Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
racial no Brasil.
Além disso, é importante descontruir
mitos e preconceitos sobre os aspectos
históricos, culturais e religiosos da população
negra, bem como incluir no debate aspectos
da linguagem que contribuem para o racismo
A Lei 12.519 de 2011 instituiu estrutural.
oficialmente o Dia Nacional de Zumbi e da Também é preciso mencionar os
Consciência Negra. No calendário escolar avanços: o estatuto da igualdade racial, as leis
nacional, a data foi incluída em 2003. A origem de cotas, o endurecimento da legislação
do Dia da Consciência Negra está ligada aos penal no que tange ao racismo religioso e
esforços dos movimentos sociais para recreativo e à injúria racial.
evidenciar as desigualdades históricas que Por fim, é preciso promover a
marcaram as populações negra e parda no educação antirracista na sala de aula.
país. Além disso, a LDB (Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional) em seu artigo 26-A
(Incluído pela Lei nº 10.639/2003 e alterado Uma educação
pela Lei nº 11.645, de 2008) torna obrigatório, antirracista prevê
nos estabelecimentos de ensino fundamental ações contínuas de
e de ensino médio, públicos e privados, o combate ao
estudo da história e cultura afro-brasileira e racismo dentro da
indígena. sala de aula. É uma
abordagem que
educa não apenas
Abordagem em para coibir a disseminação de falas racistas
sala de aula e preconceituosas relacionadas à cor da
pele. A ideia é valorizar a identidade de
diferentes povos e, assim, proteger desde
cedo as crianças vítimas do racismo
brasileiro.
Adotar a educação antirracista na
escola significa rever escolhas que dizem
respeito não apenas a atividades
extracurriculares ou comemorativas. É
preciso ressaltar a diversidade nas
representações em livros, murais e
No Dia da Consciência Negra, os
brinquedos, por exemplo.
professores devem promover junto a seus
Assumir a educação antirracista é,
estudantes uma reflexão sobre o papel
também, ler pensadoras/es e autoras/es
histórico do povo africano na formação do
negras/os ainda ignoradas/os na academia
povo brasileiro e na construção da cultura
(cientistas negras/os e indígenas de
brasileira. É preciso também falar sobre sua
excelência existem, e são muitas/os!); é
influência na arte, política, religião e
refletir permanentemente, reconhecendo o
gastronomia, entre outras tantas áreas. Não é
lugar de privilégio branco e as
um dia para tratar apenas sobre racismo. É um
consequências da herança escravocrata
momento sim de leitura do sofrimento histórico
em nosso país; e perceber-se ingênua/o ao
do povo negro, mas principalmente de exaltar
acreditar no mito da democracia racial
seus feitos, rememorar os grandes líderes da
brasileira, alterando condutas
luta pela igualdade racial, os pensadores,
assistencialistas ultrapassadas, mesmo que
artistas, cientistas, ativistas, enfim, é importante
imbuídas de boas intenções.
ressaltar a participação dessas pessoas no
Sugestão de Vídeos: Essa iniciativa é considerada uma das
Numa série do Canal Futura sobre primeiras ações para que essa data se
educação antirracista, a psicóloga e
tornasse um dia de exaltação da luta dos
ativista Cida Bento entrevista lideranças
de todo o Brasil sobre temas ligados aos negros. É imprescindível citar que o Grupo
20 anos da lei 10.639 e práticas de Palmares contou em sua fundação com
educação para as relações étnico- nomes importantes como o do poeta Oliveira
raciais. Disponível no Canal Futura, Silveira. Silveira se tornou ativista de causas
Youtube e Globoplay.
Link:https://globoplay.globo.com/entrevista-
negras e é considerado um dos grandes
educacao-antirracista/t/PBWwV16qqJ/ responsáveis pela celebração dessa data.
A respeito dessa reunião em Porto
Alegre, ainda precisam ser mencionados dois
Objetivos de pontos. O primeiro é que esse encontro
aprendizagem ocorreu em oposição ao ato abolicionista, de
13 de maio de 1888, data que a Princesa Isabel
assinou a Lei Áurea – uma vez que os
O trabalho do professor com a
participantes do grupo chegaram à
temática do Dia da Consciência Negra em
conclusão de que o 13 de maio não garantia
sala de aula com seus estudantes tem como
direitos para a população negra no Brasil. O
objetivos:
segundo é que a nomeação de 20 de
novembro como Dia da Consciência Negra
• Compreender a origem do Dia da
aconteceria sete anos depois do ato gaúcho.
Consciência Negra e sua importância hoje;
Em 1978, em São Paulo, o Movimento
• Analisar a situação atual do negro no Brasil Negro Unificado contra a Discriminação Racial
com base em dados oficiais (Censo IBGE, (MNUCRD) realizou diferentes manifestações
por exemplo) e discutir a desigualdade em prol dos direitos dos negros e
racial no nosso país, de forma a combater o afrodescendentes. Os atos do MNUCRD
racismo estrutural e promover a cultura tiverem como referência as iniciativas feitas na
antirracista; capital gaúcha. E foi em uma das assembleias
do grupo paulista que se nomeou o 20 de
• Reconhecer a contribuição do povo novembro, como Dia Nacional da
africano na construção da arte, Consciência Negra.
gastronomia, hábitos, língua e cultura Com o passar do tempo, o movimento
brasileira, destacando protagonismo negro negro ganhou força e conseguiu vitórias
nas diversas áreas, bem como os líderes da importantes, como a institucionalização da Lei
resistência e luta por igualdade racial. de Preconceito de Raça ou Cor, nº 7.716, de 5
de janeiro de 1989. O ano de 2003 foi decisivo
para o reconhecimento oficial do Dia da
Origem do Dia da Consciência Consciência Negra no Brasil. Nesse período,
Negra o 20 de novembro entrou para o calendário
escolar nacional como uma data
A história de luta e resistência de Zumbi comemorativa. A partir daquele momento, o
dos Palmares ocorreu no século 17. Com o currículo de ensino das escolas ganhou como
passar do tempo o nome dele foi caindo no conteúdo obrigatório o estudo da história e
esquecimento, até que, no início dos anos de cultura negra, através da Lei nº 10.639, de 09
1970, a figura deste líder quilombola voltou a de janeiro de 2003. O Dia da Consciência
ser discutida entre alguns grupos. Isso Negra ou o Dia de Zumbi foi de fato
aconteceu, pois foi nesse período que institucionalizado em 10 de novembro de 2011,
historiadores descobriram a data de sua por meio da Lei nº 12.519.
morte. Em 1971, o Grupo Palmares, localizado O entendimento sobre o direito das
em Porto Alegre, realizou um ato no Clube pessoas negras não é algo novo. Como
Social Negro “Marcílio Dias” para abordar a pudemos ler anteriormente, no século 17, os
luta contra o preconceito racial. O evento escravos que residiam em Palmares já lutavam
utilizou a figura de Zumbi como modelo de por liberdade. O que podemos considerar
resistência – e aconteceu na noite de 20 de como ainda novo nesse tema é a sua
novembro. discussão. Através de diferentes movimentos
sociais, ao longo dos anos, chegou-se ao que
conhecemos como Consciência Negra. Luís Gama
Há 125 anos, a
escravatura era abolida
do Brasil. A Princesa Isabel
assinou a Lei Áurea em 13
de maio de 1888, mas a
data não é utilizada como
o principal marco da luta dos negros por sua
liberdade.
A preferência é por 20 de novembro,
aniversário da morte de Zumbi dos Palmares Nascido livre, mas escravizado pelo próprio
(1655-1695) e feriado em milhares de pai, branco, aos 10 anos, Luís Gama foi um
cidades brasileiras como Dia da dos maiores abolicionistas do país. Após
Consciência Negra, se deve a alguns fugir dessa condição aos 18 anos, tornou-
motivos que são explicados por se jornalista e advogado. Defendeu o
especialistas no vídeo: direito de liberdade de mais de 500 negros
escravizados e hoje é considerado patrono
https://youtu.be/xKhoBezWnto?si=813xyvAf
da abolição da escravatura no Brasil.
V8S1ZhlC
Não há, por parte dos estudiosos,
uma negação da importância do dia 13 de
maio, inclusive vale destacar a Sugestão de filme:
participação de líderes negros no Doutor Gama, do Diretor Jeferson De,
movimento que levou a Princesa Isabel à 2021, Brasil, GloboFilmes. com Cesar
assinatura da abolição. Mello, Angelo Fernandes e Pedro
Guilherme. Classificação Indicativa:
14 anos. Disponível no Globoplay.
Democracia Racial
Democracia racial é o estado de
perfeita igualdade entre as pessoas
Busto de Zumbi dos Palmares, em Brasília. Imagem: Elza independentemente de raça, cor ou etnia, o
Fiúza/ABr/ Agência Brasil.
que levaria a uma sociedade sem nenhum
Os quilombos eram agrupamentos tipo de exclusão racial. No mundo atual,
populacionais formados por escravos apesar do fim da escravização e da
foragidos de fazendas coloniais. Nos condenação de práticas e de ideologias
quilombos, muitas vezes escondidos em meio racistas, ainda não existe democracia racial,
à mata, os ex-escravos organizavam suas visto que há um abismo imenso que segrega
vidas para garantir sua subsistência e tinham populações negras, indígenas e aborígenes
liberdade para reproduzir livremente a cultura da população branca.
de seus ancestrais africanos – ao contrário de Devido ao passado de escravidão,
seguir os preceitos da Igreja Católica. racismo e exploração de territórios africanos
Em 1600, escravos que haviam fugido por parte de nações europeias que deixou
dos engenhos de açúcar de Pernambuco uma imensa cicatriz de preconceito e
fundaram, na Serra da Barriga, em Alagoas, o discriminação em nossa sociedade, além do
Quilombo dos Palmares. O local chegou a terrível holocausto que sentenciou à morte
congregar 30 mil pessoas. injusta milhões de judeus, a Organização das
Em 1644, os holandeses falharam em Nações Unidas (ONU) promulgou, em 1948, a
sua tentativa de invadir o quilombo. Dez anos Declaração Universal dos Direitos Humanos. A
depois, os holandeses foram expulsos da declaração enfatiza a igualdade de direitos
região pelos portugueses. entre todos os seres humanos,
Zumbi foi o último líder da República dos independentemente de raça, cor, religião,
Palmares. Ele nasceu em 1655 no quilombo, nacionalidade ou gênero.
mas ainda criança foi aprisionado por colonos A Constituição da República Federativa
portugueses e dado ao padre Antonio Melo, Brasileira de 1988 também enfatiza o
que o batizou como Francisco. Ele conseguiu estabelecimento de direitos iguais entre
retornar anos depois para os Palmares, no pessoas independentemente de qualquer
período em que o governo da Capitania de elemento distintivo. O art. 5 da Constituição diz
Pernambuco negociava com as lideranças o seguinte:
quilombolas para que se submetessem à “todos são iguais perante a lei, sem
Coroa Portuguesa. distinção de qualquer natureza,
O quilombo dos Palmares era então garantindo-se aos brasileiros e aos
comandado por Ganga Zumba. Zumbi se estrangeiros residentes no país a
opôs à decisão de ceder aos portugueses. inviolabilidade do direito à vida, à
Com a morte de Ganga Zumba, ele assumiu o liberdade, à igualdade, à segurança e
comando dos negros foragidos em 1680 e à propriedade”.
esteve à frente da comunidade até 1694.
Nesse período, o quilombo foi atacado várias Apesar de não mencionar diretamente
vezes por grupos de bandeirantes, até ser a questão étnico-racial, o trecho citado do
destruído. Zumbi foi caçado, morto e sua documento atesta que não pode haver
cabeça cortada e exibida em praça pública. discriminação de qualquer natureza, ficando
A escravidão no Brasil só teria fim em 1888, implícito que discriminação racial não é
permitida.
Os documentos citados são Os Estados Unidos e a África do Sul
ferramentas importantes para a construção mantiveram sistemas legais de segregação
de uma nação onde haja democracia racial, racial que perduraram, no caso dos Estados
no entanto, não basta a promulgação da lei, Unidos, até a década de 1960 e, no caso sul-
sendo necessário que ela seja cumprida. Para africano, até a década de 1980. Nesses casos,
além da discriminação e do preconceito a população negra era tratada como cidadã
racial, muito precisa ser feito para que um país de segunda categoria, tendo acessos restritos
seja, de fato, considerado uma democracia a serviços públicos e direitos civis restritos ou
racial. até negados.
Devido ao fato de existir um racismo
estrutural que segrega negros e brancos em Sugestão de filme:
classes sociais diferentes, que dificulta o Estrelas além do tempo, do Diretor
acesso da população negra a serviços básicos Theodore Melfi, 2016, 2h09min, EUA,
de educação, saúde, segurança e ao com Taraji P. Henson, Octavia
Spencer, Janelle Monáe.
emprego digno, faz-se necessária a tomada
Classificação Indicativa: 10 anos.
de medidas de reparação histórica para que Disponível no Disney+.
uma nação seja, de fato, uma democracia
racial.
Desde a abolição da escravatura no
Existe democracia racial no Brasil? Brasil, nunca houve lei restritiva que segregasse
A resposta imediata à pergunta oficialmente a população negra da
iniciada no tópico é “não”. Não existe população branca. No entanto, há uma
democracia racial no Brasil, como não existe ideologia racista que perdura até hoje e,
democracia racial em qualquer lugar do sobretudo, há um racismo velado, estrutural,
mundo. Existe, no máximo, um mito de uma que mantém a população negra à parte da
democracia racial pelo fato de o racismo aqui plenitude de seus direitos em nosso país.
não ser tão evidente quanto é nos Estados Segundo Kabengele Munaga, congolês
Unidos, na Europa ou na África do Sul. naturalizado no Brasil e professor emérito de
Antropologia da USP:
“a democracia só será uma realidade
quando houver, de fato, igualdade
racial no Brasil e o negro não sofrer
nenhuma espécie de discriminação,
de preconceito, de estigmatização e
segregação, seja em termos de classe,
seja em termos de raça. Por isso, a luta
de classes, para o negro, deve
caminhar juntamente com a luta racial
propriamente dita”
Apartheid Sul-Africano em estação exclusiva para negros na
Africa do Sul, 1976. Crédito: James Davis/Alamy Desse modo, o racismo estrutural
brasileiro é um impedimento para que haja
ascensão social dos negros, e, enquanto
houver distinção de classes sociais marcada
também pela cor da pele, é impossível se falar
em uma democracia racial.
O racismo estrutural é
aquele que não é explícito
em um preconceito e uma
discriminação claros e
distintos, ele está enraizado
na sociedade. O racismo estrutural finca-se
Bebedouros separados para negros e brancos. EUA, anos nas bases da sociedade brasileira e só é
1950. Crédito: Getty Images perceptível por um olhar apurado que veja
a discrepância de renda, de
empregabilidade e de marginalização da seu senhor advém do medo e que as relações
população negra em relação à população sexuais entre escravas e senhores brancos
branca. Pelo fato de o Brasil não ter eram, na maioria das vezes, estupro ou
apresentado um projeto oficial de consentidas por elas por conta do medo que
segregação entre negros e brancos, houve tinham de sofrer castigos ao negarem-se a tal
aqui a disseminação de uma ideologia (ou ato. O mesmo fenômeno aconteceu com as
mito) da democracia racial. índias brasileiras e os brancos.
Esse ciclo de abusos sexuais resultou nos
primeiros casos de miscigenação no Brasil
Mito da democracia racial ainda no século XVI e intensificou-se até o fim
Mito é algo irreal, inexistente, uma da escravidão. Não podemos dizer que toda
narrativa fantasiosa. Falar em “mito da a miscigenação do período seja fruto de
democracia racial” leva-nos a interpretar que abuso e de estupros, mas a maior parte foi.
a democracia racial não existe. De fato, Acontece que em outros países, como os
atualmente, sobretudo no Brasil, a Estados Unidos, que também tiveram grande
democracia racial é uma lenda. Boa parte do parte da mão de obra da época baseada na
senso comum afirma que no Brasil não há escravização de povos africanos, quase não
racismo, que nele há uma democracia racial houve miscigenação. Esse fato, arriscamos
pelo fato de não haver uma divisão de raças dizer, não aconteceu por falta de
tão forte quanto há nos Estados Unidos cordialidade entre povos negros e colonos nos
atualmente. Estados Unidos, mas por conta da moral
A origem mais forte e sociologicamente protestante de origem anglicana (a Igreja
descrita do mito da democracia racial aqui no anglicana era a mais forte entre os colonos
Brasil advém dos escritos do sociólogo ingleses nos séculos XVII e XVIII), que
brasileiro Gilberto Freyre. Freyre foi um condenava veementemente e de maneira
estudioso da sociologia e da antropologia no mais severa qualquer ato sexual que não fosse
Brasil, no século XX. Apesar de situar-se no para a procriação dentro do casamento.
período pré-científico da sociologia brasileira De fato, dado o fim da escravidão,
(quando os sociólogos eram intelectuais e pode-se constatar no Brasil a grande
eruditos com formações em outras áreas, miscigenação entre negros de origem
como o direito e a filosofia, mas dedicavam-se africana, brancos de origem europeia e índios
a estudar sociologia), o pensador nativos das terras brasileiras, o que difere nosso
pernambucano graduou-se e doutorou-se em país de todos os outros territórios colonizados
ciências sociais nos Estados Unidos, no Ocidente. No entanto, o racismo persistiu
desenvolvendo uma tese sobre a organização ainda por muito tempo de maneira
social do Brasil colonial. descarada, pública e impune e, ainda hoje,
Em Casa grande e senzala, a obra mais persiste nos âmbitos privado e público de
difundida desse autor, ele vai na contramão maneira velada e estrutural.
das teorias do chamado racismo científico do Autores como Kabengele Munaga, o
início do século XX, que defendiam a pureza saudoso sociólogo brasileiro e professor da USP
racial e o “branqueamento” do povo brasileiro Florestan Fernandes, o artista e político Abdias
como ponto de partida para chegar-se a um do Nascimento, a escritora Conceição
estágio de maior evolução social. Para o Evaristo, entre outros nomes, são os
sociólogo brasileiro, era a miscigenação que responsáveis por desmistificar a ideia da
gerava um povo mais forte e capaz de maior existência de uma democracia racial no Brasil.
desenvolvimento. O problema da tese de O racismo estrutural e a crença de que
Freyre é que ela considerava como certa a não há racismo no Brasil são grandes inimigos
existência de uma relação cordial entre na luta por uma sociedade mais justa. Assim
senhores e escravos no período colonial como a homofobia e a misoginia, o racismo é
brasileiro. um entrave para que se forme uma sociedade
Segundo o sociólogo, os senhores brasileira baseada nos pilares democráticos e
mantinham uma relação de cordialidade com republicanos da igualdade e da liberdade.
seus escravos e escravas, mantendo com
estas, muitas vezes, relações sexuais. O
problema dessa visão é que ela não enxerga
que a cordialidade do escravo para com o
Outras faces do racismo macaco de pelúcia. Ambas estão sendo
investigadas pelo Ministério Público do Rio de
Racismo religioso: No Brasil, país estruturado Janeiro após uma onda de quase mil
pelo racismo, o termo “intolerância religiosa” denúncias ao órgão.
não é suficiente para descrever as violências O termo racismo recreativo foi criado
sofridas pelas pessoas que cultuam as religiões pelo pesquisador Adilson Moreira, em livro de
de matriz africana. Torna-se necessária a mesmo nome, e ele explica que a expressão
busca por outra expressão que dê conta de veio como uma forma de combate de
nomear essas violências de forma a não deixar práticas que as pessoas acham que são
dúvidas sobre a quem elas se direcionam. brincadeiras inofensivas mas que na verdade
Nesse sentido, o termo “racismo religioso” são uma forma de microagressão com as
parece muito mais adequado para definir pessoas negras.
uma prática que ameaça a liberdade e a Entram nesse contexto, piadas racistas,
existência dos cultos de matriz africana, tais charges ou esquetes, músicas ou comentários
como o candomblé e a umbanda. O que ridicularizam as pessoas negras, por suas
preconceito com as religiões de matriz características físicas, tais como o cabelo
africana tem raízes no racismo, já que além de crespo, os traços da fisionomia, dentre outras,
terem surgido entre os ancestrais escravizados, A ridicularização tem o intuito de gerar humor
é praticada, em maior número pela para outras pessoas. É também muito comum
população negra. nessas práticas, banalizadas na sociedade
brasileira, a sexualização da mulher negra.
É preciso entender que esse tipo de
humor é uma forma clara de manifestação
racista, pois gera sofrimento na coletividade
da população negra.
É também parte
dessa cultura racista
atacar a própria
existência do Dia da
Consciência Negra.
Lembram-se do caso do motorista de Especialmente nas redes
aplicativo que se recusou a levar uma família sociais, tenta-se desmerecer a luta e a
em seu veículo porque eles estavam resistência dos movimentos negros pela
paramentados com vestes brancas do igualdade racial no país. Alguns, de forma
candomblé? Ou ainda do caso da menina bem preconceituosa, afirmam que deveria
que foi retirada da convivência com a mãe, ser “Dia da Consciência Humana” ou ainda
por ela ser praticante de uma religião de atacam, sem qualquer fundamento
matriz africana? No primeiro caso, estamos histórico, a relevância de figuras como
diante de um episódio de racismo religioso Zumbi dos Palmares.
praticado por um prestador de serviço
público, no segundo caso, o racismo religioso
tem um caráter institucional, já que foi Atual situação do negro no Brasil
praticado pelo Estado (o Conselho Tutelar,
motivado pela crença da conselheira). Ambas De acordo com o censo do IBGE (2022),
as situações são graves, pois foram motivadas 55,9% da população se declararam negros.
pelo preconceito acerca das práticas O IBGE pesquisa a cor ou raça da
religiosas do povo negro. população brasileira com base na
autodeclaração.
Racismo recreativo: Talvez uma das vertentes De acordo com dados da Pesquisa
do racismo mais normatizada na cultura Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD
brasileira, o racismo recreativo se tornou pauta Contínua 2022, 42,8% dos brasileiros se
nas redes sociais após duas influenciadoras declararam como brancos, 45,3% como
publicarem vídeos em que dão de presente pardos e 10,6% como pretos.
para crianças negras uma banana e um
Em 2018, 42,2% dos analfabetos
Segundo o IBGE, na revista IBGE Educa: brasileiros tinham pelo menos 65 anos de
as informações do Brasil na sala de aula “falar idade, apesar de essa faixa etária representar
de cor ou raça, por exemplo, leva a pensar no apenas 13,3% da população. Segundo o IBGE,
quanto o Brasil é um país desigual, onde as a taxa de analfabetismo da população de 15
relações sociais ainda são marcadas por anos ou mais no Brasil caiu de 7,2% em 2016
diversos preconceitos.” Mostra disso são as para 6,8% no ano passado.
estatísticas de cor ou raça produzidas pelo Mas os dados desagregados por grupos
IBGE, as quais revelam que os brancos, em raciais continuam mostrando a desigualdade
relação aos pretos e pardos, têm os maiores entre brancos e negros no país.
salários, sofrem menos com o desemprego e
são maioria entre os que frequentam o ensino
superior. Assim, apesar de nem sempre ser fácil
responder à pergunta “qual é sua cor ou
raça?”, é fundamental entender a
importância da questão para a elaboração
de políticas públicas
Embora sejam a maior parte da
população do país, pretos e pardos ainda são
minoria quando o assunto é empregabilidade,
renda e educação superior e são maioria
quando se trata de violência, má habitação,
população carcerária, dentre outros.
No quesito educação, os gráficos a
seguir demonstram que o caminho para a
igualdade ainda é longo. Frei David, da Educafro, concorda que
"o Brasil deve muito" à população negra. "Não
Educação houve uma política pública em massa para os
O estudo do IBGE ressaltou a persistente idosos analfabetos. Com isso, os adultos estão
"dívida educacional histórica brasileira", e chegando à fase idosa sem superar esse
destacou que, nas últimas décadas, a obstáculo."
ampliação do acesso à educação Segundo ele, mais grave ainda é que,
aconteceu de forma diferente segundo os depois de não dar oportunidade, o Brasil
grupos raciais brasileiros, e privilegiando a ainda "pune" seus idosos sem ensino. "O idoso
população branca. analfabeto é também o principal grupo
Um exemplo disso é o fato de que a desempregado. É uma punição. É uma nação
proporção de pessoas entre 18 e 29 anos com contra esse povo, que fez o possível para
pelo menos 12 anos de estudo é maior entre vencer, mas não teve a oportunidade."
brancos do que considerando os pretos ou
Taxa de jovens negros no ensino superior avança,
pardos. Na comparação dos últimos três anos,
mas ainda é metade da taxa dos brancos
porém, esse índice tem avançado mais
rapidamente entre os negros. Em 2018, 25,2% dos jovens brasileiros
Brancos ainda têm escolaridade mais com entre 18 e 24 anos estavam cursando ou
alta do que pretos e pardos, segundo a Síntese já haviam concluído o ensino superior, mas o
de Indicadores Sociais 2019 do IBGE.
recorte racial mostra que, considerando subutilizada por cor ou raça, e, também na
apenas a taxa de matrículas de jovens série iniciada em 2012.
brancos, essa porcentagem salta para 36,1%. A informalidade no mercado de
Já olhando apenas para os jovens negros trabalho está associada, muitas vezes, ao
(pretos ou pardos), o índice cai pela metade: trabalho precário e/ou à ausência de
18,3%. Os dados foram divulgados na manhã proteção social, que limita o acesso a direitos
deste quarta-feira (6) na Síntese de básicos, como a remuneração pelo salário-
Indicadores Sociais (SIS) do Instituto Brasileiro mínimo e o direito à aposentadoria.
de Geografia e Estatística (IBGE).
Violência
A Pesquisa Nacional de Saúde - PNS
2019, do IBGE, aponta que 18,3% das pessoas
com 18 anos ou mais de idade haviam sofrido
violência física, psicológica ou sexual nos 12
meses anteriores à pesquisa.
As pessoas pretas foram as mais
atingidas, com 20,6%, seguidas das pardas,
19,3%. Entre as pessoas brancas, 16,6%
relataram ter sofrido algum tipo de violência.
As mulheres foram mais vítimas de violência
(19,4%) do que os homens (17,0%),
principalmente as mulheres pretas, grupo de
cor ou raça e sexo com maior proporção de
vítimas (21,3%)
2.Temporada
6. Mister Brau
7. Sem Asas
Seguindo as recomendações de
documentários, My Name Is Now retrata a
trajetória da cantora Elza Soares. Dirigido por
Elizabete Martins Campos, o filme mostra
como o tempo, as perdas e o sucesso
contribuíram para formar a força e o poder 12. Pelé Eterno
que a artista possui.
13. Kbela