Você está na página 1de 22

PAN-AFRICANISMO QUE PARADA É ESTA?

Pan-africanismo é um movimento de caráter social,


filosófico e político, nascido nos Estados Unidos, no
fim do século XIX. A ideologia Pan-africanista surgiu
de um sentimento de solidariedade entre os negros
e negras do Caribe e dos Estados Unidos. Ambos
estavam envolvidos numa luta semelhante contra a
violenta segregação racial.

Essa solidariedade que marcou a segunda metade


do século XIX propôs a união de todos os povos da
África como forma de potencializar a voz do
continente no contexto internacional, prega a união
dos povos africanos em prol da luta contra o
racismo estrutural.
Os principais nomes da teoria são Edward
Burghardt Du Bois e Marcus Musiah Garvey.
Após o primeiro congresso organizado em
1919 em Paris, pelo menos outros três
foram realizados, no último, foi tratado de
aclamar a necessidade da formação de
movimentos nacionalistas de massas para
obterem a independência da África o mais
rápido possível.

Em 1960, uma onda independentista tomou


conta do continente africano. As lideranças
dos países já emancipados se organizaram
e fundaram, em 1963, a Organização da
Unidade Africana.
No Brasil, o Congresso de Cultura Negra
realizado a partir da década de 1970 foi o
principal reflexo do movimento.
Pan-africanismo e as Mulheres Negras
No dia 31 de Julho, celebrou-se o dia Pan – Africana das
Mulheres, esta organização conta em 53 países
africanos, foi fundada a esse dia, no ano de 1962 na
Conferência das Mulheres Africanas, em Dar-es- Salam
Tanzânia.

Congrega Organizações femininas do Continente


Africano, que tem um papel importante em discutir vários
problemas que afetam a mesma organização feminina,
unir todos os esforços e todas as ações dentro do povo
Africano, para combater todos os males e obstáculos que
impedem a sua integração no desenvolvimento e
melhoramento do nível de vida, no plano econômico,
político, social e cultural, para transformar a África num
continente de paz, livre, justo e que progrida, com uma
única voz PANAFRICANISMO.

A celebração do dia 31 de Julho é reconhecida num total


de 14 países e ainda por 8 movimentos de libertação
Nacional.
As mulheres desempenharam um papel
instrumental tanto na formação do
movimento Pan-africano do final do século
XIX através das lutas de libertação nacional
do meio até o final do século XX.

As mulheres estiveram na vanguarda dos


esforços de independência nas áreas de
mobilização de massa, educação, política,
luta armada e reconstrução nacional.
WINNIE MANDELA –1936/2018 - África do Sul
Enfermeira, política e ativista sul-africana, que se dedicou na luta contra o apartheid.
S vida de Winnie Mandela situa-se na intersecção destes três conjuntos de relações
pan- africanas: entre os sexos, no âmbito racial e aquelas referentes às gerações.

Em 1976, durante as revoltas juvenis, criou a Federação das Mulheres Negras e a


Associação dos Pais Negros, ambas afiliadas ao Movimento da Consciência Negra –
organização que rejeitava todos os valores brancos e adotava uma visão positiva da
cultura negra; este envolvimento levou-a a nova prisão.
Winnie Mandela – 1984

“Não somos nós que devemos refletir sobre a sociedade futura, mas sim os brancos
que devem começar a refletir sobre como poderão se adaptar à nossa forma de
sociedade. Este é realmente um problema deles.

Não temos dúvida sobre aquilo que quaresmo. O branco de ser o último a quem se
pode permitir falar dos direitos de qualquer pessoa. Ele tem a ousadia de falar de
proteção dos direitos da minorias, ao mesmo tempo que espezinha os direitos da
maioria. Isso me põe tão furiosa que mal posso continuar a discutir: que arrogância!
Acho que o branco é o último desta terra com quem, no momento, alguém tem de se
preocupar. Ele roubou todos os direitos de milhões de pessoas e preocupa-se com
seus direitos!

“Não acreditamos realmente que seja especialmente premente quebrar a cabeça com
os direitos da minoria branca”.
Amy Jacques Garvey – 1895/ 1973 – Jamaica

Amy Jacques Garvey foi uma nacionalista preta militante


por liberdade e justiça para os africamos se tornou
Secretária Geral da UNIA em 1919, e apartir de então ela
também se tornou uma das principais porta-vozes da
organização e foi editora associada do jornal de
organizações The BlacK Word.

Como jornalista, ela era uma escritora e palestrante, não


cortou palavras em seus editoriais ou colunas. Uma de
suas colunas foi dita ser tão popular “ Nossas Mulheres e
o que Eles pensam”tido como esclarecedor e libertador.
Amy Jacques Garvey – 1925

Mas quem merece mais admiração do que a mulher preta, aquela que
suportou os rigores da escravidão, as privações resultantes de uma raça
pauperizada e as indignidades amontoadas sobre um povo fraco e
indefeso.

No entanto, ela sofreu tudo com fortaleza, e está sempre pronta para
ajudar na marcha para a liberdade e poder... Estamos cansadas de ouvir
os homens negros dizerem: “Há um dia melhor vindo”, enquanto eles não
fazem nada para inaugurar o dia. Estamos ficando tão impacientes que
estamos nos colocando nas fileiras da frente e avisamos ao mundo que
vamos afastar os negros covardes e hesitantes e com a oração nos
lábios e nos braços preparados para qualquer briga, até que a vitória
termine.
Lélia Gonzalez – 1935/1994 – Brasil
Intelectual, política, professora e antropóloga, uma das
fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU) 1978.
Ativista incansável militou também em diversas
organizações, com o Instituto de Pesquisa das Culturas
Negras (IPCN) e o Coletivo de Mulheres Negras N’Zinga, do
qual foi uma das fundadoras.

Em Salvador fez-se presente na fundação do Olodum.


Criadora do conceito amefricanidade, seu trabalho
intelectual foi marcado pela produção sobre a mulher negra,
sendo responsável por enegrecer o feminismo criando o
conceito do feminismo afrolatino.
Intelectual e feminista: Lélia Gonzalez, a mulher que
revolucionou o movimento negro
"Foi uma grande revolucionária e evidenciou a posição
estratégica das mulheres negras na sociedade brasileira"

Amefricanidade

Termo cunhado por Léila Gonzzalez para indicar um enfoque sobre a


formação histórico-cultural das Américas que considera as influências
africanas e indígenas
Contrapondo os termos imperialistas afroamericano e
africanoamericano para designar africanos/as diaspóricos/as das
Ámericas (Sul, Central e Norte ) submetidos ao mesmo sistema
de deminação, o racismo.

Sugestão de leitura um artigo da Lélia Gonzalez chamado “A categoria político-cultural da


amefricanidade
ASSATA SHAKUR – 1947 – Estados Unidos

Militante histórica do Movimento Negro que


participou no final dos anos 60 e inicio dos 70 do
Partido dos Panteras Negras e do Exército de
Libertação Negra.

Acusada, entre outras coisas, de matar um policial


nos estados Unidos, Assata foi presa e passou por
diversas prisões durante a década de 70, mas
conseguiu fugir de uma prisão de Nova Jersey em
1979 e conseguiu pegar um voo para Cuba em
1984.

Assata vive exilada desde então e em 2013 foi


incluída pelos EUA na lista dos 10 terroristas mais
procurados, tendo uma recompensa de 1 milhão de
dólares por dicas que levem à sua prisão
ASSATA SHAKUR - 1987

Eu pus meu novo nome no bolso e continuei a absorver a atmosfera, viajando na idéia
de uma nação Preta na Babilônia, uma nação de Pretos e Pretas bem no meio da
barriga da bestas. Imaginando uma juventude Preta florescendo e sendo criada em
escolas Pretas, ensinadas por professores e professoras que a amassem e
ensinassem ela a se amar.

Controlando suas vidas, suas instituições, trabalhando juntos/as para construir uma
sociedade humana, pondo fim ao longo legado de sofrimentos que o povo prto
aguentou nas mãos do América. Minha mente viajou na ideia e em um minuto eu
estava imaginando ônibus vermelhos, pretos e verdes, prédios com a decoração
Africana, programas de televisão Pretos e filmes que refletiam as características reais
da vida Preta ao invés das características criadas pelo racismo.

Eu imaginei tudo, desde cidades chamadas Malcolmville e Nova Lumumba até


recepções de lideres revolucionários e revolucionárias de todo o mundo na Casa Preta.
As mulheres negras tiveram papéis fundamentais
na construção do Pan- africanismo, e as nossas
referências são muitas

GRAÇA MARCHEL

AMY ASHWOOD GARVEY

ANNA JULIA COOPER


Organizações de mulheres negras desde o início do
século XX

▪Sociedade de Socorros Mútuos Princesa do Sul, fundada em 1908;

▪Sociedade Brinco das Princesas, de 1925, respectivamente em Pelotas e São


Paulo, eram formadas estritamente por mulheres negras;

▪As Mulheres Negras integraram também uma grande parcela da Frente Negra
Brasileira (FNB), fundada em 1931 e considerada a Organizações de mulheres
negras desde o início do século XX (FNB), fundada em 1931 e considerada a
entidade negra mais importante do país na primeira metade do século XX.

▪Nos anos 30 foi fundada a primeira Associação de trabalhadoras domésticas no


estado de São Paulo, que teve como principal representante a ativista Laudelina
Campos Melo, que também integrava a FNB;

▪Em 1950, foi fundado o Conselho Nacional da Mulher Negra, formado por
mulheres vinculadas à cultura, às artes e à política.
FEMINISMO NEGRO E O MOVIMENTO DE MULHERES NEGRAS NO BRASIL

A partir dos anos 1970 que as organizações de mulheres negras ganham força no Brasil,
reivindicando duplamente o movimento negro e o feminismo. A partir desse período, os
movimentos de mulheres negras procuraram explicitar a diferença entre as formas de
mulheres e homens negros sentirem a discriminação racial, acrescentando a problemática do
gênero à questão do racismo.

As feministas negras denunciavam, por um lado, posturas machistas na militância negra e,


por outro, as desigualdades e o racismo presentes no movimento de mulheres. Léila
Gonzalez foi uma das pioneiras a chamar atenção para essa interseção de preconceitos.
Como muitos intelectuais negros Lélia combinou uma intensa militância de rua a uma
atividade de produção intelectual militante.

Nesse contexto, surgiram diversas organizações de mulheres negras (Ongs, coletivos,


grupos) desde fins da década de 1970:

Aqualtune, criado em 1978, no Rio de Janeiro


Nzinga Coletivo de Mulheres Negras, criado em 1983, no Rio de Janeiro
Bamidelê, criado 1988 Paraiba
Geledés Instituto da Mulher Negra - criado 30 de abril de 1988
Articulação de Organizações de Mulheres negras Brasileira, criada em 2000 com mais de 20
entidades de mulheres negras pelo Brasil.
Ainda na década de 80 e 90 as mulheres negras realizam dois encontros nacionais: I Encontro
Nacional de Mulheres Negras – 1988 – Rio de janeiro II Encontro Nacional de Mulheres Negras –
1991 – Salvador Comenta sobre a organização das mulheres negras anterior a década de 70, a
exemplo do Conselho Nacional de Mulheres Negras e o Congresso Nacional de Mulheres Negras,
ambos datados de 1950 e os mesmos eram ligados ao Teatro Experimental do Negro (TEN)

Assim, o Movimento de Mulheres Negras, chega ao século XXI construindo uma cultura de
resistência em oposição à sociedade que os oprime e que considera as suas trajetórias secundárias.
Tal cultura, igualmente, visa defender a sobrevivência material e cultural da ne O Movimento das
Mulheres Negras tem orientado as lutas de mulheres negras, na construção tanto de suas
identidades sociais (negras e feministas) como na sua constituição e fortalecimento enquanto sujeita
política de direito, cujas metas passam pela transformação das relações de poder e pela ampliação
da cidadania para grupos historicamente injustiçados.
ARTICULAÇÃO EM REDES
Rede de Mulheres Negras da Bahia (2013), que
tem atuado na articulação e mobilização de
mulheres e jovens negras dos municípios baiano,
tendo como propósito enfrentar discriminações de
gênero, classe, raça e a lesbofobia, visando garantir
políticas específicas para as mulheres negras e a
defesa de uma sociedade menos desigual, que
reconheça e respeite a diversidade racial existente
na Bahia.
Estamos espalhadas em REDE

REDE MULHERES NEGRAS DO NORDESTE


Rede de Mulheres Negras: BAHIA, PERNAMBUCO, PARAIBA, SERGIPE,
ALAGOAS, RIO GRANDE DO
NORTE E MARANHÃ, ESPIRITO SANTO, BELO HORINZONTE, AMAZONAS,
RONDONIA, PARÁ, RIO DE JANEIRO, GOIANA
REDE DE MULHERES NEGRAS DA AMERICA LATINA E DO CARIBE

CULPULA MUNDIAL DAS MULHERES NEGRAS


Compreendemos que o pan-africanismo tem como objetivo a emancipação das
populações negras. Para as mulheres negras o pan-africanismo é ainda uma
plataforma necessária para a luta do povo africano e seus descendentes porque,
onde quer que estejam, têm que enfrentar situações específicas que outras pessoas
não têm.

É importante nesse momento de luta contra o golpe parlamentar, o avanço do


conservadorismo, e a perca de direitos, termos uma posição formulada em conjunto
a respeito do que está acontecendo, porque são as/os descendentes de africanos
no Brasil as pessoas mais afetadas com as reformas que estão sendo aplicadas em
especial a mulheres negras.

O conteúdo pode ter mudado, mas o objetivo básico, que é a emancipação, nunca
mudou. No futuro, o pan-africanismo também tratará sobre emancipação, além de
outras dimensões mais amplas, como política racial, meio ambiente, gênero e a luta
contra as estruturas patriarcais
Meu entendimento é que as tendências fascistas estão sempre
agindo no campo cultural e econômico. Mas não têm
hegemonia. Trabalhar juntos contra um governo como esse que
temos hoje no Brasil é urgente. A gente não pode ter o luxo de
ficar fragmentado.

Os pan-africanistas no Brasil devem ter uma posição formulada


em conjunto a respeito do que está acontecendo. Os
descendentes de africanos no Brasil são as pessoas que mais
estão perdendo com as reformas que estão sendo aplicadas,
então, é preciso lutar ainda mais e trabalhar ao lado de outras
forças da esquerda.
Lindinalva de Paula
Educadora, graduada em gestão pública
Assessora parlamentar da Comissão de Promoção da Igualdade da Assembleia
Legislativa
Rede de Mulheres Negras da Bahia
Rede de Mulheres Negras do Nordeste
Coletiva de Mulheres Negras Abayomi
Vice-Presidente do Conselho de Desenvolvimento das Comunidades Negras
Tel. 71- 99933-4033/98632-4472
Email.lindidepaula@yahoo.com.br

Você também pode gostar