Sou Maria Filipe Alberto, Licenciatura em Ensino de Língua Portuguesa, 3º Ano.
Tema de debate: A Recuperação da consciência africana: negritude e Pan-africanismo A Recuperação da Consciência Negra Consciência negra é um termo que ganhou notoriedade na década de 1970, em razão da luta de movimentos sociais que actuavam pela igualdade racial, como o Movimento Negro Unido. O termo é, ao mesmo tempo, uma referência e uma homenagem à cultura ancestral do povo de origem africana, que foi trazido à força e duramente escravizado por séculos. É o símbolo da luta, da resistência e a consciência de que a negritude não é inferior e que o negro tem seu valor e seu lugar na sociedade. Muitas pessoas, erroneamente, dizem que não se deve celebrar a consciência negra, e sim a consciência humana. Isso, no entanto, é uma ideia que pode até ter surgido com boas intenções, mas acabou prestando um de serviço à luta contra o racismo e a favor da igualdade racial. Historicamente a sociedade sustentou-se por meio de uma relação desigual entre pessoas por vários factores. Os principais factores de desigualdade são: Género; Cor da pele; Sexualidade; Condição socioeconómica. Tradicionalmente os espaços de poder da sociedade são reservados a homens héteros, cisgênero, brancos e ricos. Mesmo nas chamadas microrrelações, nas pequenas relações de poder quotidianas, a tendência é que: O homem tenha mais poder e privilégio social em relação à mulher; Os héteros também o têm em relação à população LGBTQ+; Os brancos também possuem esse privilégio e esse poder desproporcional em relação à população preta. Para unificar o povo preto em torno de sua luta contra séculos de escravização e após a abolição da escravatura em muitos países, passou-se a pensar em uma forma de unir a população preta e conscientizá-la de sua cultura, da luta diária das pessoas pretas e do valor de ser preto. O objectivo é ainda parecido com o da negritude, mas vai além, pois indica às pessoas pretas que, apesar de elas não ocuparem muitos lugares de destaque na sociedade dominada por pessoas brancas, elas merecem destaque por sua intensa luta. Criação da consciência negra O cérebro humano tem uma imensa capacidade plástica de se adaptar às situações e de moldá-las para que elas estejam de acordo com aquilo que o ser humano quer. Assim, o ser humano possui algo que talvez lhe seja único dentre os outros animais: consciência. Para filósofos existencialistas, a nossa existência precede a nossa essência. Isso significa que é ao viver que nos criamos. Também é nesse movimento vital que criamos a nossa consciência, que é aquela capacidade de pensar na existência e se perceber como um ser no mundo e capaz de modificar o mundo. Tudo isso compõe uma complexa rede de significações que nos molda enquanto seres e não é simples de ser percebida.
Breve Historial de Negritude
O termo "negritude" apareceu provavelmente pela primeira vez no poema de Aimé Césaire Cahier d'un retour au pays natal (1939). Os primeiros proponentes da Negritude enfatizavam, como pontos capitais no movimento: a reivindicação, por parte do negro, da cultura africana tradicional, visando à afirmação e definição da própria identidade; o combate ao eurocentrismo advindo do colonialismo europeu e da educação ocidental prevalecente; a valorização da cultura negra no mundo, em razão de suas contribuições específicas do ponto de vista cultural e emocional as quais o Ocidente, materialista e racionalista, nunca apreciou devidamente (Devés, 2008). O ano de 1933, com a publicação do jornal L'étudiant noir, tem sido em geral considerado o do nascimento oficial do movimento. Seus editores foram Aimé Césaire (Martinica) , Léon-Gontran Damas (Guiana Francesa) e Léopold Sédar Senghor (Senegal), então estudantes em Paris. A Negritude atraiu ampla atenção internacional após a Segunda Guerra Mundial, com o aparecimento de Présence africaine (1947), jornal que promovia os conceitos da Negritude, e com a publicação da Anthologie de la Nouvelle Poésie Nègre et Malgache de Langue Française (1948), editada por Senghor. Depois da emancipação da maior parte das antigas colônias africanas no início da década de 1960, a Negritude decresceu como movimento organizado. Esteve sob a mira de acirradas críticas da geração seguinte de escritores africanos de fala inglesa e francesa, que denunciaram o movimento e seus postulados como racistas e irrelevantes quanto aos problemas da África pós-colonial. Mais recentemente, escritores e teóricos (como René Depestre e Edouard Glissant) têm criticado especificamente o caráter essencialista da Negritude (ou seja, a concepção de que há uma essência distinta a definir o negro e a distingui-lo do branco), propondo outras alternativas mais rentáveis para o entendimento das sociedades e culturas das populações afro-descendentes das Antilhas (Devés, 2008). Pan-Africanismo O Pan-africanismo nasceu da luta de activistas negros na África e, sobretudo, na diáspora americana, em prol da valorização de sua colectividade. Sua marca inicial, entre fins do século XVIII e meados do século XX, foi a construção de visões positivas e internacionalistas acerca de sua identidade étnico-racial, entendida como comunidade negra: africana e afro descendente. Nesta primeira fase do movimento, destacam-se nomes como E. Blyden, S. Williams, J. Hayford, B. Crowther, J. Horton, M. Garvey e W. E. Du Bois. A partir de 1945, o Pan-africanismo entrou num segundo momento, como parte integrante das lutas de independência nacional e contra o neocolonialismo na África. Os grandes marcos do pan-africanismo Pan-africanismo é o nome dado a uma ideologia que acredita que a união dos povos de todos os países do continente africano na luta contra o preconceito racial e os problemas sociais é uma alternativa para tentar resolvê-los (Lopes, 2008). A partir dessa ideologia foi criada a Organização de Unidade Africana (1963), que tem sido divulgada e apoiada, majoritariamente, por afrodescendentes que vivem fora da África (Lopes, 2008). Dentre as propostas da ideologia está a estruturação social do continente por meio de um remanejamento étnico na África, unindo grupos separados e separando grupos rivais, por exemplo, tendo em vista que isso aconteceu durante a divisão continental imposta pelos colonizadores europeus. Além do resgate de práticas religiosas, como culto aos ancestrais e incentivo ao uso de línguas nativas, anteriormente proibidos pelos colonizadores (Lopes, 2008). Na realidade, o pan-africanismo é um movimento de caráter social, filosófico e político, que visa promover a defesa dos direitos do povo africano, constituindo um único Estado soberano para africanos que vivem ou não na África. Os principais idealizadores da teoria pan-africanista foram Edward Burghardt Du Bois e Marcus Musiah Garvey. No ano de 2002 instituiu-se de maneira oficial a União Africana em substituição à Organização da Unidade Africana. O objetivo da União Africana é implantar um continente livre para a circulação de pessoas, um Parlamento continental, um tribunal pan-africano e um Banco Central, para que no futuro possa circular uma moeda única, intenções pautadas nos moldes da União Europeia.