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Escola Portuguesa de Luanda

Centro de Ensino de Língua Portuguesa


Teste de Avaliação de Português – 7.º ano 2023/2024

Nome: __________________________________________________n.º _____ Turma: __________

Avaliação: __________________________________ A Professora: __________________________

Grupo I - Leitura / Educação Literária

Lê, atentamente, o texto.


Texto A

Obrigado, Luis Sepúlveda, pelo porto de Hamburgo

Em 1999, o porto de Hamburgo ficava em Ferreira do Zêzere. Na cama do quarto de cima, na casa de
banho, na sala, a um canto do sofá, enquanto os adultos jogavam bridge1: o porto de Hamburgo lavava o
verão com águas que eu, com nove anos, imaginava escuras de crude, atacadas por um mal desconhecido.
E era tal a aflição de acudir àquela gaivota ferida, vinda do alto-mar, que eu dava voltas à casa em busca de
5 algo com que a salvar.
A Teresa, prima do meu pai e melhor amiga da minha mãe, dera-me o livro no dia anterior e eu guardei-
o como um achado, antes de ler a dedicatória: «Para um menino muito especial que bem podia ensinar
gaivotas a voar». Como verdadeira criança, acreditei nesse encantamento: seria capaz de criar uma gaivota
– e, para a Teresa, seria especial. Ainda não sabia que ser criança é ter fé em tais dedicatórias.
10 Mas Zorbas – o gato grande, preto e gordo – tratava de resgatar o ovo por mim.
Enquanto este não eclodia, os meus pais levavam-me pelas margens do Zêzere em busca de lagostins,
cujos rastos de fuga eram uma caça aos gambozinos2. A Joana tinha vinte e poucos anos, nadava no Zêzere
sem medo dos lagostins, e saía da água com tal beleza, com tais movimentos de coisa bem escrita, que a
julgava capaz de dissipar todo o crude do mundo.
15 Regressado a casa, ansioso, percebi que à beleza se responde com beleza. Chamei a Joana a um canto
da sala, anda daí que te quero ao pé de mim, e esperei que ela me olhasse nos olhos para lhe dizer de
surpresa, de mansinho e de coração: «Amo-te.» Acho que ela sorriu, talvez tenha afagado o meu cabelo,
falta-me a memória de um abraço; seja como for, ela sorriu e foi ter com a Teresa, que me disse: «Por
enquanto, quero a minha filha para mim, pode ser?». […]
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Na última noite de leitura, as discussões dos adultos estavam em ponto de rebuçado e a voz da Joana
sonolenta e distante mais e mais. Na página final, a minha barriga caiu em vertigem acompanhando Ditosa,
acabada de empurrar da torre por Zorbas. Mas a gaivota evitou o chão e voou sobre o porto de Hamburgo,
por fim sabendo ser ave. Adormeci pouco depois, certo de que às quedas se seguem os voos.
Hoje, no meu porto de Hamburgo, Sepúlveda ainda escreve, eu ainda digo à Joana «Amo-te», e a Teresa
ainda é viva.
25

Afonso Reis Cabral, «Obrigado, Luis Sepúlveda, pelo porto de Hamburgo», disponível em
https://www.publico.pt/2020/04/16, consultado em julho de 2020 (texto com supressões).

1. bridge: jogo de cartas.


2. gambozinos: algo que não existe.

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Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.
1. Indica se as frases são verdadeiras (V) ou falsas (F).

A. O narrador deste texto é participante.


B. O narrador recorda um episódio da sua juventude.
C. Este texto aborda a obra: História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar.
D. Teresa ofereceu-lhe o livro porque ele era sonhador.
E. A leitura dessa obra não teve impacto no narrador.

2. Assinala com a opção que completa cada frase, de acordo com o sentido do texto.

2.1 Enquanto os adultos jogavam às cartas, o autor…

(A) procurava uma gaivota ferida, em volta da casa.


(B) lia uma obra de Luís Sepúlveda em vários locais da casa.
(C) procurava, em vão, gambozinos nas margens do Zêzere.
(D) buscava, nas águas do Zêzere, os saborosos lagostins.

2.2 Com a expressão “Ainda não sabia que ser criança é ter fé em tais dedicatórias.” (ll.9),
o autor…

(A) confessa a sua ingenuidade, própria de qualquer criança.


(B) mostra o seu orgulho pela confiança que Teresa tem nele.
(C) foi ter a um precipício e imaginou-se a cair lá do alto.
(D) sublinha o encantamento que sentia ao ler.

2.3 A frase “… anda daí que te quero ao pé de mim…” (l.16) corresponde a uma fala…

(A) de Teresa dirigida ao autor.


(B) de Teresa dirigida a Joana.
(C) do autor dirigida a Joana.
(D) de Joana dirigida ao autor.

2.4 Na expressão: “ Na cama do quarto de cima, na casa de banho, na sala, a um canto do sofá,
enquanto os adultos jogavam bridge…” (ll. 1-2) encontramos uma…

(A) adjetivação.
(B) enumeração.
(C) comparação.
(D) metáfora.

3. Indica o referente do pronome “a”, na expressão: “… eu dava voltas à casa em busca de algo com
que a salvar.” (l.5).
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Texto B

Lê o texto com atenção e, de seguida, responde às questões com frases completas:

1 “Era uma ave muito suja. Tinha todo o corpo impregnado de uma substância escura e
malcheirosa.
Zorbas aproximou-se e a gaivota tentou pôr-se de pé arrastando as asas.
─ Não foi uma aterragem muito elegante. ─ miou.
5 ─ Desculpa. Não pude evitar ─ reconheceu a gaivota.
─ Olha lá, tens um aspeto desgraçado. Que é isso que tens no corpo? E que mal cheiras! ─
miou Zorbas.
─ Fui apanhada por uma maré negra. A peste negra. A maldição dos mares. Vou morrer ─
grasnou a gaivota num queixume.
10 ─ Morrer? Não digas isso. Estás cansada e suja. Só isso. Porque é que não voas até ao jardim
zoológico? Não é longe daqui e lá há veterinários que te poderão ajudar ─ miou Zorbas.
─ Não posso. Foi o meu voo final ─ grasnou a gaivota numa voz quase inaudível, e fechou os
olhos.
─ Não morras! Descansa um pouco e verás que recuperas. Tens fome? Trago-te um pouco da
15 minha comida, mas não morras ─ pediu Zorbas, aproximando-se da desfalecida gaivota.
─ Vencendo a repugnância, o gato lambeu-lhe a cabeça. Aquela substância que a cobria, além
do mais, sabia horrivelmente. Ao passar-lhe a língua pelo pescoço notou que a respiração da ave se
tornava cada vez mais fraca.
─ Olha, amiga, quero ajudar-te mas não sei como. Procura descansar enquanto vou pedir
20 conselho sobre o que se deve fazer com uma gaivota doente ─ miou Zorbas, preparando-se para
trepar ao telhado.
Ia a afastar-se na direção do castanheiro quando ouviu a gaivota a chamá-lo.
─ Queres que te deixe um pouco da minha comida? ─ sugeriu ele algo aliviado.
─ Vou pôr um ovo. Com as últimas forças que me restam vou pôr um ovo. Amigo gato, vê-se
25 que és um animal bom e de nobres sentimentos. Por isso, vou pedir-te que me faças três promessas.
Fazes? ─ grasnou ela, sacudindo desajeitadamente as patas numa tentativa falhada de se pôr de pé.
Zorbas pensou que a pobre gaivota estava a delirar e que com um pássaro em estado tão
lastimoso ninguém podia de deixar de ser generoso.
─ Prometo-te o que quiseres. Mas agora descansa ─ miou ele compassivo.
30 ─ Não tenho tempo para descansar. Promete-me que não comes o ovo ─ grasnou ela abrindo
os olhos.
─ Prometo que não como o ovo ─ repetiu Zorbas.
─ Promete-me que cuidas do ovo até nascer a gaivotinha. E promete-me que a ensinas a voar.
─ grasnou ela fitando o gato nos olhos.
35 Então Zorbas achou que aquela infeliz gaivota não só estava a delirar, como estava
completamente louca.
─ Prometo ensiná-la a voar. E agora descansa, que vou em busca de auxílio ─ miou Zorbas
trepando de um salto para o telhado.
Kengah olhou para o céu, agradeceu a todos os bons ventos que a haviam acompanhado e,
justamente ao exalar o último suspiro, um pequeno ovo branco com pintinhas azuis rolou junto ao
seu corpo impregnado de petróleo.”
Luis Sepúlveda, História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar

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1. Kengah foi cair na varanda da casa dos donos de Zorbas.
1.1. Que acontecimento provocou a sua queda?
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1.2. A que se refere o narrador quando fala de uma “substância escura e malcheirosa”
(l.1/2)?
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1.3. Por que motivo estava Zorbas sozinho em casa?


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2. Como reagiu o gato quando se apercebeu do estado da gaivota?


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3. A pensar no salvamento da gaivota, o que lhe sugeriu o gato e porquê?


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4. Refere as promessas que Zorbas fez à gaivota.


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5. Por que razão confiou a gaivota naquele gato desconhecido?


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6. Zorbas pensou que a gaivota “não só estava a delirar”, como também estava “completamente
louca” (l.35/36). Porquê?
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7. Caracteriza o gato Zorbas, tendo em conta este capítulo da obra.


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8. Classifica o narrador quanto à presença. Justifica a tua resposta com elementos do texto.
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Grupo II - Gramática

1. Classifica as orações sublinhadas nas frases seguintes, selecionando a alínea

1.1. O gato criou a gaivotinha e ensinou-a a voar.


a) oração subordinada adverbial causal.
b) oração subordinada adverbial temporal.
c) oração coordenada copulativa.

1.2. Ia a afastar-se na direção do castanheiro quando ouviu a gaivota a chamá-lo.


a) oração subordinada adverbial causal.
b) oração subordinada adverbial temporal.
c) oração coordenada copulativa.

1.3. Kengah fez um enorme esforço, pois queria pôr o seu ovo.
a) oração subordinada adverbial causal.
b) oração coordenada copulativa.
c) oração coordenada explicativa.

5
1.4. Como Zorbas era um animal bom e de nobres sentimentos, Kengah confiava
nele.
a) oração subordinada adverbial causal.
b) oração subordinada adverbial condicional.
c) oração coordenada explicativa.

1.5. A gaivota estava muito mal, logo faleceu pouco tempo depois.

a) oração coordenada explicativa.

b) oração subordinada adverbial condicional.

c) oração coordenada conclusiva.

1.6. Zorbas deixou a gaivota para ir à procura de ajuda.

a) oração subordinada adverbial causal.

b) oração subordinada adverbial condicional.

c) oração subordinada adverbial final.

2. Indica a classe e subclasse das palavras seguintes, conforme o exemplo:


«e» conjunção coordenativa copulativa.
a) «para» _______________________________________________________________

b) «como» ______________________________________________________________

c) «logo» _______________________________________________________________

d) «quando» ____________________________________________________________

e) «pois» _______________________________________________________________

3. Identifica os recursos expressivos presentes nas frases seguintes e refere o seu valor.
a. Tinha todo o corpo impregnado de uma substância escura e malcheirosa.
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b. Kengah foi vítima da maldição dos mares.


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4. Indica a função sintática dos elementos sublinhados.
4.1. “Olha, amiga, quero ajudar-te, mas não sei como.”
a) sujeito simples.
b) predicado.
c) vocativo.

4.2. “Vou pôr um ovo.”


a) complemento direto.
b) complemento oblíquo.
c) sujeito simples.

4.3. “Kengah olhou para o céu…”


a) modificador do grupo verbal.
b) complemento oblíquo.
c) complemento direto.

4.4. “um pequeno ovo branco com pintinhas azuis rolou junto ao seu corpo…”
a) sujeito simples.
b) complemento oblíquo.
c) complemento direto.

4.5. “Fui apanhada por uma maré negra.”


a) complemento direto.
b) complemento agente da passiva.
c) complemento oblíquo.

4.6. “Zorbas, és um animal bom…”


a) complemento direto.
b) predicativo do sujeito.
c) sujeito simples.

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Grupo III - Escrita

“Uma promessa é uma promessa” Concordas com a perspetiva de Zorbas?

Escreve um texto de opinião com um mínimo de 160 e máximo de 200 palavras, no qual
apresentes a tua opinião sobre a importância de se cumprir uma promessa.

O teu texto deve incluir:


• um título;
• a indicação do teu ponto de vista;
• a apresentação de, pelo menos, duas razões que justifiquem a tua posição;
• uma conclusão adequada.

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Bom Trabalho!
A professora, Ana Quelhas

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