Você está na página 1de 10

Dia Internacional para a

Eliminação da Discriminação
Racial lembra a importância da
luta diária contra a
discriminação
 Publicado: Domingo, 21 de Março de 2021, 10h42

Em 21 de novembro de 1969, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o dia

21 de março como o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial. A data

foi escolhida em memória às vítimas do chamado “Massacre de Sharpeville”, ocorrido na

província de Gautung, na África do Sul, durante o regime do Apartheid, para

que marcasse a importância dessa luta contra a discriminação racial, que, até hoje, se

faz presente de forma naturalizada no dia a dia e continua fazendo vítimas ao redor do

mundo.
O Apartheid foi uma política de separação das raças que tirou os direitos da população

negra, tornando-os dependentes da população branca, na África do Sul, durante a década

de 40. O regime contava com a Lei de Passe, que  exigia que os negros deveriam portar

um documento com o indicativo dos lugares e horários que poderiam circular pela cidade.

Caso essa população não apresentasse a autorização de circulação ao ser parada pelas

forças policiais, seriam detidos. E foi sob esse cenário político que, em 1960, nacionalistas

africanos decidiram organizar uma manifestação.

“O grupo que levou à frente essa ação decidiu que os negros, nas suas respectivas

cidades, deveriam entrar nos centros das cidades e ir diretamente para onde estavam as

delegacias de polícia para que se mostrassem sem passes. Desse modo, eles seriam

presos por violar as leis, mas, como se tratavam de milhares de pessoas com essa

desobediência civil, seria impossível para esta minoria branca e suas forças repressivas

prenderem todo mundo, toda uma população. Porém, em uma das cidades, Sharpeville, as

forças policiais responderam a essa manifestação pacífica abrindo fogo e acabaram

matando aproximadamente 70 pessoas e deixando mais de 180 feridos”, explica o

professor e  historiador Dionisio Baró.

Com esse acontecimento, o  mundo inteiro passou a conhecer mais profundamente como

funcionava o regime do Apartheid e o que estava acontecendo dentro da África do

Sul. Assim a luta contra a segregação racial começou a se espalhar por todos os

continentes.

“No mundo ainda falta muito para se fazer. É necessário continuar essa luta porque o

racismo é uma ideologia que estabelece a crença na existência biológica de raças,

conceito que a Ciência vem, há muitos anos, rejeitando. E, por outra parte, o racismo

acredita que essas raças têm determinados comportamentos, formas de atuar e pensar,

além de características psicossociais específicas, o que também é falso. Desta forma, o

racista determina que o branco tem qualidades e condições positivas - belo, inteligente e

trabalhador -, enquanto o negro, indígenas e asiáticos têm características negativas. Essa

ideologia, na África do Sul, chegou ao seu máximo, com atitudes absurdas. E hoje, embora

o regime do Apartheid já não exista, a ideologia segue viva, infelizmente, e adaptando-se a

nova situações no mundo. É um mal que precisa de um grande esforço para ser

eliminado”, comenta Dionisio Baró.

As múltiplas faces do racismo -  Embora a proibição da discriminação racial esteja

presente em todos os principais instrumentos internacionais de direitos humanos e


também na legislação brasileira, as atitudes racistas e discriminatórias estão presentes em

inúmeros lugares e sob diferentes facetas da sociedade. Acontecem, por exemplo, quando

pessoas negras e brancas entregam seus currículos em uma determinada empresa e

o Departamento de Recursos Humanos dá prioridade para a contratação da pessoa

branca, levando em consideração fatores raciais e não técnicos, ou quando

uma instituição, como um todo, espelha as relações sociais racistas que existem na

sociedade, dificultando a ascenção profissional de negros.

“As grandes empresas - financeiras, industriais e comerciais - não têm na direção

suficiente número de pessoas negras, embora existam pessoas negras bem

preparadas técnica e educacionalmente, com condições para dirigir, mas, por causa da cor

da pele, são impedidas de avançar. O racismo aparece em toda a parte: na mídia, quando

não dão papéis de destaque nas obras dramáticas a atores negros, o que tem começado a

mudar no último anos em razão do protesto de movimentos sociais negros; na escola,

quando uma criança é ofendida por outras crianças e o professor não faz nada para evitar

isso, omissão que afeta a autoestima da criança negra e aumenta, incorretamente, a

autoestima da criança branca, que cresce se sentindo superior e com direito de discriminar

o negro. Todas essas são diferentes facetas do racismo que devem ser erradicadas”,

pontua. 

Há também o racismo religioso, quando representantes de uma religião interpretam suas

respectivas doutrinas manifestando pontos de vista racistas, repletos de intolerância,  que

pregam a segregação. “O ser humano é uma mistura indissolúvel de espírito e matéria,

então se você atacar algum dos elementos da espiritualidade da pessoa, você está

contribuindo para diminuir esta pessoa. Quando você considera que as religiões que

chegaram da África são demoníacas, enquanto as que chegaram da Europa são

superiores, você está contribuindo para discriminar as pessoas. Neste sentido, ainda se

faz necessário ampliar as discussões também no seio da religiosidade”.

De uma forma geral, o historiador aponta que, infelizmente, as manifestações de

discriminação racial, de preconceito e de racismo ainda são vistas de forma muito

naturalizada na sociedade, o que tem sido recorrente em países que conheceram a

escravidão ou a imigração de pessoas de países colonizados. “Aqui, por exemplo, quase

todo dia temos notícias de pessoas que foram agredidas por serem negras e estarem em

lugares que o racista não considera que é para estarem os negros”, lembra. 
Casos como o de João Alberto Silveira Freitas, espancado e morto em uma rede de

supermercados ano passado, às vésperas da data em que se comemora o Dia da

Consciência Negra no Brasil, demonstram, da pior forma, o quanto as pessoas negras

continuam sendo vítimas dessa discriminação racial e da intolerância. Dados oficiais

apontam, inclusive, que, a cada 100 homicídios no Brasil, 75 vitimam pessoas negras, o

que torna a luta pela eliminação da discriminação racial ainda mais urgente e necessária.

“São muitos os lugares em que se praticam o racismo e a discriminação, então é também

dever do Estado fazer todo o possível, por meio de políticas públicas, para modificar essa

situação. Devem ser políticas que reparem os danos causados às vitimas do racismo, que

valorizem as manifestações culturais e religiosas, políticas que sejam capazes de punir

efetivamente os que violam a Constituição e praticam a discriminação racial, e fazer

tambem políticas educativas, ou melhor dizendo, reeducativas, que eduquem as pessoas

para assumirem relações entre raças de uma maneira positiva e realmente democráticas”.

Momento de reeducar - “Para liquidar o racismo, é necessário identificar e conscientizar

todos. Eu considero que uma das principais fontes de racismo é a família, na qual se

transmitem os valores racistas dentro de casa, de avô para mãe, de mãe para filho, e isso

vai continuando de maneira quase que eterna, se não forem tomadas medidas para cortar

esse ciclo vicioso. Ao mesmo tempo, o ambiente escolar também precisa ser modificado.

A escola também ensina crianças, desde os primeiros anos, a sentir a discriminaçao com

naturalidade. Muitas crianças brancas começam a perceber uma supervalorização de sua

identidade, porque seus traços são valorizados esteticamente, enquanto os das crianças

negras são desvalorizados, por exemplo, quando cabelos, narizes e cor da pele são vistos

como coisas negativas. Isso pode acontecer de maneira direta ou indireta. Direta quando

as pessoas são racistas em sua essência, e indireta quando reproduzem, na escola, o

descaso com a discriminação que predomina na sociedade como um todo”, aponta

Dionisio Baró.

Por esse motivo, segundo o historiador, muitas pessoas negras acabam crescendo com

traumas de ofensas que sofreram na primeira infância. Assim, torna-se imprescindível que

professores e responsáveis interfiram quando uma criança é ofendida por outra com

palavras de cunho racista, para que esta criança não cresça entendendo sua atitude como

uma brincadeira normal e reproduza-a diversas vezes. Como , em alguns momentos, pode

acontecer de um professor se omitir nessa correção em virtude da falta de um

conhecimento mais amplo sobre a temática e da falta de um entendimento que aquela


atitude e/ou palavra tem cunho racista. Ações de reeducação para a sociedade como um

todo devem se tornar prioridade.

Neste sentido, uma ação importante, tomada nos últimos anos, que já

favorece essa mudança de mentalidade e ajuda na reeducação, foi a criação da Lei

10639/03, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e incluiu, no currículo

oficial da Rede de Ensino, a obrigatoriedade da presença da temática "História e Cultura

Afro-Brasileira e Africana", com o objetivo de trabalhar um conteúdo programático que

inclua a luta dos negros, a cultura negra e a formação da sociedade nacional, lembrando a

contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do

Brasil. Conhecer essa parte da cultura e as causas do

movimento antirracista no país podem ajudar a modificar a mentalidade e as atitudes de

uma sociedade.

Outra instituição importante para a luta antirracista, embora atualmente

ainda caminhe lentamente para extinguir essa cultura discriminatória naturalizada, é a

mídia, em especial a televisão, que é tida como o veículo de comunicação mais utilizado

em todo o mundo. “Quando você não vê a presença da pessoa negra na mídia ocupando

um posto de maior valor simbólico, acaba contribuindo para que o cidadão pense que só

quem pode ocupar aquele espaço é uma pessoa de pele branca. A mídia é um grande

fator de reprodução da discriminaçao racial, embora, nos últimos anos, aqui, no Brasil,

algumas empresas de televisão estejam fazendo um esforço para melhorar a presença do

negro nesses espaços”. 

Por fim, é importante que todos entendam que a luta contra a discriminação racial deve ser

um trabalho coletivo, institucional e frequente nas mais diversas esferas da

sociedade, pois somente combatendo a ideologia racista é que haverá um mundo mais

igualitário. “Para termos uma sociedade realmente livre de preconceito racial, é preciso o

esforço de todos, não somente dos negros, que são atingidos diretamente. O racismo

transforma a sociedade, como um todo,  em uma sociedade injusta. Uma sociedade, para

ser verdadeiramente democrática, tem que garantir o avanço, a liberdade e a felicidade de

todos os cidadãos. É preciso que todo mundo se envolva na luta contra a

discriminação, porque essa discriminação, enganosamente, pode beneficiar determinadas

pessoas, porém a sociedade, como um conjunto, se limita. A falta de ascensão da

população negra contribui para diminuir o desenvolvimento econômico, o desenvolvimento

social e a felicidade coletiva”, finaliza Dionisio Baró.


Em 21 de novembro de 1969, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o dia

21 de março como o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial. A data

foi escolhida em memória às vítimas do chamado “Massacre de Sharpeville”, ocorrido na

província de Gautung, na África do Sul, durante o regime do Apartheid, para

que marcasse a importância dessa luta contra a discriminação racial, que, até hoje, se

faz presente de forma naturalizada no dia a dia e continua fazendo vítimas ao redor do

mundo.

O Apartheid foi uma política de separação das raças que tirou os direitos da população

negra, tornando-os dependentes da população branca, na África do Sul, durante a década

de 40. O regime contava com a Lei de Passe, que  exigia que os negros deveriam portar

um documento com o indicativo dos lugares e horários que poderiam circular pela cidade.

Caso essa população não apresentasse a autorização de circulação ao ser parada pelas

forças policiais, seriam detidos. E foi sob esse cenário político que, em 1960, nacionalistas

africanos decidiram organizar uma manifestação.

“O grupo que levou à frente essa ação decidiu que os negros, nas suas respectivas

cidades, deveriam entrar nos centros das cidades e ir diretamente para onde estavam as

delegacias de polícia para que se mostrassem sem passes. Desse modo, eles seriam

presos por violar as leis, mas, como se tratavam de milhares de pessoas com essa

desobediência civil, seria impossível para esta minoria branca e suas forças repressivas

prenderem todo mundo, toda uma população. Porém, em uma das cidades, Sharpeville, as

forças policiais responderam a essa manifestação pacífica abrindo fogo e acabaram

matando aproximadamente 70 pessoas e deixando mais de 180 feridos”, explica o

professor e  historiador Dionisio Baró.

Com esse acontecimento, o  mundo inteiro passou a conhecer mais profundamente como

funcionava o regime do Apartheid e o que estava acontecendo dentro da África do

Sul. Assim a luta contra a segregação racial começou a se espalhar por todos os

continentes.

“No mundo ainda falta muito para se fazer. É necessário continuar essa luta porque o

racismo é uma ideologia que estabelece a crença na existência biológica de raças,

conceito que a Ciência vem, há muitos anos, rejeitando. E, por outra parte, o racismo

acredita que essas raças têm determinados comportamentos, formas de atuar e pensar,

além de características psicossociais específicas, o que também é falso. Desta forma, o

racista determina que o branco tem qualidades e condições positivas - belo, inteligente e
trabalhador -, enquanto o negro, indígenas e asiáticos têm características negativas. Essa

ideologia, na África do Sul, chegou ao seu máximo, com atitudes absurdas. E hoje, embora

o regime do Apartheid já não exista, a ideologia segue viva, infelizmente, e adaptando-se a

nova situações no mundo. É um mal que precisa de um grande esforço para ser

eliminado”, comenta Dionisio Baró.

As múltiplas faces do racismo -  Embora a proibição da discriminação racial esteja

presente em todos os principais instrumentos internacionais de direitos humanos e

também na legislação brasileira, as atitudes racistas e discriminatórias estão presentes em

inúmeros lugares e sob diferentes facetas da sociedade. Acontecem, por exemplo, quando

pessoas negras e brancas entregam seus currículos em uma determinada empresa e

o Departamento de Recursos Humanos dá prioridade para a contratação da pessoa

branca, levando em consideração fatores raciais e não técnicos, ou quando

uma instituição, como um todo, espelha as relações sociais racistas que existem na

sociedade, dificultando a ascenção profissional de negros.

“As grandes empresas - financeiras, industriais e comerciais - não têm na direção

suficiente número de pessoas negras, embora existam pessoas negras bem

preparadas técnica e educacionalmente, com condições para dirigir, mas, por causa da cor

da pele, são impedidas de avançar. O racismo aparece em toda a parte: na mídia, quando

não dão papéis de destaque nas obras dramáticas a atores negros, o que tem começado a

mudar no último anos em razão do protesto de movimentos sociais negros; na escola,

quando uma criança é ofendida por outras crianças e o professor não faz nada para evitar

isso, omissão que afeta a autoestima da criança negra e aumenta, incorretamente, a

autoestima da criança branca, que cresce se sentindo superior e com direito de discriminar

o negro. Todas essas são diferentes facetas do racismo que devem ser erradicadas”,

pontua. 

Há também o racismo religioso, quando representantes de uma religião interpretam suas

respectivas doutrinas manifestando pontos de vista racistas, repletos de intolerância,  que

pregam a segregação. “O ser humano é uma mistura indissolúvel de espírito e matéria,

então se você atacar algum dos elementos da espiritualidade da pessoa, você está

contribuindo para diminuir esta pessoa. Quando você considera que as religiões que

chegaram da África são demoníacas, enquanto as que chegaram da Europa são

superiores, você está contribuindo para discriminar as pessoas. Neste sentido, ainda se

faz necessário ampliar as discussões também no seio da religiosidade”.


De uma forma geral, o historiador aponta que, infelizmente, as manifestações de

discriminação racial, de preconceito e de racismo ainda são vistas de forma muito

naturalizada na sociedade, o que tem sido recorrente em países que conheceram a

escravidão ou a imigração de pessoas de países colonizados. “Aqui, por exemplo, quase

todo dia temos notícias de pessoas que foram agredidas por serem negras e estarem em

lugares que o racista não considera que é para estarem os negros”, lembra. 

Casos como o de João Alberto Silveira Freitas, espancado e morto em uma rede de

supermercados ano passado, às vésperas da data em que se comemora o Dia da

Consciência Negra no Brasil, demonstram, da pior forma, o quanto as pessoas negras

continuam sendo vítimas dessa discriminação racial e da intolerância. Dados oficiais

apontam, inclusive, que, a cada 100 homicídios no Brasil, 75 vitimam pessoas negras, o

que torna a luta pela eliminação da discriminação racial ainda mais urgente e necessária.

“São muitos os lugares em que se praticam o racismo e a discriminação, então é também

dever do Estado fazer todo o possível, por meio de políticas públicas, para modificar essa

situação. Devem ser políticas que reparem os danos causados às vitimas do racismo, que

valorizem as manifestações culturais e religiosas, políticas que sejam capazes de punir

efetivamente os que violam a Constituição e praticam a discriminação racial, e fazer

tambem políticas educativas, ou melhor dizendo, reeducativas, que eduquem as pessoas

para assumirem relações entre raças de uma maneira positiva e realmente democráticas”.

Momento de reeducar - “Para liquidar o racismo, é necessário identificar e conscientizar

todos. Eu considero que uma das principais fontes de racismo é a família, na qual se

transmitem os valores racistas dentro de casa, de avô para mãe, de mãe para filho, e isso

vai continuando de maneira quase que eterna, se não forem tomadas medidas para cortar

esse ciclo vicioso. Ao mesmo tempo, o ambiente escolar também precisa ser modificado.

A escola também ensina crianças, desde os primeiros anos, a sentir a discriminaçao com

naturalidade. Muitas crianças brancas começam a perceber uma supervalorização de sua

identidade, porque seus traços são valorizados esteticamente, enquanto os das crianças

negras são desvalorizados, por exemplo, quando cabelos, narizes e cor da pele são vistos

como coisas negativas. Isso pode acontecer de maneira direta ou indireta. Direta quando

as pessoas são racistas em sua essência, e indireta quando reproduzem, na escola, o

descaso com a discriminação que predomina na sociedade como um todo”, aponta

Dionisio Baró.
Por esse motivo, segundo o historiador, muitas pessoas negras acabam crescendo com

traumas de ofensas que sofreram na primeira infância. Assim, torna-se imprescindível que

professores e responsáveis interfiram quando uma criança é ofendida por outra com

palavras de cunho racista, para que esta criança não cresça entendendo sua atitude como

uma brincadeira normal e reproduza-a diversas vezes. Como , em alguns momentos, pode

acontecer de um professor se omitir nessa correção em virtude da falta de um

conhecimento mais amplo sobre a temática e da falta de um entendimento que aquela

atitude e/ou palavra tem cunho racista. Ações de reeducação para a sociedade como um

todo devem se tornar prioridade.

Neste sentido, uma ação importante, tomada nos últimos anos, que já

favorece essa mudança de mentalidade e ajuda na reeducação, foi a criação da Lei

10639/03, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e incluiu, no currículo

oficial da Rede de Ensino, a obrigatoriedade da presença da temática "História e Cultura

Afro-Brasileira e Africana", com o objetivo de trabalhar um conteúdo programático que

inclua a luta dos negros, a cultura negra e a formação da sociedade nacional, lembrando a

contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do

Brasil. Conhecer essa parte da cultura e as causas do

movimento antirracista no país podem ajudar a modificar a mentalidade e as atitudes de

uma sociedade.

Outra instituição importante para a luta antirracista, embora atualmente

ainda caminhe lentamente para extinguir essa cultura discriminatória naturalizada, é a

mídia, em especial a televisão, que é tida como o veículo de comunicação mais utilizado

em todo o mundo. “Quando você não vê a presença da pessoa negra na mídia ocupando

um posto de maior valor simbólico, acaba contribuindo para que o cidadão pense que só

quem pode ocupar aquele espaço é uma pessoa de pele branca. A mídia é um grande

fator de reprodução da discriminaçao racial, embora, nos últimos anos, aqui, no Brasil,

algumas empresas de televisão estejam fazendo um esforço para melhorar a presença do

negro nesses espaços”. 

Por fim, é importante que todos entendam que a luta contra a discriminação racial deve ser

um trabalho coletivo, institucional e frequente nas mais diversas esferas da

sociedade, pois somente combatendo a ideologia racista é que haverá um mundo mais

igualitário. “Para termos uma sociedade realmente livre de preconceito racial, é preciso o

esforço de todos, não somente dos negros, que são atingidos diretamente. O racismo
transforma a sociedade, como um todo,  em uma sociedade injusta. Uma sociedade, para

ser verdadeiramente democrática, tem que garantir o avanço, a liberdade e a felicidade de

todos os cidadãos. É preciso que todo mundo se envolva na luta contra a

discriminação, porque essa discriminação, enganosamente, pode beneficiar determinadas

pessoas, porém a sociedade, como um conjunto, se limita. A falta de ascensão da

população negra contribui para diminuir o desenvolvimento econômico, o desenvolvimento

social e a felicidade coletiva”, finaliza Dionisio Baró.

Você também pode gostar