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IX Aula - Marcos legais da Educação para as

Relações Étnico-raciais sob a perspectiva


quilombola
Prof. Marcello Felisberto Morais de Assunção
1.Objetivo Geral
•Analisar o impacto das leis 10.639/03 e
11.645/08 no ensino de história por
meio da relação entre o movimento
negro e indígena, história escolar e os
marcos sociais e jurídicos que alteram e
fomentam a produção e circulação de
uma história afro-brasileira e indígena
no ensino de história e no ensino de
história como um tudo.
3. As políticas indigenistas na
América Latina: Séculos XIX e
XX
“A História do Brasil... Eu gostaria de
dizer que uma frase de José Honório
Rodrigues, que se tornou quase que uma
afirmação geral, é que a “História do
Brasil foi uma história escrita por mãos
brancas”. Tanto o negro quanto o índio,
quer dizer, os povos que viveram aqui,
juntamente com os brancos, não têm
suas histórias escritas, ainda” (Beatriz do
Nascimento, 2018 [1977], p. 195).
3. O Quilombo e seu significado histórico
“Pelo conteúdo, o quilombo brasileiro é, sem dúvida, uma
cópia do quilombo africano reconstruído pelos escravizados
para se opor a uma estrutura escravocrata, pela
implantação de uma outra estrutura política na qual se
encontraram todos os oprimidos. Escravizados, revoltados,
organizaram-se para fugir das senzalas e das plantações e
ocuparam partes de territórios brasileiros não povoados,
geralmente de acesso difícil. Imitando o modelo africano,
eles transformaram esses territórios em espécie de campos
de iniciação à resistência, campos esses abertos a todos os
oprimidos da sociedade: negros, índios e brancos,
prefigurando um modelo de democracia plurirracial que o
Brasil ainda está à buscar” (Kabengele Munanga, p. 33
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3. O Quilombo e seu significado histórico
“(...) quilombagem é um processo social
contínuo de protesto que se desenvolve
dentro de uma estrutura escravista,
solapando-a histórica, econômica,
étnica, e socialmente a partir do seu
centro, isto é a produção. Por outro lado,
esse processo tem um conteúdo racial
porque nega o escravismo não apenas na
sua base econômica, mas contrapõe-se a
ele como unidade permanente de
negação ao sistema” (Clóvis Moura, O
Quilombo na dinâmica social, 2001, p.
114)
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3. O Quilombo e seu significado histórico
“O movimento de fuga era, em si mesmo, uma negação da
sociedade oficial, que oprimia os negros escravos, eliminando a
sua língua, a sua religião, os seus estilos de vida. O quilombo,
por sua vez, era uma reafirmação da cultura e do estilo de vida
africanos. O tipo de organização social criado pelos quilombolas
estava tão próximo do tipo de organização então dominante nos
Estados africanos que, ainda que não houvesse outras razões, se
pode dizer, com certa dose de segurança, que os negros por ele
responsáveis eram em grande parte recém-vindos da África, e
não negros crioulos, nascidos e criados no Brasil. Os quilombos,
deste modo, foram – para usar a expressão corrente em
etnologia – um fenômeno contra-aculturativo, de rebeldia
contra os padrões de vida impostos pela sociedade oficial e de
restauração de valores antigos” (Edison Carneiro, Singularidades
dos Quilombos, p. 13). I
4. Quilombo e movimento negro educador
“I - os grupos étnico-raciais definidos por auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados
de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a
resistência à opressão histórica;
II -comunidades rurais e urbanas que:
a) lutam historicamente pelo direito à terra e ao território o qual diz respeito não somente à
propriedade da terra, mas a todos os elementos que fazem parte de seus usos, costumes e tradições;
b) possuem os recursos ambientais necessários à sua manutenção e às reminiscências históricas que
permitam perpetuar sua memória.
III -comunidades rurais e urbanas que compartilham trajetórias comuns, possuem laços de
pertencimento, tradição cultural de valorização dos antepassados calcada numa história identitária
comum, entre outros” p. 4
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4. Quilombo e movimento negro educador
I -Garantir ao educando o direito a conhecer o conceito, a história dos quilombos no Brasil, o
protagonismo do movimento quilombola e do movimento negro, assim como o seu histórico de
lutas;
II -implementar a Educação das Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e Cultura Afro-
Brasileira e Africana, nos termos da Lei nº9.394/96, na redação dada pela Lei nº10.639/2003, e
da Resolução CNE/CP nº 1/2004;
III - reconhecer a história e a cultura afro-brasileira como elementos estruturantes do processo
civilizatório nacional, considerando as mudanças, as recriações e as ressignificações históricas e
socioculturais que estruturam as concepções de vida dos afro-brasileiros na diáspora africana;
IV - promover o fortalecimento da identidade étnico-racial, da história e cultura afro-brasileira
e africana ressignificada, recriada e reterritorializada nos territórios quilombolas;
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4. Quilombo e movimento negro educador
V -garantir as discussões sobre a identidade, a cultura e a linguagem, como
importantes eixos norteadores do currículo;
VI - considerar a liberdade religiosa como princípio jurídico, pedagógico e
político atuando de forma a:
a) superar preconceitos em relação às práticas religiosas e culturais das
comunidades quilombolas, quer sejam elas religiões de matriz africana ou não;
b) proibir toda e qualquer prática de proselitismo religioso nas escolas.
VII - respeitar a diversidade sexual, superando práticas homofóbicas,
lesbofóbicas, transfóbicas, machistas e sexistas nas escolas.
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4. Quilombo e movimento negro educador
“Assim, a Educação Escolar Quilombola foi pensada para os povos negros, a partir de elementos de suas
identidades, raízes ancestrais, recuperando e valorizando saberes tradicionais, e sua implementação é
acompanhada por consulta prévia do poder público às comunidades, suas organizações e lideranças,
considerando os aspectos normativos institucionais e burocráticos que sustentam as políticas públicas. A
regulamentação da Educação Escolar Quilombola no sistema educacional brasileiro iniciou, de forma mais
consistente, com as orientações contidas nas Diretrizes Curriculares Gerais da Educação Básica, de modo a
garantir a especificidade de vivências, acúmulos patrimoniais, realidades e histórias das comunidades
quilombolas do país (BRASIL, 2011).
O outro desafio que passou a nortear as lutas do movimento negro foi a inserção da realidade histórica e
cultural quilombola nas questões curriculares das escolas de todo o país, culminando, mediante participação
qualificada de lideranças, na formulação de disposições propositivas, discutidas em instâncias coletivas
regionais, alcançando conquistas a partir da promulgação da Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Esse
marco legal considera e assegura que as comunidades quilombolas fazem parte da história e da composição
da sociedade brasileira e, portanto, necessitam ser inseridas na produção historiográfica e no trabalho
docente” P. 3 I
4. Quilombo e movimento negro educador
I - organiza precipuamente o ensino ministrado nas instituições educacionais fundamentando-se, informando-se e alimentando-
se:
a) da memória coletiva;
b) das línguas reminiscentes;
c) dos marcos civilizatórios;
d) das práticas culturais;
e) das tecnologias e formas de produção do trabalho;
f) dos acervos e repertórios orais;
g) dos festejos, usos, tradições e demais elementos que conformam o patrimônio cultural das comunidades quilombolas de todo
o país;
h) da territorialidade.

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4. Quilombo e movimento negro educador
Zumbi (Jorge Bem Jor) Eu quero ver
Angola Congo Benguela Eu quero ver
Monjolo Cabinda Mina Eu quero ver
Quiloa Rebolo Eu quero ver
Aqui onde estão os homens  
Há um grande leilão Quando Zumbi chegar
Dizem que nele há uma princesa à O que vai acontecer
venda Zumbi é senhor das guerras
Que veio junto com seus súditos É senhor das demandas
Acorrentados em carros de bois Quando Zumbi chega
Dum lado cana de açúcar É Zumbi é quem manda
Do outro lado o cafezal Zumbi é senhor das guerras
Ao centro senhores sentados É senhor das demandas
Vendo a colheita do algodão branco Quando Zumbi chega
Sendo colhidos por mãos negras É Zumbi é quem manda, ê
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4. Quilombo e movimento negro educador
Palmares (Natiruts) Tereza de Benguela, uma rainha negra no
Pantanal (Unidos do Viradouro)
A cultura e o folclore são meus
"Nos meus acordes vou contar A saga de Tereza de ":No seio de Mato Grosso a festança começava
Mas os livros foi você quem escreveu Com o parlamento, a rainha negra governava
Quem garante que palmares se entregou Benguela" Sim! Esta é a verdadeira saga de uma
princesa africana nascida em Benguela - nação de Índios, caboclos e mestiços, numa civilização
Quem garante que zumbi você matou Angola. Trazida para o Brasil, como escrava, foi levada O sangue latino vem na miscigenação
Perseguidos sem direitos nem escolas para Vila-Bela de Santíssima Trindade, primeira A invasão gananciosa, um ideal aniquilava
Como podiam registrar as suas glórias capital do Estado de Mato Grosso. A rainha enlouqueceu, foi sacrificada
Quando a maldição a opressão exterminou
Mesmo humilhada e maltratada, todos os outros No infinito uma estrela cintilou
escravos respeitavam esta mulher de estirpe nobre
Nossa memória foi contada por vocês que é então coroada como
E é julgada verdadeira como a própria lei Vai clarear, vai clarear
Por isso temos registrados em toda história Um sol dourado de quimera
Uma mísera parte de nossas vitórias   A luz de Tereza não apagará
E a Viradouro brilhará na nova era
 

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Terno dos Reis, Mostarda-RS
EMBAIXADA – No Ensaio de Pagamento de Promessa Quicumbi
Quilombo da Caçandoca

Quilombo da Caçandoca
Quilombo da Caçandoca
Quilombo da Caçandoca
Quilombo do Camburi
Quilombo do Camburi
Referências bibliográficas
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica. Brasília:
MEC, 2012.
BRASIL. Parecer CNE/CEB nº 8/2020, aprovado em 10 de dezembro de 2020 – Diretrizes Nacionais
Operacionais para a garantia da Qualidade das Escolas Quilombolas. Brasília: MEC, 2012
MOURA, Clóvis. Os quilombos
O Negro, da Senzala ao Soul, 1977. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=5AVPrXwxh1A&t=811s
Orí, 1989. Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=g7WaWiOkLLg&t=67s
RATTS, Alex. Eu sou atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. São Paulo: Imprensa Oficial,
2007.
Forum dos saberes Quilombolas. Disponível em: https://saberesartesanais.com.br/exposicao-quilombola/.
Referências bibliográficas
As Margens. Palmares. Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=L4NzT4S49wA.
Dugueto Shabazz. Vamos pra Palmares. Disponível em: (364) Vamos pra Palmares - Dugueto Shabazz - YouTube
Jorge Ben Jor - Zumbi (Áudio Oficial). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ge5BZjVVKpQ.
João Bosco. Quilombo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZHonEkHClg4.
Mestre Barrão. Dandara. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PicMWN-q6i0.
Natiruts - Palmares 1999. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=inO_snx5yMQ.
N$C - SERRA DA BARRIGA, Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=gtTVfWGIXsU.
Rap urbano. Guerreiro do Quilombo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=w7ZSPc91cpQ.
Thaíde & Dj Hum - Afro-Brasileiro (Ao Vivo - Show YO! MTV 300 Anos De Zumbi dos Palmares). Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=34SoYz42WQs.
Unidos do Viradouro. Tereza de Benguela, uma rainha negra no Pantanal (samba enredo), 1994. Disponível:
https://galeriadosamba.com.br/escolas-de-samba/unidos-do-viradouro/1994/.
QUILOMBO VIVO - Negro Fugido. Disponível: https://www.youtube.com/watch?v. Quilombos Hoje Periferia.
Z'africa Brasil. Antigamente quilombos. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Ff8HYWRFjsQ..

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