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O aparecimento das literaturas de língua portuguesa na África resultou, por um lado, de um


longo processo histórico de quase quinhentos anos de assimilação de parte a parte e, por
outro, de um processo de conscientização que se iniciou nos anos 40 e 50 do século XIX,
relacionado com o grau de desenvolvimento cultural nas ex-colônias e com o surgimento de
um jornalismo por vezes activo e polêmico que, destoando do cenário geral, se pautava
numa crítica severa à máquina colonial.

Segundo Manuel Ferreira (1989b), o entendimento da literatura africana passa pela


compreensão da perspectiva dinâmica que orienta a produção literária, que faz com que
esses momentos não sejam rígidos nem inflexíveis e permite que um escritor, muitas vezes,
atravesse dois ou três deles: no espaço ontológico e de criatividade poética do escritor
movem-se valores do colonizador que são dados adquiridos, funcionam valores culturais de
origem e há sempre a consciência de valores que se perderam e que é necessário ressuscitar.

Numa perspectiva mais historicista, Patrick Chabal (1994) refere-se ao relacionamento


do escritor africano com a oralidade e propõe quatro fases abrangentes das literaturas
africanas de língua portuguesa.
A primeira é denominada assimilação, e nela se incluem os escritores africanos que
produzem textos literários imitando, sobretudo, modelos de escrita europeus.
A segunda fase é a da resistência. Nessa fase o escritor africano assume a
responsabilidade de construtor, arauto e defensor da cultura africana. É a fase do
rompimento com os moldes europeus e da conscientização definitiva do valor do homem
africano. Essa fase coincide com a conscientização da africanidade, sob a influência da
negritude de Aimé Césaire, Léon Damas e Léopold Senghor.
A terceira fase das literaturas africanas de língua portuguesa coincide com o tempo da
afirmação do escritor africano como tal e, segundo o teórico, verifica-se depois da
independência. Nela o escritor procura marcar o seu lugar na sociedade e definir a sua
posição nas sociedades pós-coloniais em que vive.
A quarta fase, da atualidade, é a da consolidação do trabalho que se fez em termos
literários, momento em que os escritores procuram traçar os novos rumos para o futuro da
literatura dentro das coordenadas de cada país, ao mesmo tempo em que se esforçam por
garantir, para essas literaturas nacionais, o lugar que lhes compete no corpus literário
universal.

O processo de formação da literatura de Moçambique não difere muito do dos demais países
africanos de língua portuguesa, tendo como suporte inicial os jornais. O jornal O Africano
foi fundado pelos irmãos José e João Albasini em 1909, com edição em português e ronga
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que desempenharam um papel importante na divulgação das idéias contrárias ao


colonialismo e O Brado Africano, órgão oficial do Grêmio Africano fundado em 1918.
Distinguem-se pelo menos três fases no processo de construção da literatura moçambicana:
a fase colonial, a fase nacional e a fase pós-colonial.
Na fase colonial destacam-se, como precursores da literatura moçambicana, autores como
Rui de Noronha, João Dias, Augusto Conrado e Luís Bernardo Honwana. Entre eles merece
realce Rui de Noronha, cujo livro Sonetos foi publicado em 1943, seis anos após a sua
morte.
A fase nacionalista caracteriza-se pela produção de uma literatura política e de combate,
que foi cultivada, sobretudo, por escritores que militavam na Frente de Libertação de
Moçambique (FRELIMO). Entre eles destacam-se Marcelino dos Santos, Rui Nogar e
Orlando Mendes. Essa literatura preocupa-se especialmente com comunicar uma mensagem
de cunho político e, algumas vezes, partidário.
A literatura do período pós-independência, ou pós-colonial, desvia-se do viés colectivo
Os autores assumem um tom individual e intimista para relatar a sua experiência pós-
colonial. Entre os escritores destacam-se Ungulani Ba Ka Khosa, Mia Couto, Luís Carlos
Patraquim, Paulina Chiziane, Suleiman Cassamo e Lília Momplé.

Em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, o escritor


africano vivia, até a data da independência, no meio de duas realidades às quais não
podia ficar alheio: a sociedade colonial e a sociedade africana. A escrita literária
expressava a tensão existente entre esses dois mundos e revelava que o escritor, porque iria
sempre utilizar uma língua europeia, era um “homem-de-dois-mundos”, e a sua escrita, de
forma mais intensa ou não, registrava a tensão nascida da utilização da língua portuguesa em
realidades bastante complexas.

Em 1948, estudantes e intelectuais angolanos – negros, brancos e mestiços – lançaram,


em Luanda, o brado “Vamos descobrir Angola”, que tinha como objectivos:
 Romper com o tradicionalismo cultural imposto pelo colonialismo;
 Debruçar-se sobre Angola e sua cultura, suas gentes e seus problemas;
 Atentar para as aspirações populares;
 Fortalecer as relações entre literatura e sociedade;
 Conhecer profundamente o mundo angolano de que eles faziam parte mas que não
figurara nos conteúdos escolares aos quais tiveram acesso.
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Apesar das críticas, a geração da Claridade influenciou e continua a influenciar grande


parte da produção poética e ficcional de Cabo Verde. Porque motivos os “claridosos”
sofreram críticas?
É que a poesia dos “claridosos”, por um lado rompeu com as normas temáticas do
colonialismo, não se libertou completamente de uma visão que vitimiza o homem, herdada
do neo-realismo português. Essa poesia retrata o homem cabo-verdiano e o mundo que o
rodeia, sem, no entanto, apontar grandes soluções. De lirismo intimista, não apresenta outra
solução ao homem cabo-verdiano que não seja a evasão do mundo a que pertence.

As revistas Mensagem e Cultura marcaram o início da poesia moderna de Angola.


A temática dos escritores da Mensagem girava à volta de tópicos que viriam a caracterizar
a poética que existe até os nossos dias, como o da valorização do homem negro africano e de
sua cultura, o de sua capacidade de autodeterminação, o da nação africana que se antevia
como Estado com autoridade e existência próprias. A poesia era marcada pelo protesto
anticolonial, sem deixar de ser humanista e social. Agostinho Neto, Viriato da Cruz e Mário
Antônio concentraram muito da sua produção nessa temática.
A revista Cultura teve 13 números nos quatro anos de sua duração, e dela participaram
escritores de renome, como Agostinho Neto, Costa Andrade, Carlos Ervedosa, Ermelinda
Pereira Cavier, Luandino Vieira e Oscar Ribas. Nas edições desse periódico foram
delineados aspectos da arte e da literatura angolanas e consolidou-se o lugar a ser ocupado
pela poesia e pela ficção. Essa revista, publicada até 1961, revelou a existência de novos
poetas, entre eles Antônio Cardoso e Costa Andrade. Para além da contestação contra o
colonialismo, desenvolve-se, progressivamente, uma temática que tem a ver com a evocação
e a invocação da “mãe-pátria”, da “terra grande” da África.

A Casa dos Estudantes do Império foi criada em 1944, essa casa tinha a função de
acolher os estudantes africanos que vinham continuar os estudos em Lisboa, Coimbra e
Porto: Por traz da função de acolhimento, o governo português tinha a intenção de controlar
e fortalecer a mentalidade “imperialista” entre a população africana. Ao invés, desde cedo,
despertou nos seus membros uma consciência crítica sobre a ditadura e o sistema colonial e
uma vontade de descobrir e valorizar as culturas dos povos colonizados também foi um
lugar de produção de algumas das literaturas de resistência, assim se tornou um espaço de
combate aos discursos do colonizador e de disseminação de sentimentos anticoloniais e
antissalazaristas.
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A negritude é considerada um dos mais importantes movimentos poético cultural e político-


social de crítica ao colonialismo e ao racismo, foi um dos principais instrumentos
ideológicos nas lutas de libertação nacional na África.
Tinha entre seus objetivos:
 A conscientização e reivindicação dos direitos civis dos negros,
 A reversão do sentido pejorativo de elementos que eram associados ao mundo negro,
 A construção de uma nova identidade baseada no critério racial fosse ostentada com
orgulho.
O Pan-africanismo foi um, movimento político e cultural que lutava tanto pela
independência dos países africanos do jugo colonial quanto pela construção da unidade
africana.
Os nomes de quatro movimentos dessa época que surgiram na década 10, 20, 30 são:
negritude, Pan-africanismo, New Negro (ou "Negro Renaissance") e o movimento
indigenista.
Movimento indigenista seus precursores estão o Nicolás Guillén. No Haiti, Jean Price-Mars
Pan-africanismos seus precursores estão o Henry Silvester Williams, William Edward
Burghardt Du bois.
Negritude seus precursores estão o Aimé Césaire, Léon Damas e Léopold Senghor.

A Negritude foi um movimento reivindicador que surgiu entre africanos que estudavam na
França, no Quartier Latin (bairro central de Paris).

Entre seus precursores estão o senegalês Léopold Sedar Sénghor e o francês Aimée
Césaire, que, juntamente com outros estudantes, fundaram, em 1934, a revista L’Etudiant
Noir (O Estudante Negro). Trata-se de um movimento de intelectuais negros, que recusavam
a política colonial de assimilação.

Seus objetivos:

 Eram “buscar o desafio cultural do mundo negro (a identidade negra africana),


 Protestar contra a ordem colonial,
 Lutar pela emancipação de seus povos oprimidos e lançar o apelo de uma revisão das
relações entre os povos para que se chegasse a uma civilização não universal como a
extensão de uma regional imposta pela força – mas uma civilização do universal,
encontro de todas as outras, concretas e particulares”.

Uma das principais críticas da Negritude reside no fato de ela “veicular um essencialismo
negro, como se o fato de ter a pele negra pudesse deflagrar uma identidade comum; além
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disso, foi tachado de ser excessivamente intelectual e de ter um caráter burguês”. A despeito
disso, a Negritude permaneceu viva durante décadas na literatura; em Moçambique, seus
principais representantes são os poetas Noémia de Souza e José Craveirinha.

Na sua fase final, o movimento da negritude foi considerado de negativo a proposta de


aceitar a política de assimilação à cultura europeia. Até essa época considerava-se positivo
apenas, os modelos culturais brancos que vinham da Europa.

Na perspetiva de Noa na literatura colonial, o homem branco é apresentado como um herói


mítico, um desbravador que levaria a civilização às terras inóspitas do continente africano.

Fátima Mendonça

Mendonça reconhece três períodos formativos: de 1925 a 1945/1947, daí até 1964 e desse
ano até 1975.

a) 1º Período: 1925-1945/1947. O primeiro período se estende desde 1925, com a


publicação de O livro da dor, de João Albasini.
b) 2º Período: 1945/1947-1964. Um segundo período tem início a partir de 1945-1947,
quando alguns jovens escritores começam a se rebelar com a dominação política.
c) 3º Período: 1964-1975. Fátima Mendonça (1988) reconhece, a partir de 1964
(quando se inicia a campanha de libertação da Frente de Libertação de Moçambique
[Frelimo]), três linhas de força na literatura moçambicana:

Pires Laranjeira

Pires Laranjeira (1995a) propõe uma divisão da historiografia literária moçambicana em


cinco períodos distintos: Incipiência, Prelúdio, Formação, Desenvolvimento e Consolidação.

a) Incipiência. Segundo o autor, esse período teria suas raízes no início da permanência
dos portugueses em Moçambique (lembramos que Vasco da Gama aportara em
Moçambique em 1497).
b) Prelúdio. O segundo período delineado por Pires Laranjeira denomina-se Prelúdio e
inicia-se com a publicação, em 1925, de O livro da dor, de João Albasini. Esse
período estende-se até o fim da Segunda Guerra Mundial (1945), incluindo a
publicação dos poemas de Rui de Noronha26 no jornal O Brado Africano, depois
publicados postumamente em recolha “duvidosa”27 na obra Sonetos (1946).
c) Formação. O terceiro período por ele delineado, de Formação, vai de 1945/1948 (as
fontes divergem) até 1963.
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d) Desenvolvimento. Esse quarto período apontado por Pires Laranjeira estender-se-ia


do início da luta armada de libertação nacional (1964) até a independência (1975),
com uma produção de caráter marcadamente político e revolucionário.
e) Consolidação. Laranjeira aponta, por fim, um último período, que seria o de
consolidação da literatura moçambicana. Esse corresponderia à produção pós-
independência e se encerraria em 1992, com a publicação de Terra sonâmbula, de
Mia Couto,28 o qual coincidiria com a abertura política do regime.
"A Literatura Colonial define-se essencialmente pelo facto de o centro do universo
narrativo ou poético se vincular ao homem europeu e não ao homem africano.
Porque o branco era elevado à categoria de herói mítico, o desbravador das terras
inóspitas, o portador de uma cultura superior."

As literaturas africanas de língua portuguesa modernas, isto é, aquelas que se


exprimem na língua da colonização, têm a sua emergência indubitavelmente ligada
ao urbanismo. À imagem das outras elites africanas no espaço colonial de língua
portuguesa, os intelectuais moçambicanos, especialmente os negros e os mestiços,
provêm, na sua maioria, do universo suburbano.

Como bem definiu o escritor moçambicano Mia Couto (2002), o português sozinho
não consegue transmitir a realidade africana, há que se usar as potencialidades da
língua portuguesa e trabalhá-la inserindo elementos que possam representar os
significados da África. Nessa perspectiva, nada mais próprio do que as oralidades,
essa “mutação” nada mais é de que uma maneira africana de contar coisas
africanas usando a língua portuguesa.

Grito Negro: reconstruindo uma imagem


O título do poema, “Grito Negro”, dirige nossa atenção à temática racial, mas aqui
tratada de forma desnaturalizada, já que é entendida como uma das faces da
exploração colonizadora. No que tange aos elementos estético-formais, o texto de
Craveirinha não se enquadra em nenhuma forma poemática fixa, já que temos nele o
jogo simples de vinte e quatro versos curtos e longos, livres, bem como um
vocabulário básico, distribuídos em seis estrofes irregulares, tudo clamando por uma
composição modernista. No entanto, essa poesia não é totalmente independente do
estrato sonoro (a saber: o verso, a metrificação, o ritmo, a rima, a aliteração, a
assonância, a onomatopeia, a repetição).
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O musseque ou bairro de caniço contribuío para o surgimento das literaturas


africanas de língua portuguesa porque viviam nas zonas rurais longe das zonas
urbanas ou cidades marcando assim a distinção racial o que levou alguns destes
assimilados mestiços a escrever em surdina para outros irmãos negros despertar a
consciência que o português os usavam.

As literaturas africanas de expressão portuguesa são ainda jovens, com


aproximadamente 160 anos de existência, com tudo considera-se oitocentista tanto as
pessoas que viveram no seculo XIX como as ideias que surgiram nesse tempo a arte
do período como a moda as invenções e as descobertas, as revoluções e as guerras
entre outros.

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