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Consciência negra
A consciência negra é, basicamente, o orgulho da cor da pele negra. A ideia foi extraída
dos movimentos sociais que lutam contra o racismo e pela igualdade racial.

O Dia da Consciência Negra é também um dia de luta pela igualdade racial.

Consciência negra é um termo que ganhou notoriedade na década de 1970,


no Brasil, em razão da luta de movimentos sociais que atuavam pela igualdade
racial, como o Movimento Negro Unido. O termo é, ao mesmo tempo, uma
referência e uma homenagem à cultura ancestral do povo de origem africana,
que foi trazido à força e duramente escravizado por séculos no Brasil. É
o símbolo da luta, da resistência e a consciência de que a negritude não é
inferior e que o negro tem seu valor e seu lugar na sociedade.

Leia também: Leis abolicionistas – forma de realizar a transição gradual até a


abolição da escravatura

Zumbi dos Palmares é uma figura representativa para a Consciência Negra


por simbolizar luta e resistência. [1]
O que é consciência negra?
Muitas pessoas, erroneamente, dizem que não se deve celebrar a consciência
negra, e sim a consciência humana. Isso, no entanto, é uma ideia que pode até
ter surgido com boas intenções, mas acabou prestando um desserviço à luta
contra o racismo e a favor da igualdade racial. Historicamente a sociedade
sustentou-se por meio de uma relação desigual entre pessoas por vários
fatores. Os principais fatores de desigualdade são:

 gênero;

 cor da pele;

 sexualidade;

 condição socioeconômica.

Tradicionalmente os espaços de poder da sociedade são reservados a


homens héteros, cisgênero, brancos e ricos. Mesmo nas chamadas
microrrelações, nas pequenas relações de poder cotidianas, a tendência é que:

 o homem tenha mais poder e privilégio social em relação à mulher;

 os héteros também o têm em relação à população LGBTQ+;

 os brancos também possuem esse privilégio e esse poder


desproporcional em relação à população preta.

Isso evidencia, a partir de uma leitura materialista da história, que as relações


sociais são desiguais e que é preciso corrigir essa distorção para que a
sociedade evolua.

Para levar a riqueza da cultura africana ao povo afrodescendente de países


colonizados por europeus (e também para os próprios povos africanos, que
ainda sofrem as consequências do colonialismo de exploração em seu
continente), o poeta e escritor martinicano Aimé Césaire criou o
termo negritude, que se tornou uma corrente literária e um movimento
cultural. A ideia é a de que há uma essência cultural (a negritude) em todos
os descendentes de africanos que sofreram a diáspora forçada por europeus. A
ideia de uma consciência negra não surge, exatamente, a partir do conceito de
negritude, mas tem muito a ver.
Para unificar o povo preto em torno de sua luta contra séculos de
escravização e após a abolição da escravatura no Brasil, passou-se a pensar
em uma forma de unir a população preta e conscientizá-la de sua cultura, da
luta diária das pessoas pretas e do valor de ser preto. O objetivo é ainda
parecido com o da negritude, mas vai além, pois indica às pessoas pretas que,
apesar de elas não ocuparem muitos lugares de destaque na sociedade
dominada por pessoas brancas, elas merecem destaque por sua intensa luta.

A consciência negra é isto: um misto de conscientização da importância do


preto na sociedade, do reconhecimento do valor, da cultura e da luta de
pessoas pretas que não se calaram e levantaram a cabeça contra o racismo.
Apesar do protagonismo negro nessa consciência — que mais do que uma
ideia ou conceito, é uma espécie de prática que dá “movimento”
aos movimentos sociais —, podemos esperar que, a partir do choque com a
consciência negra, as pessoas brancas repensem suas práticas.

Aimé Césaire, um dos fundadores da negritude. [2]


Criação da consciência negra
O cérebro humano tem uma imensa capacidade plástica de se adaptar às
situações e de moldá-las para que elas estejam de acordo com aquilo que o ser
humano quer. Assim, o ser humano possui algo que talvez lhe seja único
dentre os outros animais: consciência. O animal tem senciência, uma
capacidade de se perceber no mundo a partir dos sentidos do corpo, da
autoimagem, das necessidades corpóreas e até de sentimentos. No entanto, o
ser humano se percebe como um ser no mundo que pode modificá-lo e que
pensa na sua existência. Isso é o que a consciência nos garante: pensar a
nossa existência e, com isso, nos fazemos enquanto seres viventes.

Para filósofos existencialistas, a nossa existência precede a nossa essência.


Isso significa que é ao viver que nos criamos. Também é nesse movimento
vital que criamos a nossa consciência, que é aquela capacidade de pensar na
existência e se perceber como um ser no mundo e capaz de modificar o
mundo. Tudo isso compõe uma complexa rede de significações que nos molda
enquanto seres e não é simples de ser percebida.
Para que um indivíduo que sofre a exploração contra a sua classe social, a
exploração de seu trabalho, perceba-se enquanto um ser explorado, ele precisa
tomar consciência de que o que é feito com ele não está certo. O mesmo vale
para a mulher, que, para perceber que a cultura que a colocou como um ser
inferior, frágil (até mesmo um objeto dos homens) é errada, precisa tomar
consciência de que é a cultura que está errada, e não ela mesma. Isso também
se aplica para o preto: o racismo estrutural é internalizado pelas pessoas que o
sofrem, o que faz parecer normal ser historicamente discriminado. No entanto,
a criação da consciência negra na pessoa faz com que ela perceba que ela
não está errada por ser quem ela é, mas é a sociedade que está errada por
discriminá-la.

Quando a pessoa preta (assim como a mulher, a população LGBTQ+,


deficientes e outras minorias historicamente discriminadas) toma consciência
de seu valor e sua importância, ela se empodera. O movimento causal
contrário também acontece: quanto mais a pessoa negra é empoderada, mais
ela toma consciência de seu valor. No entanto, essa consciência negra não é
criada a partir do nada no indivíduo. É necessário que as pessoas empoderadas
mostrem para as outras pessoas que elas também podem criar essa
consciência. É necessário que a educação oferecida nas escolas seja de
igualdade e que seja ensinada a valorização da cultura negra. É necessário
que sejam mostradas pessoas negras em espaços de poder e de
representatividade, como o herói preto e a heroína preta, o presidente preto e a
presidenta preta, etc.

É necessário desconstruir um papel de subalternidade que sempre foi


atribuído à população preta e mostrar cada vez mais nos espaços midiáticos os
pretos e as pretas empoderados, para que sirvam de inspiração para os outros
que ainda não se empoderaram.

Leia também: Três grandes abolicionistas negros brasileiros

História da consciência negra


No Brasil, a história da consciência negra culminou na criação do Dia
Nacional da Consciência Negra, uma data que celebra a negritude e a luta da
população preta de nosso país. No entanto, a história por trás disso é mais
longa. Ainda no século XIX, negros alforriados e seus filhos, muitos dos quais
tiveram a oportunidade de estudar (como o advogado e jornalista Luiz Gama,
o patrono da abolição da escravatura no Brasil), impulsionaram o movimento
abolicionista, que advogava pelo fim da escravidão em nosso país.

Intelectuais e políticos brancos também endossaram o movimento. No dia 13


de maio de 1888, não conseguindo mais resistir à pressão interna do
movimento abolicionista e nem à pressão externa promovida principalmente
pela Inglaterra, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, abolindo a
escravatura em nosso país.

A trajetória dos ex-escravos libertos não foi fácil. Eles não tiveram direito à
terra nem a qualquer tipo de indenização. Começaram a viver à margem da
sociedade, iniciando a difícil trajetória da população preta após a abolição em
nosso país. Mesmo compondo uma comunidade em sua maioria pobre e
marginalizada, a cultura negra, com suas ricas raízes africanas, continuou
se desenvolvendo.

Em 1971, o professor, escritor, pesquisador e militante negro Oliveira Silveira


organizou um grupo de estudo e apreciação da cultura e da literatura negra em
Porto Alegre com outras pessoas interessadas no assunto. O grupo propôs
a criação de uma data comemorativa que simbolizasse a união e a luta do
povo negro. O dia 20 de novembro foi escolhido por ser o dia da morte de
Zumbi dos Palmares, personalidade considerada símbolo de luta e resistência
contra a escravidão.

O grupo sofreu certa perseguição, pois, na ocasião de seu nascimento, o Brasil


vivia o auge dos chamados anos de chumbo da Ditadura Militar. No entanto,
os movimentos sociais que atuavam em defesa da população negra cresciam
cada vez mais em nosso país. Em 1978, inclusive, foi criado no Brasil o
Movimento Negro Unido (MNU).

Em 1988 foi promulgada a atual Constituição Federal de nosso país,


apelidada pelo deputado Ulysses Guimarães como Constituição Cidadã. Ela
recebeu esse carinhoso apelido por ser resultado de uma intensa consulta
popular de vários setores da sociedade, representados por deputados e por
movimentos sociais que puderam participar das sessões de criação e votação
do texto constitucional. Um dos princípios estabelecidos na constituição é
a igualdade e o veto à discriminação por qualquer motivo, inclusive racial.

Em 1989 foi promulgada a Lei n.º 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que dispõe
contra o preconceito racial, tornando a discriminação racial, de cor, de religião
ou nacionalidade um crime passível de punição penal.

Entre embates judiciais, leis e a luta dos movimentos, o sentimento de


empoderamento e a necessidade de se celebrar a africanidade cresciam cada
vez mais, aumentando a necessidade de se criar uma lei que determinasse a
data proposta na década de 1970 como uma data comemorativa.

Veja também: Como ficou a vida dos ex-escravos após a Lei Áurea?

Consciência negra e o Zumbi dos Palmares


Zumbi dos Palmares é tido como uma das maiores personalidades
representativas da força e da luta da população negra em nosso país. Muito
pouco se sabe sobre a história de Zumbi, inclusive muitos dados são
apontados como lendas. No entanto, a representatividade de Zumbi coloca-
o como um herói e une a comunidade negra em prol da defesa de seus valores
e de sua cultura.

Zumbi teria liderado por anos o Quilombo dos Palmares, um complexo de


quilombos na região da Serra da Barriga. Na época, a região pertencia à
Capitania de Pernambuco, sendo atualmente o estado de Alagoas.

Dados apontam que a morte de Zumbi teria ocorrido em 20 de novembro


de 1695, em combate e fuga. Daí veio a escolha do dia 20 de novembro como
data de celebração do Dia Nacional da Consciência Negra no Brasil.

Dia da Consciência Negra


A Lei n.º 12.519, de 10 de novembro de 2011, instituiu o dia 20 de novembro
como o Dia Nacional da Consciência Negra. É um dia voltado para a
reflexão sobre o que movimenta a criação da data. O dia 20 de novembro
não é um feriado nacional, mas alguns estados e municípios adotaram a data
como feriado.
Créditos das imagens

[1] Rodrigo S Coelho / Shutterstock

[2] Chris Allan / Shutterstock

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PORFíRIO, Francisco. "Consciência negra"; Brasil Escola. Disponível em:


https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/consciencia-negra.htm. Acesso em 07 de
fevereiro de 2024.

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