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2.

A FILOSOFIA E O DIREITO

A relação entre filosofia e direito é de extrema importância para a compreensão


e o desenvolvimento do sistema jurídico. A filosofia proporciona uma base teórica e
reflexiva para o direito, enquanto este último busca aplicar princípios e ideias filosóficas
na prática jurídica.

Em primeiro lugar, é necessário identificar as diversas acepções da palavra


"direito". No senso comum, o direito é entendido como um conjunto de normas que
regem o comportamento humano, estabelecendo obrigações e direitos. Contudo, a
filosofia do direito busca uma compreensão mais profunda, questionando sua origem,
fundamentos e finalidade.

Os campos temáticos da filosofia do direito abrangem diversas áreas, como a


ética, a política, a sociologia e a teoria do conhecimento. O filósofo jurídico questiona a
validade das normas, discute a justiça, analisa os fundamentos da autoridade e investiga
a relação entre o direito e outros aspectos da vida social.
A história da filosofia do direito pode ser dividida em períodos, cada um com
suas características e evolução. O primeiro período é o da filosofia clássica grega,
representado pelos pensadores Sócrates, Platão e Aristóteles, que estabeleceram as bases
da teoria da justiça.

Em seguida, temos o período medieval, com destaque para São Tomás de


Aquino, que buscou conciliar a fé cristã com a razão filosófica. Ele desenvolveu a teoria
da lei natural, que influenciou significativamente o pensamento jurídico até os dias
atuais.

No período moderno, o filósofo John Locke teve papel fundamental ao


defender a teoria do contrato social e a garantia dos direitos naturais dos indivíduos. Já
Immanuel Kant trouxe a noção de liberdade como um princípio essencial do direito.

No século XIX, surgiram diversas correntes jurídicas e filosóficas, como o


positivismo jurídico de Hans Kelsen, que defendia a separação entre direito e moral, e o
historicismo de Friedrich Carl von Savigny, que valorizava a história e a sociedade
como fundamentos do direito.

Já no século XX, destaca-se a escola do direito livre, representada por Gustav


Radbruch, que flexibiliza a rigidez do positivismo jurídico e admite a validade do
direito natural em casos extremos de injustiça.

Atualmente, a filosofia do direito enfrenta desafios complexos, como a


adaptação do direito à era digital, os dilemas éticos do avanço tecnológico e a busca por
uma maior inclusão social e justiça nas decisões jurídicas.

Em resumo, a filosofia do direito desempenha um papel fundamental na


compreensão e no desenvolvimento do sistema jurídico. Ela questiona os fundamentos e
princípios, analisa os dilemas éticos e busca soluções justas para a sociedade. A história
da filosofia do direito apresenta diferentes períodos e evoluções, desde a Grécia Antiga
até os desafios contemporâneos, demonstrando a importância dessa relação e suas
contribuições para o campo jurídico.

3. SÓCRATES:

É considerado o pai da Filosofia ocidental. Viveu entre cerca de 469 e 399 a.C.
e era conhecido como um homem sábio que morava em Atenas. Sócrates tinha
a convicção de que nada sabia — o que foi considerado um sinal extremo de sabedoria e
reconhecimento das próprias limitações, o que o levou à busca da verdade.

A concepção de Sócrates sobre a justiça é baseada no princípio de que a


verdadeira justiça está em agir de acordo com a virtude. Ele acreditava que a justiça era
a harmonia da alma, alcançada através da prática de virtudes como sabedoria, coragem,
temperança e justiça. Sócrates argumentava que agir de forma injusta seria prejudicial
para a alma e, portanto, a justiça era essencial para o bem-estar do indivíduo.

No que diz respeito à justiça e ao Direito, Sócrates acreditava que a lei era uma
expressão do conhecimento da justiça e, assim, deveria ser seguida. Ele defendia a
obediência às leis, mesmo que elas pudessem parecer injustas para o indivíduo, pois
considerava que era melhor sujeitar-se a uma decisão justa do que agir por conta
própria.

Sócrates valorizava a busca pela verdade e acreditava que o conhecimento era


essencial para alcançar a justiça. Ele defendia o método do diálogo e da argumentação
como uma maneira de chegar à verdade. Sócrates via o diálogo como uma ferramenta
para examinar as crenças e opiniões, levando a uma compreensão mais profunda e à
descoberta do que é verdadeiro e justo.

Para Sócrates, o papel do estado era promover a justiça e o bem comum. Ele
acreditava que a melhor forma de governo era aquele em que os governantes eram
sábios e justos, e que eles deveriam agir de acordo com o conhecimento da justiça.
Sócrates considerava que a lei, como expressão do conhecimento da justiça, era
essencial para guiar a sociedade e garantir a ordem e a harmonia. Ele defendia que o
estado deveria agir de acordo com as leis e promover a justiça em todas as suas ações.

Sócrates e os Sofistas
Sócrates negava os sofistas como filósofos, pois para ele os sofistas não se
apegavam às ideias, mas somente à retórica.

Para ele o justo deve estar associado ao que é legal, sendo justo o que está de
acordo com as leis da cidade.

Ideia Socrática de Justiça é respeito e obediência às leis. Pregava o amor ao


saber, devendo buscar o fundamento das ideias e dos conceitos.

Considera que o justo não é uma imposição de alguns contra os outros, nem da
maioria, nem do mais forte. Para ele, a democracia, só pelo simples ato de vontade da
maioria não faz a boa lei nem faz o justo. Ele buscava extrair a ideia do justo por meio
da razão.

Execução de Sócrates: https://www.conjur.com.br/2019-jan-26/diario-classe-dialogo-


criton-platao-arduo-combateativismo-judicial

“Sócrates, na cadeia, aguarda a execução da sentença condenatória. Enquanto


isso, Críton e outros amigos de Sócrates tentaram lhe persuadir para que ele fugisse.
Entretanto, Sócrates se manteve firme no seu proceder, afirmando que obedeceria às leis
e à cidade, mesmo discordando da justiça da decisão.

Críton faz uso de três argumentos para persuadir Sócrates a fugir da cadeia, a
saber:
➢ primeiro, Sócrates é um amigo sem igual para ele;
➢ segundo, a reputação de Críton será maculada, pois o povo comentará que este
tinha condições de providenciar a fuga de Sócrates, mas preferiu poupar seu
dinheiro em vez de salvar seu amigo;
➢ terceiro Sócrates tendo esposa e filhos para criar e, mesmo assim, escolhendo
cumprir a pena de morte quando poderia fugir, Sócrates opta por abandonar sua
família.

Contra o argumento de que a reputação dos seus amigos será maculada,


Sócrates diz que não é a toda opinião que se deve prestar atenção, mas somente à
opinião qualificada. Para demonstrar isso, cita o exemplo de um atleta e de seu técnico,
em que questiona se, para cuidar do corpo, o atleta deve obedecer ao técnico ou à
opinião da multidão.

A partir disso, faz uma analogia às leis e à cidade, pois elas representam a
opinião qualificada sobre a justiça (mesmo que, aparentemente, injustas) e, se é o corpo
do atleta que pagará pela desobediência às ordens do técnico, será a alma de Sócrates
que sofrerá os prejuízos do descumprimento das leis humanas no Hades.”

Platão – 428 – 347 a. C –

Era filósofo e matemático, escreveu muitos diálogos filosóficos e fundou uma


instituição de educação superior em Atenas, a Academia.
Seu pensamento teve importância não só na Grécia, mas influenciou a filosofia
de toda a Idade Média. Seus escritos se tornaram uma referência para os amigos do
conhecimento.

Platão prega a dialética (atrito de entendimentos para que, ao final, numa


espécie de salto, chegue-se à verdade. Deve-se compreender a essência para depois
aplicar a ideia na realidade.

Para ele o “direito injusto não é direito”. Ele não é um juspositivista que cuida
somente da lei, deixando de lado outras questões. Para ele foi o juspositivismo que
matou Sócrates.
Justiça de Platão é a justiça social: não há homem justo numa sociedade injusta,
porque a medida da justiça é social que deve se preocupar com a educação.
Pela educação é que há de se revelar o sábio, o filósofo. Esse é o homem justo,
e, portanto, é ele que deverá se tornar legislador. A medida do justo está na pólis.
Para ele a cidade é o espelho do homem, pois a cidade é uma reprodução
aumentada da alma humana. A virtude da justiça é encontrada numa cidade ideal e num
homem bom.

Para ele o justo é dar a cada um aquilo que é seu ou fazer cada um a sua parte
de acordo com a posição que o indivíduo ocupa na sociedade. Cada um deve exercer o
ofício para o qual possui aptidão. Ex.: os corajosos devem ser soldados; os sábios
devem ser filósofos.

Aristóteles:
Fechando a tríade dos principais pensadores da origem da Filosofia na
antiguidade está Aristóteles. Ele foi aluno de Platão e viveu entre 384 e 322 a.C. Em
seus escritos, ele tratou de muitas áreas do conhecimento: Física, Metafísica, Lógica,
Política e Ética, entre outras.
Sem dúvida foi um dos maiores estudiosos de todos os tempos. Era muito
interessado também por outros temas como Física, Música, Biologia, Zoologia e até
mesmo poesia e drama (artes cênicas). Foi contratado para ser tutor de um garoto de
13 anos que duas décadas depois tornou-se Alexandre, O Grande: o maior e mais
conhecido conquistador do mundo antigo.

Aristóteles concebia a justiça como uma virtude, a qual consistia em dar a cada
um aquilo que lhe é devido. De acordo com ele, a justiça é o fundamento do Direito e
deve ser a base das leis e instituições da sociedade.

Aristóteles distinguia dois tipos de justiça: a justiça distributiva e a justiça


corretiva. A justiça distributiva trata da distribuição equitativa dos bens, honras e
responsabilidades na sociedade, levando em consideração as diferenças pessoais. Já a
justiça corretiva visa corrigir as desigualdades e injustiças através de penas
proporcionais aos delitos cometidos.

Para Aristóteles, a busca pela verdade e a importância do diálogo são


fundamentais no campo jurídico. Ele acreditava que é através do diálogo que se chega a
uma decisão justa e que a verdade só pode ser alcançada através da discussão de
diferentes pontos de vista.

Na visão de Aristóteles, o estado e a lei desempenham um papel fundamental


na vida em sociedade. Ele acreditava que o estado tem como objetivo principal
promover o bem comum e garantir a justiça entre seus cidadãos. A lei, por sua vez, seria
a expressão concreta da justiça e do bem comum, servindo como um guia para a
conduta dos indivíduos.

As principais teorias aristotélicas da Filosofia do Direito incluem a teoria da


justiça como igualdade proporcional, que busca equilibrar as desigualdades na
sociedade; a teoria da justiça como equidade, que considera as particularidades de cada
caso; e a teoria da justiça como correção, que visa corrigir as injustiças cometidas. Além
disso, Aristóteles também desenvolveu a teoria dos regimes políticos, explorando a
relação entre a justiça, a lei e a organização política da cidade-estado.

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