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MOVIMENTO NEGRO

E INDÍGENA
EDUCADORES
PRÁXIS DECOLONIAL
SORE OS CURRÍCULOS E
APRENDIZAGENS

Marcello F. M. Assunção
Argumento central

O processo de descolonização de
currículos e aprendizagens deve superar
as narrativas e as representações
eurocentradas.

Dois desafios principais:


um, de natureza ontológica
outro, de natureza epistêmica.
A QUESTÃO AQUI É NÃO APENAS
APONTAR CONCEITOS E
GENEALOGIAS ACADÊMICAS,

MAS PENSAR ESTRATÉGIAS DE


EMPODERAMENTO E FORMAS DE
INTERVENÇÃO NO COTIDIANO
Dois desafios principais

natureza ontológica – estar abertos ao


entendimento/acolhimento de novas definições de
ser/natureza e dos seus usos e sentidos

natureza epistémica, que contesta/supera a


compreensão exclusiva, única e imperial do
conhecimento e de sua produção

Todos(as) somos produtores de tecnologias e


conhecimentos
“Sou negro, identifico como meu o corpo em
que meu eu está inserido, atribuo à sua cor a
suscetibilidade de ser valorizada
esteticamente e considero minha condição
étnica como um dos suportes de meu orgulho
pessoal – eis aí toda uma propedêutica
sociológica, todo um ponto de partida para a
elaboração de uma hermenêutica da situação
do negro no Brasil”.

Introdução crítica à Sociologia brasileira, 1957


Alberto Guerreiro Ramos
1915-1982
Anibal Quijano “Colonialidad del Poder”.
“La formación del mundo colonial del capitalismo dio
lugar a una estructura de poder cuyos elementos
cruciales fueron, sobretodo en su combinación, una
novedad histórica. De un lado, la articulación de
diversa relaciones de explotación y de trabajo [...]
en torno del capital y de su mercado. Del otro lado,
la produción de nuevas identidades históricas.
‘Indio’, ‘negro’, ‘blanco’, ‘mestizo’, impuestas
después como categorías básicas de las relaciones
de dominación y como fundamento de una cultura
de racismo y etnicismo”. (Quijano, s/d.)
 
Descolonizar currículos e aprendizagens
nos impõe conhecer o processo histórico
de produção de novas identidades
históricas
Buscar meios superar entraves criados
pelo racismo e o etnicismo....
REFLETIR SOBRE RELAÇÕES
DESNATURALIZADAS; NÃO BINÁRIAS;
NÃO HIERARQUIZADAS EM TERMOS
DE CONDIÇÃO PRIMÁRIA DE
OPRESSÃO; NÃO APENAS
DIVERSIDADE/DIFERENÇA MAS
AUTONOMIA; DINÂMICAS QUE
DIALOGAM COM RAÇA, GÊNERO,
TERRA, RELIGIÃO E NACIONALIDADE,
p. ex.... e não nos aprisionem...
O movimento negro educador e os
estudos étnico-raciais na história
escolar
“Santos (1994) apresenta uma concepção mais alargada de
movimento negro. Para o autor, ele pode ser compreendido como
um conjunto de ações de mobilização política, de protesto
antirracista, de movimentos artísticos, literários e religiosos, de
qualquer tempo, fundadas e promovidas pelos negros no Brasil
como forma de libertação e de enfrentamento do racismo. Entre elas
encontram-se: entidades religiosas (como as comunidades-terreiro),
assistenciais (como as confrarias coloniais), recreativas (como
“clubes de negros”), artísticas (como os in meros grupos de dança,
capoeira, teatro, poesia), culturais (como os diversos “centros de
pesquisa”) e políticas (como as diversas organizações do movimento
negro e ONGs que visam à promoção da igualdade étnico-racial)” p.
22-23
O movimento negro educador e os
estudos étnico-raciais na história
escolar
“Partimos do pressuposto de que o Movimento Negro, enquanto
forma de organização política e de pressão social – não sem
conflitos e contradições – tem se constituído como um dos
principais mediadores entre a comunidade negra, o Estado, a
sociedade, a escola básica e a universidade. Ele organiza e
sistematiza saberes específicos e construídos pela população negra
ao longo da sua experiência social, cultural, histórica, política e
coletiva. Os projetos, os currículos e as políticas educacionais têm
dificuldade de reconhecer esses e outros saberes produzidos pelos
movimentos sociais, pelos setores populares e pelos grupos sociais
não hegemônicos” (Nilma Lino Gomes, O Movimento negro
educador..., p. 42-43).
O movimento negro educador e os
estudos étnico-raciais na história
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•A atuação de Pretextato de Passos na
sua escola para pretos e pardos entre
1856-1878 é emblemática das tentativas
por criar espaços escolares diante das
interdições do racismo estrutural. O exemplo (Porto Alegre), 1892

•Como fica claro na sua petição para


instituição da escola analisada pelo
Inspetor da Instrução Primária e
Secundaria da Corte:
Alvorada (Pelotas), 1907-1965
O movimento negro educador e os
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“Diz Pretextato dos Passos e Silva, que tendo sido
convocado por diferentes pais de famílias para que o
suplicante abrisse em sua casa uma pequena escola de
instrução primária, admitindo seus filhos da cor preta e
parta; visto que em algumas escolas ou colégios, os
pais dos alunos de cor branca não querem que seus
filhos ombreiem com os de cor preta (...) por esta causa
os professores repugnam admitir os meninos pretos, e
alguns destes que admitem, na aula não são bem
acolhidos; e por isso não recebem uma ampla instrução,
por estarem coagidos; o que não acontece na aula escola
do suplicante; por este ser também preto (...)” 1856 Anúncio no jornal O Exemplo
da Sociedade Beneficente
Floresta Aurora (1872, POA)
O movimento negro educador e os
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•No século XX o Centro Cívico Palmares
(1926), a Frente Negra Brasileira (1931,
SP), o Teatro Experimental do Negro
(TEN, 1944, RJ), A União dos Homens
de Cor (1943, POA) organizam espaços
de escolarização e formação em diversos
níveis.
•Dimensão cultural e intelectual do negro
no I e II Congressos Afro-brasileiro
(Recife, 1934 e Salvador 1937) – O negro
como objeto de estudo***União das
Seitas Afro-Brasileiras da Bahia (1937) Fotos das salas de aula da Frente Negra Brasileira (FNB)
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•Nas Convenções Nacionais do Negro (1945-46), há projetos para a Constituinte de 1946 em torno da educação,
escolarização e leis antirracistas.
•Protagonismo do TEN e o engajamento de Abdias do Nascimento, Ironildes Rodrigues na formatação de uma alfabetização
para jovens e adultos (em especial negros, empregadas domésticas, etc.), com um recorte antirracista (no teatro e em salas de
aula), é pioneira na formatação de alternativas ao código disciplinar vigente.

Sede da UNE no Flamengo (RJ), 1944: Aula de Ironides Rodrigues


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Folheto político para Teatro Experimental do Negro, peça Sortílego -


vereador na década de Mistério Negro, Abdias Nascimento e Léa Garcia
1950
O movimento negro educador e os
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escolar
oNas resoluções do I Congresso do Negro Brasileiro (1950) consta uma das primeiras declarações de proposta curricular frente a escassez de representação
negra na história escolar:
“Que o Governo Brasileiro, no espirito de preservar e ampliar a consciência histórica dos descendentes africanos da população do Brasil, tome as seguintes
medidas: (...) b) Promova o ensino compulsório da Historia e da Cultura da África e dos africanos na diáspora em todos os níveis culturais da
educação: elementar, secundaria e superior” (1950)

1968 1978 1980

Guerreiro Ramos Lélia Gonzalez Clóvis Moura


O movimento negro educador e os
estudos étnico-raciais na história
escolar
oNas resoluções do I Congresso Nacional do Negro Brasileiro (1958, POA), organizado pela Sociedade Floresta Aurora (1872) , apoio da União dos Homens de Cor (1943-1965), consta
também uma afirmativa sobre a alfabetização e ensino de cultura afro-br
“Alfabetização intensiva do homem negro brasileiro é o caminho para a sua total integração na sociedade. Esta é a principal conclusão a que levou o Primeiro Congresso do Negro, que
se realiza nesta capital desde o dia 14 do corrente e que hoje chega ao seu final. (S.N. ALFABETIZAÇÃO INTENSIVA DO HOMEM NEGRO BRASILEIRO. PORTO ALEGRE: A HORA,
18/09/1958. P.5 APUD SILVA).

Jornal da União dos


Homens de Cor
O movimento negro educador e os
estudos étnico-raciais na história
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•Em 1978 o Movimento Negro
Unificado – em reação à morte
do operário negro Robison
Silveira e ao racismo estrutural
que os circundava – na sua Carta
de Princípios e Carta Aberta à
população reconhecem entre
tantas questões a luta pelo direito
à educação e à cultura sem a sua
comum “folclorização”.
Escadarias Teatro Municipal de SP (7 julho 1978)
O movimento negro educador e os
estudos étnico-raciais na história
escolar
Centro de Estudos
Afro-Orientais, 1959

•Neste contexto em Salvador surge uma proposta


próxima as Leis 10639 e 11645, me refiro ao
abaixo-assinado de 1984 endereçado ao Secretário
Estadual de Educação articulado pelo MNU-BA e
organizações como o Ilê Ayê, Olodum e outros em
torno da implantação da disciplina de Introdução
aos Estudos Africanos no currículo do 1º grau Ilê Aye, 1974
através do apoio do CEAO (Centro de Estudos
Afro-Orientais), argumentando sob tais pontos:

Olodum, 1979
O movimento negro educador e os
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escolar
“O Brasil é uma sociedade pluricultural, por isso é necessário que
seja estudada nas escolas a História de todos os povos
constituintes da nação brasileira; A ausência do estudo da
História e da Cultura negra nos currículos escolares concorre,
em grande parte, para a falta de identidade étnico-racial e
cultural e consequentemente, para um sentimento de auto-
rejeição do povo negro e de seus descendentes no Brasil (...)
As relações político-econômica-culturais entre o Brasil e a África
pressupõem um conhecimento mútuo da História e Cultura entre
as nações brasileira e africana” (abaixo-assinado 1984)
Referências Bibliográficas
DOMINGUES, Petrônio. O movimento negro brasileiro: alguns
apontamentos históricos. Tempo, v. 12, n. 23, 2007, pgs. 100-122.
GOMES, Nilma Lino. O movimento negro educador: saberes
construídos nas lutas por emancipação. RJ: Vozes, 2017.
PEREIRA, Amilcar Araújo. “Por uma autêntica democracia racial!”:
os moimentos negros nas escolas e nos currículos de história.
Revista História, v. 1, n. 1, pgs. 111-128, 2012.
PINTO, Ana Flávia Magalhães. A imprensa negra no Brasil do
Século XIX. São Paulo: Selo Negro, 2010.

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