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Movimento da negritude: uma breve reconstrução histórica.

O movimento da negritude nos últimos anos passa a ser um movimento de afirmação racial
no Brasil, que possui um certo caráter político, ideológico e cultural. A negritude se
manifesta no campo político como forma de validação do movimento negro, no campo
ideológico agindo no combate contra o racismo e suas raízes, e aquisição de consciência
racial. No campo cultural, age como forma de valorizar as raízes africanas, reconhecendo as
suas múltiplas culturas e costumes.

O movimento da negritude nasce fora da África.

O autor diz que o movimento da negritude surge nos Estados Unidos, se espalhando pela
Europa, até ganhar força na França. Após isso, se espalha para a África e as Américas. A
negritude se sustenta no discurso de orgulho racial, de volta às origens negras, a consciência
do ser negro e a luta pela disseminação dos esteriótipos e preconceitos disseminados contra o
negro no imaginário social. Du Bois é considerado o patrono do pan-africanismo, mas o
termo negritude só surge mais tarde.

O autor também diz que em Paris, no período entre guerras, surge um processo de
mobilização cultural. Cansados da mesma história voltada somente para o lado ocidental, o
eurocentrismo que focava na Europa como modelo em todos os sentidos, despertou-se entre
um grupo de estudantes negros a necessidade de lutar a favor do resgate da identidade
cultural do povo negro e uma consciência racial.

Esse mesmo grupo, em 1934, lançou uma revista em Paris, contrapondo-se à política
eurocêntrica e lutando pela liberdade cultural. Essa revista teve importância fundamental na
disseminação do movimento, uma vez que, publicando outros artigos foi surgindo
progressivamente uma imagem positiva a respeito da civilização africana. Esse movimento
literário marcou a fundação da ideologia da negritude no cenário mundial.

O significado do termo negritude.

O termo negritude surge como um termo pejorativo no século XX, utilizado para ofender ou
desqualificar o negro. O uso da palavra negritude no movimento tinha a intenção de inverter
o sentido e tornar uma palavra positiva, afirmação de orgulho racial. “Desmobilizar o inimigo
em um de seus principais instrumentos de dominação racial: a linguagem.”
De início, o movimento da negritude tinha um caráter cultural, propondo negar a assimilação
à cultura europeia, rejeitar o processo de alienação e enaltecer os valores e símbolos culturais
de matriz africana. Se trata de um sentimento de orgulho racial e conscientização do valor e
riqueza cultural dos negros.
Os arautos da negritude.

O autor diz que:“Na concepção de Aimé Césaire, negritude é simplesmente o ato de assumir
ser negro e ser consciente de uma identidade, história e cultura específicas,” Para Césaire, a
negritude é dividida em três aspectos, a identidade, a fidelidade e a solidariedade.
A identidade seria o orgulho de ser negro. A fidelidade seria o vínculo à sua ancestralidade,
valores e cultura ancestral africana. A solidariedade seria o sentimento que une todos os
negros e a preservação de uma identidade comum.

Negritude: instrumento de libertação política

O autor apresenta que o movimento da negritude apresentou em sua face inicial uma
influência do marxismo. Porém, na medida em que o movimento foi se espalhando e
possuindo o poder de mobilização, surgiram divergências de entendimento sobre o que seria a
negritude dentro do marxismo e do partido comunista. Um grupo menor defendia que a
negritude era associada à luta de todos os oprimidos pela sociedade e pelo sistema capitalista,
e outro grupo maior, defendia que a negritude pretendia exclusivamente construir uma
consciência racial, não abrangendo todos os oprimidos pelo sistema capitalista.
Após a Segunda Guerra Mundial, o movimento de negritude passa a ter outro significado, o
militante, o mais importante naquele instante seria colocar a ideologia da negritude a serviço
da causa política maior, a libertação das colônias africanas do jugo europeu. A luta contra o
imperialismo e o racismo.

A natureza pequeno burguesa da negritude.

Por surgir a partir de revistas, artigos e poemas, o movimento da negritude alcançava somente
a elite negra letrada, não atingindo as massas africanas, as quais em sua maioria eram
analfabetas e preservam os valores da cultura tradicional. Por isso, o discurso da negritude na
África, a princípio, mobilizou somente a elite colonial negra.
A elite negra que situava-se na Europa, apesar de pregar a negritude, aspirava ter um nível de
vida equivalente ao dos brancos. Os negros da África haviam assimilado o branqueamento
dessa elite, que mesmo “vestidos à européia”, não conseguiam fugir da marginalização,
continuavam sendo negros e tradados como inferiores.
“Com isso, para dar uma resposta a esse sentimento de marginalização racial e frustração
existencial que a pequeno burguesia negra sofria, resolveu revalorizar a sua identidade,
empreendendo um discurso de afirmação racial e volta às raízes da cultura africana.” Essa
pequena burguesia começou a lutar contra esse embranquecimento dos corpos e das mentes,
não aceitando ser considerados inferiores. A negritude seria uma reação do negro à
supremacia branca.
A negritude era vista por Jean-Paul Sartre como uma fase de transição. Essa fase seria uma
passagem, buscando a construção de uma sociedade sem nenhuma forma de opressão racial,
seria para ele um mal necessário para que os oprimidos pudessem alcançar uma sociedade
igualitária.
Sartre diz sobre as contradições da negritude. Ele cita que, os negros ao se sugeitarem a falar
a língua francesa, que era a língua dos colonizadores, eles mantiam o padrão cultural do
inimigo. “Ao declarar em francês que rejeita a cultura francesa, o negro apanha com uma
mão e joga fora com a outra, instala em si mesmo, comom uma trituradora, o aparelho de
pensar do inimigo.”

Negritude no Brasil

As ideias do movimento francês da negritude só chegou no Brasil na década de 40 através do


Teatro Experimental do Negro, Luís Gama é considerado o precursor da ideologia da
negritude no Brasil. “Para o TEN, mais do que um sistema de idéias, a negritude era uma
filosofia de vida, uma bandeira de luta de forte conteúdo emocional e mítico, capas de
mobilizar o negro brasileiro no combate ao rascismo, redimi-lo do seu complexo de
inferioridade e, por conseguinte, fornecer as bases teóricas e políticas da emancipação.”
Tal como na frança, a negritude surge como um protesto da pequena burguesia contra a
supremacia branca, contra a ideologia de branqueamento.

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