Você está na página 1de 5

ROCHA & MACIEL

ADVOGADOS ASSOCIADOS

A FILOSOFIA GREGA: PLATÃO E ARISTÓTELES

Platão foi discípulo de Sócrates e viveu em Atenas. Revoltado com a


maneira como Sócrates fora tratado, Platão reconhece que aquela Pólis era
avessa aos ensinos da filosofia, optando por fazer suas reflexões em um lugar
afastado da cidade, a qual denomina de academia.
A teoria platônica parte do conceito de ideia (eidos), o qual está situado
em um plano inteligível, afastado da essência humana e pertencente aos
deuses. Ora, o bem supremo que governa o cosmos jamais poderá ser
atingindo pelo homem, por isso que cabe aos filósofos se aproximarem, através
da reflexão, das ideias somente acessíveis aos deuses. O papel da filosofia é
essencial para as elucubrações platônicas, de tal sorte que o autor opta por criar
um modelo de dever-ser, o que repercute na seara jurídica.
A compreensão do direito em Platão começa na distinção entre a justiça
divina – perfeita e imutável, governante dos cosmos e inescapável – e a justiça
humana – realizada pelos homens e vista como um caminho para o bem comum
da Pólis. O conceito de bem comum empregado por Platão envolve a unidade
da cidade-estado em um interesse comum que agrada aos deuses e envolve o
bem estar de todos.
O direito servirá para manutenção do bem comum e da justiça, na
medida em que proporciona a cada homem ser um elo na unidade do todo,
compartilhando os benefícios que todo indivíduo pode trazer à comunidade.
Como afirma Platão, a justiça agrada aos deuses, e a injustiça os desagrada;
mais que isso, a justiça é causa de bem para aquele que a pratica e, causa do
mal para aquele que a transgride.
A ética platônica envolve a formação da alma, por isso sua vinculação
direta com o conhecimento e a formação do homem grego. É o
desenvolvimento humano que permitirá a realização das virtudes, enquanto
habilidades ou conhecimento que tornam o homem apto à prática de

Prof. Me. Carlos André Maciel Pinheiro Pereira


ROCHA & MACIEL
ADVOGADOS ASSOCIADOS

determinada ação, afastando-se das suas paixões. Platão elenca quatro virtudes
principais: a temperança, a coragem, a justiça e a sabedoria. Platão dá à justiça
um sentido ético ao estabelecer que ela é a virtude suprema, harmonizadora
das demais. Em outras palavras, a justiça humana é um instrumento normativo
que possibilita a convivência e a ação conjunta dos homens.
A educação deveria ser realizada na academia, espécie de escola que o
autor denomina de paideia, na qual, através do ensino da arte, literatura e
atletismo, os homens desenvolvem suas aptidões, tornando-se capazes de
pensar nas questões terrenas, inclusive nas políticas, com rigor filosófico. Isto
dará uma nova conotação para o direito, que passa a ser pensado dentro de um
eixo moral ético.
Não obstante a concepção de um ensino público, este ficará restrito à
formação de guardiões, oriundos da elite, que poderão ser governantes, caso
tenham a sabedoria como virtude, ou guerreiros, se demonstrarem a virtude da
coragem. Os demais cidadãos deveriam se ocupar das atividades econômicas,
sendo eles os artesãos e os comerciantes, que têm a temperança como virtude.
Aí está a divisão da Pólis em três classes a partir das virtudes inatas. Os
filósofos governantes pensam a política, os guerreiros asseguram a justiça e a
paz e os demais cidadãos devem cumprir as leis sem questioná-las. Ainda, a
função desempenhada pelo grupo dos artesãos e comerciantes é vinculada a
sua própria existência – no momento em que são incapazes de exercer seu
ofício em benefício da Pólis, sua vida perde o sentido e deveria ser encerrada.
Para manter essa unidade – que mais parece uma uniformidade em
benefício do todo –, Platão elenca as leis como a ferramenta de controle social.
Pensadas pelos filósofos, as leis devem ser respeitadas por todos considerando
a sua legitimidade, tratada pelo filósofo como uma aceitabilidade racional do
postulado. Quando este item falha, entra em cena o medo da sanção, enquanto
punição inerente àqueles que se desviam do caminho da justiça.
Por seu turno, Aristóteles tem uma abordagem empírica do mundo,

Prof. Me. Carlos André Maciel Pinheiro Pereira


ROCHA & MACIEL
ADVOGADOS ASSOCIADOS

afastando-se por completo do idealismo de seu mestre, Platão. Isto reflete na


percepção da justiça e da ética, que passam a ser analisadas em uma
perspectiva científica: a ética é a ciência que permite definir o que é justo e o
que é injusto, influenciando diretamente no comportamento cotidiano do
homem.
Diferentemente de Platão, Aristóteles considera ser alcançável o bem
comum, servindo a ética como medida para pensar as questões políticas, para
quem compete definir as normas e seu conteúdo frente às demandas da Pólis.
Inclusive, caberá à cidade-estado proporcionar a necessidade humana de vida
satisfatória a partir da socialização do bem, harmonizando a essência do homem
frente à natureza – o bem do indivíduo afeta o bem da Pólis, que, por sua vez,
molda o bem do individuo, de maneira cíclica.
De acordo com Aristóteles, a justiça é uma virtude, e as virtudes são a
excelência alcançada pelo indivíduo a partir do desenvolvimento de suas
capacidades. A virtude da justiça é construída a partir da ética, na forma de um
comportamento, que pressupõe a prática de reiterados atos justos. A métrica
máxima de justiça total se confunde com a legalidade, que é o cumprimento
intransigente da lei – a qual constitui regras de convívio social de caráter
vinculativo a todos os membros da Pólis –, enquanto o oposto da justiça será a
injustiça – a qual ocorre por ausência de justiça ou por defeito na justiça
praticada.
A existência humana é direcionada à felicidade (eudaimonía), que
consiste em uma existência virtuosa, na qual se apreende um grau de equilíbrio
das virtudes e excelência ética, diferindo do mero prazer. Este último consiste
nas ilusões de felicidade que são obtidas em promessas de prazer. Existe, a
partir disso, um elo entre justiça, felicidade e ética, na forma da prática
reiterada dos atos justos e desenvolvimento humano, que permite alcançar uma
plenitude virtuosa.
Ao cabo, é possível discutir os diferentes tipos de justiça particular que

Prof. Me. Carlos André Maciel Pinheiro Pereira


ROCHA & MACIEL
ADVOGADOS ASSOCIADOS

são apresentadas em Aristóteles: a) justiça corretiva e justiça distributiva; b)


justiça formal e justiça substantiva; c) justiça política e justiça doméstica; d)
justiça legal e justiça natural; e) justiça e equidade.
A justiça corretiva é a exercida pelo juiz para corrigir as injustiças,
enquanto a justiça distributiva envolve a partilha dos bens sociais com esteio no
desempenho de cada homem (mérito). Já a justiça formal decorre da criação de
preceitos genéricos, pelo legislador, para balizar condutas humanas e, de outro
lado, a justiça substantiva emana da inserção da equidade como medida
norteadora da aplicação legal, pelo julgador, observando as singularidades de
um caso concreto.
Por seu turno, a justiça política é a organização do corpo cívico Pólis em
prol da autossuficiência comunitária, diferenciando-se da justiça doméstica, que
configura o exercício do poder familiar do Senhor com o escravo (poder
despótico), esposa (poder matiral) e filhos (poder paternal). Ao fim, a justiça
natural consiste nas regras que encontram aplicação, validade, força e aceitação
universais e que independem da vontade do legislador, o que é o oposto da
justiça legal, cuja origem advém do legislador, que cria as diretrizes normativas
que serão aplicadas na Pólis. A força da lei não é natural, mas sim produto das
convenções sociais.

Questões para reflexão:

1) Existe relevância da ética para o direito? Como esses dois campos interagem?
2) Há algum elo entre educação, desenvolvimento humano e a questão da justiça?
Se positivo, a educação é capaz de influenciar no direito?
3) Como a ética, o direito e a política podem se relacionar para concretizar um
bem comum para todos? A sua concepção de justiça prevê um bem comum?
4) Na sua opinião, existem diferentes tipos de justiça? Essa justiça se vincula a
alguma forma de felicidade?

Prof. Me. Carlos André Maciel Pinheiro Pereira


ROCHA & MACIEL
ADVOGADOS ASSOCIADOS

Questões para revisão:

1) No que consistem as virtudes cardeais de Platão? Existe algum vínculo entre


elas e a divisão de classes? Justifique sua resposta considerando o papel político
de cada entidade dentro da Pólis.
2) Qual o elo entre ética, virtude e justiça na teoria platônica? Existe vinculação
destes institutos com a concepção de uma educação pública?
3) Aristóteles considera que a ética e a política estão vinculadas a felicidade e ao
bem comum. Explique cada um dos institutos e como estão relacionados.
4) O que vem a ser justiça na teoria de Aristóteles? Explique os diferentes tipos de
justiça e injustiça que são trazidos pelo autor.

Prof. Me. Carlos André Maciel Pinheiro Pereira

Você também pode gostar