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Dia da Consciência Negra processo contínuo de busca pela igualdade

racial no Brasil.
Além disso, é importante descontruir
mitos e preconceitos sobre os aspectos
históricos, culturais e religiosos da população
negra, bem como incluir no debate aspectos
da linguagem que contribuem para o racismo
A Lei 12.519 de 2011 instituiu estrutural.
oficialmente o Dia Nacional de Zumbi e da Também é preciso mencionar os
Consciência Negra. No calendário escolar avanços: o estatuto da igualdade racial, as leis
nacional, a data foi incluída em 2003. A origem de cotas, o endurecimento da legislação
do Dia da Consciência Negra está ligada aos penal no que tange ao racismo religioso e
esforços dos movimentos sociais para recreativo e à injúria racial.
evidenciar as desigualdades históricas que Por fim, é preciso promover a
marcaram as populações negra e parda no educação antirracista na sala de aula.
país. Além disso, a LDB (Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional) em seu artigo 26-A
(Incluído pela Lei nº 10.639/2003 e alterado Uma educação
pela Lei nº 11.645, de 2008) torna obrigatório, antirracista prevê
nos estabelecimentos de ensino fundamental ações contínuas de
e de ensino médio, públicos e privados, o combate ao
estudo da história e cultura afro-brasileira e racismo dentro da
indígena. sala de aula. É uma
abordagem que
educa não apenas
Abordagem em para coibir a disseminação de falas racistas
sala de aula e preconceituosas relacionadas à cor da
pele. A ideia é valorizar a identidade de
diferentes povos e, assim, proteger desde
cedo as crianças vítimas do racismo
brasileiro.
Adotar a educação antirracista na
escola significa rever escolhas que dizem
respeito não apenas a atividades
extracurriculares ou comemorativas. É
preciso ressaltar a diversidade nas
representações em livros, murais e
No Dia da Consciência Negra, os
brinquedos, por exemplo.
professores devem promover junto a seus
Assumir a educação antirracista é,
estudantes uma reflexão sobre o papel
também, ler pensadoras/es e autoras/es
histórico do povo africano na formação do
negras/os ainda ignoradas/os na academia
povo brasileiro e na construção da cultura
(cientistas negras/os e indígenas de
brasileira. É preciso também falar sobre sua
excelência existem, e são muitas/os!); é
influência na arte, política, religião e
refletir permanentemente, reconhecendo o
gastronomia, entre outras tantas áreas. Não é
lugar de privilégio branco e as
um dia para tratar apenas sobre racismo. É um
consequências da herança escravocrata
momento sim de leitura do sofrimento histórico
em nosso país; e perceber-se ingênua/o ao
do povo negro, mas principalmente de exaltar
acreditar no mito da democracia racial
seus feitos, rememorar os grandes líderes da
brasileira, alterando condutas
luta pela igualdade racial, os pensadores,
assistencialistas ultrapassadas, mesmo que
artistas, cientistas, ativistas, enfim, é importante
imbuídas de boas intenções.
ressaltar a participação dessas pessoas no
Sugestão de Vídeos: Essa iniciativa é considerada uma das
Numa série do Canal Futura sobre primeiras ações para que essa data se
educação antirracista, a psicóloga e
tornasse um dia de exaltação da luta dos
ativista Cida Bento entrevista lideranças
de todo o Brasil sobre temas ligados aos negros. É imprescindível citar que o Grupo
20 anos da lei 10.639 e práticas de Palmares contou em sua fundação com
educação para as relações étnico- nomes importantes como o do poeta Oliveira
raciais. Disponível no Canal Futura, Silveira. Silveira se tornou ativista de causas
Youtube e Globoplay.
Link:https://globoplay.globo.com/entrevista-
negras e é considerado um dos grandes
educacao-antirracista/t/PBWwV16qqJ/ responsáveis pela celebração dessa data.
A respeito dessa reunião em Porto
Alegre, ainda precisam ser mencionados dois
Objetivos de pontos. O primeiro é que esse encontro
aprendizagem ocorreu em oposição ao ato abolicionista, de
13 de maio de 1888, data que a Princesa Isabel
assinou a Lei Áurea – uma vez que os
O trabalho do professor com a
participantes do grupo chegaram à
temática do Dia da Consciência Negra em
conclusão de que o 13 de maio não garantia
sala de aula com seus estudantes tem como
direitos para a população negra no Brasil. O
objetivos:
segundo é que a nomeação de 20 de
novembro como Dia da Consciência Negra
• Compreender a origem do Dia da
aconteceria sete anos depois do ato gaúcho.
Consciência Negra e sua importância hoje;
Em 1978, em São Paulo, o Movimento
• Analisar a situação atual do negro no Brasil Negro Unificado contra a Discriminação Racial
com base em dados oficiais (Censo IBGE, (MNUCRD) realizou diferentes manifestações
por exemplo) e discutir a desigualdade em prol dos direitos dos negros e
racial no nosso país, de forma a combater o afrodescendentes. Os atos do MNUCRD
racismo estrutural e promover a cultura tiverem como referência as iniciativas feitas na
antirracista; capital gaúcha. E foi em uma das assembleias
do grupo paulista que se nomeou o 20 de
• Reconhecer a contribuição do povo novembro, como Dia Nacional da
africano na construção da arte, Consciência Negra.
gastronomia, hábitos, língua e cultura Com o passar do tempo, o movimento
brasileira, destacando protagonismo negro negro ganhou força e conseguiu vitórias
nas diversas áreas, bem como os líderes da importantes, como a institucionalização da Lei
resistência e luta por igualdade racial. de Preconceito de Raça ou Cor, nº 7.716, de 5
de janeiro de 1989. O ano de 2003 foi decisivo
para o reconhecimento oficial do Dia da
Origem do Dia da Consciência Consciência Negra no Brasil. Nesse período,
Negra o 20 de novembro entrou para o calendário
escolar nacional como uma data
A história de luta e resistência de Zumbi comemorativa. A partir daquele momento, o
dos Palmares ocorreu no século 17. Com o currículo de ensino das escolas ganhou como
passar do tempo o nome dele foi caindo no conteúdo obrigatório o estudo da história e
esquecimento, até que, no início dos anos de cultura negra, através da Lei nº 10.639, de 09
1970, a figura deste líder quilombola voltou a de janeiro de 2003. O Dia da Consciência
ser discutida entre alguns grupos. Isso Negra ou o Dia de Zumbi foi de fato
aconteceu, pois foi nesse período que institucionalizado em 10 de novembro de 2011,
historiadores descobriram a data de sua por meio da Lei nº 12.519.
morte. Em 1971, o Grupo Palmares, localizado O entendimento sobre o direito das
em Porto Alegre, realizou um ato no Clube pessoas negras não é algo novo. Como
Social Negro “Marcílio Dias” para abordar a pudemos ler anteriormente, no século 17, os
luta contra o preconceito racial. O evento escravos que residiam em Palmares já lutavam
utilizou a figura de Zumbi como modelo de por liberdade. O que podemos considerar
resistência – e aconteceu na noite de 20 de como ainda novo nesse tema é a sua
novembro. discussão. Através de diferentes movimentos
sociais, ao longo dos anos, chegou-se ao que
conhecemos como Consciência Negra. Luís Gama

Há 125 anos, a
escravatura era abolida
do Brasil. A Princesa Isabel
assinou a Lei Áurea em 13
de maio de 1888, mas a
data não é utilizada como
o principal marco da luta dos negros por sua
liberdade.
A preferência é por 20 de novembro,
aniversário da morte de Zumbi dos Palmares Nascido livre, mas escravizado pelo próprio
(1655-1695) e feriado em milhares de pai, branco, aos 10 anos, Luís Gama foi um
cidades brasileiras como Dia da dos maiores abolicionistas do país. Após
Consciência Negra, se deve a alguns fugir dessa condição aos 18 anos, tornou-
motivos que são explicados por se jornalista e advogado. Defendeu o
especialistas no vídeo: direito de liberdade de mais de 500 negros
escravizados e hoje é considerado patrono
https://youtu.be/xKhoBezWnto?si=813xyvAf
da abolição da escravatura no Brasil.
V8S1ZhlC
Não há, por parte dos estudiosos,
uma negação da importância do dia 13 de
maio, inclusive vale destacar a Sugestão de filme:
participação de líderes negros no Doutor Gama, do Diretor Jeferson De,
movimento que levou a Princesa Isabel à 2021, Brasil, GloboFilmes. com Cesar
assinatura da abolição. Mello, Angelo Fernandes e Pedro
Guilherme. Classificação Indicativa:
14 anos. Disponível no Globoplay.

13 de maio: conheça 4 personalidades negras


que lutaram pelo fim da escravidão
Além das figuras que já conhecemos do Adelina, a charuteira
famoso 13 de maio, existiram outras
personalidades importantes para a causa do
abolicionismo

Sem registros sobre seu sobrenome,


Adelina, a charuteira, era considerada
espiã. Escravizada por seu progenitor, ela
foi criada na Casa Grande, onde
aprendeu a ler e escrever. De lá, Adelina
Assinada em 13 de maio de 1888 pela
enviava informações sobre os hábitos de
Princesa Isabel, a Lei Áurea determinou a
escravistas e da polícia para uma
abolição da escravidão no Brasil. Longe de ser
associação de escravos, ajudando-os a
fruto da boa vontade da monarquia, o marco
fugir de ambos.
foi conquistado por revoltas sociais e pressões
políticas. Conheça quatro líderes negros que
lutaram pela liberdade de seu povo.
Mas como definir o que é a Consciência
André Rebouças Negra?
De acordo com o ativista negro sul-
africano, Stive Biko:
“Assim, numa breve definição, a
Consciência Negra é, em essência, a
percepção pelo homem negro da
necessidade de juntar forças com seus
irmãos em torno da causa de sua atuação
– a negritude de sua pele – e de agir como
um grupo, a fim de se libertarem das
correntes que os prendem em uma servidão
perpétua.” (BIKO, Stive, 1978).
O engenheiro baiano André Rebouças foi A Consciência Negra simboliza o
um dos mais ativos no movimento entendimento que, sobretudo, as pessoas
abolicionista. Fundador da Sociedade negras possuem sobre o valor da sua cultura e
Brasileira Contra a Escravidão, Rebouças a importância de se reconhecerem como
também defendia a reforma agrária para indivíduos que possuem direitos, como
inclusão social da população negra. Uma qualquer outro. Dessa forma, a busca pela
das principais avenidas da cidade de São justiça e igualdade se tornou uma luta mais
Paulo foi nomeada em sua homenagem. que necessária para essas pessoas.
A comemoração e valorização em
Sugestão de leitura: torno do dia 20 de novembro é extremamente
Irmãos Rebouças: quem foram os primeiros importante. Nessa data, é fundamental que
engenheiros negros do Brasil? possamos refletir sobre a contribuição da
No texto, publicado pela Revista Galileu, é
cultura negra em nossa sociedade. Mas é
possível conhecer a história e as principais
obras de Antonio e André Rebouças. preciso ir além. É essencial a criação de
projetos para as próximas gerações, para que
Disponível em:
https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2020/
esses indivíduos sejam capazes de continuar
09/irmaos-reboucas-quem-foram-os-primeiros-engenheiros- na luta pela igualdade racial. E que, ao
negros-do-brasil.html
contrário do que acontecia anteriormente,
esse novo grupo conheça e mantenha viva a
memória de heróis negros, como Zumbi dos
Francisco José do Nascimento Palmares, e de outros homens e mulheres que
tiveram atuações de relevância na luta pela
igualdade social.

Hoje, mais do que


nunca, a
representatividade é o
melhor caminho para que
uma criança entenda que
o negro tem direito a
espaço e voz, independentemente do lugar
em que ele esteja. Por isso, as atividades que
Apelidado de Dragão do Mar, o jangadeiro
envolvem o Dia da Consciência Negra
Francisco José do Nascimento era membro
precisam ser cada vez mais discutidas e
do Movimento Abolicionista do Ceará,
inseridas em diferentes ambientes. Assim, a
primeiro estado a aderir, em 1884, à sociedade como um todo poderá sofrer
abolição da escravatura. Liderando uma mudanças significativas e o respeito será
greve em 1881, Nascimento conseguiu verdadeiramente um elemento de formação
paralisar o tráfico negreiro em Fortaleza por social. Devemos promover uma abordagem
alguns dias. mais enfática em novembro, mas essa é uma
temática para o ano todo e deve estar
Fonte: Revista Galileu, www.revistagalileu.globo.com, inserida no plano de unidade de todos os
crédito das imagens: Bernardo França. componentes curriculares.
Quem foi Zumbi dos Palmares? com a Lei Áurea, cerca de 193 anos após sua
morte.
Nos anos 1970, organizações
começaram a utilizar a data de 20 de
novembro para refletir sobre o legado da
escravidão no Brasil. Essa reflexão levantou
debates sobre a valorização da cultura negra
e sua contribuição para a história brasileira,
além de servir como modelo de resistência e
luta pelos direitos dos negros.

Democracia Racial
Democracia racial é o estado de
perfeita igualdade entre as pessoas
Busto de Zumbi dos Palmares, em Brasília. Imagem: Elza independentemente de raça, cor ou etnia, o
Fiúza/ABr/ Agência Brasil.
que levaria a uma sociedade sem nenhum
Os quilombos eram agrupamentos tipo de exclusão racial. No mundo atual,
populacionais formados por escravos apesar do fim da escravização e da
foragidos de fazendas coloniais. Nos condenação de práticas e de ideologias
quilombos, muitas vezes escondidos em meio racistas, ainda não existe democracia racial,
à mata, os ex-escravos organizavam suas visto que há um abismo imenso que segrega
vidas para garantir sua subsistência e tinham populações negras, indígenas e aborígenes
liberdade para reproduzir livremente a cultura da população branca.
de seus ancestrais africanos – ao contrário de Devido ao passado de escravidão,
seguir os preceitos da Igreja Católica. racismo e exploração de territórios africanos
Em 1600, escravos que haviam fugido por parte de nações europeias que deixou
dos engenhos de açúcar de Pernambuco uma imensa cicatriz de preconceito e
fundaram, na Serra da Barriga, em Alagoas, o discriminação em nossa sociedade, além do
Quilombo dos Palmares. O local chegou a terrível holocausto que sentenciou à morte
congregar 30 mil pessoas. injusta milhões de judeus, a Organização das
Em 1644, os holandeses falharam em Nações Unidas (ONU) promulgou, em 1948, a
sua tentativa de invadir o quilombo. Dez anos Declaração Universal dos Direitos Humanos. A
depois, os holandeses foram expulsos da declaração enfatiza a igualdade de direitos
região pelos portugueses. entre todos os seres humanos,
Zumbi foi o último líder da República dos independentemente de raça, cor, religião,
Palmares. Ele nasceu em 1655 no quilombo, nacionalidade ou gênero.
mas ainda criança foi aprisionado por colonos A Constituição da República Federativa
portugueses e dado ao padre Antonio Melo, Brasileira de 1988 também enfatiza o
que o batizou como Francisco. Ele conseguiu estabelecimento de direitos iguais entre
retornar anos depois para os Palmares, no pessoas independentemente de qualquer
período em que o governo da Capitania de elemento distintivo. O art. 5 da Constituição diz
Pernambuco negociava com as lideranças o seguinte:
quilombolas para que se submetessem à “todos são iguais perante a lei, sem
Coroa Portuguesa. distinção de qualquer natureza,
O quilombo dos Palmares era então garantindo-se aos brasileiros e aos
comandado por Ganga Zumba. Zumbi se estrangeiros residentes no país a
opôs à decisão de ceder aos portugueses. inviolabilidade do direito à vida, à
Com a morte de Ganga Zumba, ele assumiu o liberdade, à igualdade, à segurança e
comando dos negros foragidos em 1680 e à propriedade”.
esteve à frente da comunidade até 1694.
Nesse período, o quilombo foi atacado várias Apesar de não mencionar diretamente
vezes por grupos de bandeirantes, até ser a questão étnico-racial, o trecho citado do
destruído. Zumbi foi caçado, morto e sua documento atesta que não pode haver
cabeça cortada e exibida em praça pública. discriminação de qualquer natureza, ficando
A escravidão no Brasil só teria fim em 1888, implícito que discriminação racial não é
permitida.
Os documentos citados são Os Estados Unidos e a África do Sul
ferramentas importantes para a construção mantiveram sistemas legais de segregação
de uma nação onde haja democracia racial, racial que perduraram, no caso dos Estados
no entanto, não basta a promulgação da lei, Unidos, até a década de 1960 e, no caso sul-
sendo necessário que ela seja cumprida. Para africano, até a década de 1980. Nesses casos,
além da discriminação e do preconceito a população negra era tratada como cidadã
racial, muito precisa ser feito para que um país de segunda categoria, tendo acessos restritos
seja, de fato, considerado uma democracia a serviços públicos e direitos civis restritos ou
racial. até negados.
Devido ao fato de existir um racismo
estrutural que segrega negros e brancos em Sugestão de filme:
classes sociais diferentes, que dificulta o Estrelas além do tempo, do Diretor
acesso da população negra a serviços básicos Theodore Melfi, 2016, 2h09min, EUA,
de educação, saúde, segurança e ao com Taraji P. Henson, Octavia
Spencer, Janelle Monáe.
emprego digno, faz-se necessária a tomada
Classificação Indicativa: 10 anos.
de medidas de reparação histórica para que Disponível no Disney+.
uma nação seja, de fato, uma democracia
racial.
Desde a abolição da escravatura no
Existe democracia racial no Brasil? Brasil, nunca houve lei restritiva que segregasse
A resposta imediata à pergunta oficialmente a população negra da
iniciada no tópico é “não”. Não existe população branca. No entanto, há uma
democracia racial no Brasil, como não existe ideologia racista que perdura até hoje e,
democracia racial em qualquer lugar do sobretudo, há um racismo velado, estrutural,
mundo. Existe, no máximo, um mito de uma que mantém a população negra à parte da
democracia racial pelo fato de o racismo aqui plenitude de seus direitos em nosso país.
não ser tão evidente quanto é nos Estados Segundo Kabengele Munaga, congolês
Unidos, na Europa ou na África do Sul. naturalizado no Brasil e professor emérito de
Antropologia da USP:
“a democracia só será uma realidade
quando houver, de fato, igualdade
racial no Brasil e o negro não sofrer
nenhuma espécie de discriminação,
de preconceito, de estigmatização e
segregação, seja em termos de classe,
seja em termos de raça. Por isso, a luta
de classes, para o negro, deve
caminhar juntamente com a luta racial
propriamente dita”
Apartheid Sul-Africano em estação exclusiva para negros na
Africa do Sul, 1976. Crédito: James Davis/Alamy Desse modo, o racismo estrutural
brasileiro é um impedimento para que haja
ascensão social dos negros, e, enquanto
houver distinção de classes sociais marcada
também pela cor da pele, é impossível se falar
em uma democracia racial.

O racismo estrutural é
aquele que não é explícito
em um preconceito e uma
discriminação claros e
distintos, ele está enraizado
na sociedade. O racismo estrutural finca-se
Bebedouros separados para negros e brancos. EUA, anos nas bases da sociedade brasileira e só é
1950. Crédito: Getty Images perceptível por um olhar apurado que veja
a discrepância de renda, de
empregabilidade e de marginalização da seu senhor advém do medo e que as relações
população negra em relação à população sexuais entre escravas e senhores brancos
branca. Pelo fato de o Brasil não ter eram, na maioria das vezes, estupro ou
apresentado um projeto oficial de consentidas por elas por conta do medo que
segregação entre negros e brancos, houve tinham de sofrer castigos ao negarem-se a tal
aqui a disseminação de uma ideologia (ou ato. O mesmo fenômeno aconteceu com as
mito) da democracia racial. índias brasileiras e os brancos.
Esse ciclo de abusos sexuais resultou nos
primeiros casos de miscigenação no Brasil
Mito da democracia racial ainda no século XVI e intensificou-se até o fim
Mito é algo irreal, inexistente, uma da escravidão. Não podemos dizer que toda
narrativa fantasiosa. Falar em “mito da a miscigenação do período seja fruto de
democracia racial” leva-nos a interpretar que abuso e de estupros, mas a maior parte foi.
a democracia racial não existe. De fato, Acontece que em outros países, como os
atualmente, sobretudo no Brasil, a Estados Unidos, que também tiveram grande
democracia racial é uma lenda. Boa parte do parte da mão de obra da época baseada na
senso comum afirma que no Brasil não há escravização de povos africanos, quase não
racismo, que nele há uma democracia racial houve miscigenação. Esse fato, arriscamos
pelo fato de não haver uma divisão de raças dizer, não aconteceu por falta de
tão forte quanto há nos Estados Unidos cordialidade entre povos negros e colonos nos
atualmente. Estados Unidos, mas por conta da moral
A origem mais forte e sociologicamente protestante de origem anglicana (a Igreja
descrita do mito da democracia racial aqui no anglicana era a mais forte entre os colonos
Brasil advém dos escritos do sociólogo ingleses nos séculos XVII e XVIII), que
brasileiro Gilberto Freyre. Freyre foi um condenava veementemente e de maneira
estudioso da sociologia e da antropologia no mais severa qualquer ato sexual que não fosse
Brasil, no século XX. Apesar de situar-se no para a procriação dentro do casamento.
período pré-científico da sociologia brasileira De fato, dado o fim da escravidão,
(quando os sociólogos eram intelectuais e pode-se constatar no Brasil a grande
eruditos com formações em outras áreas, miscigenação entre negros de origem
como o direito e a filosofia, mas dedicavam-se africana, brancos de origem europeia e índios
a estudar sociologia), o pensador nativos das terras brasileiras, o que difere nosso
pernambucano graduou-se e doutorou-se em país de todos os outros territórios colonizados
ciências sociais nos Estados Unidos, no Ocidente. No entanto, o racismo persistiu
desenvolvendo uma tese sobre a organização ainda por muito tempo de maneira
social do Brasil colonial. descarada, pública e impune e, ainda hoje,
Em Casa grande e senzala, a obra mais persiste nos âmbitos privado e público de
difundida desse autor, ele vai na contramão maneira velada e estrutural.
das teorias do chamado racismo científico do Autores como Kabengele Munaga, o
início do século XX, que defendiam a pureza saudoso sociólogo brasileiro e professor da USP
racial e o “branqueamento” do povo brasileiro Florestan Fernandes, o artista e político Abdias
como ponto de partida para chegar-se a um do Nascimento, a escritora Conceição
estágio de maior evolução social. Para o Evaristo, entre outros nomes, são os
sociólogo brasileiro, era a miscigenação que responsáveis por desmistificar a ideia da
gerava um povo mais forte e capaz de maior existência de uma democracia racial no Brasil.
desenvolvimento. O problema da tese de O racismo estrutural e a crença de que
Freyre é que ela considerava como certa a não há racismo no Brasil são grandes inimigos
existência de uma relação cordial entre na luta por uma sociedade mais justa. Assim
senhores e escravos no período colonial como a homofobia e a misoginia, o racismo é
brasileiro. um entrave para que se forme uma sociedade
Segundo o sociólogo, os senhores brasileira baseada nos pilares democráticos e
mantinham uma relação de cordialidade com republicanos da igualdade e da liberdade.
seus escravos e escravas, mantendo com
estas, muitas vezes, relações sexuais. O
problema dessa visão é que ela não enxerga
que a cordialidade do escravo para com o
Outras faces do racismo macaco de pelúcia. Ambas estão sendo
investigadas pelo Ministério Público do Rio de
Racismo religioso: No Brasil, país estruturado Janeiro após uma onda de quase mil
pelo racismo, o termo “intolerância religiosa” denúncias ao órgão.
não é suficiente para descrever as violências O termo racismo recreativo foi criado
sofridas pelas pessoas que cultuam as religiões pelo pesquisador Adilson Moreira, em livro de
de matriz africana. Torna-se necessária a mesmo nome, e ele explica que a expressão
busca por outra expressão que dê conta de veio como uma forma de combate de
nomear essas violências de forma a não deixar práticas que as pessoas acham que são
dúvidas sobre a quem elas se direcionam. brincadeiras inofensivas mas que na verdade
Nesse sentido, o termo “racismo religioso” são uma forma de microagressão com as
parece muito mais adequado para definir pessoas negras.
uma prática que ameaça a liberdade e a Entram nesse contexto, piadas racistas,
existência dos cultos de matriz africana, tais charges ou esquetes, músicas ou comentários
como o candomblé e a umbanda. O que ridicularizam as pessoas negras, por suas
preconceito com as religiões de matriz características físicas, tais como o cabelo
africana tem raízes no racismo, já que além de crespo, os traços da fisionomia, dentre outras,
terem surgido entre os ancestrais escravizados, A ridicularização tem o intuito de gerar humor
é praticada, em maior número pela para outras pessoas. É também muito comum
população negra. nessas práticas, banalizadas na sociedade
brasileira, a sexualização da mulher negra.
É preciso entender que esse tipo de
humor é uma forma clara de manifestação
racista, pois gera sofrimento na coletividade
da população negra.

É também parte
dessa cultura racista
atacar a própria
existência do Dia da
Consciência Negra.
Lembram-se do caso do motorista de Especialmente nas redes
aplicativo que se recusou a levar uma família sociais, tenta-se desmerecer a luta e a
em seu veículo porque eles estavam resistência dos movimentos negros pela
paramentados com vestes brancas do igualdade racial no país. Alguns, de forma
candomblé? Ou ainda do caso da menina bem preconceituosa, afirmam que deveria
que foi retirada da convivência com a mãe, ser “Dia da Consciência Humana” ou ainda
por ela ser praticante de uma religião de atacam, sem qualquer fundamento
matriz africana? No primeiro caso, estamos histórico, a relevância de figuras como
diante de um episódio de racismo religioso Zumbi dos Palmares.
praticado por um prestador de serviço
público, no segundo caso, o racismo religioso
tem um caráter institucional, já que foi Atual situação do negro no Brasil
praticado pelo Estado (o Conselho Tutelar,
motivado pela crença da conselheira). Ambas De acordo com o censo do IBGE (2022),
as situações são graves, pois foram motivadas 55,9% da população se declararam negros.
pelo preconceito acerca das práticas O IBGE pesquisa a cor ou raça da
religiosas do povo negro. população brasileira com base na
autodeclaração.
Racismo recreativo: Talvez uma das vertentes De acordo com dados da Pesquisa
do racismo mais normatizada na cultura Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD
brasileira, o racismo recreativo se tornou pauta Contínua 2022, 42,8% dos brasileiros se
nas redes sociais após duas influenciadoras declararam como brancos, 45,3% como
publicarem vídeos em que dão de presente pardos e 10,6% como pretos.
para crianças negras uma banana e um
Em 2018, 42,2% dos analfabetos
Segundo o IBGE, na revista IBGE Educa: brasileiros tinham pelo menos 65 anos de
as informações do Brasil na sala de aula “falar idade, apesar de essa faixa etária representar
de cor ou raça, por exemplo, leva a pensar no apenas 13,3% da população. Segundo o IBGE,
quanto o Brasil é um país desigual, onde as a taxa de analfabetismo da população de 15
relações sociais ainda são marcadas por anos ou mais no Brasil caiu de 7,2% em 2016
diversos preconceitos.” Mostra disso são as para 6,8% no ano passado.
estatísticas de cor ou raça produzidas pelo Mas os dados desagregados por grupos
IBGE, as quais revelam que os brancos, em raciais continuam mostrando a desigualdade
relação aos pretos e pardos, têm os maiores entre brancos e negros no país.
salários, sofrem menos com o desemprego e
são maioria entre os que frequentam o ensino
superior. Assim, apesar de nem sempre ser fácil
responder à pergunta “qual é sua cor ou
raça?”, é fundamental entender a
importância da questão para a elaboração
de políticas públicas
Embora sejam a maior parte da
população do país, pretos e pardos ainda são
minoria quando o assunto é empregabilidade,
renda e educação superior e são maioria
quando se trata de violência, má habitação,
população carcerária, dentre outros.
No quesito educação, os gráficos a
seguir demonstram que o caminho para a
igualdade ainda é longo. Frei David, da Educafro, concorda que
"o Brasil deve muito" à população negra. "Não
Educação houve uma política pública em massa para os
O estudo do IBGE ressaltou a persistente idosos analfabetos. Com isso, os adultos estão
"dívida educacional histórica brasileira", e chegando à fase idosa sem superar esse
destacou que, nas últimas décadas, a obstáculo."
ampliação do acesso à educação Segundo ele, mais grave ainda é que,
aconteceu de forma diferente segundo os depois de não dar oportunidade, o Brasil
grupos raciais brasileiros, e privilegiando a ainda "pune" seus idosos sem ensino. "O idoso
população branca. analfabeto é também o principal grupo
Um exemplo disso é o fato de que a desempregado. É uma punição. É uma nação
proporção de pessoas entre 18 e 29 anos com contra esse povo, que fez o possível para
pelo menos 12 anos de estudo é maior entre vencer, mas não teve a oportunidade."
brancos do que considerando os pretos ou
Taxa de jovens negros no ensino superior avança,
pardos. Na comparação dos últimos três anos,
mas ainda é metade da taxa dos brancos
porém, esse índice tem avançado mais
rapidamente entre os negros. Em 2018, 25,2% dos jovens brasileiros
Brancos ainda têm escolaridade mais com entre 18 e 24 anos estavam cursando ou
alta do que pretos e pardos, segundo a Síntese já haviam concluído o ensino superior, mas o
de Indicadores Sociais 2019 do IBGE.
recorte racial mostra que, considerando subutilizada por cor ou raça, e, também na
apenas a taxa de matrículas de jovens série iniciada em 2012.
brancos, essa porcentagem salta para 36,1%. A informalidade no mercado de
Já olhando apenas para os jovens negros trabalho está associada, muitas vezes, ao
(pretos ou pardos), o índice cai pela metade: trabalho precário e/ou à ausência de
18,3%. Os dados foram divulgados na manhã proteção social, que limita o acesso a direitos
deste quarta-feira (6) na Síntese de básicos, como a remuneração pelo salário-
Indicadores Sociais (SIS) do Instituto Brasileiro mínimo e o direito à aposentadoria.
de Geografia e Estatística (IBGE).

Na série iniciada em 2012, a ocupação


O histórico dos últimos três anos mostra
informal passou a registrar crescimento a partir
que a porcentagem de jovens estudando na
de 2016, com a ampliação, em termos
universidade avançou nos dois grupos raciais,
relativos, do pessoal ocupado sem carteira de
mas a discrepância entre eles aumentou
trabalho assinada e por conta própria,
ligeiramente – de 16,2 para 17,8 pontos
independentemente da cor ou raça da
percentuais.
pessoa. Posteriormente, em 2020, houve
Fonte: redução por conta da eliminação de postos
https://g1.globo.com/educacao/noticia/2019/11/06/tax
de trabalhos informais em virtude da crise
a-de-jovens-negros-no-ensino-superior-avanca-mas-
ainda-e-metade-da-taxa-dos-brancos.ghtml causada pela pandemia do COVID-19.
Passado o período mais crítico de suas
consequências na economia, a recuperação
Mercado de trabalho e distribuição de renda das atividades de serviços provocou novo
aumento da informalidade, que atingiu 40,1%
Em relação à força de trabalho - em 2021. As diferenças entre os grupos de cor
conjunto de pessoas que estavam ocupadas ou raça, no entanto, continuaram
ou desocupadas na semana de referência, as significativa. Enquanto 32,7% das pessoas
pessoas de cor ou raça branca ocupadas brancas estavam em ocupações
representavam 43,8%, enquanto as pessoas informais, entre as pretas esse percentual
pretas, 10,2% e as pardas 45,0%, em 2021. Em atingiu 43,4% e, entre as pardas, 47,0% em
valores absolutos, os contingentes 2021. A maior informalidade entre pessoas de
correspondiam a 45,6 milhões de pessoas cor ou raça preta ou parda, em relação às
brancas, 10,7 milhões de pretas e 46,8 milhões brancas, foi verificada ao longo de toda a
de pardas, totalizando 103,1 milhões no ano. série. As Regiões Norte e Nordeste
Entretanto, em relação à população apresentaram os resultados mais elevados,
desocupada, tanto as pessoas pretas como as notadamente entre as pessoas pretas ou
pardas estiveram sobrerepresentadas com, pardas, cujas proporções, em 2021, situaram-
respectivamente, 12,0% e 52,0%. As pessoas se próximas a 60%.
brancas, por outro lado, registraram sub-
representação, pois eram 35,2% dos
desocupados em 2021. O mesmo padrão é
observado quando analisada a
decomposição da força de trabalho
Os gráficos e as
análises das pesquisas são
elementos importantíssimos
para mostrar a real situação
da população de pretos e
pardos no Brasil. Utilizar esses
recursos em suas aulas podem agregar às
informações sobre as desigualdades e o
racismo estrutural, afinal, contra fatos não
há argumentos.

Violência
A Pesquisa Nacional de Saúde - PNS
2019, do IBGE, aponta que 18,3% das pessoas
com 18 anos ou mais de idade haviam sofrido
violência física, psicológica ou sexual nos 12
meses anteriores à pesquisa.
As pessoas pretas foram as mais
atingidas, com 20,6%, seguidas das pardas,
19,3%. Entre as pessoas brancas, 16,6%
relataram ter sofrido algum tipo de violência.
As mulheres foram mais vítimas de violência
(19,4%) do que os homens (17,0%),
principalmente as mulheres pretas, grupo de
cor ou raça e sexo com maior proporção de
vítimas (21,3%)

Em relação aos rendimentos do trabalho, a


população branca também registrou
indicadores mais favoráveis. Esse quesito tem
particular importância, pois o trabalho é a
principal fonte de renda para a aquisição de
bens e serviços e para o padrão de consumo
de indivíduos e famílias. Em 2021, o rendimento
médio mensal de pessoas ocupadas brancas
(R$ 3 099) foi bastante superior ao de pretas
(R$ 1 764) e pardas (R$ 1 814). A diferença
relativa em favor das pessoas ocupadas
brancas ocorre desde o início da série
histórica, em 2012. A desigualdade de
rendimentos do trabalho por cor ou raça
ocorreu com intensidades distintas nas
Grandes Regiões, mas foi observada tanto
nas Unidades da Federação que
apresentaram menores rendimentos médios –
Piauí, Maranhão e Bahia –, quanto nas que
registraram rendimentos mais elevados –
Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro.
Os números encontrados mostram alta Visitando o site da instituição é possível analisar
desigualdade na taxa de homicídios por cor o tratamento dos dados.
ou raça, pois em 2020, as pessoas de cor ou
Sugestão de leitura:
raça Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no
parda apresentaram taxa de 34,1 mortes por Brasil, 2a edição, IBGE, 2022, Estudos e
100 mil habitantes e as de cor ou raça preta Pesquisas • Informação Demográfica e
de 21,9 mortes, o que representa quase o triplo Socioeconômica • n.48.
Disponível em:
e o dobro, respectivamente, da taxa
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101972_inform
observada entre as pessoas de cor ou raça ativo.pdf

branca, 11,5 mortes por 100 mil habitantes.


Ressalta-se que a diferença entre as taxas de
homicídios de pardos e brancos aumentou ao PROTAGONISMO NEGRO
longo da série, dado que em 2012 era de 2,4
vezes.
Esse tipo de violência atinge
principalmente os homens, que, em 2020,
apresentaram uma taxa de 44,5 mortes por
100 mil habitantes, enquanto para as mulheres
foi de 3,6 mortes. Ou seja, a taxa de homicídios
masculina foi 12,5 vezes maior do que a
feminina. Essa diferença se manteve estável Protagonismo negro: por que é importante
ao longo da série histórica iniciada em 2012, atentar-se aos espaços ocupados (ou não)
demonstrando o aspecto estrutural neste tipo pela negritude na literatura nacional?
de violência física. Desmembrando por sexo e
cor ou raça, a maior taxa foi observada entre Em julho de 2020, um levantamento
os homens pardos (64,3 mortes) e em seguida realizado pela revista Veja apontou um
pelos homens pretos (41,4 mortes), assim como acontecimento que pode ter passado
entre as mulheres foram as pardas (4,6 mortes) despercebido para muitos, mas que tornou-se
e as pretas (2,7 mortes) as que mais sofreram um marco para a negritude brasileira: dos 20
essa violência. livros mais vendidos no país, sete eram de
autoria de pessoas negras, dentre as quais 4
mulheres (tendo uma delas, Djamila Ribeiro, 3
de seus livros na lista).
Curiosamente, a maior parte dos livros
que compuseram o ranking mencionado não
apenas foi escrita por pessoas negras, como
também trouxe em seu conteúdo diálogos e
provocações importantes e, de certa forma,
incômodas, sobre temas como racismo,
feminismo, gênero e disparidade de classes.
À época, poderia parecer apenas o
reflexo de um ano atípico. Entretanto, no final
do ano seguinte, a obra Torto Arado,
publicada pela editora Todavia, tornou-se o
livro de ficção mais vendido pela Amazon
Brasil em 2021, com 74 mil exemplares
vendidos no ano. Acompanhando o sucesso
da publicação, o autor Itamar Vieira Junior
tornou-se o escritor brasileiro vivo mais vendido
e um dos mais premiados da atualidade.
Itamar é um retrato bastante preciso da
diversidade étnica que caracteriza a
população do país: o autor, que é
Além desses dados, o IBGE apresenta soteropolitano, geógrafo e doutor em estudos
diversos parâmetros que podem demonstrar a étnicos e africanos pela UFBA, descende de
gritante desigualdade racial no Brasil. negros escravizados vindos de Serra Leoa e da
Nigéria, assim como de indígenas Tupinambás,
da região de Coqueiros do Paraguaçu, no 9. "Memórias da Plantação", de Grada Kilomba.
Recôncavo Baiano. 10. "Olhos d'água", de Conceição Evaristo.
11. "A liberdade é uma luta constante", de Angela
Logo, nota-se que não há
Davis.
coincidências: o livro, valendo-se dos recursos 12. "O Caminho Do Quilombo: histórias não contadas
da ficção, retrata em grande parte de suas na educação escolar quilombola", de Olindina Cirilo
páginas a realidade de milhões de homens e Nascimento Serafim.
mulheres negros e indígenas da população 13. "Racismo Estrutural", de Silvio de Almeida.
14. "Pele negra, máscaras brancas", de Frantz Fanon.
brasileira, como os que provavelmente 15. “Você não é invisível”, de Lázaro Ramos.
cercaram o autor ao longo de sua vida. A
obra discorre sobre a trajetória de duas irmãs
gêmeas, negras, sem acesso à educação e Literatura Infantil com personagens negros
vivendo com sua família em condições
análogas à escravidão no sertão baiano, em Luciana dos Santos Jorge Pessanha, em
uma comunidade quilombola como tantas do artigo “O imaginário da literatura infantil na
país. Além disso, a obra também trata, de inclusão étnico-racial” publicado na revista
forma bastante sensível e poética, questões Humanidades e Inovação (v.8, n.34,) da
religiosas pouco exploradas, como o Universidade do Estado do Tocantins
sincretismo entre o cristianismo e religiões de (UNITINS), ressalta que a literatura infantil
matriz africana e indígena. precisa abordar questões sociais do
Fonte:https://naueditora.com.br/protagonismo-negro-por-que- cotidiano infantil por meio de seus
e-importante-atentar-se-aos-espacos-ocupados-ou-nao-pela- personagens, as questões étnicas raciais
negritude-na-literatura-nacional/
fazem parte de nossa sociedade e o
ambiente escolar deve abordar e valorizar a
Incentivar a leitura identidade cultural e racial das crianças.
de obras de autores Aproveitar o avanço literário com relação a
negros não é apenas uma representatividade das crianças negras
forma de promover esses dentro das narrativas literárias para colocar
escritores, para além disso, em pratica a construção de uma
é criar uma identificação ressignificação de suas identidades.
entre leitores e autores, Nesse sentido, a leitura de obras com
como forma de reforçar a personagens negros, por parte das crianças,
representatividade na literatura. Mostrar irá ampliar o sentido de pertencimento a
que a presença negra na literatura está uma sociedade multiétnica e que deve
para além de Machado de Assis. incluir todos.

Sugestões de livros infantis com protagonistas


A seguir, apresentamos uma lista de negros:
quinze obras de autores negros para que você
conheça e divulgue e também incentive seus Meu crespo é de rainha – Bell Hooks
estudantes a desfrutarem desse Idade: 3 anos
conhecimento. São obras de ficção e não- Publicado originalmente em 1999 em
ficção. Boa parte delas aborda a temática forma de poema rimado e ilustrado, esta
racial, bastante oportuna nesse momento. delicada obra chega ao país pelo selo
Boitatá, apresentando às meninas brasileiras
Sugestão de leitura: diferentes penteados e cortes de cabelo de
Dicas de livros de autores negros: forma positiva, alegre e elogiosa.
1. "O avesso da pele", de Jeferson Tenório.
2. "Tudo nela brilha e queima", de Ryane Leão. Lendas negras – Júlio Emílio Braz
3. "Pequeno manual antirracista", de Djamila Ribeiro.
Idade: 12 anos
4. "O genocídio do negro brasileiro: processo de um
racismo mascarado", de Abdias Nascimento. Pouco ou nada se falou sobre a África
5. "LÉLIA GONZALEZ - Retrato do Brasil negro", de Alex para os jovens de hoje, afrodescendentes ou
Ratts e Flávia M. Rios. não. Para muitos a África ainda é um mistério
6. "O perigo de uma história única", de Chimamanda ou, pior ainda, quando aparece nos
Ngozi Adichie.
7. "Frederick Douglass: autobiografia de um escravo",
noticiários, é como palco de terríveis guerras
de Frederick Douglas. civis e epidemias. Mas a África é bem mais
8. "Racismo Recreativo", de Adilson Moreira. do que isso e este livro procura mostrar suas
histórias e tradições, apresentando a todos Amoras – Emicida
seu folclore para assim, quem sabe, Idade: 4 anos
despertar outros tantos a escrever mais sobre Essa história cheia de simplicidade e
esse continente. poesia escrita pelo rapper e compositor
Emicida mostra, por meio do texto e das
Histórias trazidas por um cavalo-marinho – ilustrações de Aldo Fabrini, a importância de
Edimilson de Almeida Pereira nos reconhecermos no mundo e nos
Idade: 9 anos orgulharmos de quem somos – desde criança
A arte de contar histórias sempre e para sempre.
acompanhou a vida do homem. No passado
remoto, essas histórias não eram registradas Flora – Bartolomeu Campos de Queirós
em livros, mas mesmo assim sobreviviam ao Idade: 4 anos
tempo: avós contavam aos pais, que Este livro conta de forma delicada a
contavam aos filhos sobre as origens do história da menina Flora, que observa,
mundo, as lendas e mitos a respeito de nossas contempla, admira, respeita e vivencia
raízes. Para dar continuidade à transmissão de zelosamente o ciclo da vida. O leitor,
conhecimento de geração em geração. independentemente de sua idade, é
convidado a desvendar os segredos das
Os ibejis e o carnaval – Helena Theodoro coisas mais simples.
Idade: 9 anos
A escritora Helena Theodoro, em seu Betina – Nilma Lino Gomes
mais importante papel ― o de avó ―, conta Idade: 5 anos
para seus dois netos, Neinho e Lalá, histórias do A protagonista desta história é uma
nosso carnaval. menina que adora as tranças que a avó faz
em seus cabelos, o entrelaçamento dos fios se
Histórias da África – Gcina Mhlophe transformando em verdadeiras obras de arte.
Idade: 6 anos A história resgata a tradição oral, valorizando
Do contato com a avó, Gcina a cultura e ancestralidade.
aprendeu a gostar de histórias fantásticas que
marcaram tantas gerações dos povos O Menino Marrom – Ziraldo
africanos; dez dessas histórias estão aqui e Idade: 8 anos
resgatam valores supremos, que regem a vida Em O Menino Marrom, Ziraldo narra a
do ser humano em qualquer parte do planeta, infância de duas crianças com a cor de pele
como justiça, ética e respeito. diferente: uma é marrom, a outra é cor-de-
rosa. Elas não veem isso como um empecilho
O black power de Akin – Kiusam de Oliveira para construírem um grande laço, com muitas
Idade: 6 anos perguntas e descobertas.
A tristeza invadiu o coração de Akin,
jovem negro de 12 anos, que cobre a cabeça Jeremias: Pele – Maurício de Sousa Produções
com um boné ao ir para a escola. Ao seu avô, Idade: 11 anos
Dito Pereira, ele não conta que tem vergonha Nesta Graphic Novel da Turma da
do seu cabelo, motivo de chacota dos Mônica, o roteirista Rafael Calça e o
colegas. Antes que Akin tome uma atitude desenhista Jefferson Costa dão vida a uma
brusca, o sábio avô, com a força das histórias história na qual o personagem Jeremias lidará
da ancestralidade, leva o neto a recuperar a pela primeira vez com o preconceito por
autoestima. causa da cor da sua pele. O livro é recheado
de superação, aprendizado e preparação
Sikulume e outros contos africanos – Júlio para a vida.
Emílio Braz (adaptação)
As tranças de Bintou – Sylviane A. Diuof
Idade: 9 anos Idade: 10 anos
Neste belíssimo livro, Júlio Emílio Braz, A autora Sylviane A. Diouf, estudiosa da
premiado autor de livros infantis, reconta sete cultura e da história da África, nos apresenta
histórias africanas repletas de poesia, nessa história Bintou, uma menina negra que
coragem, amor, superação e até mesmo não se contenta com seus birotes no cabelo e
terror. sonha usar tranças como sua irmã mais velha.
A história encanta pela maneira cuidadosa e lançados naquele ano no Brasil não contaram
doce com que trata a passagem da infância com nenhum ator ou atriz negra no elenco.
para a adolescência.
É muito importante
Flávia e o bolo de chocolate – Miriam Leitão que professores levem para
Idade: 5 anos a sala de aula não apenas
Em meio aos questionamentos da filmes que denunciem o
protagonista Flávia sobre a sua pele marrom, racismo, mas que também
tão diferente da pele branquinha da mãe, a ressaltem a cultura negra e
premiada jornalista Míriam Leitão aborda que tenham artistas negros no elenco, na
temas delicados como adoção e questões produção, na direção. Isso é importante
raciais de forma sensível e lúdica para os para que as crianças e adolescentes pretos
pequenos. e pardos vejam que posições de destaque
podem e devem ser almejadas. Filmes que
Obax – André Neves mostrem o negro em posições subalternas,
Idade: 4 anos sofrendo racismo ou em condição de
O livro Obax tem um texto encantador escravos contribuem para que os
que ressalta a natureza criativa do imaginário estudantes não se reconheçam nessas
infantil. Quando o sol acorda no céu das obras ou se reconheçam de forma
savanas, uma luz fina se espalha sobre a negativa. Filmes como “Pantera Negra” e
vegetação escura e rasteira. O dia aquece, “O Menino que descobriu o vento” são
enquanto os homens lavram a terra e as exemplos de obras que podem e devem ser
mulheres cuidam dos afazeres domésticos e apreciados. Professor, fique atento à
das crianças. Ao anoitecer, tudo volta a se classificação indicativa dos filmes. Só exiba
encher de vazio, e o silêncio negro se uma obra audiovisual se for possível fazer
transforma num ótimo companheiro para conexão com o currículo escolar e
compartilhar boas histórias. desenvolver atividades que promovam a
aprendizagem.
Iori descobre o sol, o sol descobre Iori –
Oswaldo Faustino
Idade: 5 anos Para celebrar o cinema nacional de
Os ruídos da natureza podem uma perspectiva que realmente representa a
surpreender a quem está acostumado a população do nosso país, a Revista Casa
dormir nas grandes cidades. Sozinha em seu Vogue (Junho/2020) selecionou 15 filmes
quarto, a pequena Iori fica intrigada com os brasileiros com representatividade negra. São
sons do campo, vindos do lado de fora da filmes para você, professor, conhecer e
janela. Esta narrativa simples ajuda a preparar analisar. Nem todos eles possuem
a criança para essa novidade, estimulando a classificação para serem vistos pelos seus
observação dos sons e brincadeiras com estudantes, portanto, é preciso observar a
onomatopeias. classificação indicativa.
1.Café com Canela
Representatividade no Cinema
Será que os filmes brasileiros
representam toda a população do país?
Conforme um levantamento feito pela
Agência Nacional do Cinema (Ancine), 75,4%
dos filmes lançados no país em 2016 foram
dirigidos por homens brancos, 19,7% por
mulheres brancas e somente 2,1% por homens
negros. As mulheres negras nem ao menos
apareceram nos dados. No entanto, os negros
e pardos representam 55% da população
brasileira.
Além disso, o mesmo levantamento
mostrou que 42,3% dos filmes de ficção
Dirigido por Glenda Nicácio e Ary Rosa,
Café com Canela é um filme de drama que Ó Paí, Ó já é um grande conhecido dos
retrata a história de Margarida. Após o fãs de cinema nacional. O longa, dirigido por
falecimento de seu filho, ela se separa de seu Monique Gardenberg, conta a história de 12
marido e perde o contato com os amigos. No personagens que vivem em um cortiço no
entanto, a história ganha um caminho Pelourinho, em Salvador, durante o Carnaval.
diferente quando Margarida reencontra Além de retratar a animação e a euforia do
Violeta, uma de suas ex-alunas. A produção, centro histórico da cidade baiana, o filme
lançada em 2017, foi o primeiro longa- também aborda o contraste social e a
metragem nacional de ficção dirigido por pobreza na região.
uma mulher negra a entrar em cartaz em 34
anos. 4. Correndo Atrás

2.Temporada

Com elenco e produção quase todo


formado por negros, Correndo Atrás retrata a
Juliana é uma mulher negra que está se história de um ex-jogador de futebol chamado
mudando de Itaúna, no interior de Minas Paulo Ventania. Ao conhecer Glanderson,
Gerais, para Contagem, que fica na região que é um jovem atleta, o protagonista decide
metropolitana de Belo Horizonte. Ao longo do
tentar voltar ao mercado esportivo por
longa, ela se adapta à nova rotina, ao novo enxergar um novo talento no garoto. O filme,
emprego e faz novos amigos enquanto espera lançado em 2018, foi dirigido pelo cineasta
a chegada do marido, que também se mudou Jeferson De.
para a cidade. O filme, lançado em 2019, é
dirigido por André Novais Oliveira. 5. Filhas do Vento
3. Ó Paí, Ó
Após 45 anos separadas por um Zu é um garoto negro de 12 anos. Após
incidente familiar, duas irmãs se reencontram sair para comprar farinha de trigo na
após a morte do pai. Dirigido por Joel Zito mercearia para a mãe, o menino descobre
Araújo, Filhas do Vento retrata a relação que pode voar. O curta-metragem, que possui
familiar e o reencontro de quatro mulheres em somente 20 minutos, foi dirigido pela cineasta
Lavras Novas, no interior de Minas Gerais. O Renata Cilene Martins.
longa-metragem, lançado em 2005, mostra o
racismo e os resquícios da escravidão na 8. Pitanga
pequena cidade mineira que possui uma
população majoritariamente negra.

6. Mister Brau

Para os fãs de documentário, Pitanga é


uma produção imperdível. O filme, dirigido por
Baseado na série de mesmo nome, Beto Brant e Camila Pitanga, retrata a vida e a
Mister Brau também já é uma produção carreira do ator brasileiro Antônio Pitanga, que
bastante conhecida. O filme, dirigido por atuou em mais de 50 produções do cinema
Flávia Lacerda e Patrícia Pedrosa, conta a nacional.
história do cantor Mr. Brau que se muda para
um condomínio de luxo após atingir o sucesso 9. My Name Is Now
na carreira musical. Entretanto, o estilo de vida
agitado do artista, reforçado pelo
preconceito de seus vizinhos, faz com que ele
e a esposa enfrentem algumas complicações.

7. Sem Asas

Seguindo as recomendações de
documentários, My Name Is Now retrata a
trajetória da cantora Elza Soares. Dirigido por
Elizabete Martins Campos, o filme mostra
como o tempo, as perdas e o sucesso
contribuíram para formar a força e o poder 12. Pelé Eterno
que a artista possui.

10. Cartola - Música para os Olhos

Pelé Eterno é um documentário


brasileiro de 2004, criado e dirigido por Aníbal
Massaini Neto. O filme faz uma homenagem a
um dos maiores jogadores de futebol de todos
os tempos: Pelé. O filme conta a trajetória de
A vida de Cartola, um dos mais Edson Arantes do Nascimento, o Pelé,
importantes músicos do samba brasileiro, conhecido como o "rei do futebol". O filme vai
também foi documentada. O filme Cartola - desenrolando-se através de uma narrativa
Música para os Olhos possui importantes cronológica, em que Pelé fala sobre suas
figuras da música e do entretenimento conquistas, os jogos mais importantes de sua
brasileiro no elenco, como Chico Buarque, Gal carreira, ilustrados pelos principais gols de
Gosta, Beth Carvalho e Hebe Camargo. cada momento. Além dos gols, são exibidos
dribles de rara técnica, com ambos os pés, e
11. Barravento lances famosos que não resultaram em gol.
Completam o documentário, entrevistas de
outros jogadores e de familiares.

13. Kbela

Firmino, interpretado por Antônio


Pitanga, retorna à aldeia de pescadores onde Kbela é um curta-metragem que
foi criado e tenta trazer novas ideias de aborda o racismo vivido diariamente pelas
liberdade religiosa e pessoal aos nativos, que mulheres negras. O filme, que mostra a luta
são descendentes de escravos. O filme, destas mulheres pelo direito de terem sua
dirigido por Glauber Costa, é o primeiro longa- beleza e seus cabelos naturais, foi eleito o
metragem do cineasta. melhor curta da diáspora pela Academia
Africana de Cinema em 2017. Dirigido por dirigida por Fernando Meirelles, Kátia Lund,
Yasmin Thayná, a produção traz mensagens recebeu quatro indicações ao Oscar.
de empoderamento e resistência.
Representatividade na Ciência
14. Sócrates A ciência não está imune à
desigualdade social e ao preconceito: apesar
do papel de destaque que pesquisadores
negros desempenharam nos últimos séculos,
essa parcela da população ainda se vê
subrepresentada nos espaços acadêmicos.
Uma das principais instituições de ensino
superior do país, a Universidade de São Paulo
(USP) tem apenas 129 professores que se
declaram negros — cerca de 2,2% do total de
docentes. Entre os estudantes, a porcentagem
também é baixa: em 2017, apenas 4% dos
calouros eram negros.
Além das ações afirmativas, para
reverter esse quadro também é necessário
valorizar a cultura e o papel dos negros na
Sócrates é um garoto negro e pobre da produção de conhecimento: por isso,
Baixada Santista, no litoral paulista. Após a conheça 23 pesquisadores que enfrentaram o
morte de sua mãe, o jovem é despejado do racismo e entraram para a história da ciência.
local onde mora e precisa lidar com uma série
de questões burocráticas, além da falta de 1 - Alfred Oscar Coffin (1861 - 1933)
recursos financeiros. O filme, dirigido por Alex Coffin foi professor de matemática e
Moratto, foi indicado para três categorias do língua românica da Universidade Wiley, no
Spirit Award, considerado o Oscar do cinema estado norte-americano do Texas. Formou-se
independente. e concluiu o mestrado na Universidade Fisk,
uma instituição de ensino historicamente
15. Cidade de Deus negra do Tennessee, e, em 1889, tornou-se o
primeiro afro-americano a obter um
doutorado em biologia — pela Illinois
Wesleyan University

2 - George Washington Carver (1864 - 1943)


Filho de escravos, Caver foi separado
de sua família após um sequestro e, então, foi
criado pelo casal que havia comprado seus
pais. No Mississippi, teve dificuldades para
encontrar uma escola que aceitasse
estudantes negros. Aos 13 anos, se mudou
para o Texas para viver com uma família
adotiva e continuar os estudos.

Não há forma melhor de encerrar a lista


do que com um clássico do cinema brasileiro.
Cidade de Deus conta a vida de Buscapé, um
jovem fotógrafo que vive na comunidade
carioca que dá nome ao filme. A obra retrata
o crescimento do crime organizado no Rio de
Janeiro e a violência que marca a vida da
população da comunidade. A produção,
George Washington Carver (Foto: Adam Cuerden/Wikimedia 6 - Léopold Sédar Senghor (1906 - 2001)
Commons)

A primeira universidade a aceitar


Carver foi a Highland University, que o rejeitou
logo após descobriu que o aluno era negro.
Mais tarde, foi aprovado a Universidade
Estadual de Iowa, onde desenvolveu estudos
sobre agricultura. O agrônomo queria
promover plantações alternativas ao algodão Léopold Sédar Senghor, filósofo e presidente do Senegal (Foto:
nos EUA, como a de amendoim e batata- Divulgação)

doce, para que fazendeiros pobres tivessem


uma produção mais sustentável. Seu trabalho O pensador senegalês foi o primeiro
recebeu diversas honrarias. africano formado pela Universidade de
Sorbonne, em Paris. Desenvolveu o conceito
3 - Ernest Everett Just (1883 - 1941) de negritude e um movimento literário que
Just foi o zoólogo norte-americano exaltava a identidade negra, lamentando o
responsável por reconhecer o papel impacto que a cultura europeia teve nas
fundamental da superfície celular no tradições do continente. Em 1960, logo após a
desenvolvimento dos organismos. independência do Senegal, foi eleito
Desenvolveu pesquisas nos Estados Unidos, presidente, cargo que ocupou até 1980.
Itália, Alemanha e França. Conheça mais sobre o trabalho de Senghor e
de outros pensadores africanos
4 - St. Elmo Brady (1884 - 1966) contemporâneos.
Primeiro homem negro a conquistar um
título de PhD em Química nos EUA. Atuou 7 - Jane Cooke Wright (1919-2013)
como professor universitário por décadas e A "mãe da quimioterapia" desenvolveu
ajudou a captar recursos para universidades novas formas de testar drogas contra o câncer
historicamente negras. e de tratar tumores difíceis de serem
alcançados. Wright foi cofundadora da
5 - Alice Ball (1892 - 1916) Sociedade Americana de Oncologia Clínica.
"O trabalho [de Jane Wright] não só era
científico, mas também foi visionário para toda
a ciência da oncologia", afirma a Sandra
Swain, eminente médica norte-americana e
especialista em câncer de mama.

8 - Milton Santos (1926 - 2001)

Alice Ball (1892 - 1916) (Foto: Wikimedia Commons)

Além de ser a primeira mulher a se


formar na Universidade do Havaí, Alice criou,
aos 23 anos, o método Ball, um tratamento Nascido em 3 de maio de 1926, em
químico que ajudou a curar a lepra e aliviou a Brocas de Macaíba (BA), Santos formou-se em
vida de centenas de pessoas, que não foram Direito pela Universidade Federal da Bahia
mais obrigadas a se exilar de suas famílias. (UFBA) e fez doutorado em Geografia pela
Ball morreu aos 24 anos, provavelmente Universidade de Estrasburgo. Ele trabalhou
por ter inalado gás clorídrico no laboratório. como jornalista, redator e professor.
Em todo ano bissexto, no dia 29 de fevereiro, Por causa do golpe militar em 1964, ele
comemora-se o Alice Ball Day no Havaí. passou a ser professor itirenante em diversos
países e faculdades, como a Paris-Sorbonne, Quando Mae Carol Jemison nasceu,
na França e o MIT (Massachusetts Institute of em 17 de outubro de 1956, em Decatur, no
Technology). O geógrafo retornou ao Brasil em Alabama, a Nasa não permitia que mulheres
1977 e publicou o livro "Por uma Geografia fossem astronautas. Mulheres negras, como
Nova" em 1978. Recebeu 20 títulos de Doutor era o caso de Jemison, então, nem se fala.
Honoris Causa e fundou laboratórios de Mas isso não impediu que ela, crescendo em
geografia em países da Europa, África e Chicago, sonhasse com ir para o espaço:
América. Santos foi o primeiro brasileiro a determinada, ela se formou em Engenharia
ganhar o Prêmio Vautrin Lud (considerado o Química na Universidade Stanford e, depois,
Nobel da geografia). em Medicina na Universidade Cornell.
Em 1987, ela conseguiu entrar para a
9 - Annie Easley (1933 - 2011) Nasa e, cinco anos depois, realizou o sonho de
Criada por sua mãe solteira, Easley foi fazer parte da tripulação de um ônibus
uma matemática, programadora e espacial — o Endeavour, na missão STS-47, que
engenheira espacial da Nasa. Na agência orbitou a Terra do dia 12 ao dia 20 de setembro
espacial, ela trabalhou na divisão de veículos de 1992.
de lançamento e presidiu o clube de esqui. Fez
também importantes pesquisas na área de 12 - Viviane dos Santos Barbosa
fontes alternativas de energia. Sua história foi Barbosa é uma pesquisadora baiana
inspiração para o premiado filme “Estrelas que, em 2010, foi premiada durante a
além do tempo”. International Aerosol Conference por
desenvolver um produto catalisador que reduz
10 - Luiza Bairros (1953 - 2016) emissão de gases poluentes. O evento foi
realizado na Finlândia e contava com 800
trabalhos inscritos.

13- Jaqueline Goes de Jesus

A ex-ministra Luiza Barros (Foto: Agência Brasil)

Mestre em ciências sociais pela


Universidade Federal da Bahia e doutora em
sociologia pela Universidade Estadual de
Michigan, Bairros foi ministra-chefe da
Secretaria de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial durante o governo da
Presidente Dilma Roussef. Vítima de um câncer
de pulmão, a socióloga gaúcha morreu no dia Biomédica e uma das cientistas
12 de julho de 2016. responsáveis pela sequenciação do primeiro
genoma do vírus SARS-CoV-2.
11 - Mae Jemison (1956 - ) Apenas 48 horas foram necessárias
para que um estudo, liderado por Jaqueline
Goes de Jesus e Ester Sabino, fosse capaz de
sequenciar o genoma do coronavírus no Brasil.
A rapidez dos resultados, realizado pelo
Instituto de Medicina Tropical da USP em
parceria com o Instituto Adolfo Lutz e a
Universidade de Oxford, chamou a atenção
do Brasil e do mundo.
14 - Enedina Alves Marques sete que mais gerou receitas para a emissora
em toda história. De acordo com informações
da Folha de São Paulo, ‘Vai Na Fé’ conquistou
impressionantes 15 patrocinadores e
contabilizou 60 ações publicitárias vinculadas
à novela.
Protagonizada pela atriz Sheron
Menezzes, a trama de ‘Vai Na Fé’ apresentou
vivências cotidianas sob um olhar humano e
representativo. Não é sempre que observamos
uma mulher negra brilhar no papel principal
A primeira engenheira negra do Brasil. dentro de uma trama nacional, mas dessa vez,
Nascida em 1913 em Curitiba, Enedina Alves nós podemos celebrar também o sucesso de
Marques era a única menina entre nove um elenco diverso e rico em autenticidade.
irmãos. A mãe, Dona Virgília, era empregada Além disso, a novela abordou o racismo
doméstica e trabalhava na casa do delegado policial contra jovens negros, apresentou com
e major Domingos Nascimento Sobrinho. naturalidade, sem estereótipos, o cristianismo
Enedina foi matriculada na mesma escola que evangélico e o culto de religião de matriz
as filhas do major estudavam e lá aprendeu a africana, além disso, personagens negros
ler e escrever. ocuparam papel de relevância. Talvez essa
Fonte: Revista Galileu. representatividade tenha sido a receita para o
grande sucesso da telenovela com o público,
Representatividade na teledramaturgia a audiência e o mercado publicitário, já que
56% da população se viu representada na
Há muito tempo, as emissoras de tela, o que é um grande público de
televisão são criticadas pela ausência ou consumidores.
escassa representatividade negra em O ator Samuel de
personagens de relevância em telenovelas. Assis, um dos protagonistas
Quase sempre relegados a personagens de da novela, vivendo na
menor importância, atores e atrizes negros ficção um rico e renomado
quase nunca tinham a oportunidade de advogado, resumiu seu
desenvolver grandes personagens na TV. sentimento: “70% do elenco
Aos poucos o cenário vem mudando. é preto e não é uma novela
Recentemente, uma telenovela teve um de escravos”.
grande sucesso de audiência e tinha como Fonte: https://mundonegro.inf.br/
carro-chefe a representatividade negra,
desde os protagonistas a personagens de Fontes:
Museu Regional de São João del Rei - Ibram/MinC. Ministério da
relevância, atores negros estavam presentes Educação – MEC. Secretaria de Estado de Educação do Distrito
em todos os núcleos dramatúrgicos. Trata-se Federal – Orientações Pedagógicas para Educação para as
da telenovela “Vai na fé”, da escritora Rosane Relações Étnico-raciais. Revista Galileu. IBGE. Portal G1. Revista
Casa Vogue. Portal Mundo Negro. Portal Geledés. Portal Pilitizei.
Svartman. Repositório da Universidade do Tocantins.

Elenco da novela, crédito: TV Globo

Com protagonismo negro, ‘Vai Na Fé’


se tornou a novela das 19h de maior
faturamento na história da TV Globo.
Com protagonismo negro, a obra se
estabeleceu como o folhetim do horário das

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