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O educador espanhol Jorge Larrosa Bondia, em ensaio nomeado “Notas sobre a

experiência e o saber da experiência”3 discute a falta de oportunidades,


contemporaneamente, para que as pessoas tenham experiências significativas. Segue um
excerto desse ensaio, em que Larrosa Bondia fala sobre a natureza humana e sobre o que
seria, efetivamente, uma experiência:

“As palavras determinam nosso pensamento porque não pensamos com pensamentos,
mas com palavras, não pensamos a partir de uma suposta genialidade ou inteligência,
mas a partir de nossas palavras. E pensar não é somente “raciocinar” ou “calcular” ou
“argumentar”, como nos tem sido ensinado algumas vezes, mas é sobretudo dar sentido
ao que somos e ao que nos acontece. E isto, o sentido ou o sem-sentido, é algo que tem a
ver com as palavras. E, portanto, também tem a ver com as palavras o modo como nos
colocamos diante de nós mesmos, diante dos outros e diante do mundo em que vivemos. E
o modo como agimos em relação a tudo isso. Todo mundo sabe que Aristóteles definiu o
homem como zôon lógon échon. A tradução desta expressão, porém, é muito mais
“vivente dotado de palavra” do que “animal dotado de razão” ou “animal racional”. Se há
uma tradução que realmente trai, no pior sentido da palavra, é justamente essa de traduzir
logos por ratio. E a transformação de zôon, vivente, em animal. O homem é um vivente
com palavra. E isto não significa que o homem tenha a palavra ou a linguagem como uma
coisa, ou uma faculdade, ou uma ferramenta, mas que o homem é palavra, que o homem é
enquanto palavra, que todo humano tem a ver com a palavra, se dá em palavra, está
tecido de palavras, que o modo de viver próprio desse vivente, que é o homem, se dá na
palavra e como palavra. (BONDIA, 2002, p. 21).

3
BONDIA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Rev. Bras. Educ., Rio de
Janeiro , n. 19, p. 20-28, Abr. 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1413- 24782002000100003&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 30 abr.2021.

01 Larrosa salienta que Aristóteles definiu o homem como zôon lógon échon – esses são
radicais gregos, que, ao lado de um grande número de prefixos e radicais latinos, também
estão presentes em um conjunto de itens lexicais da língua portuguesa – em especial,
figuram no jargão da Medicina.
Atente para as opções e assinale a afirmativa INCORRETA:
a) Em “zoologia”, temos o radical (zoon) ao lado de “logos” / “logia”, que significa
“estudo de”.
b) Na palavra “diálogo” temos dois elementos gregos – “dia” (por meio de)
e lógon (discurso ou palavra).
c) O radical “ratio”, que se encontra em “raciocinar”, também se verifica nos itens
“racial” e “integração”.
d) O vocábulo “inteligência” vem do latim “intelligere”, que significa inteligir,
compreender e relacionase com “escolher”.

2 Conforme a argumentação do educador espanhol, é CORRETO afirmar:


a) A constituição das ciências, especialmente as Exatas, evidencia que o diferencial
da espécie humana é a capacidade de calcular, de raciocinar e de prever
probabilidades e, portanto, sobre elas intervir.
b) A percepção de tudo o que acontece ao ser humano é mediado pela linguagem,
assim o diferencial desta espécie é ser capaz de pensar sobre o pensamento, sobre
a própria cognição, o que é feito por meio de palavras.
c) Ao dizer que “as palavras determinam nosso pensamento”, Larrosa mostra que há
um certo fatalismo na existência, já que muitas circunstâncias da vida escapam ao
controle do ser humano.
d) O que predomina no ser humano e que o diferencia dos animais não humanos é sua
inteligência científica e matemática, o fato de ser dotado da capacidade de
raciocinar sobre tudo que constitui o meio que o cerca.

Texto base para as questões de 03 a 07


A importância do ato de ler2
Paulo Freire

Continuando neste esforço de “re-ler” momentos fundamentais de experiências de minha


infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crítica da
importância do ato de ler se veio em mim constituindo através de sua prática, retomo o
tempo em que, como aluno do chamado curso ginasial, me experimentei na percepção
crítica dos textos que lia em classe, com a colaboração, até hoje recordada, do meu então
professor de língua portuguesa. Não eram, porém, aqueles momentos puros exercícios de
que resultasse um simples dar-nos conta de uma página escrita diante de nós que devesse
ser cadenciada, mecânica e enfadonhamente “soletrada” e realmente lida. Não eram
aqueles momentos “lições de leitura”, no sentido tradicional desta expressão. Eram
momentos em que os textos se ofereciam à nossa inquieta procura, incluindo a do então
jovem professor José Pessoa.

Algum tempo depois, como professor também de português, nos meus vinte anos, vivi
intensamente a importância de ler e de escrever, no fundo indicotomizáveis, com os
alunos das primeiras séries do então chamado curso ginasial. A regência verbal, a sintaxe
de concordância, o problema da crase, o sinclitismo pronominal, nada disso era reduzido
por mim a tabletes de conhecimentos que devessem ser engolidos pelos estudantes. Tudo
isso, pelo contrário, era proposto à curiosidade dos alunos de maneira dinâmica e viva, no
corpo mesmo de textos, ora de autores que estudávamos, ora deles próprios, como
objetos a serem desvelados e não como algo parado, cujo perfil eu descrevesse. Os alunos
não tinham que memorizar mecanicamente a descrição do objeto, mas apreender a sua
significação profunda. Só apreendendo-a seriam capazes de saber, por isso, de memorizá-
la, de fixá-la. A memorização mecânica da descrição do elo não se constitui em
conhecimento do objeto. Por isso, é que a leitura de um texto, tomado como pura
descrição de um objeto é feita no sentido de memorizá-la, nem é real leitura, nem dela
portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala.

Creio que muito de nossa insistência, enquanto professoras e professores, em que os


estudantes “leiam”, num semestre, um sem-número de capítulos de livros, reside na
compreensão errônea que às vezes temos do ato de ler. Em minha andarilhagem pelo
mundo, não foram poucas as vezes em que jovens estudantes me falaram de sua luta às
voltas com extensas bibliografias a serem muito mais “devoradas" do que realmente lidas
ou estudadas. [...]

A insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem


compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra
escrita. Visão que urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada desde outro ângulo,
que se encontra, por exemplo, em quem escreve, quando identifica a possível qualidade
de seu trabalho, ou não, com a quantidade de páginas escritas. No entanto, um dos
documentos filosóficos mais importantes de que dispomos, As teses sobre Feuerbach, de
Marx, tem apenas duas páginas e meia...
Parece importante, contudo, para evitar uma compreensão errônea do que estou
afirmando, sublinhar que a minha crítica à magicização da palavra não significa, de
maneira alguma, uma posição pouco responsável de minha parte com relação à
necessidade que temos, educadores e educandos, de ler, sempre e seriamente, os
clássicos neste ou naquele campo do saber, de nos adentrarmos nos textos, de criar uma
disciplina intelectual, sem a qual inviabilizamos a nossa prática enquanto professores e
estudantes.

03 Analise o excerto dado e os itens lexicais nele destacados:


A insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem
compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra
escrita. Visão que urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada
desde outro ângulo, que se encontra, por exemplo, em quem escreve, quando identifica a
possível qualidade de seu trabalho, ou não, com a quantidade de páginas escritas.
Sobre esse fragmento, é INCORRETO afirmar:
a) A palavra “outro”, pronome indefinido, refere-se ao substantivo “ângulo”, com ele
concordando em gênero e número.
b) O item “mesmo” (e flexões), segundo a gramática normativa, não deve substituir
pronome pessoal – o correto seria “Ela, ainda que...”.
c) O item lexical “que”, nas duas ocorrências destacadas, é pronome relativo e retoma
o termo “visão”.
d) O pronome possessivo “seu” concorda com o substantivo a que antecede, porém
retoma outro pronome, “quem”, sujeito do verbo “escrever”.

04 Atente para o excerto: Rara tem sido a vez, ao longo de tantos anos de prática
pedagógica, por isso política, em que me tenho permitido a tarefa de abrir, de inaugurar ou
de encerrar encontros ou congressos. Aceitei fazê-la agora, da maneira, porém, menos
formal possível. Aceitei vir aqui para falar um pouco da importância do ato de ler.
Sobre ele, a afirmação CORRETA encontra-se na opção:
a) Com o uso do conectivo “porém”, o autor pretende instaurar ideia de adversidade,
oposição ao explicitado antes.
b) O conectivo “por isso” poderia ser substituído, sem alteração semântica, por “já
que” ou “uma vez que”.
c) O pronome pessoal oblíquo “a”, na forma “fazê-la”, retoma o constituinte “prática
pedagógica, por isso política”.
d) O sintagma nominal “rara” ocupa papel sintático de sujeito, por isso veio
topicalizado, introduzindo o enunciado.

05 Sobre o excerto, é CORRETO afirmar:


a) No sintagma em que se encontra, o pronome adjetivo “tal” poderia ser substituído
por “grande importância”, sem alteração semântica.
b) No último período, a forma que contém o demonstrativo “desta” (de + esta) retoma
“da palavra”, e “daquele” (de + aquele) retoma, corretamente, “do mundo”.
c) Pode-se retomar o antecedente nominal “processo” por “onde”: a forma “processo
onde me inseri”, não afeta o grau de formalidade.
d) Por se tratar de um texto oralizado, não monitorado, começar com “me parece” está
de acordo com as prescrições da gramática normativa.
6 Observe o fragmento destacado e as assertivas feitas sobre ele:
Continuando neste esforço de “re-ler” momentos fundamentais de experiências de minha
infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crítica da
importância do ato de ler se veio em mim constituindo através de sua prática, retomo o
tempo em que, como aluno do chamado curso ginasial, me experimentei na percepção
crítica dos textos que lia em classe, com a colaboração, até hoje recordada, do meu então
professor de língua portuguesa.
Assim como os verbos transitivos demandam complementos, há os substantivos
(abstratos) que demandam complementos (termos simples ou orações). Observe as
afirmações feitas e verifique essas relações no excerto sob análise:
I. O substantivo “compreensão” tem como complemento nominal o sintagma “da
importância do ato de ler”. II. O substantivo “esforço” tem por complemento “de reler
momentos fundamentais de experiências”. III. O substantivo “percepção” é
complementado pelo constituinte “dos textos que lia em classe”. IV. O substantivo
“colaboração” tem por complemento o sintagma “até hoje recordada”.
Verifica-se que estão CORRETAS as afirmativas:
a) I e III, apenas.
b) I, III e IV, apenas.
c) II, III e IV, apenas.
d) I, II, III e IV.

Atente para o excerto (2º parágrafo):


“Me parece indispensável, ao procurar falar de tal importância, dizer algo do momento
mesmo em que me preparava para aqui estar hoje; dizer algo do processo em que me
inseri enquanto ia escrevendo este texto que agora leio, processo que envolvia uma
compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na decodificação pura da palavra
escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do
mundo.”

Atente para o verbete “inteligência”:

Significado de Inteligência
substantivo feminino 1. Faculdade de conhecer, de compreender; intelecto: a inteligência
distingue o homem do animal. 2. Conhecimento profundo em; destreza, habilidade: ter
inteligência para os negócios; cumprir com inteligência uma missão. 3. Habilidade para
entender e solucionar adversidades ou problemas, adaptando-se a circunstâncias novas.
4. Função psíquica que contribui para que uma pessoa consiga entender o mundo, as
coisas e situações, a essência dos fatos. 5. Boa convivência; união de sentimentos: viver
em perfeita inteligência com alguém. 6. Relações secretas; ajuste, conluio: ter
inteligência com o inimigo. Etimologia (origem da palavra inteligência). Do latim
intelligentia.ae, "entendimento".
(Disponível em: https://www.dicio.com.br/inteligencia/. Acesso em: 06 maio 2021)

7 Os sinônimos mais apropriados para a acepção dada por Paulo Freire, em seu texto,
figuram em:

a) 1, 2 e 4
b) 1, 5 e 6
c) 2, 3 e 6
d) 3e5

Considere o trecho inicial do conto "Uns sábados, uns agostos", de Caio Fernando Abreu,
para responder à questão.
Eles vinham aos sábados, sem telefonar. Não lembro desde quando criou-se o hábito
de virem aos sábados, sem telefonar – e de vez em quando isso me irritava, pensando que
se quisesse sair para, por exemplo, passear pelo parque ou tomar uma dessas lanchas de
turismo que fazem excursões pelas ilhas, não poderia porque eles bateriam com as caras
na porta fechada e ficariam ofendidos (eles eram sensíveis) e talvez não voltassem nunca
mais. E como, aos sábados, eu jamais faria coisas como ir ao parque ou andar nessas tais
lanchas que fazem excursões pelas ilhas, era obrigado a esperá-los, trancado em casa.
Certamente os odiava um pouco enquanto não chegavam: um ódio de ter meus sábados
totalmente dependentes deles, que não eram eu, e que não viveriam a minha vida por mim
– embora eu nunca tivesse conseguido aprender como se vive aos sábados, se é que
existe uma maneira específica de atravessá-los.
[...]
E afinal, chovesse ou fizesse sol, sagradamente lá estavam eles, aos sábados.
Naturalmente chovesse-ou-fizesse-sol é apenas isso que se convencionou chamar força de
expressão, já que há muito tempo não fazia sol, talvez por ser agosto − mas de certa
forma é sempre agosto nesta cidade, principalmente aos sábados.
Não é que fossem chatos. Na verdade, eu nunca soube que critérios de julgamento
se pode usar para julgar alguém definitivamente chato, irremediavelmente burro ou
irrecuperavelmente desinteressante. Sempre tive uma dificuldade absurda para arrumar
prateleiras. Acontece que não tínhamos nada em comum, não que isso tenha importância,
mas nossas famílias não se conheciam, então não podíamos falar sobre os meus pais ou
os avós deles, sobre os meus tios ou os seus sobrinhos ou qualquer outra dessas
combinações genealógicas. Também não sabia que tipo de trabalho faziam, se é que
faziam alguma coisa, nem sequer se liam, se estudavam, iam ao cinema, assistiam à
televisão ou com que se ocupavam, enfim, além de me visitar aos sábados.

(Caio Fernando Abreu. Mel e girassóis, 1988. Adaptado.)


08 Considerado o contexto do primeiro parágrafo, o verbo sublinhado indica um
acontecimento habitual, frequente, no passado, na frase:
a) "Eles vinham aos sábados, sem telefonar".
b) "Não lembro desde quando criou-se o hábito de virem aos sábados, sem telefonar".
c) "se quisesse sair para, por exemplo, passear pelo parque".
d) "eu jamais faria coisas como ir ao parque".
e) "como se vive aos sábados".

09 "Isso não significava que as crianças fossem até então desprezadas" (2°
parágrafo)
Se esta frase for transposta para a voz ativa, a locução verbal sublinhada muda para:
a) desprezavam.
b) eram desprezadas.
c) desprezam.
d) seriam desprezadas.
e) desprezassem.
Texto para resolução das questões 8 e 9
Uma tia-avó
Fico abismada de ver de quanta coisa não me lembro. Aliás, não me lembro de nada.
Por exemplo, as férias em que eu ia para uma cidade do interior de Minas, acho que
nem cidade era, era uma rua, e passava por Belo Horizonte, onde tinha uma tia-avó.
Não poderia repetir o rosto dela, sei que muito magra, vestido até o chão, fantasma em
cinzentos, levemente muda, deslizando por corredores de portas muito altas.
O clima da casa era de passado embrulhado em papel de seda amarfanhado, e posto
no canto para que não se atrevesse a voltar à tona. Nem um riso, um barulho de copos
tinindo. Quem estava ali sabia que quanto menos se mexesse menor o perigo de sofrer.
Afinal o mundo era um vale de lágrimas.
A casa dava para a rua, não tinha jardim, a não ser que você se aventurasse a subir
uma escada de cimento, lateral, que te levava aos jardins suspensos da Babilônia.
Nem precisava ser sensível para sentir a secura, a geometria esturricada dos
canteiros sob o céu de anil de Minas. Nada, nem uma flor, só coisas que espetavam e
buxinhos com formatos rígidos e duras palmas e os urubus rodando alto, em cima,
esperando… O quê? Segredos enterrados, medo, sentia eu destrambelhando escada
abaixo.
Na sala, uma cristaleira antiga com um cacho enorme de uvas enroladas em papel
brilhante azul.
Para mim, pareciam uvas de chocolate, recheadas de bebida, mas não tinha coragem
de pedir, estavam lá ano após ano, intocadas. A avó, baixinho, permitia, “Quer, pode
pegar”, com voz neutra, mas eu declinava, doida de desejo.
Das comidas comuns da casa, não me lembro de uma couvinha que fosse, não me
lembro de empregadas, cozinheiras, sala de jantar, nada.
Enfim, Belo Horizonte para mim era uma terra triste, de mulheres desesperadas e
mudas enterradas no tempo, chocolates sedutores e proibidos. Só valia como passagem
para a roça brilhante de sol que me esperava.

Nina Horta, Folha de S. Paulo, 17/07/2013. Adaptado.


10 Tendo em vista o tom de crônica que a colunista imprime a seu artigo, ela se sente
livre para utilizar elementos linguísticos que não se enquadram nas normas da língua
escrita padrão. Dos elementos citados abaixo, o único que NÃO tem essa característica,
isto é, o único que preserva a norma-padrão é o emprego
a) da preposição “em”, no trecho “as férias em que eu ia para uma cidade do interior
de Minas”.
b) do verbo “tinha” em lugar de “havia”, no trecho “onde tinha uma tia-avó”.
c) dos pronomes “você e “te” na mesma frase, tal como ocorre no 5º parágrafo.
d) da palavra “destrambelhado” (6º parágrafo).
e) de uma frase nominal (sem verbo) para constituir o 7º parágrafo.

11 Considerando-se os elementos descritivos presentes no texto, é correto apontar, nele,


o emprego de
a) estruturas sintáticas que reforçam a objetividade das observações da autora.
b) substantivos e adjetivos que expressam afetividade na apresentação do que está
sendo descrito.
c) neutralidade mais acentuada na caracterização das pessoas do que na das coisas.
d) palavras (substantivos, adjetivos e verbos) que destacam traços exteriores das
pessoas, em detrimento da análise de sua interioridade.
e) referências genéricas aos objetos recordados, o que evita atribuir-lhes
particularidades concretas.
UMA MULHER, DA PORTA DE ONDE SAIU O HOMEM,
ANUNCIA-LHE O QUE SE VERÁ

– Compadre José, compadre,


que na relva estais deitado:
conversais e não sabeis
que vosso filho é chegado?
Estais aí conversando
em vossa prosa entretida:
não sabeis que vosso filho
saltou para dentro da vida?
Saltou para dentro da vida
ao dar o primeiro grito;
e estais aí conversando;
pois sabei que ele é nascido.
João Cabral de Melo Neto, Morte e vida severina.

11 Se, no texto, em lugar de “vosso”, fosse usado o pronome “teu” ou “seu”, a


concordância nos quatro primeiros versos estaria correta apenas em:
a) “Compadre José, compadre, / que na relva está deitado: converse e não sabe /
que teu filho é chegado?”
b) Compadre José, compadre, / que na relva estás deitado: conversa e não sabes /
que seu filho é chegado?”
c) Compadre José, compadre, / que na relva estais deitado: converse e não saiba /
que seu filho é chegado?”
d) Compadre José, compadre, / que na relva está deitado: conversas e não saibas /
que teu filho é chegado?”
e) “Compadre José, compadre, / que na relva estás deitado: conversas e não sabes /
que teu filho é chegado?”

Entretanto, a luta mais árdua do negro africano e de seus descendentes brasileiros foi,
ainda é, a conquista de um lugar e de um papel de participante legítimo na sociedade
nacional. Nela se viu incorporado à força. Ajudou a construí-la e, nesse esforço, se anulou,
mas, ao fim, só nela sabia viver, em razão de sua total desafricanização.

A primeira tarefa cultural do negro brasileiro foi a de aprender a falar o português que
ouvia nos berros do capataz. Teve de fazê-lo para comunicarse com seus companheiros de
desterro, oriundos de diferentes povos. Fazendoo, se reumanizou, começando a sair da
condição de bem semovente, mero animal ou força energética para o trabalho.
Conseguindo miraculosamente dominar a nova língua, não só a refez, emprestando
singularidade ao português do Brasil, mas também possibilitou sua difusão por todo o
território, uma vez que nas outras áreas se falava principalmente a língua dos índios, o
tupi-guarani.

Darcy Ribeiro, O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. Adaptado

13 Dentre os pronomes sublinhados nos seguintes trechos do texto, o único que substitui
uma frase e não apenas uma palavra anterior é:
a) “que ouvia nos berros do capataz”.
b) “foi a de aprender a falar o português”.
c) “só nela sabia viver”.
d) “Ajudou a construí-la”.
e) "Teve de fazê-lo para comunicar-se”.

amora
a palavra amora
seria talvez menos doce
e um pouco menos vermelha
se não trouxesse em seu corpo
(como um velado esplendor)
a memória da palavra amor

a palavra amargo
seria talvez mais doce
e um pouco menos acerba
se não trouxesse em seu corpo
(como uma sombra a espreitar)
a memória da palavra amar
Marco Catalão, Sob a face neutra.
14 Tal como se lê no poema,
a) a palavra “amora” é substantivo, e “amargo”, adjetivo.
b) o verbo “amar” ameniza o amargor da palavra “amargo”.
c) o substantivo “corpo” apresenta sentido denotativo.
d) o substantivo “amor” intensifica o dulçor da palavra “amora”.
e) o verbo “amar” e o substantivo “amor” são intercambiáveis.

Leia o trecho extraído de uma notícia veiculada na internet:

“O carro furou o pneu e bateu no meio fio, então eles foram obrigados a parar. O refém
conseguiu acionar a população, que depois pegou dois dos três indivíduos e tentaram
linchar eles. O outro conseguiu fugir, mas foi preso momentos depois por uma viatura do
5º BPM”, afirmou o major.

Disponível em https://www.gp1.com.br/.

15 No português do Brasil, a função sintática do sujeito não possui, necessariamente, uma


natureza de agente, ainda que o verbo esteja na voz ativa, tal como encontrado em:

a) “O carro furou o pneu”.


b) “e bateu no meio fio”.
c) “O refém conseguiu acionar a população”.
d) “tentaram linchar eles”.
e) “afirmou o major”.

Evidentemente, não se pode esperar que Dostoiévski seja traduzido por outro Dostoiévski,
mas desde que o tradutor procure penetrar nas peculiaridades da linguagem primeira,
apliquese com afinco e faça com que sua criatividade orientada pelo original permita,
paradoxalmente, afastarse do texto para ficar mais próximo deste, um passo importante
será dado. Deixando de lado a fidelidade mecânica, frase por frase, tratando o original
como um conjunto de blocos a serem transpostos, e transgredindo sem receio, quando
necessário, as normas do “escrever bem”, o tradutor poderá trazêlo com boa margem de
fidelidade para a língua com a qual está trabalhando.

Boris Schnaiderman, Dostoiévski Prosa Poesia.

16 O prefixo presente na palavra “transpostos” tem o mesmo sentido do prefixo que


ocorre em
a) ultrapassado.
b) retrocedido.
c) infracolocado.
d) percorrido.
e) introvertido.

Examine este cartaz, cuja finalidade é divulgar uma exposição de obras de Pablo Picasso.
17 Nas expressões “Mão erudita” e “Olho selvagem”, que compõem o texto do anúncio, os
adjetivos “erudita” e “selvagem” sugerem que as obras do referido artista conjugam,
respectivamente

a) civilização e barbárie
b) requinte e despojamento
c) modernidade e primitivismo.
d) liberdade e autoritarismo
e) tradição e transgressão

Consideração do Poema chamejante. Me perco em Apollinaire.


Adeus, Maiakovski.
Não rimarei a palavra sono São todos meus irmãos, não são jornais
com a incorrespondente palavra outono. nem deslizar de lancha entre camélias:
Rimarei com a palavra carne é toda a minha vida que joguei.
ou qualquer outra, que todas me convêm
As palavras não nascem amarradas, Estes poemas são meus. É minha terra
elas saltam, se beijam, se dissolvem, e é ainda mais do que ela. E qualquer homem
no céu livre por vezes um desenho, ao meio-dia em qualquer praça. É a lanterna
são puras, largas, autênticas, indevassáveis. em qualquer estalagem, se ainda as há.
– Há mortos? há mercados? há doenças?
Uma pedra no meio do caminho É tudo meu. Ser explosivo, sem fronteiras,
ou apenas um rastro, não importa. por que falsa mesquinhez me rasgaria?
Estes poetas são meus. De todo o orgulho, Que se depositem os beijos na face branca,
de toda a precisão se incorporaram nas principiante rugas.
ao fatal meu lado esquerdo. Furto a Vinicius O beijo ainda é um sinal, perdido embora,
sua mais límpida elegia. Bebo em Murilo. da ausência de comércio,
Que Neruda me dê sua gravata
boiando em tempos sujos.

18 Considere as seguintes afirmações sobre diferentes elementos do texto:

I O verbo “rimarei”, empregado duas vezes no início do texto, pode ser entendido em seu
sentido literal nas duas ocorrências.

II No verso “nem deslizar de lancha entre camélias” (2ª. estrofe), a palavra “deslizar” deve
ser lida como substantivo e não como verbo.

III O pronome que ocorre na frase “se ainda as há” (3ª. estrofe), embora esteja no plural,
relaciona-se, quanto ao sentido, com uma palavra no singular.

Está correto apenas o que se afirma em

a) I
b) II.
c) III.
d) I e II,
e) II e III.
19 Tomando como referência os conhecimentos sobre acentuação gráfica, é correto
afirmar que os vocábulos,
a) “homicídio” e “prêmio” são acentuados por diferentes razões.
b) “país” e “além”, recebem sinal diacrítico, no primeiro caso, porque o “í” faz hiato
com a vogal anterior e forma sílaba com “s”, e, no segundo, porque é oxítona com a
terminação "em".
c) “islâmicos” e “ícone”, por serem trissilábicos, levam, respectivamente, acento
circunflexo e agudo, devido à pronúncia fechada e aberta que possuem.
d) “está” e “também” pertencem ao grupo das palavras cuja tônica é a última sílaba e
todas são assinaladas graficamente.
e) “próprio” e “inabalável” aparecem sinalizados da mesma maneira por se tratar de
proparoxítonos.
– O teu Amigo Pintor foi pro inferno.
Levei um susto tão grande que a fala nem saiu logo. Ela disse:
– Ele se matou. E diz que quem se mata vai pro inferno.
(...)
Empurrei o diabo da garota longe e vim m’embora. (p. 21-23)

A passagem acima indica certa compreensão do suicídio, associada a algumas crenças.


Em relação a tal compreensão, a alternância entre as palavras “inferno” e “diabo” nas
falas dos personagens sugere uma crítica.
20 Essa crítica se constrói por meio da seguinte figura de linguagem:
a) ironia
b) antítese
c) metáfora
d) eufemismo

O coração do meu Tony é uma constelação de cinco pontos. Um pentágono. Eu, Rami, sou
a primeira-dama, a rainha-mãe. Depois vem a Julieta, a enganada, ocupando o posto de
segunda-dama. Segue-se a Luísa, a desejada, no lugar de terceira-dama. A Saly, a
apetecida, é a quarta. Finalmente a Mauá Sualé, a amada, a caçulinha, recém-adquirida .
(cap. 5)
Ruínas de uma família. A Lu, a desejada, partiu para os braços de outro com véu e
grinalda. A Ju, a enganada, está loucamente apaixonada por um velho português cheio de
dinheiro. A Saly, a apetecida, enfeitiçou o padre italiano que até deixou a batina só por
amor a ela. A Mauá, a amada, ama outro alguém. (cap. 43)
A repetição de estruturas nos dois trechos citados aponta para as condições de vida das
mulheres, que passam de uma postura passiva a um comportamento ativo.

21 Essa transformação é marcada pela alternância entre os seguintes elementos:


a) nomeações e marcas de ênfase
b) metáforas “pentágono” e “ruínas”
c) atributos e formas verbais conjugadas
d) ironias “uma constelação” e “uma família”
22 Por ser empregado tanto na linguagem formal quanto na linguagem informal, o termo
“legal” pode ser lido, no contexto da propaganda, respectivamente, nos seguintes
sentidos:

a) lícito e bom.
b) aceito e regulado.
c) requintado e excepcional.
d) viável e interessante.
e) jurídico e autorizado.

Texto para resolução daws questões 23 e 24

Os bens e o sangue
VIII
(...)
Ó filho pobre, e descorçoado*, e finito
ó inapto para as cavalhadas e os trabalhos brutais
com a faca, o formão, o couro... Ó tal como quiséramos
para tristeza nossa e consumação das eras,
para o fim de tudo que foi grande!
Ó desejado,
ó poeta de uma poesia que se furta e se expande
à maneira de um lago de pez** e resíduos letais...
És nosso fim natural e somos teu adubo,
tua explicação e tua mais singela virtude...
Pois carecia que um de nós nos recusasse
para melhor servir-nos. Face a face
te contemplamos, e é teu esse primeiro
e úmido beijo em nossa boca de barro e de sarro.

Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.

Considere o tipo de relação estabelecida pela preposição “para” nos seguintes trechos do
poema:
I. “ó inapto para as cavalhadas e os trabalhos brutais”. II. “Ó tal como quiséramos para
tristeza nossa e consumação das eras”. III. “para o fim de tudo que foi grande”. IV. “para
melhor servir-nos”.
23 A preposição “para” introduz uma oração com ideia de finalidade apenas em
a) I.
b) I e II.
c) III.
d) III e IV.
e) IV.
24 Considere as seguintes afirmações:
I. Os familiares, que falam no poema, ironizam a condição frágil do poeta. II. O
passado é uma maldição da qual o poeta, como revela o título do poema, não consegue se
desvencilhar. III. O trecho “o fim de tudo que foi grande” remete à ruína das oligarquias,
das quais Drummond é tributário. IV. A imagem de uma “poesia que se furta e se
expande/à maneira de um lago de pez e resíduos letais...” sintetiza o pessimismo dos
poemas de Claro enigma.
Estão corretas:
a) I e II, apenas.
b) I, II e III, apenas.
c) II e IV, apenas.
d) I, III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
(...) procurei adivinhar o que se passa na alma duma cachorra. Será que há mesmo
alma em cachorro? Não me importo. O meu bicho morre desejando acordar num mundo
cheio de preás. Exatamente o que todos nós desejamos. A diferença é que eu quero que
eles apareçam antes do sono, e padre Zé Leite pretende que eles nos venham em sonhos,
mas no fundo todos somos como a minha cachorra Baleia e esperamos preás. (...)

Carta de Graciliano Ramos a sua esposa.

(...) Uma angústia apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar as cabras: àquela
hora cheiros de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas.
Felizmente os meninos dormiam na esteira, por baixo do caritó onde sinha Vitória
guardava o cachimbo.
(...)
Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as
mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com
ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás,
gordos, enormes.

Graciliano Ramos, Vidas secas.

25 As declarações de Graciliano Ramos na Carta e o excerto do romance permitem


afirmar que a personagem Baleia, em Vidas secas, representa
a) o conformismo dos sertanejos.
b) os anseios comunitários de justiça social.
c) os desejos incompatíveis com os de Fabiano.
d) a crença em uma vida sobrenatural.
e) o desdém por um mundo melhor.
26 De acordo com Alexandre Eulálio, a protagonista do romance Minha vida de menina
a) vivencia um conflito – uma ideia fortalecida por “a bem dizer” (L. 5).
b) apresenta certo vínculo com o protestantismo – uma ideia sintetizada por “ecos de
uma formação britânica” (L. 7-8).
c) formou-se num meio alheio ao trabalho escravo – um fato referido por “num
ambiente de corte ibérico e católico” (L. 8-9)
d) rejeita as influências do meio em que vive – uma característica revelada por
“precisão e finura notáveis” (L. 14).
e) tem a sua lucidez psicológica abalada pelas ambivalências de sua educação – um
traço reiterado por “equilíbrio mesmo de suas contradições” (L. 17-18).
27 O trecho do romance Minha vida de menina que ilustra de modo mais preciso o que,
para o crítico Alexandre Eulálio, representa “a coexistência íntima de dois mundos
culturais divergentes” é:
a) “Se há uma coisa que me faz muita tristeza é gostar muito de uma pessoa,
pensando que ela é boa e depois ver que é ruim”.
b) “Eu tinha muita inveja de ver meus irmãos montarem no cavalo em pelo, mas agora
estou curada e não montarei nunca mais na minha vida”.
c) “Já refleti muito desde ontem e vi que o único meio de ter vestido é vendendo o
broche. Vou dormir ainda esta noite com isto na cabeça e vou conversar com Nossa
Senhora tudo direitinho”.
d) “Se eu não ouvir missa no domingo, como quando estou na Boa Vista onde não há
igreja e não posso ouvir no Bom Sucesso, fico o dia todo com um prego na
consciência me aferroando”.
e) “Este ano saiu à rua a procissão de Cinzas que há muitos anos não havia. Dizem que
não saía há muito tempo por falta de santos, porque muitos já estavam quebrados”.

Na sétima entro já com grã** canseira,


A certa personagem desvanecida E saio dos quartetos muito brabo.

Um soneto começo em vosso gabo*: Agora nos tercetos que direi?


Contemos esta regra por primeira, Direi que vós, Senhor, a mim me honrais
Já lá vão duas, e esta é a terceira, Gabando‐vos a vós, e eu fico um rei.
Já este quartetinho está no cabo.

Nesta vida um soneto já ditei;


Na quinta torce agora a porca o rabo; Se desta agora escapo, nunca mais:
A sexta vá também desta maneira: Louvado seja Deus, que o acabei.
Gregório de Matos

Tipo zero
Quando você penetra num salão
E se mistura com a multidão
Você é um tipo que não tem tipo Você se torna um tipo destacado
Com todo tipo você se parece Desconfiado todo mundo fica
E sendo um tipo que assimila tanto tipo Que o seu tipo não se classifica
Passou a ser um tipo que ninguém Você passa a ser um tipo desclassificado
esquece
Que fosse um tipo tão observado
Você ficou agora convencido
Eu até hoje nunca vi nenhum Que o seu tipo já está batido
Tipo vulgar tão fora do comum Mas o seu tipo é o tipo do tipo esgotado
Noel Rosa

28 O soneto de Gregório de Matos e o samba de Noel Rosa, embora distantes na forma e


no tempo, aproximam‐se por ironizarem
a) o processo de composição do texto.
b) a própria inferioridade ante o retratado.
c) a singularidade de um caráter nulo.
d) o sublime que se oculta na vulgaridade.
e) a intolerância para com os gênios.

29 Hoje fizeram o enterro de Bela. Todos na Chácara se convenceram de que ela


estava morta, menos eu. Se eu pudesse não deixaria enterrá‐la ainda. Disse isso mesmo a
vovó, mas ela disse que não se pode fazer assim. Bela estava igualzinha à que ela era no
dia em que chegou da Formação, só um pouquinho mais magra.

Todos dizem que o sofrimento da morte é a luta da alma para se largar do corpo. Eu
perguntei a vovó: “Como é que a alma dela saiu sem o menor sofrimento, sem ela fazer
uma caretinha que fosse?”. Vovó disse que tudo isso é mistério, que nunca a gente pode
saber essas coisas com certeza. Uns sofrem muito quando a alma se despega do corpo,
outros morrem de repente sem sofrer.

Helena Morley, Minha Vida de Menina.

(...)
Perguntas No voo que desfere
silente e melancólico,
rumo da eternidade,
Numa incerta hora fria ele apenas responde
perguntei ao fantasma (se acaso é responder
que força nos prendia, a mistérios, somar‐lhes
ele a mim, que presumo um mistério mais alto):
estar livre de tudo Amar, depois de perder.
eu a ele, gasoso,
Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma.

30 As perguntas da menina e do poeta versam sobre a morte. É correto afirmar que


a) ambos guardam uma dimensão transcendente e católica, de origem mineira.
b) ambos ouvem respostas que lhes esclarecem em definitivo as dúvidas existenciais.
c) a menina mostra curiosidade acerca da morte como episódio e o poeta especula o
sentido filosófico da morte.
d) a menina está inquieta por conhecer o destino das almas, enquanto o poeta critica
o ceticismo.
e) as duas respostas reforçam os mistérios da vida ao acolherem crenças populares.
31 Dentre os recursos expressivos empregados no texto, tem papel preponderante
a) metonímia (uso de uma palavra fora do seu contexto semântico normal, com base
na relação de contiguidade existente entre ela e o referente).
b) hipérbole (ênfase expressiva resultante do exagero da significação linguística).
c) alegoria (sequência de metáforas logicamente ordenadas).
d) sinestesia (associação de palavras ou expressões em que ocorre combinação de
sensações diferentes numa só impressão).
e) prosopopeia (atribuição de sentimentos humanos ou de palavras a seres inanimados
ou a animais).
32 No último período do texto, o ritmo que o narrador imprime ao relato de seus
amores corresponde sobretudo ao que se encontra expresso em
a) “prólogo de uma vida de delícias” (L. 1314).
b) “prazeres que rematavam em dor” (L. 1415).
c) “hipocrisia paciente e sistemática” (L. 16).
d) “paixão sem freio” (L. 17).
e) “o livro daquele prólogo” (L. 2122).

Evidentemente, não se pode esperar que Dostoiévski seja traduzido por outro
Dostoiévski, mas desde que o tradutor procure penetrar nas peculiaridades da linguagem
primeira, apliquese com afinco e faça com que sua criatividade orientada pelo original
permita, paradoxalmente, afastarse do texto para ficar mais próximo deste, um passo
importante será dado. Deixando de lado a fidelidade mecânica, frase por frase, tratando o
original como um conjunto de blocos a serem transpostos, e transgredindo sem receio,
quando necessário, as normas do “escrever bem”, o tradutor poderá trazêlo com boa
margem de fidelidade para a língua com a qual está trabalhando.

Boris Schnaiderman, Dostoiévski Prosa Poesia.


33 Tendo em vista que algumas das recomendações do autor, relativas à prática da
tradução, fogem do senso comum, podese qualificálas com o seguinte termo, de uso
relativamente recente
a) dubitativas.
b) contraintuitivas.
c) autocomplacentes.
d) especulativas.
e) aleatórias.
34 De acordo com o texto, a boa tradução precisa
a) evitar a transposição fiel dos conteúdos do texto original.
b) desconsiderar as características da linguagem primeira para poder atingir a língua
de chegada.
c) desviarse da normapadrão tanto da língua original quanto da língua de chegada.
d) privilegiar a inventividade, ainda que em detrimento das peculiaridades do texto
original.
e) buscar, na língua de chegada, soluções que correspondam ao texto original.

Nasceu o dia e expirou.

Já brilha na cabana de Araquém o fogo, companheiro da noite. Correm lentas e


silenciosas no azul do céu, as estrelas, filhas da lua, que esperam a volta da mãe ausente.

Martim se embala docemente; e como a alva rede que vai e vem, sua vontade oscila
de um a outro pensamento. Lá o espera a virgem loura dos castos afetos; aqui lhe sorri a
virgem morena dos ardentes amores.

Iracema recostase langue ao punho da rede; seus olhos negros e fúlgidos, ternos
olhos de sabiá, buscam o estrangeiro, e lhe entram n’alma. O cristão sorri; a virgem
palpita; como o saí, fascinado pela serpente, vai declinando o lascivo talhe, que se
debruça enfim sobre o peito do guerreiro.

José de Alencar, Iracema.

35 No texto, corresponde a uma das convenções com que o Indianismo construía suas
representações do indígena
a) o emprego de sugestões de cunho mitológico compatíveis com o contexto.
b) a caracterização da mulher como um ser dócil e desprovido de vontade própria.
c) a ênfase na efemeridade da vida humana sob os trópicos.
d) o uso de vocabulário primitivo e singelo, de extração oralpopular.
e) a supressão de interdições morais relativas às práticas eróticas.
Carlos Drummond de Andrade.

36 O oxímoro é uma “figura em que se combinam palavras de sentido oposto que parecem
excluir‐se mutuamente, mas que, no contexto, reforçam a expressão” (HOUAISS, 2001).
No poema “Sonetilho do falso Fernando Pessoa”, o emprego dessa figura de linguagem
ocorre em:
a) “Onde morri, existo” (L. 2).
b) “E das peles que visto / muitas há que não vi” (L. 3‐4).
c) “Desisto / de tudo quanto é misto / e que odiei ou senti” (L. 6‐8).
d) deusa que se ri / deste nosso oaristo” (L. 10‐11).
e) “mas não sou eu, nem isto” (L. 14).

Seria difícil encontrar hoje um crítico literário respeitável que gostasse de ser apanhado
defendendo como uma ideia a velha antítese estilo e conteúdo. A esse respeito prevalece
um religioso consenso. Todos estão prontos a reconhecer que estilo e conteúdo são
indissolúveis, que o estilo fortemente individual de cada escritor importante é um
elemento orgânico de sua obra e jamais algo meramente “decorativo”. Na prática da
crítica, entretanto, a velha antítese persiste praticamente inexpugnada.
Susan Sontag. “Do estilo”. Contra a interpretação.

37 Consideradas no contexto, as expressões “religioso consenso”, “orgânico” e


“inexpugnada”, sublinhadas no texto, podem ser substituídas, sem alteração de sentido,
respectivamente, por:
a) místico entendimento; biológico; invencível.
b) piedoso acordo; puro; inesgotável.
c) secular conformidade; natural; incompreensível.
d) fervorosa unanimidade; visceral; insuperada.
e) espiritual ajuste; vital; indomada.
FREIRE, Ricardo. Complicabilizando. Época, ago. 2003.

38 Com base no texto, é correto afirmar:


a) A “campanha nacional” a que se refere o autor tem por objetivo banir da língua
portuguesa os verbos terminados em “ilizar”.
b) O autor considera o emprego de verbos como “reinicializando” (L. 7) e “viabilizar” (L.
13) uma verdadeira “doença”.
c) A maioria dos verbos terminados em “(i)lizar”, presentes no texto, foi incorporada à
língua por influência estrangeira.
d) O autor, no final do primeiro parágrafo, acaba usando involuntariamente os verbos
que ele condena.
e) Os prefixos “des” e “in”, que entram na formação do verbo “desincompatibilizar” (L.
14), têm sentido oposto, por isso o autor o considera um “palavrão”.

Mito, na acepção aqui empregada, não significa mentira, falsidade ou mistificação.


Tomo de empréstimo a formulação de Hans Blumenberg do mito político como um
processo contínuo de trabalho de uma narrativa que responde a uma necessidade prática
de uma sociedade em determinado período. Narrativa simbólica que é, o mito político
coloca em suspenso o problema da verdade. Seu discurso não pretende ter validade
factual, mas também não pode ser percebido como mentira (do contrário, não seria mito).
O mito político confere um sentido às circunstâncias que envolvem os indivíduos: ao fazê‐
los ver sua condição presente como parte de uma história em curso, ajuda a compreender
e suportar o mundo em que vivem.

ENGELKE, Antonio. O anjo redentor. Piauí, ago. 2018, ed. 143, p. 24.

39 De acordo com o texto, o “mito político”


a) prejudica o entendimento do mundo real.
b) necessita da abstração do tempo.
c) depende da verificação da verdade.
d) é uma fantasia desvinculada da realidade.
e) atende a situações concretas.
40 O texto é todo construído por meio do emprego de uma figura de estilo.

Essa figura é denominada de:

a) elipse
b) metáfora
c) metonímia
d) personificação

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