado (não
confundir com caçado), isto é, pode ser apreendido ao seu titular, por ato
de apreensão142 notificado ao respetivo titular. É o que deve acontecer se a
licença caducar, for revogada, anulada ou declarada nula. O título de
comunicação prévia é cassado ao seu titular por averbamento da
142
Esta apreensão administrativa é um ato tipicamente policial, praticado no exercício
de poderes de polícia administrativa.
Página 155 de 404
cassação na plataforma eletrónica (art.º 79.º RJUE). O alvará cassado é
apreendido pela câmara municipal.
A emissão, após requerimento do interessado, de alvará de
licenciamento de operações urbanísticas ou de autorização de utilização é
da competência do presidente da câmara municipal143. A emissão de alvará
é vinculativa e não discricionária, só podendo ser recusada nos casos e com
os fundamentos previstos na lei. Nos termos da lei, “o requerimento de
emissão de alvará só pode ser indeferido com fundamento na caducidade,
suspensão, revogação, anulação ou declaração de nulidade da licença, na
caducidade ou cassação do título da comunicação prévia (…), ou na falta
de pagamento das taxas referidas no número anterior” (art.º 76.º, n.º 5,
RJUE). Assim, a emissão de alvará é um ato essencialmente vinculado da
Administração.
O alvará deve conter diversas especificações previstas no art.º 77.º do
RJUE, das quais se destacam as seguintes: “a) Identificação do titular do
alvará; b) Identificação do prédio objeto da operação de loteamento ou das
obras de urbanização; c) Identificação dos atos dos órgãos municipais
relativos ao licenciamento da operação de loteamento e das obras de
urbanização”.
Com a entrada em vigor do Regime Jurídico da Urbanização e
Edificação (RJUE - Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de dezembro, última
atualização: Lei n.º 118/2019, de 17/09), procedeu-se à substituição da
intimação judicial para a emissão do alvará pela intimação judicial para
a prática de ato legalmente devido, enquanto instrumento privilegiado de
proteção jurisdicional. Assim, deixou de ser necessário ficcionar a
existência de um ato tácito de deferimento do projeto como forma de
143
Nos termos do art.º 23.º, n.º 7, do Regime Jurídico da Urbanização e Edificação
(RJUE - Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de dezembro, última atualização: Lei n.º
118/2019, de 17/09) “o deferimento do pedido de licença parcial dá lugar à emissão de
alvará”.
Página 156 de 404
permitir o recurso do requerente aos tribunais para a obtenção de uma
intimação judicial para a emissão do alvará. Quantos às operações sujeitas
a mera autorização, o deferimento tácito dispensa o particular de recorrer
aos tribunais, podendo iniciar a execução da sua operação urbanística sem a
prévia emissão do respetivo alvará, logo que tenha pago as taxas
urbanísticas devidas. A certidão da sentença transitada em julgado de
intimação à emissão do alvará de licença ou autorização de utilização
substitui o alvará não emitido (art.º 113.º, n.º 7, do RJUE).
Salvo nos casos previstos na lei, é punível como contraordenação
a realização de quaisquer operações urbanísticas sujeitas a prévio
licenciamento sem o respetivo alvará de licenciamento (art.º 98.º do RJUE).
144
Nos termos do art.º 128.º do Regulamento Geral das Edificações Urbanas (RGEU),
“as edificações serão delineadas e construídas de forma a ficar sempre assegurada a sua
solidez, e serão permanentemente mantidas em estado de não poderem constituir perigo
para a segurança pública e dos seus ocupantes ou para a dos prédios vizinhos”.
Página 160 de 404
saúde pública, o despejo deve (o legislador usa impropriamente o termo
“pode”) ser executado imediatamente (art.º 92.º RJUE)145.
66. Fiscalização
145
Idem, ibidem.
146
Cf. art.º 93.º RJUE.
Página 161 de 404
neles constantes; II) Com violação dos regulamentos, das posturas
municipais, de medidas preventivas, de normas provisórias, de áreas de
construção prioritária, de áreas de desenvolvimento urbano prioritário ou
de planos municipais de ordenamento do território plenamente eficazes”.
Por força de uma autorização expressa da lei (art.º 94.º, n.º 5, do
RJUE), a câmara municipal147 pode privatizar parte da atividade de
fiscalização, contratando empresas privadas habilitadas a efetuar a
fiscalização de obras e a realização das inspeções. Estas empresas devem
provar a sua idoneidade, nomeadamente demonstrando que possuem nos
seus quadros engenheiros, arquitetos e juristas competentes e idóneos para
as funções em causa. O próprio legislador fala em fiscais municipais ou
“trabalhadores das empresas privadas” (art.º 95.º, n.º 1, RJUE),
conferindo-lhes o poder de “realizar inspeções aos locais onde se
desenvolvam atividades sujeitas a fiscalização …, sem dependência de
prévia notificação”. Estes fiscais, públicos ou privados, “podem fazer-se
acompanhar de elementos das forças de segurança e do serviço municipal
de proteção civil, sempre que haja fundadas dúvidas ou possa estar em
causa a segurança de pessoas, bens e animais”. Neste caso, as forças de
segurança e os membros do serviço de proteção civil intervêm como
órgãos auxiliares, portanto, no exercício de uma função auxiliar (a uma
função própria de outra entidade, a câmara).
Certas operações de inspeção de operações urbanísticas (como a
entrada no domicílio para averiguar eventuais obras ou situações de
perigo) exigem o consentimento do legítimo titular do domicílio e, na falta
deste consentimento, a prévia autorização judicial por mandado judicial.
147
Nos termos do art.º 33.º da LAL, compete à câmara municipal, nomeadamente, “w)
ordenar, precedendo vistoria, a demolição total ou parcial ou a beneficiação de
construções que ameacem ruína ou constituam perigo para a saúde ou segurança das
pessoas; (…) y) Exercer o controlo prévio, designadamente nos domínios da
construção, reconstrução, conservação ou demolição de edifícios, assim como
relativamente aos estabelecimentos insalubres, incómodos, perigosos ou tóxicos”.
Página 162 de 404
A entrada no domicílio de qualquer pessoa sem o seu consentimento
depende, assim, de prévia autorização judicial148. A entrada no domicílio
não se confunde com a busca domiciliária149. A entrada não permite atos
de busca, mas meros atos de vistoria ou constatação de um estado ou
situação. O requerimento de entrada no domicílio deve ser dirigido ao
tribunal administrativo e é apresentado pelo presidente da câmara
municipal, após o proprietário não ter facultado o acesso ao local, não
obstante ter sido para o efeito regularmente notificado. O caráter
fortemente restritivo do direito fundamental à privacidade do domicílio
obriga a um cuidadoso respeito pelo princípio da proporcionalidade, que
aliás foi correta e suficientemente acolhido pelo legislador nos seguintes
termos: “a entrada e a permanência no domicílio devem respeitar o
princípio da proporcionalidade, ocorrer pelo tempo estritamente
necessário à atividade de inspeção, incidir sobre o local onde se realizam
ou realizaram operações urbanísticas e a prova a recolher deve limitar-se à
atividade sujeita a inspeção” (art.º 96.º, n.º 7, do RJUE)150.
148
A proteção especial da lei ao domicílio começa logo na Constituição, cujo art.º 65.º,
n.º 1, garante a todos o direito, “para si e para a sua família, a uma habitação de
dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade
pessoal e a privacidade familiar”.
149
Sobre a distinção entre entrada e busca domiciliária, cf. SOUSA, António
Francisco de, Manual de Direito Policial, Porto 2016, páginas 643 a 664. A versão
originária deste texto, de 2003 (como tese de doutoramento), terá sido a primeira vez
que a distinção entre os institutos jurídicos (ou medidas policiais) da entrada e da
busca domiciliárias foi feita no sistema jurídico português. Até então, a entrada era
apenas considerada como exigência prévia e associada à busca domiciliária. Lembre-se,
ainda, que no mesmo texto, em versão divulgada em 1998, se criticou o facto de o art.º
34.º, n.º 2, da CRP (na versão que vigorou até 2001, 5.ª revisão da CRP) determinar: “a
entrada no domicílio dos cidadãos contra a sua vontade só pode ser ordenada pela
autoridade judicial competente, nos casos e segundo as formas previstas na lei.
Ninguém pode entrar durante a noite no domicílio de qualquer pessoa sem o seu
consentimento”. A nossa crítica foi acompanhada de exemplos concretos de grave
perigo ou risco atual e urgente de vida de pessoas no domicílio (p. ex. pessoa
esfaqueada, sequestro, etc.) acompanhados da recusa de consentimento por parte do
titular do domicílio.
150
Teve, assim, razão o Tribunal Constitucional quando, no seu ac. de 195/2016, de 23
de maio, julgou inconstitucional a norma do artigo 95.º, n.º 2, do Decreto-Lei n.º
Página 163 de 404
67. Livro de obra
68. Contraordenações
CAPÍTULO VIII
REABILITAÇÃO URBANA
151
Nos termos do Dec. Reg. 5/2019, “equipamentos de utilização coletiva são as
edificações e os espaços não edificados afetos à provisão de bens e serviços destinados à
satisfação das necessidades coletivas dos cidadãos, designadamente nos domínios da
saúde, da educação, da cultura e do desporto, da justiça, da segurança social, da
segurança pública e da proteção civil.” Cf. art.º 21.º do RJIGT, art.º 43.º do RJUE.
152
Nos termos do Dec. Reg. 5/2019, Anexo I, a operação de reabilitação urbana consiste
no conjunto articulado de intervenções visando, de forma integrada, a reabilitação
urbana de uma determinada área”.
Página 166 de 404
f) ‘Fração’: a parte autónoma de um edifício que reúna os requisitos
estabelecidos no artigo 1415.º do Código Civil, esteja ou não o mesmo
constituído em regime de propriedade horizontal;
g) ‘Habitação’: a unidade na qual se processa a vida de um agregado
residente no edifício, a qual compreende o fogo e as suas dependências;
h) ‘Operação de reabilitação urbana’: o conjunto articulado de
intervenções visando, de forma integrada, a reabilitação urbana de uma
determinada área;
i) ‘Reabilitação de edifícios’: a forma de intervenção destinada a
conferir adequadas características de desempenho e de segurança funcional,
estrutural e construtiva a um ou a vários edifícios, às construções
funcionalmente adjacentes incorporadas no seu logradouro, bem como às
frações eventualmente integradas nesse edifício, ou a conceder-lhes novas
aptidões funcionais, determinadas em função das opções de reabilitação
urbana prosseguidas, com vista a permitir novos usos ou o mesmo uso com
padrões de desempenho mais elevados, podendo compreender uma ou mais
operações urbanísticas;
j) ‘Reabilitação urbana’: a forma de intervenção integrada sobre o
tecido urbano existente, em que o património urbanístico e imobiliário é
mantido, no todo ou em parte substancial, e modernizado através da
realização de obras de remodelação ou beneficiação dos sistemas de
infraestruturas urbanas, dos equipamentos e dos espaços urbanos ou verdes
de utilização coletiva e de obras de construção, reconstrução, ampliação,
alteração, conservação ou demolição dos edifícios;
k) ‘Unidade de intervenção’: a área geograficamente delimitada a
sujeitar a uma intervenção específica de reabilitação urbana, no âmbito de
uma operação de reabilitação urbana sistemática aprovada através de
instrumento próprio, com identificação de todos os prédios abrangidos,
153
Este princípio tem origem no direito germânico, onde foi desenvolvido pelo BVerwG
no conhecido Acórdão B-42 (ac. de 30.4.1969), tendo posteriormente passado para a lei
positiva, concretamente para o § 1.º, n.º 7, do BBauG. Sobre o desenvolvimento deste
princípio no referido Ac. B-42, cf. SOUSA, António Francisco de, A estrutura das
Página 170 de 404
reabilitação urbana, designadamente os interesses dos proprietários ou de
outros titulares de direitos sobre edifícios objeto de operações de
reabilitação;
j) Princípio da equidade, assegurando a justa repartição dos encargos
e benefícios decorrentes da execução das operações de reabilitação urbana”
(art.º 4.º RJRU)154. Tenha-se presente que o Código Europeu de Boa
Conduta Administrativa (CEBCA), no seu art.º 11.º, sob a epígrafe
“equidade”, determina que “o funcionário deve atuar de forma imparcial,
equitativa e razoável”. Assim, a equidade continua a ser uma exigência
básica da boa administração, ainda que o CPA não lhe faça referência
expressa. Segundo a jurisprudência do TJUE, por exemplo, os danos
morais são fixados com base na equidade155. A Administração pública
portuguesa também pode, por razões de equidade, revogar o ato, se admitir
156
Art.º 54.º do RJRU. Compare-se com os instrumentos de execução dos planos
previstos no art.º 153.º e segs. do RJIGT. Em geral, sobre os instrumentos de execução
de operações de reabilitação urbana, cf. os art.º 44.º e segs. do RJRU.
157
Cf. 72.8.
Página 175 de 404
A empreitada única vem prevista no art.º 56.º do RJRU, cujo n.º 1,
determina que “a entidade gestora de uma operação de reabilitação urbana
pode promover a reabilitação de um conjunto de edifícios através de uma
empreitada única”.
158
Sobre a reversão, cf. o art.º 45.º do RJUE: direito de reversão em caso de as
parcelas cedidas serem afetas a fins diversos daqueles para que hajam sido cedidas. Cf.
ainda o art.º 5.º do Código das Expropriações (direito de reversão) no caso de os bens
expropriados não serem aplicados, no prazo de dois anos, ao fim que determinou a
expropriação ou se, entretanto, tiverem cessado as finalidades da expropriação. Sobre
como se processa a reversão no caso de expropriação, cf. 74.º e segs. do CE.
Página 177 de 404
Para efeitos do RJUE (art.º 2.º, al. p), do RJUE), o arrendamento
forçado, consiste no “arrendamento de edifícios ou frações autónomas,
assumido por uma entidade administrativa, pelo prazo estritamente
necessário para o efeito, com o objetivo de garantir o ressarcimento das
despesas incorridas com a realização de obras coercivas, através do
recebimento das rendas relativas a contrato previamente existente à
intervenção que se mantenha em vigor ou, quando este não exista ou tenha
cessado a sua vigência, pela celebração de novo contrato”.
Quando os proprietários não cumpram os ónus e os deveres a que
estão obrigados por um plano territorial, o legislador previu meios eficazes
de intervenção pública, destacando-se a reserva de solo, a venda e o
arrendamento forçado de prédios urbanos.
Nos termos do art.º 36.º do da LBG PPSOTU, “os edifícios e as
frações autónomas objeto de ação de reabilitação podem ser sujeitos a
arrendamento forçado, nos casos e nos termos previstos na lei”159.
De igual forma, nos termos do art.º 161.º do RJIGT, “os edifícios e as
frações autónomas objeto de ação de reabilitação podem ser sujeitos a
arrendamento forçado. Regime idêntico está previsto no art.º 59.º do
regime jurídico da reabilitação urbana160. Não por último, nos termos do
art.º 108-B, n.º 5, do RJUE, “a câmara municipal procede ao
arrendamento forçado do imóvel mediante procedimento concursal ou
através da aplicação de regulamento municipal para a atribuição de fogos”.
72.6. Servidões
159
Nos termos do art.º 36.º, n.º 2, da LBG PPSOTU, “os prédios rústicos e os prédios
mistos sem dono conhecido e que não estejam a ser utilizados para fins agrícolas,
florestais, silvo-pastoris ou de conservação da natureza, podem ser disponibilizados na
bolsa nacional de terras”.
160
Decreto-Lei n.º 307/2009, de 23 de outubro, última alteração DL n.º 66/2019, de
21/05.
Página 178 de 404
Nos termos do art.º 33.º do da LBG PPSOTU, “para a prossecução de
finalidades concretas de interesse público relativas à política fundiária
podem (…) ser constituídas servidões administrativas sobre bens
imóveis que, com carácter real, limitem o direito de propriedade ou outros
direitos reais, por lei, ato administrativo ou contrato, prevalecendo sobre as
demais restrições de uso do solo.” Designadamente, podem ser impostas
aos titulares dos direitos reais sobre bens imóveis, “obrigações de não
adotar condutas que prejudiquem as finalidades de interesse público
prosseguidas pelo Estado, regiões autónomas e autarquias locais, na medida
estritamente necessária para a prossecução dessas finalidades” (art.º 33.º,
n.º 2). E o n.º 6 deste artigo determina que “as servidões administrativas
que tenham efeito análogo à expropriação são constituídas mediante
pagamento de justa indemnização, nos termos da lei”.
Nos termos do art.º 60.º, n.º 1, do RJRU, “podem ser constituídas as
servidões administrativas necessárias à reinstalação e funcionamento das
atividades localizadas nas zonas de intervenção”. Por sua vez, o art.º 8.º, n.º
1, do CE, determina que “podem constituir-se sobre imóveis as servidões
necessárias à realização de fins de interesse público.” O n.º 2 deste artigo
determina que “as servidões, resultantes ou não de expropriações, dão lugar
a indemnização quando: a) inviabilizem a utilização que vinha sendo dada
ao bem, considerado globalmente; b) inviabilizem qualquer utilização do
bem, nos casos em que estes não estejam a ser utilizados; ou c) anulem
completamente o seu valor económico.” Também o art.º 21.º da Lei das
Águas prevê a constituição de servidões administrativas sobre parcelas
privadas de leitos e margens de águas públicas.
72.7. Expropriação
161
Nos termos do art.º 62.º, n.º 2, da CRP, “a requisição e a expropriação por utilidade
pública só podem ser efetuadas com base na lei e mediante o pagamento de justa
indemnização”.
162
O Código das Expropriações (CE) foi aprovado pela Lei n.º 168/99, de 18 de
setembro, última alteração: Lei n.º 56/2008, de 04/09.
Página 180 de 404
não cumpram os ónus e deveres decorrentes de operação de
regeneração prevista em plano territorial de âmbito intermunicipal ou
municipal ou de operação de reabilitação urbana podem ser sujeitos a
venda forçada, nos termos da lei, em alternativa à expropriação, por
motivo de utilidade pública.” O art.º 16.º, n.º 2, do mesmo diploma dispõe
que, “caso o proprietário não cumpra a obrigação no prazo estabelecido, ou
manifeste a sua oposição à mesma, a sua execução apenas pode ter lugar
mediante expropriação ou venda forçada do imóvel”. Por sua vez, o art.º
160.º do RJIGT, também sob a epígrafe “venda forçada”, determina que,
“em alternativa à expropriação …, podem ser sujeitos a venda forçada:
a) os bens imóveis necessários às operações de regeneração ou de
reabilitação urbana, quando os respetivos proprietários não cumpram os
ónus e deveres decorrentes de plano territorial; b) os edifícios em ruína ou
sem condições de habitabilidade, bem como das parcelas de terrenos
resultantes da sua demolição, nas situações previstas no regime jurídico da
reabilitação urbana.”.
O art.º 32.º do Regime Jurídico da Reabilitação Urbana determina que
“a aprovação de uma operação de reabilitação urbana sistemática
constitui causa de utilidade pública para efeitos da expropriação ou da
venda forçada dos imóveis existentes na área abrangida, bem como da
constituição sobre os mesmos das servidões, necessárias à execução da
operação de reabilitação urbana.” Por fim, mas não por último, a venda
forçada surge como “instrumento de execução” ao dispor da entidade
gestora no art.º 54.º, n.º 1, al. h), do RJRU. Por outro lado, o art.º 62.º, n.º
1, do RJRU, dispõe que “se os proprietários não cumprirem a obrigação
de reabilitar (…) alegando que não podem ou não querem realizar as
obras e trabalhos indicados, a entidade gestora pode, em alternativa à
expropriação (…), proceder à venda do edifício ou fração em causa em
hasta pública a quem oferecer melhor preço e se dispuser a cumprir a
163
Cf. art.º 162.º, n.º 1, do RJIGT.
164
Cf. art.º 162.º, n.º 5, do RJIGT.
Página 182 de 404
associação, promover a reestruturação da propriedade, nomeadamente para
reduzir ou eliminar os inconvenientes socioeconómicos da fragmentação e
da dispersão da propriedade” (n.º 4).
O reparcelamento do solo urbano consiste na reestruturação da
propriedade que agrupa terrenos de solo urbano e posteriormente os
(re)divide, adjudicando os (novos) lotes aos primitivos proprietários ou a
outros interessados165.
165
Cf. art.º 164.º, n.º 1, do RJIGT.
Página 183 de 404
demolição total ou parcial necessita de prévia autorização expressa da
administração do património cultural.
CAPÍTULO IX
PATRIMÓNIO ARQUITETÓNICO
166
Esta ligação do património cultural, com as suas raízes no passado histórico da nação
portuguesa e no presente, reveste-se de importância extrema e, por isso, deve fazer parte
da formação cívica dos portugueses, incluindo dos “novos portugueses”, isto é, daqueles
estrangeiros e apátridas que adquirem a nacionalidade portuguesa. O que é exigido aos
portugueses por nascimento para a “construção da identidade nacional” também deve
ser exigido aos “novos portugueses”, no seu mínimo indispensável. Exige-se não só o
conhecimento dos valores fundamentais da cultura portuguesa, como também a sua
aceitação e identificação com ela. Recorde-se o n.º 3, do art.º 3.º: “o conhecimento,
estudo, proteção, valorização e divulgação do património cultural constituem um dever
do Estado, das Regiões Autónomas e das autarquias locais”.
Página 185 de 404
e imaterial167 (enquanto “parcelas estruturantes da identidade e da
memória coletiva portuguesas”) é constituído por todos os bens que são
“testemunhos com valor de civilização ou de cultura portadores de
interesse cultural relevante”. Todos estes bens devem ser “objeto de
especial proteção e valorização”. O “interesse cultural relevante”,
designadamente arquitetónico, reflete “valores de memória, antiguidade,
autenticidade, originalidade, raridade, singularidade ou
exemplaridade”. E, como se diz no n.º 4, do art.º 2.º, também fazem parte
do património cultural português “aqueles bens imateriais que constituam
parcelas estruturantes da identidade e da memória coletiva
portuguesas”. A reter como verdadeira lição de epistemologia jurídica,
o art.º 3.º, n.º 1, declara que o Estado deve assegurar, através da
salvaguarda e valorização do património cultural, “a transmissão de uma
herança nacional cuja continuidade e enriquecimento unirá as
gerações num percurso civilizacional singular”, devendo ainda o Estado
proteger e valorizar o património cultural como “instrumento primacial
de realização da dignidade da pessoa humana, objeto de direitos
fundamentais, meio ao serviço da democratização da cultura e esteio
da independência e da identidade nacionais” (n.º 2). E ainda, nos termos
do art.º 12.º, n.º 1, al. b), que determina ser tarefa fundamental do Estado e
dever dos cidadãos, a proteção e a valorização do património cultural com
167
O art.º 2.º do Republicação do Decreto -Lei n.º 139/2009, de 15 de junho define o
“património cultural imaterial” como “as manifestações culturais expressas em
práticas, representações, conhecimentos e aptidões, de caráter tradicional,
independentemente da sua origem popular ou erudita, que as comunidades, os grupos e
os indivíduos reconheçam como fazendo parte integrante do seu património cultural, e
que, sendo transmitidas de geração em geração, são constantemente recriadas pelas
comunidades e grupos em função do seu meio, da sua interação com a natureza e da sua
história, incutindo -lhes um sentimento de identidade coletiva”. E o n.º 3 deste preceito
determina que O património cultural imaterial se manifesta -se nos seguintes domínios:
“a) Tradições e expressões orais, incluindo a língua como vetor do património cultural
imaterial; b) Expressões artísticas e manifestações de carácter performativo; c) Práticas
sociais, rituais e eventos festivos; d) Conhecimentos e práticas relacionados com a
natureza e o universo; e) Competências no âmbito de processos e técnicas tradicionais”.
Página 186 de 404
vista a “vivificar a identidade cultural comum da Nação Portuguesa e das
comunidades regionais e locais a ela pertencentes e fortalecer a consciência
da participação histórica do povo português”. Que exemplo de bem
legislar!
169
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_património_edificado_em_Portugal.
Página 188 de 404
A cidadania portuguesa é participada e exerce-se ativamente, com
deveres e direitos. Como pressuposto do exercício pleno da cidadania, os
portugueses devem poder entender, sentir, viver, partilhar, defender e
promover a cultura portuguesa em todas as suas vertentes. A atribuição
da nacionalidade portuguesa a apátridas e estrangeiros deve ter em conta
estes aspetos de forte comprometimento cultural, sob pena de ser atribuída
a nacionalidade portuguesa a quem não se identifica com a cultura
portuguesa, não a conhece, não se revê nela, não se integra nela, nada tem a
ver com ela, embora tenha o dever de a respeitar e preservar. Por um lado,
a lei estabelece importantes deveres de cidadania; por outro lado, não se
preocupa(ria) em assegurar o cumprimento dos deveres que cria (a lei não
pode criar deveres gerais de cidadania apenas para alguns portugueses).
No Estado de direito democrático, a cidadania pratica-se. A
cidadania é cultura e, como tal, necessita de aprendizagem e aumenta com
a aprendizagem. Por isso, a cidadania deve fazer parte dos programas
de formação escolar, da pré-primária à universidade, da formação
profissional à formação cívica em geral, por exemplo através dos media e
de eventos culturais, como teatro, concertos musicais, filmes, desportos. A
cidadania portuguesa deve ser uma prática viva na conduta de todo o
português, sem exceção. O Estado tem especiais responsabilidades neste
domínio, sendo sua tarefa fundamental “assegurar a transmissão de
uma herança nacional cuja continuidade e enriquecimento unirá as
gerações num percurso civilizacional singular” (art.º 3.º, n.º 1, da Lei n.º
107/2001).
O dever de proteger e valorizar o património cultural – enquanto
testemunho material com valor de civilização ou de cultura – também
resulta do facto de o património cultural ser “instrumento primacial de
realização da dignidade da pessoa humana, objeto de direitos
fundamentais, meio ao serviço da democratização da cultura e esteio
170
Cf. art.º 10.º, n.º 1: “institutos culturais, associações de defesa do património cultural,
e outras organizações de direito associativo”.
171
Isto leva-nos a interrogar como poderão estrangeiros que, comprovadamente, não
conhecem nem a língua, nem os bens e valores culturais portugueses, cumprir este dever
cívico. Quando a lei se refere a “todos”, não exclui ninguém que se encontre em
território português, incluindo estrangeiros e apátridas, mas muito especialmente os
cidadãos portugueses, sendo compreensivelmente mais exigente para com estes.
172
Sobre as “estruturas associativas” de defesa do património cultural, cf. o art.º 10.º da
Lei n.º 107/2001.
Página 190 de 404
património cultural. Este direito abarca o recurso ao embargo judicial de
obra e a outros procedimentos cautelares.
São três os deveres fundamentais de preservação, defesa e valorização
do património cultural que recaem sobre “todos”173, especialmente sobre os
cidadãos portugueses:
- não atentar contra a integridade dos bens culturais;
- defender e conservar o património cultural, que compreende a sua
não destruição, deterioração ou perda;
- valorizar o património cultural, que compreende a divulgação, o
acesso à fruição e enriquecimento dos valores culturais.
O fim da política de proteção e valorização dos bens e valores
culturais portugueses consiste em “vivificar a identidade cultural comum
da Nação Portuguesa e das comunidades regionais e locais a ela
pertencentes e fortalecer a consciência da participação histórica do povo
português em realidades culturais de âmbito transnacional”. Trata-se de
uma declaração solene repleta de conteúdo e significado, que tem de ter
implicações práticas nas políticas governamentais e na atividade da
Administração pública.
173
Cf. art.º 11.º da Lei n.º 107/2001.
Página 191 de 404
Nas autoridades administrativas responsáveis pelo património cultural
ocupa especial destaque a Direção-Geral do Património Cultural
(DGPC) que, nos termos do art.º 2.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 115/2012,
aprovou a orgânica da Direção-Geral do Património Cultural, e “tem por
missão assegurar a gestão, salvaguarda, valorização, conservação e restauro
dos bens que integrem o património cultural imóvel, móvel e imaterial
do País, bem como desenvolver e executar a política museológica
nacional“.
A Direção-Geral do Património Cultural é um serviço central da
administração direta do Estado, dotado de autonomia administrativa.
Compete-lhe, nomeadamente, “propor a classificação de bens imóveis, de
interesse nacional e de interesse público” (art.º, 2.º, n.º 1, al. c)) e
“autorizar, nos termos da lei, os planos, projetos, trabalhos, alterações de
uso e intervenções de iniciativa pública ou privada a realizar em imóveis
classificados ou em vias de classificação, designadamente monumentos,
conjuntos e sítios” (art.º, 2.º, n.º 1, al. g)). Compete-lhe, ainda, “promover,
quando necessário, a expropriação de bens culturais imóveis” (art.º, 2.º, n.º
3, al. a)). A afetação ou desafetação à DGPC da gestão de bens imóveis
classificados é da competência do Governo, por portaria dos ministros das
finanças e da cultura (art.º, 8.º, n.º 1).
Os bens imóveis podem ser classificado como de interesse nacional,
de interesse público ou de interesse municipal.
Os “monumentos nacionais” podem ser monumentos, conjuntos ou
sítios.
O Procedimento de classificação de imóveis é dirigido pelo Instituto
de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico, I. P.
(IGESPAR, I. P.).
CAPÍTULO X
174
Sobre a justa indemnização, cf. o ac. do STJ de 5.11.2008, proc. n.º 3266/08.
175
Cf. art.º 34.º do CE. Nos termos do art.º 159.º, n.º 1, do RJIGT, “podem ser
expropriados os terrenos ou os edifícios que sejam necessários à execução dos
programas e dos planos territoriais, bem como à realização de intervenções públicas
e instalação de infraestruturas e de equipamentos de utilidade pública.”
Página 194 de 404
87. Significado da garantia da propriedade privada no Estado de
direito
177
CE, versão dada pela Lei n.º 56/2008, de 4 de setembro.
Página 196 de 404
público178, adequadas à natureza daqueles, sendo observadas as garantias
dos particulares e assegurado o pagamento de justa indemnização.” O
art.º 61.º, n.º 2, al. j), da LOG, prevê a possibilidade de “requisição de
pessoal a empresas públicas ou privadas”.
178
Por exemplo, requisição de um hotel para alojamento temporário de pessoas sujeitas
a quarentena obrigatória por suspeita de estarem infetadas com o SARS-CoV-2 ou de
pessoas desalojadas por uma catástrofe natural.
179
Os princípios gerais de direito administrativo têm a sua sede, especialmente, na CRP
e no CPA. Nos termos do art.º 266.º, n.º 2, da CRP, “Os órgãos e agentes
administrativos estão subordinados à Constituição e à lei e devem atuar, no exercício
das suas funções, com respeito pelos princípios da igualdade, da proporcionalidade, da
justiça, da imparcialidade e da boa fé.”
180
Em França, o princípio da proporcionalidade foi desenvolvido para o direito
administrativo em geral precisamente a partir de um caso concreto de expropriação por
utilidade pública, mais precisamente no conhecido acórdão ville nouvelle Est, do CE
francês, de 1971. Tratou-se do arrêt Ville nouvelle Est, que tratou de uma
“Expropriation pour cause d’utilité publique”, acórdão no qual o CE francês
desenvolveu a chamada “théorie du bilan coût-avantages”, isto é, teoria da “ponderação
custos-benefícios”. Pouco tempo antes, o Tribunal Administrativo Federal alemão
havia, no seu ac. de 30.4.1969, desenvolvido, na conhecido B 42 Urteil, o princípio da
proporcionalidade a partir do imperativo (ou princípio) da justa ponderação
(Abwägungsgebot). A análise custos-benefícios é um método matemático de avaliação,
nomeadamente da função de utilidade social do indivíduo ou da utilidade marginal de
um bem. A análise custo-benefício é usada especialmente (não exclusivamente) para
avaliar o dinheiro ganho em grandes projetos, tanto no setor público como privado.
Nesta avaliação são incluídos tanto custos e benefícios menos expressivos em termos
financeiros ou monetários (como p. ex. danos ambientais) como outros impactos
expressos em termos monetários. Muitas empresas privadas recorrem frequentemente a
outras técnicas de avaliação de projetos, como a taxa de retorno. Nos anos 50 e 60 do
séc. XX, as técnicas de avaliação custo-benefício foram aplicadas, especialmente no
Página 197 de 404
Como princípio geral, a expropriação limita-se ao estritamente
necessário para a realização do seu fim. Mas este “estritamente
necessário” deve considerar, eventualmente, as exigências futuras, tendo
em consideração o programa de execução faseada e calendarizada, que não
pode ultrapassar seis anos (art.º 3.º CE).
181
Segundo MARCELO CAETANO a afetação é “o acto ou prática que consagra a
coisa à produção efectiva de utilidade pública” (Direito Administrativo, 1990: 922 e
923). A desafetação (do domínio público) é, como inverso da afetação, o ato, da lei ou
da Administração, de retirar ou subtrair a utilidade pública de determinada coisa,
retirando-a do regime jurídico do domínio público.
Página 199 de 404
resultarem da “afetação definitiva dos seus bens de domínio público a
outros fins de utilidade pública”182.
93. Resgate
184
O realojamento equivalente deve ser adequado às suas necessidades e às daqueles
que com ele vivam em economia comum à data da declaração de utilidade pública.
Página 201 de 404
podem deixar de ser afetos a fins de utilidade pública (mesmo que distintos
das que motivaram a cedência, sob pena de reversão).
As parcelas a expropriar devem ser devidamente identificadas pelas
descrições na conservatória e inscrições matriciais. Os proprietários e
interessados conhecidos devem ser claramente identificados.
A entidade expropriante inicia com uma tentativa de compra,
segundo o direito privado. Ela “deve diligenciar no sentido de adquirir os
bens por via de direito privado”, para o que deve pedir e apresentar uma
proposta de aquisição (art.º 11.º CE). No caso de proprietários
desconhecidos, são publicados editais nos locais de estilo do município.
No caso de recusa ou de falta de resposta no prazo estabelecido, a
entidade expropriante pode pedir (ao Governo ou ao presidente da
assembleia municipal – art.º 12.º e art.º 14.º do CE) a declaração de
utilidade pública.
Em caso de urgência, esta urgência deve ser declarada na própria
declaração de utilidade pública.
No caso de calamidade pública (p. ex. a pandemia Covid-19) ou de
exigências de segurança interna ou de defesa nacional, a expropriação
pode (deve) ser urgentíssima. Neste caso, o Estado ou as autoridades
competentes podem (devem) tomar posse imediata dos bens sem
formalidade prévia.
A declaração de utilidade pública é publicada na 2.ª Série do Diário da
República. Os futuros expropriados e interessados são notificados por carta
registada com aviso de receção.
185
Sobre a vistoria ad perpetuam rei memoriam, cf. art.º 20.º , sobretudo art.º 21 .º , e
art.º 91 .º, n.º 5, do CE. Ver também o art.º 63.º, n.º 7, do RJRU.
Página 203 de 404
sacrifício sofrido pela expropriação. A justa indemnização é para o Estado
um dever e para o expropriado um direito constitucional.
Quando satisfaça a indemnização, o Estado tem direito de regresso
sobre a entidade expropriante, podendo, independentemente de quaisquer
formalidades, proceder à cativação de transferências orçamentais até ao
valor da dívida, incluindo os juros de mora que se mostrem devidos desde
a data do pagamento da indemnização.
No Estado de direito só lugar a uma indemnização: a justa
indemnização186, pois o Estado de direito é ipso facto Estado de justiça. A
indemnização injusta é inconstitucional e ilegal.
O montante da indemnização é calculado com referência à data da
declaração de utilidade pública. O índice de preços no consumidor é
publicado pelo Instituto Nacional de Estatística para o local da situação dos
bens (ou da sua maior extensão).
Para efeitos do cálculo da indemnização por expropriação, o solo é
classificado em “solo apto para a construção” ou em “solo para outros
fins”187. Esta classificação corresponde, mutatis mutandis, à classificação
geral dos solos em direito do urbanismo que distingue o solo urbano do
solo rústico.
Nos termos do Dec. Reg. 5/2019, Anexo I, “solo urbano é o que está
total ou parcialmente urbanizado ou edificado e, como tal, afeto em plano
territorial à urbanização ou à edificação.”
Nos termos do Dec. Reg. 5/2019, Anexo I, “O solo rústico é aquele
que, pela sua reconhecida aptidão, se destine, nomeadamente, ao
aproveitamento agrícola, pecuário, florestal, à conservação, valorização e
exploração de recursos naturais, de recursos geológicos ou de recursos
186
Nos termos do art.º 62.º, n.º 2, da CRP, “A requisição e a expropriação por utilidade
pública só podem ser efetuadas com base na lei e mediante o pagamento de justa
indemnização.”
187
Sobre esta classificação, cf. o art.º 25.º do CE.
Página 204 de 404
energéticos, assim como o que se destina a espaços naturais, culturais, de
turismo, recreio e lazer ou à proteção de riscos, ainda que seja ocupado por
infraestruturas, e aquele que não seja classificado como urbano”. Nos
termos do mesmo diploma, “solo rústico complementar é o solo rústico
adjacente a um ou mais perímetros urbanos que, no quadro da elaboração
de um plano de urbanização, se revele necessário abranger para estabelecer
uma intervenção integrada de planeamento.”
O legislador estabeleceu no art.º 26.º do CE os critérios de cálculo do
valor do solo188 apto para a construção. O cálculo do valor (do solo)
configura a “avaliação” do solo. Esta avaliação tem de ser justa e, para
isso, deve obedecer a critérios claros e objetivos. Quem avalia está
mandatado por lei para avaliar, isto é, calcular (determinar) e declarar o
valor (do solo). À luz da lei e do direito, só há um valor justo. Esta
operação de avaliação é estritamente vinculada, não tendo nada de
discricionária, nem há aqui “margens de avaliação” que possam conduzir a
uma liberdade de ação como liberdade de cálculo do valor. A boa
administração exige a justiça no caso concreto e esta assenta na clareza e
objetividade do cálculo do valor. Este raciocínio é, em geral, válido para
toda e qualquer avaliação da Administração pública, pois toda a avaliação
consiste precisamente em calcular ou determinar e declarar o valor. No
caso do art.º 26.º do CE, o legislador determinou os critérios de avaliação.
Noutros casos em que o legislador não o tenha feito com tanta clareza e
objetividade, o intérprete e aplicador da lei deve fazê-lo; essa operação,
sendo uma operação de cálculo (determinação) e declaração da justiça
no caso concreto é essencialmente vinculada e, assim, sujeita a um
controlo jurisdicional que deve ser, em princípio, pleno, mas que o tribunal
pode, no caso concreto, autorecuar, considerando as circunstâncias do caso
concreto. “A natureza da decisão conformadora exige que ela apenas
188
Sobre o valor do solo, cf. → 28 e → 46.
Página 205 de 404
possa ter lugar através de valorações, prognoses e juízos valorativos da
autoridade administrativa. Só assim a Administração pode reagir, célere e
eficazmente, no cumprimento das suas funções. Por isso, pode não ser aqui
possível um controlo jurisdicional pleno, apesar da vinculação da
autoridade administrativa à melhor decisão possível. Isto porque a decisão
administrativa não é nestes casos compatível com o controlo total a
posteriori de uma instância independente. Mas deste forçoso
reconhecimento de recuo do controlo jurisdicional não se deve concluir
que a zona não controlada se transformou, por isso, em zona
discricionária”189. Posteriormente, sustentámos que “a flexibilidade do self-
restreint judicial permite ao tribunal adaptar-se permanentemente às novas
situações, aos novos reconhecimentos científicos e às novas técnicas de
controlo”190. E ainda: “o juiz, criterioso e responsável, conhecendo o real
significado da função de julgar, fixará a linha ideal do seu controlo com as
circunstâncias envolventes do caso concreto”191.
Segundo a doutrina tradicional portuguesa, a zona da “margem de
apreciação” não é discricionariedade, mas deve ter o mesmo regime de não
controlo jurisdicional. No entanto, este entendimento faz ‘tábua rasa’ do
direito fundamental do cidadão a uma tutela jurisdicional efetiva. Em
sede de avaliação de desempenho ou de conhecimento de funcionários
públicos, o Tribunal Administrativo Federal alemão faz exigências
189
SOUSA, A. F. de, A discricionariedade administrativa, Lisboa 1987, p. 332 e
seg.
190
SOUSA, A. F., ‘Conceitos indeterminados” no direito administrativo,
Coimbra 1994, p. 238. Ver uma panorâmica geral da origem e evolução da
“margem de apreciação” e dos problemas que ela suscita no Estado de direito in:
SOUSA, A. F. de, “'Margem de apreciação' e Estado de direito” (in: Polis, n.º 2,
1995, pág. 7 e segs.). Cf. também idem, 'Conceitos indeterminados' no direito
administrativo, Almedina, Coimbra 1994, espec. pág. 48 e segs e 1 17 e segs.
191
SOUSA, A. F., “Conceitos indeterminados” no direito administrativo,
Coimbra 1994, p. 240. Sobre esta temática, cf. SOUSA, António Francisco de,
“Os ‘conceitos legais indeterminados’ no direito administrativo alemão”, in:
Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro 166 (1986), pág. 276 a 291.
Página 206 de 404
jurídicas importantes que controla plenamente, como aconteceu no seu ac.
de 1.3.2018, onde se lê: “l. A obrigação de tornar plausíveis as
avaliações individuais está relacionada com a faculdade de o funcionário
suscitar objeções à sua exatidão ou determinabilidade. Se o funcionário
considerar que a explicação da sua avaliação pela Administração não é
suficientemente plausível, sobre ele recai o ónus de especificar pontos
concretos que considere que estão pouco claros ou incorretos. 2. Ao
justificar a avaliação global de uma avaliação, a ponderação dos diferentes
elementos individuais deve estar em relação com as exigências
estatutárias do cargo. A Administração deve assegurar que é uniforme a
ponderação dos elementos individuais de avaliação, no âmbito de aplicação
de critérios de avaliação dentro de um grupo de funcionários abrangidos”
(in: BVerwG, ac. de 1.3.2018, BverwG 2 A 10.17).
O estabelecimento pelo legislador dos critérios de avaliação reflete
precisamente que para ele a operação é vinculada e não livre. Sobrepõem-
se exigências de justiça material às perspetivas do foro estritamente
pessoal192.
A preocupação do legislador com a justa indemnização alarga-se ao
cálculo do valor nas expropriações parciais (art.º 29.º), à indemnização
respeitante ao arrendamento (art.º 30.º), à indemnização pela interrupção
da atividade comercial, industrial, liberal ou agrícola (art.º 31.º), à
indemnização pela expropriação de direitos diversos da propriedade plena
(art.º 32.º).
192
Sobre a recusa de juízos avaliativos do foro estritamente pessoal do avaliador,
conferir Sousa, António Francisco de, “Discricionariedade, ‘margem de livre
apreciação’, ‘justiça administrativa’, ‘discricionariedade imprópria’, ‘discricionariedade
técnica’: Comentário ao acórdão do TCAN, processo 01049/13.9BEBRG, 1.ª Secção -
Contencioso Administrativo, de 15-02-2019[1] – concurso para professor catedrático”,
in: RMP, n.º 160, out./dez. 2019.
Página 207 de 404
O procedimento da expropriação por utilidade pública é diferente
consoante se trate de expropriação amigável ou de expropriação litigiosa.
Na expropriação amigável, o procedimento é desencadeado com
uma tentativa de acordo, da iniciativa da entidade expropriante, para o
que começa por propor um acordo ao expropriado e aos demais
interessados. Podem ser objeto de acordo diversos aspetos importantes para
as diferentes partes, destacando-se o montante da indemnização, a forma
de pagamento da indemnização (eventualmente em prestações), prazos e
respetivos juros, eventualmente indemnização pela cedência de bens ou
direitos, expropriação total e condições acessórias.
A proposta no procedimento de expropriação amigável é feita em
carta ou ofício registado com aviso de receção, pela entidade expropriante,
que deve ser efetuada até 15 dias após a publicação da declaração de
utilidade pública. A proposta deve indicar um montante indemnizatório (o
mesmo para outros interessados). Os destinatários têm igual período de 15
dias para responder, podendo aceitar ou propor outro montante
indemnizatório, eventualmente louvado em avaliação de perito.
Havendo acordo, passa-se à escritura de expropriação amigável, se
o expropriante tiver notário privativo; na falta deste, há lugar ao auto de
expropriação amigável, que será celebrado no notário privativo do
município em que se situa o bem expropriado (ou a sua maior extensão).
Integrando a entidade expropriante o sector público administrativo, o auto
de expropriação amigável é celebrado perante funcionário designado para
o efeito.
Não havendo acordo (assim é também entendido o silencio do
expropriado), passa-se à expropriação litigiosa, iniciando-se esta com
uma notificação do expropriado e demais interessados.
193
Os laudos, ou laudos periciais, são relatos de avaliação dos técnicos avaliadores. Os
honorários dos árbitros são pagos pela entidade expropriante.
Página 209 de 404
de Justiça do acórdão do tribunal da Relação que fixa o valor da
indemnização devida” (art.º 66.º CE).
194
Cf. art.º 44.º do RJUE.
Página 210 de 404
103. Reversão dos bens expropriados
A lei prevê que, em certos casos, possa haver reversão dos bens
expropriados. Assim, o expropriado pode requerer à entidade que declarou
a utilidade pública da expropriação a reversão195 dos bens expropriados
(cf. arti.ºs 78.º e 79 do CE). A decisão sobre o pedido de reversão deve
ser notificada ao requerente, à entidade expropriante e aos interessados. Ela
é ainda publicada no Diário da República.
Mesmo tendo sido autorizada a reversão, pode haver acordo entre a
entidade expropriante e o expropriado quanto aos termos, condições e
montante indemnizatório da reversão (art.º 76.º do CE).
195
Nos termos do art.º 45.º, n.º 1, do RJUE, “O cedente tem o direito de
reversão sobre as parcelas cedidas (...) sempre que estas sejam afetas a fins
diversos daqueles para que hajam sido cedidas.” E, nos termos do n.º 4, deste
preceito, em alternativa ao exercício do direito de reversão, o cedente pode exigir
ao município uma indemnização.
196
A “urgente necessidade” desencadeia o dever de ação, o dever de exercer a
competência. Nos termos do art.º 80.º do CE, “Em caso de urgente necessidade
Página 211 de 404
de interesse nacional, requisitos que associa a um (falso) “pode”. A
verificação destes requisitos no caso concreto está sujeita ao controlo
jurisdicional pleno, não se verificando neste âmbito qualquer
discricionariedade. Assim, perante uma situação de urgente necessidade, a
Administração “pode”, isto é, deve requisitar o imóvel particular, por
exemplo para “hospital de campanha”, para estacionamento, para
colocação de uma grua.
Os imóveis requisitados podem ser usados por instituições públicas ou
particulares de interesse público (instituições particulares de utilidade
pública administrativa, de mera utilidade pública e de solidariedade social).
Em regra, a requisição está sujeita a prévio reconhecimento da sua
necessidade por Resolução do Conselho de Ministros, nomeadamente
quanto à verificação da urgência e do interesse público e nacional. Nesta
apreciação, deve ser observado o princípio da proporcionalidade
(adequação, indispensabilidade e proporcionalidade em sentido estrito).
CAPÍTULO XII
POLÍCIA DO URBANISMO
197
O art.º 61.º, n.º 2, al. j), da LOG, prevê a “requisição de pessoal a empresas públicas
ou privadas”.
Página 213 de 404
Referindo-se à caraterização da postura e do regulamento policial, e
baseando-se no Código Administrativo de 1940, MARCELLO
CAETANO198 sustentou que as deliberações das câmaras municipais
podem revestir a forma de postura ou regulamento policial. “O carácter
preventivo das suas normas confere-lhe natureza policial, visto a polícia
se caracterizar pelo fim de prevenir ou evitar danos sociais”. Tanto a
postura como o regulamento de polícia são regulamentos policiais (visam
prevenir ou evitar danos sociais): ambos contêm disposições preventivas de
carácter genérico e execução permanente tendo em vista prevenir ou evitar
danos sociais. A postura tem a sua especificidade no facto de surgir de
deliberações tomadas por iniciativa da câmara, no âmbito de matérias das
atribuições policiais municipais. A postura é, pois, regulamento policial
autónomo municipal.
O direito do urbanismo é, essencialmente, um direito de ordenação,
na medida em que todo ele se orienta para o estabelecimento da boa ordem
urbanística (em sentido amplo), ainda que não seja apenas isso. Na
legislação do urbanismo, são muitas as normas que organizam e
disciplinam (“ordenam”), tendo em vista fins de precaução199, de
prevenção, de minimização (ou mitigação) e de combate a riscos e a
perigos para os bens jurídicos protegidos por essas normas, como a vida e
a saúde das pessoas, individual e coletivamente (saúde pública). O direito
de ordenação é direito policial geral, dominado pela ideia fundamental de
prevenção do risco e do perigo (para os bens jurídico-ordenacionalmente
protegidos que se aglutinam genericamente na fórmula da cláusula geral
de polícia: “prevenção do perigo para a ordem e a segurança
198
Marcello Caetano, Manual de Direito Administrativo, Coimbra, 1991, vol. I, pág.
102.
199
Nos termos do art.º 89.º da Lei da Água, na aplicação da lei da água, os organismos
de Administração Pública devem observar o princípio da precaução e da prevenção.
Página 214 de 404
públicas”). Polícia é, pois, (não exclusivamente, mas essencialmente)
prevenção do perigo para a ordem e segurança públicas200.
O caráter ordenacional/policial do direito urbanístico é notório na
generalidade dos diplomas legais deste ramo do direito administrativo
especial. O art.º 11.º, n.º 2, do Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão
Territorial (RJIGT - decreto-lei n.º 80/2015, de 14 de maio) determina que
“o conjunto dos equipamentos, infraestruturas e sistemas que asseguram a
segurança, a proteção civil e a prevenção e minimização de riscos, é
identificado nos programas e nos planos territoriais.” Por sua vez, o art.º
13.º, n.º 2, do mesmo diploma, determina que “os planos territoriais
delimitam as áreas perigosas e de risco, identificam os elementos
vulneráveis para cada risco e estabelecem as regras e as medidas para a
prevenção e minimização de riscos, em função da graduação dos níveis
de perigosidade e de acordo com os critérios a estabelecer pelas entidades
responsáveis em razão da matéria.”
200
Cf. António Francisco de Sousa: “Prevenção do perigo como função das forças de
segurança e das autoridades de polícia administrativa”, in: Polícia Portuguesa, n.º 105
(1997), p. 22 e segs.
Página 215 de 404
Ao nível da Administração central, o Governo da República, o
Primeiro Ministro, os Ministros e Secretários de Estado são autoridades
policiais no âmbito das suas funções e competências policiais. Os mesmo
se diga das Direções Gerais e das Inspeções Gerais.
As Inspeções Gerais são serviços centrais da administração direta do
Estado. Isto significa que, apesar da sua autonomia administrativa,
pertencem ao Estado e estão sob a direção dos respetivos membros do
Governo.
Algumas das mais importantes Inspeções Gerais são:
A Inspeção Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do
Ordenamento do Território (IGAMAOT); a Inspeção Geral da Saúde; a
Inspeção Geral da Administração Interna, a Inspeção Geral das Finanças, a
Inspeção Geral dos Jogos, a Inspeção Geral da Educação e a Inspeção
Geral do Trabalho. As Inspeções Gerais desenvolvem uma ação inspetiva,
por iniciativa própria ou por iniciativa dos cidadãos através de denúncias e
queixas.
108.2. CCDRs
110.1. Em geral
202
O risco tornou-se elemento caraterístico da vida individual e social. Vivemos numa
sociedade de risco, como justamente salienta o sociólogo ULRICH BECK na sua obra
fundamental Risikogesellschaft, Auf dem Weg in eine andere Moderne, publicada em
1986 (Suhrkamp, Frankfurt a. M.). No entanto, o risco ambiental (e policial) não se
confunde com o risco geral da vida, o risco que todo o cidadão corre no seu dia a dia,
muitas vezes entendido como o risco socialmente aceite.
Página 220 de 404
imediata ou no mais curto espaço de tempo, o que leva a que o legislador
suprima formalidades e prazos que normalmente são exigidos por razões de
segurança jurídica.
Por exemplo, o art.º 89.º, n.º 3, do RJUE, diz que “a câmara municipal
pode, oficiosamente ou a requerimento de qualquer interessado, ordenar a
demolição total ou parcial das construções que ameacem ruína ou
ofereçam perigo para a saúde pública. O art.º 90.º, n.º 8, do RJUE,
determina que “as formalidades previstas no presente artigo podem ser
preteridas quando exista risco iminente de desmoronamento ou grave
perigo para a saúde pública, nos termos previstos na lei para o estado
de necessidade”. É também o que resultada do 92.º, n.º 1, do mesmo
diploma, que diz: “A câmara municipal pode ordenar o despejo sumário
dos prédios ou parte de prédios nos quais haja de realizar-se as obras... ,
sempre que tal se mostre necessário203 à execução das mesmas.” Neste
sentido, também o art.º 92.º, n.º 2, do RJUE, admite o despejo
administrativo imediato quando se verifique, no caso concreto, “risco
iminente de desmoronamento ou grave perigo para a saúde pública”. E
o art.º 92.º, n.º 4, do mesmo diploma, diz: “O despejo deve executar-se ..,
salvo quando houver risco iminente de desmoronamento ou grave perigo
para a saúde pública, em que poderá [leia-se “deverá”] executar-se
imediatamente”.
Também o Dec.-Lei n.º 228/2012, de 25 de outubro, que aprovou a
orgânica das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional
203
O estado de necessidade baseia-se na ideia fundamental de, no caso concreto,
salvaguardar o interesse ou bem jurídico de maior valor. O direito de necessidade,
resultante do estado de necessidade, afasta a ilicitude, nos termos do art.º 34.º do CP,
que diz: “Não é ilícito o facto praticado como meio adequado para afastar um perigo
actual que ameace interesses juridicamente protegidos do agente ou de terceiro, quando
se verificarem os seguintes requisitos: a) Não ter sido voluntariamente criada pelo
agente a situação de perigo, salvo tratando-se de proteger o interesse de terceiro; b)
Haver sensível superioridade do interesse a salvaguardar relativamente ao interesse
sacrificado; e c) Ser razoável impor ao lesado o sacrifício do seu interesse em atenção à
natureza ou ao valor do interesse ameaçado.”
Página 221 de 404
(CCDRs), se refere, no seu art.º 13.º, n.º 2, al. b), ao risco iminente, e
legitima as CCDs a “determinar, a título preventivo, e com efeitos
imediatos, mediante ordem escrita e fundamentada, a suspensão ou
cessação de atividades lesivas ou potencialmente danosas para o
ambiente, o encerramento de instalações quando da não aplicação dessas
medidas possa resultar risco iminente para a proteção da saúde
pública e para segurança de pessoas e bens”.
Ilustrativo é ainda o art.º 126.º do regime jurídico da reabilitação
urbana (Decreto-Lei n.º 307/2009, de 23 de outubro, última alteração dada
pelo DL n.º 66/2019, de 21/05), segundo o qual “as árvores ou os maciços
de arborização que, embora situados em logradouros204 de edificações ou
outros terrenos particulares, constituam, pelo seu porte, beleza e condições
de exposição, elementos de manifesto interesse público, e como tais
oficialmente classificados, não poderão ser suprimidos, salvo em casos de
perigo iminente, ou precedendo licença municipal, em casos de
reconhecido prejuízo para a salubridade ou segurança dos edifícios
vizinhos”.
Da urgência da intervenção causada pelo risco iminente ou pelo
grave perigo para bens jurídico importantes, resulta a necessidade de
preterir formalidades prévias à intervenção que nos casos normais são
exigidas por razões de segurança jurídica. O risco iminente, que
desencadeia a competência de urgência, também exige uma intervenção
imediata, sem delongas e esperas que ponham em perigo ou inviabilizem o
efeito útil da intervenção.
204
Nos Termos do Dec. Reg. 5/2019, Anexo I, logradouro é “um espaço ao ar livre,
destinado a funções de estadia, recreio e lazer, privado, de utilização coletiva ou de
utilização comum, e adjacente ou integrado num edifício ou conjunto de edifícios”.
Página 222 de 404
O perigo atual verifica-se quando já se iniciaram os acontecimentos
danosos ou eles ocorrerão com segura probabilidade imediatamente ou no
futuro mais próximo205.
O perigo atual206 desencadeia a urgência de intervenção pela
atualidade da situação de necessidade. Ponderada a situação concreta, o
efeito danoso ameaça de tal forma que se impõem medidas imediatas e
apropriadas de proteção do bem jurídico ameaçado. Deve estar em causa
um perigo que não pode ser prevenido (ou combatido) eficazmente e em
tempo útil doutro modo. Por outro lado, o bem jurídico ameaçado deve ser
claramente superior a eventuais bens que tenham de ser, no caso concreto,
sacrificados (relegados para segundo plano). O critério aqui presente é o da
razoabilidade.
É inerente à situação de necessidade a presença, no caso concreto, de
um risco atual para um bem jurídico-policialmente protegido de grande
relevância jurídica como a vida, a integridade física, a liberdade, a honra ou
a propriedade.
205
Sousa, António Francisco de, Manual de direito policial, Porto 2016, p. 466.
206
A Lei n.º 147/99 (última alteração dada pela Lei n.º 26/2018, de 5 de julho) define no
seu art.º 5.º, al. c) a “situação de emergência” como “a situação de perigo atual ou
iminente para a vida ou a situação de perigo atual ou iminente de grave
comprometimento da integridade física ou psíquica da criança ou jovem, que exija
proteção imediata …, ou que determine a necessidade imediata de aplicação de medidas
de promoção e proteção cautelares”.
Página 223 de 404
de danos ambientais, destinadas a prevenir ou minimizar207 ao máximo
esses danos”.
Nos termos do art.º 11.º, al. n), da Lei da responsabilidade ambiental,
“medidas de reparação” são qualquer ação, ou conjunto de ações,
incluindo medidas de carácter provisório, com o objetivo de reparar,
reabilitar ou substituir os recursos naturais e os serviços danificados ou
fornecer uma alternativa equivalente a esses recursos ou serviços, tal como
previsto no anexo V ao (…) decreto-lei, do qual faz parte integrante”.
207
A minimização ou mitigação do risco é, muitas vezes, a única coisa que as
autoridades podem fazer, como acontece por exemplo quando se trata de circulação
automóvel, de vacinação pública, etc., situações em que o rico nunca é inteiramente
eliminado (não há risco zero).
Página 224 de 404
110.4. Acesso para efeitos de inspeção e de fiscalização
urbanística: entrada no domicílio e em instalações
208
Também no caso de “recusa de acesso ou obstrução à ação inspetiva, de fiscalização
ou vigilância, pode ser solicitada a colaboração das forças policiais para remover tal
obstrução e garantir a realização e segurança dos atos inspetivos” (art.º 18.º, n.º 6, da
Lei Quadro das Contraordenações Ambientais - Lei n.º 50/2006, de 29 de agosto, última
alteração dada pela Lei n.º 25/2019, de 26/03).
209
Art.º 18.º, n.ºs 4, 5 e 6, do lei quadro das contraordenações ambientais (Lei n.º
50/2006, de 29 de agosto, última alteração dada pela Lei n.º 25/2019, de 26 de março).
210
Lei da Água (Lei n.º 58/2005, de 29 de dezembro, na última versão dada pela Lei n.º
44/2017, de 19/06).
Página 225 de 404
(n.º 1). “Os responsáveis pelas instalações sujeitas a medidas de inspeção
ou de fiscalização são obrigados a facultar a entrada e a permanência às
entidades referidas e a prestar-lhes a assistência necessária, nomeadamente
através da apresentação de documentação, livros ou registos solicitados, da
abertura de contentores e da garantia de acessibilidade a equipamentos.”
(n.º 2). E o n.º 3 acrescenta que, “no âmbito da ação inspetiva ou
fiscalizadora, o respetivo pessoal pode recolher informação sobre as
atividades inspecionadas, proceder a exames a quaisquer vestígios de
infrações, bem como a colheitas de amostras para exame laboratorial”.
Por seu turno, nos termos do art.º 91.º, n.º 4, do CE, “a designação do
perito envolve a autorização para este entrar no local onde se encontra o
bem, acompanhado de representantes da entidade expropriante, a fim de
proceder à vistoria ad perpetuam rei memoriam, se necessário com o
auxílio de força policial”. E, nos termos do n.º 3 deste artigo, encontrando-
se os bens a expropriar no interior do domicílio, a entidade expropriante
pode “solicitar ao presidente do tribunal da Relação do lugar do domicílio
do expropriado a nomeação de um perito com formação adequada, para
proceder à vistoria ad perpetuam rei memoriam”.
111.1. Em geral
211
A Lei n.º 50/2006, de 29 de agosto (última alteração dada pela Lei n.º 25/2019, de
26/03) – Lei Quadro das Contraordenações Ambientais.
212
A classificação das contraordenações em leves, graves e muito graves consta do art.º
21.º da Lei n.º 50/2006. A gravidade das contraordenações reflete-se no montante da
coima, como resulta do art.º 22.º deste diploma.
Página 229 de 404
O regime jurídico das contraordenações do ordenamento do território
e urbanismo prevê um conjunto de sanções acessórias (que é, em geral,
comum ao direito do ambiente). Nos termos do art.º 30.º da Lei n.º
50/2006, as principais sanções acessórias são:
a) Apreensão e perda a favor do Estado dos objetos apreendidos
usados ou produzidos aquando da infração;
b) Interdição do exercício de profissões ou atividades;
c) Privação do direito a benefícios ou subsídios;
d) Privação do direito de participar em conferências, feiras ou
mercados;
e) Privação do direito de participar em arrematações ou
concursos públicos;
f) Encerramento de estabelecimento;
g) Cessação ou suspensão de licenças, alvarás ou autorizações;
h) Perda de benefícios fiscais e de benefícios de crédito;
i) Selagem de equipamentos destinados à laboração;
j) Imposição das medidas adequadas à prevenção de danos
ambientais, à reposição da situação anterior à infração e à
minimização dos efeitos decorrentes da mesma;
l) Publicidade da condenação;
m) Apreensão de animais.
Nos termos do art.º art.º 30.º, n.º 1, al. d), da LQCA, pela prática de
contraordenações graves e muito graves pode ser aplicada ao infrator a
sanção acessória de “privação do direito de participar em conferências,
feiras ou mercados nacionais ou internacionais com intuito de transacionar
ou dar publicidade aos seus produtos ou às suas atividades”.
Nos termos do art.º art.º 30.º, n.º 1, al. e), da LQCA, pela prática de
contraordenações graves e muito graves pode ser aplicada ao infrator a
sanção acessória de “privação do direito de participar em arrematações
ou concursos públicos que tenham por objeto a empreitada ou concessão
de obras públicas, a aquisição de bens e serviços, a concessão de serviços
públicos e a atribuição de licenças ou alvarás”.
214
Decreto-Lei n.º 39/2018, de 11 de junho, que estabelece o regime da prevenção e
controlo das emissões de poluentes para o ar, e transpõe a Diretiva (UE) 2015/2193.
215
Lei n.º 27/96, de 1 de agosto, última versão de 2015 (Decreto-Lei n.º 214-G/2015).
Página 237 de 404
O Código Penal216 passou a prever, a partir de 2010, o crime de
violação de regras urbanísticas217, nos seguintes termos (art.º 382-A): “1.
O funcionário que informe ou decida favoravelmente processo de
licenciamento ou de autorização ou preste neste informação falsa sobre
as leis ou regulamentos aplicáveis, consciente da desconformidade da sua
conduta com as normas urbanísticas, é punido com pena de prisão até três
anos ou multa. 2 - Se o objeto da licença ou autorização incidir sobre via
pública, terreno da Reserva Ecológica Nacional, Reserva Agrícola
Nacional, bem do domínio público ou terreno especialmente protegido por
disposição legal, o agente é punido com pena de prisão até cinco anos ou
multa”.
Nos termos do art.º 100.º do RJUE, constitui crime de desobediência
“o desrespeito dos atos administrativos que determinem qualquer das
medidas de tutela da legalidade urbanística”. E constitui crime de
falsificação de documentos as falsas declarações ou informações prestadas
pelos responsáveis referidos nas alíneas e) e f) produzidas nos ‘termos de
responsabilidade’ ou no ‘livro de obra’. O crime de falsificação de
documentos está previsto no art.º 256.º do Código Penal.
Constitui crime de desobediência (art.º 348.º, n.º 1, al. b), do Código
Penal) a não identificação voluntária por parte do agente de
contraordenação a pedido das autoridades administrativas competentes
(art.º 47.º da LQCA; ver também o art.º 42.º, n.º 2, da mesma lei).
Também constitui crime de desobediência o prosseguimento dos
trabalhos embargados (art.º 133.º do RJIGT).
Em geral, configura crime de abuso de poder “o funcionário que, …,
abusar de poderes ou violar deveres inerentes às suas funções, com
216
Última alteração dada pela Lei n.º 58/2020, de 31 de agosto.
217
Cf. MATOS, Ricardo Jorge Bragança de: “O crime de violação de regras
urbanísticas por funcionário: uma perspectiva (necessariamente) dirigida ao direito do
urbanismo”, in Revista do Centro de Estudos Judiciários, 2013, I, pág. 89 a 114.
Página 238 de 404
intenção de obter, para si ou para terceiro, benefício ilegítimo ou causar
prejuízo a outra pessoa” (art.º 282.º do CP). O crime de abuso de poder é
punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa, “se pena mais
grave lhe não couber por força de outra disposição legal.”
CAPÍTULO XII
ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO
DIREITO DO AMBIENTE
218
“Mulieres intrent in el bano - Las mulieres intrent in balneum in die dominico, et dia
martes, et in die iouis: et barones intrent in aliis diebus.”
“Qui intrare in bano. - Toto homine qui intrauerit in balneum in die de las mulieres,
de sol a sol, pectet I morabitinum al concilio: et similiter faciant las mulieres. Et si el
banador homines miserit in balneo in die mulierum, pectet I morabitinum: Aut mulieres,
qui intrauerint in die barones, pectent II morabitinos al concilio. Nulus homo det
precium in balneo pro escudero: et homo qui non escudero leuet pro escudero hominem
de suo pane: Alcaldes et iudex et escriuano non leuet nisi uno escudero ad balneum, et
si magis leuarent, sit illis in periurium. Ille qui non habuerit escudero aut mancebo de
suo pane, trez leuent I qui eos laue et sit excusatus. Iste est precium de balneo: de IIII
Página 240 de 404
Os Costumes e Foros de Santarém219 determinavam, por exemplo, que
o dano causado em árvore fosse compensado, entregando-se ao prejudicado
árvore igual, ou o direito à colheita dos seus frutos, que o causador
possuísse na sua fazenda.
Nos Cadernos de Posturas Antigas de Évora, de FRANCISCO
CABRAL DE ALMADA, datados de 1662, escrivão daquela Câmara220,
encontramos alguns dos costumes mais antigos da vida concelhia
portuguesa, idênticos aos de muitos outros concelhos do nosso país221:
“ ... que nom façam esterqueyra no corpo da villa ...”;
“ ... que nas praças ou ruas publicas nom lancem testeiras de lixo ou
dagua ...”;
“ ... qualquer tripeira ou pescadeira que verter caldo ou aagua do
pescado na praça da porta de Alconchel honde vendem o dito pescado na
praça que pague ... “;
“ ... que nom lancem esterquo na villa ... e esto se estenda ao que
lançar em gamella ou em jueyra ou em outra cousa semelhavel pequenha e
nom em carrega ... salvo se lançarem em as esterqueiras dos farregeas ou
ortas ...”;
solidos usque ad VI una puiesa, et de VI solidos usque ad XII una meala, et de XII
solidos usque ad VIIII dies non se mortificient. Et deinde a denat mortificient se. Et
balneator non sit escusatus”. Em Castelo Bom os costumes consideravam ladrão aquele
que vagueasse de noite pela vil/a: “Totus homo qui de noste ambulauerit per uiliam
postquam cimbalum cessauerit et non dixerit unde uenit uel ubi uadit et per binos
homines non probauerint pro bono faciant ei quasi ad latronem”. Nos mesmos
costumes e foros encontra-se estabelecido o regulamento do trabalho dos mesteirais e a
responsabilidade destes pela boa execução da obra: laboraren et mala la faiieren
faciant illam altera uice sine precio, sin autetn pectet I morabitinum a domino laboris
aut iuret quod non sabe melior labore facer” (P.M.H. vol. II, Leges, p. 745 ss). Cf.
Sousa, António Francisco de, Direito administrativo das autarquias locais, 3.ª ed.,
1993, p. 33 e segs.
219
Os Costumes e foros de Santarém compreendem foram alargados a três localidades alentejanas com
estatuto municipal a partir do último quartel do século XIII: Alvito (foral de 1280); Oriola (foral de
1282); e Borba (foral de 1302), (e houve ainda uma versão de Beja.
220
Cit. por GABRIEL PEREIRA, Doc. Hist. de Évora, L.XXIX (cit. por Sousa,
António Francisco de, Direito administrativo das autarquias locais, 1993, p. 41.
221
Cadernos de Posturas Antigas de Évora, p. 130 e segs.
Página 241 de 404
“...que os moradores as suas portas mandem varrer cada oyto dias ...
e que lancem os lixos ao pé do muro”;222.
“... que nom lancem agua nem lixo de janela que seja em cima de
casa em rua publica sem primeyramente dizendo trez vezes augua vay, e
qualquer que a lançar e nom disser trez vezes que paga 60 soldos ao
rendeiro”223.
Costumes idênticos perduraram na cidade de Lisboa até finais do séc.
XIX e, em certos casos, até um passado recente em certas aldeias do
interior do país.
No domínio da polícia das construções, as Ordenações Manuelinas224
permitiam ao proprietário “encoimar225 aqueles que devassarem o seu
prédio produzindo danos diretamente pelas suas próprias pessoas, ou com
animais por culpa ou negligencia”. Aos almotacés continuava a pertencer a
principal responsabilidade pela fiscalização das construções: “Item os ditos
almotacés conheceram de todas as demandas, que se fazem sobre o fazer, e
o nam fazer de paredes de casas, ou quintaes, e assim de portaes, janelas,
frestas, ou eirados, ou tomar ou nam tomar d'águoas de casas, ou sobre
meter traves ou qualquer outra madeira nas paredes, ou sobre estercos e
çujidades, ou águoas, que se lançam como não devem, e sobre canos, e
222
Cadernos de Posturas Antigas de Évora, p. 133.
223
Cadernos de Posturas Antigas de Évora, p. 134.
224
As Ordenações Manuelinas compreendem três sistemas de compilações, em cinco
livros, que abarcam toda legislação portuguesa: de 1512-1513; de 1516 a 1520; de 1521.
Trata-se da primeira grande coletânea de legislação do Portugal Quinhentista. As
Ordenações Manuelinas vigoraram de 1512-1513 até 1603.
225
O poder de encoimar não era exclusivo dos almotacés. Também o podiam fazer os
procuradores, juízes, rendeiros (executores materiais das coimas) e jurados.
Inclusivamente qualquer pessoa, por si ou por seus criados, caseiros ou mordomo, podia
encoimar quando encontrasse gados alheios danificando a sua propriedade. Porém, a
execução deveria, nestes casos ser feita na presença de uma testemunha. O produto das
coimas e posturas destinou-se tradicionalmente a três fins: para o acusador, para o
Concelho e para a real tença. Esta, que substituíra a antiga anuduva a que estavam
obrigados os habitantes dos Concelhos, destinava-se à construção, fortificação e
reparação dos castelos, tendo sido muitas vezes desviada para outros fins (cf. Alvará de
18.1.1613).
Página 242 de 404
enxurros e sobre fazer de calçadas, e ruas”226. O almotacé podia embargar
as obras que considerasse ilegais - a pedido dos interessados - e impor a
respetiva pena227. Era proibido, na sequência do direito anterior, construir
nas ruas escadas, ramadas, alpendres “e tudo o mais que pudesse
embaraçar o trânsito”, sob pena de demolição da obra por ordem do
almotacé228.
Com D. Sebastião procedeu-se a nova forma de designação dos
magistrados municipais em Lisboa, que passaram a ser escolhidos de entre
as pessoas mais instruídas e de categoria mais elevada. O presidente,
fidalgo principal, era assistido por três vereadores, nomeados
entre os desembargadores “de idade conveniente e experimentados na
arte do governo”. A Câmara contava ainda com dois procuradores da
cidade e quatro representantes dos mesteres. A grande dimensão de
Lisboa, como capital de um grande império, levou a que o número de
vereadores letrados passasse, pouco tempo volvido, para quatro e logo
depois para seis229. A cada vereador letrado foi confiado um pelouro para
que “dividindo entre si as obrigações da governança da cidade, mais
facilmente e com menos trabalho com as suas pessoas, possam acudir a
ellas, sem as commetterem a outros Ministros inferiores, senão em casos
em que forçosamente não possa ser outra causa”230. Foram criados os
seguintes pelouros: Saúde, Limpeza, Obras, Carnes, Terreiro do Trigo e
Almotaçaria.
Ao Vereador das Obras competia fiscalizar as obras, providenciar
sobre o pavimento das ruas, sua conservação e reparação. Inspecionava
o fabrico e venda do tijolo, da telha, da cal e outros materiais de
226
Cf. Ordenações Manuelinas, L.I.T., 46, § 24.
227
Cf. Ordenações Manuelinas, L.I.T., 46, § 25.
228
Cf. Ordenações Manuelinas, L.I.T., 49, § 33.
229
Alvará de Filipe I, de 30.7.1591.
230
Sistema ou Colecção de Regimentos Riais, T. IV, p. 124.
Página 243 de 404
construção. Percorria todos os meses a cidade, por bairros, para verificar
a segurança dos edifícios e obrigar os respetivos proprietários às obras e
reparações que julgasse convenientes. Nesta atividade era coadjuvado
pelo Vedor das obras, pelo seu escrivão e pelo mestre de obras231.
Ao Vereador da Limpeza competia inspecionar os bairros da cidade,
todos os dias em que não houvesse reunião da Câmara (devia percorrer
toda a cidade num mês).
Algumas medidas adotadas pela Câmara de Viseu, ao
longo do séc. XVI, constantes das atas das respetivas reuniões, são
elucidativas da cultura municipal daquela época:
- Obrigação de cada morador mandar calcetar a rua na sua testada
(ata de 1538);
- Intimação ao dono de uma casa, na rua da Cadeia, para que retirasse,
dentro de 15 dias, o velho balcão por onde se entrava e parecia muito
mal, podendo até ocasionar perigo a quem passasse, sob pena de dez
cruzados, tendo os vereadores verificado pessoalmente que todas as
casas da mesma rua “estavam a cordel”, menos aquela (ata da
reunião de 4 de maio de 1534);
- Todo aquele que, por si ou por seus pastores e gado, causasse dano
nas searas alheias, incorreria em diversas penas (postura de 1535);
232
As Ordenações Filipinas resultaram do aperfeiçoamento das Ordenações Manuelinas
ordenada por Filipe II e vigoraram de 1603 até 1867, altura em que foram revogadas
pelo Código Civil de 1867.
233
Ordenações Filipinas, L.I.T. 69 §§ 18 a 21.
234
Ordenações Filipinas, L.I.T. 68 §§ 22 e 23.
Página 245 de 404
tradicionalmente da competência da Câmara. Neste domínio, as
Ordenações Filipinas determinavam que os almotacés conhecessem “das
demandas, que se fizerem sobre o fazer, ou não fazer de paredes de casas,
de quintaes, portaes, janelas, frestas e eirados, ou tomar, ou não tomar de
agoas de casas, ou sobre metter traves, ou qualquer outra modeira nas
paredes, ou sobre stercos e immundicias, ou agoas, que se lancáo, como
náõ devem, e sobre canos e enxurros, e sobre de fazer de calçadas e
ruas”235. Ainda no domínio do direito das edificações e no que respeita às
relações com o prédio contíguo, previam as Ordenações Filipinas236 o
princípio da liberdade do dono do prédio para fazer as obras que
entendesse. No entanto, não podia abrir janelas, frestas, eirados com
peitoril sobre casa ou quintal vizinho de modo a “devassa-los”. Estas obras
só podiam ser feitas para entrar luz, mas se o dono do prédio vizinho
elevasse a sua casa de modo a impedir a entrada da luz, aquele não podia
invocar a prescrição.
Algumas das atribuições do Concelho previstas pelo art.º 82.º do
C. A. de 1836 eram as seguintes:
“§ 13 - Promover a limpeza das ruas, praças, caes, boqueirões,
canos, e despejos públicos não consentindo que se deturpem as ruas,
nem que se conservem nelas objectos que estorvem o livre trânsito.
§ 14 - Formar regulamentos para a boa ordem e polícia no embarque
e desembarque de pessoas e géneros nos caes; bem como para os
vendilhões e adelos estacionados em praças, ou que andam avulsos
pelas ruas. -
§ 15 - Vigiar que nas janelas, telhados, varandas, etc. se não loquem
vasos ou outros quaisquer objectos que possam despenhar-se e
maltratar os que transitam pelas ruas.
235
Ordenações Filipinas, L.I.T. 68, § 22.
236
L.I.T. 68, § 24.
Página 246 de 404
§ 16 - Proibir a divagação avulsa de animais imundos e daninhos,
OU aves domésticas pelas ruas, que possam ser nocivos a saúde
pública, ou à conservação das calçadas e aceio delas.
§ 17 - Inibir o estabelecimento, dentro das povoações, de fabricas
cujas manufacturas produzam maus cheiros e inficionem o ar com
risco da saúde dos moradores; e bem assim a venda de pólvora e a
fabricação de fogos de artificio sujeita a explosões e incêndios.
§ 18 - Publicar regulamentos relativos ao depósito e guarda de
combustíveis para o consumo dos habitantes; bem como para a
limpeza de chaminés e fornos, a fim de se evitarem incêndios.
§ 19 - Mandar demolir edifícios particulares que pelo seu estado
de ruína ameacem desastre, ou se tornem prejudiciais às propriedades
vizinhas, precedendo vistoria que prove a necessidade da demolição”.
237
Cit. por Sousa, António Francisco de, Direito administrativo das autarquias locais,
1993, 59.
238
De assinalar que, a partir dos anos trinta do séc. XIX começam a surgir nos
Concelhos portugueses os “Códigos de posturas”, os quais se multiplicaram
enormemente sobretudo na segunda metade do séc. XIX. A sua sistematização variava
de concelho para concelho. Vejamos, a título ilustrativo, dois casos que nos parecem
bem conseguidos:
Página 247 de 404
“I - para regular a boa ordem e policia no embarque e desembarque
de pessoas e géneros nos cais. A Câmara não pode intrometer-se, por
maneira alguma, na polícia e navegação dos portos e dos rios;
II - para regular a policia dos vendilhões e adelos ou sejam ambulantes ou
tenham lugares fixos;
239
Filósofo alemão (1903-1984), discípulo de HUSSERL, HEIDEGGER e
BULTMANN.
240
Das Prinzip Verantwortung: Versuch einer Ethik für die technologische Zivilisation,
Frankfurt 1979 (versão inglesa The Imperative of Responsibility, In Search of an Ethics
for the Technological Age, Chicago de 1984)
Página 250 de 404
criar uma ética de responsabilidade para com o meio ambiente”. O poder
deve submeter a vontade ao dever, deslocando a responsabilidade para o
centro da moral. O futuro da humanidade é inseparável do futuro da
natureza, que é sua condição sine qua non. Combateu-se a ideia, que vem
de René DESCARTES (no seu Discurso do Método), de que, pelo
conhecimento, o ser humano se torna senhor e possuidor da natureza. Por
isso, HANS JONAS, pela reponderação dos princípios éticos, procurou não
apenas o bem do ser humano, mas também o bem da natureza, uma
preocupação que vai para além do ser humano: o bem do ser humano
pressupõe o bem da natureza.
CAPÍTULO XIII
FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL, DA UNIÃO EUROPEIA
E DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DO
DIREITO DO AMBIENTE
241
O verbo poluir, vem do latim polluere, que significa sujar, manchar, corromper.
242
In: “Constituição universal como cultura prolegómenos para um tribunal
constitucional internacional para a democracia na sociedade da informação”, 2018, in:
www.hotto os.com convenit29 index.htlïY
Página 251 de 404
117. Fundamento constitucional do direito do ambiente
243
A poluição é um dano a prevenir. Prevenir a poluição é, assim, por natureza, uma
atividade policial. O termo “poluição” (que configura um dano ambiental) corresponde
a uma alteração indesejável (“alteração adversa”) das características (físicas, químicas
e biológicas) dos componentes ambientais, especialmente do ar, do solo e da água, de
natureza a afetar relevantemente a vida humana e/ou de outros seres vivos ou espécies,
bem como as condições de vida e o património cultural. A poluição pode ser de vários
tipos: atmosférica, hídrica, do solo, sonora e visual. À polícia (lato sensu: administrativa
e forças de segurança) compete, em geral, prevenir o perigo de poluição. A poluição
pode resultar da ação humana (atividades antrópicas), mas também pode resultar de
processos naturais que ocorrem no meio ambiental, como sismos, cheias e inundações,
erupções vulcânicas, e outras catástrofes naturais.
244
Também o art.º 90.º da CRP impõe a promoção da defesa do ambiente e da
qualidade de vida do povo português.
Página 254 de 404
desenvolvimento sustentável da Europa, assente num crescimento
económico equilibrado e (…) num elevado nível de proteção e de
melhoramento da qualidade do ambiente”.
Numa perspetiva de orientação da União para o exterior, o art.º 21.º,
n.º 2, al. f), do TUE, determina que a União deve “contribuir para o
desenvolvimento de medidas internacionais para preservar e melhorar
a qualidade do ambiente e a gestão sustentável dos recursos naturais à
escala mundial, a fim de assegurar um desenvolvimento sustentável”.
Também o Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia
(TFUE) determina, no seu art.º 11.º, que “as exigências em matéria de
proteção do ambiente devem ser integradas na definição e execução
das políticas e ações da União, em especial com o objetivo de promover
um desenvolvimento sustentável”. Por outro lado, o art.º 114.º, n.º 3, do
TFUE, determina que “a Comissão, nas suas propostas previstas no n.º 1
em matéria de saúde, de segurança, de proteção do ambiente e de defesa
dos consumidores, basear-se-á num nível de proteção elevado. E, no
Título XX do mesmo diploma, dedicado ao “Ambiente”, o art.º 191.º, n.º
1, determina que “a política da União no domínio do ambiente
contribuirá para a prossecução dos seguintes objetivos: - a
preservação, a proteção e a melhoria da qualidade do ambiente, - a
proteção da saúde das pessoas, - a utilização prudente e racional dos
recursos naturais, - a promoção, no plano internacional, de medidas
destinadas a enfrentar os problemas regionais ou mundiais do
ambiente, e designadamente a combater as alterações climáticas.” E,
acrescenta, no seu n.º 2: “a política da União no domínio do ambiente terá
por objetivo atingir um nível de proteção elevado, tendo em conta a
diversidade das situações existentes nas diferentes regiões da União.
119.1. Em geral
247
A mitigação ou minimização de todas as formas de poluição constitui um princípio
jurídico-ambiental que obriga a Administração a assegurar os mínimos previstos na lei
e, além disso, a menor poluição possível no caso concreto. A mitigação ou minimização
da poluição ambiental obriga permanentemente ao mínimo indispensável, sem que seja
ultrapassado o mínimo legal.
248
Nas Cimeiras internacionais do ambiente, destacam-se: Conferência de Estocolmo
(1972); Conferência de Belgrado (1975); Conferência de Tbilisi na Geórgia (1977);
Protocolo de Montreal (1987); Eco-92 (Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento - Rio do Janeiro – 1992, com 178 países); Protocolo de
Kyoto (1997); Conferência de Joanesburgo (2002) - (Rio+10); Rio+20 (Conferência das
Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável - 2012); Acordo de Paris (2015).
Página 257 de 404
Europeias). O direito do ambiente surge então na sua autêntica dimensão, a
dimensão universal249.
O direito do ambiente é, por natureza, um direito transversal a todo o
Planeta e a toda a Humanidade. Conscientes disso, surgiram nas últimas
décadas múltiplos diplomas legislativos com vista à regulação universal
da proteção do ambiente e do combate à poluição ambiental,
especialmente através de convenções internacionais. Surgiram também
diversas outras iniciativas importantes, como a criação de organismos e a
organização de cimeiras.
A nível interno português, destacam-se as Organizações Não-
Governamentais de Ambiente (ONGAs), reguladas pela Lei n.º 35/98
(última alteração dada pela Lei n.º 82-D/2014, de 31/12).
No plano da regulação normativa internacional, são muitas as
Convenções e Acordos alcançados pela comunidade internacional, das
quais se destacam os seguintes:
- Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações
Climáticas (Rio de Janeiro, 1992: Eco-92);
- Convenção sobre Diversidade Biológica (Convenção da
Biodiversidade – 1992; ratificada por Portugal pelo DL n.º 21/93 -
entrou em vigor em Portugal 1994);
- Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação
(negociada durante a Eco-92, entrou em vigor em 1994).
249
O tratamento científico do direito internacional do ambiente é uma realidade
relativamente recente. Destacam-se autores como MAURICE SUNKIN / DAVID
ONG/ROBERT WIGHT, Sourcebook on Environmental Law (2.ª ed., Londres, 2002,
BODANSKY / JUTTA BRUNNÉE / ELLEN HEY (org.), The Oxford Handbook of
International Environmental Law, Oxford, 2007, PHILIPPE SANDS, Principles of
International Environmental Law, 2.ª ed., Cambridge, 2003.
Página 258 de 404
urgente de travar o aumento da temperatura média global e resolver,
com determinação, os desafios ligados às alterações climáticas. “O Acordo
de Paris visa alcançar a descarbonização das economias mundiais e
estabelece como um dos seus objetivos de longo prazo limitar o aumento
da temperatura média global a níveis bem abaixo dos dois graus
centígrados e prosseguir esforços para limitar o aumento da temperatura a
1,5º C, reconhecendo que isso reduzirá significativamente os riscos e
impactos das alterações climáticas”.
250
Já em 1956 o Parlamento da Grã-Bretanha emitiu o Clean Air Act (“Lei do Ar
Limpo”), que se manteve em vigor até 1964. A “Lei do Ar Limpo” surgiu como
resposta à consciencialização da necessidade de manter o ar limpo surgida na sequência
da grande poluição do ar de 1952. Esta Lei criou “zonas sem fumo” e sobretudo “zonas
de emissão atmosférica limitada”, nomeadamente de dióxido de enxofre.
Página 259 de 404
estar, e fica solenemente obrigado a proteger e melhorar o meio
ambiente, para as gerações presentes e futuras (...)”;
PRINCÍPIO 6: “As descargas de substâncias tóxicas ou de outras
substâncias e a libertação de calor, em quantidades ou concentrações tais
que não possam ser neutralizadas pelo meio ambiente, devem ser travadas
para se evitarem danos graves e irreparáveis aos ecossistemas”;
PRINCÍPIO 21: “O direito dos Estados de explorar os seus recursos,
desde que não causem danos ao ambiente de outros Estados”;
PRINCÍPIO 24: Cooperação internacional “para controlar, prevenir,
reduzir e eliminar de forma eficaz os efeitos ambientais adversos
resultantes de atividades realizadas em todas as esferas, tendo em conta a
soberania e os interesses de todos os Estados”.
Neste Programa das Nações Unidas para o Ambiente - UNEP
foram ainda cunhadas noções que se vieram a tornar fundamentais no
direito do ambiente, como por exemplo, “dano ecológico”251, “estudo de
impacte ambiental” e “reposição da situação anterior à infração”.
251
Em 2004, a União Europeia emitiu a Diretiva n.º 2004/35/CE, que se orienta
especificamente para a prevenção e combate ao dano ecológico.
Página 260 de 404
políticas ambientais e de desenvolvimento, e a responsabilidade de
assegurar que as atividades que estão sob o seu controlo não causam danos
no ambiente de outros Estados ou em áreas para além da jurisdição
nacional”;
PRINCÍPIO 7: “os Estados devem cooperar num espírito de parceria
global para conservar, proteger e restaurar a saúde e a integridade do
ecossistema da Terra. Tendo em conta as diferentes contribuições para a
degradação ambiental global, os Estados têm responsabilidades comuns,
mas diferenciadas (...)”;
PRINCÍPIO 16 (princípio do poluidor-pagador)252: “as autoridades
nacionais devem procurar promover a internalização dos custos ambientais
e o uso de instrumentos económicos, levando em conta a abordagem de que
o poluidor deve, em princípio, arcar com os custos da poluição, tendo em
devida conta os interesses públicos e sem distorcer o comércio
internacional e o investimento”;
PRINCÍPIO 26: “os Estados devem resolver todas as suas disputas
ambientais de forma pacífica e através dos meios apropriados de acordo
com a Carta das Nações Unidas”;
PRINCÍPIO 27: “os Estados e as pessoas devem cooperar de boa fé e
num espírito de parceria para o cumprimento dos princípios constantes
nesta Declaração e no desenvolvimento do Direito Internacional no campo
do desenvolvimento sustentável”.
252
O princípio do poluidor-pagador surgiu primeiramente na Conferência de Estocolmo,
tendo passado, posteriormente, para a Conferência Rio. Na UE, o princípio do poluidor-
pagador está previsto na Diretiva 2004/35/CE, relativa à responsabilidade ambiental, em
termos de prevenção de danos ambientais. O princípio do poluidor-pagador é
simultaneamente um princípio de justiça material e um princípio de prevenção da
poluição: quem polui paga; punindo-se o poluidor, previne-se a poluição. Também o
princípio do utilizador pagador é um princípio de justiça material ao impor o pagamento
àquele que colhe os benefícios da utilização dos bens, princípio que também tem um
efeito preventivo.
Página 261 de 404
Neste percurso evolutivo, destaca-se ainda o Protocolo de Nagoya, de
2010, no âmbito da Convenção Sobre a Diversidade Biológica.
253
Esta lei revogou a primeira lei portuguesa do ambiente, a Lei n.º 11, 87, de 7 de
abril.
Página 262 de 404
- Regime jurídico da conservação da natureza e da biodiversidade
(RJCNB - aprovado pelo DL n.º 142/2008, de 24 de julho, última
alteração dada pelo - DL n.º 42-A/2016, de 12/08).
- Prevenção e controlo das emissões de poluentes para o ar (PCEPA)-
Decreto-Lei n.º 39/2018, de 11 de junho.
- Regime Geral da Gestão de Resíduos (RGGR - DL n.º 178/2006, de 5
de setembro, última alteração: Lei n.º 75-B/2020, de 31/12).
CAPÍTULO XIV
DIREITO DO AMBIENTE EM GERAL
121. Em geral
254
Sobre o “princípio da solidariedade intergeracional”, cf. também o art.º 8.º do regime
jurídico dos instrumentos de gestão territorial, que impõe a “harmonização dos vários
interesses públicos com expressão territorial”. Cf. art.º 12.º, n.º 2, do mesmo diploma e o
art.º 10.º, al. c), da Lei de Bases do Ambiente.
255
1. Ac. do TJUE (10.ª Sec., de 28.3.2019: Princípio da Precaução. “1) O anexo III
da Diretiva 2008/98/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 19 de novembro de
2008, relativa aos resíduos e que revoga certas diretivas, conforme alterada pelo
Regulamento (UE) n.° 1357/2014 da Comissão, de 18 de dezembro de 2014, bem como
do anexo, rubrica intitulada «Avaliação e classificação», n.° 2, da Decisão 2000/532/CE
da Comissão, de 3 de maio de 2000, que substitui a Decisão 94/3/CE, que estabelece
uma lista de resíduos em conformidade com a alínea a) do artigo 1.° da Diretiva
75/442/CEE do Conselho relativa aos resíduos, e a Decisão 94/904/CE do Conselho,
que estabelece uma lista de resíduos perigosos em conformidade com n.° 4 do artigo 1.°
da Diretiva 91/689/CEE do Conselho relativa aos resíduos perigosos, conforme alterada
pela Decisão 2014/955/UE da Comissão, de 18 de dezembro de 2014, devem ser
interpretados no sentido de que o detentor de um resíduo suscetível de ser classificado
mediante códigos espelho, mas cuja composição não é desde logo conhecida, deve, com
vista a esta classificação, determinar a referida composição e procurar as substâncias
perigosas que nele podem razoavelmente ser encontradas para estabelecer se esse
resíduo apresenta características de perigosidade, e pode, para o efeito, utilizar a
amostragem, as análises químicas e os ensaios previstos no Regulamento (CE) n.°
440/2008 da Comissão, de 30 de maio de 2008, que estabelece métodos de ensaio nos
termos do Regulamento (CE) n.° 1907/2006, do Parlamento Europeu e do Conselho,
relativo ao registo, avaliação, autorização e restrição dos produtos químicos (REACH),
ou qualquer outra amostragem, análise química e ensaio internacionalmente
reconhecidos. 2) O princípio da precaução deve ser interpretado no sentido de que
quando, após uma avaliação dos riscos tão completa quanto possível tendo em conta as
circunstâncias particulares do caso concreto, o detentor de um resíduo suscetível de ser
classificado quer em códigos correspondentes a resíduos perigosos, quer em códigos
correspondentes a resíduos não perigosos, está na impossibilidade prática de
determinar a presença de substâncias perigosas ou de avaliar as características de
perigosidade apresentadas pelo referido resíduo, devendo este último ser
classificado como resíduo perigoso.”
Página 265 de 404
prioritariamente na fonte, os impactes adversos no ambiente, com origem
natural ou humana, tanto em face de perigos imediatos e concretos, como
em face de riscos futuros e incertos, da mesma maneira como podem
estabelecer, em caso de incerteza científica, que o ónus da prova recaia
sobre a parte que alegue a ausência de perigos ou riscos256;
d) Do poluidor-pagador, que obriga o responsável pela poluição a
assumir os custos, tanto da atividade poluente, como da introdução de
medidas internas de prevenção e controle necessárias para combater as
ameaças e agressões ao ambiente257;
e) Do utilizador-pagador, que obriga o utente de serviços públicos a
suportar os custos da utilização dos recursos, assim como da recuperação
proporcional dos custos associados à sua disponibilização, visando a
respetiva utilização racional;
f) Da responsabilidade, que obriga à responsabilização de todos os
que, direta ou indiretamente, com dolo ou negligência, provoquem ameaças
ou danos ao ambiente, cabendo ao Estado a aplicação das sanções devidas,
não estando excluída a possibilidade de indemnização nos termos da lei;
g) Da recuperação, que obriga o causador do dano ambiental à
restauração do estado do ambiente tal como se encontrava anteriormente à
ocorrência do facto danoso”.
256
Quando, nesta al. c), se fala em “perigos imediatos e concretos como em face de
riscos futuros e incertos” e em “perigos ou riscos” estamos no âmbito de competências
jurídico-policiais, de poder vinculado e não discricionário.
257
O princípio do poluidor-pagador aplica-se também, numa dimensão internacional,
aos países que, por força de uma maior e mais prolongada industrialização, mais
poluíram. É justo que assim seja, pois foram eles que mais beneficiaram com a sua
industrialização e respetivos efeitos nocivos para o ambiente. Estes países têm, assim,
maior responsabilidade na resolução dos problemas ambientais que eles próprios
causaram.
Página 266 de 404
Princípio da transversalidade e da integração258, “que obrigam à
integração das exigências de proteção do ambiente na definição e execução
das demais políticas globais e sectoriais, de modo a promover o
desenvolvimento sustentável; Princípio da cooperação internacional, que
obriga à procura de soluções concertadas com outros países e organizações
internacionais no sentido da promoção do ambiente e do desenvolvimento
sustentável; Princípio do conhecimento e da ciência, que obrigam a que o
diagnóstico e as soluções dos problemas ambientais devam resultar da
convergência dos saberes sociais com os conhecimentos científicos e
tecnológicos, tendo por base dados rigorosos, emanados de fontes
fidedignas e isentas; Princípio da educação ambiental259, que obriga a
políticas pedagógicas viradas para a tomada de consciência ambiental,
apostando na educação para o desenvolvimento sustentável e dotando os
cidadãos de competências ambientais num processo contínuo, que promove
a cidadania participativa e apela à responsabilização, designadamente
através do voluntariado e do mecenato ambiental, tendo em vista a
proteção e a melhoria do ambiente em toda a sua dimensão humana;
Princípio da informação e da participação, que obrigam ao
envolvimento dos cidadãos nas políticas ambientais, privilegiando a
divulgação e a partilha de dados e estudos, a adoção de ações de
monitorização das políticas, o fomento de uma cultura de transparência e
258
Nos termos do art.º 13.º da LBA, “1 - A transversalidade da política de ambiente
impõe a sua consideração em todos os sectores da vida económica, social e cultural, e
obriga à sua articulação e integração com as demais políticas sectoriais, visando a
promoção de relações de coerência e de complementaridade. 2 - No sentido de
promover e acautelar os princípios e objetivos da política de ambiente, os bens
ambientais devem ser ponderados com outros bens e valores, incluindo os intangíveis e
os estéticos, de forma a assegurar a respetiva interdependência, num exercício de
compatibilização que inclua uma avaliação de cenários alternativos, promovendo a
realização do interesse público no longo prazo.”
259
A educação ambiental referida na al. b d), acentua o caráter cultural do direito do
ambiente. O respeito pela natureza e pelo ambiente são valências que devem fazer parte
da formação escolar.
Página 267 de 404
de responsabilidade, na busca de um elevado grau de respeito dos valores
ambientais pela comunidade, ao mesmo tempo que assegura aos cidadãos o
direito pleno de intervir na elaboração e no acompanhamento da aplicação
das políticas ambientais” (art.º 4.º da LBA).
260
Nos termos dos art.º 2.º, n.º 1, do CPTAF, “o princípio da tutela jurisdicional
efetiva compreende o direito de obter, em prazo razoável, e mediante um processo
equitativo, uma decisão judicial que aprecie, com força de caso julgado, cada pretensão
regularmente deduzida em juízo, bem como a possibilidade de a fazer executar e de
obter as providências cautelares, antecipatórias ou conservatórias, destinadas a
assegurar o efeito útil da decisão.” Nos termos do art.º 9.º , n.º 2, do CPTAF, têm
legitimidade ativa “independentemente de ter interesse pessoal na demanda, qualquer
pessoa, bem como as associações e fundações defensoras dos interesses em causa, as
autarquias locais e o Ministério Público têm legitimidade para propor e intervir, nos
termos previstos na lei, em processos principais e cautelares destinados à defesa de
valores e bens constitucionalmente protegidos, como a saúde pública, o ambiente o
urbanismo o ordenamento do território a qualidade de vida o património cultural
e os bens do Estado, das Regiões Autónomas e das autarquias locais, assim como para
promover a execução das correspondentes decisões jurisdicionais.”
Página 269 de 404
125. Interação entre os componentes ambientais naturais e
humanos
261
A Encíclica Laudato Si - Sobre o Cuidado da Casa Comum, de 24.5.2015, do Papa
Francisco, invoca o cântico de São Francisco de Assis Laudato S´, mí Signore (Louvado
sejas, meu Senhor: in: Cantico delle creature: Fonti Francescane, 263), compara a
nossa casa comum a uma irmã, com quem partilhamos a existência, a uma boa mãe, que
nos acolhe nos seus braços. Diz o cântico: “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa
irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores
coloridas e verduras”. E a Encíclica explica: “Esta irmã clama contra o mal que lhe
provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou.
Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-
la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos
sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso,
entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e
devastada, que «geme e sofre as dores do parto» (Rm 8, 22). Esquecemo-nos de que nós
mesmos somos terra (cf. Gn 2, 7). Esta Encíclica, cuja leitura recomendamos mesmo
aos não crentes, termina com uma oração onde se lê: “Senhor Deus, …, ensinai-nos a
contemplar-Vos na beleza do universo, onde tudo nos fala de Vós”. Os não crentes em
Deus podem substituir “Deus” por “Mãe Natureza”, pois a beleza desta deve ser
contemplada e respeitada por todos. Cada organismo é, em si mesmo, bom e admirável,
enquanto criação da Natureza.
Página 270 de 404
equilíbrio ecológico dos recursos, seu aproveitamento e reutilização e
considerando o valor social, ambiental e económico da água, procurando,
ainda, mitigar os efeitos das cheias e das secas através do planeamento e
da gestão dos recursos hídricos e hidrogeológicos. A proteção e a gestão
dos recursos hídricos visam também salvaguardar o direito humano,
consagrado pelas Nações Unidas, de acesso a água potável segura, bem
como o acesso universal ao saneamento, fundamental para a dignidade
humana e um dos principais mecanismos de proteção da qualidade dos
recursos hídricos, assegurando ainda o princípio da solidariedade
intergeracional; c) A política para o meio marinho, abrangendo a coluna
de água, o solo e o subsolo marinho, deve assegurar a sua gestão integrada,
em estreita articulação com a gestão da zona costeira, garantindo a
proteção dos recursos e ecossistemas marinhos, o que implica o
condicionamento dos usos do mar suscetíveis de afetarem de forma nociva
o equilíbrio ecológico ou que impliquem risco ou dano grave para o
ambiente, pessoas e bens; d) A conservação da natureza e da
biodiversidade como dimensão fundamental do desenvolvimento
sustentável impõe a adoção das medidas necessárias para travar a perda da
biodiversidade, através da preservação dos habitats naturais e da fauna e da
flora no conjunto do território nacional, a proteção de zonas vulneráveis,
bem como através da rede fundamental de áreas protegidas, de importância
estratégica neste domínio; e) A gestão do solo e do subsolo impõe a
preservação da sua capacidade de uso, por forma a desempenhar as
respetivas funções ambientais, biológicas, económicas, sociais, científicas
e culturais, mediante a adoção de medidas que limitem ou que reduzam o
impacte das atividades antrópicas nos solos, que previnam a sua
contaminação e degradação e que promovam a sua recuperação, bem como
que combatam e, se possível, invertam os processos de desertificação,
promovendo a qualidade de vida e o desenvolvimento rural; f) A
263
A “perigosidade” dos resíduos situa-se no âmbito das matérias jurídico-policiais,
cuja apreciação é um poder vinculado e não discricionário. A “A avaliação e gestão do
risco” referida na al. c) faz-se no exercício de poderes vinculados e não discricionários.
Página 273 de 404
Os deveres de informação ambiental recaem tanto sobre as
entidades públicas, como sobre as entidades privadas. Também os
particulares têm amplos deveres neste domínio.
As autoridades do ambiente devem promover e incentivar a
disponibilização de meios necessários para a recolha dos dados, por
entidades públicas e privadas que produzam ou detenham informações
relevantes. Devem também promover e incentivar um tratamento de dados
apropriado ao estudo, ao apoio à decisão e à fiscalização ambientais. As
autoridades públicas e privadas devem disponibilizar gratuitamente ao
público os principais dados em matéria ambiental. Sendo necessário um
tratamento significativo dos dados a disponibilizar, podem ser cobradas
taxas. Em geral, a informação ambiental deve ser “amplamente divulgada e
disponibilizada ao público”, de forma acessível.
Os instrumentos de gestão da política do ambiente e do
desenvolvimento sustentável são as estratégias, os programas e os
planos, que podem ser de âmbito nacional, regional, local, geral ou
sectorial. Os instrumentos de gestão de âmbito nacional são aprovados por
diploma legal. Especialmente os planos “fixam orientações, objetivos,
medidas e ações, metas e indicadores e determinam as entidades
responsáveis pela sua execução e os financiamentos adequados” (art.º 16.º,
n.º 1, da LBA).
Os instrumentos de gestão da política do ambiente devem “incluir
uma análise económica, refletir os contributos decorrentes de um período
de consulta pública e incluir mecanismos de avaliação da respetiva
aplicação” (art.º 16.º, n.º 2, da LBA).
Em geral, os instrumentos de gestão são criados e revistos com a
participação pública, desde o início do respetivo procedimento.
Os instrumentos económicos e financeiros da política de ambiente
são criados “de forma equilibrada e sustentável”, e visam “a promoção do
264
Seja aqui recordado o ponto 182 da Encíclica papal Laudato Si - Sobre o Cuidado da
Casa Comum, de 24.5.2015, que recomenda que a previsão do impacto ambiental dos
empreendimentos e projetos se baseie em “processos políticos transparentes e sujeitos a
diálogo, enquanto a corrupção, que esconde o verdadeiro impacto ambiental dum
projeto em troca de favores, frequentemente leva a acordos ambíguos que fogem ao
dever de informar e a um debate profundo”.
Exige:
- monitorização do estado do ambiente e a avaliação dos resultados das políticas
ambientais;
- tratamento adequado dos dados.
- ampla divulgação e disponibilização gratuita dos dados ao público, mas com
salvaguarda da confidencialidade dos dados, da proteção devida, do sigilo comercial e
industrial, dos direitos da propriedade intelectual.
Instrumentos - estratégias,
de planeamento - programas
- planos
Podem ser:
de âmbito nacional (estes sempre por diploma legal), regional, local ou sectorial.
A sua elaboração:
Inclui a análise económica;
Exige a participação do público
Instrumentos São concebidos de forma equilibrada e sustentável;
económicos e financeiros
Tipologias:
- de apoio financeiro;
- de compensação ambiental
- de adequada remuneração dos serviços
- contratuais (com autarquias, setor privado, etc.)
- de fiscalidade ambiental;
- de prestações e as garantias financeiras
- de mercado (troca de direitos de uso ou de direitos de emissão de poluentes).
Instrumentos Estão sujeitos a avaliação ambiental prévia:
de avaliação ambiental - programas, planos e projetos, públicos ou privados, que possam afetar o ambiente, o
território ou a qualidade de vida dos cidadãos.
Exigem:
ponderação dos impactes relevantes (em termos biofísicos, económicos, sociais, culturais
e políticos).
Instrumentos estão sujeitas a prévio licenciamento ou autorização:
de autorização ou - atividades públicas ou privadas, potencial ou efetivamente poluidoras;
licenciamento ambiental - atividades suscetíveis de afetar significativamente o ambiente e a saúde humana.
Instrumentos Exemplos:
de melhoria contínua do - pegada ecológica,
desempenho ambiental - rotulagem ecológica,
- compras públicas ecológicas e
- sistemas de certificação.
Incentivam:
- padrões de produção e consumo sustentáveis
Promovem:
- melhoria do desempenho ambiental das atividades económicas.
Estimulam:
ecoeficiência, eco inovação e adoção de sistemas de gestão ambiental.
CAPÍTULO XV
RESPONSABILIDADE AMBIENTAL
265
Sobre as noções jurídico-policiais de perturbação e perturbador, cf. SOUSA, António
Francisco de, Manual de Direito Policial, Porto 2016, Vida Económica, Cap. 6, p. 237 e
segs.
266
Diretiva do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de abril de 2004.
Página 279 de 404
outubro, com a alteração que lhe foi introduzida pela Diretiva n.º
2006/21/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho.
O regime da responsabilidade ambiental é aplicável aos danos
ambientais e às ameaças iminentes desses danos. O art.º 11.º, n.º 1, al. b)
do Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de julho, define a b) “ameaça iminente
de danos” como a “probabilidade suficiente da ocorrência de um dano
ambiental, num futuro próximo”. Os danos devem ser causados no âmbito
do exercício de uma atividade económica, seja o seu carácter público ou
privado, lucrativo ou não (dita atividade ocupacional).
O regime da responsabilidade ambiental pretende assegurar, perante
a sociedade, a reparação dos danos ambientais causados pelo exercício de
uma atividade ocupacional. Os princípios da responsabilidade, da
prevenção, e da operacionalização do poluidor-pagador orientam o regime
da responsabilidade ambiental.
Os danos de que se fala na responsabilidade ambiental são os
causados às espécies e habitats naturais protegidos, à água e ao solo.
O regime jurídico da responsabilidade ambiental abarca tanto os
danos ambientais, como os perigos ambientais, isto é, as ameaças
iminentes desses danos (perigo como ameaça iminente de dano). Estes
danos e estes perigos podem resultar do exercício de atividade
“ocupacional” (atividade económica em geral, abarcando atividades
industriais), pública ou privada, lucrativa ou não lucrativa.
O regime da responsabilidade ambiental não se aplica a certos danos e
perigos (no sentido de ameaças iminentes) ambientais, nomeadamente267
aqueles que tenham origem em conflitos armados, hostilidades, guerra
civil ou insurreição, fenómenos naturais de carácter totalmente
excecional, imprevisível ou inevitável, ou em atividades que visam, em
267
Cf. art.º 2.º do Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de julho.
Página 280 de 404
última instância, a defesa nacional ou a segurança internacional e a
proteção contra catástrofes naturais.
A responsabilidade ambiental incide sobre o “operador” (o
“perturbador”, na perspetiva da polícia ambiental), que pode ser pessoa
singular ou coletiva, pública ou privada. Trata-se do perturbador que, por
conduta ou situação de bens à sua responsabilidade, ‘perturba’ (danifica ou
cria perigo para) o ambiente.
No caso de pessoas coletivas, os respetivos diretores, gerentes ou
administradores são solidariamente responsáveis pela atividade lesiva
e respetivos danos e perigos ambientais. Se a pessoa coletiva for uma
sociedade comercial em relação de grupo ou de domínio, a
responsabilidade ambiental alarga-se à sociedade-mãe ou à sociedade
dominante, se houver uso abusivo da personalidade jurídica ou fraude à
lei.
Sendo, no caso concreto, vários responsáveis, singulares e/ou
coletivos, todos respondem solidariamente, em princípio em partes
iguais, pelos danos e perigos ambientais. No entanto, haverá entre eles
direito de regresso, consoante o grau de culpa e o grau de participação.
O nexo de causalidade entre a causa e o efeito apura-se com base em
dois critérios: verosimilhança e probabilidade de o facto danoso,
considerando as circunstâncias do caso concreto, ser apto a produzir a lesão
ocorrida. Nesta análise, devem ser considerados os seguintes aspetos: a) o
grau de risco e de perigo; b) a normalidade da conduta lesiva; c) a
possibilidade de prova científica do percurso causal; e d) o
cumprimento, ou não, de deveres de proteção.
A responsabilidade ambiental também se verifica no caso de poluição
de carácter difuso (→ fontes difusas de emissão), desde que possa ser
estabelecido um nexo de causalidade entre os danos e perigos ambientais e
as atividades lesivas.
CAPÍTULO XVI
INFORMAÇÃO ADMINISTRATIVA AMBIENTAL
129. Em geral
270
O art.º 17.º, n.º 1, da LBA, fala na “internalização das externalidades ambientais”
no sentido da assunção dos efeitos colaterais ambientais.
Página 290 de 404
de 28 de janeiro, a Diretiva 2003/98/CE, do Parlamento Europeu e do
Conselho, de 17 de novembro, a Diretiva 2003/98/CE, do Parlamento
Europeu e do Conselho, de 17 de novembro de 2003, relativa à reutilização
de informações do setor público, alterada pela Diretiva 2013/37/UE, do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 26 de junho de 2013.
O âmbito de regulação e aplicação da Lei n.º 26/2016271 é amplo.
Destacaremos apenas alguns dos aspetos mais importantes tendo em vista
os objetivos traçados para a Unidade Curricular Direito do Urbanismo e
Ambiente.
O legislador confere um regime especial, como se impunha, ao acesso
a informação e a documentos nominativos. É reconhecido o “direito dos
cidadãos a serem informados pela Administração Pública sobre o
andamento dos processos em que sejam diretamente interessados e a
conhecer as resoluções definitivas que sobre eles forem tomadas, que se
rege pelo Código do Procedimento Administrativo” (art.º 1.º da Lei n.º
26/2016). É deixado para legislação própria a regulação do “acesso a
informação e a documentos relativos à segurança interna e externa e à
investigação criminal, ou à instrução tendente a aferir a responsabilidade
contraordenacional, financeira, disciplinar ou meramente administrativa”.
O mesmo acontece com o “acesso a documentos notariais e registrais, a
documentos de identificação civil e criminal”, e com “a informação e
documentação constantes do recenseamento eleitoral” e ainda, em geral,
com o “acesso a informação e documentos abrangidos pelo segredo de
justiça, segredo fiscal, segredo estatístico, segredo bancário, segredo
médico e demais segredos profissionais”.
Em geral, para o acesso e a reutilização da informação
administrativa em matéria ambiental vigora o princípio da
271
Todas as referências feitas à Lei n.º 26/2016, de 22 de agosto, têm em consideração a
sua última alteração introduzida pela Lei n.º 58/2019, de 8 de julho.
Página 291 de 404
Administração aberta e os princípios jurídico-administrativos gerais
previstos para a atividade administrativa, mencionados no CPA,
nomeadamente os princípios da igualdade, da proporcionalidade, da justiça,
da imparcialidade e da colaboração com os particulares.
A transparência da atividade administrativa é um valor e princípio
expressamente assumido, nomeadamente quanto ao funcionamento e
controlo da atividade administrativa em matéria ambiental. A transparência
compreende, nomeadamente, a divulgação e disponibilização de
informação para reutilização pela Internet. A informação deve ser
compreensível, de acesso livre e universal. Exige-se ainda qualidade,
integridade, autenticidade e localização dos dados publicados.
272 Nos termos do Decreto Regulamentar n.º 5/2019, de 27 de setembro, art.º 4.º, n.º 1,
“a utilização dos conceitos técnicos fixados nos termos do presente decreto
regulamentar dispensa a respetiva definição nos instrumentos de gestão territorial”. E,
nos termos do n.º 2, deste preceito, “os conceitos técnicos, como tal fixados pelo
presente decreto regulamentar, são de utilização obrigatória nos instrumentos de gestão
territorial, não sendo admissíveis outros conceitos, designações, definições ou
abreviaturas para o mesmo conteúdo e finalidade”.
CAPÍTULO XVII
CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
E DA BIODIVERSIDADE
273
Art.º 3.º da CNBio.
274
Art.º 3.º da CNBio.
275
Art.º 3.º da CNBio.
276
Última alteração dada pelo DL 42-A/2016.
Página 296 de 404
Vida Selvagem e dos Habitats Naturais da Europa (Convenção de
Berna).
Embora a proteção do ambiente seja em Portugal uma preocupação -
das autoridades e da sociedade em geral - que remonta ao berço da
nacionalidade, onde sempre existiram importantes leis locais de natureza
costumeira que eram levadas muito a sério e cuja violação era fortemente
punida - , o moderno direito ambiental radica diretamente na
Constituição de 2.4.1976 e, mais diretamente na primeira lei portuguesa do
ambiente, a Lei 11/87 (LBA), que veio concretizar os princípios
constitucionais ambientais, entretanto substituída pela atual Lei de Bases da
Política do Ambiente (LBA) - Lei n.º 19/2014, de 14 de abril. Na sequência
da LBA de 1987, foi adotada uma Estratégia Nacional de Conservação
da Natureza e da Biodiversidade (ENCNB)277, ao abrigo da qual foram
criados cinco instrumentos principais de ação:
1. A Rede Fundamental de Conservação da Natureza (RFCN)278;
2. O Sistema Nacional de Áreas Classificadas (SNAC)279, no âmbito
do qual a Autoridade Nacional define uma “abordagem integrada assente
na promoção das potencialidades dos territórios e no desenvolvimento local
sustentável, designadamente através da criação de marcas comerciais
registadas e de uma imagem identitária”280;
3. A Rede Nacional de Áreas Protegidas (RNAP → 7);
277
Resolução do Conselho de Ministros n.º 152/2001, de 11 de outubro.
278
A RFAC é constituída pelo Sistema Nacional de Áreas Classificadas (SNAC), que
integra: a) as áreas protegidas integradas na Rede Nacional de Áreas Protegidas, os
sítios da lista nacional de sítios e zonas de proteção especial integrados na Rede Natura
2000, e as demais áreas classificadas ao abrigo de compromissos internacionais
assumidos pelo Estado Português; b) Pelas áreas de continuidade a Reserva Ecológica
Nacional (REN); a Reserva Agrícola Nacional (RAN); e o domínio público hídrico
(DPH).
279
Que abarca a Rede Nacional de Áreas Protegidas, as áreas classificadas integradas na
Rede Natura 2000 e as demais áreas classificadas ao abrigo de compromissos
internacionais assumidos pelo Estado Português.
280 Art.º 9-A do Decreto-Lei n.º 142/2008.
281
Especialmente os objetivos definidos na Convenção das Nações Unidas sobre a
Diversidade Biológica, adotada no Rio de Janeiro, em 5 de junho de 1992.
Página 298 de 404
7) “Promover a educação e a formação da sociedade civil em
matéria de conservação da natureza e da biodiversidade e assegurar a
informação, sensibilização e participação do público, incentivando a
visitação, a comunicação, o interesse e o contacto dos cidadãos com a
natureza”; e, por fim,
8) “Promover o reconhecimento pela sociedade do valor
patrimonial, intergeracional, económico e social da biodiversidade e do
património geológico”.
282
Elementos físicos, químicos ou geológicos, como p. ex. água, solo, ar e calor.
283
Comunidades vivas de um ecossistema.
Página 300 de 404
“Conservação in situ”: “conservação de espécies da fauna e da flora
selvagens nos seus habitats naturais”;
“Monitorização”: “processo de recolha e processamento de
informação sobre um ou mais valores naturais, visando acompanhar o seu
estado de conservação”.
284
O princípio da precaução foi reconhecido (como “Princípio 15”) na Declaração do
Rio (1992), nos termos seguintes: “Para que o ambiente seja protegido, será aplicada
pelos Estados, de acordo com as suas capacidades, medidas preventivas. Onde existam
ameaças de riscos sérios ou irreversíveis não será utilizada a falta de certeza científica
total como razão para o adiamento de medidas eficazes em termos de custo para evitar a
degradação ambiental.”
285
Os bens que integram o domínio público podem pertencer ao Estado, às regiões
autónomas ou às autarquias locais (domínio público estadual, domínio público regional
e domínio público autárquico). Só os entes públicos de população e território (ou “de
base territorial”) são titulares de bens do domínio público. Certos bens integram
necessariamente, pela sua ligação à soberania do Estado, o domínio público do Estado,
como é o caso do domínio público marítimo e domínio público aéreo. No entanto, os
entes públicos também são titulares de bens do domínio privado, integrem estes o
património financeiro (património privado disponível) ou o património
administrativo (património privado indisponível). Os bens do património
financeiro ou bens do património privado disponível estão sujeitos ao regime
jurídico-privado.
Página 304 de 404
e) Monumento natural.
286
Diário do Governo, 2.ª série, n.º 204, de 2 de setembro de 1957, com retificação de
área efetuada por decreto publicado no Diário do Governo, 2.ª série, n.º 115, de 15 de
maio de 1959.
287
Decreto n.º 364/71, de 25 de agosto, ao abrigo do estabelecido no n.º 4 da base IV da
Lei n.º 9/70, de 19 de junho.
288
Resolução do Conselho de Ministros n.º 7/91, de 12 de março, ao abrigo do
estabelecido no Decreto-Lei n.º 264/79, de 1 de agosto.
Página 306 de 404
A “área protegida privada” corresponde a “terrenos privados não
incluídos em áreas protegidas”. Para o efeito, o proprietário apresenta
uma candidatura, que é submetida à apreciação e reconhecimento pelo
Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade. Uma
decisão de reconhecimento significa a integração da área protegida
privada na RNAP, ficando sujeita a um protocolo de gestão.
Os regimes de proteção podem dizer respeito a: a) Áreas de
proteção total; b) Áreas de proteção parcial; e c) Áreas de proteção
complementar.
289
Alterada pelas Diretivas n.º s 91/244/CEE, da Comissão, de 6 de março, 94/24/CE,
do Conselho, de 8 de junho, e 97/49/CE, da Comissão, de 29 de junho, bem como da
Diretiva n.º 92/43/CEE, do Conselho, de 21 de maio (Diretiva Habitats), com as
alterações que lhe foram introduzidas pela Diretiva n.º 97/62/CE, do Conselho, de 27 de
outubro”.
Página 307 de 404
A Rede Natura 2000 abarca “as áreas classificadas como zona
especial de conservação (ZEC) e as áreas classificadas como zona de
proteção especial (ZPE), constando o respetivo regime de diploma
próprio” (art.º 25.º, n.º 2).
290
Regimes jurídico-ecológicos de iniciativa e âmbito nacional são os “regimes de
exploração e gestão dos recursos cinegéticos, pesqueiros, aquícolas das águas interiores,
de conservação e proteção do lobo ibérico, dos mamíferos marinhos na zona costeira e
zona económica exclusiva continental portuguesa, dos animais selvagens, necrófagos e
predadores, do azevinho espontâneo, do sobreiro e da azinheira e da introdução na
natureza e detenção de espécies não indígenas da flora e da fauna”. O Regime jurídico
da conservação, fomento e exploração dos recursos cinegéticos, com vista à sua gestão
sustentável, bem como os princípios reguladores da atividade cinegética foi aprovado
pelo Decreto-Lei n.º 202/2004.
Página 308 de 404
a) O regime do comércio internacional de espécies da fauna e da flora
selvagens ameaçadas de extinção (Convenção sobre o Comércio
Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas
de Extinção – 1973); e o
b) O regime de proteção de espécies inscritas no âmbito da
Convenção Relativa à Conservação da Vida Selvagem e dos Habitats
Naturais da Europa (Convenção de Berna – 1979).
291
Cf. o art.º 90.º, n.º 3, da Lei da Água (Lei n.º 58/2005, de 29 de dezembro, na última
versão dada pela Lei n.º 44/2017, de 19/06), segundo o qual, “colaboram na ação
fiscalizadora as autoridades policiais ou administrativas com jurisdição na área,
devendo prevenir as infrações ao disposto nesta lei e participar as transgressões de
que tenham conhecimento”.
Página 310 de 404
entanto, estando em causa o domicílio ou direitos similares, a autoridade
deve obter previamente uma permissão do fiscalizado ou inspecionado ou,
em alternativa, uma autorização do tribunal ou, sendo a ação urgente,
deve elaborar a posteriori um relatório da operação, o qual deve ser
enviado imediatamente ao tribunal, para que este controle a posteriori a
legalidade da operação.
Se necessário, no exercício das funções de inspeção e fiscalização, as
autoridades administrativas competentes podem determinar o embargo de
construções em áreas de ocupação proibida ou, em geral, em contravenção
à lei, a planos, a regulamentos ou a condicionamentos de licenciamento ou
de autorização.
292
Lei n.º 50/2006, de 29 de agosto, última alteração dada pela Lei n.º 25/2019, de
26/03.
Página 311 de 404
ou lançamento de águas residuais industriais ou domésticas na água, no
solo ou no subsolo, remoção ou danificação de quaisquer substratos
marinhos e destruição ou delapidação de bens culturais inventariados ou
geossítios” (art.º 43.º).
A contraordenação ambiental é grave, quando corresponde à “prática
não autorizada dos atos e atividades enumeradas nas contraordenações
muito graves quando sejam “permitidas mediante autorização ou parecer da
autoridade nacional”, mas não foram autorizadas ou objeto de parecer
favorável. Também é contraordenação ambiental grave, p. ex., a prática de
atividades turísticas ou desportivas motorizadas suscetíveis de provocarem
poluição sonora ou aquática, o exercício não autorizado de caça ou de
pesca, a obstrução de qualquer tipo de passagem nos caminhos públicos e
de acesso às linhas ou aos planos de água, ou a introdução de espécies não
indígenas.
A contraordenação ambiental é leve, quando corresponde à prática de
certos atos e atividades proibidos ou interditos e à prática não autorizada de
atos e atividades condicionados, como por exemplo a instalação, afixação,
inscrição ou pintura mural de mensagens de publicidade ou propaganda,
temporárias ou permanentes, de cariz comercial ou não, a entrada,
circulação ou permanência na área protegida sem o pagamento da taxa
devida, a prática indevida de campismo ou caravanismo, o abandono,
depósito ou vazamento de resíduos sólidos urbanos fora dos locais para tal
destinados e a colheita, a detenção e o transporte de amostras de recursos
geológicos, nomeadamente minerais, rochas e fósseis.
141.1. Em geral
142. Conclusão
CAPÍTULO XVIII
PREVENÇÃO E CONTROLO DAS
EMISSÕES DE POLUENTES PARA O AR
143. Em geral
146. Em geral
297
A Lei n.º 68/93, de 4 de setembro, define, no seu art.º 1.º, n.º 1, baldios como “os
terrenos possuídos e geridos por comunidades locais”. Estas comunidades locais são
constituídas pelos respetivos universos de compartes. E o n.º 3, do art.º 1.º, determina
que os compartes, como “moradores de uma ou mais freguesias ou parte delas, segundo
os usos e costumes, têm direito ao uso e fruição do baldio”.
298
O Decreto Regulamentar que define os conceitos fundamentais do urbanismo (de
setembro de 2019), define o “logradouro” como “um espaço ao ar livre, destinado a
Página 321 de 404
Ao domínio público hídrico das freguesias pertencem os lagos e
lagoas situados integralmente em terrenos das freguesias ou em terrenos
baldios e de logradouro comum paroquiais.
299
A linguagem popular usa “praia-mar”.
300
A desafetação corresponde à cessação da utilidade pública e do regime jurídico do
domínio público.
Página 323 de 404
Os tribunais comuns são competentes para decidir sobre “a
propriedade ou posse de parcelas de leitos ou margens das águas do mar
ou de quaisquer águas navegáveis ou flutuáveis”.
CAPÍTULO XX
REGIME JURÍDICO DA ÁGUA
154. Em geral
301 Lei da Água, transpondo para a ordem jurídica nacional a Directiva n.º 2000/60/CE,
do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de outubro, e estabelecendo as bases e o
quadro institucional para a gestão sustentável das águas.
Página 326 de 404
A lei da água aplica-se a todos os recursos hídricos. O planeamento
da gestão das águas assenta região hidrográfica cuja unidade principal é a
bacia hidrográfica.
302
Por exemplo, a Lei n.º 58/2005, 29 de dezembro, determina, no seu art.º 3.º, n.º 1. al.
e), que as ações desenvolvidas devem observar o princípio da precaução, razão por que
as medidas destinadas a evitar os impactos negativos “devem ser adotadas mesmo na
ausência de certeza científica da existência de uma relação causa-efeito entre eles”. Cf.
ainda, na Lei da Água, as referências ao princípio da precaução nos art.ºs 56.º, 89.º e
92.º, n.º 1.
Página 327 de 404
eliminar as causas de alteração do ambiente ou para reduzir os seus
impactes303;
h) Princípio da correção, prioritariamente na fonte, dos danos
causados ao ambiente;
j) Princípio do uso razoável e equitativo das bacias hidrográficas.
303
Por exemplo, a Lei n.º 58/2005, de 29 de dezembro (Lei da Água), prevê, no seu art.º
2.º, n.º 1, al. f, que “as ações com efeitos negativos no ambiente devem ser
consideradas de forma antecipada por forma a eliminar as próprias causas de
alteração do ambiente ou reduzir os seus impactes quando tal não seja possível”.
Página 328 de 404
«Águas territoriais»: as águas marítimas situadas entre a linha de
base e uma linha distando 12 milhas náuticas304 da linha de base;
«Áreas classificadas»: as áreas que integram a Rede Nacional de
Áreas Protegidas e as áreas de proteção e preservação dos habitats
naturais, fauna e flora selvagens e conservação de aves selvagens, definidas
em legislação específica;
«Aquífero»: uma ou mais camadas subterrâneas de rocha ou outros
estratos geológicos suficientemente porosos e permeáveis para permitirem
um escoamento significativo de águas subterrâneas ou a captação de
quantidades significativas de águas subterrâneas;
«Autoridade Nacional da Água» (ANA): a entidade da
Administração Pública responsável pelo cumprimento da lei da água;
«Bacia hidrográfica»: a área terrestre a partir da qual todas as águas
fluem para o mar, através de uma sequência de rios, ribeiros ou
eventualmente lagos, desaguando numa única foz, estuário ou delta;
«Bom estado das águas subterrâneas»: o estado global em que se
encontra uma massa de águas subterrâneas quando os seus estados
quantitativo e químico são considerados, pelo menos, «bons»;
«Bom estado das águas superficiais»: o estado global em que se
encontra uma massa de águas superficiais quando os seus estados ecológico
e químico são considerados, pelo menos, «bons»;
«Bom estado ecológico»: o estado alcançado por uma massa de águas
superficiais, classificado como Bom nos termos de legislação específica;
«Bom estado químico das águas superficiais»: o estado químico
alcançado por uma massa de águas superficiais em que as concentrações
de poluentes cumprem as normas de qualidade ambiental definidas em
legislação específica;
304
A milha náutica corresponde a 1.852 metros.
Página 329 de 404
«Bom estado químico das águas subterrâneas» o estado químico
alcançado por um meio hídrico subterrâneo em que a composição química
é tal que as concentrações de poluentes:
i) Não apresentem efeitos significativos de intrusões salinas ou outras;
ii) Cumpram as normas de qualidade ambiental que forem fixadas em
legislação específica;
iii) Não impeçam que sejam alcançados os objetivos ambientais específicos
estabelecidos para as águas superficiais associadas nem reduzam
significativamente a qualidade química ou ecológica dessas massas;
iv. Não provoquem danos significativos nos ecossistemas terrestres diretamente
dependentes das massas de águas subterrâneas;
«Bom estado quantitativo»: o estado de um meio hídrico subterrâneo
em que o nível freático é tal que os recursos hídricos subterrâneos
disponíveis não são ultrapassados pela taxa média anual de captação a
longo prazo;
«Bom potencial ecológico»: o estado alcançado por uma massa de
água artificial ou fortemente modificada, classificado como Bom nos
termos das disposições de normativo próprio;
«Controlos das emissões»: os controlos que exijam uma limitação
específica das emissões, designadamente um valor limite de emissão, ou
que de outro modo especifiquem limites ou condições quanto aos efeitos, à
natureza ou a outras características de uma emissão ou das condições de
exploração que afetem as emissões;
«Descarga direta nas águas subterrâneas»: a introdução de
poluentes nas águas subterrâneas, sem percolação305 através do solo ou do
subsolo;
305
A percolação é um termo técnico que consiste em “passar um líquido através de
interstícios de uma substância porosa ou pulverizada, para o filtrar ou para com ele
extrair componentes solúveis dessa substância” in Dicionário Priberam da Língua
Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/percola%
C3%A7%C3%A3o [consultado em 21-05-2021].
Página 330 de 404
«Poluente»: qualquer substância suscetível de provocar poluição,
definida na lei;
«Poluição»: a introdução direta ou indireta, em resultado da
atividade humana, de substâncias ou de calor no ar, na água ou no solo
que possa ser prejudicial para a saúde humana ou para a qualidade dos
ecossistemas aquáticos ou dos ecossistemas terrestres daqueles diretamente
dependentes, que dê origem a prejuízos para bens materiais ou que
prejudique ou interfira com o valor paisagístico ou recreativo ou com
outras utilizações legítimas do ambiente306;
«Região hidrográfica»: a área de terra e de mar constituída por uma
ou mais bacias hidrográficas contíguas e pelas águas subterrâneas e
costeiras associadas (→ 157 e 158);
«Substâncias perigosas»: as substâncias ou grupos de substâncias
tóxicas, persistentes e suscetíveis de bioacumulação, e ainda outras
substâncias que suscitem preocupações da mesma ordem;
«Substâncias perigosas prioritárias»: as substâncias identificadas
como apresentando um risco acrescido em relação às substâncias
prioritárias;
«Utilização da água»: os serviços das águas e qualquer outra
atividade que tenha um impacte significativo sobre o estado da água;
«Valores limite de emissão»: a massa, expressa em termos de
determinados parâmetros específicos, a concentração ou o nível de uma
emissão que não podem ser excedidos em certos períodos de tempo, a
definir em normativo próprio;
«Zona ameaçada pelas cheias»: a área contígua à margem de um
curso de água que se estende até à linha alcançada pela cheia com período
de retorno de 100 anos;
306
Neste conceito de poluição estão presentes simultaneamente as ideias de precaução
(“que possa ser prejudicial”) e de prevenção (“dê origem a prejuízos”), portanto, os
conceitos de “risco” e de “perigo”.
Página 331 de 404
«Zonas protegidas»: as zonas como tal previstas na lei (águas de
recreio, v. g. zonas balneares, zonas sensíveis em termos de nutrientes,
zonas para a proteção de habitats e da fauna e da flora selvagens).
307
Art.º 3.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 56/2012 - Diário da República n.º 51/2012, Série I
de 2012-03-12, que aprovou a orgânica da Agência Portuguesa do Ambiente. I. P.
308
O Ministro da Administração Interna formula, conduz, executa e avalia as políticas
de segurança interna, do controlo de fronteiras, de proteção e socorro, de planeamento
civil de emergência, de segurança rodoviária e de administração eleitoral. O Ministro
da Administração Interna exerce a direção as forças de segurança e sobre a Autoridade
Nacional de Emergência e Proteção Civil. A Ministra da Saúde exerce a direção sobre
o Instituto Nacional de Emergência Médica, I. P. O presidente da junta de freguesia
colabora com outras entidades no domínio da proteção civil, “tendo em vista o
cumprimento dos planos de emergência e programas estabelecidos, designadamente
em operações de socorro e assistência na iminência ou ocorrência de acidente grave
Página 340 de 404
executiva constitucionalmente confiada ao Governo, sob proposta do
membro do Governo responsável pela área do ambiente. O estado de
emergência ambiental pode ser declarado, para um prazo máximo de três
meses, para todo ou apenas para parte do território nacional. A declaração
do estado de emergência ambiental é um último recurso, quando não
seja possível repor o estado anterior pelos “meios normais” (art.º 44.º da
LA).
A declaração do estado de emergência ambiental implica a criação de
um conselho de emergência ambiental, presidido pelo Ministro do
Ambiente e por entidades por ele nomeadas. O objetivo prioritário é o da
ou catástrofe” (art.º 18.º, n.º 1, al. m), da LAL). O presidente da câmara municipal
dirige, “em articulação com os organismos da administração pública com competência
no domínio da proteção civil, o serviço municipal de proteção civil, tendo em vista o
cumprimento dos planos de emergência e programas estabelecidos e a coordenação das
atividades a desenvolver naquele âmbito, designadamente em operações de socorro e
assistência na iminência ou ocorrência de acidente grave ou catástrofe” (art.º 35.º,
n.º 1, al. v), da LAL). A comissão executiva metropolitana colabora com os “serviços
da administração central com competência no domínio da proteção civil e com os
serviços municipais de proteção civil, tendo em vista o cumprimento dos planos de
emergência e programas estabelecidos, bem como nas operações de proteção, socorro e
assistência na iminência ou ocorrência de acidente grave ou catástrofe” (art.º 76.º, n.º 1,
al. f), da LAL). O secretariado executivo intermunicipal colabora “com os serviços da
administração central com competência no domínio da proteção civil e com os serviços
municipais de proteção civil, tendo em vista o cumprimento dos planos de emergência e
programas estabelecidos, bem como nas operações de proteção, socorro e assistência na
iminência ou ocorrência de acidente grave ou catástrofe” (art.º 96.º, n.º 1, al. d), da
LAL). O plano diretor municipal define o quadro estratégico de desenvolvimento
territorial do município e o correspondente modelo de organização territorial,
estabelecendo nomeadamente “as condições de atuação sobre áreas de reabilitação
urbana, situações de emergência ou de exceção, bem como sobre áreas degradadas
em geral” (art.º 96.º, n.º 1, al. m), do RJIGT) e “as condições de atuação sobre áreas de
reabilitação urbana, situações de emergência ou de exceção, bem como sobre áreas
degradadas em geral” (art.º 96.º, n.º 1, al. o), do RJIGT). Nos termos da Lei de bases da
política e do regime de proteção e valorização do património cultural (Lei n.º 107/2001,
de 8 de setembro), o Governo está obrigado a instituir um fundo destinado a
comparticipar para acudir a situações de emergência ou de calamidade pública que
ponham bens classificados, ou em vias de classificação, que corram risco de destruição,
perda, extravio ou deterioração (art.º 33.º da Lei n.º 107/2001). O mesmo diploma prevê
também a “execução de trabalhos de emergência” (art.º 75.º da Lei n.º 107/2001). O
regime da Prevenção e controlo das emissões de poluentes para o ar (Decreto-Lei n.º
39/2018, de 11 de junho) fala e regula a utilização dos geradores de emergência.
Página 341 de 404
reposição do estado ecológico anterior ou a diminuição dos riscos e
danos criados.
Enquanto vigorar o estado de emergência ambiental, a Autoridade
Nacional da Água tem poderes excecionais, nomeadamente para:
a) Suspender a execução de instrumentos de planeamento das
águas;
b) Suspender atos que autorizam utilizações dos recursos hídricos;
c) Modificar, no respeito pelo princípio da proporcionalidade e
atendendo à duração do estado de emergência ambiental, o conteúdo dos
atos que autorizam utilizações dos recursos hídricos;
d) Definir prioridades de utilização dos recursos hídricos,
derrogando a hierarquia estabelecida na lei ou nos instrumentos de
planeamento das águas;
e) Impor comportamentos ou aplicar medidas cautelares de
resposta aos riscos ecológicos; e
f) Apresentar recomendações aos utilizadores dos recursos hídricos
e informar o público acerca da evolução do risco” (art.º 44.º, n.º 3, da
LA).
Estes atos de emergência ambiental estão sujeitos a ratificação do
Ministro do Ambiente, sob pena de ineficácia jurídica.
309
Temos aqui uma marca tipicamente jurídico-policial: “evitar”, que é prevenir, a
“perturbação”, que é o perigo policial resultante, neste caso da afetação do estado da
água, um componente ambiental muito importante. O perturbador do estado da água
constitui-se em responsabilidade, nos termos da lei. Sobre as noções jurídico-policiais
de perturbação e perturbador, cf. SOUSA, António Francisco de, Manual de Direito
Policial, Porto 2016, Vida Económica, Cap. 6, p. 237 e segs.
Página 344 de 404
Certas utilizações do domínio público estão sujeitas a concessão,
como é o caso: a) da captação de água para abastecimento público;
b) da captação de água para rega de área superior a 50 ha;
c) da utilização de terrenos do domínio público hídrico para a edificação de
empreendimentos turísticos; d) da captação de água para produção de
energia.
A utilização de recursos hídricos particulares está sujeita a
autorização prévia no caso das seguintes atividades que incidam em
leitos, margens e águas particulares: a) realização de construções; b)
implantação de infraestruturas hidráulicas; c) captação de águas. Estão
sujeitas a licença prévia de utilização atividades que incidam sobre leitos,
margens e águas particulares: a) de rejeição de águas residuais; b) de
imersão de resíduos; c) de recarga e injeção artificial em águas
subterrâneas; d) de extração de inertes; e) de aterros e escavações.
310
A fiscalização diz-se sistemática quando se enquadra no cumprimento do dever
geral de vigilância das entidades correspondentes.
Página 349 de 404
Em aplicação dos princípios da precaução e prevenção, a
Autoridade Nacional da Água, conjuntamente com as entidades
licenciadoras, de inspeção e de fiscalização competentes, promove a
elaboração de planos de inspeção e de fiscalização, os quais são públicos.
311
Sobre a distinção entre entrada e busca domiciliária, cf. SOUSA, António
Francisco de, Manual de Direito Policial, Porto 2016, páginas 643 a 664.
Página 350 de 404
e bens ou para a qualidade da água devem ser comunicadas por qualquer
entidade administrativa que tome conhecimento.
188. Em geral
312
O corretor é um intermediário de compra e venda, por exemplo de ações cotadas na
bolsa, mediante uma percentagem.
Página 354 de 404
«Resíduos»: “quaisquer substâncias ou objetos de que o detentor se
desfaz ou tem a intenção ou a obrigação de se desfazer”;
“Resíduo perigoso”313: “resíduo que apresenta uma ou mais
características de perigosidade constantes do Regulamento (UE) n.º
1357/2014, da Comissão, de 18 de dezembro de 2014”;
«Resíduo urbano»: “o resíduo proveniente de habitações bem como outro
resíduo que, pela sua natureza ou composição, seja semelhante ao resíduo
proveniente de habitações”;
«Reutilização»: “qualquer operação mediante a qual produtos ou
componentes que não sejam resíduos são utilizados novamente para o
mesmo fim para que foram concebidos”;
«Tratamento»: “qualquer operação de valorização ou de eliminação
de resíduos, incluindo a preparação prévia à valorização ou eliminação e
as atividades económicas referidas no anexo IV do presente decreto-lei, do
qual faz parte integrante”;
«Triagem»: “o ato de separação de resíduos mediante processos
manuais ou mecânicos, sem alteração das suas características, com vista ao
seu tratamento”;
«Valorização»: “qualquer operação, nomeadamente as constantes no
anexo II do presente decreto-lei, cujo resultado principal seja a
transformação dos resíduos de modo a servirem um fim útil,
substituindo outros materiais que, caso contrário, teriam sido utilizados
313
Todo o resíduo constitui, por si mesmo, um perigo. A expressão “resíduo perigoso”
refere-se a resíduos especialmente perigosos. Sobre os resíduos perigosos, cf. o
Regulamento N.º 1357/2014 da Comissão Europeia de 18 de dezembro de 2014, que
substitui o anexo III da Diretiva 2008/98/CE do Parlamento Europeu e do Conselho,
relativa aos resíduos. Este Regulamente define tecnicamente diferentes conceitos como
“cancerígeno”, “infecioso”, “tóxico”, etc. definições que, no seu âmbito de aplicação,
têm de ser rigorosamente respeitadas, sem qualquer margem de flexibilidade para o seu
intérprete e aplicador, o que prova o caráter contraditório, por nós há longos anos
repetidamente denunciado, da chamada “discricionariedade técnica”. O problema dos
conceitos técnicos é, pois, sobretudo um problema de interpretação, que no caso
presente já está feita através das definições legais.
Página 355 de 404
para um fim específico ou a preparação dos resíduos para esse fim na
instalação ou conjunto da economia”.
O legislador define ainda outros conceitos técnicos (v.g. triagem ou
impactes adversos), ao mesmo tempo que exige a sua utilização no
respetivo âmbito jurídico.
314
Cf. Plano Nacional de Gestão de Resíduos (PNGR 2030), presentemente em análise,
promovido pela Secretaria de Estado do Ambiente, in:
https://participa.pt/pt/consulta/plano-nacional-de-gestao-de-residuos-2030.
Página 358 de 404
192. Licenciamento das atividades de tratamento de resíduos
192.1. Em geral
315
Art.º 23.º e segs. do RJTR.
316
A Autoridade Nacional de Resíduos (ANR) é a Agência Portuguesa do Ambiente.
Página 359 de 404
O pedido de licenciamento para a atividade de tratamento de resíduos
(e todas as comunicações subsequentes) é apresentado em suporte
informático, por meios eletrónicos, no balcão único eletrónico. As peças
desenhadas podem ser apresentadas em suporte de papel.
A entrega de documentos e a consulta faz-se no seu sítio da Internet
da ANR, que mantém disponível ao público na “plataforma eletrónica de
gestão dos processos de licenciamento”.
A ANR e as demais entidades licenciadoras garantem a
“interoperabilidade da plataforma eletrónica de gestão dos processos
de licenciamento com outras plataformas eletrónicas de licenciamento,
nomeadamente a plataforma de licenciamento de exercício da
atividade industrial” (art.º 26.º, n.º 2, do RJGR).
Compete às entidades licenciadoras manter atualizada a plataforma
eletrónica de gestão dos processos de licenciamento, nomeadamente quanto
à emissão, renovação, alteração ou transmissão de licenças e respetivas
suspensões ou revogações.
O pedido de licenciamento, devidamente instruído com os
documentos exigidos por lei (art.º 27.º), deve ser apresentado junto da
competente entidade licenciadora.
A entidade licenciadora pode convocar o requerente para uma
“conferência instrutória” na qual são abordados “todos os aspetos
considerados necessários para a boa decisão do pedido” (art.º 27.º, n.º 3, do
RJGR).
Recebido o pedido ou recebidos elementos adicionais, a autoridade
licenciadora promove a consulta das entidades que, nos termos da lei,
devam pronunciar-se no âmbito do procedimento de licenciamento. Entre
essas entidades está o organismo regional responsável pela gestão da
água, quanto à afetação dos recursos hídricos, o serviço regional
(desconcentrado) responsável pelo ordenamento do território, quanto à
317
Na avaliação de impacte ambiental, “os efeitos ambientais” resultam da confrontação
das alterações que poderão vir a verificar-se no caso de o projeto avançar face às
condições ambientais e sociais que presumivelmente existirão se o projeto não se
concretizar. Nesta confrontação são ponderados inúmeros aspetos, como por exemplo os
recursos hídricos e a qualidade da água, do ar e do solo, a diversidade biológica, o
património cultural, a paisagem, etc.
Página 362 de 404
Nos casos em que o exija a ideia de proporcionalidade,
razoabilidade e proibição do excesso, que o legislador estabeleceu no art.º
32.º do RJGR, aplica-se o regime do licenciamento simplificado.
Em licenciamento simplificado, é licenciado, nomeadamente:
- o tratamento de resíduos de situações pontuais, dotadas de carácter
não permanente;
- o armazenamento de resíduos efetuado no próprio local de produção.
319
Convenção de Basileia, ratificada por 105 países e pela UE, que entrou em vigor em
1992, incide sobre o controlo de movimentos transfronteiriços de resíduos perigosos e
Página 368 de 404
195. Mercado de resíduos
mil toneladas de resíduos urbanos da “lista laranja” e 1.141 mil toneladas da “lista
verde” (“não perigosos”). Cf. o Relatório sobre o Movimento Transfronteiriço de
Resíduos. Destinando-se a maior parte dos resíduos importados ao seu processamento,
ele é simultaneamente fonte de poluição, o mesmo acontecendo com os resíduos
destinados à eliminação.
Página 370 de 404
procura destes bens, assim como a sua reutilização, reciclagem e
valorização”.
Por outro lado, o legislador estabelece que o mercado organizado de
resíduos (art.º 62.º) deve:
- centralizar “num só espaço ou sistema de negociação as transações
de tipos diversos de resíduos, garantindo a sua alocação racional,
eliminando custos de transação, estimulando o seu reaproveitamento e
reciclagem, diminuindo a procura de matérias-primas primárias e
contribuindo para a modernização tecnológica dos respetivos produtores”
(art.º 62.º, n.º 1, do RJGR).
Nos termos do art.º 63.º do RJGR, “o mercado organizado de
resíduos deve funcionar em condições que garantam o acesso igualitário ao
mercado, a transparência, universalidade e rigor da informação que nele
circula e a segurança nas transações realizadas, bem como o respeito das
normas destinadas à proteção do ambiente e da saúde pública”.
322
Cf. art.º 8.º do Decreto-Lei nº 45/2008, de 11 de março, diploma subsidiário do da
Lei quadro das contraordenações ambientais (Lei n.º 50/ 2006, de 29 de agosto).
Página 371 de 404
- A violação das proibições de abandono de resíduos e ainda outras
práticas, como a injeção de resíduos no solo, a sua queima a céu aberto e a
descarga de resíduos em locais não licenciados;
- A violação da proibição de proceder à operação de mistura
incluindo a diluição de resíduos perigosos (cf. art.º 21.º-A, n.º 2);
- O exercício não licenciado das atividades de tratamento de resíduos
(cf. art.º 9.º, n.º 2, e art.º 23.º).
CAPÍTULO XXII
POLÍCIA DO AMBIENTE: PREVENÇÃO, MINIMIZAÇÃO,
COMBATE E REPARAÇÃO COMO FUNÇÃO POLICIAL
197. Em geral
CAPÍTULO XXIII
ONGAs
323
O regime jurídico das ONGAs foi aprovado pela Lei n.º 35/98 (última alteração dada
pela Lei n.º 82-D/2014, de 31/12).
Página 374 de 404
Quanto à sua atividade, o art.º 52.º da CRP, sob a epígrafe “direito de
petição e direito de ação popular”, garante a todos os cidadãos “o direito
de apresentar, individual ou coletivamente, aos órgãos de soberania, aos
órgãos de governo próprio das regiões autónomas ou a quaisquer
autoridades petições, representações, reclamações ou queixas para
defesa dos seus direitos, da Constituição, das leis ou do interesse geral
e, bem assim, o direito de serem informados, em prazo razoável, sobre
o resultado da respetiva apreciação”. E o n.º 3 deste preceito diz que “é
conferido a todos, pessoalmente ou através de associações de defesa dos
interesses em causa, o direito de ação popular nos casos e termos
previstos na lei, incluindo o direito de requerer para o lesado ou lesados a
correspondente indemnização, nomeadamente para: “a) Promover a
prevenção, a cessação ou a perseguição judicial das infrações contra a
saúde pública, os direitos dos consumidores, a qualidade de vida, a
preservação do ambiente e do património cultural”.
As ONGAs, que podem ser de âmbito nacional, regional ou local,
gozam do direito de consulta e informação junto dos órgãos da
Administração Pública sobre “documentos ou decisões administrativas com
incidência no ambiente”, nomeadamente planos nacionais, regionais e
locais (art.º 5.º da Lei n.º 35/98), e têm igualmente o “direito de participar
na definição da política e das grandes linhas de orientação legislativa em
matéria de ambiente”.
Por fim, as ONGAs, independentemente de terem ou não interesse
direto na demanda, têm legitimidade processual para a) propor as ações
judiciais, b) intentar ações judiciais para efetivação da responsabilidade
civil e para c) apresentar queixa ou denúncia, tudo para a realização dos
seus fins legítimos (cf. art.º 10.º da Lei n.º 35/98). As ONGAs podem
também requerer ao tribunal administrativo as intimações previstas no
art.º 2.º do CPTAF.
CAPÍTULO XXV
DIREITO DO AMBIENTE: MARES E OCEANOS
200. Em geral
324
As conservas de peixe, nomeadamente de sardinha portuguesa, tornaram-se
especialmente importantes na alimentação dos soldados nas frentes de combate.
Página 377 de 404
marinhos, especialmente petróleo. Surgiu, a partir de então, o desejo de
exercer domínio sobre os mares pelos Estados ribeirinhos e, depois, a
necessidade de regular essas matérias, o que aconteceu com a Convenção
das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM)325, de 1982, que
resultou da terceira Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
(CNUDM III), que teve lugar ente 1973 e 1982. Esta Convenção, dita de
Montego Bay, definiu os direitos e responsabilidades dos Estados costeiros
no uso dos oceanos, e estabeleceu regras de comércio, de proteção do
ambiente e de gestão dos recursos marinhos. Ela também positivou normas
e princípios jurídicos fundamentais de direito internacional público
consuetudinário relativos ao uso dos mares, definiu as noções, com os seus
limites, de mar territorial, de zona económica exclusiva (ZEE), de
plataforma continental e estabeleceu os princípios da exploração dos
recursos marinhos e dos fundos marinhos. A Convenção de Montego Bay
também criou o Tribunal Internacional do Direito do Mar com a
competência para julgar os conflitos de interpretação e aplicação da
CNUDM. Esta convenção foi seguida de duas outras Convenções. A
CNUDM fixa como mar territorial o mar até as 12 milhas marítimas (ou
náuticas), que correspondem a cerca de 22 km, zona na qual o Estado
costeiro exerce a sua soberania. A contar deste limite, a CNUDM fixa uma
zona contígua de outras 12 milhas marítimas na qual o Estado costeiro
exerce poderes policiais, concretamente, poderes de prevenção e repressão
de infrações às leis aduaneiras, fiscais, de imigração ou sanitárias que
vigoram no seu território e no seu mar territorial (o que compreende, p. ex.,
a fiscalização de atividades ilícitas, como o contrabando de estupefacientes
ou de armas e a imigração clandestina). A partir da linha limite das águas
territoriais, a CNUDM fixa a zona económica exclusiva (ZEE) que vai até
325
Em inglês, United Nations Convention on the Law of the Sea (UNCLOS), assinada
em Montego Bay, no ano de 1982. A CNUDM foi aprovada para ratificação por
Resolução da Assembleia da República n.º 60-B/97.
Página 378 de 404
200 milhas marítimas, o que corresponde a cerca de 340 km, na qual o
Estado costeiro tem o direito de explorar em exclusividade os recursos
naturais que se encontram nas águas (espec. peixe), nos fundos marinhos e
no subsolo marinho (p. ex. petróleo): Nesta extensa área da ZEE, o Estado
ribeirinho tem o dever de preservar o meio marinho e o poder de fazer
investigação cientifica e de instalar equipamentos (por exemplo, para a
instalação de equipamentos, nomeadamente de energia limpa (como torres
eólicas painéis solares ou de aproveitamento da energia das ondas) e até
criação de ilhas artificiais. Na zona económica exclusiva, os navios de
outros Estados têm o direito de passagem inofensiva e estão sujeitos à
jurisdição do Estado titular da respetiva ZEE. A plataforma continental,
que está fixada com o limite de 200 milhas náuticas (ocupando uma área de
cerca de 1,8 milhões de quilómetros quadrados), preparando-se atualmente
nas Nações Unidas a sua expansão até às 350 milhas náuticas (aprox. 580
Km), corresponde a uma zona contígua à costa geralmente de baixa
profundidade (até 200 m), que representa cerca de 10% dos mares, mas que
contém cerca de 90% das plantas e dos peixes dos mares, o que reflete a
sua riqueza e a sua importância ecológica e ambiental.
Bibliografia Geral
AA. VV.: A Execução dos Planos Directores Municipais, A.P.D.U., Coimbra, 1998
AA. VV.: A Tutela Jurídica do Meio Ambiente. Presente e Futuro, Coimbra, 2005
AA. VV.; Direito do Ambiente (coord. Freitas do Amaral e Marta Tavares), INA,
Oeiras, 1994.
AA.VV.: Direito do Urbanismo (coord. Freitas do Amaral), I.N.A., Oeiras, 1989
ALFONSO, L. P. / KRÄMER, L.: Derecho Medioambiental de la Unión Europea,
Madrid, 1996
ALIBRANDI / FERRI: I beni culturali e ambientali, 3.ª ed., Milano, 1995
ALPA, G. /BESSONE, M. /Francario, L.: Il privato e l’espropriazione, 5.ª ed., Milano,
2004
ALVES CORREIA, FERNANDO: As grandes linhas da recente reforma do direito do
urbanismo português. ISBN: 972-40-0745-6
ALVES CORREIA, FERNANDO: Estudos de direito do urbanismo. ISBN: 972-40-
1009-0
ALVES CORREIA, FERNANDO: O plano urbanístico e o princípio da igualdade.
ISBN: 972-40-0469-4
ALVES CORREIA: “As Formas de Pagamento da Indemnização na Expropriação por
Utilidade Pública”, Separata do BFDUC, Coimbra, 1991
ALVES CORREIA: “O contencioso dos Planos Municipais de Ordenamento do
Território”, in Revista Jurídica do Urbanismo e do Ambiente, n.º 1, 1994
ALVES CORREIA: “Problemas actuais do direito do urbanismo em Portugal”, in
CEDOUA, n.º 2, 1998.
ALVES CORREIA: As Garantias do Particular na Expropriação por Utilidade
Pública, Coimbra, 1982.
ALVES CORREIA; Manual de Direito do Urbanismo, vol. I, Coimbra, 2008
AMARAL DIOGO FREITAS DO et alii: Direito do ordenamento do território e
constituição. ISBN: 972-32-0818-0
ANTUNES NUNO SÉRGIO MARQUES: O direito de acção popular no contencioso
administrativo português. ISBN: 972-9495-67-X