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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOSFIA (ICHF)

DOCENTE: ALESSANDRO ANDRE LEME

DISCIPLINA: SOCIOLOGIA (GSO00098 – H1 2023/2°)

DISCENTE: KAUÃ BRAGA DE ARAUJO LIMA

AVALIAÇÃO 2

1-) Disserte a partir do txzto do Mignolo e do Du Bois sobre a ideia de colonialidade e


modernidade presente nas análises dos autores.

A colonialidade é um pensamento epistemológico que busca entender o que permaneceu


enraizado na sociedade - práticas, atos e discursos de valores – com o fim do regime colonial.
A colonialidade é um conceito que parte do ponto de que o fim do colonialismo, não extingue
os problemas e as práticas criadas e desenvolvidos pelo sistema colonial - como a forma de
estruturação social, a linguagem, a relação de entendimento com o outro, bem como os
conceitos morais, econômico e político-social – uma vez que esse sistema abrange – ainda que
em graus distintos - todo o corpo social existente. Por exemplo, o racismo é fruto de uma
herança escravista e de um sistema que se empenha em manter e criar novas ferramentas ativas
para que o homem negro não atinja o mesmo grau de existência que é tida pelo homem branco.
A expressão desses pensamentos e discussões antropológicas receberam enfoque,
direcionamento e apoio as teorias de supremacia racial e que foram postas em prática para
construção de uma episteme pautada na hierarquização de raças e na consolidação de um
sistema econômico regrado a mão de obra escrava. Nesse período, o homem negro torna-se
mercadoria e passa por processos de objetificação do seu ser, do seu corpo e da sua existência.
Com o fim do período colonial brasileiro, o homem negro deixa gradativamente de ser um
objeto e passa a buscar meios e formas para a sua inserção na sociedade, contudo, os eventos
ocorridos ao longo de 388 anos de escravatura, não são apagados puramente com a dissolução
da colonização, mas sim, se tornam mutáveis a ponto de não precisar de uma prática legislativa
e física concreta para estabelecer uma discrepância entre os brancos e negros. Sendo assim, ela
se naturaliza no meio cultural e atua como uma linha invisível entre o meio social e o estado.
Não precisando de aparatos legais para justificar uma descriminação, mas sendo praticada de
maneira ampla e comum na sociedade. Um exemplo disso é o preconceito existente com as
religiões de matrizes africanas e outras formas de manifestação da cultura afro. Um preconceito

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originado no período colonial e que ainda se apresenta de maneira muito atual. O colonialismo
foi justamente o elemento chave para que o sociólogo negro norte-americano William Edward
Burghardt Du Bois ou W.E.B Du Bois – sendo ainda conhecido popularmente apenas por “Du
Boi” - apresentasse sua trajetória epistemológica o estudo dos processos decoloniais – uma
vertente contrária ao colonialismo, que visa a análise crítica à modernidade e a o pensamento
colonial, bem como, o conjunto de práticas sociais que pudessem reverter o cenário colonial –
da sociedade a qual vivia. Tendo em mente o conceito de colonialidade, Du Bois busca em seu
estudo como se dá a estruturação do racismo na sua sociedade e sobre quais seriam as suas
origens e arquétipos utilizados para funcionamento no meio social, e chega ainda à conclusão
de que a modernidade é um subproduto da junção de fatores como raça, racismo e colonialismo.
Estas além de conceitos, são formas de organização econômica, social e cultural do capitalismo
colonial, o que cria eventualmente o que é chamado por Du Bois como “color line” ou “linha
de cores”, que pode também ser apresentada como uma visão dicotômica do preto e branco. Du
Bois atrela ainda a prática do racismo a um produto dos sistemas escravistas – como um
importante fator histórico, mas não determinante – que ao se tornar naturalizado e/ ou apoiado
por instrumentos coercitivos de poder – como as instituições regulamentadoras que possuem
capacidade de exercer poder e influência tal qual um “estado” possui – se torna o que é
conhecido amplamente como modernidade.

2-) A partir de Mignolo e Du Bois, analise como Poder e Raça são utilizados como
classificação e estratificação de Poder na América Latina e nos Estados Unidos

Para abordar esse tópico, será tomado duas referências notáveis dentro dos hemisférios norte
e sul do ocidente. As duas potências a serem analisadas e comparadas escolhidas foram o Brasil
e os Estados Unidos. Ambas as referências irão possuir um panorama brevemente estabelecido
a fim de facilitar a comparação entre estes apresentados.

O processo colonista antes de se consolidar propriamente como um sistema, antes de tudo,


foi uma motivação as comunidades europeias, que almejavam possuir uma frente econômica
mais influente e presente em sua sociedade. As grandes navegações assim, surgiram como
resposta a esse anseio econômico, sendo esta responsável por desenvolver as relações mercantis
mundiais. A partir dessa expansão marítima, à medida que fossem encontrados novos
territórios, estes seriam submetidos a uma subordinação econômica-política e social. É a partir
deste momento que o Brasil se localiza na história, sendo utilizado por Portugal apenas como
um aparato de enriquecimento as custas da mão de obra escrava indígena. As populações e
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comunidades ameríndias, nativas do território, fora a primeira mão de obra a ser utilizada,
eventualmente ao longo das décadas, o uso preferencial de mão de obra por parte dos
colonizadores portugueses foi a mão de obra africana. O processo então colonial brasileiro adota
a mão de obra africana como principal artifício para continuar o enriquecimento português.
Contudo, a escravização do homem negro se deu de uma forma diferente da do indígena, visto
que apesar das diferenças sociais e culturais notáveis entre o encontro das distintas culturas -
europeia e ameríndia - ainda existia uma relação de semelhança estabelecida entre os povos –
apesar dessa semelhança, é importante ressaltar que apesar da similitude, o processo de
dominação não foi isento de consternação e resistência -, enquanto a relação do homem negro
era passível de total desumanização. Um exemplo prático se encontra no texto Laplantine,
François. A Pré-História da Antropologia:

“Tudo, na África, é nitidamente visto sob o signo da falta absoluta: os “negros” não respeitam nada,
nem mesmo eles próprios, já que comem carne humana e fazem comércio da “carne” de seus próximos.
Vivendo em uma ferocidade bestial inconsciente de si mesma, em uma selvageria em estado bruto,
eles não têm moral, nem instituições sociais, religião ou Estado. Petrificados em uma desordem
inexorável, nada nem mesmo as forças da colonização, poderá nunca preencher o fosso que o separa
da História universal da humanidade”. (Laplantine, François. A Pré-História da Antropologia, p. 45.)

No Brasil, a condição subserviente que foi atrelada ao homem negro, não foi um processo
jurídico, ou seja, não se utilizou do amparo estatal para a disseminação do racismo. O fato é
que o Brasil, naturalizou o racismo em sua cultura e o colocou no mesmo conjunto de
expressões sociais que caracterizam o povo brasileiro – carnaval, futebol, samba e outras festas
–. A união do racismo com a cultura brasileira, remove desta a necessidade de amparar uma
segregação e uma hierarquização no meio jurídico, pois o racismo já se encontra presente em
toda a sociedade, ainda que em um nível subconsciente e caracteriza, portanto, a presença de
pensamentos coloniais, mesmo após o período vigente.

Em contrapartida, nos Estados Unidos o sistema escravista não se deu da mesma forma que
foi no Brasil. O sistema escravista Norte-Americano se deu por um sistema de importação de
escravizados e de exportação de algodão. A exportação era direcionada ao continente Europeu
onde com os recursos adquiridos, os “colonizadores” - termo referente a forma como agiam –
atravessavam parte do continente africano, raptando e sequestrando pessoas de comunidades
distintas e por fim, retornavam para a América Central, a fim de produzir novamente insumos
para continuar o ciclo. A américa central era um dos alvos para receber escravizados, devido à
grande influência e a hospedagem de plantações ali existentes. Sistema de comercialização este
que ficou conhecido como comércio triangular. Durante o período do século dezessete e

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dezoito, os escravizados chegavam ao país por meio dos portos da Flórida e Lousiana, e eram
distribuídos em fazendas na Geórgia, Alabama e Mississipi. O sistema de produção agrícola era
denominado Plantation – grandes territórios de terras aos quais eram cultivados apenas um tipo
específico de produto, sendo estes o algodão, chá ou fumo – e, portanto, dependia de muita mão
de obra. As relações sociais entre os senhores de fazenda e os escravizados, se assemelhavam
de certa forma com a relação senhorial estabelecida no Brasil, existindo não somente os
responsáveis pela produção e vigia, mas também, escravizados para o uso de tarefas domésticas.
Houve ainda o uso de escravizados religiosos, onde a função destes era evangelizar os demais
negros e conscientizar estes de que a escravidão era permitida por Deus. Ao fim do século
dezenove o Estados Unidos entra no período da revolução industrial, onde a produção
assalariada foi utilizada em conjunto da escravização. Ao note, o sistema de mão de obra era
assalariado, enquanto o Sul – Sul referente a posição geográfica, uma vez que nem todos os
estados pertencentes ao norte e ao sul entraram em conflitos - possuía um sistema de produção
industrial pautado ainda na escravização. Nesse período a mão de obra escrava passa a ser
repudiada no mundo. O meio polarizado criado nos Estados Unidos entre abolicionistas e
escravagistas, chegou a uma tensão no episódio que seria chamado de “Bleeding Kansas” -
Kansas Sangrenta - onde um grupo de homens armados com facões e espadas, foram as ruas e
assassinaram cinco donos de fazendas que possuíam influências políticas contra o abolicionista.
Eventualmente a revolta chegou ao fim a uma tentativa de derrubada de um forte militarizado
no Sul. Ao longo dos conflitos, a escravidão foi abolida pela décima terceira ementa, redigida
por Abraham Lincoln. O sistema social americano encontrado no século XX e XXI carregam
consigo – assim como o Brasil - resquícios de um sistema colonial sangrento. Um sistema que
desumanizava a existência do negro na sociedade, tal quais os seus costumes. Apesar da
abolição ter sido assinada na América do Norte, o sistema não impediu que estas criassem novos
arquétipos para uma segregação, como foram os casos das leis Jim Crow – que criavam
instalações responsáveis por segregar os negros dos brancos em todos os locais públicos nos
estados. Diferente do que foi no Brasil, ainda que o racismo nos Estados Unidos tenha sido
institucionalizado também, se fez necessário a presença do amparo do estado para consolidar a
segregação, não mantendo-a no âmbito social, mas escrita e imposta por todos. O racismo
americano, pode-se dizer, não é velado e muito menos se esforça em fazer parecer. Este, assim
como o Brasil, carrega consigo as marcas do pensamento colonial e aplica-o na sociedade a
qual se encontra. Nesse sentido, o sociólogo Du Bois enfatiza em seus trabalhos a realidade do
homem negro nos Estados Unidos, não apenas sobre o racismo, mas também sobre a realidade
de ser negro, como diz no livro “As Almas do Povo Negro (1903)” onde ele diz que ser negro
é:
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“uma sensação peculiar, essa consciência dual, essa experiência de sempre enxergar a si mesmo
pelos olhos dos outros, de medir a própria alma pela régua de um mundo que se diverte ao encará-lo
com desprezo e pena. O indivíduo sente sua dualidade — é um norte-americano e um negro; duas
almas, dois pensamentos, duas lutas inconciliáveis; dois ideais em disputa em um corpo escuro, que
dispõe apenas de sua força obstinada para não se partir ao meio.” DU BOIS. W.E.B. As Almas do Povo
Negro (1903).

Bibliografia

MIGNOLO. D. Walter. COLONIALIDADE O lado mais escuro da modernidade.

LANDERS, Jane, ESCRAVIDÃO NOS ESTADOS UNIDOS, Universidade de Vanderbillt.

ERTHAL, Ruth. A COLONIZAÇÃO PORTUGUÊSA NO BRASIL E A PEQUENA


PRIPRIEDADE, Universidade Federal Fluminense.

W.E.B, Du Bois; BOIDE, Alexandre; Almeida, Sílvio; Feijão, Luciano; Campos, Rogério. As
Almas do Povo Negro. Editora Veneta. Marc, 31, 2021.

https://abpnrevista.org.br/site/article/view/891/824. Acesso em: dez, 08, 2023.

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