Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Milton Santos
HACA79 – Tópicos Especiais em Artes I Docente: Karliane Macedo Nunes Discente: Maurício Menezes de Castro - BI em Artes – Matrícula 217119368
Atividade 3 – Resumo do texto “A colonialidade está longe de ter sido
superada, logo, a decolonialidade deve prosseguir”
O autor Walter Mignolo inicia o texto discorrendo sobre a colonialidade
do saber, que nos faz acreditar nas epistemologias hegemônicas, universalizadas e historicamente impostas como verdades únicas sobre nós mesmos e sobre o mundo. Ele usa o termo “nacionais” para se referir aos europeus – termo esse autodefinido, pois, para os colonizadores, eles eram o centro de tudo, os donos dos estados-nação, e todo o restante dos territórios eram estrangeiros, menos importantes e disponíveis para sua gana de exploração de recursos naturais e humanos.
O autor cita também que a definição dos “direitos do homem e do
cidadão” também definiu quem é “menos homem” ou “menos cidadão”: nativos, povos originários, não-brancos, estrangeiros, imigrantes, refugiados... enfim, “não-nacionais”. Tal hierarquia racial, epistemológica e social é consequência direta do que Mignolo chama de “Matriz Colonial de Poder (MCP)”, estrutura de controle que afeta todos os aspectos das nossas vidas e permeia todas as relações sociais e econômicas da ordem mundial construída na modernidade – que, como vimos em textos anteriores, também foi construída a partir do colonialismo e da colonialidade. Segundo o autor,
(...) a forma de governo do Estado-nação é hoje uma
aberração, porque ela favorece os nacionais sobre os humanos: porsua lógica, os não nacionais são menos humanos. Como consequência, uma atmosfera global de racismo está enraizada na formação, transformação e gerenciamento da MCP. Isso indica como o racismo é criado por uma classificação epistemológica, e não pela representação de diferenças raciais existentes entre os seres humanos. Os não nacionais (imigrantes e refugiados) tornam-se vítimas do racismo graças a classificações epistemológicas. (MIGNOLO, 2019, p.10) Porém no início do século 21 o projeto global ocidentalizador colapsou, com a recusa cada vez maior das pessoas e territórios subalternizados em se encaixar na MCP. Ao invés disso, vemos um movimento contrário, no qual as pessoas reivindicam seus direitos de decidir o rumo de suas próprias trajetórias e existências. A esse movimento, Mignolo dá o nome de “reexistir”, e cita que há muitas e diferentes formas de reexistência – do contrário, não seria nada diferente do que a colonialidade já faz, escrevendo histórias únicas por pontos de vista limitados e limitantes, e dicotomias que alimentam hierarquias e/ou assimetrias. Se as pessoas, grupos e sociedades são diversas, que encontrem formas diversas de reexistir. Se desconectar do que está posto e reivindicar essa reexistência é, também, abrir fendas e enfraquecer os domínios da MCP.
Então o autor traz mais um conceito, o de conservadorismo
desobediente decolonial, que consiste em preservar o que os sujeitos e comunidades subalternizados precisam ser ou fazer para reexistir (daí o “conservadorismo”), tendo em mente que tal reexistência já é um grande ato de desobediência decolonial. Não há nada que vá mais contra a hegemonia do que corpos indígenas, negros, LGBTs, latino-americanos, entre tantos outros reivindicando seu direito de existir, quando toda a estrutura social é colonialmente fabricada para esmaga-los de diversas formas – incluindo a morte.
Mignolo então leva o foco do texto para as sociedades indígenas que,
antes livres e autogovernadas, viram sua liberdade de existir, ser e pertencer aos seus territórios ceifada por sociedades que dizem prezar pela liberdade – mas prezam pela liberdade de quem? – e cita que desde o momento em que suas moradas foram invadidas pelos europeus até os tempos atuais esses povos estão em contínuo processo de reexistência. O autor faz um gancho entre a reexistência indígena (indigeneidade), enquanto identificação étnica, nacional e/ou religiosa, à decolonialidade que, embora não seja uma identificação, mas um projeto político, pode ser vivenciada tanto pelos indígenas como por quaisquer grupos subalternizados pela colonialidade.
Embora a colonialidade, a modernidade e o modelo ocidental de
civilização venham sendo duramente golpeados por questões e respostas decoloniais, como cita o próprio título do texto, eles segue; e enquanto seguirem é necessário que sigamos também, levando a decolonialidade para todas as partes, para o ser, o saber, o ver, o falar, preservando legadosconectando as diversas maneiras de reexistir que são possíveis.
Referência:
MIGNOLO, W. A colonialidade está longe de ter sido superada, logo, a
decolonialidade deve prosseguir. MASP Afterall, São Paulo, v. 2, p. 1-14, 2019.