A Influência Cultural e as Lutas Raciais no Brasil: Da Criminalização à
Apropriação
A cultura é algo muito importante em todo tipo de sociedade existente, pois a
mesma, molda quem somos e até a forma como pensamos e agimos. Para fazer os alunos(as) entenderem isso, é bom perguntar aos alunos(as) o que eles(as) pensam sobre cultura. É interessante indagar o que eles(as) acham de culturas diferentes da nossa e se eles(as) consideram se uma cultura é melhor que a outra e o por quê. O antropólogo Damatta traz um conceito sobre cultura que pode ajuda-los a entender melhor tudo isso. Ele diz que a cultura é algo relativo, ou seja, pode ter várias interpretações dependendo de cada pessoa. É muito interessante pensar sobre isso e ver como a cultura é importante para o nosso tema a ser trabalhado.
Brasil
Depois que a escravidão acabou no Brasil, devido pressões internacionais, em
1888, o racismo continuou se propagando no país de uma forma assustadora. Ao invés do que ocorria antes, naquele momento, o governo começou a defender a branquitude e continuou propagando o racismo, buscando um certo 'branqueamento populacional', onde 'estudiosos' da época defendiam esse processo de branqueamento populacional, e influenciou que pessoas brancas de outros países se mudassem para o Brasil, para que desta forma aumentasse a população branca. Isso quer dizer que eles queriam que as pessoas brancas fossem capaz de diminuir a população de pessoas pretas e pardas. Enquanto isso, os afrodescendente(pessoas de descendencia africana) que antes eram escravizados, agora, foram deixados de lado e não receberam nenhum tipo de apoio do governamental, como direito a moradia(origem dos quilombos) e trabalho, por exemplo. Após a promulgação da Lei Áurea, que oficialmente aboliu a escravidão no Brasil, a realidade mostrou que a libertação dos escravos não significou o fim completo dessa trágica situação. Em vez disso, a escravidão foi disfarçada, onde os escravos libertos eram explorados através de favores e condições de trabalho precárias. Essa prática, conhecida como "trabalhos análogos à escravidão", ainda persiste em algumas partes do país. A troca de ‘favores’, após a abolição da escravidão, criou uma situação em que os escravos libertos, eram obrigados a trabalhar em troca de alimentos e moradia, em condições subumanas e sem remuneração adequada. Essa situação não proporcionou a verdadeira liberdade e dignidade aos antigos escravos, uma vez que continuaram a ser explorados e sujeitos a condições de trabalho desumanas. Esses trabalhos análogos à escravidão persistem ainda hoje em algumas áreas do Brasil, em setores como agricultura, construção civil e trabalho doméstico, onde trabalhadores são submetidos a jornadas exaustivas, salários injustos, moradias precárias e tratamento desumano. Essas práticas violam os direitos humanos fundamentais e contribui para a desigualdade social e econômica. De acordo com o artigo 149 do Código Penal Brasileiro, o trabalho análogo à escravidão é caracterizado quando alguém é submetido a trabalhos forçados ou a jornadas extenuantes, seja através de condições degradantes de trabalho ou por ter sua liberdade de locomoção restringida por conta de dívida com o empregador ou seu representante. Por outro lado, a escravidão não é especificamente tipificada no Código Penal, pois foi abolida pela Constituição Federal de 1988, que assegura diversas liberdades individuais e sociais com base nos artigos 5 e 7, tais como:
● Ninguém será submetido à tortura ou tratamento desumano e degradante.
● Garantia do direito ao salário mínimo, estabelecido por lei, com abrangência nacional e capaz de suprir as necessidades vitais básicas do trabalhador e sua família. ● Direito ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). ● Limitação da jornada de trabalho regular a oito horas diárias e 44 horas semanais.
Criminalização da cultura afrodescendentes
Quando a cultura de afrodescencentes é criminalizada, isso nos mostra como a
nossa sociedade atual ainda exerce o preconceito racial. Infelizmente, isso faz com que movimentos culturais de algumas pessoas sejam reprimidos e depois aproveitados por pessoas brancas, para que desta forma seja aceito pela população majoritária. Um exemplo que podemos citar é o samba, que, depois de ter sido proibido, passou por uma apropriação da branquitude para ser aceito e consumido pela sociedade Brasileira. É muito preocupante pensar que as pessoas que criaram e cultivaram essas expressões culturais são marginalizadas, enquanto outras se apropriam delas e são elogiadas e aceitas. Isso mostra como o racismo e a desigualdade ainda estão presentes em nossa cultura Brasileira. Pois, é preciso valorizar e respeitar as origens dessas manifestações culturais, reconhecendo a importancia das pessoas que as criaram. Assim como aconteceu com o samba, o rap também enfrentou muitas dificuldades e perseguições. O rap chegou ao Brasil nos anos 80 e trouxe consigo críticas à violência que o Estado impõe às pessoas que vivem nas periferias, especialmente à população negra. Ao estudarmos as lutas raciais no Brasil, percebemos o quanto a cultura é um campo de batalha, onde as expressões culturais são criminalizadas e apropriadas pela elite dominante branca ao longo do tempo, pois é triste ver como essas formas de expressões que surgiram como maneiras de protesto e denúncia contra a opressão são alvo de perseguição. O rap é uma forma de mostrar a realidade vivida por muitos brasileiros nas comunidades periféricas, onde a violência e a desigualdade social são uma realidade diaria. O estudo das lutas raciais no Brasil nos mostra como a cultura é uma ferramenta importante para resistir á esse tipo de injustiça e dar voz às vozes que foram e ainda são silenciadas. Infelizmente, a branquitude busca criminalizar e apropriar essas expressões culturais, tentando não somente controlar, mas também, distorcer seus significados originais. Desta forma, é de extrema importancia que enfatizemos a importancia dessas expressões culturais, vindas dessas comunidades marginalizadas, pois ao fortalemos essas vozes, nós vamos conseguir chegar mais perto de algum tipo de justiça social.
GALLO, Sílvio. Metodologia do ensino de filosofia: uma didática para o ensino
médio. Papirus editora, 2020. GALLO, Sílvio. Em torno de uma educação menor. Educação & Realidade, v. 27, n. 2, 2002. DA MATTA, Roberto. Você tem cultura. Explorações: ensaios de sociologia interpretativa. Rio de Janeiro: Rocco, p. 121-128, 1986.
Os engenheiros do caos: Como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições