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Curso: LETRAS/PORTUGUÊS em EaD – Semestre: 2023.

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Prof.ª Ma. ELAINE NASCIMENTO RAULINO
Polos: Alto Parnaíba, Cândido Mendes, Barra do Corda, Cururupu, Grajaú,
Loreto, Pastos Bons, Penalva, Urbano Santos e Centro Novo do Maranhão
Bloco 3: 09/10/2023 a 19/10/2023
Disciplina: Sociolinguística UNIDADE IV 20/10/2023 a 30/10/2023
Aluno: Fabiano Oliveira Souza
Data: 30/10/2023

RESENHA DESCRITIVA

Resenha descritiva sobre o livro Preconceito Linguístico de Marcos


Bagno.

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo:


Edições Loyola, 2006, p.13-72

O autor do livro, Preconceito linguístico: o que é, como se faz, é Marcos


Bagno, tradutor, escritor e linguista, doutor em Filologia e em Língua Portuguesa
pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de Linguística do Instituto de
Letras da Universidade de Brasília. Entre as obras publicadas por ele, pode-se
destacar: A invenção das horas (contos), O papel roxo da maca (infantil),
Machado de Assis para principiantes e Preconceito linguístico, que será tratada
nesta resenha.

Além dessas obras, o autor recebeu em 1988 o prêmio Nestle de


Literatura Brasileira e, em 1989, o prêmio Carlos Drummond de Andrade de
Poesia, entre outros. Selecionou e traduziu os artigos reunidos em norma
linguística. Traduziu História concisa da linguística, de Barbara Weedwood, além
de dezenas de obras cientificas, filosóficas e literárias. Atualmente, vem se
dedicando a investigação das implicações socioculturais do conceito de norma,
principalmente no que diz respeito ao ensino de Língua Portuguesa nas escolas
brasileiras.

Atualmente, está cada vez mais presente no Brasil a luta contra os


diferentes tipos de preconceitos, mostrando que eles não têm nenhum
fundamento racional e que são apenas fruto da ignorância e da falta de respeito
ao próximo, no entanto esta luta tem deixado de lado um tipo de preconceito
muito comum na sociedade brasileira: o preconceito linguístico. Esse tipo de
preconceito está presente em programas de televisão e de rádio, em colunas de
jornal e revista, em livros e manuais de instrução, sem falar, é claro, nos
instrumentos tradicionais de ensino da língua portuguesa: a gramatica normativa
e os livros didáticos que são distribuídos nas escolas.

Este preconceito fica ainda mais evidente em uma série de afirmações


que fazem parte da imagem negativa que o brasileiro tem de si próprio e da
língua que é falada por aqui. Além das afirmações com um tom de boas
intenções, mas que compõem uma espécie de “preconceito positivo”, que nos
afasta da realidade. Portanto, o autor nos convida para um passeio pelas
falácias, mitos e fantasias que fazem parte da “mitologia do preconceito
linguístico”, passando, evidentemente, pelos argumentos que derrubam essas
afirmações inverídicas e ajudam a combater esse tipo de preconceito no dia a
dia e em nossa atividade pedagógica, no caso dos professores.

Portanto, ressalta-se que muitos dos posicionamentos abordados pelo


autor no livro podem parecer ser politizados e isso, segundo ele, é proposital.
Dito isso, é importante que façamos um grande esforço para não incorrer no erro
milenar dos gramáticos tradicionalistas de estudar a língua como uma coisa
morta, sem levar em consideração as pessoas vivas que a falam.

Nesse contexto, o primeiro mito a ser abordado na obra é: “A língua


portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”. Segundo o
autor, esse é um dos mitos mais importantes que ele aborda no livro. Esse mito
se baseia na ideia de que a língua portuguesa, que é falada no Brasil, não
apresenta diversificações e, com isso, não teria suas variações regionais. Para
ele, esse preconceito é muito prejudicial para a educação, uma vez que leva
escola a impor a sua norma linguística como sendo a única que é falada por
todos os brasileiros, independentemente de sua idade, de sua origem
geográfica, de sua situação socioeconômica ou seu grau de escolarização, o que
não condiz com a realidade linguística do país.

O segundo mito abordado na obra é: “Brasileiro não sabe português /só


em Portugal se fala bem português”. Esse preconceito reflete o complexo de
inferioridade e o sentimento de sermos até hoje colônia de Portugal, ou seja, uma
país mais civilizado do que o nosso. De acordo com essa ideologia, o Brasil é
um país subdesenvolvido porque sua população não é uma raça “pura”, mas sim
o resultado de uma mistura de raças, sendo que duas delas, a negra e a
indígena, são inferiores à do branco europeu. A ciência há muito tempo já
desconstruiu esse preconceito, mostrando que nenhuma raça pode ser
considerada pura. Portanto, o brasileiro sabe sim português, o que ocorre são
diferenças entre o português de Portugal e o do Brasil.
O terceiro mito a ser descontruído na obra é: “Português é muito difícil”.
De acordo com autor, o nosso ensino de língua portuguesa sempre se baseou
na norma gramatical de Portugal, as regras que aprendemos na escola, em sua
maioria, não correspondem a língua que realmente falamos e escrevemos no
Brasil. Por isso achamos que português é uma língua difícil, já que temos de
decorar conceitos e fixar regras que não significam nada para nós.

Com isso, se o ensino de português se concentrasse no uso real, vivo e


verdadeiro da língua portuguesa do Brasil, é bem provável que ninguém mais
continuasse a repetir essa falácia. Além disso, ressalta-se todo falante nativo de
uma língua tem domínio dessa língua, ou seja, está comprovado que uma
criança de 3 a 4 anos já domina as regras gramaticais da sua língua materna, o
que ela não conhece são sutilezas, sofisticações e irregularidades no uso dessas
regras, que podem adquiridas através do estudo.

O quarto mito a ser desvendado pelo autor é: “As pessoas sem instrução
falam tudo errado”. Com isso, a ideia errônea reforçada nessa falácia é que só
existe uma língua correta que seria a que é ensinada nas escolas, explicada nas
gramáticas tradicionais e catalogada nos dicionários. Por isso, toda manifestação
linguística que esteja fora desse conceito é considerada, sob a visão do
preconceito linguístico, errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente. Para
contrariar esse mito, o autor cita o exemplo da palavra “pranta”, que escrita dessa
forma, é considerada um erro grotesco praticado por quem desconhece o uso
correto da língua, no entanto, para ele, essa dificuldade existe em virtude da
origem etimológica da palavra, o que isenta os falantes considerados
injustamente de ignorantes.

O quinto mito que é citado pelo autor na obra é: “O lugar onde melhor se
fala português no Brasil é o Maranhão”. Nesse mito, o autor relata que esse é
mais um caso subserviência ao português de Portugal, já que no maranhão ainda
se usa, com certa regularidade, o pronome pessoal “tu” que também é usado em
Portugal, diferentemente de outras regiões do Brasil que já estão substituindo o
uso do “tu” pelo pronome de tratamento “você”. No entanto, essa variação não
torna o português do Maranhão mais correto em relação a outros estados,
segundo o autor, não existe nenhuma variedade nacional, regional ou local que
seja melhor, mais pura ou mais bonita que outra, toda variedade linguística atente
às necessidades que seres humanos necessitam.

O sexto mito a ser tratado na obra é: “O certo é falar assim porque se


escreve assim”. Para desconstruir esse mito o autor cita as variações que
existem entre a língua e fala e que nenhuma língua é falada do mesmo jeito em
todos os lugares, assim como nem todas as pessoas falam a língua de forma
idêntica. Com isso, existe uma tendência muito forte nas escolas em querer
obrigar o aluno a falar do jeito que se escreve, como se essa fosse a única forma
certa de pronunciar a língua portuguesa, como se isso pudesse anular o
fenômeno da variação, que é natural e antigo na história das línguas. Em
contrapartida, o autor ressalta, que é evidente que se deve ensinar forma correta
da escrita e da pronúncia para os alunos de acordo com a ortografia oficial, mas
sem tentar criar uma língua falada “artificial”.

O sétimo mito a ser tratado no livro é: “É preciso saber gramática para


falar e escrever bem”. Na desconstrução desse mito, o autor ressalta que não
existem evidencias concretas de que essa afirmação seja correta, já que nem
todos os gramáticos são bons escritores e nem todos os bons escritores são
especialistas em gramática. Segundo o autor, os grandes escritores são os
primeiros a dizerem que gramática não é com eles.

Para reforçar ainda mais seu ponto de vista, o autor cita alguns casos de
escritores que relataram não ser bons em gramática, entre eles está Machado
de Assis, que, segundo ele, ao abrir a gramática de um sobrinho se espantou
com a sua própria ignorância, já que não havia entendido nada. Isso acontece
porque, ao longo do tempo, se inverteram os papéis, a gramática normativa
decorre da língua e é subordinada a ela, e não o contrário como afirmam os que
defendem esse mito.

O oitavo e último mito a ser destruído pelo autor é: “O domínio da norma


culta é um instrumento de ascensão social”. Para derrubar essa falácia o autor
ressalta que não se precisa dominar a norma culta para ascender socialmente.
Para reforçar ainda mais esse ponto de vista, o autor cita o exemplo dos
professores, que dominam a norma culta, mas não recebem os melhores
salários, pelo contrário. Já um fazendeiro que nem terminou o primário, mas que
tenha muitas cabeças de gado e detentor de influência política poderá ser mais
bem sucedido financeiramente que um professor.

Com isso, de nada vai servir o domínio da norma culta da língua


portuguesa se a pessoa não tem acesso às tecnologias, aos avanços da
medicina, aos empregos bem remunerados, à participação ativa e consciente
nas decisões políticas que afetam sua vida. Portanto, de acordo com autor, é
preciso garantir que todos os brasileiros tenham o reconhecimento dos aspectos
relacionados à variação linguística, porque o mero domínio da norma culta não
vai resolver todos os problemas de um indivíduo carente socialmente.

Em relação a como a obra é estruturada, temos a introdução, na qual


encontramos a parte inicial do livro que se chama “As primeiras palavras”, onde
o autor nos apresenta, de forma sucinta, o conteúdo que será abordado ao longo
de toda obra. O livro, de forma geral, é dividido em quatro capítulos, o primeiro
capítulo é denominado “A Mitologia do Preconceito Linguístico” em que o autor
aborda os mitos que serão desconstruídos progressivamente. O segundo
capítulo aborda “O Círculo Vicioso do Preconceito Linguístico” em que o autor
apresenta os três elementos que compõem o ciclo vicioso do preconceito
linguístico. O terceiro chama-se a “A Desconstrução do Preconceito Linguístico”,
na qual o autor trata de forma mais contundente como descontruir o preconceito
linguístico. Por fim, temos o quarto capítulo que é denominado “O Preconceito
Contra a Linguística e os Linguistas”, essa parte trata de aspectos relacionados
ao ensino ultrapassado das normas gramaticais e aos desafios que os linguistas
enfrentam.

O autor Marcos Bagno aborda de forma muito assertiva e abrangente o


tema Preconceito Linguístico, esclarecendo mitos e falácias que fazem parte do
imaginário popular e que muitas vezes não nos damos conta de que são, no
mínimo, afirmações sem fundamento. Em contrapartida, é importante ressaltar
que nem todos esses mitos podem ser considerados totalmente afirmações
falsas, como, por exemplo, no caso, da falácia que cita a domínio da norma culta
como símbolo de ascensão social.

Com isso, é nítido que se a uma pessoa possui domínio da norma culta,
ela se comunica e escreve melhor, o que pode ser um ponto muito positivo para
alguém que deseja ascender socialmente na vida. É claro que existem muitos
outros fatores devem ser levados em consideração quando nessa análise, mas
isso não descarta totalmente a importância do domínio da norma culta. No
entanto, o próprio autor nos deixa ciente de que existem outros pontos de vista.
Portanto, de forma geral, ele conseguiu derrubar uma série de argumentos que
não fazem sentido e se forem analisados com mais cuidado, em muitos casos,
atrapalham o aprendizado dos alunos e ensino da língua portuguesa nas escolas
brasileiras.

Acredito todas as pessoas são capazes de compreender com clareza o


que foi descrito neste livro, visto que ele foi escrito de forma clara e acessível,
possibilitando que as pessoas que não são especialistas no assunto entendam,
basicamente, o que está sendo dito pelo autor. No entanto, eu acho pertinente a
indicação dessa obra para professores, de forma geral, e estudantes de
licenciatura em Língua Portuguesa, uma vez que o assunto interessa
diretamente esse público de estudantes universitários.

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