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Total – 50 pontos
Escrita
a) Planificar a escrita de textos a) Planificação
(E12; 10)
b) Escrever textos de diferentes b) Texto de opinião
géneros e finalidades
(E12; 11) c) Redação /
1 item de resposta
c) Redigir textos com coerência textualização Grupo III Item
extensa
e correção linguística 25% único – 50 pontos
(200 a 300 palavras)
(E12; 12) d) Revisão
d) Rever os textos escritos
(E12; 13)
_ Como igualmente se tem visto em outros tempos e lugares, são muitas as contrariedades da
_ vida. Quando Ricardo Reis acordou, manhã alta, sentiu na casa uma presença, talvez não fosse
_ ainda a solidão, era o silêncio, meio-irmão dela. Durante alguns minutos viu fugir-lhe o ânimo
_ como se assistisse ao correr da areia numa ampulheta, fatigadíssima comparação que, apesar
5 de o ser, sempre regressa, um dia a dispensaremos, quando, por termos uma longa vida de
_ duzentos anos, formos nós próprios a ampulheta, atentos à areia que em nós corre, hoje não,
_ que a vida, curta sendo, não dá para contemplações. Mas era de contrariedades que falávamos.
_ Quando Ricardo Reis se levantou e foi à cozinha para acender o esquentador e o bico do gás,
_ descobriu que estava sem fósforos, esquecera-se de os comprar. E como um esquecimento
10 nunca vem só, viu que lhe faltava também o saco de fazer o café, é bem verdade que um
_ homem sozinho não vale nada. A solução mais fácil, por mais próxima, seria ir bater à porta
_ dos vizinhos, o de baixo ou o de cima, Queira desculpar, minha senhora, sou o novo inquilino
_ do segundo andar, mudei-me para cá ontem, agora queria fazer o café, tomar banho, fazer a
_ barba, e estou sem fósforos, também me falta o saco do café, mas isso ainda é o menos, passo
15 sem ele, tenho um pacote de chá, disso não me esqueci, o pior é o banho, se me emprestasse
_ um fósforo, muito obrigado, desculpe ter vindo incomodá-la. Sendo os homens irmãos uns dos
_ outros, ainda que meios, nada mais natural, e nem deveria ter de sair para o frio da escada,
_ vinham aí perguntar-lhe, Precisa de alguma coisa, dei por que se mudou ontem, já se sabe que
_ nas mudanças é assim, se não faltam os fósforos, esqueceu o sal, se veio o sabão, perdeu-se o
20 esfregão para ele, os vizinhos são para as ocasiões. Ricardo Reis não foi pedir socorro, ninguém
_ desceu ou subiu a oferecer préstimos, então não teve mais remédio que vestir-se, calçar-se,
_ pôs um cachecol a esconder a barba crescida, enterrou o chapéu pela cabeça abaixo, irritado
_ por se ter esquecido, ainda mais por ter de sair à rua neste preparo, à procura de fósforos. Foi
_ primeiro à janela, a ver que tempo estava, céu coberto, chuva nenhuma, o Adamastor sozinho,
25 ainda é cedo para virem os velhos a ver os navios, a esta hora estarão em casa a fazer a barba,
_ com água fria, […] Numa carvoaria e taberna da parte baixa do bairro comprou Ricardo Reis os
_ fósforos, meia dúzia de caixas para que o carvoeiro não achasse mesquinho o matinal negócio,
_ pois muito se enganava, que venda assim, por atacado, não se lembrava o homem de ter feito
_ desde que o mundo é mundo, aqui ainda se usa ir pedir lume à vizinha. Animado pelo ar frio,
30 confortado pelo cachecol e pela ausência de pessoas na rua, Ricardo Reis subiu a ver o rio, os
_ montes da outra margem, daqui tão baixos, a esteira do sol sobre as águas, aparecendo e
_ desaparecendo conforme o correr das nuvens baixas. Foi dar a volta à
José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis, Lisboa, Editorial Caminho, 2013, pp. 317 a 319.
1. Explica a referência à «casa» (linha 2) e aos problemas a ela associados com que se deparou Ricardo
Reis.
3. Esclarece a associação de ideias que Ricardo Reis fez a propósito da visita à estátua do Adamastor.
B
Lê o texto.
Luís de Camões, Rimas, texto estabelecido e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005, p. 123.
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1 brincalhão; 2 cantando; 3 «rústico raminho» – ramo de uma árvore do campo; 4 «Estígio lago» – o outro mundo; 5 do mesmo
modo; 6 «Frecheiro cego» – Cupido
5. Refere o motivo pelo qual o sujeito poético «foi ferido» (verso 11).
Lê o texto.
_ Um dia, na aula de Mecânica, parti um ponteiro. O professor ainda não tinha chegado e nós
_ aproveitávamos o tempo para armar o arraial do costume, uns a contar anedotas, outros a atirar
_ aviões ou bolas de papel, outros a jogar às palmadas (magnífico exercício para estimular os
_ reflexos, porquanto o jogador que tem as palmas das mãos para baixo terá de tentar escapar à
5 palmada que o jogador que tem as palmas das mãos para cima vai tentar dar-lhe), e eu, para
_ exemplificar o uso da lança, já não sei a que propósito, talvez por causa de algum filme que
_ tivesse visto, empunhei o ponteiro como se lança fosse e corri para o quadro negro, supos-
_ tamente o inimigo que teria de ser deitado do cavalo abaixo. Calculei mal a distância e o choque
_ foi tal que o ponteiro se partiu em três pedaços na minha mão. O feito foi celebrado com
10 aplausos por alguns, outros calaram-se e olharam-me com aquela expressão única que significa,
_ em todas as línguas do mundo, «Estás bem arranjado», enquanto eu, como se acreditasse na
_ possibilidade de um milagre, procurava ajustar um ao outro os pontos de fratura de dois dos
_ bocados de pau. Como o milagre não se produziu, fui depor os destroços em cima do estrado e
_ nesta operação estava quando o professor entrou. «Que aconteceu?», perguntou. Dei uma
15 explicação atabalhoada («O ponteiro estava no chão e pus-lhe, sem querer, um pé em cima,
_ senhor engenheiro») que ele fez de conta que aceitava. «Já sabes, terás de trazer outro», disse.
_ Assim era e assim teve de ser. O pior é que em casa ninguém pensou em ir a uma loja de artigos
_ escolares e perguntar quanto custava um ponteiro. Partiu-se logo do princípio de que seria
_ demasiado caro e que a melhor solução seria comprar numa serração de madeiras um pau
20 redondo, do mesmo tamanho, em bruto, e trabalhar eu em torná-lo o mais parecido possível
_ com um ponteiro autêntico. E assim foi. Para bem ou para mal, nem meu pai nem minha mãe se
_ meteram no assunto. Durante talvez duas semanas, tardes de sábado e domingos incluídos, de
_ navalha em punho, como um condenado, desbastei, raspei, afilei, lixei e encerei o maldito pau.
_ Valeu-me a experiência ganha na Azinhaga no manejo da ferramenta. A obra não ficou o que se
25 chama uma perfeição, mas foi tomar dignamente o lugar do ponteiro partido, com aprovação
_ administrativa e um sorriso compreensivo do professor. Havia que tomar em consideração que
_ a minha especialidade profissional era a serralharia mecânica, e não a carpintaria...
_ O José Dinis morreu novo. Os anos dourados da infância tinham acabado, cada um de nós teve
_ de ir à sua vida, e um dia, passado tempo, estando eu na Azinhaga, perguntei à tia Maria Elvira:
30 «Que é feito do José Dinis?» E ela, sem mais palavras, respondeu: «O José Dinis morreu.» Éramos
_ assim, feridos por dentro, mas duros por fora. As coisas são o que são, agora se nasce, logo se
_ vive, por fim se morre, não vale a pena dar-lhe mais voltas, o José Dinis veio e passou, choraram-
_ -se umas lágrimas na ocasião, mas o certo é que a gente não pode levar a vida a chorar os
_ mortos. Quero crer que hoje ninguém se lembraria do José Dinis se estas páginas não tivessem
35 sido escritas. Sou eu o único que pode recordar quando subíamos para a grade da ceifeira e, mal
_ equilibrados, percorríamos a seara de ponta a ponta, vendo como as espigas eram cortadas, e
_ cobrindo-nos de pó. Sou eu o único que pode recordar aquela soberba melancia de casca verde-
_ -escura que comemos na borda do Tejo, o meloal dentro do próprio rio, numa daquelas línguas
_ de terra arenosa, às vezes extensas, que o verão deixava a descoberto com a diminuição do
40 caudal. Sou eu o único que pode recordar o ranger da navalha, as talhadas vermelhas com as
_ pevides negras, o castelo (noutros sítios chamam-lhe coração) que se ia formando no meio com
_ os sucessivos cortes (a navalha não alcançava o eixo longitudinal do fruto), o sumo que nos
_ escorria pelo pescoço abaixo, até ao peito. E também sou eu o único que
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José Saramago, As pequenas memórias, Lisboa, Editorial Caminho, 2006, pp. 145 a 148.
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1 hastes do milho; 2 «no eito» – na direção
3. A frase «desbastei, raspei, afilei, lixei e encerei o maldito pau.» (linha 23), concretiza um
exemplo de
(A) gradação.
(B) alegoria.
(C) personificação.
(D) metáfora.
8. Refere o valor temporal do verbo no presente do indicativo, na frase «por fim se morre» (linha
32).
9. Indica a função sintática da palavra destacada em «empunhei o ponteiro como se lança fosse»
(linha 7).
10. Refere a função sintática da oração subordinada presente em «Quero crer que hoje ninguém se
lembraria do José Dinis» (linha 34).
GRUPO III
A amizade é um sentimento fundamental para o ser humano, em geral, e para os adolescentes,
em particular.
Escreve um texto de opinião, no qual demonstres a importância deste sentimento nas relações
entre esses jovens.
O teu texto deve ter entre 200 e 300 palavras e deve estruturar-se nas três secções habituais.
A
Pergunta 1 ............................................................................................................................ 20 pontos
Aspetos de conteúdo (C) .................................................................................................... 12 pontos
Cenário de resposta:
Trata-se da nova residência de Ricardo Reis, que, tendo saído do Hotel Bragança, arrendou esta «casa» e, tendo
dormido nela a primeira noite, ao acordar sentiu a falta de várias coisas que não tivera a previdência de para lá
levar.
Cenário de resposta:
Tendo observado a estátua do Adamastor, Ricardo Reis, por associação de ideias, acaba por pensar no Hino Nacional;
foi levado a isso através da palavra «pátria» (linha 34): esta palavra, bem como a expressão «egrégios avós»,
encontram-se na letra do Hino.
B
Pergunta 4 ........................................................................................................................................ 20 pontos
Aspetos de conteúdo (C) .............................................................................................................. 12 pontos
Refere, de modo não totalmente completo e com pequenas imprecisões, o motivo pelo
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qual o sujeito poético «foi ferido».
Refere, de modo incompleto e com imprecisões, o motivo pelo qual o sujeito poético
3 3
«foi ferido».
Cenário de resposta:
Ele «foi ferido» porque se apaixonou, conforme explica no último terceto.
Pontuação
15 12 9 6 3
Parâmetro
(A) – Trata, sem desvios, o tema – Trata o tema proposto, – Aborda lateralmente o
Tema e proposto. embora com alguns tema proposto.
tipologia – Mobiliza informação desvios. – Mobiliza muito pouca
ampla e diversificada – Mobiliza informação informação relativamente
relativamente à tipologia suficiente, relativamente à à tipologia textual
textual solicitada: produz tipologia textual solicitada: produz um
um discurso coerente e solicitada: produz um discurso geralmente
sem qualquer tipo de discurso globalmente inconsistente e, por vezes,
ambiguidade. coerente, apesar de ininteligível.
algumas ambiguidades.
Pontuação
10 8 6 4 2
Parâmetro
Pontuação
5 4 3 2 1
Parâmetro