Você está na página 1de 4

ESCOLA SECUNDÁRIA

PADRE BENJAMIM SALGADO Classificação


2017/2018
Curso Científico-Humanístico Manuel Seixas
Professor
Línguas e Humanidades

Teste de Avaliação 23/11/17 11.º E Encarregado


/ /
de Educação
Nome: N.º

Observações

Grupo I
A
Lê atentamente o excerto da obra Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett.

1 MARIA — Quereis vós saber, mãe, uma tristeza muito grande que tenho? A mãe já não chora, não? já se não enfada
comigo?
MADALENA — Não me enfado contigo nunca, filha; e nunca me afliges, querida. O que tenho é o cuidado que me
dás, é o receio de que...
5 MARIA — Pois aí está a minha tristeza; é esse cuidado em que vos vejo andar sempre por minha causa. Eu não tenho
nada, e tenho saúde, olhai que tenho muita saúde.
MADALENA — Tens, filha... se Deus quiser, hás de ter; e hás de viver muitos anos para consolação e amparo de teus
pais que tanto te querem.
MARIA — Pois olhai: passo noites inteiras em claro a lidar nisto, e a lembrar-me de quantas palavras vos tenho ouvido,
10 e a meu pai... e a recordar-me da mais pequena ação e gesto, e a pensar em tudo, a ver se descubro o que isto é, o
porque, tendo-me tanto amor... que, oh! isso nunca houve decerto filha querida como eu!...
MADALENA — Não, Maria.
MARIA — Pois sim; tendo-me tanto amor, que nunca houve outro igual, estais sempre num sobressalto comigo?...
MADALENA — Pois se te estremecemos!
15 MARIA — Não é isso, não é isso; é que vos tenho lido nos olhos... Oh, que eu leio nos olhos, leio, leio!... e nas estrelas
do céu também, e sei coisas...
MADALENA — Que estás a dizer, filha, que estás a dizer? que desvarios! Uma menina do teu juízo, temente a Deus...
não te quero ouvir falar assim. Ora vamos: anda cá, Maria, conta-me do teu jardim, das tuas flores. Que flores tens tu
agora? O que são estas? (Pegando nas que ela traz na mão).
20 MARIA (abrindo a mão e deixando-as cair no regaço da mãe) — Murchou tudo... tudo estragado da calma... Estas são
papoulas que fazem dormir; colhi-as para as meter debaixo do meu cabeçal esta noite; quero-a dormir de um sono,
não quero sonhar, que me faz ver coisas... Iindas às vezes, mas tão extraordinárias e confusas...
MADALENA — Sonhar, sonhas tu acordada, filha! Que, olha, Maria, imaginar é sonhar, e Deus pôs-nos neste mundo
para velar e trabalhar, com o pensamento sempre n’ Ele, sim, mas sem nos estranharmos a estas coisas da vida que
25 nos cercam, a estas necessidades que nos impõe o estado, a condição em que nascemos. Vês tu, Maria, tu és a
nossa única filha, todas as esperanças de teu pai são em ti...
MARIA — E não lhas posso realizar, bem sei. Mas que hei de eu fazer? Eu estudo, leio...
MADALENA — Lês de mais, cansas-te, não te distrais como as outras donzelas da tua idade, não és...
MARIA — O que sou... só eu o sei, minha mãe... E não sei, não, não sei nada, senão que o que devia ser não sou...
30 Oh! porque não havia de eu ter um irmão que fosse um galhardo e valente mancebo capaz de comandar os terços de
meu pai, de pegar numa lança daquelas com que os nossos avós corriam a Índia, levando adiante de si turcos e
gentios! Um belo moço que fosse o retrato daquele gentil cavaleiro de Malta que ali está (apontando para o retrato).
Como ele era bonito, meu pai! Como lhe ficava bem o preto... e aquela cruz tão alva em cima! Para que deixou ele o
hábito, minha mãe, porque não ficou naquela santa religião, a vogar em suas nobres galeras por esses mares, e a
35 afugentar os infiéis diante da bandeira da Cruz?
MADALENA — Oh, filha, filha!... (mortificada) porque não foi vontade de Deus, tinha de ser doutro modo. Tomara eu
agora que ele chegasse de Lisboa! Com efeito é muito tardar... Valha-me Deus!
Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, Ato I, cena IV

Página 1 de 4
1. No início do excerto, Maria, revela ter uma grande tristeza.
1.1. Explicita as causas desse sentimento. 20 (12+8) pts

2. Atenta nas falas de Madalena.


2.1. Identifica cinco caraterísticas da linguagem desta personagem, relacionando-as com o
seu estado de espírito. 20 (12+8) pts

3. Com base neste excerto, explicita, justificando, três traços da caraterização psicológica de
Maria. 20 (12+8) pts

Lê o texto seguinte. Em caso de necessidade, consulta o glossário apresentado a seguir ao


texto.

Com os Voadores tenho também uma palavra, e não é pequena a queixa. Dizei-me, Voadores,
não vos fez Deus para peixes? Pois porque vos meteis a ser aves? O mar fê-lo Deus para vós, e o
ar para elas. Contentai-vos com o mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois peixes. Se acaso
vos não conheceis, olhai para as vossas espinhas e para as vossas escamas, e conhecereis que não
sois ave, senão peixe, e ainda entre os peixes não dos melhores. Dir-me-eis, Voador, que vos deu
Deus maiores barbatanas que aos outros do vosso tamanho. Pois porque tivestes maiores
barbatanas, por isso haveis de fazer das barbatanas asas? Mas ainda mal, porque tantas vezes vos
desengana o vosso castigo. Quisestes ser melhor que os outros peixes, e por isso sois mais
mofino que todos. Aos outros peixes do alto, mata-os o anzol ou a fisga, a vós sem fisga nem anzol,
mata-vos a vossa presunção e o vosso capricho. Vai o navio navegando e o Marinheiro dormindo,
e o Voador toca na vela ou na corda, e cai palpitando. Aos outros peixes mata-os a fome e engana-
os a isca, ao Voador mata-o a vaidade de voar, e a sua isca é o vento. Quanto melhor lhe fora
mergulhar por baixo da quilha e viver, que voar por cima das entenas e cair morto.
Padre António Vieira, Sermão de Santo António (aos peixes) e Sermão da Sexagésima,
edição de Margarida Vieira Mendes, Lisboa, Seara Nova, 1978, pp. 102-103

Glossário
entenas (linha 14) – antena, verga fixa a um mastro na qual se prende uma vela triangular ou vela latina.
mofino (linha 9) – infeliz, desgraçado.

3. Caracteriza o tipo humano que o peixe voador simboliza, tendo por base o excerto transcrito.
20 (12+8) pts
4. Explicita as consequências do comportamento do peixe voador, fundamentando a resposta com
citações textuais pertinentes. 20 (12+8) pts

Grupo II

Com base no texto do grupo A, responde aos itens que se seguem

1. Identifica o tipo de coesão assegurada pelo uso das palavras sublinhadas em 15 (3x5) pts

a) «o retrato daquele gentil cavaleiro de Malta que ali está (apontando para o retrato). Como ele era bonito,
meu pai! Como lhe ficava bem o preto». (ll. 32-33);
b) «Que flores tens tu agora?» (l. 18); e «Estas são papoulas que fazem dormir» (ll. 20-21);
c) «E não lhas posso realizar, bem sei. Mas que hei de eu fazer?» (l. 27);

2. Classifica as orações seguintes 10 (2x5) pts


a) «que tanto te querem» (l. 8);
b) «que tenho muita saúde» (l. 6);

Página 2 de 4
3. Indica o referente do pronome relativo «que» em «que nos cercam» (l. 24). 5 pts

4. Identifica a função sintática dos constituintes sublinhados nos trechos seguintes: 20 (4x5) pts
a) «a estas necessidades que nos impõe o estado» (l. 25)
b) «Para que deixou ele o hábito» (l. 34);
c) «que ali está» (l. 12);
d) «me afliges» (l. 3);

Grupo III 50 (30+20) pts

Observa a pintura abaixo reproduzida: “Almoço dos Remadores”, de Renoir (1880-81).


Escreve um texto em que a aprecies criticamente.
O teu texto deverá ter entre 150 e 200 palavras.

Almoço dos Remadores”, de Renoir (1880-81).


Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo
quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra,
independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2014/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – um mínimo de cento e vinte e um máximo de cento e
cinquenta palavras –, há que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a sessenta palavras é classificado com zero pontos.
Página 3 de 4
Página 4 de 4

Você também pode gostar