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Aula V - Branquitude e interseccionalidade

Prof. Marcello Felisberto Morais de Assunção

Disciplina: Educação e Relações Étnico-raciais (ERER)


1. Objetivos
•Perscrutar as diferentes definições de branquitude,
assim como as suas origens no pensamento social
afrodiaspórico antirracista e anticolonial;
• Abordar como a branquitude têm historicamente
criado limites para a institucionalização das pautas
antirracistas que desembocam em diversos limites
para pensar a própria instauração das ERER;
•Explorar o conceito de interseccionalidade e as
suas possíveis contribuições para a ERER.

Flávio Cerqueira, Antes que eu me esqueça, 2013


2. Textos base
CARDOSO, Lourenço. A branquitude acrítica revisitada e a branquidade. Revista da
ABPN, v. 6, n. 13, 2014, p. 88-106.
AKOTIRENE, Carla. Vamos pensar direito: Interseccionalidade e as mulheres negras.
In: _____________. Interseccionalidade. São Paulo: Polén, 2019, p. 34-43.
Bibliografia complementar: SCHUCMAN, Lia Vainer. Branquitude e poder:
revisitando o “medo branco” no século XXI. Revista da ABPN, v. 6, n. 13, 2014, p.
134-147.
HIRATA, Helena. Gênero, classe e raça: interseccionalidade e consubstancialidade
das relações sociais. Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 26, n. 1, 2014, 61-
73.
3. Relações Étnico-Raciais e branquitude
“Povos brancos, graças a uma conjunção de fatores históricos e naturais, que
não vem ao caso examinar aqui, vieram a imperar no planeta e, em
consequência, impuseram àqueles que dominam uma concepção do mundo
feita à sua imagem e semelhança. Num país como o Brasil, colonizado por
europeus, os valores mais prestigiados e, portanto, aceitos, são os do
colonizador. Entre estes valores está o da brancura como símbolo do
excelso, do sublime, do belo. Deus é concedido em branco e em branco são
pensadas todas as perfeições. Na cor negra, ao contrário, está investida uma
carga milenária de significados pejorativos. Em termos negros pensam-se
todas as imperfeições” (Guerreiro Ramos, . Introdução crítica à sociologia
brasileira, 1955, p. 193)
Marcus Vinicius Rosa. “Branquitude: novas perspectivas sobre relações raciais”

CARDOSO, Lourenço. A branquitude acrítica revisitada e a


branquidade. Revista da ABPN, v. 6, n. 13, 2014, p. 88-106.
Bibliografia complementar: SCHUCMAN, Lia Vainer. Branquitude e
poder: revisitando o “medo branco” no século XXI. Revista da ABPN, v.
6, n. 13, 2014, p. 134-147.
2. Textos base
CARDOSO, Lourenço. A branquitude acrítica revisitada e a
branquidade. Revista da ABPN, v. 6, n. 13, 2014, p. 88-106.
Bibliografia complementar: SCHUCMAN, Lia Vainer. Branquitude e
poder: revisitando o “medo branco” no século XXI. Revista da ABPN, v.
6, n. 13, 2014, p. 134-147.
3. Relações Étnico-Raciais e branquitude
“(...) a branquitude é entendida como uma posição em que sujeitos
considerados e classificados como brancos foram sistematicamente
privilegiados no que diz respeito ao acesso a recursos materiais e
simbólicos, gerados inicialmente pelo colonialismo e pelo imperialismo, e
que se mantêm e são preservados na contemporaneidade. Portanto,
para se entender a branquitude é importante entender de que forma se
constroem as estruturas de poder concretas em que as desigualdades
raciais se ancoram. Por isso, é necessário entender as formas de poder
da branquitude, onde ela realmente produz efeitos e materialidades”
(SCHUCMAN, 2014, p. 136).
3. Relações Étnico-Raciais e branquitude
•“(...) Essas politicas, ainda que reconhecidamente imperfeitas, se
justificariam porque viriam a corrigir um mal maior. Esta análise não é
realista nem sustentável e tememos as possíveis consequências das cotas
raciais. Transformam classificações estatísticas gerais (como as do IBGE)
em identidades e direitos individuais contra o preceito da igualdade de
todos perante a lei. A adoção de identidades raciais não deve ser imposta
e regulada pelo Estado. Políticas dirigidas a grupos "raciais" estanques
em nome da justiça social não eliminam o racismo e podem até mesmo
produzir o efeito contrário, dando respaldo legal ao conceito de raça, e
possibilitando o acirramento do conflito e da intolerância” (...) A invenção
de raças oficiais tem tudo para semear esse perigoso tipo de racismo,
como demonstram exemplos históricos e contemporâneos. E ainda
bloquear o caminho para a resolução real dos problemas de
desigualdades.” (Manifesto contra as cotas raciais, 2006)
3. Relações Étnico-Raciais e branquitude
“Em um país onde a maioria do povo se vê misturada, como combater as desigualdades com base
em uma interpretação do Brasil dividido em "negros" e "brancos"? O primeiro passo já foi dado
com a criação da lei que instituiu o ensino da história da África e da cultura afro-brasileira em
todas as escolas públicas e privadas do ensino básico do País. Quem seria contra ensinar a história
dos "negros" no Brasil e a história da África? Quem se oporia a contar a história da cultura afro-
brasileira? A iniciativa de introduzir esta disciplina é em si importante, porém está envolta em
uma trama maquiavélica. Regulamentada pelas Diretrizes Nacionais Curriculares para a
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino da História e Cultura Afro- Brasileira e
Africana orienta os professores sobre como ensinar as relações étnicoraciais e infundir nos
estudantes o que é chamado de "orgulho étnico". Trata-se de ensinar aos brasileiros que eles
não são cidadãos iguais, mas diversos e merecedores de direitos diferenciados segundo a sua
"raça", que algumas vezes é mencionada abertamente, outras eufemisticamente com a
categoria "etnia” (Yvonne, parecerista na audiência sobre cotas no STF, 2010).
Abecê da Liberdade, José Roberto Torero

Documento
Oficial Brasileiro
para Conferência
Mundial contra o
Racismo, a
Discriminação
MNU- “Carta de Racial, a
princípios” e Xenofobia e as
Resoluções do I “Carta Aberta à Formas Diretrizes Para a
Congresso do população” Constituição Correlatas de Educação das
Negro Brasileiro ( 18 de junho de Federal – Art. 242 Intolerância Relações Étnico- Lei 11.645/08
(1950) 1978) (1985) (2001) Raciais (2004) (2008)

Resoluções do I MNU – BA, Ilê LDB – 1996 – art. Lei 10639/03 Orientações e Plano Nacional de
Congresso Ayê, Olodum, etc. 26, 4º Paragrafo. (2003) Ações para a Implementação
Nacional do – Abaixo- Educação das das Diretrizes
Negro (1958 assinado Relações Étnico- Curriculares
Currículo da Raciais (2006) Nacionais Para
cidade com a Educação das
inclusão da Relações
matéria de Etnicorraciais e
“Introdução aos para o Ensino de
estudos História e Culura
africanos” (1984) Afrobrasileira e
Africana (2009)
Mundo Bita, Bita e o nosso mundo, youtube

Documento
Oficial Brasileiro
para Conferência
Mundial contra o
Racismo, a
Discriminação
MNU- “Carta de Racial, a
princípios” e Xenofobia e as
Resoluções do I “Carta Aberta à Formas Diretrizes Para a
Congresso do população” Constituição Correlatas de Educação das
Negro Brasileiro ( 18 de junho de Federal – Art. 242 Intolerância Relações Étnico- Lei 11.645/08
(1950) 1978) (1985) (2001) Raciais (2004) (2008)

Resoluções do I MNU – BA, Ilê LDB – 1996 – art. Lei 10639/03 Orientações e Plano Nacional de
Congresso Ayê, Olodum, etc. 26, 4º Paragrafo. (2003) Ações para a Implementação
Nacional do – Abaixo- Educação das das Diretrizes
Negro (1958 assinado Relações Étnico- Curriculares
Currículo da Raciais (2006) Nacionais Para
cidade com a Educação das
inclusão da Relações
matéria de Etnicorraciais e
“Introdução aos para o Ensino de
estudos História e Culura
africanos” (1984) Afrobrasileira e
Africana (2009)
4. Interseccionalidade
“(...) o termo demarca o paradigma teórico e metodológico da
tradição feminista negra, promovendo intervenções políticas e
letramentos jurídicos sobre quais condições estruturais o
racismo, sexismo e violências correlatas se sobrepõem,
discriminam e criam encargos singulares às mulheres negras.
Conforme dissemos, é o padrão colonial moderno o responsável
pela promoção dos racismos e sexismos institucionais contra AKOTIRENE, Carla. Vamos
identidades produzidas a interação das estruturas, que seguem pensar direito:
Interseccionalidade e as
atravessando os expedientes do Direito moderno, discriminadas mulheres
_____________.
negras. In:

à dignidade humana e às leis antidiscriminação” p. 35 Interseccionalidade. São


Paulo: Polén, 2019, p. 34-
43.
3. Descolonização da história (1): Feminismo
“(...) esta nova história abrirá possibilidades para a reflexão sobre
atuais estratégias políticas feministas e o futuro (utópico), pois ela
sugere que o gênero deve ser redefinido e reestruturado em
conjunção com uma visão de igualdade política e social que inclua não
somente o sexo, mas também a classe e a raça.” P. 93
3. Descolonização da história (1): Feminismo
“(...) esta nova história abrirá possibilidades para a reflexão sobre
atuais estratégias políticas feministas e o futuro (utópico), pois ela
sugere que o gênero deve ser redefinido e reestruturado em
conjunção com uma visão de igualdade política e social que inclua não
somente o sexo, mas também a classe e a raça.” P. 93
4. Interseccionalidade
“Por serem mulheres e negras, há limite de a jurisdição compreender a
entrada das mulheres e dos negros no mercado de trabalho se, a bem da
verdade, as mulheres trabalhavam na parte administrativa da General Motors
e os negros nas funções que exigiam for a física, linha de montagem. Nenhum
dos homens pretos reclamantes nos tribunais precisaria combinar duas causas
numa ação para serem entendidos pelo juiz, enfim, eram negros; as mulheres
brancas também não precisavam combinar duas marcações identitárias numa
ação por serem apenas mulheres – a classe trabalhadora dirige-se a nós por
não sermos capitalistas, o cruzamento do racismo e sexismo geram
vulnerabilidades e ausência de seguridade social para mulheres negras” p. 37
4. Interseccionalidade
“Em 2004, o Estado brasileiro também recebeu condenação pela inobservância
da discriminação racial sofrida por Simone André Diniz, pois, em 1997, ao pleitear
uma vaga de empregada doméstica, ela encontrou no anúncio da Folha o
requisito de “preferência branca”, presencialmente sua inelegibilidade do pleito
por ser uma mulher negra. Após essa vítima apresentar a queixa na Delegacia
Policial de Investigação de Crimes Raciais, o Estado brasileiro, sobretudo através
do Ministério Público, esvaziou a investiga  o policial, solicitando o
arquivamento, por considerar que a criminosa, senhora Aparecida Gisele Mota da
Silva, nem sequer praticou atos que pudessem constituir o racismo previsto na Lei
7.716/89, havendo o deferimento do juiz competente sem a desmarginalização
de classe, raça e gênero sugerida pela interseccionalidade” p. 38
4. Interseccionalidade
“A conceituação do problema que busca capturar as consequências
estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da
subordinação. Ela trata especificamente da forma pela qual o racismo,
o patriarcalismo, as opressões de classe e outros sistemas
discriminatórios criam desigualdades báiscas que estruturam as
posições relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras. Além
disso, a interseccionalidade trata da forma como ações e políticas
específicas geram opressões que fluem ao longo de tais eixos,
constituindo aspectos dinâmicos ou ativos de desempoderamento”
(Kimberlé Crenshaw apud p. 42-43).
4. Interseccionalidade
“Nessa perspectiva, a ideia de um ponto de vista
próprio à experiência e ao lugar que as mulheres
ocupam cede lugar à ideia de um ponto de vista
próprio à experiência da conjunção das relações de
poder de sexo, de raça, de classe, o que torna ainda
mais complexa a noção mesma de “conhecimento HIRATA, Helena. Gênero,

situado”, pois a posição de poder nas relações de classe e


interseccionalidade
raça:
e

classe e de sexo, ou nas relações de raça e de sexo,


consubstancialidade das
relações sociais. Tempo
Social, revista de sociologia

podem dissimétricas” p. 61 da USP, v. 26, n. 1, 2014, 61-


73.
4. Interseccionalidade
“A interseccionalidade remete a uma teoria transdisciplinar que visa
apreender a complexidade das identidades e das desigualdades sociais
por intermédio de um enfoque integrado. Ela refuta enclaurusamento
e a hierarquização dos grandes eixos da diferenciação social que são
categorias de sexo/gênero, classe, raça, etnicidade, idade, deficiência e
orientação sexual. O enfoque interseccional vai além do simples
reconhecimento da multiplicidade dos sistemas de opressão que opera
a partir dessas categorias e postura sua interação na produção e
reprodução das desigualdades sociais (Sirma Bilge, 2009 apud HIRATA,
2014 , p. 62
4. Interseccionalidade
“No caso do Brasil, as mulheres brancas e negras têm trajetórias
duradouras nas ocupações de menor prestígio e de más condições de
trabalho, como o emprego domêstico, atividade em que as mulheres
negras s o mais numerosas. Ambas estão também
sobrerrepresentadas no item desemprego. Homens brancos e negros
est o sobrerrepresentados nas trajetórias de emprego formal e de
trabalho autônomo, embora os últimos em menor proporção. Eles têm
trajetórias marcadas pela instabilidade de forma mais marcante que os
homens brancos, indicando maior vulnerabilidade” p. 64
4. Interseccionalidade
“As cuidadoras são em sua maioria as mais pobres, as menos qualificadas, de
classes subalternas, imigrantes. São, na França, quase 90% mulheres, no Brasil,
mais de 95%. No Japão, uma minoria significativa, mais de 35%, são homens.
Quanto   dimensão étnico-racial, na França a maior parte dos cuidadores na
região parisiense (Ile de France) são imigrantes, em sua maioria da África Negra e
da África do Norte. No caso do Brasil, metade da população das cuidadoras
entrevistadas nasceu fora de S o Paulo, estado onde realizamos nossa pesquisa
nas ilpis (Instituição de Longa Permanência de Idosos). Trata-se, portanto,
principalmente de imigração interna. Não encontramos nenhum trabalhador
imigrante no setor de cuidados às pessoas idosas durante a nossa pesquisa de
campo” p. 67-68
4. Interseccionalidade
“(...) como categoria vulnerável, portanto, que podemos analisar a
reação de um homem, cuidador de origem estrangeira, que se revoltou
contra o racismo dos idosos residentes em uma instituição francesa
pública, que lhe disseram: “O que você está fazendo no meu país?
Quando vai embora?”. Ele relata também o caso de um idoso que dizia
a um cuidador negro nascido na França, “vá embora para o seu país”,
ou o caso de uma idosa que procurou uma estagiária branca para lhe
aconselhar: “Não faça esse trabalho, deixe esse trabalho aos ‘outros’”,
a mesma que escondia sua caixa de chocolate para oferecer apenas aos
cuidadores brancos” p. 68
3. Interseccionalidade
3. Interseccionalidade
3. Interseccionalidade
3. Interseccionalidade
4.Bibliografia
DU BOIS, W. E. B.. As almas da gente negra. Rio de Janeiro: Lacerda Ed., 1999.
LABORNE, Ana Amélia. Branquitude em foco: análises sobre a construção da
identidade branca de intelectuais no Brasil. Tese de Doutorado, Belo
Horizonte: UFMG, 2014.
RAMOS, Guerreiro. Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janeiro,
Editora UFRJ, 1995.
SCHUCMAN, Lia Vainer. Entre o “encardido”, o “branco” e o “branquíssimo”:
Raça, hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana. Tese de
Doutorado: São Paulo: USP, 2012.
4.Bibliografia
AKOTIRENE, Carla. Vamos pensar direito: Interseccionalidade e as mulheres
negras. In: _____________. Interseccionalidade. São Paulo: Polén, 2019, p.
34-43.
KIMBERLÉ, Crenshaw. Demarginalizing the intersection of Race and Sex: A
Black Feminism Critique of Antidiscrimination Doctrine, Feminist Theory and
Antiracist Politics. University of Chicago Legal Forum, v. 1, 1989, p. 139-167.
HIRATA, Helena. Gênero, classe e raça: interseccionalidade e
consubstancialidade das relações sociais. Tempo Social, revista de sociologia
da USP, v. 26, n. 1, 2014, 61-73.
4.Bibliografia

Relatório OXFAM

https://d335luupugsy2.cloudfront.net/cms%2Ffiles%2F115321%2F1611531366bp-the-inequality-virus-110122_PT_Final_ord
enado.pdf

Atlas da Violência

https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/dados-series/142

Mulheres negras e violência doméstica

https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2017/03/e-BOOK-MULHERES-NEGRAS-e-VIOL%C3%8ANCIA-DOM%C3%89

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