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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA REGIÃO TOCANTINA DO MARANHÃO

Discente: Ketlen de Lourdes


Docente: Andressa dos Santos Ribeiro
Disciplina: LIBRAS História
RESENHA DO LIVRO: LIBRAS? Que língua é essa?

O autor do livro inicia sua narrativa trazendo vários questionamentos sobre como a
temática da surdez ainda não está completamente livre da rejeição que há na sociedade e
ainda os preconceitos enfrentados pelos surdos. O primeiro capítulo fundamenta-se
basicamente em trazer indagações sobre as várias formas como a Língua Brasileira de
Sinais é vista por grande parte da sociedade, ou seja, questionamentos que ainda são
atuais no cotidiano dos surdos. Ele explica que a língua de sinais não é universal, isto é,
que como pensava-se a pouco tempo atrás, que a forma de se comunicar através da
linguagem de sinais poderia ser utilizada de forma universal, em todo o mundo, para
todas as diversas formas de linguagem/dialetos e culturas, ele esclarece que não, a
língua de sinais não é usada de forma universal, até porque assim como a língua oral,
ela possui uma história, ela possui raízes que atrelado a isso se construiu uma forma de
comunicação entre as pessoas do mesmo país ou região, portanto, a língua de sinais
pode ser apresentada de diferentes formas e gestos, isso depende de qual localidade se
está falando, por exemplo: nos Estados Unidos é falada a língua americana de sinais, no
Japão é falada a língua japonesa de sinais e assim sucessivamente, para cada país há
uma linguagem local de comunicação entre os surdos e os ouvintes que se comunicam
através da linguagem de sinais.
Partindo de outra questão, o autor explana que a língua de sinais não é, de forma
alguma, uma língua artificial, como também já se pensou. A língua de sinais não pode
ser artificial porque ela é natural, como dito à cima, ela evoluiu dentro de um grupo de
surdos inicialmente, tem um contexto em que ela está alicerçada, por isso é um
equívoco dizer que ela surgiu de maneira artificial. Há sim outras formas de linguagem,
tanto oral como de sinais, proposta com a finalidade de estabelecer uma comunicação
internacional por exemplo, ditas como esperanto (língua oral) e gestuno (língua de
sinais), citadas pelo autor. Ele prossegue, pontuando que a linguagem de sinais não é
mímica e muito menos um código secreto entre os surdos, mas que tem gramática e que
existem três formas que ajudam a entender a estrutura gramatical da linguagem de
sinais, sendo a configuração de mão, ponto de articulação e movimento, e ainda a
orientação da palma da mão. A partir disso, fica mais claro perceber os parâmetros que
compõem essa estrutura gramatical.
Um questionamento é abordado em seguida pelo autor, que consiste em saber se a
linguagem de sinais é apenas um alfabeto manual, e ele deixa claro que isso de forma
alguma é possível, pois o alfabeto manual ou também chamado datilologia, é uma forma
de representar as letras do alfabeto oral normal, como também afirma que da mesma
forma como na linguagem oral, se tratando do português, as pessoas falam de um jeito
diferente uma das outras, também é possível que haja essa diversidade na língua de
sinais.
O capítulo dois, inicia com uma questão deveras interessante e de suma importância que
seja esclarecido que o surdo, não deve ser taxado ou chamado de surdo-mudo, ou
mesmo deficiente auditivo, pois o termo correto para se referir a pessoa é unicamente
que ela é surda, e sua linguagem, ou seja, a sua língua mãe, língua a qual ela foi
alfabetizada é a língua de sinais. E é dessa forma que ela se comunica com os ouvintes
ao seu redor, fazendo uso também da leitura labial, que proporciona ainda mais diálogo
e entendimento entre ambas as partes. Outro ponto a se pensar, abordado no livro é se o
intérprete que está auxiliando o surdo na sua comunicação seja visto como a voz do
surdo, embora saibamos que a pessoa surda tem voz, e se ela for oralizada ela consegue
falar normalmente (mesmo sem ouvir) e se comunicar com facilidade, e o autor explana
que de certa forma o ouvinte que interpreta a linguagem de sinais é bastante importante
para o surdo, e conclui dizendo que como não existe ainda a possibilidade de se
qualificar por exemplo, como intérprete, esses ouvintes precisam buscar seus próprios
meios de aprendizado, e assim dar o seu auxílio ao surdo, que tem seu direito
reconhecido por lei. Mas o surdo tem de necessariamente ser oralizado para ser
integrado na sociedade? A resposta é clara, ele não precisa, pois para muitos da
comunidade surda, ser oralizado é sinônimo de negação da sua própria língua. Os
surdos têm a sua identidade e cultura próprias, isso os define e os classifica dentro do
ambiente onde vivem.
Ainda neste mesmo capítulo, o autor enfatiza a leitura labial, esclarece que nem todos os
surdos fazem leitura labial, pois não se trata de uma habilidade propriamente dita, mas
uma disposição que se adquire com treinos árduos e intensos. Vale ressaltar que nem
sempre a leitura labial pode ser utilizada em uma conversa com uma pessoa surda, se
faz necessário então que a lingua de sinais seja um recurso indispensável na
comunicação entre o ouvinte que tem contato com um surdo com frequência.
O capítulo três demonstra que a surdez é um problema muito mais significativo para
ouvintes, pela sua dificuldade em lidar o desconhecido, do que para o surdo. Segundo o
autor, a surdez, se for vista pelo lado cultural, não é uma deficiência, e os próprios
surdos não se consideram deficientes, isso pode ser observado em alguns relatos de
surdos que o livro apresenta, e ver a surdez como deficiência é uma forma violenta e
discriminatória de segregar os surdos em um lugar de inferioridade. A surdez é vista
negativamente pela sociedade por causa do discurso médico de que ela significa um
déficit ou anormalidade, mas essa é uma visão equivocada sobre a surdez, que não é
algo que se encaixa nos diversos padrões preconceituosos da sociedade “normal”.
A surdez é hereditária, em alguns aspectos, como o autor coloca. É uma herança
genética, e como se trata de genes passados de pais para filhos, é um gene que é
expresso recessivamente, logo, ele só é repassado numa condição em que os
progenitores o tenham como sua única herança gênica a ser compartilhada com um
filho. Tendo esse conhecimento prévio sobre as heranças da surdez, partimos para um
breve histórico de como surdos já foram vistos e tratados dentro da sociedade das
pessoas “normais”, um exemplo dado no livro é a época do período pós-guerra, com a
declaração nazista de Hitler que se empenhou em buscar a raça humana “pura”, e
praticava genocídio com as populações que eram indignas na sua concepção, inclusive a
surdez era considerada uma anomalia, portanto, os surdos também eram mortos, por não
se encaixarem no padrão imposto pela sua narrativa violenta e discriminatória. Na
época, os surdos eram proibidos de se comunicarem através da linguagem de sinais e de
conceberem filhos entre si. Na visão dos cientistas nazistas, a transmissão de genes
“defeituosos” era temida por eles, por acreditarem que isso pudesse ser uma
contaminação/degeneração da raça humana. Os reflexos desses pensamentos perduram
até os dias atuais e surgiu um estigma social e psicológico que os surdos carregam até os
dias de hoje.
Para fechar esse capítulo, o autor comenta sobre as mudanças que ocorreram até a
atualidade, e o que se pode esperar para o futuro. Algumas conquistas foram alcançadas
e a esperança para um futuro mais promissor é partilhada entre os que visam por mais
melhorias nas condições de vida para os surdos. É importante ressaltar que ainda há
muito a se fazer para que a realidade surda seja engajada da maneira correta dentro da
sociedade, a começar pela desconstrução da ideia de que o surdo é deficiente.

Texto com base no livro – LIBRAS? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em
torno da língua de sinais e da realidade surda, de Audrei Gesser.

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