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Esta singela seleção de artigos do Dr. Chinweizu


abarca reflexões práticas e críticas acerca do Pan-
Africanismo. Fortemente ancorado nos escritos e nos
feitos do Honorável Marcus Garvey, Chinweizu
propõe o Pan-Africanismo do Poder Preto atrelado ao
objetivo da criação urgente de um superestado –
uma superpotência central - na África Negra, assim
ele se opõe à unificação continental com os Árabes
do Norte da África e questiona os rumos do
intitulado Pan-Africanismo Continentalista. (2020)

Sobre o Autor:
Chinweizu é um estudioso afrocêntrico não
filiado institucionalmente, vive em Lagos, Nigéria.
Um historiador e crítico cultural, seus livros
incluem: The West and the Rest of Us (1975),(1987);
Invocations and Admonitions (1986); Decolonising the
African Mind (1987); Voices from Twentieth century
Africa (1988); Anatomy of Female Power (1990). Ele
também é co-autor de Towards the Decolonization of
African Literature (1980).
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Dr. CHINWEIZU - Seleção de Artigos:
O PAN-AFRICANISMO DO PODER NEGRO para
o século XXI

Sumário
- O Último Conselho de Nyerere para a África
Negra: Recuo do Pan-Africanismo Continentalista
para o Subsaariano ................................................ 4

- A Nação Africana? ........................................ 14

- Segurança Coletiva ....................................... 23

- Marcus Garvey e o Movimento do Poder Negro:


legados e lições para a África Negra contemporânea
............................................................................ 50

- Reparações e a Guerra Pan-Africana contra o


Genocídio ........................................................... 106

Fonte: artigos selecionados a partir do


Compilado de Ambakisye-Okang Dukuzumurenyi,
Ph.D.
Sugestões e dúvidas, contato no blog:
insurreicaocgpp.blogspot.com.br

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- O Último Conselho de Nyerere para a
África Negra: Recuo do Pan-Africanismo
Continentalista para o Subsaariano

Por Chinweizu (2009)

Opinião
Kwame Nkrumah era famoso por defender um
governo para todo o continente africano; pelo que ele
projetou como os Estados Unidos da África, e as
vezes chamado de Governo da União da África ou
União dos Estados Africanos. Seu slogan era "A
África deve unir-se". Essa foi sua posição pública até
sua morte em 1972.
No entanto, foi relatado por nada menos que
Amilcar Cabral que Nkrumah estava pensando em
modificar sua posição antes de morrer no exílio. É
significativo que, antes de morrer, Nkrumah tenha
dito a Cabral: "Cabral, digo uma coisa, nosso
problema da unidade africana é muito importante,
realmente, mas agora, se eu tivesse que começar de

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novo, minha abordagem seria diferente". (Cabral,
Return to the Source: 91)
Como não temos registro de mudanças reais na
abordagem de Nkrumah, devemos sustentar que sua
posição não modificada foi sua última posição sobre
o assunto. Então Nkrumah viveu e morreu como
continentalista; um defensor dos Estados Unidos da
África.
Com Nyerere é diferente. Há evidências em suas
próprias palavras de que ele era um continentalista
em 1963, assim como Nkrumah; e que, em 1997,
dois anos antes de sua morte, ele recuou em público
sua posição do pan-africanismo continentalista para
o pan-africanismo subsaariano.
1- 1963: Nyerere, lembrando-se em 1998, disse:
"Kwame e eu nos encontramos em 1963 e
discutimos a Unidade Africana. Discordamos sobre
como alcançar os Estados Unidos da África. Ainda
assim, nós dois concordamos com os Estados
Unidos da África, conforme necessário."—(Ikaweba
Bunting (1998) 'The Heart of Africa. Entrevista com
Julius Nyerere sobre o anticolonialismo 'citada em
"Unidade africana: sentindo-se com Nkrumah,
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pensando com Nyerere", Chambi Chachage (2009-04-
09))
2- Em seu discurso em que comemorava 75 anos
de idade em 1997, Nyerere enfatizou os seguintes
pontos:
A) "O Norte da África faz parte da Europa e do
Oriente Médio."
B) "A África ao sul do Saara está por sua própria
conta... A liderança africana, a futura liderança
africana, terá que ter isso em mente. Você estará por
sua conta..."
C) "Os pequenos países da África [sul do Saara]
devem [...] se unir... Se não podemos avançar em
direção a Estados-nação maiores, pelo menos vamos
avançar em direção a uma maior cooperação".
D) "A África ao sul do Saara está isolada.
Portanto, para se desenvolver, terá que depender
basicamente de seus próprios recursos. Recursos
internos, nacionalmente; e a África terá que
depender da África. A liderança do futuro terá que se
reinventar, tentar executar políticas de máxima
autossuficiência nacional e máxima autossuficiência

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coletiva. Eles não têm outra escolha. (Vocês não
têm)"
Nyerere deu um conselho de despedida de um
mais velho sábio, a África Negra deve se tornar
autossuficiente e seguir sozinha; não confiar nos
árabes ou europeus, americanos, japoneses,
indianos ou em qualquer outro povo, pois nenhum
deles tem interesse em ajudar o desenvolvimento da
África Negra. O fato de estarmos por nossa conta
significa que a África Negra deve se organizar por si
mesma.
Em outras palavras, devido à nossa situação
única e separada no mundo, os negros africanos
deveriam, de fato, se livrar do problema e da
confusão que Nkrumah criou 40 anos atrás, ao nos
juntar em um abraço aos árabes do Norte da África
em sua busca por unificação continental.
Uma implicação do conselho de Nyerere é que
nós, africanos negros, nos retiremos da UA (União
Africana) afro-árabe, do EU da África (Estados
Unidos da África), etc. e organizemos nosso próprio
aparelho coletivo, apenas para negros, para resolver
nossos problemas peculiares.
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Em 1963, Nyerere, assim como Nkrumah,
considerava todo o continente africano como uma
única unidade geopolítica, e os árabes do Norte da
África, juntamente com os negros no sul do Saara,
eram um único grupo constituinte.
Mas em 1997, Nyerere deixou claro que
considerava a África ao sul do Saara, a África Negra,
uma unidade geopolítica distinta, bastante separada
em sua identidade e destino do Norte Árabe da
África.
Nesse discurso de 1997, Nyerere enfatizou
repetidamente que estava falando sobre a África ao
sul do Saara, e não de todo o continente. E sua
razão para considerar os Árabes do Norte da África
como um povo à parte, um povo com uma
identidade e destino diferentes é a seguinte:
"O norte da África está para a Europa o que o
México está para os Estados Unidos. Os norte-
africanos que não têm emprego não irão para a
Nigéria; eles estarão pensando na Europa ou no
Oriente Médio, por causa dos imperativos da
geografia e da história, da religião e da linguagem. O

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Norte da África faz parte da Europa e do Oriente
Médio ".
Podemos nos perguntar, o que o levou a mudar
de opinião? Sua razão, como declarada em 1997, é
puramente geopolítica e baseada nas prováveis
realidades do século XXI. Não tem nada a ver com o
fato de os árabes amarem ou odiarem os negros;
nada a ver com as relações históricas passadas entre
árabes e negros africanos. Assim, mesmo aqueles
que pensam que os árabes são nossos "irmãos" e
melhores amigos, precisam considerar a posição
final de Nyerere sobre a questão da unidade ou
aliança afro-árabe.
Mesmo que eles sejam nossos "irmãos" e
melhores amigos, é do nosso interesse geopolítico
evidente não nos apegarmos a eles no século XXI.
Sua história, suas circunstâncias, suas aspirações e
seu destino são diferentes dos nossos.
É significativo que o argumento de Nyerere para
cuidarmos separadamente de nossos próprios
negócios não se baseie na história de nossas
relações com os árabes. Alguns negros africanos
acham que, devido à aliança anti-imperialista afro-
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árabe da segunda metade do século XX, uma aliança
pela qual os árabes deram ajuda à África Negra
durante as lutas de libertação, devemos, em
gratidão, tratar os árabes como parte de nós
mesmos, ou pelo menos como nossos amigos e
aliados permanentes.
Nyerere sabia mais sobre a ajuda árabe do que
qualquer outra pessoa, desde que coordenou essa
ajuda em seu cargo de presidente do Comitê de
Libertação da OUA.
Mas, apesar de tudo isso, Nyerere está indicando
que nosso interesse no século XXI exige que
desistamos da ideia de confiar ou nos identificar
com os árabes. Não devemos reconhecer amigos
permanentes nem inimigos permanentes, apenas
nossos interesses permanentes. Nyerere insistiu que
nosso interesse no século XXI é distinto do interesse
dos árabes do norte da África.
Devemos aceitar esse fato, tirar as conclusões
necessárias e agir sobre elas. Qualquer que seja a
ajuda que os árabes deram às lutas anticoloniais na
África Negra, não é necessário ignorar a realidade da
divergência de interesses no século XXI.
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Nyerere está apontando um aspecto essencial de
nossa realidade que deve ser o alicerce de nosso
comportamento: Existe o tempo de estarmos por
nossa própria conta. E esse tempo para a África
Negra é o século XXI.
Somos abençoados com o fato de Nyerere ter
vivido o suficiente e ter falado seu pensamento final,
para que não precisemos especular sobre onde ele
teria chegado nessa questão.
Com a sabedoria da experiência e no final de
uma longa vida, ele chegou à conclusão de que
devemos seguir nosso próprio caminho e com
autoconfiança. E acho que é isso que devemos fazer
se estivermos sãos.

Mas será provável que Nyerere seja atendido?


Certamente não pelos malucos negros (nigger
crazies), cujo complexo de inferioridade os torna
patologicamente aterrorizados com as associações
apenas de negros. Para entender como é improvável
que os nkrumahistas e outros continentalistas
aceitem o conselho de Nyerere, precisamos apreciar
o desejo psicológico que o continentalismo satisfaz.
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O continentalismo é a contraparte política do
integracionismo social, e ambos pertencem ao
mesmo complexo de patologias que o clareamento e
alisamento de pele: todas são tentativas
desesperadas de abandonar a agora raça negra
impotente e se juntar à agora mais poderosa raça
branca.
Os continentalistas, como todos os
integracionistas compulsivos, são vítimas
psicológicas do dogma da supremacia branca de que
os negros não podem conseguir nada sem a
orientação dos brancos. Como Amos Wilson
explicou, eles foram intimidados pela história
eurocêntrica; pelas realizações infladas da Europa.
Toda essa conversa sobre as grandes realizações
dos europeus, da grande raça branca, os intimidou.
E eles inconscientemente dizem para si mesmos: "Ei,
é melhor ficarmos com essas pessoas brancas
porque, se as perdermos, voltaremos à barbárie e ao
primitivismo. Os negros não se estabelecem por
conta própria!"

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Inconscientemente, eles são levados a procurar
companhia branca e a temer e fugir de qualquer
grupo apenas de negros.
Sem autoconfiança e sem confiança na raça
negra, estão patologicamente agarrando qualquer
palha branca para não se afogarem.
Se os europeus não estão disponíveis, eles
buscam a próxima melhor coisa: os árabes brancos.
Daí a ânsia pelo continentalismo. O subconsciente
negrofóbico deles está insistentemente dizendo a
eles: "Sem brancos, não podemos cuidar de nossos
próprios negócios. Não podemos ficar sozinhos e
nem seguir por nós mesmos. Nós vamos estragar
tudo.”
Essa é a mensagem negrofóbica que eles
recebem do subconsciente niggerizado; a mensagem
que os leva a se agarrar desesperadamente aos
brancos. Essa é a mentalidade que impedirá os
continentalistas de seguir os conselhos de Nyerere
sobre a autodeterminação dos negros africanos.

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- A Nação Africana?
A raça negra será exterminada se não construir
uma superpotência negra na África até o final deste
século
Por Chinweizu (2009)

Existe uma nação africana? Cadê? Existem


nações africanas? Se sim, onde estão?
Eu afirmo que a nação africana não existe e
nunca existiu. Existe a raça africana, no entanto,
não é uma nação. Existem muitas nações africanas,
porém são essas que aprendemos a difamar
chamando-as de tribos. Essas chamadas tribos eram
as verdadeiras nações da África pré-colonial. O que
hoje em dia se chama de nações africanas, não são
nações; cada uma é apenas um país sob a jurisdição
de um Estado. Está na moda chamá-los de Estados-
nação, mas isso é, na melhor das hipóteses, uma
cortesia.
Por que é importante determinar se a África
Negra é ou não uma nação? Fingir que a África
Negra é uma nação quando não é seria tão ilusório

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quanto se apoiar em uma bengala sem perceber que
é feita de gelo. Quando as coisas esquentam, o gelo
se derrete e você se apoia no ar. Como alternativa, se
um construtor não possui blocos de cimento e,
desesperado, decide chamar montes de areia da
praia pelo nome de blocos de cimento, ele logo
descobrirá que não pode seguir o curso dos montes
de areia como se fosse um bloco de verdade. Por
falta dos fatores que fazem a população se unir a
uma nação, a nação africana, sendo uma pseudo-
nação, se desintegraria sob pressão, como um
pedaço de gelo no clima quente. Por exemplo,
suponha que você tivesse um exército da chamada
nação africana. E metade do seu exército fosse de
muçulmanos negros, cada um dos quais disse em
seu coração: “Sou muçulmano e adoro Alá e sigo o
caminho do Profeta Muhammad (que a paz esteja
com ele). Eu não tenho nenhum relacionamento com
você, exceto que sua pele é preta. O árabe mais claro
está mais perto de mim do que você. Se houvesse
guerra entre muçulmanos de qualquer tom de cor e
o mais negro dos negros, estarei do lado dos
muçulmanos.” Se um exército negro africano está
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cheio dessas pessoas, que chance tem de defender a
África Negra dos árabes? Tal é o perigo da moda de
fingir que existe uma nação africana quando, de
fato, ela ainda não existe. Todos nós devemos levar a
sério o aviso de Nyerere: "Não faz parte da
transformação do sonho em realidade fingir que as
coisas não são o que são." – [Nyerere, “Dilemma of
the PanAfricanist”,‖ in Langley ed., Ideologies, .p.
347]
Agora voltando à pergunta: a África é uma
nação? Ao tentar responder a essa pergunta
cientificamente, e não sentimentalmente, seríamos
ajudados partindo das seguintes afirmações de três
disciplinas diferentes: antropologia cultural,
historiografia e biologia.
Vamos primeiro para a antropologia cultural
através de Cheikh Anta Diop:
“A identidade cultural de um povo [está]
centrada em três componentes: linguísticos,
históricos e psíquicos”. [Diop, em Great African
Thinkers, p.268].
Ainda segundo Diop, o fator psíquico é o domínio
de poetas, cantores, contadores de histórias.
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Observe o exemplo dos irmãos Grimm que,
colecionando contos populares alemães em seus
contos de fadas de Grimm, lançaram as bases
psíquicas da identidade nacional alemã; também
observe o papel do épico Kalevala na promoção da
identidade nacional na Finlândia; também o papel
do épico de Mahabharata na promoção da
consciência nacional indiana e o papel da lenda de
William Tell na identidade nacional da Suíça. Da
mesma forma, o Antigo Testamento tem sido uma
âncora indispensável para a identidade judaica; para
os japoneses, o Nihon gi ou Crônicas do Japão, que
foi compilado em 720 dC e o Kojiki ou Registros de
Assuntos Antigos, que foi compilado em 712 dC,
com suas coleções de mitos, lendas, relatos
históricos, canções, costumes, adivinhações e
práticas mágicas do Japão antigo, forneceram a base
psíquica da identidade nacional japonesa.
Em seguida, vamos para a historiografia de
Jacques Barzun:
“Do que consiste uma nação? Grande parte da
resposta a essa pergunta é: memórias históricas
comuns;... uma linguagem comum, um núcleo de
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memórias históricas com heróis e vilões;... uma
nação é forjada em unidade por sucessivas guerras e
pela passagem do tempo... É preciso uma guerra
nacional para unir as partes, dando a indivíduos e
grupos memórias de uma luta em comum.
Desnecessário acrescentar que o nacionalismo só
pode surgir quando uma nação nesse sentido pleno
surgir.” [Jacques Barzun, Dawn to Decadence, pp.
775, 776, 695, 435]
Finalmente, vamos para a etologia, a ciência
biológica do comportamento animal, através de
Robert Ardrey:
“Uma nação biológica é um grupo social... que
possui uma área contínua de espaço como
propriedade exclusiva, que se isola de outras do seu
tipo por meio de antagonismos externos e que,
através da defesa conjunta de seu território social,
alcança liderança, cooperação e capacidade para
ação combinada. Não importa muito se essa nação é
composta por 25 indivíduos ou 250 milhões. Não
importa muito se estamos considerando o verdadeiro
lêmure, o macaco uivante, o anu-de-bico-fino, a
cidade-estado grega ou os Estados Unidos da
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América. O princípio social permanece o mesmo.”
[Robert Ardrey, The Territorial Imperative, pp. 210-
211]
O que Diop, Robert Ardrey e Jacques Barzun
juntos nos dizem é que uma nação é formada por
linguagem compartilhada, memória histórica de
lutas realizadas em conjunto e um corpo
compartilhado de mitos, lendas, épicos, músicas
etc., e demonstra sua nacionalidade por
antagonismo externo e defesa de seu território
comum.
Não é preciso muita reflexão para entender o fato
de que, por esses critérios, ainda não existe uma
nação africana, e nunca houve. A nação africana,
embora falada em alguns círculos pan-africanistas,
permanece apenas uma aspiração. As línguas são
diversas; não existe um corpo compartilhado de
mitos, lendas, épicos, músicas etc; e a consciência
histórica nunca foi fomentada.
Sem surpresa, não nos comportamos como uma
nação. Não defendemos nosso território conjunto. Se
já existisse uma nação africana hoje, ela teria
manifestado sua nacionalidade ao defender
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coletivamente as partes do território negro africano
comum que estão sendo atacadas pelos árabes no
último meio século, como na Mauritânia e no Sudão.
Em particular, um exército totalmente negro-
africano teria ido defender o povo de Darfur do
ataque árabe desde que a limpeza étnica começou lá.
Mas o resto da África Negra deixou os mauritanos e
os afro-sudaneses à sua sorte, como se fossem
estrangeiros, e tal fatalidade não nos interessou.
O teste comportamental da defesa territorial à
parte, o contraste entre Índia, China, Arábia, por um
lado, e a África negra, por outro, deve destacar o fato
de que a África não é e nunca foi uma nação. A Índia
estava politicamente unificada no século IV aC e
compartilhava uma cultura comum há séculos,
mesmo antes disso; A China foi politicamente
unificada no século III aC e desde então tem
compartilhado uma história e cultura comuns. Os
árabes se tornaram uma nação através de Maomé
quando finalmente, e pela primeira vez,
compartilharam a mesma religião e liderança
política, e depois se dispersaram, numa explosão de
agressão imperial, da península Arábica e se
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espalharam para ocupar as terras do Golfo Pérsico
para o oeste até a costa atlântica de Marrocos.
Assim, os árabes se tornaram uma nação há 14
séculos e compartilham uma consciência histórica
comum desde então. Por outro lado, foi apenas no
século XX, com a conquista e colonização europeia
de toda a África, que os negros africanos começaram
a pensar em si mesmos como uma nação. E eles
ainda precisam estar unidos política e
culturalmente, sem falar na religião.
Cada um desses países negros africanos de hoje
não é uma nação, mas um núcleo inicial (noyau), ou
seja, "uma coleção de indivíduos mantidos juntos
por animosidade mútua, que não poderiam
sobreviver se não tivessem amigos para odiar".
Todos os países da África Negra de hoje são
povoados por pessoas de muitas nações pré-
coloniais e são como um campo de refugiados no
qual as populações de muitas nações genuínas
foram reunidas à força.
O que seria necessário para se tornar nações
esses campos de concentração coloniais que os
europeus construíram no final do século XIX
21
durante sua luta para conquistar a África? E o que
seria necessário para transformar a raça africana em
uma nação? Lições podem ser aprendidas com os
Ashanti, os Zulus, a Índia, a China. Uma luta
compartilhada contra nossos inimigos árabes seria
um bom começo para uma consciência histórica
comum.
Mas seria muito útil tentar transformar a África
Negra em uma nação tardiamente? Acho que não. As
tarefas diante de nós neste século XXI podem ser
realizadas sem que a África Negra se torne uma
nação. Promover a união negra africana através de
vários métodos é mais viável e desejável. Seria muito
mais fácil transformar a SADC (Comunidade de
Desenvolvimento da África Austral) e a CEDEAO
(Comunidade Econômica dos Estados da África
Ocidental) em nações, em superpotências modernas,
do que começar a fazer o que a Índia e a China
fizeram há três milênios por conquista.

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- Segurança Coletiva
Por Chinweizu (2009)

É absolutamente surpreendente, bastante


trágico e um grande pecado de omissão, que a
segurança coletiva não tenha sido explicitamente o
objetivo primordial do pan-africanismo desde 1958.
Para um povo cujos problemas nos últimos 2500
anos (desde a queda dos Faraós do Egito Negro para
os persas brancos em 525 aC) resultaram de sua
incapacidade de proteger suas fronteiras e garantir
suas terras, populações, sociedades, culturas,
valores, etc., alcançar a segurança coletiva deveria
ter sido e ainda deve ser a principal preocupação.
Além da repetida demanda de Nkrumah por um Alto
Comando Africano; e da menção de Azikiwe, em
1962, sobre a necessidade de alguns arranjos para a
segurança coletiva; e a menção de Haile Selassie a
essa necessidade em seu discurso de 1963 na
inauguração da OUA, não encontrei nos registros
nenhum outro tratamento que tenha relação com o
assunto. Nkrumah, Azikiwe e Selassie realmente

23
levantaram a questão da segurança coletiva; no
entanto, eles fizeram isso de uma forma a-histórica,
a forma errada.
A questão do "nunca mais"
Considere um homem que acabou de escapar,
meio ferido, da toca de um bando de leões famintos.
Se ele é sábio, sua primeira ordem de negócios é
fazer votos de “nunca mais!” e se perguntar como ele
escapou dali em primeiro lugar, e depois tomar
medidas para nunca mais cometer aquele erro. Se
ele não fizer isso, se não aprender com sua
experiência angustiante, ele é estúpido e merece se
tornar o jantar para o próximo leão que aparecer em
seu caminho. Ao não se perguntar e responder que
“nunca mais”, a geração de “independência” da
África Negra decepcionou a África Negra e nos
desviou.
Infelizmente, como a geração de "independência"
não possuía a orientação sankofa ancestral, a
questão da segurança coletiva não foi colocada na
forma histórica correta, pois a nossa experiência
passada permitiria apontar uma resposta para o
futuro.
24
O Alto Comando Africano que Nkrumah incitou
não foi suficientemente longe para resolver o
problema fundamental. Estava limitado a "um Alto
Comando Africano que poderia resistir... a atos que
ameaçavam a integridade territorial e a soberania
dos Estados africanos". [Revolutionary Path, p.345];
planejaria “uma guerra revolucionária e iniciaria
uma ação” para que a África fosse libertada em
breve. [Revolutionary Path, p.482]. Não era uma
doutrina que colocava ou respondia à abrangente
questão histórica de como caímos em uma história
de escravização, conquista e colonialismo em
primeiro lugar, e como poderíamos garantir que
nunca mais se repetisse.
Unidade para segurança e sobrevivência
Desde 1958, o pan-africanismo tornou a unidade
africana seu principal projeto. Agora, o motivo usual
para a unificação voluntária dos estados é
segurança e sobrevivência. No entanto, o pan-
africanismo tem sido estranhamente obtuso sobre a
questão da segurança e sobrevivência para seu
público. Não encontro Nkrumah, Padmore, Diop,
Azikiwe e os demais defensores da unificação
25
continental em nenhum lugar articulando [e devo
ser corrigido] o argumento de que o objetivo
primordial da unificação continental é a
sobrevivência e a segurança dos africanos. Se eles
fizessem, pensassem bem no assunto e se
preocupassem em educarem-se sobre a natureza das
relações históricas afro-árabes dos últimos dois
milênios, eles seriam simplesmente suicidas ou
insanos por terem proposto uma unificação de
árabes e africanos sob um Continente-Estado.
Nem mesmo Nkrumah, para quem a unificação
parece uma panaceia, [observe seu longo catálogo de
benefícios que ele disse que traria], considerou
adequado incluir segurança e sobrevivência,
explícita ou implícita, entre suas razões para
advogar a unificação continental. À luz das ambições
árabes articuladas e demonstradas na África nos
últimos 1.500 anos, qualquer unificação de negros
africanos com os colonos árabes colonizadores na
África seria tão suicida para os negros como uma
unificação entre ratos e gatos seria para ratos.
Nossa situação perigosa
Considere esta verdadeira história do Sudão:
26
"A disputa pelo petróleo", Victoria Ajang começa,
”tornou-se uma questão de vida ou morte para mim
em 1983. Naquele ano, o governo iniciou seu
programa para canalizar petróleo de nossas terras
no sul até o norte. Os estudantes da minha cidade
ficaram bastante chateados com o fato de nossos
recursos serem desviados pelo governo e, portanto,
realizaram uma marcha de protesto do lado de fora
da escola local. Mas o governo não toleraria isso.
"Numa noite de verão, as forças da milícia do
governo subitamente invadiram nossa vila.
Estávamos em casa relaxando, à noite, quando
homens a cavalo com metralhadoras invadiram,
atirando em todos. Vi amigos caírem mortos na
minha frente. Enquanto meu marido cuidava de
nossa filha Eva, eu corria com os poucos bens que
podia carregar. Ao nosso redor, vimos crianças
sendo [atingidas] no estômago, na perna, entre os
olhos. Contra o céu escuro, vimos as chamas das
casas que os soldados haviam incendiado. Os gritos
das pessoas presas dentro das casas encheram
nossos ouvidos enquanto queimavam até a morte.
Nosso povo estava sendo transformado em cinzas”.
27
A história de Victoria Ajang sobre o que
aconteceu com sua vila ilustra os perigos que eles se
expõem a quem não toma medidas para garantir sua
segurança. Eles estarão relaxando e se divertindo
quando seus inimigos fizerem um ataque surpresa e
os destruírem. Essa é a situação em que os negros
africanos se permitem viver a 2500 anos e se
recusam a tomar medidas para impedir isso.
Uma pergunta não feita
Duas perguntas vitais deveriam ter sido feitas e
respondidas em 1958 pela Conferência de Todos os
Povos Africanos (All-African People‘s Conference), a
saber: (a) "Como libertaremos o restante da África
Negra do colonialismo?". (Felizmente, isso foi
realmente perguntado e respondido) e (b) "Como
garantir que nunca mais seremos escravizados,
conquistados e colonizados por alguém?" (Isso,
infelizmente, não foi questionado e permanece sem
questionamento e sem resposta até hoje). Em vez de
assumir a segunda tarefa, fomos desviados para
outras coisas. Nas próprias palavras de Nkrumah:
“Antes de 1957, deixei claro que as duas
principais tarefas a serem empreendidas após o fim
28
do domínio colonial em Gana seriam o processo
vigoroso de uma política pan-africana para promover
a Revolução Africana e, ao mesmo tempo, a adoção
de medidas para construir o socialismo em Gana".
[Path, p.125]
No desejo de estabelecer uma nova ordem social
- aparentemente sem se preocupar em como se
protegeria de nossos inimigos - Nkrumah começou a
construir o "socialismo científico" em Gana; Nyerere
começou a construir o socialismo africano (Ujamaa)
na Tanzânia; Kaunda começou a construir o
humanismo africano na Zâmbia; Houphouet Boigny
começou a construir o capitalismo na Costa do
Marfim; e outros começaram a construir outros
sistemas nos outros países, mas ninguém achou
oportuno fazer a pergunta primordial da segurança
coletiva africana, a saber: "Como garantir que nunca
mais seremos escravizados, conquistados e
colonizados por alguém?" Essa pergunta deveria ser
formulada por qualquer nova ordem social que eles
se propusessem a construir, mas não o fizeram.
Qual é o resultado hoje?

29
Consequências da falta de foco histórico na
segurança coletiva
Vários erros muito caros resultaram dessa nossa
falta de atenção adequada [sankofa] à nossa
segurança coletiva.
A] Nossa busca pela unidade africana foi
equivocada em três aspectos:
A1] Procuramos unir um território - todo o
continente africano - que é grande demais para
nossas necessidades de segurança.
A2] Ao não descobrir quem são nossos inimigos
históricos, incluímos nossos inimigos árabes entre
aqueles com os quais buscamos nos unir;
A3] Ao não entender nossos requisitos de
segurança, falhamos em realizar seriamente a
industrialização.
B] Mesmo que ainda reconheçamos que eles
foram nossos inimigos históricos durante os séculos
do comércio de escravos e do colonialismo, falhamos
em perceber que os europeus não deixaram de ser
nossos inimigos com o fim do colonialismo político
[1957-1994]. Em nossa amnésia e tolice, tratamos
nossos inimigos europeus brancos históricos como
30
nossos melhores amigos, como nossos mentores em
desenvolvimento e agora como nossos chamados
"parceiros de desenvolvimento"; e tratamos nossos
inimigos árabes históricos como nossos irmãos e
aliados africanos e, assim, nos deixamos totalmente
despreparados para seus ataques inimigos, por
exemplo:
B1] A explosão da AIDS na África Negra pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelos EUA
nos pegou totalmente de surpresa;
B2] Por 50 anos, permitimos que as instituições
imperialistas europeias - a ONU, a OMC, e
especialmente a troika FMI - Banco Mundial -
Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT em
inglês), e nossos “ex-colonizadores” europeus nos
ensinassem e nos orientassem para o mau
desenvolvimento e a pobreza crônica.
B3] Por 50 anos, falhamos em reconhecer e
resistir coletivamente ao expansionismo colonialista
árabe e ao racismo contra os africanos negros, bem
como à escravização persistente dos africanos
negros pelos árabes.

31
Por 50 anos, por falta de um interesse explícito e
apropriado em nossa segurança coletiva, deixamos
de atender ao princípio estratégico fundamental:
Conheça o seu inimigo e a si mesmo, e em cem
batalhas você nunca será derrotado. [-Sun Tzu]
Se tivéssemos procurado conhecer nossos
inimigos brancos, o que teríamos aprendido com
nossos próprios sábios que já os haviam estudado?
Teríamos aprendido o seguinte:
"A atitude da raça branca é subjugar, explorar e,
se necessário, exterminar os povos mais fracos com
quem eles entram em contato." (Marcus Garvey)
“No relacionamento com a raça negra, os
europeus são psicopatas.” (Bobby Wright)
“Mulheres e homens negros, quando vocês
deixarão de se desviarem pelo caminho que leva ao
extermínio da raça negra?” (Azikiwe)
Durante 50 anos, devido à nossa falta de foco em
nossa segurança coletiva, pagamos um alto preço
com a AIDS, não apenas os milhões que morreram
com ela, mas também as consequências
multigeracionais das deslocações sociais causadas

32
pela morte de pais e o abandono de milhões de
bebês como órfãos da AIDS.
Por 50 anos, devido à nossa falta de foco em
nossa segurança coletiva, também pagamos um alto
preço pela guerra econômica travada sobre nós pelas
potências europeias que nos colocaram em sua
armadilha da dívida e nos empobreceram.
Por 50 anos, devido à nossa falta de foco em
nossa segurança coletiva, também pagamos um
preço muito alto nos milhões de mortos ou
escravizados pelos árabes e nas terras que eles
apreenderam dos negros africanos.
"Moralidade pacifista" e nossa falta de
consciência em segurança?
Devemos observar que não foram apenas os
líderes que deixaram de fazer a pergunta vital sobre
nossa segurança coletiva; toda a geração de
"independência" parece ter falhado em fazê-la. Eles
não suspeitavam dos mestres coloniais que haviam
escravizado, conquistado e explorado a África Negra
por séculos; e até agora não suspeitamos dos
europeus e dos árabes, e é por isso que damos às
ONGs acesso descontrolado às nossas aldeias, sem
33
monitorá-las rigorosamente para garantir que não
subvertam nossa sociedade ou cultura. Quando um
comportamento é desenfreado em uma sociedade, é
útil procurar uma explicação na cultura. Eu acho
que essa falta suicida de consciência em segurança
está arraigada em nossa cultura.
Cheikh Anta Diop, em sua teoria dos dois
berços, lista a "moral pacifista" como um dos traços
das culturas do berço do sul das quais a África
Negra faz parte.
Nkrumah, ao elogiar a Personalidade Africana,
disse: “Temos presentes de riso e alegria, amor pela
música, falta de malícia, ausência de desejo de
vingança por nossos erros, coisas de valor intrínseco
em um mundo doente de injustiça, vingança, medo e
ânsia.” — [Revolutionary Path, p.114]
Esses traços da personalidade africana não são
uma virtude no mundo como ele é. O mundo exige
uma "moral guerreira", não uma "moral pacifista".
Foi Steve Biko quem observou e, corretamente,
pensou que "não somos uma raça que suspeita".
Alguns podem pensar que essa característica é
uma virtude, mas não é. Pode ser uma virtude na
34
"moral pacifista", mas é um vício na "moral dos
guerreiros". E o mundo em que vivemos exige "moral
dos guerreiros".
Para ilustrar a mentalidade de guerreiro que nos
falta, aqui está uma história de Meiji Japão:
Em um hospital japonês, o último paciente da
noite, um menino com menos de quatro anos, é
recebido por enfermeiros e cirurgiões com sorrisos e
lisonjas gentis, às quais ele não responde de
maneira alguma... Ele está com medo e com raiva -
especialmente com raiva - por se encontrar em um
hospital hoje à noite: alguma pessoa indiscreta
garantiu que ele estava sendo levado ao teatro; e ele
cantou de alegria no caminho, esquecendo a dor do
braço; e isto não é o teatro! Existem médicos aqui -
médicos que machucam pessoas. . . Ele deixa-se
despir e faz o exame sem estremecer; mas quando
lhe dizem que ele deve se deitar sobre uma mesa
baixa, sob uma lâmpada elétrica, ele pronuncia um
enfático "Não!"... A experiência herdada de seus
ancestrais assegurou-lhe que deitar na presença de
um possível inimigo não é bom; e pela mesma
sabedoria fantasmagórica ele adivinhou que o
35
sorriso do cirurgião tinha a intenção de enganar...
“Mas será tão agradável em cima da mesa!” Observa
persuasivamente uma jovem enfermeira; “Veja o
lindo tecido vermelho!” “Não!” Repete o garotinho -
ainda mais cauteloso com esse apelo ao sentimento
estético... Então eles colocaram as mãos sobre ele -
dois cirurgiões e duas enfermeiras - o levantaram
habilmente, levaram-no à mesa com o pano
vermelho. Então ele grita seu pequeno grito de
guerra - pois ele tem um bom estoque de luta - e,
para o espanto geral, luta com mais coragem, apesar
do braço quebrado. Mas eis que um pano branco
molhado desce sobre seus olhos e boca, e ele não
pode chorar, e há um cheiro doce e estranho em
suas narinas, e as vozes e as luzes flutuam muito,
muito longe, e ele está afundando, afundando,
afundando na escuridão ondulada... Os membros
leves relaxam; por um momento o peito se agita
rapidamente, na última luta dos pulmões contra o
anestésico paralisante: então todo movimento para...
(De Lafcadio Hearn, Writings from Japan,
editado por Francis King, Harmondsworth: Pengiun,
1984, p. 164)
36
O povo da geração "independência" não teve a
suspeita que foi exibida por aquele menino japonês!
Nem a adquirimos até hoje.
Nossa tragédia
Por que digo que é trágico não termos tornado a
segurança coletiva nossa principal preocupação? Se
tivéssemos feito da segurança coletiva nossa
preocupação primordial, isso teria nos forçado a
responder corretamente à pergunta: unidade para
quem? Teríamos investigado para determinar
aqueles inimigos dos quais precisamos nos proteger;
e isso nos obrigaria a examinar a história de nossas
relações com os árabes e com os europeus. E, tendo
verificado que os árabes são nossos inimigos
mortais, não teríamos buscado a união continental
com eles. Essa é uma maneira pela qual nossa falta
de clareza sobre a questão de quem são nossos
inimigos históricos nos custou caro.
Basta considerar a longa guerra no Sudão entre
os árabes negros que estão entrincheirados no poder
em Cartum e os africanos negros do sul do Sudão. A
África Negra teria se mobilizado e vencido a guerra
há muito tempo se tivéssemos uma doutrina e um
37
órgão de segurança coletiva. Nesse caso, o genocídio
em Darfur não teria surgido. Da mesma forma, a
escravização dos negros africanos na Mauritânia
pelos árabes brancos teria terminado com a
intervenção coletiva da África Negra. Além disso, a
atual campanha árabe para apreender um cinturão
das fronteiras do Sahelian que se estende do Senegal
ao Mar Vermelho teria sido verificada. O mesmo
acontece com a ambição árabe de apreender toda a
bacia do Nilo, até o sul de Kampala.
Essa falta de definição de quem são nossos
inimigos coletivos também nos impediu de estar em
guarda contra os europeus. Muitos de nós nem
sequer reconhecem que os europeus sejam nossos
inimigos, apesar de terem nos escravizado,
colonizado e explorado por muitos séculos. Como
não estamos em guarda contra eles, permitimos que
eles entrem e saiam sem vigilância em nossos
países, e foi assim que eles entraram e nos infligiram
a AIDS usando vacinas infectadas pela AIDS para
vacinar 97 milhões de negros africanos em uma
suposta campanha para erradicar varíola.
Então o que fazemos agora?
38
Eliminar traços de moralidade pacifista
Como Cabral nos ensinou, precisamos lutar
contra nossas próprias fraquezas. Como indiquei,
uma das nossas fraquezas é a nossa moral pacifista.
Manifesta-se em nossa falta de suspeição, com
nossa falta de malícia, com uma ausência do desejo
de vingança por nossos erros, especialmente erros
recebidos pelas mãos dos brancos.
Diop apontou que a função mais essencial que
uma cultura deve servir é a sobrevivência [Great
African Thinkers, p. 244] Como vimos, a moral
pacifista de nossa cultura tem sido pouco adaptativa
e nos expôs a muitos perigos letais. Precisamos
reparar nossa cultura. Precisamos desenvolver uma
nova cultura africana que reduza a mentalidade
pacifista e inculque uma mentalidade de guerreiro
em todas as crianças desde os quatro anos de idade.
Mas essa mudança pode ser efetuada? Sim, pode.
Basta considerar o que Shaka fez, em apenas dez
anos, com suas reformas. De fato, em apenas um
dia assustador, ele eliminou a covardia da nação
Zulu. Portanto, se começarmos as coisas
corretamente, podemos mudar de uma moral
39
pacifista para uma moral guerreira, mesmo em uma
geração. Essa é uma tarefa para o nosso sistema
educacional. Precisamos mudar nossos métodos de
criação dos nossos filhos e adotar algum equivalente
funcional da educação samurai que produziu aquele
menino japonês de quatro anos. Então devemos
complementar isso enfatizando as artes marciais e o
jogo de xadrez nas escolas. Deveríamos, em seguida,
finalizar instituindo serviço militar obrigatório para
todas as pessoas de 18 anos. É improvável que os
produtos desse sistema tenham uma mentalidade
pacifista ou sejam obtusos sobre segurança coletiva.
Pode ser útil indicar o básico de uma educação
samurai como um modelo do que devemos
reproduzir funcionalmente.
Uma educação samurai
“Mas os filhos de samurais eram severamente
disciplinados naqueles dias: e aquele de quem
escrevo tinha pouco tempo para sonhar. O período
de carícias foi dolorosamente breve para ele. Mesmo
antes de investir em seu primeiro hakama, ou calça
- uma grande cerimônia naquela época -, ele foi
desmamado o mais longe possível da influência
40
afetuosa e ensinado a verificar os impulsos naturais
da afeição infantil. Pequeno camarada, perguntavam
a ele ironicamente: 'Você ainda precisa de leite?' se o
vissem sair com a mãe, embora ele pudesse amá-la
em casa tão demonstrativamente quanto quisesse,
durante as horas em que poderia passar ao lado
dela. Estas não foram muitas. Todos os prazeres
inativos foram severamente restringidos por sua
disciplina; e até confortos, exceto durante doenças,
não lhe eram permitidos. Quase a partir do
momento em que ele pôde falar, foi ordenado a
considerar o dever norteador da vida, o autocontrole
como o primeiro requisito de conduta, a dor e a
morte não importam no sentido egoísta.
“Havia um lado mais sombrio nessa disciplina
espartana, projetada para cultivar uma severidade
fria para nunca ser relaxada durante a juventude,
exceto na intimidade do lar. Os meninos foram
habituados a paisagens de sangue. Eles foram
levados para testemunhar execuções; esperava-se
que não mostrassem emoções e, em seu retorno
para casa, eram obrigados a reprimir qualquer
sentimento secreto de horror, comendo
41
abundantemente arroz cor de sangue com uma
mistura de suco de ameixa salgado. Coisas ainda
mais difíceis podem ser exigidas a um garoto muito
jovem - ir sozinho à meia-noite para o local da
execução, por exemplo, e trazer de volta a cabeça
como prova de coragem. Pois o medo dos mortos era
considerado menos desprezível em um samurai do
que o medo do homem. A criança samurai prometeu
não temer nada. Em todos esses testes, o
comportamento exigido era a impassibilidade
perfeita; qualquer arrogância teria sido julgada tão
severamente quanto qualquer sinal de covardia.
Quando o menino cresceu, ele foi obrigado a
encontrar seus prazeres principalmente nos
exercícios corporais que eram os preparativos
iniciais e constantes dos samurais para a guerra -
tiro com arco e cavalgadas, luta livre e esgrima.
Camaradas foram arranjados para ele; mas esses
eram jovens mais velhos, filhos de retentores,
escolhidos por suas capacidades de ajudá-lo na
prática de exercícios marciais. Era dever deles
também ensiná-lo a nadar, a manejar um barco, a
desenvolver seus jovens músculos. Entre esse
42
treinamento físico e o estudo dos clássicos chineses,
a maior parte de cada dia era dividida por ele. Sua
dieta, embora ampla, nunca foi delicada; suas
roupas, exceto em tempos de grande cerimônia,
eram leves e grossas; e não foi permitido o uso do
fogo apenas para se aquecer. Enquanto estudava
nas manhãs de inverno, se suas mãos esfriassem
demais para usar o pincel, ele receberia ordem para
mergulhá-las na água gelada para restaurar a
circulação; e se seus pés estivessem entorpecidos
pelo gelo, ele seria instruído a correr na neve para
aquecê-los. Ainda mais rígido foi seu treinamento na
etiqueta especial da classe militar; e ele logo foi
levado a saber que a pequena espada em seu cinto
não era um ornamento nem um brinquedo. Foi-lhe
mostrado como usá-la, como tirar a própria vida a
qualquer momento, sem retroceder, sempre que o
código de sua classe o ordenasse¹.
***
¹Essa é realmente a cabeça do seu pai? um
príncipe certa vez perguntou a um menino samurai
com apenas sete anos de idade. A criança percebeu
imediatamente a situação. A cabeça recém-cortada
43
colocada diante dele não era de seu pai: o daimyo
havia sido enganado, mas era necessário mais
engano. Assim, o rapaz, depois de saudar a cabeça
com todos os sinais de pesar reverente, cortou de
repente as próprias entranhas. Todas as dúvidas do
príncipe desapareceram diante daquela prova
sangrenta de piedade filial; o pai fora-da-lei
conseguiu escapar; e a memória da criança ainda é
honrada no drama e na poesia japonesa.
***
“Também na questão da religião, o treinamento
de um garoto samurai era peculiar. Ele foi educado
para reverenciar os deuses antigos e os espíritos de
seus ancestrais; ele foi bem educado na ética
chinesa; a ele foi ensinado algo sobre filosofia e fé
budista. Mas ele também foi ensinado que a
esperança do céu e o medo do inferno eram apenas
para os ignorantes; e que o homem superior deve ser
influenciado em sua conduta por nada mais egoísta
do que o amor de direito para o seu próprio bem, e o
reconhecimento do dever como uma lei universal.
“Gradualmente, à medida que o período da
infância amadureceu para juventude, sua conduta
44
foi menos sujeita a supervisão. Ele ficou cada vez
mais livre para agir segundo seu próprio julgamento,
mas com pleno conhecimento de que um erro não
seria esquecido; que uma ofensa grave nunca seria
totalmente perdoada; e que uma repreensão
merecida devia ser mais temida do que a morte. Por
outro lado, havia poucos perigos morais contra os
quais protegê-lo. O vício profissional foi então
estritamente banido de muitas cidades-castelo
provinciais; e mesmo o lado não moral da vida que
poderia ter sido refletido no romance e no drama
popular, um jovem samurai pouco sabia. Ele foi
ensinado a desprezar essa literatura comum
atraente às emoções mais suaves ou às paixões,
como leitura essencialmente não masculina; e o
teatro público era proibido para sua classe.² Assim,
naquela inocente vida provinciana do Velho Japão,
um jovem samurai poderia crescer excepcionalmente
de mente pura e de coração simples.
Então cresceu o jovem samurai a respeito de
quem essas coisas foram escritas - destemido,
cortês, abnegado, desprezando o prazer e pronto a

45
qualquer momento para dar sua vida por amor,
lealdade ou honra.”
***
²As mulheres samurais, pelo menos em algumas
províncias, podiam ir ao teatro público. Os homens
não podiam, sem cometer uma violação das boas
maneiras. Mas, nos lares de samurais, ou nos
arredores do yashiki, foram realizadas algumas
apresentações particulares de um personagem em
particular. Os artistas eram os personagens
errantes. Conheço vários shizoku velhos e
encantadores que nunca foram a um teatro público
em suas vidas, e recusam todos os convites para
assistir a uma apresentação. Eles ainda obedecem
às regras de sua educação samurai.
***
(Extraído de A Conservative in Lafcadio Hearn,
Writings from Japan,
pp.291-293)
Se aprendermos com a educação samurai, não
podemos permitir que nossos filhos sejam criados no
Canal O e assim por diante.

46
Uma mudança em nosso conceito de
segurança
Além de incutir uma mentalidade de guerreiro
em todos os negros africanos, precisamos mudar
nosso conceito ainda colonial de segurança.
A noção colonial de segurança era a segurança
do estado colonial e das empresas do povo que veio
explorar e oprimir. Essa foi a doutrina de segurança
que concebeu o exército colonial como um apoio à
polícia, ou seja, como um exército a ser usado para
controle de distúrbios e expedições punitivas. Essa
doutrina foi herdada pelos estados neocoloniais e
não foi alterada. [Na Nigéria, foi aplicada pelos
britânicos para reprimir a insurreição das mulheres
Aba e, recentemente, por Obasanjo para acabar com
os povos inquietos de Odi e Zaki Biam].
Na África neocolonial, observou-se que um
pequeno exército, incapaz de servir como um
instrumento eficaz da política externa, tende a "olhar
para dentro" - a intervir na política doméstica; e que,
em geral, as forças africanas são destacadas apenas
contra seu próprio povo em seus próprios países.
Além disso, como Nyerere observou em 1961, "se um
47
estado africano está armado, então, realisticamente,
só pode estar armado contra outro estado africano".
[Ver Opoku Agyeman, Africa‘s Persistent Vulnerable
Link to Global politics, pp. 18, 19, 20, 23]
Esses exércitos de segurança interna podem
defender a África Negra contra a Liga Árabe, ou a
Bélgica, a França ou o Reino Unido, e contra a
OTAN?
Aqui está a sugestão de Azikiwe em uma
Convenção Africana sobre Segurança Coletiva.
Isso deveria fazer provisões seguintes: “um pacto
multilateral de defesa mútua...; um Alto Comando
Africano...; uma doutrina de não intervenção na
África, nas mesmas linhas da Doutrina Monroe no
Hemisfério Ocidental. Esta doutrina deve deixar
claro que o estabelecimento ou a existência
continuada de qualquer território colonial no
continente africano, por qualquer poder europeu ou
americano, asiático ou australiano, será considerado
não apenas um ato hostil, mas um ato de agressão
contra o acordo dos Estados Africanos; uma
Declaração Pan-Africana de Neutralismo “[isto é,
desalinhamento]... —[Azikiwe, (1962) ―Future of
48
Pan-Africanism‖ in Langley ed., Ideologies, pp.321-
322]
Precisamos adotar e desenvolver essa linha de
pensamento. A segurança deve estar contra nossos
inimigos externos: árabes, europeus e quem quer
que seja; e contra as aptidões inimigas, existentes e
potenciais. Por isso, precisaremos monitorar a
capacidade inimiga à medida que ela mudar, para
não nos encontrarmos preparados para nos defender
contra armas obsoletas e nos preparando para a
última guerra, por assim dizer.
Além disso, nosso conceito de segurança deve
ser ampliado muito além da segurança militar para
incluir segurança econômica, alimentar, sanitária e
ideológica, já que estamos sendo atacados pelos
árabes ou europeus em todas essas áreas. De fato,
precisamos de uma segurança coletiva de um tipo
total - segurança contra todos os meios possíveis de
ataque, atualmente conhecidos e potenciais, e
contra todos os possíveis inimigos.

49
- Marcus Garvey e o Movimento do
Poder Negro: legados e lições para a África
Negra contemporânea
Por Chinweizu (2008)

Para evitar desperdiçar o tempo de alguém,


deixe-me esclarecer com quem não estou falando,
pois como Confúcio disse: "Não há sentido em que
as pessoas se aconselhem juntas e sigam caminhos
diferentes". (Analects XV: 40)
Minha audiência consiste apenas daqueles
negros africanos que desejam que o povo negro
africano sobreviva. Se você é um negro africano, mas
não se importa se o povo negro africano sobreviva ou
não, não tenho nada a dizer ou discutir com você.
Então, não continue lendo. Apenas vá embora.
Mas se você deseja que o povo negro africano
sobreviva, com dignidade, segurança e prosperidade,

50
assim como os povos branco ou amarelo desta terra,
seja bem-vindo! Temos assuntos vitais para discutir.
Desde que os europeus brancos começaram a
invadir a África no século XV para escravizar os
cativos negros; desde que árabes brancos invadiram
o Egito em 640 dC; e, de fato, desde que os persas
brancos conquistaram o Egito Negro em 525 aC, a
principal questão para os negros africanos é:
Como os negros africanos podem se organizar
para sobreviver no mundo, com segurança e
respeito?
Essa questão permaneceu sem resposta por 25
séculos. Hoje devemos enfrentá-la e respondê-la
corretamente para as condições deste século XXI, ou
pereceremos.
O pan-africanismo é uma ideologia composta
pelas ideias mais importantes vindas da raça negra
até agora em nossa busca pela libertação do
imperialismo e do racismo, e pela melhoria de nossa
condição no mundo; continua a ser o veículo das
esperanças e aspirações dos africanos negros por
autonomia, respeito, poder e dignidade. Essa
ideologia está embutida no pensamento de nossos
51
progenitores intelectuais, de Boukman do Haiti a
Biko da África do Sul. Esses pensadores incluem
gigantes como Dessalines, Blyden, Sylvester
Williams, Casely-Hayford, DuBois, Garvey, Padmore,
Nkrumah, C.L.R. James, Azikiwe, Malcolm X, Aime
Cesaire, Cheikh Anta Diop, Cabral e Nyerere.
Havia três principais vertentes do pan-
africanismo no século XX: a de DuBois, a de Garvey
e a de Nkrumah. Cada uma dessas vertentes visava
realizar a emancipação da África Negra da
dominação branca, mas diferiam no que definiam
como o público a ser emancipado e no projeto pelo
qual essa emancipação seria perseguida. Em outras
palavras, eles diferiram em suas respostas às duas
perguntas principais: emancipação para quem? E de
que maneira?
Para DuBois [1868-1963], o grupo eram os
negros (povos negros) da África e a diáspora negra
nas Américas; e o projeto era abolir a linha de cores
e integrar socialmente os negros aos brancos.
Para Garvey [1887-1940], o foco era todos os
povos negros do mundo, onde quer que estivessem;
e os meios para alcançar a emancipação era a
52
construção de uma superpotência negra na África,
uma superpotência industrial que seria
“suficientemente forte para proteger os membros de
nossa raça espalhados por todo o mundo e obrigar o
respeito das nações e raças da Terra...
Para Nkrumah [1909-1972], o campeão do
continentalismo, o público era, como na OUA, os
habitantes do continente africano, árabes e negros
juntos, mas sem a diáspora negra; e o meio para
alcançar a emancipação seria construindo o
socialismo, integrando os estados neocoloniais do
continente em um estado continental com um único
governo continental.
DuBois foi pioneiro, com limitações inevitáveis
no trabalho de um pioneiro. Garvey deu um grande
salto à frente de DuBois; e Nkrumah deu um grande
salto para trás de Garvey e DuBois. Por que eu digo
isso? DuBois acertou no público e errou no projeto;
Garvey acertou no público e no projeto; Nkrumah
errou no público e no projeto também. Mas esse é
um tópico para outra ocasião.
Minha tarefa hoje é apresentar a vocês o legado
de Marcus Garvey. Começarei com um resumo do
53
que ele fez e depois entrarei no que nos legou e, em
seguida, nas lições que devemos aprender com ele.
[NOTA: todas as referências de página são para
Amy Jacques Garvey, ed., Philosophy and Opinions
de Marcus Garvey, Nova York: Atheneum, 1992.
Com uma introdução por Robert A. Hill]
O que Garvey fez
Entre 1910 e 1914, Garvey viajou para
investigar, em primeira mão, a condição dos negros
nos países do Caribe e da América Central, bem
como na Europa. Em suas próprias palavras,
enquanto estava em Londres em 1914, depois de ter
viajado por quase metade da Europa, Garvey
perguntou:
“Perguntei: ‘Onde está o governo do negro?’
‘Onde está o seu rei e o seu reino?’ ‘Onde está o
presidente, o país e o embaixador, o exército, a
marinha, os homens de grandes negócios?’ Não
consegui encontrá-los e depois declarei: ‘Ajudarei a
criá-los’.” [F&O,II:126] (F&O, Filosofia e opiniões, do
Honorável Marcus Garvey)
E ele se propôs a ajudá-los a executar a
possibilidade do Poder Negro em um mundo
54
dominado em todo lugar pelo poder branco. Por seu
próprio relato, dado em 1925 nos EUA, ele tinha,
entre 1914 e 1922, “despertado a mente do negro a
todas as possibilidades de um futuro, de um jeito ou
de outro. Fizemos tudo o que era humanamente
possível para despertar a consciência nos negros
adormecidos em todo o país, nas Índias Ocidentais e
em todo o mundo. . . ”[P. lxxvii]
Através da organização que ele fundou, a
Universal Negro Improvement Association (UNIA)
[Associação Universal de Melhoria do Negro] e seus
auxiliares, e através de negócios, convenções e
desfiles, Garvey colocou diante dos olhos dos negros
as possibilidades políticas, econômicas, militares,
religiosas e sociais do Poder Negro. Encenando nas
ruas de Harlem, Nova York, despertou a imaginação
dos negros ao redor do mundo. O impacto da
aparição de Garvey foi sentido em toda parte. Nas
palavras de Adam Clayton Powell, ele havia
despertado uma consciência racial que fazia o
Harlem se sentir ao redor do mundo. [p. xix]
Ele fez sua audiência imaginar coisas em que
nunca haviam pensado, coisas em que haviam
55
sofrido lavagem cerebral para considerar impossível
os negros fazerem. É claro que ele não construiu o
Poder Negro, mas, ao colocar no palco os símbolos
de um Império Negro, ele desencadeou um sonho e
motivou a próxima geração de negros a atualizá-lo.
O garveyismo inspirou Zik na Nigéria, Nkrumah
em Gana [pp.xxxviii-xlv]. Seu trabalho foi
acompanhado e lido no Quênia, Gana, Namíbia,
África do Sul. Isso influenciou Harry Thuku, um dos
primeiros nacionalistas no Quênia, alguns na ANC
na África do Sul, e os mais velhos de Sam Nujoma
na Namíbia pertenciam às filiais da UNIA na
Namíbia. A Nação do Islã de Elijah Muhammad foi
fortemente influenciada por Garvey, e Malcolm X era
filho de garveyistas. Tais homens e seus seguidores,
nas gerações seguintes a Garvey, tornaram-se
discípulos e atualizadores do sonho proposto por
Garvey.
O poder branco, é claro, via perigo para si
próprio nas ações de Garvey, e tentava astutamente
matar o sonho desacreditando Garvey. Mas era tarde
demais. O sonho já estava implantado nas mentes
dos negros de todo o mundo. Prender Garvey depois
56
que seu show foi realizado foi como fechar a porta do
estábulo depois que o cavalo disparou.
Enquanto Garvey apenas dramatizava o Poder
Negro, Dessalines o havia realizado no Haiti um
século antes. O poder branco rapidamente destruiu
o exemplo haitiano e tentou erradicar toda a
memória dele. O Haiti precisou fracassar, para que o
poder branco fosse mais seguro, sustentando a
mentira de que os negros não podem se governar.
Pela mesma razão, a egiptologia anexou o Egito
Negro dos Faraós à civilização branca. O exemplo
inspirador de Garvey foi desacreditado. Da mesma
forma, o potencial inspirador do programa de
Industrialização de Nkrumah, contido no Plano de
Desenvolvimento de Sete Anos que ele lançou em
1964 - e simbolizado pelo Projeto Rio Volta, com seu
complexo de usinas hidrelétricas e barragem
Akosombo e a fundição de alumínio em Tema –
também teve de ser desacreditado.
O legado de Garvey
Vou descrever três aspectos do legado de Garvey,
as coisas que ele deixou para nós:

57
(I) o exemplo de sua prática como construtor de
instituições;
(II) suas ideias profundas;
(III) os projetos que ele definiu para seus
sucessores implementarem.
I: Sua prática como construtor de
instituições:
Garvey foi um construtor inovador de uma nação
futurista que nos incentivou a criar nosso próprio
futuro. Como ele disse: “Temos uma história bonita
e criaremos outra no futuro que surpreenderá o
mundo.” [I, 7]
Seu trabalho foi fundado em uma análise não
sentimental de nossas realidades históricas globais.
Ele prospectou problemas que seriam
emboscados para nós no futuro e criou soluções
para evitá-los: por exemplo, o problema do
extermínio da raça negra pela raça branca.
Ele era um empresário versátil, um construtor
de instituições. Aqui estão alguns delas:
- Instituições políticas: A UNIA, com suas mil
(992) filiais e vários milhões de membros em todo o

58
mundo, e suas Convenções Internacionais Anuais
dos Povos Negros do Mundo;
- Instituições comerciais: Black Star Line;
Editora Universal; Negro Fábricas Corporation; o
jornal Mundo Negro; o projeto de plantação de
borracha na Libéria (que o governo liberiano
entregou à Firestone);
- Instituições sociais: Enfermeiras da Cruz
Negra; A Igreja Ortodoxa Africana; Os juvenis;
honras de pares e cavaleiros [II, 313];
- Instituições paramilitares: Guarda Africana
Real [II 97]; Corpo de Motor Africano; A Legião
Africana Universal;
- Projeto de colonização: O projeto de “retorno à
África” que procurou construir quatro
assentamentos na Libéria, começando com uma
cidade no rio Cavalla, a um custo projetado de US $
2 milhões [II, 380, 390]
- Instituições de ensino: Escola de Filosofia
Africana, Toronto, 1937
II: Suas ideias:
As grandes ideias de Garvey incluíram:

59
1- Princípio de Raça Primeiro - Acreditamos na
autoridade suprema de nossa raça em todas as
coisas raciais. ”[II, 137]: Você pode fazer nada menos
do que ser primeiramente e sempre um negro, e
então tudo o mais se ajeitará. ”[Fundamentalismo
africano]
2- Privacidade e autonomia racial - Exigimos o
controle completo de nossas instituições sociais sem
interferência de qualquer raça ou raças estrangeiras.
”[II, 140]
“Se moramos em nosso próprio distrito,
dominaremos e governemos esses distritos. Se
tivermos maioria em nossas comunidades, vamos
administrá-las. Formamos a maioria na África e
devemos naturalmente nos governar lá. ”[II, 122];
3- Autonomia intelectual - “Temos direito a
nossas próprias opiniões e não somos obrigados ou
vinculados pelas opiniões de outros.”
[Fundamentalismo africano]
4- Autossuficiência - “A UNIA ensina à nossa
raça a autoajuda e autoconfiança ... em todas as
coisas que contribuem para a felicidade e o bem-
estar humano.” [II, 23]
60
“Confio que você só viverá hoje quando perceber
que é dono de seu próprio destino, dono de sua
própria sorte; se há algo que você deseja neste
mundo, é para você atacar com confiança e fé em si
mesmo que ira alcançá-la. ”[I, 91];
"Uma raça que depende exclusivamente de outra
para sua existência econômica, cedo ou tarde
morrerá". [I, 48]
5- Construção de uma nação - O negro precisa
de uma nação e um país próprio, onde possa
mostrar melhor sua própria habilidade na arte do
progresso humano. ”[II, 23]
“O . . . plano da UNIA [é] o de criar na África
uma nação e um governo para a raça negra. ”[II, 40]
6- Empreendedorismo - Por que a África não
deveria dar ao mundo seu Rockefeller preto,
Rothschild e Henry Ford? Agora é a oportunidade.
Agora é a chance de todo negro se esforçar para
alcançar um padrão comercial e industrial que nos
torne comparáveis aos homens de negócios bem-
sucedidos de outras raças. ”[II, 68]
“Ir trabalhar! Vá trabalhar na manhã de uma
nova criação... até que você tenha... alcançado o
61
auge do auto progresso e, a partir desse pináculo,
conceda ao mundo uma civilização própria...” [II,
103]
7- Industrialização - a raça só pode ser salva
através de uma base industrial sólida. ”[I, 8] 10
“Estar satisfeito em beber o resto do progresso
humano não demonstrará nossa aptidão como povo
para existir ao lado de outros, mas quando, por
nossa própria iniciativa, lutarmos para construir
indústrias, governos e, finalmente, impérios, então e
somente então, enquanto raça, provaremos ao nosso
criador e ao homem em geral que estamos aptos a
sobreviver e capazes de moldar nosso próprio
destino. ”[I, 8]
***
Garvey baseou seu trabalho em uma análise
profunda das realidades históricas globais, conforme
ilustrado pelas seguintes doutrinas sobre (A) as
características do mundo e (B) as particularidades
do negro:
(A) Características mundiais:
1) Os caminhos da raça branca - A atitude da
raça branca é subjugar, explorar e, se necessário,
62
exterminar os povos mais fracos com quem eles
entram em contato. Eles subjugam primeiro, se os
povos mais fracos se defenderem; depois explora, e
se não for suficiente a SUBJUGAÇÃO nem a
EXPLORAÇÃO, o outro recurso é o EXTERMINIO. ”[I,
13]
2) Propaganda— “Entre alguns dos métodos
organizados usados para controlar o mundo está a
conhecida e chamada PROPAGANDA. A propaganda
fez mais para derrotar as boas intenções de raças e
nações do que até a guerra aberta. A propaganda é
um método ou meio usado pelos povos organizados
para converter outros povos contra a sua vontade.
Nós da raça negra estamos sofrendo mais do que
qualquer outra raça do mundo com propaganda -
propaganda para destruir nossas esperanças,
nossas ambições e nossa confiança em nós mesmos.
”[I, 15]
3) Força – “Os poderes opostos ao progresso dos
negros não serão influenciados por meros protestos
verbais da nossa parte. É claro que a pressão pode
se afirmar de outras formas, mas, em última análise,
qualquer influência exercida contra os poderes
63
opostos ao progresso negro deve conter o elemento
FORÇA para cumprir seu objetivo, pois é evidente
que esse é o único elemento que eles reconhecem.
”[I, 16]
“Mencionei a vocês que o armamento mais forte
é a organização, e não grandes armas e bombas.
Mais tarde, podemos ter que usar algumas dessas
coisas, pois parece que alguns povos não conseguem
ouvir uma voz humana a menos que algo esteja
explodindo nas suas proximidades. Algumas pessoas
dormem muito profundamente quando se trata de
direitos humanos, e você precisa tocá-las com algo
mais do que nossa voz humana comum. ”[II, 112]
4) Conheça o seu inimigo - "Enxergar o seu
inimigo e conhecê-lo é parte da educação completa
do homem" [I, 17]
5) Preconceito – “O preconceito pode ser
influenciado por diferentes razões. Às vezes, o
motivo é econômico e, às vezes, político. Você só
pode obstruí-lo com progresso e força. ”[I, 18]
“Enquanto os negros ocuparem uma posição
inferior entre as raças e nações do mundo, por mais
tempo os outros serão preconceituosos contra eles,
64
porque será proveitoso para os outros manterem o
sistema de superioridade. Mas quando o negro, por
sua própria iniciativa, se elevar de seu estado
inferior ao mais alto padrão humano, ele estará em
posição de parar de implorar e orar, e assim exigir
seu lugar que nenhum indivíduo, raça ou nação será
capaz de negá-lo.” [I, 26]
6) Defesa - raças e povos são salvaguardados
apenas quando são fortes o suficiente para se
protegerem. ”[II, 107]
7) Poder - A única proteção contra a INJUSTIÇA
do homem é o PODER físico, financeiro e científico.
”[I, 5]
“O poder é o único argumento que satisfaz o
homem. [...] O homem não é satisfeito ou movido por
orações ou petições, mas todo homem é movido por
esse poder de autoridade que o obriga a fazer mesmo
contra sua vontade. ”[I, 21, 22]
(B) Fraquezas da raça negra:
1) Uma falta geral - A raça precisa de homens
de visão e habilidade. Homens de caráter e acima de
tudo homens de honestidade, e isso é tão difícil de
encontrar. ”[I, 49]
65
2) Traidores no topo - O traidor de outras raças
geralmente se limita ao indivíduo medíocre ou
irresponsável, mas, infelizmente, os traidores da
raça negra geralmente são encontrados entre os
homens de alto nível educacional e na alta
sociedade, os companheiros que se chamam de
líderes. ”[I, 29]
3) Falta de respeito pela autoridade interna -
O negro na civilização ocidental... tem pouco ou
nenhum respeito pela autoridade racial interna. Não
se pode confiar nele para executar uma ordem dada
por um superior de sua própria raça... Essa falta de
obediência às ordens e à disciplina impede o
progresso real e valioso da raça. ”[II, 292]
4) Os intelectuais - É impressionante quão
desleal e egoísta é o intelectual negro médio, da
geração que está passando, para a sua raça. [Ele] é a
maior fraude e obstáculo ao progresso real da raça.
Ele foi educado com a psicologia e perspectiva
erradas... [e] misturar-se com os brancos é a sua
maior ambição. ”[II, 286]

66
5) Os políticos negros - Os imprudentes e
egoístas políticos negros venderam a raça de volta à
escravidão. ”[II, 103]
6) Os negros ricos - Os ricos são egoístas e
tolos, e seu principal objetivo na vida é imitar os
brancos e, o mais rápido possível, buscar sua
companhia com a esperança de absorção social
transpondo a linha racial. ”[II, 88]
7) Deslealdade entre os negros bem-sucedidos
- Nos últimos 50 anos, foram perdidos bilhões de
dólares pela raça negra devido à deslealdade dos
negros bem-sucedidos, que preferiram doar suas
fortunas a membros de outras raças, do que legá-las
para instituições e movimentos próprios dignos para
ajudar seu próprio povo. ”[II, 92]
Essas ideias sobre as realidades forneceram a
base para as prescrições de Garvey visando
solucionar os problemas da raça negra.
A África de Garvey:
É importante tomar nota do lugar da África nas
ideias de Garvey. Alguns têm deturpado a ideia de
África de Garvey, sequestrando-o para apoiar os
Estados Unidos da África de Kadhafi. Por exemplo, o
67
professor Molefi Asante declarou [em um e-mail de
31 de março de 2007]: "Apoio os Estados Unidos da
África como a visão de Nkrumah e Garvey antes
dele".
Vou mostrar que o professor Asante está errado.
O de Garvey era um pan-africanismo da raça
negra, um pan-negrismo ao qual ele era
inequivocamente dedicado. Desafio qualquer pessoa
a reproduzir qualquer passagem onde ele possa ser
corretamente interpretado como falando pelos
negros e pelos invasores / colonos árabes brancos
escravizadores dos negros na África. Aqui estão
alguns exemplos das referências de Garvey
descrevendo o que ele queria fazer na África.
II, 37: Estabelecer uma nação na África para os
negros
II, 39: Uma nação africana para negros
II, 40: Criando na África uma nação e um
governo para os negros
II, 48: Restauração da África para os povos
negros do mundo
II, 49: Pátria nacional dos negros na África

68
II, 81: Promoção de uma nação negra forte e
poderosa na África
II, 230: Dar ao negro um país próprio na África
II, 253: Para fundar e desenvolver uma nação
para a raça na África
Eu afirmo que nada disso pode ser interpretado
corretamente como referência à construção na África
de uma união continental de árabes e negros, com
um governo da união continental. Para Garvey, a
África era a terra natal dos negros, um lugar para os
negros fazerem grandes coisas por si mesmos.
A ideia de Garvey sobre o negro - quem ele
incluiu entre os negros:
“Eu sou negro. Não peço desculpas por ser
negro. ”[I, 212]
“Nós [da UNIA] estamos determinados a unir os
400.000.000 de negros do mundo com o objetivo de
construir uma civilização própria. E nesse esforço,
desejamos reunir os 15.000.000 dos Estados
Unidos, os 180.000.000 na Ásia, as Índias
Ocidentais e as Américas Central e do Sul e os
200.000.000 na África. Estamos buscando a

69
liberdade política no continente africano, a terra de
nossos pais.” [II, 95]
“Quando falamos de 400.000.000 de negros,
pretendemos incluir vários milhões da Índia,
descendentes diretos daquele antigo estoque africano
que uma vez invadiu a Ásia. ”[II, 82]
Nenhuma menção na palavra árabe, seja na
África ou na Ásia! Garvey estava preocupado
exclusivamente com os negros e o que eles deveriam
fazer na África; nunca com os árabes e os negros
fazendo alguma coisa juntos, muito menos se
unindo sob um governo continental.
III: Os principais projetos de Garvey:
Garvey teve dois projetos primordiais:
1] Ajudar a criar governos, presidentes,
embaixadores, exércitos, marinhas, etc.
2] O projeto de uma superpotência negra na
África
Na década de 1920, Garvey, depois de
diagnosticar a perspectiva global dos negros,
prescreveu o remédio para seus problemas quando
disse:

70
“Os povos negros do mundo devem se concentrar
no objetivo de construir para si uma grande nação
na África... [de] criar para nós mesmos um
superestado político... um governo, uma nação
própria, forte o suficiente para proteger os membros
de nossa raça espalhados por todo o mundo e
obrigar o respeito das nações e raças da terra...”
[P&O, I: 68; II: 16; I: 52]
Enquanto o primeiro projeto de criação de
governos negros foi alcançado em todo o mundo na
segunda metade do século XX, começando com a
Gana de Nkrumah em 1957 e concluindo com a
África do Sul de Mandela em 1994, o segundo nem
sequer foi tentado.
***
O desafio do exemplo de Garvey:
Tendo vislumbrado o que Garvey fez há um
século, o que seu exemplo nos desafia a fazer neste
século. Quais lições devemos aprender com o
exemplo dele?
Considere a variedade de tirar o fôlego dos
projetos de Garvey: A UNIA, com cerca de mil filiais e
milhões de membros em todo o mundo; negócios que
71
variavam de uma empresa a vapor, a restaurantes e
lavanderias; projetos de colonização para construir
cidades na Libéria; um projeto maciço de plantação
de borracha na Libéria; grandes convenções anuais
de um mês; uma denominação da igreja;
equipamentos paramilitares; etc. Tudo em um
espaço de dez breves anos!
Garvey tentou fazer tudo de uma vez, e é por isso
que ele é Garvey, o Grande. E de longe o maior líder
dos negros no século XX.
Eu afirmo que o desafio para os negros africanos
no século XXI é desenvolver o legado de Garvey
seguindo seu exemplo, abraçando suas ideias e
implementando seu projeto de uma superpotência
negra na África.
Nós, pessoas comuns, devemos fazer a parcela
que pudermos desse todo; mas devemos formar um
movimento que garanta que todas as dimensões do
projeto de construção de uma nação/ elevação da
raça, que ele foi pioneiro, sejam realizadas.
Afirmo que o que é necessário para o século XXI
é um novo pan-africanismo com duas características
fundamentais inspiradas no legado de Garvey:
72
[a] um pan-africanismo que possa curar a África
Negra da fraqueza e impotência que tornaram
possível a escravidão, o colonialismo e o racismo;
uma impotência que hoje nos expôs ao extermínio -
como através da explosão da AIDS e outras armas
biológicas de destruição em massa que visam
apenas pessoas de pele negra; e destruindo nossa
segurança e autonomia alimentar, obrigando-nos a
usar sementes GM (geneticamente modificadas); e
através das políticas de empobrecimento impostas
pelo regime do FMI-Banco Mundial da OMC.
[b] um pan-africanismo que aborde os problemas
cotidianos das massas negras africanas, em casa e
no exterior.
Eu afirmo que não precisamos de nenhum tipo
de pan-africanismo que não possua essas duas
características, pois não ajudaria os negros
africanos a recuperar sua dignidade ou a sobreviver
fisicamente.
Lições de Garvey para o novo pan-
africanismo:
Ao construir um novo pan-africanismo orientado
para as massas, moldado pelo projeto de
73
superpotência negra de Garvey, faríamos bem em
aplicar as seguintes lições do arsenal de métodos e
ideias de Garvey.
1) Devemos estudar minuciosamente o mundo e
proceder a ação a partir de uma análise
fundamental e abrangente de nossas realidades
históricas globais.
2) Deveríamos acabar com o hábito ancestral de
não discernir quando o perigo se aproxima; e criar o
hábito de prospectar perigos e problemas futuros e
fornecer soluções bem antes de sua chegada às
nossas portas.
3) Deveríamos insistir em um público monoracial
pan-negro.
4) Devemos insistir, em todas as coisas, na
consciência racial, na autoconfiança racial e na
autonomia racial.
5) Devemos assumir total responsabilidade por
nossa sobrevivência, hoje, amanhã e no futuro mais
distante - Garvey estava preocupado com nossa
situação 500 anos no futuro.
A mãe de todos os problemas na África Negra:
a falta de um forte estado central:
74
Antes de prosseguir com o esboço do
aprimoramento do pan-negrismo de Garvey no
século XXI, deixe-me começar considerando os
principais problemas que o garveyismo se propôs a
resolver, problemas que ainda estão muito
presentes.
Em 1922, Garvey articulou corretamente o que
chamou de "Solução verdadeira para o problema dos
negros" quando disse:
“Estamos determinados a resolver nosso próprio
problema, resgatando nossa Pátria África das mãos
de exploradores estrangeiros e fundando lá um
governo, uma nação nossa, forte o suficiente para
dar proteção aos membros de nossa raça espalhados
por todo o mundo e obrigar o respeito das nações e
raças da terra. ”[P&O, I 52]
Essa é uma declaração sucinta da solução para
o problema fundamental que tem atormentado a
África Negra desde que o Egito Negro dos Faraós foi
conquistado por invasores brancos, há 2.500 anos!
É a solução de todos os problemas da África Negra,
que não tem um estado central forte. Mas essa
solução, embora tão claramente articulada, foi
75
ignorada nos últimos 50 anos, durante os quais
poderia e deveria ter sido implementada. Em
algumas outras elaborações de sua solução, Garvey
falou da necessidade de criar "para nós um
superestado político" [II, 16]
Para quais problemas do negro esse
superestado, esse forte estado central, seria a
solução? Esses eram os problemas de (a)
sofrimentos e humilhações dos negros e (b)
perspectiva de seu extermínio pela raça branca.
Garvey os resumiu:
(a) Sobre o primeiro problema, Garvey disse:
“Eles lincham ingleses, franceses, alemães ou
japoneses? Não. E por quê? Porque essas pessoas
são representadas por grandes governos, nações e
impérios poderosos, fortemente organizados. Sim, e
sempre prontos para derramar a última gota de
sangue e gastar o último centavo no tesouro
nacional para proteger a honra e a integridade de
um cidadão lesado em qualquer lugar. ”[I, 52]
Algumas de nossas pessoas podem pensar que o
problema do linchamento de um século atrás
acabou. Não! Apenas lembre-se de Jena! Ainda
76
existem muitos casos de negros sendo mortos com
impunidade pela polícia em todas as partes do
mundo, de negros sendo economicamente linchados
pelo perfil racial e outras ilegalidades; de
linchamento judicial, no qual os negros são
desproporcionalmente presos por delitos cometidos
por negros e brancos. Em todo o mundo, vidas
negras ainda são consideradas sem valor. Os negros
ainda são vítimas em todo o mundo. Eles continuam
sendo um povo marcado para a destruição.
(b) Sobre o segundo problema, Garvey disse:
“O negro está morrendo... Só há uma coisa para
salvar o negro, e isso é uma realização imediata de
suas próprias responsabilidades. Infelizmente,
somos o povo mais descuidado e indiferente do
mundo! Somos indiferentes e irresponsáveis... É
estranho ouvir um líder negro falar nessa tensão,
pois o curso usual é a lisonja, mas eu não lisonjearei
vocês para salvar minha própria vida e a de minha
própria família. Não há valor na bajulação... Devo
lisonjear vocês enquanto vejo todos os outros povos
se preparando para a luta de sobrevivência, e vocês
ainda sorrindo, comendo, dançando, bebendo e
77
dormindo no seu tempo, como se ontem fosse o
começo da era do prazer? Eu preferiria estar morto a
ser um membro de sua raça sem pensar no dia
seguinte, pois pressagia o mal para quem não pensa.
Como não posso lisonjear vocês, estou aqui para
dizer enfaticamente que, se não nos reorganizarmos
seriamente como povo e enfrentarmos o mundo com
um programa de nacionalismo [negro] africano,
nossos dias na civilização estão contados, e será
apenas uma questão de tempo em que o negro
estará tão completo e complacentemente morto
quanto o índio norte-americano ou o bosquímano
australiano.” [F&O, II: 101-102]...
“Se nos sentarmos supinamente e permitirmos
que a grande raça branca se eleve em número e
poder, isso significará que em outros quinhentos
anos essa raça de homens brancos exterminará a
raça mais fraca de homens negros para esse fim, de
encontrar espaço suficiente nessa esfera mundana
limitada para acomodar a raça que se multiplicará
numericamente em muitos bilhões. Este é o ponto
de perigo. O que acontecerá com o negro daqui a
quinhentos anos se ele não se organizar agora para
78
se desenvolver e se proteger? A resposta é que ele
será exterminado com o objetivo de abrir espaço
para as outras raças que serão fortes o suficiente
para se defenderem contra a oposição de todos. ”[I,
66]
Três razões para construir o Poder Negro
hoje:
Foi assim que Garvey, olhando quinhentos anos
à frente, caracterizou nosso problema vital há um
século. Como isso pode ser descrito hoje? Eu
colocaria assim:
Hoje temos três tipos de problemas:
(a) os ataques e humilhações diários que
sofremos nas mãos de racistas;
(b) a pobreza e miséria das massas negras
africanas; e
(c) nosso extermínio que já está em processo
hoje.
Devo enfatizar que o futuro não é longo para os
negros africanos, se continuarmos com nossa tolice
em não reconhecer que nosso extermínio já está em
andamento - como através da AIDS e outras armas
de guerra biológica que visam apenas pessoas de
79
pele negra; limpeza étnica como em Darfur; a
destruição de nossas economias pelas políticas do
FMI / Banco Mundial / OMC; a destruição de nossa
autonomia alimentar através de alimentos
geneticamente modificados; guerras induzidas pelo
inimigo e morte cultural; etc.
Estes são os problemas que o pan-africanismo
deve se oferecer para resolver e ser capaz de resolver
para os negros, se é que isso tem algum valor para
nós, se é que merecem alguma reivindicação de
nossa lealdade. Se construíssemos o poder negro,
resolveríamos todos os três problemas e
garantiríamos nossa sobrevivência em dignidade e
prosperidade. Quem se atreveria a agredir qualquer
pessoa de pele negra nas ruas de Jena, Munique,
Kiev ou Líbia se o mundo inteiro soubesse que uma
superpotência negra estava vigiando, e poderia e
deveria punir o ataque? Os negros africanos
deixariam de ser pobres e miseráveis se seus países
produzissem abundância industrial e agrícola. E
todo pensamento de exterminar os negros pereceria
se nossos inimigos soubessem que seriam

80
severamente punidos, militar e economicamente, por
meramente cogitar a ideia.
Portanto, essas são as três razões pelas quais
devemos construir hoje uma superpotência negra na
África. Eu diria, então, que o problema do século
XXI é o problema do poder da África Negra: como
construí-lo, e o suficientemente para parar o
extermínio dos negros que está em processo e
obrigar o respeito de toda a humanidade e garantir a
sobrevivência, a dignidade e a autonomia soberana
da Pan-África.
Deixe-me primeiro mostrar como o projeto de
superestado de Garvey, se atualizado e
implementado, forneceria o Poder de que tanto
precisamos. Depois, irei falar um pouco sobre
porque esse projeto tão vital não foi realizado há 50
anos.
O que o projeto de construção de uma
superpotência negra pode fazer pela nossa
sociedade.
Permitam-me destacar como uma liderança que
entende a necessidade de construir uma
superpotência negra e está comprometida em
81
construí-la teria que transformar nossa sociedade e
nos proporcionar uma vida muito melhor.
Como Garvey nos disse há um século: “a raça só
pode ser salva através de uma sólida fundação
industrial”. [I, 8] E ele fundou a Negro Factories
Corporation para mostrar o caminho. Agora, uma
superpotência de hoje precisa ser industrializada.
Deve construir suas próprias fábricas para produzir
de tudo, de xícaras a computadores, de toalhas a
tanques, de livros a bombas atômicas, de remédios a
metralhadoras, de colheres a satélites. Essa é a
moeda corrente do poder nacional e racial nesta era.
Para que os negros africanos vivam com
segurança e sejam respeitados, devemos fabricar
nossos próprios remédios, lâmpadas, potes e
panelas; e construir nossos próprios utensílios de
cozinha, eletrodomésticos, geradores, computadores,
foguetes, tanques, porta-aviões, submarinos
nucleares, bombas atômicas, ICBMs, satélites, etc. E
um programa de industrialização para nos permitir
fazer essas coisas requer todo tipo de investimentos
que transformaria a vida de nossa população.

82
Vamos considerar o caso da Nigéria. Quais são
alguns dos problemas que afligem os nigerianos, dos
quais os nigerianos se queixam incessantemente
depois de cinco décadas de evasão deliberada e tola
da industrialização? Os nigerianos se queixam
rotineiramente de NEPA (energia elétrica irregular),
estradas ruins, mau sistema de transporte, moradia
precária, instalações médicas precárias, ruas e
bairros imundos, sistemas de saúde deficientes,
sistema de educação deteriorado, anarquia nas
estradas, uma liderança política incuravelmente
viciada em corrupção, saqueamentos, etc. etc. Que
impacto um programa de industrialização teria sobre
esses males?
O centro de uma sociedade industrial é o seu
conjunto de fábricas. Este deve ser alimentado
diariamente com matérias-primas, energia, finanças,
máquinas e trabalhadores qualificados; sua
produção deve ser evacuada e transportada para os
mercados, assim, os consumidores comprarem. Isso
significa que, diariamente, deve ser disponibilizada
energia elétrica suficiente e constante (uma cidade
industrial não pode arcar com interrupções
83
irregulares da NEPA, quedas de energia,
queimaduras, surtos, etc. senão as máquinas
quebrarão, deixando os trabalhadores ociosos e
causando prejuízos financeiros aos proprietários das
fábricas, sejam investidores privados ou do Estado).
As máquinas devem ser atendidas todos os dias
úteis, do horário de abertura ao horário de
fechamento (portanto, todos os trabalhadores devem
chegar às estações de trabalho a tempo, para que
haja um conjunto completo de mãos para atender as
máquinas depois de ligadas).
Se centenas de milhares de trabalhadores
precisam estar no trabalho por volta das 8 horas da
manhã, deve haver um sistema de transporte
público eficiente para chegar lá a tempo de suas
casas, preferencialmente nos subúrbios dos
dormitórios. E, para fazer isso cinco dias úteis por
semana, o sistema de transporte deve funcionar com
eficiência todos os dias. E como as máquinas devem
ser totalmente equipadas a qualquer momento, o
absenteísmo do trabalhador não pode ser tolerado.
Portanto, torna-se importante para os proprietários
que os trabalhadores raramente saiam do trabalho
84
por causa de doenças ou acidentes. Portanto,
instalações sanitárias adequadas devem estar
disponíveis na cidade fabril. Isso também significa
que a saúde e a higiene pública se tornam uma
preocupação dos proprietários e das autoridades da
cidade. Portanto, ruas e bairros imundos seriam
desencorajados por proprietários de fábricas e
autoridades da cidade.
Como as fábricas devem ter trabalhadores
qualificados e disciplinados, o sistema educacional
teria que ser sólido. Portadores mal treinados e
incompetentes de certificados falsos seriam
inaceitáveis na fábrica e na sociedade. E os bandidos
dos campus que atrapalham o trabalho e a vida nos
campus teriam que ser exterminados. Do mesmo
modo, as práticas ilegais que tornam os certificados
inautênticos e sem valor.
E, por mais que as fábricas precisem extrair
matérias-primas das fazendas, elas estimularão a
agricultura. De fato, são os insumos da
industrialização e as demandas da industrialização
que podem galvanizar nossa agricultura e, assim,
aumentar o emprego nas áreas rurais, reduzindo
85
assim a fuga dos pobres rurais para as áreas
urbanas. Abundância de empregos; empregos nas
cidades, empregos nas aldeias, nenhum desesperado
com fome e raiva, nenhuma praga de ladrões
armados, nem favelas. Segurança nas ruas. Isso é
apenas uma indicação de como os requisitos de suas
fábricas transformariam uma cidade industrial.
Agora imagine um país cuja vida é moldada e
disciplinada por dezenas de milhares de fábricas
industriais. Existem muitos. São os países
desenvolvidos para os quais os membros da elite
nigeriana escapam, a fim de aproveitar seus roubos,
mantendo perversamente a Nigéria em desordem e
pobreza.
Esse é o potencial transformador do projeto de
industrialização. A propósito, qual é o potencial
transformador da OUA ou da UA ou dos Estados
Unidos da África? Zero! E qual é o potencial
transformador da integração racial? Mais uma vez,
zero! Podemos integrar racial ou politicamente todos
os países do continente africano, ou mesmo da
África negra, e nada melhorará para nós. Podemos
construir toda a infraestrutura que queremos;
86
podemos cumprir todos os ODMs e empregar todos
os dispositivos neoliberais da NEPAD e cumprir os
objetivos do Mecanismo Africano de Revisão por
Pares e ainda deixar nossas economias e sociedades
à beira do mau desenvolvimento. (A propósito, você
sabe o que realmente significam os acrônimos
NEPAD e ODM? Vou lhe dizer: NEPAD é o [New
European Program for Africa‘s Demise] Novo
Programa Europeu para o Fim da África; e para ver o
que significa ODM, você precisa inverter a ordem
das cartas ao GDM, que significa [Goals that will
prevent Development in this Millennium] Objetivos
que impedirão o Desenvolvimento neste Milênio).
Considere a OUA, a UA, os EU da África, a
integração racial, a NEPAD, os ODMs, a construção
de infraestrutura e todo esse jazz - isso não tirará a
África Negra de sua decadência social, pobreza e
impotência. Isso é como construir um carro com um
corpo bonito, mas sem motor.
A industrialização, afirmo, é o mecanismo que
falta em nossas economias e sociedades, e devemos
nos dedicar à industrialização se queremos ser
prósperos e respeitados, e se não queremos perecer.
87
É claro que, no devido tempo, trabalharemos juntos
os detalhes do tipo de programa de industrialização
de que precisamos e as modalidades para realizá-lo,
a fim de satisfazer da melhor maneira possível
nossos requisitos de segurança coletiva, bem como
de acordo com nossos requisitos culturais, sociais,
econômicos e de necessidades ecológicas; mas
minha tarefa aqui é simplesmente apontar que a
industrialização é absolutamente necessária, é a
área prioritária, se queremos ter algum futuro.
Agora, a óbvia pergunta chave: onde será
encontrado o político para criar uma sociedade
assim na África Negra? A resposta é MEDO. Se uma
liderança está ciente dos perigos de ficar para trás
na competição entre as potências do mundo, se
entender que será derrotada e exterminada pelas
sociedades mais industrialmente poderosas,
encontrará a vontade de empreender tal
transformação de sua sociedade. Foi assim que o
Japão, a Rússia e a China encontraram a vontade
política de se industrializar. O mesmo acontece com
os países rivais da Europa desde o final do século
XVIII.
88
Desse modo, se nossa liderança apreciar o ponto
de vista de Garvey sobre o perigo de todos sermos
exterminados pelas raças mais poderosas que
desejam tomar nossas terras e recursos para si
mesmos, é quase garantido que eles encontrarão a
vontade política de construir uma superpotência
industrializada na África Negra.
Deixe-me enfatizar: a vontade política de se
industrializar e se tornar uma grande potência vem
de um medo de ser conquistado, desonrado,
oprimido, escravizado e exterminado pela perda de
uma guerra. Isso ficou explícito no caso da União
Soviética, quando, em fevereiro de 1931, Stalin
previu e advertiu seu povo: “Estamos 50 ou 100
anos atrás dos países avançados. Devemos corrigir
esse atraso em 10 anos. Ou fazemos ou eles nos
esmagam.” E ele dirigiu seu povo com o proverbial
chicote e escorpião, e os forçou a industrializar em
um ritmo desesperado. E a Rússia se industrializou
em 10 anos! Bem a tempo e prontos quando Hitler
libertou seus exércitos contra a Rússia em junho de
1941.

89
No caso do Japão, o espírito japonês sentiu-se
profundamente desonrado em 1853 pela violação do
Comodoro Perry de seu isolamento auto imposto e
pela arrogância dos intrusos americanos e europeus.
E eles temiam que fossem colonizados e oprimidos
pelas potências mundiais brancas. Para resgatar sua
honra e evitar um destino tão detestado, eles
encontraram a vontade política de industrializar e
transformar o Japão em uma potência mundial de
primeira ordem durante a era Meiji, na segunda
metade do século XIX.
No caso da China, foi o medo, em 1919, de a
China ser destruída pelas potências europeias que
deram à geração de Mao a vontade de empreender
uma guerra civil de trinta anos contra os
fantoches/vassalos chineses e conquistar a China
em 1949, e depois industrializá-la em energia
nuclear em 1964.
A motivação foi a mesma para a Grã-Bretanha,
França, Alemanha e os outros membros da Europa.
Durante séculos, o medo de perder qualquer uma
das guerras entre eles motivou cada um a aumentar

90
seu poder. Ninguém queria ser derrotado e perder
sua soberania.
No século XIX, quase todas as políticas negras
africanas entraram em guerra para impedir a perda
de soberania para os europeus invasores. Através de
armas maciças, eles ainda lutavam contra exércitos
maiores usando artilharia, armas máximas, etc.,
eles lutavam mesmo com lanças, flechas e facas. Foi
"soberania ou morte" por assim dizer! Dada a reação
bastante natural de nossos ancestrais, por que
estamos nos comportando de maneira diferente
agora? Por que eu disse "é quase garantido que eles
encontrarão a vontade política de construir uma
superpotência industrializada na África Negra"? Por
que eu não disse "isso é garantido"?
É bem possível que as elites vassalas negras na
África hoje tenham degenerado do nível de
humanidade exibido por seus ancestrais, e tenham
se tornado subumanas em sua preferência por
insultos estomacais e desonra de bom grado; que
são covardes o suficiente para sofrer humilhação
com equanimidade; que estão tão degradados que
podem contemplar sem indignação a perspectiva de
91
extermínio da raça negra; que eles não têm respeito
próprio, falta de senso de desonra e ficam felizes em
viver em estado de vergonha! Caso contrário, por que
eles suportaram a desgraça de serem os últimos em
tudo de louvável na terra? Por que eles estão
tolerando um governo grosseiro, um
desenvolvimento crônico e uma falta de poder
vergonhosa?
É bem possível que nossos governantes
fantoches negros sejam infantis demais para
assumir a responsabilidade pela segurança coletiva
dos negros; infantil demais ou em coma para se
interessar pelos processos de extermínio que já
foram desencadeados por nossos inimigos europeus
e árabes; infantil demais para compreender as
abundantes evidências de nosso extermínio; muito
demente para entender que a sobrevivência de um
povo não pode e não deve ser deixada ao acaso ou à
boa vontade do inimigo.
Francamente falando, nossos líderes são como
bebês engatinhando que comem sujeira e brincam
na areia sem saber que estão no meio de um campo
de batalha. Eles só se preocupam em encher a boca
92
e se divertir com os sons estrondosos da artilharia, o
rata-ta-ta-ta do fogo das metralhadoras, o
espetáculo de explosões e armas a laser iluminando
o céu noturno. Sendo crianças que amamentam bem
abaixo da idade da razão, e muito jovens para ter
medo, pensar em sua segurança está muito além de
sua capacidade.
O ponto é que, se o medo do extermínio não fizer
com que nossas elites vassalas empreendam a
industrialização, nada os levará a fazê-lo. Nesse
caso, a África Negra está condenada e finalizada.
Mas se tivermos algum senso de honra racial e
se quisermos sobreviver fisicamente, precisamos de
um novo pan-africanismo, um pan-africanismo com
um conjunto de doutrinas claramente articuladas e
consistentes, um pan-africanismo com objetivos e
estratégias corretas, um pan-africanismo
comprometido com a construção de uma
superpotência negra na África. Tal pan-africanismo
terá dois méritos vitais:
[a] criando o poder industrial, curaria a África
Negra da fraqueza e impotência que tornaram

93
possível a escravidão, o colonialismo, o racismo e
nosso contínuo extermínio;
[b] procurando atender aos requisitos de poder
industrial, resolveria os problemas da vida cotidiana
das massas negras africanas e eliminaria a pobreza.
Adiante, por que esse projeto vital de construção
de uma superpotência industrial negra na África não
foi realizado até agora? Existem cinco razões
principais. Primeiro, não foi realizado principalmente
porque, durante 50 anos, seguimos cegamente
Nkrumah e Padmore, que haviam desviado o trem do
pan-africanismo para os trilhos errados, os trilhos
afro-árabes da OUA / EU da África que não nos
levaram a lugar algum, mas em direção às
masmorras do colonialismo árabe. Sua obsessão em
construir a unidade continental por meio de um
governo continental nos desviou da tarefa correta de
construir uma superpotência industrial africana
negra.
Precisamos notar que o pan-africanismo da OUA
/ UA dos últimos 50 anos falhou em suprir nossa
necessidade mais vital do poder negro que garantiria
nossa dignidade e sobrevivência física. Nem seus
94
dispositivos atuais, como NEPAD, MDG e EU da
África, podem fazer esse trabalho. Todas essas
bobagens são vendidas por nossos inimigos para
servir seus próprios interesses africanos anti-negros.
Em segundo lugar, nossos líderes estavam se
saciando de ilusões. Alguns disseram que estavam
construindo o socialismo; todos alegaram que
estavam buscando desenvolvimento; todos alegaram
que estavam envolvidos na construção da nação.
Mas, na realidade, todos estavam simplesmente
viciados no consumo conspícuo de camas de ouro,
jatos particulares, mansões na Europa e Dubai e
contas bancárias suíças. São tão viciados em
consumir que não podem poupar em consideração a
dignidade e a sobrevivência da raça.
Terceiro, somos confrontados com uma elite
vassala em escravidão mental pelos árabes e
europeus; uma elite negra para quem a vida sem
mentores e aprovação de brancos é aterradora
demais para ser pensável; uma elite vendida que é
aterrorizada ou estúpida demais para admitir que
árabes e europeus são nossos inimigos mortais há
séculos; uma elite de fantoches que está em coma
95
demais para analisar independentemente nossa
situação, diagnosticar nossos problemas e pensar
em nossas próprias soluções.
Em quarto lugar, a elite da África Negra é tão
dispersa que alguns resistem à evidência do perigo
de nosso extermínio por causa da ingênua e falsa
crença de que este é o "mundo moderno" e não será
permitido pela "opinião do mundo"; e alguns confiam
estupidamente em Jeová ou Alá, os deuses de
nossos inimigos brancos, para garantir que os
negros não sejam exterminados.
Em quinto lugar, nossa liderança é infantil. São
bebês psicologicamente retardados em corpos
adultos. Nunca tendo aprendido sua verdadeira
história, são como os adultos que regressaram ao
estado mental dos bebês depois de serem
hipnoticamente privados da memória de seu
passado. A mentalidade infantil de nossas elites os
impede de entender o perigo em que vivemos. Como
bebês no seio, não podem reconhecer as evidências
abundantes das graves ameaças à nossa
sobrevivência.

96
Sofremos de uma profunda falta de
conhecimento do mundo e da história negra africana
e exibimos total ignorância dos caminhos desonestos
do mundo; e como não conhecemos ou valorizamos
a história da qual precisamos aprender para
sobreviver, não sabemos que muitos povos foram
mortos por seus inimigos e não sabemos que a
sobrevivência de um povo não é automática, mas
deve ser assegurada pela previsão, planejamento
futuro e ação vigorosa. Como os bebês são incapazes
de monitorar seu ambiente para descobrir quais
perigos o futuro lhes reserva, a segurança de uma
sociedade não pode ser confiada a seus bebês, não
importa o tamanho do corpo.
Deixe-me enfatizar que uma vila está condenada,
ao largar sua segurança nas mãos de seus bebês
que ainda amamentam. Os bebês que amamentam
preocupam-se apenas com a comida e o conforto do
seu próprio corpo. O hábito de reconhecimento
constante não é para bebês. Nossas elites vassalas
são inteiramente como bebês que amamentam. Elas
não podem, portanto, discernir, confrontar e
derrotar as forças que orquestram nosso extermínio.
97
É por isso que estamos hoje na situação que
Garvey projetou que chegaríamos em 500 anos;
estamos na situação em que os nativos americanos
dos EUA se encontraram no século XIX, e os negros
australianos no século XIX.
O que é para ser feito?
Antes de tudo, precisamos aprender nossa
verdadeira história afrocêntrica. Isso requer uma
profunda reforma do sistema educacional e,
especialmente, uma reforma do currículo de história.
É aqui que devemos começar. A cura para a
mentalidade infantil de nossas elites vendidas deve
começar com a psicoterapia, com um currículo de
educação terapêutica que implante em nossos
líderes em todos os níveis um espírito patriótico e
uma consciência coletiva de segurança e ensine a
eles as responsabilidades sociais da liderança.
Devemos procurar na psicoterapia outros remédios.
Em segundo lugar, por meio século, tivemos um
pan-africanismo que, devido à ignorância ou falta de
informações apropriadas sobre as realidades
históricas, sociológicas, culturais e de segurança da
África Negra, está principalmente desconectado e
98
não responde aos problemas dos povos africanos
negros, suas aspirações e interesses. Está na hora
de acabar com esse tipo de pan-africanismo.
Afirmo que o pan-africanismo relevante para o
século XXI deve ser baseado no pan-negrismo de
Garvey que foi abandonado desde 1958. O pan-
negrismo deve ser reintegrado, aprimorado e seus
projetos rapidamente realizados, até o fim deste
século XXI.
Não precisamos integrar ou federar
politicamente todos os estados neocoloniais
africanos negros no continente africano para
produzir um superestado africano negro que possa
proteger todos os negros africanos onde quer que
estejam na terra.
Para implementar a ideia de Garvey, o que
precisamos, acima de tudo, é apenas um país
africano negro, grande e industrializado o suficiente
e, portanto, poderoso o suficiente para ser da
categoria G-8, um país que poderia servir como o
estado central - protetor e líder - da África Negra
Global.

99
Também precisamos de uma Liga Africana Negra
que seja a organização de segurança coletiva da
África Negra Global, nosso equivalente à OTAN e ao
extinto Pacto de Varsóvia. Estas são as duas coisas
que precisamos neste século XXI para cumprir o
requisito de Garvey para a sobrevivência dos negros
africanos.
Para a construção de uma superpotência negra
africana, como solicitado por Garvey, uma Federação
da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da
África Ocidental) ou da SADC (Comunidade de
Desenvolvimento da África Austral) ou algum
equivalente na África Oriental ou Central é mais que
suficiente. Apenas um deles, se integrado e
industrializado até 2060, atenderia a necessidade. A
CEDEAO ou a SADC é suficientemente grande em
tamanho territorial, população e dotação de recursos
para se tornar uma potência mundial
industrializada, desde que o seu caráter neocolonial
seja eliminado.
Vejamos os números:
País Área em Km² População em

100
1993
CEDEAO 6,5 milhões 185 milhões
SADC 7 milhões 130 milhões
Brasil 8,5 milhões 156 milhões
EUA 9,5 milhões 256 milhões
Rússia 17,1 milhões 148 milhões
Índia 3,3 milhões 900 milhões
China 9,6 milhões 1,2 bilhões
EU 2,4 milhões 350 milhões

CEDEAO, com 16 estados, 6,5 milhões de km² e


quase 200 milhões de habitantes; ou SADC, com 11
estados, 7 milhões de km² e cerca de 130 milhões de
habitantes - seria um país de tamanho
subcontinental, e na liga de megaestados, em
território, população e recursos aos quais pertencem
os EUA - com 9 milhões de km² e cerca de 260
milhões de pessoas; Brasil - com 8,5 milhões de km²
e 156 milhões de pessoas; e Rússia, Índia etc. A
CEDEAO ou a SADC, se adequadamente integradas,
industrializadas e completamente descolonizadas,
seriam um megaestado do tipo que a África Negra

101
precisa. Então, por que não prosseguimos com a
tarefa de transformar cada um desses em um poder
de categoria do G-8?
É construindo o superestado de negros de
Garvey na África que a redenção dos negros será
realizada. Deixe-me traduzir isso para a linguagem
de hoje: é através da construção de uma
superpotência negra na África que a raça negra se
redimirá de seu atraso, fraqueza e pobreza, e do
racismo e do desprezo do resto da humanidade.
Para evitar o integracionismo e a falta de atenção
à sobrevivência e segurança raciais e à construção
de poder racial que DuBois e Nkrumah exibiram, é
importante que o novo pan-africanismo receba um
nome que reflita seu foco no poder de um público
africano exclusivamente africano. Por isso, proponho
que chamamos de PAN-AFRICANISMO DO PODER
NEGRO. Isso também o distingue da variedade
continentalista e integrante irresistível da OUA / UA
dos últimos 50 anos.
Conclusão:
É lamentável que a afirmação de Garvey da
solução para o nosso maior problema não seja tão
102
conhecida como a do Du Bois - afirma que “o
problema do século XX é o problema da linha de
cores”. Aqui está Garvey novamente:
“Os povos negros do mundo devem se concentrar
no objetivo de construir para si uma grande nação
na África... [de] criar para nós mesmos um
superestado político...um governo, uma nação
própria, forte o suficiente para proteger os membros
de nossa raça espalhados por todo o mundo e
obrigar o respeito das nações e raças da
terra...”[P&O, I: 68; II: 16; I: 52]
Deveríamos fazer dessa declaração de Garvey o
mantra central do pan africanismo daqui em diante,
como deveria ter sido nos últimos 80 anos. É a
solução para o problema da linha de cor e muito
mais, já que os indivíduos de duas raças que se
coabitam não podem ser socialmente iguais se suas
raças são grosseiramente desiguais em poder, um
fato simples que escapou ao nosso instruído Dr. Du
Bois, mas não escapou a Garvey.
Por fim, proponho os seguintes slogans para este
pan-africanismo revitalizado:

103
[a] África negra para negros africanos, em casa e
no exterior
[b] O problema do século XXI é o problema do
poder dos africanos negros: como construí-lo, e o
suficiente para impedir o extermínio dos negros que
está em andamento e obrigar o respeito de toda a
humanidade e garantir a sobrevivência, dignidade e
autonomia soberana da Pan-África.
[c] Construa primeiro o reino da segurança
coletiva, e você poderá, dentro de suas muralhas,
alcançar todos os seus outros desejos!
[d] Construa uma superpotência negra na África
e também construa uma Liga Africana Negra como
órgão de segurança coletiva da raça negra.
[e] África negra! Industrialize ou pereça!!
E a última palavra, a solução de Garvey mais
uma vez:
“Os povos negros do mundo devem se concentrar
no objetivo de construir para si uma grande nação
na África... [de] criar para nós mesmos um
superestado político...um governo, uma nação
própria, forte o suficiente para proteger os membros
de nossa raça espalhados por todo o mundo e
104
obrigar o respeito das nações e raças da
terra...”[P&O, I: 68; II: 16; I: 52]
Finalmente, recomendo que todo africano negro
possua uma cópia do livro Filosofia e Opiniões de
Marcus Garvey e leia-a todos os dias, da maneira
que você lê sua Bíblia ou o Corão.

105
- Reparações e a Guerra Pan-Africana
contra o Genocídio
por Chinweizu (2004)
Agora que os mestres nazistas americanos do
poder branco começaram a implementar sua solução
global final ‘para o que, nos EUA, costumavam
chamar de A questão dos negros‘ [ou seja, O que
deve ser feito com o negro?], Um novo e mortal
contexto surgiu para o Movimento Pan-Africano de
Reparações.
Relatório sobre a situação
Os negros africanos, seja na pátria africana ou
na diáspora mundial, já estão há três décadas sob
um ataque de genocídio dos mestres bárbaros da
Europa Global; um ataque furtivo feito usando
Armas Biológicas de Destruição em Massa (Bio-
WMDs). Aqueles que, durante séculos, orquestraram
nossa escravização, expropriação e superexploração,
agora estão (Surpresa! Surpresa!) Orquestrando
nosso extermínio.
Nossas perspectivas, sem alarde, foram de pior a
pior: de mais 1000 anos de exploração, humilhação

106
e extrema pobreza, até o extermínio definitivo neste
século, se não derrotarmos esse ataque.
Infelizmente, a maioria dos africanos não sabe que
estão em guerra; ou que a Europa Global vem
construindo uma guerra sem cessar na Pan-África
nos últimos seis séculos; ou que, desde a década de
1970, os senhores nazistas da globalização [sua
nova ordem imperialista mundial] travavam uma
guerra secreta para nos exterminar.
Os africanos conhecem muito bem a AIDS e a
epidemia da AIDS que está devastando as
populações pan-africanas; mas eles, e especialmente
os da pátria, não sabem ou são alienados demais
para acreditar que o flagelo da AIDS foi
deliberadamente infligido para exterminá-los, por
meio da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de
sua campanha de vacinação em massa para,
ostensivamente, erradicar a varíola. Foi nessa
campanha que vacinaram 97 milhões de pessoas
nos sete países da África Central que se tornaram o
epicentro da pandemia da AIDS: Zaire, Zâmbia,
Tanzânia, Uganda, Malaui, Ruanda e Burundi. [Veja
a p.6 do Apêndice 1: o artigo de Pearce Wright,
107
“Smallpox vaccine Triggered Aids virusThe” The
(London) Times, 11 de maio de 1987, pp.1, 18]
Quem fabricou o vírus real, mas ainda
misterioso, que causa a AIDS? E mais, por que e
como ele entrou nas vacinas da OMS?
O desafio?
Chega um momento em que um povo deve agir
em conjunto ou vai perecer. Para a Pan-África (todo
o mundo negro africano), esse tempo é AGORA! Se
não conseguirmos agir em conjunto, não teremos
mais futuro, pois, como outros antes de nós,
seremos varridos do planeta Terra por nossos
inimigos seculares: os mestres bárbaros da Europa
Global, viciados em genocídios. Ficaremos
desaparecidos como os nativos americanos dos EUA,
como os negros da Tasmânia, como os aborígines
negros da Austrália, como os aborígines tártaros da
Sibéria. O desafio diante de todos os africanos é,
portanto, o seguinte:
Travar uma guerra implacável contra o genocídio
e derrotar, por qualquer meio necessário, essa
campanha satânica de extermínio que foi
desencadeada sobre nós. Essa é a tarefa primordial,
108
na verdade a única e estratégica tarefa que
enfrentamos neste século.
O que é para ser feito?
Como vítimas de um ataque de genocídio, é
nosso dever responder com uma Guerra ao
Genocídio.
Para esse fim,
Devemos despertar o espírito de luta africano.
Devemos mobilizar a população da Pan-África.
Devemos reorganizar as sociedades e
comunidades da Pan-África para construir o Poder
Africano para a sobrevivência pan-africana.
Mas o que as reparações têm a ver com isso?
Tudo!
De fato, a auto reparação, o aspecto central das
reparações, é a chave de tudo. Como assim?
Os dois principais obstáculos à mobilização e
organização africana são (a) as populações
niggerizadas* da Pan-África, e (b) O acúmulo de
traidores no topo das sociedades e comunidades
pan-africanas: os traidores espirituais, traidores
temporais, traidores intelectuais, traidores políticos,
culturais, econômicos etc; Traidores instalados pelo
109
Poder Branco para nos desorientar e nos desviar, e
que diminui seu próprio povo para o inimigo
imperialista estuprar, saquear, explorar e
exterminar.
Lembra-se do Marcus Garvey? Aquele grande
profeta pan-africano que nos alertou, na década de
1920, sobre o genocídio que estamos vivendo agora?
O que nos impediu de atender a seu chamado e
organizar o Poder Africano para impedir ou derrotar
esse ataque há muito previsto? Não teria outro
motivo senão nossas mentes (des)africanizadas,
niggerizadas e zumbificadas.
Nosso primeiro passo em direção à vitória deve
ser a de desniggerizar e (re)Africanizar nossas
mentes; para nos livrarmos, especialmente, do
niggerismo que agora está entrincheirado na pátria.
Mas, antes de tudo, quem é o nigger?
O Nigger é o africano mutilado pelo poder
branco, uma farsa peculiar produzida por séculos de
imperialismo europeu e hegemonia árabe. Após mais
de um século nas masmorras do poder branco, todos
nós africanos hoje nos tornamos niggers.

110
O Nigger é o morto-vivo no qual o Poder Branco
transformou o africano. O Nigger é um africano falso
- uma pessoa de raça africana, que foi despojada da
cultura africana e que é culturalmente eurocêntrico
ou arabocêntrico.
O Nigger é um africano biológico que
internalizou superstições da supremacia branca, e
se tornou negrofóbico, e até eurochauvinista ou
arabochauvinista também, em muitos casos.
O Nigger é uma pessoa com pele negra, mente
branca e espírito branco, um sal africano que perdeu
o sabor, o açúcar mascavo que azedou.
O Nigger é aquela criatura estranha - o africano
nominal que despreza sua raça, nega a cultura
africana, demoniza seus antepassados e ainda
espera, e até exige, que as pessoas de outras raças
que se prezem, o respeitem e o tratem como igual
membro da humanidade.
O Nigger é o morto-vivo africano possuído pelas
ideias e ideais da supremacia branca; o africano
negrofóbico que deseja ser branco fisicamente (por
exemplo, Wacko Jacko) ou culturalmente (por
exemplo, a variedade de europeus negros na pátria,
111
afro-saxões na diáspora e Omar Bashir com seu
bando criminoso de traficantes de escravos Arabizer-
Jihadeer fazendo limpeza étnica no Sudão).
O Nigger, hipnotizado pelo Fantasma da
Liberdade / Igualdade / Direitos Individuais no
sistema de Poder Branco do inimigo, imagina-se livre
enquanto tudo na Pan-África - nossas leis, nossos
costumes, nossas cidades, nossas escolas, nossas
crenças, nossas ambições - ainda possui as
características estampadas para servir ao
imperialismo.
O Nigger é o africano encantado e viciado no
caminho antiecológico da Europa Global [ou seja,
caminho anti-Ma'at]; essa maneira glamorosa e
capitalista que está levando a certa destruição da
biosfera e da humanidade.
Alguns niggers, os super-niggers, estão tão
viciados nos deuses satânicos e vigaristas de seus
senhores de escravos brancos que, na verdade, já
são escravizados, não apenas no corpo e na mente,
mas também na alma; não apenas por toda a vida
aqui na terra, mas também por toda a eternidade no
além.
112
Imagine uma ovelha negra regurgitada após uma
semana no estômago de um píton branco e coberta
por um espesso gel de saliva de píton; imagine
aquela carcaça meio digerida cambaleando e
desfilando como uma ovelha. Mas esse é o Nigger!
Leva o Nigger a pensar ou dizer: “Obrigado Deus
pela escravidão!” Ou “Obrigado Deus pelo
colonialismo!” Ou seja, contar como bênçãos aquelas
duas demolições das sociedades africanas pelo poder
branco: demolições acompanhadas de picadas de
víbora que incorporavam presas e venenos no corpo
social da Pan-África, presas que ainda precisam ser
extraídas e venenos que ainda precisam ser
sangrados e neutralizados com antídotos, venenos
que ainda fluem em nossos espíritos, deixando a
Pan-África muito atordoada, decrépita e
desorientada para agir em conjunto.
Tal é o africano Niggerizado, seja da terra natal
ou da diáspora!
E a mente do Nigger é o ponto de recrutamento
do inimigo para se tenha traidores entre nós.
E foi o niggerismo que fez com que os traidores
da Pan-África desperdiçassem, em atividades
113
frívolas, os últimos 50 anos de "Independência", e os
manteve perseguindo migalhas da mesa do Poder
Branco, ao invés de focar no seu dever estratégico de
construir o Poder Africano. E esses fracassos
gratuitos nos colocaram, fracos e indefesos, a este
matadouro de vacinação por genocídio.
Nossa primeira tarefa em nossa Guerra contra o
Genocídio é, portanto, curar a Pan-Africa do
Niggerismo, com suas confusões de identidade, sua
cegueira estratégica, sua consciência deseducada e
zumbificada, suas imbecilidades suicidas e sua
infinita tolerância aos traidores no topo.
A auto reparação consiste em efetuar essa cura.
E a prova operacional de uma reparação bem
sucedida será quando construirmos o Poder
Africano, e que nos trará a vitória sobre esse
genocídio. Mas o nigger em nós teme e obstrui essa
cura.
Lembra-se do H. Rap Brown? Lembra do grito
de guerra dele? "Morra, nigger morra!"
Ainda estamos a sofrer completamente a sábia
cura que ele prescreveu. Ainda existem muitos
negros na Pan-África, causando estragos entre nós
114
em todos os lugares. De fato, os niggers estão
proliferando, principalmente na pátria. Devemos
matar rapidamente o nigger em nós, pois o nigger
deve morrer para que o africano viva!
Lembra-se de [Amilcar] Cabral, que nos ensinou
a nos tornarmos africanos e a lutar contra nossas
próprias fraquezas?
A desniggerização, a re-africanização e a
superação de nossas debilidades são os
fundamentos da auto reparação que devemos
realizar. Sem elas, nossas chances de sobreviver a
este século XXI são menores do que as de um
granizo em um forno de fusão de metais.
Matar o nigger é a base do nosso programa de
auto reparação. E como o Nigger é tão difícil de
matar, precisamos coletivamente ajudar um ao outro
a matar o Nigger em nós mesmos.
Portanto, a tarefa básica e urgente do Movimento
Africano de Auto Reparação é clara:
Re-africanizar o nigger, pois essa é a única
conversão que pode salvar nossos corpos aqui na
terra e nossas almas no além.

115
Para nos africanizar, a nossa mente precisa se
tornar afrocentrada.
Depois de um século ou mais de deseducação
abrangente, a nossa primeira necessidade é
conhecer a nós mesmos e conhecer os nossos
inimigos.
E para isso devemos recorrer a nossos sábios e
profetas de todos os tempos e beber de suas fontes
de sabedoria que cura:
Devemos aprender com nossos profetas anti-
imperialistas, de Boukman a Biko.
Devemos aprender com nossos guerreiros e
desbravadores intelectuais, com os defensores do
caminho africano: de Garvey, Cheikh Anta Diop,
Amilcar Cabral, Martin Delaney, Malcolm X, Blyden,
Fanon, Cesaire, Carruthers e outros.
Devemos buscar orientação de nossos sábios ao
longo dos milênios, de Ptahhotep até P‘Bitek, e dos
provérbios de nossos ancestrais.
Devemos inspirar-nos em exemplos de
organizadores e mobilizadores do poder africano, de
Mena a Menelik, de Senwosre a Shaka, de
Seqenenre Tao, Kamose, Ahmose, Piankhy e
116
Taharka, até Sundiata, Sonni Ali, Osei Tutu,
Dessalines, Nzinga, Yaa Asantewa, Nehanda,
Sobukwe e muitos mais.
Devemos nos armar com a arma da cultura, da
cultura africana; devemos fornecer à nossa mente
histórias afrocêntricas, épicos, historiografias,
parábolas, enigmas, instruções, advertências; com
as ciências e tecnologias que construíram as
Grandes Pirâmides no Nilo; com as histórias das
Boas Obras, Sofrimento, Morte e Ressurreição de
Ausar / Osíris, as tristezas e poderes salvadores de
Isis, a sabedoria de Djehuti e os outros Akhu /
(Iluminados) do Sep Tepi.
Para o nosso espírito africano ressuscitar, como
Ausar, após esses muitos séculos de menticídio,
devemos apagar da Pan-África a impressão satânica
do poder branco e sua marca de conhecimento
afrocida.
Devemos acabar com nossa tolerância e
admiração pelos demônios traidores niggers, que são
destacados e glorificados pela propaganda inimiga.

117
Devemos retirar nossa lealdade de seguidores da
estrela Nigger, enganosa, impingindo a nós canções
de manipulação e louvor pelo Poder Branco.
Devemos abandonar os aclamados Niggers que
ensinam doutrinas inimigas e, em vez disso,
devemos absorver a sabedoria de nossos próprios
instrutores afrocêntricos: aqueles que ensinam no
interesse africano.
Mas, enquanto matamos o Nigger dentro e ao
redor de nós, e enquanto começamos a Afrocentrar a
nós mesmos e nossas comunidades, não devemos
negligenciar que precisamos de algumas medidas
defensivas urgentes para conter este ataque
genocida:
1. Não se submeta a nenhum programa de
vacinação em massa, especialmente aqueles
patrocinados por qualquer organização do Poder
Branco, como a OMS e outras agências da ONU.
2. Sempre pratique sexo seguro e outras
medidas anti-AIDS.
3. Procrie o máximo que puder. A Pan-África tem
um problema de subpopulação, não de
"superpopulação", e agora precisamos também nos
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reproduzir em um ritmo mais rápido do que a
máquina de genocídio do inimigo pode nos derrubar.
4. Dê aos seus filhos uma educação afrocêntrica
completa para garantir que eles se tornem africanos
e não niggers!
5. Crie estruturas para que nos mantenhamos
africanos em mente e espírito.
6. Torne-se sempre consciente da segurança
africana e crie órgãos para o controle africano dos
países e comunidades africanas.
7. Insista na África para os africanos e no uso
dos recursos da África para o Poder Africano.
8. Desorganize as estruturas imperialistas que
aprisionam seu país, escravizam sua sociedade e
distorcem suas vidas.
Lembre-se, a todo momento, que a frente de
batalha nesta guerra contra o genocídio está onde
você estiver. Portanto, aja onde quer que esteja, hoje
e todos os dias:
Mate o Nigger dentro de si e ao seu redor e
Afrocentre-se, você e seus companheiros!
Mate o Fantasma da liberdade / igualdade /
direitos individuais que as sirenes inimigas bradam
119
para nos iludir e aleijar. A única liberdade /
igualdade / direitos que qualquer africano em
qualquer lugar do mundo é a liberdade / igualdade /
direitos garantidos pelo Poder Africano.
Qualquer outra coisa é uma miragem que
aparece e desaparece ao capricho do poder branco.
Reconheça que afrocentrar-se, como reparação,
tem tudo a ver com a construção do Poder Africano,
e reconheça que o problema do século XXI é o
problema do Poder Africano: Como construir o
suficiente para garantir a sobrevivência e autonomia
soberana da Pan-África.
Lembre-se sempre que não há isenção individual
nem rota de fuga individual deste ataque genocida.
Um Colin Powell pode afirmar que ele não é
negro ou africano; mas será que ele pode enganar
aqueles vírus novos e aprimorados da Bio-WMD que
são geneticamente modificados para selecionar e
matar negros e apenas negros? [Ver p.10 no
Apêndice 2: "Biowar and the Apartheid Legacy" by
Salim Muwakkil, In These Times, May 29, 2003]]
Estamos todos juntos nisso e devemos travar a
guerra coletivamente ou perecer separadamente.
120
Portanto, Organize, não agonize!
De fato, esta Guerra ao Genocídio é uma grande
convocação para nos organizarmos, construirmos
coalizões e estabelecermos uma unidade operacional
entre as zonas da Diáspora e Pátria da Pan-África.
É o momento de missionários zelosos do
afrocentrismo se espalharem por toda a África para
reconquistar nosso povo ao nosso interesse coletivo.
E, em particular, todos vocês Afrocentristas da
Diáspora: Venham para a África e ajude-nos a re-
Africanizar este terreno baldio Niggerizado e torná-lo
adequado para construir o Poder Africano para a
sobrevivência da Pan-África!
E, ao aceitar o desafio, vamos armar nossos
espíritos com a oração de Boukman de 1791:
“Bom Deus, que criou o Sol que brilha sobre
nós, que elevou o mar e faz o trovão roncar;
Ouça, Deus, embora escondido nas nuvens, nos
vigia.
O deus do homem branco invoca o crime, mas
nosso Deus deseja boas obras.
Nosso Deus, que é tão bom, nos ordena a
vingança.
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Ele vai direcionar nossos braços e nos ajudar.
Jogue fora a semelhança do deus do homem
branco que tantas vezes nos levou às lágrimas e
ouça a liberdade que fala em todos os nossos
corações.”
- (Boukman, Sacerdote haitiano do Vodun,
agosto de 1791; tr. De Jacob Carruthers)
Com o espírito de Boukman iluminando nosso
caminho
Vamos nos unir e avançar para vencer esta
Guerra contra o Genocídio!

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