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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA – CAMPUS SÃO BORJA

CIÊNCIAS SOCIAIS – CIÊNCIA POLÍTICA

SEMESTRE VI

Thiara Tezza1

Texto: CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil – o longo caminho. 3ªed.
Rio de Janeiro, RJ: 2002. Capítulo I: Primeiros Passos.

Pergunta: O que é cidadania, na visão de José Murilo de Carvalho?

José Murilo de Carvalho traça parâmetros de entendimento antes de conceituar a


cidadania enquanto construção social.

O autor acredita que a escravidão foi um dos principais fatores para a diminuição
da cidadania, desde a época colonial brasileira. Ao passo que as demandas de africanos
– em escala global – se iniciaram por volta do século XVI, no Brasil, em especial com a
corrida pelas preciosidades naturais (como o pau-brasil, amplamente utilizado na
Europa na indústria têxtil) e em minérios (em especial de aluvião) foram formando uma
cadeia necessária de trabalhadores de baixo custo pela mão-de-obra. Findo o período, a
importação de escravos após a Independência prosseguiu ininterrupta por cerca de 28
anos.

1
Aluna do quinto semestre de Ciências Sociais – Ciência Política, campus São Borja. Bolsista de pesquisa
integrante do grupo “Relações de fronteira: história, política e cultura na tríplice fronteira Brasil,
Argentina e Uruguai”.
Toda pessoa com algum recurso possuía um ou mais escravos. O Estado, os
funcionários públicos, as ordens religiosas, os padres, todos eram
proprietários de escravos. Era tão grande a força da escravidão que os
próprios libertos, uma vez livres, adquiriam escravos. A escravidão penetrava
em todas as classes, em todos os lugares, em todos os desvãos da sociedade: a
sociedade colonial era escravista de alto a baixo.2

Neste mesmo sentido, José Murilo de Carvalho fala sobre o lapso causado nos
direitos civis pelo mesmo litígio escravista anterior. Neste contraponto, é preciso que
seja citada a movimentação pela abolição – discutida ao fim do escrito pela sua
importância cível. Porém, herdada como estava, a condição do negro ainda era sub-
humana, as propriedades rurais continuavam predominantes e o Estado comprometia-se
com as forças do poder privado. Estes três últimos aspectos refletem, para o autor, o
seguimento persistente para a corrosão da cidadania. Mencionado José Bonifácio – no
que fora nomeado como a “razão nacional” em contraposição a até então predominante
“razão individual” - a escravidão era também problema à construção da nação,
impedindo a consistência social ao interferir nos processos de igualdade entre seus
pares. Porém, a influência do estado absolutista não deixou por menos as expectativas
do velho pensamento. Permeados ainda mais pelo ideal de progresso individual, a
construção coletiva que libertou os escravos não os chamou para crescerem juntos na
partilha do avanço:

O argumento da liberdade individual como direito inalienável era usado com


pouca ênfase, não tinha a força que lhe era característica na tradição anglo-
saxônica. Não o favorecia a interpretação católica da Bíblia, nem a
preocupação da elite com o Estado nacional. Vemos aí a presença de uma
tradição cultural distinta, que poderíamos chamar de ibérica, alheia ao
iluminismo libertário, à ênfase nos direitos naturais, à liberdade individual.
Essa tradição insistia nos aspectos comunitários da vida religiosa e política,
insistia na supremacia do toso sobre as partes, da cooperação sobre a
competição e o conflito, da hierarquia sobre a igualdade. 3

A esses pontos, José Murilo inflige a falta de civismo como parte da cidadania
de poucos. Porém não faz comum juízo com outros autores ao referir-se à uma suposta
falta de movimentação política desde os primeiros anos da república. Desde a
2
P.20.
3
P.51.
articulação pela abolição até a estrutura de operariado, a essência para o entendimento
dos direitos civis majoritários permearam o entendimento social para a busca de
melhorias fossem de condições de vida ou de reconhecimento do outro. A cidadania,
portanto, se faz valer ao autor – teórica e analiticamente – à propensão de civismo
presente no Estado.

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