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Introdução
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Anais do VII Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216
Podemos entender que o autor chama a atenção para o fato de não acreditar
não é necessário sabermos os significados e sinônimos de certas palavras que não usamos no
nosso cotidiano, as quais o autor confessa também não saber, embora seja um conceituado
cronista e bom usuário da língua. Ou seja, o falante da língua, usa a língua, interage com ela,
consegue se relacionar com as pessoas por meio da língua, e é isso o que mais importa. Nesse
sentido, podemos relacionar essa visão ao conceito de gramática internalizada, a qual,
segundo Possenti (1996), é um “conjunto de regras que o falante domina” (p. 69). Isto é, todo
o falante sabe utilizar-se da língua para seus interesses.
É Nesse sentido que o autor critica os elaboradores das provas de
vestibulares e concursos públicos, pois conhecer certas palavras como “escardinchar”,
“pulcritude” (variantes históricas ou expressões de época), bem como os significados de
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nascer no Cairo e fêmea de cupim, isto é, de palavras, expressões ou até mesmo construções
que não utilizamos no cotidiano, não provam a inteligência do candidato, tão pouco provam
que o usuário da língua é um bom conhecedor dela.
No quarto parágrafo continua o autor:
Concordo. Confesso que escrevo de palpite, como outras pessoas tocam piano de
ouvido. De vez em quando um leitor culto se irrita comigo e me manda um recorte
de crônica anotado, apontando erros de Português. Um deles chegou a me passar
um telegrama, felicitando-me porque não encontrara, na minha crônica daquele dia,
um só erro de Português; acrescentava que eu produzira uma "página de bom
vernáculo, exemplar". Tive vontade de responder: "Mera coincidência" — mas não
o fiz para não entristecer o homem. (BRAGA, 1960, P. 197)
Espero que uma velhice tranqüila - no hospital ou na cadeia, com seus longos ócios
— me permita um dia estudar com toda calma a nossa língua, e me penitenciar dos
abusos que tenho praticado contra a sua pulcritude. (Sabem qual o superlativo de
pulcro? Isto eu sei por acaso: pulquérrimo! Mas não é desanimador saber uma coisa
dessas? Que me aconteceria se eu dissesse a uma bela dama: a senhora é
pulquérrima? Eu poderia me queixar se o seu marido me descesse a mão?).
(BRAGA, 1960, P. 197)
O que ocorre nesse trecho é uma explicitação de ironia ao dizer que estando
em um hospital ou na cadeia, depois de aposentado, teria tempo suficiente para estudar as
regras da Língua Portuguesa e não mais praticar abusos contra a sua “pulcritude”, ou seja, sua
pureza e beleza. Ou seja, seu interesse na língua, hoje, enquanto escritor que se relaciona com
as pessoas por meio da língua, é com que a língua pode lhe oferecer, com a naturalidade da
língua que promove com que ele se relaciona com as pessoas. Não preocupa-se em saber
palavras, expressões regras, as quais, por vezes, as pessoas nem conhecem, e nem precisariam
mesmo conhecer.
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humilhações e chacotas, despertando o interesse do aluno pela sua língua materna e mostrar
que o que muitas vezes ele acha tão difícil e odioso, pode ser tão simples e de fundamental
importância em sua vida.
Referências Bibliográficas:
BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico: o que é, como se faz. 51ª edição. São Paulo, março
de 2009.
GERALDI, João Wanderley: O texto na sala de aula. Cascavel. PR: Assoeste, 1984.
JÚNIOR, Arnaldo Nogueira. Rubem Braga. Disponível em:
<http://www.releituras.com/rubembraga_bio.asp>. Acesso em: 17 ago. 2010.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica.
Curitiba: SEED, 2008.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Currículo Básico para Escola Pública do
Paraná. Curitiba: SEED, 1990.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas-SP: Mercado das
Letras, 1996.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino da gramática no 1º e
2º graus. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2002.
Anexo 1
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(Texto extraído do livro "Ai de Ti, Copacabana", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960,
pág. 197).
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