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COLÉGIO MUNDIAL

Trabalho de Filosofia

12ª Classe

Tema: Negritude como Movimento Cultural e Político

Discentes:

Enzo Nicolas Macovele

Docente:

Evelio da Graça

Tete, Agosto de 2023


Índice
1. Introdução.................................................................................................................. 3
2. Origens e Contexto Histórico .................................................................................... 4
2.1. O movimento da negritude................................................................................. 4
2.2. O significado do termo negritude ...................................................................... 4
2.3. Filosofia cultural (Negritude) ............................................................................ 5
2.4. Instrumento de libertação política...................................................................... 6
2.5. Contradições do movimento da negritude ......................................................... 6
3. Conclusão .................................................................................................................. 8
4. Referencias bibliográfica........................................................................................... 9
1. Introdução
O termo negritude vem adquirindo diversos "usos e sentidos" nos últimos anos. Com a
maior visibilidade da "questão étnica" no plano internacional e do movimento de
afirmação racial, negritude passou a ser um conceito dinâmico, o qual tem um carácter
político, ideológico e cultural. No terreno político, negritude serve de subsídio para a
ação do movimento negro organizado.

No campo ideológico, negritude pode ser entendida como processo de aquisição de uma
consciência racial. Já na esfera cultural, negritude é a tendência de valorização de toda
manifestação cultural de matriz africana. Portanto, negritude é um conceito
multifacetado, que precisa ser compreendido a luz dos diversos contextos históricos.
Neste trabalho pretende-se traçar uma breve reconstrução histórica do movimento da
negritude, apresentando alguns de seus dilemas, seu reflexo no interior do movimento
negro.

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2. Origens e Contexto Histórico
A Negritude surgiu nas décadas de 1930 a 1960, um período marcado por intensas lutas
anticoloniais, discriminação racial e a busca por autodeterminação. Com origens em
comunidades africanas e caribenhas, o movimento rapidamente se espalhou, unindo
vozes de diferentes diásporas negras ao redor do mundo. A Negritude foi uma resposta
ao colonialismo que despojava os povos de sua cultura e identidade, reforçando a
importância de reafirmar essas raízes.

2.1. O movimento da negritude


O movimento da negritude foi idealizado fora da África. Ele provavelmente surgiu nos
Estados Unidos, passou pelas Antilhas; em seguida atingiu a Europa, chegando a França
aonde adquiriu corpo e foi sistematizado. Depois, o movimento expandiu-se por toda a
África negra e as Américas, tendo sua mensagem, assim, alcançado os negros da
diáspora.

O afro-americano W. E. B. Du Bois (1868-1963) é considerado o patrono do pan-


africanismo, movimento político e cultural que lutava tanto pela independência dos
países africanos do jugo colonial quanto pela construção da unidade africana. Pelo facto
de Du Bois ser uma das primeiras lideranças a adoptar com veemência um discurso de
orgulho racial e de volta às origens negras é considerado da mesma maneira, o pai
simbólico do movimento de tomada de consciência de ser negro, embora o termo
negritude tenha sido cunhado somente anos mais tarde. Du Bois exerceu forte
ascendência sobre os escritores negros estadunidenses. Seu livro Almas Negras "tornou-
se verdadeira bíblia para os intelectuais do movimento Renascimento Negro".

2.2. O significado do termo negritude


A palavra negritude em francês deriva de nègre, termo que no início do século XX tinha
um caráter pejorativo, utilizado normalmente para ofender ou desqualificar o negro, em
contraposição a noir, outra palavra para designar negro, mas que tinha um sentido
respeitoso. A intenção do movimento foi justamente inverter o sentido da palavra
négritude ao pólo oposto, impingindo-lhe uma conotação positiva de afirmação e
orgulho racial.

Na sua fase inicial, o movimento da negritude tinha um caráter cultural. A proposta era
negar a política de assimilação à cultura (conjunto dos padrões de comportamento, das

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crenças, das instituições e dos valores transmitidos coletivamente) europeia. O dilema
para os africanos e negros da diáspora, assevera Franz Fanon, deixou de ser
"embranquecer ou desaparecer". Até essa época considerava-se positivo apenas, os
modelos culturais brancos que vinham da Europa. Para rejeitar esse processo de
alienação, os protagonistas da ideologia da negritude passaram a resgatar e a enaltecer
os valores e símbolos culturais de matriz africana. Como salienta Jean Paul Sartre,
"trata-se de morrer para a cultura branca a fim de renascer para a alma negra”.

2.3. Filosofia cultural (Negritude)


Negritude insere-se no espirito pan-africanista da união e solidariedade entre os
africanos, com a simples diferença de se revestir de um caracter cultural e literário. Tal
como o pan-africanismo, a negritude nasceu fora do continente africano, como resultado
dos esforços emancipatórios da comunidade negra radicada em frança, Os mentores
deste projecto eram membros de profissões liberais, estudantes, eclesiásticos,
intelectuais e políticos.

Negritude pretendia a união de todos os negros. Cesáire, depois Senghor e, mais tarde, a
revista Presence Africaine e os congressos de escritores e artistas negros, que aquele
organizou em 1956 e 1959, dão expressão a ideia da unidade africana sob a forma
cultural.

O evolucionismo, classificando as sociedades segundo o seu grau de desenvolvimento


técnico, confirmou a visão etnocêntrica da elite ocidental e facilitou o colonialismo. A
maior parte dos evolucionistas, como Tylor e Morgan, e os etinocentrista, como, por
exemplo, levy Brhul, não admitiam a possibilidade de haver culturas que não fossem
europeias. Estes consideravam a vida cultural das outras sociedade como estádios
arcaicos de um único processo cultural, no qual a Europa representava o estádio mais
completo.
O funcionalismo, por sua vez, sugerindo a irredutibilidade das culturas a um
denominador comum, abria as portas ao principio do relativismo cultural evocado pela
etnologia .americana. A corrente relativista punha a técnica na diversidade cultural e
social considerada que a unidade do gênero humano se manifestava na sua capacidade
de diferenciar em múltipla culturas.

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A posição relativista pretendia sobretudo lutar contra o imperialismo americano e
defender as minorias colonizadas, os grupos africanos, Esta corrente impôs como
normas o respeito pela diferença, a tolerância, a crença na pluralidade de valores e a
aceitação da diversidade.

Assim, abriam-se as portas para o pronunciamento da cultura africana, ou melhor, a


negritude surge como resposta imediata ao espaço aberto pelo relativíssimo cultural.
Os maiores impulsionadores da negritude – Cesáire (antilhano), Senghor (senegalês, e
Damas (guianês – resumiram o projecto em três conceitos:

 Identidade consiste em o negro assumir plenamente a sua condição;


 Fidelidade atitude que traduz a ligação do homem negro ir a terra-mãe;
 Solidariedade sentimento que liga secretamente todos os irmãos negros.

2.4. Instrumento de libertação política


Com uma arrojada proposta de ruptura, o movimento da negritude pelo menos na sua
fase inicial recebeu a proeminente influência ideológica do marxismo. Isto é, o
marxismo constituiu instrumental teórico fundamental no despertar da necessidade de
uma consciência negra crítica e autônoma. Por exemplo, os notáveis poetas negros
Langston Hughes e Richard Wright dos Estados Unidos, Jacques Roumain e Brière do
Haiti, Nicolas Guillen de Cuba e o próprio Aimé Césaire da Martinica eram membros
orgânicos do Partido Comunista.

Entretanto, na medida em que o movimento expandiu sua inserção social e poder de


mobilização operou-se uma divergência sob o papel do marxismo: de um lado, um
grupo minoritário passou a associar negritude à luta de todos oprimidos da sociedade,
independente da cor da pele e de outro, um grupo majoritário continuou defendendo que
o movimento da negritude pretendia, exclusivamente, construir uma consciência racial
sem vínculo com a luta dos demais grupos oprimidos do sistema capitalista.

2.5. Contradições do movimento da negritude


No decorrer dos anos, aflorou-se um dilema. Os adeptos do movimento da negritude
certificaram-se que o passado nostálgico e glorioso da África, por si só, não resolveria
as mazelas do presente. A necessidade de ação passou a ser um imperativo comum.
Alguns ex-estudantes antilhanos tornaram-se administradores nas colônias africanas
(como foi o caso de Paul Niger) ou optaram pela vida política, como foi o caso de Aimé
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Césaire, que se tornou deputado pela Martinica. Outros ex-estudantes africanos em Paris
também optaram pelo ativismo político. Após a segunda Guerra Mundial, Senghor
elegeu-se deputado pelo Senegal à Assembléia Nacional Francesa, Rabemananjara
voltou para Madagascar e participou da revolta da ilha, N`Krumah dirigiu a luta pela
libertação de Ghana, Apithy tornou-se ministro do Daomé e outros ainda fizeram
carreira diplomática.

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3. Conclusão
O movimento da Negritude desempenhou um papel fundamental na reafirmação da
identidade e na luta contra a opressão. Como movimento cultural e político, ele
construiu uma plataforma para a expressão artística, conscientização política e busca por
justiça. Seu legado continua a inspirar a luta por igualdade e respeito, lembrando-nos da
importância de celebrar a diversidade cultural e promover a inclusão. A Negritude nos
ensina que a valorização da própria identidade é um passo essencial para a mudança
social e a construção de um mundo mais justo.

A ideologia da negritude foi antes de tudo, um movimento de resgate da humanidade do


negro, o qual se insurgiu contra o racismo imposto pelo branco no contexto da opressão
colonial. O movimento tinha a proposta de repudiar os valores estéticos da civilização
ocidental. Havia uma tendência dos povos negros colonizados na África e nas Antilhas
de assimilar o padrão cultural europeu, alienando-se dos valores da cultura africana.

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4. Referencias bibliográfica
PETRÔNIO Domingues, Movimento da negritude: uma breve reconstrução histórica
s.d.
Damato, D. Negritude, op. cit., p. 127.
Filosofia Pré-Universitário 12ª Classe, Logman Mocambique, 1ª edição. Maputo 2010.

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