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Acesse também: Racismo no Brasil: como esse grave problema manifesta-se na sociedade
brasileira?
Podemos dizer que a expressão “consciência negra” faz menção à tomada de consciência
histórica e cultural da pessoa enquanto afrodescendente. Essa tomada de consciência está
relacionada com o processo em que a pessoa se percebe negra e se identifica com as suas
raízes históricas e culturais, situações relacionadas com a formação da identidade de um
indivíduo.
Nesse processo o indivíduo se identifica com as tradições e valores culturais que remetem
às suas raízes afrodescendentes, além de tomar consciência da violência que os negros
sofrem e sofreram historicamente tanto no Brasil como em outras partes do mundo. Além
disso, também percebe o racismo como um problema estrutural da sociedade
contemporânea.
Por outro lado, essa tomada de consciência não se faz apenas entre as pessoas negras,
mas também entre as pessoas brancas. Assim, pessoas brancas passam a enxergar todos
os pequenos privilégios que elas possuem enquanto brancos, o que pode permitir que elas
mudem sua forma de agir perante situações de injustiça e, claro, transformar suas ações
para que atitudes racistas não sejam reproduzidas.
Acesse também: Limitações da Lei Áurea — lei que aboliu a escravidão no Brasil
20 de novembro — Dia da Consciência Negra
O racismo é um grande problema da nossa sociedade e cada vez mais ações para
combatê-lo se fazem necessárias. Ações afirmativas, educação e até mesmo meios legais
são formas de lutar contra práticas racistas. Uma das ações afirmativas que surgiram por
meio da luta dos movimentos negros no Brasil foi o Dia da Consciência Negra.
A consciência negra discute como o racismo afeta a nossa sociedade. A violência policial,
por exemplo, é um reflexo dessa realidade. [1]
Esse dia é celebrado em nosso país anualmente em 20 de novembro, e a escolha dessa
data não foi aleatória, mas proposital. O dia 20 de novembro é marcado na história
brasileira como o dia do assassinato de Zumbi dos Palmares, liderança quilombola que foi
perseguida pelas autoridades portuguesas no final do século XVII.
O Vinte de Novembro se estabeleceu como uma alternativa ao Treze de Maio, que faz
referência à abolição do trabalho escravo em 1888. Isso porque o Treze de Maio era
intensamente questionado por ter sido um processo que se fez sem que nenhum tipo de
assistência fosse criado em benefício da população negra.
No contexto de fortalecimento dos movimentos sociais nos anos finais da Ditadura Militar, a
comemoração em torno do Vinte de Novembro ganhou força e, na década de 1990,
começou a se transformar em feriado em algumas partes do Brasil. Isso se deu porque a
sociedade brasileira se tornou mais democrática ao final da ditadura, e os processos de
decisões políticas se tornaram mais abertos aos movimentos sociais.
Com isso, uma série de conquistas foi possível, como o surgimento destas leis:
Lei n.º 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que define o preconceito racial e de cor como crime;
Lei n.º 12.711, de 29 de agosto de 2012, que determina cotas raciais para o ingresso de
estudantes negros nas universidades e instituições federais;
Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que tornou obrigatório o ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira nas escolas de nosso país.
O advogado e filósofo Silvio Almeida definiu o racismo como uma estrutura que permeia
todas as instâncias da sociedade contemporânea, por isso ele coloca que o racismo sempre
é estrutural e “integra a organização econômica e política da sociedade”. Assim, Silvio
Almeida define que racismo é manifestação normal de uma sociedade contemporânea|2|.
Sílvio Almeida ainda estende dizendo que o racismo fornece sentido, lógica e tecnologia
para perpetuar a violência e a desigualdade social tão presentes na nossa sociedade|3|. Por
meio dessas considerações, podemos visualizar o quão arraigado é o racismo em nossa
sociedade e como as injustiças são reproduzidas de maneira automática pelas pessoas.
A importância do Dia da Consciência Negra é exatamente esta: é uma data que abre
espaço para que esse problema seja verbalizado. A reflexão proporcionada por essa data
permite que muitas pessoas possam enxergar o problema do racismo na sociedade. Claro
que esse é apenas um ponto de partida: uma atuação antirracista não deve estar restrita ao
dia 20 de novembro, mas sim a todos os dias do ano.
Notas
|1| GOMES, Laurentino. Escravidão: do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte
de Zumbi dos Palmares – Volume 1. Rio de Janeiro: Globo Livros, 2019, p. 422.
|2| ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo Estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro; Editora
Jandaíra, 2020, p. 20-21.
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