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(PUC)
RESUMO
ABSTRACT
O revisor, em seu trabalho, deve estar atento a distinção entre língua escrita e falada,
dentre esta distinção destaca-se à colocação pronominal. De acordo com a gramática
normativa, os pronomes oblíquos átonos (me, te, se, o, os, a, as, lhe, lhes, nos e vos) não
devem iniciar período (Lima, 2010). Contudo, os falantes não aplicam esta regra em sua
fala, dada que a natureza da fala é constituída por uma lógica diferente a da escrita, a
fala se estabelece, em dimensões de estruturação, por vias não rígidas, e sim por um
ordenamento que depende do contexto, para, além disso, a fala é regida por uma lógica
de caráter de escassez, o falante tende a encurtar aquilo que fala. Apesar da justificativa
da regra ser baseada na oralidade, como prova-se pelos termos átono e tônico. Tal
determinação gramatical se baseia no português lusitano e, para eles, faz sentido, porque
tal regra manifesta-se na realidade oral de seu idioma, os pronomes ditos átonos, de
fato, são átonos.
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Percebe-se, então, que o revisor tem de lidar em seu ofício com regras ilógicas,
injustificáveis. Segundo Costa Val, autora do livro “Gramática do Texto, no Texto”, o
docente quando se propõe a ensinar uma regra gramatical para um aluno deve partir do
real para o abstrato, da prática para o conceito. Pois, a regra só existe em função da
realidade. Diante disso, nota-se que o revisor atua com uma regra que não se estabelece
no real, ou seja, na oralidade, mas, apenas, no abstrato, que é a realidade idiomática de
outra nação, Portugal, o que dificulta o seu ofício. Como observa-se no excerto abaixo:
O que estou propondo, portanto, é o abandono da metodologia
que leva a expor um conceito teórico ou uma regra, ilustrar com
alguns exemplos, propor exercícios de fixação e avaliar numa prova
sua memorização. Minha proposta é a inversão desse caminho
tradicional – teoria–exemplo–exercício –, de modo que o trabalho
comece da prática para chegar à teoria, vá do concreto para o
abstrato, parta do que é conhecido pelo aluno para depois lhe
apresentar desafio do desconhecido. (Val, 2002, p. 119)
Ademais, Costa Val afirma que por meio da observação e trabalho com o sistema
linguístico é possível chegar à conclusão de regras gramaticais sem que estas sejam
ensinadas. Mas, a regra de colocação pronominal que proíbe o início da sentença por
pronomes classificados erroneamente como átonos não se materializa na oralidade. O
revisor tem que aplicar uma regra que possui uma justificativa falaciosa em seu
trabalho. Ao revisor não é possível partir da realidade para se chegar à regra, porque a
regra não se manifesta na realidade. Logo, esta regra é ininteligível, segundo o conceito
de inteligência do latim apresentado anteriormente. E, infelizmente, o revisor tem que
aplica-la.
Este squib não propõe que a regra seja revista porque os falantes, por falta de
escolaridade, competência ou instrução, não sabem aplicá-la na escrita. Aqui não há
uma tentativa de nivelar por baixo, e por baixo se refere a mediocridade e não a classe
social. Tampouco se propõe à utopia de fundir fala e escrita. Todavia, se propõe a
reflexão porque a justificativa da regra não se sustenta! Os pronomes ditos átonos pela
gramática normativa da língua portuguesa, reitera-se, são tônicos. Se são tônicos, logo,
podem iniciar sentença.
REFERÊNCIAS
Complexo de vira lata: a síndrome do brasileiro, segundo Nelson Rodrigues. Brasil
Paralelo, fev. 2023. Disponível em:
https://www.brasilparalelo.com.br/artigos/complexo-de-vira-lata-a-sindrome-do-
brasileiro-segundo-nelson-rodrigues. Acesso em: 27 out. 2023.