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1º MÓDULO – A FORMAÇÃO DOS QUILOMBOS NO BRASIL

O negro, tornado escravo, foi coisificado e desumanizado. O europeu se auto-


outorgou a missão civilizadora e subtraiu aos povos “colonizados” sua história, cultura
e identidade.

Milhares morreram nas guerras de captura na própria África, outros milhares


na insalubre travessia do Oceano Atlântico para que por fim milhões de outros negros
africanos viessem a formar a fortuna dos conquistadores, mas, sobretudo a formar o
que somos como povo brasileiro.

Segundo Ribeiro a empresa escravista atua como uma mó desumanizadora e


deculturadora de eficácia incomparável. Submetido a essa compressão, qualquer povo
é desapropriado de si, deixando de ser ele próprio, primeiro, para ser ninguém ao ver-
se reduzido a uma condição de bem semovente, como um animal de carga.

A escravidão além de base econômica da colonização brasileira foi também o


fundamento de todas as esferas da vida social e política. O escravismo imprime a
desigualdade e a excludência como regras básicas do convívio social. A sociedade
escravocrata estabelece o império da violência, o trabalho compulsório prescinde da
hegemonia, pois se realiza diretamente pela força.

Ao negro foi-lhe negada uma cidadania real mesmo após a abolição da


escravatura. Recusados e discriminados como mão de obra paga, muitos negros
estabeleceram-se sob as bases da agricultura de subsistência, comercializando,
quando possível, seus excedentes. Na maioria das vezes posseiros ou pequenos

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proprietários os grupos rurais negros constroem coletivamente a vida sob uma base
material e social, formadora de uma territorialidade negra, na qual elaboram-se
formas específicas de ser e existir como camponês e negro.

Um inventário parcial das informações existentes aponta para o fato de que os


grupos negros vivem em bairros rurais, entendidos aqui na perspectiva desenvolvida
por Cândido (1971) e por Queiroz (1976), ou então, em áreas esparsas reconhecidas
como de negros. A especificidade do modo de vida demonstra existirem elementos
que os diferenciam pela condição étnica e história particular de sua constituição.

De acordo com Gusmão a história oficial e a ideologia que lhe é própria não
mostram a presença negra na terra, posto que foi assumida apenas enquanto força de
trabalho escrava e, depois, livre. Disso resultam concepções enganosas e pré–noções
tanto a respeito do modo de vida rural, quanto do negro, de modo geral, tornando
invisível a existência de uma questão camponesa e negra.

A questão fundiária em nosso país está extremamente vinculada à sorte da


população negra, pois ao instituir que as terras deveriam ser “compradas”
naturalmente os negros foram excluídos desse processo de apropriação destas,
primeiro porque eram escravizados (mercadorias), depois de 1888 por serem libertos,
mas marginalizados na sociedade e, portanto, sem a possibilidade de adquirir terras.

Embora a questão da obrigatoriedade da compra de terras afetasse também,


imigrantes e brasileiros brancos e pobres, pois também para estes a terra tornou-se
mais difícil, para os negros essa questão levou a uma maior marginalização, visto que
se o negro não tinha terras para sua subsistência tampouco tinha outras possibilidades
de garantir seu sustento.

Contudo, a história do negro no Brasil não se constitui somente de submissão,


houve também, é claro, diversas formas de resistência negra à escravidão como
revoltas, fugas, assassinato de senhores, abortos e a constituição de quilombos.

Os quilombos são a materialização da resistência negra à escravização, foram


uma das primeiras formas de defesa dos negros, contra não só a escravização, mas
também à discriminação racial e ao preconceito.

E é exatamente neste ponto que o destino de negros e das florestas se


encontram, pois o mesmo processo que tornou o negro mercadoria, força de trabalho
escravizada em benefício de uma minoria branca também consumiu ferozmente os
recursos naturais disponíveis no país, sendo as florestas atlânticas as primeiras a
sofrerem drástica redução.

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Há claramente o consumo da natureza e dos homens, ambos coisificados.
Contudo, enquanto a conquista e consequente destruição das florestas avançava,
transformando drasticamente as paisagens, os povos que resistiam a serem
explorados ou literalmente escravizados no processo de desenvolvimento que se
instalava buscavam refúgio em áreas afastadas desse processo, nas quais a floresta
consistia abrigo e possibilidade de vida em liberdade. Os indígenas, como
conhecedores e muitas vezes como parte da própria natureza, conforme suas
cosmologias, buscavam quando possível esse distanciamento. A eles se juntaram
mestiços marginalizados e também negros que fugiam da escravização.

Especialmente ao que concerne às populações negras, a fuga tendo como


destino as matas, consistiu em importante forma de resistência à escravização e uma
das primeiras formas de constituição dos quilombos.

No entanto a fronteira florestal, na qual primeiro os indígenas e depois os


negros e mestiços vão buscar abrigo, é permanentemente alcançada pela expansão
das atividades econômicas hegemônicas. De acordo com Moraes os atrativos
evidentes – os imediatamente encontrados – comandavam a instalação inicial dos
colonizadores, mas os espaços desconhecidos atuavam constantemente no imaginário,
fazendo da expansão progressiva um elemento sempre presente.

O território foi visto como um espaço físico, mas também como um espaço de
referência para a construção da identidade quilombola.

Estes territórios são alvos de diversos conflitos e disputas, pois via de regra, são
sobrepostos aos remanescentes florestais atlânticos, cobiçados tanto para o avanço de
monoculturas como a do eucalipto e da cana-de-açúcar, ou expansões urbanas,
quanto para áreas restritas à preservação ambiental.

Desta forma, podemos classificar estes conflitos como sendo primordialmente


territoriais, visto que o que está em disputa são visões diversas sobre o mesmo espaço
e que vão resultar em concepções também diversas de território. Afinal, uma Unidade
de Conservação é constituída por um território jurídico e delimitado politicamente,
assim como o empresário do setor agrícola verá nestes remanescentes uma frente de
expansão aos seus negócios. Contudo, em nossa história tem-se ignorado que estes
espaços já foram territorializados material e simbolicamente por populações
tradicionais.

A invenção de identidades político-cultural é recorrente, ela acontece sempre


que determinado grupo põe-se em movimento para reivindicar o que lhe é essencial.
No caso das comunidades quilombolas, a terra. Terra aqui entendida num sentido
amplo, englobando a terra necessária para a reprodução material da vida, mas

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também a terra na qual o simbólico paira, na qual a memória encontra lugar
privilegiado, morada de mitos e lendas, fonte de beleza, inspiração e do sentido
sagrado da coletividade, tão essencial à vida quanto a terra de trabalho.

É necessário então entender a constituição da identidade quilombola face à


necessidade de luta pela manutenção ou reconquista de um território material e
simbólico. Por isso, talvez melhor do que discutir o conceito de território seja discutir o
processo de territorialização dessas comunidades.

A territorialidade adquire um valor particular, pois reflete a


multidimensionalidade do vivido territorial pelos membros de uma coletividade. Os
homens vivem, ao mesmo tempo, o processo territorial e o produto territorial por
intermédio de um sistema de relações produtivistas e simbólicas. Há interação entre
os atores que procuram modificar tanto as relações com a natureza como as relações
sociais. O homem transforma a natureza e a natureza transforma o homem.

O processo de territorialização pressupõe a tensão nas relações estabelecidas,


pois se um grupo se organiza em prol de territorializar-se ele está negando o lugar que
lhe havia sido destinado, numa dada circunstância espaço-temporal, por outros grupos
sociais melhor situados no espaço social pelos capitais de que já dispõem.

(...) Territorializar-se significa ter poder e autonomia para estabelecer


determinado modo de vida em um espaço, para estabelecer as condições de
continuidade da reprodução material e simbólica deste modo de vida. A sobreposição
de territórios implica necessariamente em uma disputa de poder.

As comunidades quilombolas ao se organizarem pelo direito aos territórios


ancestrais, elas não estão apenas lutando por demarcação de terras, as quais elas têm
absoluto direito, mas, sobretudo elas estão fazendo valer seus direitos a um modo de
vida.

Perspectiva Histórica

O movimento de luta pela garantia dos direitos quilombolas é histórico e


política. Traz em seu íntimo uma dimensão secular de resistência, na qual homens e
mulheres negros buscavam o quilombo como possibilidade de se manterem física,
social e culturalmente, em contraponto à lógica colonial e pós-colonial.

No período pós-abolição, a população negra se manteve excluída do acesso a


diversos direitos fundamentais e a luta pelos direitos quilombolas se somou às lutas da
população negra de modo geral, sendo uma forte bandeira dos movimentos negros

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organizados durante os séculos XX e XXI. O processo de fortalecimento da luta pelos
direitos quilombolas construiu, todavia, outra faceta importante do ponto de vista
político-organizativo que é a constituição do movimento quilombola, com suas
especificidades em relação ao movimento negro urbano.

Arte: reprodução

A questão quilombola esteve presente, do ponto de vista legal, tanto no regime


colonial como no imperial de forma significativa no Brasil. Esses marcos legais
fundamentavam a criminalização e penalização das fugas e tentativas de rebelião de
escravos. As referências primeiras aos quilombos foram pronunciadas pela Coroa
Portuguesa e seus representantes que administravam o Brasil colônia. Essas
referências situam-se no contexto de repressão da Coroa aos negros aquilombados.

O Regimento dos Capitães-do-mato, de Dom Lourenço de Almeida, em 1722,


foi possivelmente a primeira materialização legal da repressão às comunidades
quilombolas: “pelos negros que forem presos em quilombos formados distantes de
povoação onde estejam acima de quatro negros, com ranchos, pilões e de modo de aí
se conservarem, haverão para cada negro destes 20 oitavas de ouro” (Guimarães,
1988: 131).

Ivo Fonseca Silva destaca que a Constituição de 1988 trouxe um processo de


reversão de um histórico de não reconhecimento da cidadania da população negra, e
mais especificamente dos quilombolas:

“Se pegar as normas constitucionais e os decretos na história do Brasil, eles são


muito cruéis conosco. Nós só passamos a ser cidadãos brasileiros a partir da
constituição de 1988. Antes nós não éramos cidadãos brasileiros”. (Ivo Fonseca Silva –
CONAQ)

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Povo Quilombola: Identidade e Resistência

A noção de identidade quilombola está estreitamente ligada à ideia de


pertença. Essa perspectiva de pertencimento, que baliza os laços identitários nas
comunidades e entre elas, parte de princípios que transcendem a consangüinidade e o
parentesco, e vinculam-se a idéias tecidas sobre valores, costumes e lutas comuns,
além da identidade fundada nas experiências compartilhadas de discriminação.

Há uma trama social tecida a partir das ações coletivas e representações que
são determinantes para o estabelecimento das noções que dão eco à ideia de que os
quilombolas constituem uma comunidade, um povo, que, por sua vez, possui
elementos estruturais que tornam este grupo distinto do que intitula-se sociedade
nacional.

A ideia de irmandade, de união entre as comunidades quilombolas das mais


distintas e longínquas localidades é ressaltada na teia de relações e
compartilhamentos existentes entre as comunidades, e é uma questão presente em
diversas narrativas de lideranças quilombolas. Esse ponto constitui-se como
fundamental para a construção da luta comum, que tem como principal ponto a luta
pelo direito à terra.

A perspectiva identitária tem íntima relação com a noção de territorialidade. As


Comunidades Quilombolas são circunscritas e estabelecem íntima relação territorial
com seus territórios, denominados de diversas formas tais como terras de preto,
mocambo. Essa perspectiva territorial é conceituada como o espaço territorial passado
pelas várias gerações sem a adoção do procedimento formal de partilha, e sem que
haja posse individualizada. Givânia Maria da Silva apresenta reflexão sobre a dimensão
da territorialidade para a identidade quilombola:

“O pertencimento em relação ao território é algo mais profundo. A luta


quilombola existe porque há um sentimento por parte dos quilombolas de que aquele
território em que eles habitam é deles. Mas não é deles por conta de propriedade, é
deles enquanto espaço de vida, de cultura, de identidade. Isso nós chamamos de
pertencimento. Nem é porque nossas terras sejam as mais férteis que nós lutamos por
elas. Elas muitas vezes não são as mais férteis, se nós concebermos o fértil no usual da
economia. Mas ela tem uma fertilidade que para nós que estamos ali ela é a melhor. A
nossa luta pela terra não é pautada por princípios econômicos e sim por fundamentos
culturais, ancestrais. É o sentimento de continuidade da luta e resistência”.

A construção da identidade e a perspectiva que dá forma ao pertencimento são


fundadas no território e, também, em critérios político-organizativos. Nesse sentido,
identidade e território são indissociáveis. A organização das comunidades quilombolas

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como um grupo étnico tornou possível a resistência e defesa do território, além de
singularizar sua ocupação. O processo de territorialização das comunidades
quilombolas está estritamente relacionado com a organização social.

Os elementos que constituem os grupos enquanto próprios e distintos da


sociedade nacional, como as comunidades quilombolas, deixam de ser colocados em
termos dos conteúdos culturais que encerram e definem diferenças. Conceber as
comunidades quilombolas a partir dessa perspectiva tem levantado algumas
ponderações sobre as manipulações que podem ser empreendidas pelos próprios
sujeitos sociais pertencentes à identidade étnica.

Foto: reprodução

Essas questões norteiam, inclusive, uma ADIN de inconstitucionalidade


impetrada pelo partido dos Democratas (antigo PFL) no Supremo Tribunal Federal –
STF, ao decreto 4887/2003 que regulamenta a titulação de terras de quilombos e se
constitui na perspectiva da auto-declaração da comunidade.

Os quilombos, todavia, fortalecem sua identidade contrastiva em contraponto à


ideia de assimilação ou de extinção. A diferença cultural não traz uma valorização por
si só. Porém, a contraposição consciente das identidades e culturas em relação à lógica
imperialista dos Estados Nacionais se constitui como uma antítese ao projeto pós-
colonialista de estabilização, uma vez que os povos lutam não apenas para marcar sua
identidade, como também para retomar o controle do próprio destino e construir
diretrizes de rumos comuns.

Essa contraposição cultural ao projeto hegemônico imperialista dialoga com a


emergência da organização do movimento quilombola nos últimos anos no país. O
movimento quilombola, organizado em nível nacional a partir de 1995, traz a retórica

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identitária como um elemento central de suas reivindicações e do estabelecimento da
coesão de grupo. A partir dessa identidade étnica, os quilombolas construíram sua
linha central de luta que é a defesa de seus territórios. São critérios político-
organizativos que estruturam essa perspectiva de pertença étnica.

Fontes da matéria:

Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – CONAQ

MOURA, G. 2006. Quilombos contemporâneos no Brasil in Brasil/África: como se o mar fosse mentira.
CHAVES, R., SECCO, C., MACEDO, T.. São Paulo: Ed. Unesp. Luanda/Angola: Chá de Caninde.

Comissão Pró Índio de São Paulo (CPI SP). Acesso ao site em março de 2010.

VELÁSQUES, C.. “Quilombolas”. In: RICARDO, B. e CAMPANILI, M. (Ed.). Almanaque Brasil


Socioambiental 2008. Instituto Socioambiental. 2007. P. 234-235.

BRASIL. 1988. “Ato das Disposições Constitucionais Transitórias: promulgada em 5 de outubro de 1988”.
Coletânia de Legislaçao Ambiental e Constituição Federal. Organização: Odete Medauar. 7ª ed. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2008. Coleção RT MiniCódigos. 1117p.

Dados da Fundação Cultural Palmares

http://www.incra.gov.br/quilombola

Simone Rezende da Silva Pós-Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia Física da


Universidade de São Paulo, retirado do texto: QUILOMBOS NO BRASIL: A MEMÓRIA COMO FORMA DE
REINVENÇÃO DA IDENTIDADE E TERRITORIALIDADE NEGRA

Nota: 7 Ribeiro, 2004, p. 118

Nota: Gusmão, 1995, p. 12

Nota: Moraes, 2005, p. 68

SOUZA, Barbara Oliveira – UNB. Texto: Movimento Quilombola: Reflexões sobre seus aspectos político-
organizativos e identitários.

SILVA, Ivo Fonseca – Liderança quilombola da comunidade de Frechal, Maranhão. Fundador da CONAQ
– Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais.

SILVA, Givânia Maria – Liderança quilombola da comunidade de Conceição das Crioulas, Pernambuco, e
fundadora da CONAQ.

Ação Direta de Inconstitucionalidade, impetrada pelo PFL (hoje Partido Democratas) junto ao Supremo
Tribunal Federal.

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Fonte: CONAQ – Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas.
Quilombo? Quem Somos Nós! Disponível em: < http://conaq.org.br/quem-somos/>. [S.I.]. Acesso em:
10 Abr. 2021.

QUILOMBOLAS

Quando se fala em quilombo, logo se pensa no Quilombo dos Palmares, um


local isolado com escravos negros fugidos e seu herói Zumbi, o mais conhecido do
Brasil. E o que seriam quilombolas? Quilombolas são os atuais habitantes de
comunidades negras rurais formadas por descendentes de africanos escravizados, que
vivem, na sua maioria, da agricultura de subsistência em terras doadas, compradas ou
ocupadas há bastante tempo.

São grupos sociais cuja identidade étnica – ou seja, ancestralidade comum,


formas de organização política e social, elementos linguísticos, religiosos e culturais –
os distingue do restante da sociedade. A identidade étnica é um processo de
autoidentificação que não se resume apenas a elementos materiais ou traços
biológicos, como a cor da pele, por exemplo. São comunidades que desenvolveram
processos de resistência para manter e reproduzir seu modo de vida característico em
um determinado lugar.

Não são comunidades necessariamente isoladas ou compostas por um tipo de


população homogênea. As comunidades quilombolas foram constituídas por processos
diversos, incluindo, além das fugas para ocupação de terras livres, heranças, doações,
recebimento de terras como pagamento de serviços prestados ao Estado, compra ou a
permanência em terras que eram ocupadas e cultivadas em grandes propriedades.

Dependendo da área geográfica onde estão localizadas, são também


conhecidas como mocambos ou terra de preto.

Até hoje não há certeza sobre o número de comunidades quilombolas existente


no Brasil, mas estima-se que há, pelo menos, três mil em todo o território nacional,
localizadas nos estados do Amazonas, Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Espírito Santo,
Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba,
Pernambuco, Paraná, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul,
Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins.

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Os estados brasileiros que possuem a maior quantidade de comunidades
quilombolas são a Bahia, o Maranhão, Minas Gerais e o Pará.

Segundo dados oficiais da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da


Igualdade Racial (Seppir) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra), órgãos responsáveis pela identificação, reconhecimento, delimitação,
demarcação e titulação das terras ocupadas pelos quilombolas, existem atualmente
mais de setecentas comunidades oficialmente registradas pela Fundação Palmares, do
Ministério da Cultura e mais de duzentos processos de regularização fundiária em
andamento, envolvendo mais de trezentas comunidades espalhadas por 24 estados
brasileiros.

A partir da Constituição Federal de 1988, devido à mobilização do movimento


negro no País, a questão quilombola passou a fazer parte das políticas públicas
brasileiras. O Artigo 68, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) diz
que: Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas
terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos
respectivos.

A Declaração de Durban, África do Sul, elaborada na III Conferência Mundial de


Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata
realizada em 2001, reconheceu que os afrodescendentes das Américas são vítimas de
racismo e discriminação racial, levantando questões dos direitos dessa população às
suas terras ancestrais. A Declaração foi a base para a criação, no Brasil, da Política
Nacional de Promoção da Igualdade Racial, instituída pelo Decreto 4886/2003, com
programas de políticas públicas voltadas para a igualdade racial e ao combate à
discriminação étnica, entre os quais se encontra o Programa Brasil Quilombola (PBQ),
que atua no apoio às comunidades quilombolas, por meio de ações de regularização
da posse da terra, infraestrutura e serviços, desenvolvimento econômico e social,
controle e participação social.

O Decreto 4887/2003, concedeu aos quilombolas o direito à autoatribuição


como único critério para identificação das suas comunidades, fundamentando-se na
Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que prevê o direito de
autodeterminação dos povos indígenas e tribais, regulamentando o procedimento da
regularização fundiária: São terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos
quilombos as utilizadas para a garantia de sua reprodução física, social, econômica e
cultural.

Estudos realizados recentemente sobre a situação das comunidades


quilombolas apontam para diversos problemas de infraestrutura e qualidade de vida,
como habitações precárias, construídas de palha ou de pau a pique; escassez de água

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potável e instalações sanitárias inadequadas; acesso difícil às escolas, construídas em
locais distantes das residências dos alunos; meios de transporte ineficientes e
escassos; inexistência de postos de saúde na maioria das comunidades, com pouco
atendimento disponível, às vezes só possível a quilômetros de distância.

Além disso, há outro grande problema apontado que é: a discriminação com


que são tratados os habitantes das comunidades quilombolas.

(...) A maioria dos professores não tem capacitação adequada e são em


número insuficiente para atender à demanda. Poucas comunidades têm unidade
educacional com o ensino fundamental completo.

FONTES CONSULTADAS:

COMUNIDADES quilombolas no Brasil. Disponível em:


<http://www.cpisp.org.br/comunidades/html/i_brasil.html>. Acesso em: 22 jul. 2011.

COMUNIDADES quilombolas. O que são? Disponível em:


<http://www.cpisp.org.br/comunidades/html/i_oque.html>. Acesso em: 20 jul. 2011.

EDUCAÇÃO quilombola: apresentação. Disponível em:


<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12396&Itemid=684>.
Acesso em: 22 jul.2011.

ESTÓRIAS quilombolas. Brasília: Ministério da Educação, 2008. (Coleção caminho das pedras, 3)

OBSERVATÓRIO QUILOMBOLA. Disponível em: <http://www.koinonia.org.br/oq/quilombo.asp>. Acesso


em: 20 jul. 2011.

ROSA, Edna Ferreira. Comunidade quilombola Kalunga: entre o direito étnico, políticas públicas e a
legislação ambiental. Revista de Direito Agrário, Brasília, D.F, ano 20, n. 21, p. 31-79, 2007.

Fonte: GASPAR, Lúcia. Quilombolas. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife.
Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: 10 Abr. 2021.

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