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Personagens

As personagens intervenientes na acção d' Os Maias são cerca


de 60. Cingimo-nos portanto, às personagens principais e a algumas
personagens tipo que consideramos importantes para o desenrolar da
acção. Sendo as personagens centrais Afonso da Maia; Pedro da
Maia; Carlos da Maia; Maria Eduarda e Maria Monforte. E as
personagens tipo João da Ega; Alencar; Conde de
Gouvarinho; Condessa de Gouvarinho; Craft; Cruges;Dâmaso
Salcede; Eusebiozinho e Sr Guimarães. Passamos agora, às suas
caracterizações:

Personagens centrais:

Afonso da Maia

Caracterização Física

Afonso era baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes. A sua


cara larga, o nariz aquilino e a pele corada. O cabelo era branco,
muito curto e a barba branca e comprida. Como dizia Carlos:
"lembrava um varão esforçado das idas heróicas, um D. Duarte
Meneses ou um Afonso de Albuquerque".

Caracterização Psicológica

Provavelmente o personagem mais simpático do romance e


aquele que o autor mais valorizou. Não se lhe conhecem defeitos. É
um homem de carácter culto e requintado nos gostos. Enquanto
jovem adere aos ideais do Liberalismo e é obrigado, pelo seu pai, a
sair de casa; instala-se em Inglaterra mas, falecido o pai, regressa a
Lisboa para casar com Maria Eduarda Runa.

Mais tarde, dedica a sua vida ao neto Carlos. Já velho passa o


tempo em conversas com os amigos, lendo com o seu gato –
Reverendo Bonifácio – aos pés, opinando sobre a necessidade de
renovação do país. É generoso para com os amigos e os
necessitados. Ama a natureza e o que é pobre e fraco. Tem altos e
firmes princípios morais. Morre de uma apoplexia, quando descobre
os amores incestuosos dos seus netos.

^^topo

Pedro da Maia

Caracterização Física
Era pequenino, face oval de "um trigueiro cálido", olhos belos –
"assemelhavam-no a um belo árabe". Valentia física.

Caracterização Psicológica

Pedro da Maia apresentava um temperamento nervoso, fraco e


de grande instabilidade emocional. Tinha assiduamente crises de
"melancolia negra que o traziam dias e dias, murcho, amarelo, com
as olheiras fundas e já velho". Eça de
Queirós dá grande importância à vinculação desta personagem ao
ramo familiar dos Runa e à sua semelhança psicológica com
estes. Pedro é vítima do meio baixo
lisboeta e de uma educação retrograda. O seu único sentimento vivo
e intenso fora a paixão pela mãe. Apesar da robustez física, é de uma
enorme cobardia moral (como demonstra a reacção do suicídio face à
fuga da mulher). Falha no casamento e falha como homem.

^^topo

Carlos da Maia

Caracterização Física

Carlos era um belo e magnífico rapaz. Era alto, bem


constituído, de ombros largos, olhos negros, pele branca, cabelos
negros e ondulados. Tinha barba fina, castanha escura, pequena e
aguçada no queixo. O bigode era arqueado aos cantos da boca. Como
diz Eça, ele tinha uma fisionomia de "belo cavaleiro da Renascença".

Caracterização Psicológica

Carlos era culto, bem educado, de gostos requintados. Ao


contrário do seu pai, é fruto de uma educação à Inglesa. É corajoso e
frontal. Amigo do seu amigo e generoso. Destaca-se na sua
personalidade o cosmopolitismo, a sensualidade, o gosto pelo luxo, e
diletantismo (incapacidade de se fixar num projecto sério e de o
concretizar). Todavia, apesar da educação, Carlos
fracassou. Não foi devido a esta mas falhou, em parte, por causa do
meio onde se instalou – uma sociedade parasita, ociosa, fútil e sem
estímulos. Mas também devido a aspectos hereditários – a fraqueza e
a cobardia do pai, o egoísmo, o futilidade e o espírito boémio da mãe.
Eça quis personificar em Carlos a idade da sua juventude, a que fez a
Questão Coimbrã e as Conferências do Casino e que acabou no grupo
dos Vencidos da Vida, de que Carlos é um bom exemplo.

^^topo
Maria Eduarda

Caracterização Física

Maria Eduarda era uma bela mulher: alta, loira, bem feita,
sensual mas delicada, "com um passo soberano de deusa", é "flor de
uma civilização superior, faz relevo nesta multidão de mulheres
miudinhas e morenas". Era bastante simples na maneira de vestir,
"divinamente bela, quase sempre de escuro, com um curto decote
onde resplandecia o incomparável esplendor do seu colo"

Caracterização psicológica

Podemos verificar que, ao contrário das outras personagens


femininas Maria Eduarda nunca é criticada, Eça manteve sempre esta
personagem à distância, a fim de possibilitar o desenrolar de um
desfecho dramático (esta personagem cumpre um papel de vítima
passiva). Maria Eduarda é então delineada em poucos traços, o seu
passado é quase desconhecido o que contribui para o aumento e
encanto que a envolve. A sua caracterização é feita
através do contraste entre si e as outras personagens femininas, mas
e ao mesmo tempo, chega-nos através do ponto de vista de Carlos da
Maia, para quem tudo o que viesse de Maria Eduarda era perfeito,
"Maria Eduarda! Era a primeira vez que Carlos ouvia o nome dela; e
pareceu-lhe perfeito, condizendo bem com a sua beleza
serena."
Uma vez descoberta toda a verdade da sua origem,
curiosamente, o seu comportamento mantém-se afastado da crítica
de costumes (o seu papel na intriga amorosa está cumprido), e esta
personagem afasta-se discretamente de "cena".

^^topo

Maria Monforte

Caracterização Física

É extremamente bela e sensual. Tinha os cabelos loiros, "a


testa curta e clássica, o colo ebúrneo".

Caracterização Psicológica

É vítima da literatura romântica e daqui deriva o seu carácter


pobre, excêntrico e excessivo. Costumavam chamar-lhe negreira
porque o seu pai levara, noutros tempos, cargas de negros para o
Brasil, Havana e Nova Orleães. Apaixonou-se por Pedro e casou com
ele. Desse casamento nasceram dois
filhos. Mais tarde foge com o
napolitano, Tancredo, levando consigo a filha, Maria Eduarda, e
abandonando o marido - Pedro da Maia - e o filho - Carlos
Eduardo. Leviana e imoral, é, em parte, a culpada de todas as
desgraças da família Maia. Fê-lo por amor, não por maldade. Morto
Tancredo, num duelo, leva uma vida dissipada e morre quase na
miséria. Deixa um cofre a um conhecido português - o
democrata Sr. Guimarães - com documentos que poderiam identificar
a filha a quem nunca revelou as origens.

^^topo

Personagens Tipo:

João da Ega

Caracterização Física

Ega usava "um vidro entalado no olho", tinha "nariz adunco,


pescoço esganiçado, punhos tísicos, pernas de cegonha". Era o
autêntico retrato de Eça.

Caracterização Psicológica

João da Ega é a projecção literária de Eça de Queirós. É uma


personagem contraditória. Por um lado, romântico e sentimental, por
outro, progressista e crítico, sarcástico do Portugal Constitucional. Era
o Mefistófeles de Celorico. Amigo íntimo de Carlos desde os tempos
de Coimbra, onde se formara em Direito (muito lentamente). A mãe
era uma rica viúva e beata que vivia ao pé de Celorico de Bastos,
com a filha. Boémio, excêntrico, exagerado, caricatural,
anarquista sem Deus e sem moral. É leal com os amigos. Sofre
também de diletantismo, concebe grandes projectos literários que
nunca chega a executar. Terminado o curso, vem viver para Lisboa e
torna-se amigo inseparável de Carlos. Como Carlos, também ele teve
a sua grande paixão - Raquel Cohen. Ega, um falhado,
corrompido pela sociedade, encarna a figura defensora dos valores da
escola realista por oposição à romântica. Na prática, revela-se em
eterno romântico. Nos últimos capítulos ocupa um papel de grande
relevo no desenrolar da intriga. É a ele que o Sr. Guimarães entrega
o cofre. É juntamente com ele, que Carlos revela a verdade a Afonso.
É ele que diz a verdade a Maria Eduarda e a acompanha quando esta
parte para Paris definitivamente.
^^topo

Conde de Gouvarinho

Caracterização Física

Era ministro e par do Reino. Tinha um bigode encerado e uma


pêra curta.

Caracterização Psicológica

Era voltado para o passado. Tem lapsos de memória e revela


uma enorme falta de cultura. Não compreende a ironia sarcástica de
Ega. Representa a incompetência do poder político (principalmente
dos altos
cargos). Fala de
um modo depreciativo das mulheres. Revelar-se-á, mais tarde, um
bruto com a sua mulher.

^^topo

Condessa de Gouvarinho

Caracterização Física

Cabelos crespos e ruivos, nariz petulante, olhos escuros e


brilhantes, bem feita, pele clara, fina e doce; é casada com o conde
de Gouvarinho e é filha de um comerciante inglês do Porto.

Caracterização Psicológica

É imoral e sem escrúpulos. Traí o marido, com Carlos, sem


qualquer tipo de remorsos. Questões de dinheiro e a mediocridade do
conde fazem com que o casal se desentenda. Envolve-se com
Carlos e revela-se apaixonada e impetuosa. Carlos deixa-a, acaba por
perceber que ela é uma mulher sem qualquer interesse, demasiado
fútil.

^^topo

Dâmaso Salcede
Caracterização Física

Era baixo, gordo, "frisado como um noivo de província". Era


sobrinho de Guimarães. A ele e ao tio se devem, respectivamente, o
início e o fim dos amores de Carlos com Maria Eduarda.

Caracterização Psicológica

Dâmaso é uma súmula de defeitos. Filho de um agiota, é


presumido, cobarde e sem dignidade. É dele a carta anónima enviada
a Castro Gomes, que revela o envolvimento de Maria Eduarda com
Carlos. É dele também, a notícia contra Carlos n' A Corneta do Diabo.
Mesquinho e convencido, provinciano e tacanho, tem uma única
preocupação na vida o "chic a
valer". Representa o novo riquismo e os vícios
da Lisboa da segunda metade do séc. XIX. O seu carácter é tão
baixo, que se retracta, a si próprio, como um bêbado, só para evitar
bater-se em duelo com Carlos.

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Sr. Guimarães

Caracterização Física
Usava largas barbas e um grande chapéu de abas à moda de
1830.

Caracterização Psicológica

Conheceu a mãe de Maria Eduarda, que lhe confiou um cofre


contendo documentos que identificavam a filha. Guimarães é,
portanto, o mensageiro da trágica verdade que destruirá a felicidade
de Carlos e de Maria Eduarda.

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Alencar

Caracterização Física
Tomás de Alencar era "muito alto, com uma face encaveirada,
olhos encovados, e sob o nariz aquilino, longos, espessos, românticos
bigodes grisalhos".

Caracterização Psicológica

Era calvo, em toda a sua pessoa "havia alguma coisa de


antiquado, de artificial e de lúgubre". Simboliza o romantismo piegas.
O paladino da moral. Era também o companheiro e amigo de Pedro
da Maia. Eça serve-se desta personagens para construir discussões
de escola, entre naturalistas e românticos, numa versão caricatural
da Questão Coimbrã. Não tem defeitos e possui um coração grande e
generoso. É o poeta do ultra-
romantismo.

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Cruges

Caracterização Física

"De grenha crespa que lhe ondulava até à gola do jaquetão",


"olhinhos piscos" e nariz espetado.

Caracterização Psicológica

Maestro e pianista patético, era amigo de Carlos e íntimo do


Ramalhete. Era demasiado chegado à sua velha mãe. Segundo Eça,
"um diabo adoidado, maestro, pianista com uma pontinha de
génio". É desmotivado devido ao meio lisboeta - "Se eu fizesse uma
boa ópera, quem é que ma representava".

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Craft

É uma personagem com pouca importância para o desenrolar da


acção, mas que representa a formação britânica, o protótipo do que
deve ser um homem. Defende a arte pela arte,
a arte como idealização do que há de melhor na natureza. É
culto e forte, de hábitos rígidos, "sentindo finamente, pensando com
rectidão". Inglês rico e boémio, coleccionador de "bric-a-brac".

^^topo
Eusebiozinho

Eusebiozinho representa a educação retrógrada


portuguesa. Também conhecido por Silveirinha, era o primogénito
de uma das Silveiras - senhoras ricas e beatas. Amigo de infância de
Carlos com quem brincava em Santa Olávia, levando pancada
continuamente, e com quem contrastava na educação. Cresceu tísico,
molengão, tristonho e corrupto. Casou-se, mas enviuvou cedo.
Procurava, para se distrair, bordéis ou aventureiras de ocasião pagas
à hora.
Personagens

Caetano da Maia é o pai de Afonso. Miguelista convicto e antijacobino ferrenho, dominado pelos
valores tradicionais e conservadores, não perdoa ao filho as aventuras contestatárias da mocidade e
expulsa-o de casa, desterrando-o para Santa Olávia. Esperava que o jovem ganhasse juízo, o que
aconteceu e Afonso, depois de perdoado, regressa a Lisboa e parte para Inglaterra, abandonando os
seus correligionários de lides políticas à intervenção militante e activa, enquanto ele vai assistindo às
corridas de Epson.
Afonso da Maia é filho de Caetano, conservador, na sua juventude defendeu valores opostos aos
de seu pai, convicções essas inconsistentes e que revelam um grande egoísmo. Ávido na leitura, prefere
Tácito e Rabelais, tendo já apreciado Rousseau, Volney, Helvetius e a Enciclopédia. Casa com Maria
Eduarda Runa e, durante as lutas liberais, vê o seu domicílio invadido pelos miguelistas, assim, sentindo-
se ultrajado exila-se em Inglaterra com a mulher e o filho, Pedro, tomando contacto com a sociedade e
culturas britânicas. A sua vida em Inglaterra fica marcada pelo inconformismo da mulher que, amante do
sol, estranha o tempo, definhando e se entrega à religião beata e incondicionalmente, o que faz Afonso
regressar. Contra o fanatismo e a ignorância da mulher nada consegue fazer. Após a morte da mulher e
do filho regressa a Santa Olávia e aí tentará dar uma educação diferente ao neto que lhe foi entregue pelo
filho, do que a educação que permitiu que a mulher ministrasse ao filho. Representante do liberalismo,
simboliza a integridade moral e a rectidão de carácter. O seu sentido de moralidade nada tem a ver com o
medo da divindade, mas com o respeito pelos homens. É rígido, puro, austero, puritano, sereno e risonho.
Ama o progresso fruto de um esforço sério; é generoso para com os amigos e os necessitados, o que o
faz também amar a natureza e o que é pobre e fraco. Orna com requinte os seus palácios. Crítico em
relação à forma de estar na vida de Carlos e até de Ega, contesta a sua inactividade e o seu diletantismo,
incitando-os à acção. Contudo, não existe por parte de Afonso, patriota na forma e na essência, qualquer
iniciativa para curar os males do país, sendo também ele um pouco diletante. Como ele próprio
reconhece, não é “um varão esforçado das idades heróicas” mas somente “um antepassado bonacheirão
que amava os seus livros, o conchego da sua poltrona, o seu whist ao canto do fogão”. Não é mais do
que a representação de um eco e um reflexo do passado glorioso, incarnado apenas os valores de
outrora; revela-se incapaz de se adaptar às mudanças que se avizinham. Representa o português íntegro,
associado a um passado nacional heróico, mas cuja vitalidade se esgotou nesse mesmo tempo.
Simboliza a incapacidade de regeneração do país, que vive na ilusão desse tempo áureo, alimentando-se
dessa imagem perdida. Irá desiludir-se com a corrente liberal e ansiar por uma aristocracia Tory para
repor a ordem, o progresso e a moral, moral essa que lhe é tão querida lhe há-de custar a vida ao saber
do incesto dos netos. Morre de apoplexia, no Ramalhete, casa tão funesta aos Maias, envolto em tristeza
por saber do incesto dos netos. É o personagem mais simpático e aquele que Eça mais valorizou, pelos
que os seus defeitos são registados com indulgente simpatia, surgindo em contraste com algumas
qualidades dos mais novos; é ainda um modelo de autodomínio, e tal como o neto individualista.
Fisicamente é maciço, não muito alto, de ombros quadrados e fortes, de cara larga, nariz aquilino e pele
corada, cabelo branco muito curto e barba comprida também branca.
Maria Eduarda Runa, uma verdadeira lisboeta, era pequenina e trigueira, pálida, magra e
melancólica. Extremamente devota, era uma mulher triste. Influenciou a educação deformada do filho.
Pedro da Maia vai ser objecto de uma caracterização naturalista. Herdou da mãe o seu
temperamento nervoso, as suas crises de melancolia, os seus sentimentos exagerados e a sua
instabilidade emocional. Desenvolvera-se lentamente, sem curiosidades, indiferente a brinquedos,
animais, flores e livros. Educado pelo padre Vasques, a quem tomara birra devido ao ensino tradicional e
retrógrado deste, nunca foi capaz de lhe desobedecer. Sente um amor quase doentio pela mãe, pelo que
quando esta morre mergulha num estado próximo da loucura, mas, quando reage adopta uma vida
devassa e vulgar, a qual abandona pouco depois, regressando à sua vida soturna e a ler livros religiosos.
Deixou-se encadear por um amor à primeira vista que o conduziu a um casamento, de estilo romântico,
com Maria Monforte. Este enlace precipitado levá-lo-ia mais tarde ao suicídio – após a fuga da mulher –
por carecer de sólidos princípios morais (a religião que a mãe lhe transmitiu era feita de sentimentalismos
vagos) e de força de vontade que o deveriam levar à aceitação da realidade e à superação daquele
contratempo. Fisicamente é pequeno, de rosto oval, tem os bonitos olhos dos Maias, mas é murcho,
amarelo e tem grandes olheiras, tendo um corpo frágil capaz de reflectir a fragilidade da alma,
extremamente sensível e melancólica. Aproxima-se do físico dos Runas, contrapondo-se ao físico dos
Maias. É o protótipo do herói romântico, é ainda uma personagem-tipo.
Maria Monforte é filha de Manuel Monforte, e é conhecida em Lisboa por “a negreira”, alcunha
ligada à forma como o seu pai enriqueceu, transportando escravos. Deslumbrará Pedro com a sua beleza
(alta, cabelos loiros, de um oiro fulvo, testa curta e clássica, olhos azuis e carnação de mármore,
comparável às deusas) e contra a vontade de Afonso casar-se-á com ele. Viaja com Pedro pela Itália e
pela França, de regresso a Portugal, o casal vai viver para Arroios, onde iniciam uma intensa vida social.
Salienta-se o seu gosto pelo luxo e a sua capacidade de se fazer admirar: os amigos de Pedro
idolatravam-na e Alencar sentia por ela uma paixão platónica. A instabilidade instala-se quando Pedro
recolhe, em sua casa, Tancredo a quem ferira involuntariamente num acidente de caça. Mulher volúvel e
insatisfeita, abandona Pedro fugindo com Tancredo e levando consigo a primeira filha do casal, Maria
Eduarda. Radicam-se em Viena e Manuel Monforte vai suportando a vida caprichosa de ambos; partem
para o Mónaco onde Tancredo morre num duelo e, Manuel Monforte, já totalmente arruinado, morre
também. Sem meios de subsistência parte para Londres e mais tarde para Paris, deixando a filha num
convento em Tours e indo viajar pela Alemanha, Terra Santa e Oriente, até se fixar definitivamente em
Paris onde abrirá uma casa de jogo e posteriormente uma segunda, na qual Maria Eduarda conhecerá o
seu primeiro amante, um irlandês, Mac Green, do qual terá Rosa. Após a guerra franco-prussiano em que
Mac Green morre, muda-se para Londres com a filha e a neta. Antes de morrer confia a uma velho amigo,
Guimarães, o cofre com o documentos que comprovam a verdadeira identidade de Maria Eduarda, a
quem nunca confessara a verdade sobre a sua origem. É descrita em quatro adjectivos “pobre, formosa,
doida, excessiva”, sendo que pobre só na fase final da vida. É o protótipo da cortesã: leviana e amora,
sem preocupações culturais ou sociais; tem uma personalidade fútil mas fria, caprichosa, cruel e
interesseira. É nela que radicam todas as desgraças da família Maia, mas não faz o mal por maldade,
mas antes por paixão. É uma personagem-tipo.
Carlos da Maia é o protagonista, segundo filho de Pedro e Maria Monforte. Após o suicídio do pai
vai viver com o avô para Santa Olávia, sendo educado à inglesa pelo preceptor, o inglês Brown. Sairá de
Santa Olávia para tirar Medicina em Coimbra. Descrito como um belo jovem da Renascença com olhos
negros e líquidos próprios dos Maias, alto, bem feito, de ombros largos, com uma testa de mármore sob
os anéis dos cabelos pretos, barba muito fina, castanho escura, rente na face, aguçada no queixo e com
um bonito bigode arqueado aos cantos da boca, era admirado pelas mulheres, elegante na sua toilette e
nos carros que guia. Durante o seu período de estudos experimenta um interlúdio amoroso com
Hermengarda, que abandona por sentir compaixão do marido e do filho, e mais tarde com uma prostituta
espanhola. Depois do curso acabado, viaja pela Europa, indo visitar os Lagos escoceses com Mme.
Rughel, uma holandesa separada. Regressando a Lisboa traz planos grandiosos de pesquisa e curas
médicas, que abandona ao sucumbir à inactividade, pois, em Portugal, um aristocrata da sua estirpe não
é suposto ser médico, e, ainda porque por ser um belo jovem desencadeava a desconfiança dos maridos
que não lhe queriam confiar as mulheres enfermas. Apesar do entusiasmo e das boas intenções fica sem
qualquer ocupação e acaba por ser absorvido por uma vida social e amorosa que levará ao fracasso das
suas capacidades e à perda das suas motivações. É um diletante que se interessa por imensas coisas,
demonstrando um comportamento dispersivo. Carlos transforma-se numa vítima da hereditariedade
(visível na sua beleza e no seu gosto exagerado pelo luxo, herdados da mãe e pela tendência para o
sentimentalismo, herdada do pai) e do meio em que se insere, mesmo apesar da sua educação à inglesa
e da sua cultura, que o tornam superior ao contexto sociocultural português, revelando-se um gentleman.
Será absorvido pela inércia do país, assumirá o culto da imagem, numa atitude de dândi. A sua
superioridade e distância em relação ao meio lisboeta é traduzida pela ironia e pela condescendência. O
dandismo revela-se em Carlos num narcisismo que se alia ao gosto exagerado pelo luxo e também na
auto-marginalização voluntária em relação à sociedade, motivada pelo cepticismo e pela consciência do
absurdo e do vazio que governa o mundo daqueles que o rodeiam. A Condessa de Gouvarinho surge
como o primeiro fio da teia que irá aprisionar Carlos, ao se entregar a ele em busca de uma aventura que
apimentasse o seu casamento. Carlos entregar-se-á ao prazer sensual do qual se entedia. A sua
verdadeira paixão nascerá em relação a Maria Eduarda, que compara a uma deusa e jamais esquecerá.
Por ela dispõe-se a renunciar a preconceitos e a colocar o amor no primeiro plano. Ao saber da
verdadeira identidade de Maria Eduarda consumará o incesto voluntariamente por não ser capaz de
resistir à intensa atracção que Maria Eduarda exerce sobre ele. Acaba por assumir que falhou na vida, tal
como Ega, pois a ociosidade dos portugueses acabaria por contagiá-lo, levando-o a viver para a
satisfação do prazer dos sentidos e a renunciar ao trabalho e às ideias pragmáticas que o dominavam
quando chegou a Lisboa, vindo do estrangeiro. Simboliza a incapacidade de regeneração do país a que
se propusera a própria Geração de 70. Não teme o esforço físico, é corajoso e frontal, amigo do seu
amigo, parece incapaz de fazer uma canalhice. No final da obra afirma-se partidário do “fatalismo
muçulmano”, ou seja, “nada desejar e nada recear... não se abandonar a uma esperança, nem a um
desapontamento.” Eça terá querido personificar em Carlos o ideal da sua juventude, a que fez a Questão
Coimbrã e as Conferências do Casino, e que acabou no grupo dos Vencidos da Vida, de que Carlos é um
bom exemplo. É uma personagem modelada.
Maria Eduarda é apresentada como uma deusa (Juno), completa e talvez demasiado idealizada.
Ignorando a sua verdadeira identidade, entra na sociedade lisboeta pela mão de Castro Gomes, com
quem partilhava a sua vida, havia três anos. Dizendo-se viúva de Mac Green, sabia apenas que a sua
mãe abandonara Lisboa, levando-a consigo para Viena, quando contava apenas um ano e meio de idade.
Da sua união com Mac Green, que durara quatro anos, tivera uma filha, Rosa, a quem amava com
desvelo e por quem sacrifica a sua felicidade aliando-se a Castro Gomes a fim de lhe dar estabilidade
económica. Mónaco, Londres e Paris foram cidades onde viveu antes de vir para Lisboa, onde se dá o
infortunado encontro com Carlos que consuma a desgraça predita por Vilaça, quando Afonso resolve
habitar de novo o Ramalhete, ignorando as suas lendas e agouros. À sua perfeição física alia-se a faceta
moral e social que tanto deslumbram Carlos. A sua dignidade, a sensatez, o equilíbrio e a santidade são
características fundamentais da sua personagem, às quais se juntam uma forte consciência moral e social
aliadas a uma ideologia progressista e pragmática, fazendo ressaltar a sua dualidade aristocrática e
burguesa. Salienta-se ainda a sua faceta humanitária e a compaixão pelos socialmente desfavorecidos,
motivando a comparação que Carlos entre ela e o avô. A súbita revelação da verdadeira identidade da
sua deusa vai provocar em Carlos estupefacção e compaixão, posteriormente o incesto consciente, e
depois deste a repugnância. A separação é a única solução para esta situação caótica a que se junta a
morte de Afonso, consumando as predições de Vilaça. A sua apresentação cumpre os modelos realista e
naturalista, é o exemplo acabado de que o indivíduo é um produto do meio, pelo que coincidem no seu
carácter e no espaço físico que ela ocupa duas vertentes distintas da sua educação: a dimensão culta e
moral, construída aquando da sua estadia e educação num convento, e a sua faceta demasiado vulgar,
absorvida durante o convívio com sua mãe, proprietária de uma casa de jogo onde toma contacto com
uma realidade sórdida que se manifesta na jóia de cocotte e no “Manual de Interpretação dos Sonhos”.
Ela é o último elemento feminino da família Maia e simboliza, tal como as outras mulheres da família, a
desgraça e a fatalidade, assim, em vez de significar fecundidade criadora, a mulher é na obra um
elemento estéril. É a terceira figura feminina na panóplia de três gerações da família Maia apresentadas
na obra. Simbolicamente o número três é o número da completude e implica a conjugação de três
momentos temporais: o passado, o presente e o futuro, ou seja a mulher surge na obra como um factor
de transformação do mundo masculino, conduzindo à esterilidade e à estagnação; o terceiro elemento
feminino torna-se a revelação simbólica dos outros que foram nefastos à família. Eça não lhe estuda
muito o carácter, mas o que transparece é bom: sem defeitos, a não ser os que a vida nela marcou. É de
uma enorme dignidade, principalmente quando não quer gastar o dinheiro de Castro Gomes por estar
ligada a Carlos. Adivinha-se bondosa e terna, culta e requintada no gosto. Talvez seja a figura feminina
que mais na obra, pela dignidade que assume e a tragédia que a atinge. No final da obra, parte para Paris
onde mais tarde de saca com Mr. de Trelain, casamento considerado por Carlos o de dois seres
desiludidos. É uma personagem-tipo.
Ega, filho de uma viúva rica e beata de Celorico de Basto, escandalizava e chocava esse
pequeno meio com o seu espírito sacrílego. Amigo inseparável de Carlos, que conhece em Coimbra,
onde se licenciou em Direito, fala por ele, sofre por ele, aprecia em Carlos as qualidades a que ele lhe
faltam; comparsa no drama de Carlos, seu confidente, sua consciência, seu companheiro nas angústias e
nos prazeres. Alter-ego de Eça, que ao nível físico brinca com a sua magreza, com o seu monóculo e
com o bigode arrebitado, e ao nível intelectual revela a sua dualidade romântica e regeneradora.
Partidário do Naturalismo opõe-se ao poeta ultra-romântico, Alencar. Embora defensor dos valores
realistas, revela-se um romântico, no pior sentido, incapaz de fazer fosse o que fosse. Irreverente,
revolucionário, boémio, excêntrico, exagerado, caricatural, provocador, cínico, sarcástico, crítico,
anarquista sem moral e sem Deus, satânico, positivista e romântico, um pobre diabo apaixonado, que
interpretará o mensageiro funesto dos amores incestuosos de Carlos e Maria Eduarda, ao tornar-se
depositário das missivas e dos papéis que confirmam os laços de sangue entre ambos. Assume-se como
um dândi, mas também como um literato falhado, começa a escrever “Memórias de um Átomo”, história
das grandes fases da Humanidade e do Universo, “O Lodaçal” para se vingar de Cohen, mas nunca os
acaba, mostra ainda vontade de escrever “As Jornadas da Ásia”, não chegando sequer a iniciá-lo, bem
como uma revista que revolucionasse o ambiente cultural português; o intelectual das grandes ideias, das
revoluções facínoras, das grandes alterações sociais, porém nada faz, vivendo num amplo parasitismo,
refugiando-se por detrás de Carlos. Cultiva a sua própria imagem, excêntrica e exuberante, o que se
evidencia na decoração da Vila Balzac. Saliente-se ainda a sua faceta sensual. O seu discurso demolidor
serve a Eça para atingir as instituições e os valores que pretendia denunciar. Permitiu a Eça escrever as
passagens mais hilariantes da obra. No final da obra assume grande importância na intriga por ser o
depositário da carta reveladora da identidade de Maria Eduarda. É uma personagem modelada pois tem
densidade psicológica, evidenciada ao tecer considerações sobre a situação incestuosa de Carlos e Maria
Eduarda. Fisicamente pouco se sabe, tem um nariz adunco.
Alencar é o poeta romântico à portuguesa que exerce grande influência na geração de Pedro,
aconselhando a Maria Monforte o tipo de novelas a ler. É o autor de “Vozes d’Aurora”, “Elvira” e “Flor de
Martírio”. Era frequentador assíduo das soirées de Arroios. Identificado com os valores do romantismo
hiper-sentimental, tem uma paixão literária por Maria Monforte. É caricato e exagerado e denuncia uma
feição sentimental e pessimista do ultra-romantismo. Tem uma atitude poética declamatória e teatral,
cheio de tiques, os seus versos são caricatos, condizendo com a sua atitude melancólica. “Muito alto,
todo abotoado numa sobrecasaca preta, com uma face escaveirada, olhos encovados, e sob o nariz
aquilino, longos, espessos, românticos bigodes grisalhos; já todo calvo na frente, os anéis fofos de uma
grenha muito seca caíam-lhe inspiradamente sobre a gola; e em toda a sua pessoa havia alguma coisa
de antiquado, de artificial e de lúgrube.”, tinha uma voz grossa e macilento. Levava uma vida boémia.
Serve a Eça para figurar as discussões de escola entre naturalistas e românticos, numa visão caricatural
da Questão Coimbrã. Não se lhe conhecem defeitos e tem um grande e generoso coração, é bondoso e
sentimental, idealista e sincero. É o informador do destino de Maria Monforte. É uma personagem-tipo,
representando os artista das letras e a sobrevivência dos valores ultra-românticos na geração de 70. A
vitalidade desta personagem é atestada pela reacção de Bulhão Pato, que nela se sentiu retratado e
contra-atacou violentamente Eça em vários textos.
Castro Gomes, um fidalgo brasileiro, é o elemento catalisador da catástrofe ao desvendar o
passado de Maria Eduarda, de quem fora amante em Paris durante três anos. É o responsável pela entra
da dela na sociedade lisboeta. Após a descoberta do romance de Maria Eduarda com Carlos abandona
Portugal sem grande pesar.
Craft é filho de um clérigo de uma igreja inglesa, facto que o aproxima de Carlos e da sua forma
de estar no mundo, pelo que entre eles nascerá uma amizade espontânea. De diminuta importância, de
temperamento byroniano, dedica o seu tempo a viajar e a coleccionar obras de arte juntando-as na casa
que possuía nos Olivais, passatempos deverás em conformidade com a sua fortuna herdada de um tio. É
um gentleman que herdou da sua cultura britânica, a bravata a defesa de ideias, a rectidão de carácter e
a correcção; é o arquétipo do que deve ser um homem, e Eça não esconde as suas simpatias por ele. É
marcado pelo diletantismo e desocupação que, à semelhança de Carlos, o irão vitimar. Tem uma posição
de nítida superioridade e desdém face aos demais. A última menção ao seu nome é para, implicitamente,
conduzir o leitor à conclusão de que este amante do Belo e do xadrez acabará os seus dias em
Richmond, sucumbindo ao álcool. Tal como Carlos e Ega é um boémio, mas ao contrário destes é uma
personagem-tipo.
Cruges é uma personagem secundária que simboliza o músico idealista, que sucumbe à
mediocridade cultural nacional. O seu objectivo é compor uma ópera que o imortalizasse, mas falta-lhe a
motivação, devido ao meio em que se insere, e que pode ser comprovado pela sua afirmação “Se eu
fizesse uma ópera, quem é que ma representava?”, demonstrando-se sem génio criativo, esmagado pelo
meio obsoleto. É moralmente são e tímido. É uma personagem-tipo representando os artistas da música.
Guimarães é um antigo trabalhador do jornal Rappel, fundado por Victor Hugo e Rochefort, e tio
de Dâmaso. Democrata e simpatizante do comunismo, ele é uma personagem-tipo. É o portador da
desgraça da família Maia, tendo conhecido Maria Monforte em Lisboa, encontrando-a posteriormente em
Paris, onde recebe a caixa que encerra o segredo da verdadeira identidade de Maria Eduarda, caixa essa
que mais tarde entregará a Ega. É uma encarnação do Destino, assumindo o papel de destinador pela
sua acção meramente casual, recusando o êxito a Carlos, a quem inviabiliza os seus amores com Maria
Eduarda, ferindo também Afonso, que aliás morre na sequência da revelação por Guimarães
proporcionada.
Vilaça (pai e filho) são os procuradores da família Maia. Apesar de empregados da casa dos
Maias, foram sempre tratados com familiaridade. Vilaça é o arauto da fatalidade que ensombra a família e
o Ramalhete. Após a morte do pai, Manuel Vilaça assume a função de procurador, com escritório na Rua
da Prata, desejando ser vereador, ou talvez deputado. Embora de condição subalterna, este burguês
diligente e empreendedor, mas calmo, torna-se o mensageiro da fatalidade ao revelar a Carlos a
identidade de Maria Eduarda, função que lhe fora incumbida por Ega, que não tivera coragem. Ambos são
de uma lealdade sincera à família Maia. É uma personagem-tipo representando o burguês típico e
conservador, honesto e prudente.
Dâmaso Salcede é o personagem mais caracterizado por Eça, tornando-se um cabide de
defeitos: defeitos de origem (filho de um agiota); presumido; cobarde; não tem dignidade (porta-se como
uma rafeiro sabujo); mesquinho; enfatuado e gabarola; provinciano e tacanho, somente com uma
preocupação na vida: o “chique a valer”. Fisicamente é baixote, gordo, frisado como um noivo de
província, mas a quem não falta pretenciosismo. Aproxima-se de Carlos, que admira e inveja, por
interesse e desejo de condição social. Tenta convencer-se e convencer os outros do seu fascínio
irresistível face ao sexo oposto, não obstante as suas conquistas estarem confinadas a espanholas de
reputação muito duvidosa. Possuidor de grande bazófia e sendo um enorme cobarde, difama pública e
anonimamente Carlos, mas retracta-se logo em seguida. Nada tem de inteligente, de honrado ou de
nobre. Consegue casar com uma filha dos Condes de Águeda que se apressa a traí-lo. Condensa toda a
estupidez, futilidade e ausência de valores da sociedade. Decalca qualquer comportamento importado do
estrangeiro, principalmente de França.
Eusèbiozinho, vizinho de Carlos, é inicialmente o negativo de Carlos no que toca à educação.
Leva uma existência doentia, mergulhado nos alfarrábios, sem qualquer contacto com a natureza.
Tornou-se “molengão e tristonho”, com as perninhas flácidas. Depois de viúvo procurava os bordéis para
se distrair. Fidalgo de província sem vontade própria. É uma personagem-tipo representando a educação
retrógrada portuguesa.
Tancredo é um napolitano que dizia ser sobrinho dos príncipes de Sória, participou numa
conspiração contra os Bourbons e por isso teve que abandonar Itália, vindo para Portugal. É um homem
fatal pela sua extraordinária beleza, ocasionando uma sedução irresistível. Além de fatal, era demoníaco,
com o seu olhar taciturno e orgulhoso, a sua figura pálida que atrai para depois aniquilar, para provocar
desassossego, desespero e morte (vejamos o caso de Pedro).
Conde de Gouvarinho é ministro e par do Reino, personagem-tipo que representa o político
incompetente. Casou com a filha de um comerciante rico do Porto, aliado o seu título ao dinheiro dela,
pelo que é um casamento de conveniência.
Condessa de Gouvarinho é amante de Carlos até este se enfastiar e resolver abandoná-la,
sensual e provocante, é uma personagem-tipo simbolizando as mulheres adúlteras. É uma aristocrata que
corporiza a decadência moral e a ausência de escala de valores da alta sociedade, é uma mulher fatal.
Steinbroken é o ministro da Finlândia, entusiasta da Inglaterra, grande entendedor de vinhos,
uma autoridade no whist e um bom barítono. Parece resumir as suas funções diplomáticas a duas
preocupações: a de exercer com zelo, formalidades e praxe o seu cargo e o de se remeter a uma
neutralidade constante e prudente, comodamente conseguido à custa da repetição de frases-chave,
despidas de conteúdo: o inevitável “c’est grave” ou “c’est excessivement grave”. Não deixa de constituir
um juízo muito significativo da Finlândia sobre o universo político português, já que ao confiar no labor de
tal embaixador, o país estrangeiro que ele representa revela um conhecimento razoável do carácter
monótono e repetitivo da vida pública portuguesa. É uma personagem-tipo representante dos diplomatas.
Taveira é um empregado no Tribunal de Contas tipificando os funcionários públicos, pelo que é
uma personagem-tipo. É a única personagem com funções definidas.
Neves é o director d’A Tarde, deputado e político. Personagem-tipo símbolo do jornalismo
político e parcial.
Palma Cavalão é o director d’A Corneta do Diabo, personagem-tipo símbolo do jornalismo
corrupto, devasso, insultuoso e sem fidedignidade. O seu acompanhante em sociedade é Eusèbiozinho,
ambos consideram assaz importante conviver e saber lidar com prostitutas espanholas.
Jacob Cohen é um judeu banqueiro, director do Banco Nacional, casado com Raquel. Considera
que Portugal caminha para a bancarrota, mas não hesita aproveitar a situação económica do país em
proveito próprio. É uma personagem-tipo representando a alta finança.
Raquel Cohen é uma mulher adúltera, bela e refinada que não hesita a pôr em prática o seu
poder de sedução. Amante de Ega, até o caso ser descoberto, precisamente no dia em que Cohen ia dar
um baile de máscaras praticamente organizado por Ega.
Rufino é deputado por Monção, símbolo da oratória parlamentar, usando e abusando de uma
retórica balofa e oca com uma mentalidade profundamente provinciana e retrógrada. É uma personagem-
tipo.
Sousa Neto é representante da Administração Pública, é ignorante e nunca saiu de Portugal,
personagem-tipo da burocracia, tacanhez intelectual e ineficácia da Administração. É amigo e próximo do
Conde de Gouvarinho.
EÇA DE QUEIRÓS: OS MAIAS
Personagens (mencionadas por ordem de aparição)
1. Sebastião da Maia (p.7);

2. Condessa de Runa (p.9);

3. Tobias, um são-bernardo;

4. Gato angorá, branco c/ malhas louras, chama-se, sucessivamente, Bonifácio/D. Bonifácio


de Calatrava/Reverendo Bonifácio;

5. Vilaça;

6. Vilaça (o Júnior);

7. Manuel Vilaça;

8. Caetano da Maia (Miguelista), pai de Afonso da Maia (Liberal);

9. Jerónimo da Conceição, confessor de Caetano da Maia;

10. As Cunhas, primas de Afonso da Maia;

11. Fanny, tia de Afonso da Maia;

12. D. Maria Eduarda de Runa, filha de um conde; casa com Afonso da Maia, depois da morte
do pai deste, Caetano da Maia;

13. Coronel Sequeira, amigo de Afonso da Maia;

14. Pedro da Maia, filho de Afonso da Maia, tem um bastardo aos 19 anos;

15. Avô da mulher de Afonso da Maia (enlouquecera; julgando-se Judas, enforcara-se numa
figueira);

16. Tomás de Alencar, amigo de Pedro da Maia;

17. D. João da Cunha, amigo de Pedro da Maia (e de Alencar);

18. Maria Monforte;

19. Manuel Monforte, pai de Maria Monforte, açoreano;

20. André, criado do café Marrare, no Chiado (p.23);

21. O Melo, conhecido de Pedro da Maia (mais tarde amigo de Alencar, Carlos e Cruges);

22. Tancredo, o napolitano que foge com Maria Monforte;

23. O Magalhães, conhecido de Pedro da Maia;

24. Luís Runa, primo de Afonso da Maia;


25. Teixeira, escudeiro (ó mordomo) de Afonso da Maia;

26. Saldanha, personagem aludida, que é demitido do Paço;

27. Maria da Gama, personagem aludida, frequenta Maria Monforte; é uma troca-tintas;

28. André da Ega, personagem aludida, frequenta Afonso da Maia em Sta. Olávia;

29. D. Diogo Coutinho, personagem aludida, frequenta Afonso da Maia em Sta. Olávia;

30. Dr. Guedes, o médico;

31. Marquesa de Alvenga, personagem referida;

32. Velho Cazoti (deve ser professor de música);

33. Gertrudes, governanta de Afonso da Maia;

34. Prima da mulher de Afonso, uma Runa, viúva do visconde de Urigo de la Sierra;

35. Abade Custódio;

36. Carlos Eduardo da Maia, neto de Afonso da Maia;

37. Sr. Brown, preceptor de Carlos Eduardo;

38. D. Ana Silveira (vizinha?), a mais velha, solteira, da família dos Silveiras, da Quinta da
Lagoaça;

39. Teresinha Silveira, "namorada" de infância de Carlos Eduardo;

40. D. Cecília Macedo, mulher do escrivão (p.67);

41. Pedra, tia de Carlos Eduardo (p.59);

42. D. Eugénia Silveira, viúva; tem 2 filhos, Teresinha e Eusébiozinho (o papa-livros,


descrição na p.69);

43. O doutor delegado, que não se decide a casar ou não com D. Eugénia, havia já 5 anos;

44. O juiz de Direito e D. Augusta, sua mulher;

45. Recorda-se, na tagarelice, Manuel Branco, da família dos Brancos;

46. Mr. de l'Estorade, espadachim (mais tarde chamado Vicomte de Manderville);

47. André Noronha, primo de Afonso da Maia;

48. Catanni, acrobata (com quem Maria foge para a Alemanha);

49. Dr. Trigueiros;

50. João da Ega, sobrinho de André da Ega, amigo de Carlos Eduardo;

51. Serra Torres, adido em Berlim, amigo de Carlos Eduardo;

52. Simão Craveiro, amigo de Carlos Eduardo (e de Ega, também);


53. Gamacho (tocava piano), amigo de Carlos Eduardo;

54. Baptista, criado de quarto de Carlos;

55. Amigos de Carlos Eduardo depois do consultório estabelecido: Taveira, vizinho,


empregado no Tribunal de Contas; Cruges, maestro, pianista; marquês de Souselas;

56. Sr. Vicente, mestre-de-obras;

57. Mr. Theodore, chef de Afonso da Maia;

58. Jacob Cohen, director do Banco Nacional;

59. Raquel Cohen, esposa de Jacob Cohen (com quem J. da Ega tem um caso);

60. Craft, filho de um clergyman da igreja inglesa do Porto, amigo de Carlos e de Ega;
61. D. Diogo, amigo do whist de Afonso da Maia;

62. Conde Steinbroken, ministro da Finlândia, visita habitual do Ramalhete;

63. Tarquínio;

64. Marcelino, o padeiro;

65. Marcelina, a mulher do padeiro;

66. Azevedo, jornalista;

67. Sá Nunes, jornalista;

68. Gastão, conde de Gouvarinho;

69. Margarida, cozinheira de D. Diogo;

70. Dr. Barbedo;

71. Amigos do Ega: Dâmaso Salcede, amigo do Cohen; 1 primo da Raquel Cohen;

72. Viegas, um dos doentes de Carlos Eduardo;

73. Manuel Pimenta, criado dos Gouvarinho;

74. Tompson, pai da condessa de Gouvarinho;

75. Sra. Josefa, rapariga cozinheira do Ega;

76. Shelgen, um alemão que vivia na Penha de França;

77. Tio Abraão, um comerciante de bricabraque;

78. Castro Gomes, o brasileiro;

79. Joaquim Guimarães, tio de Dâmaso Salcede;

80. Sra. Cândida, dona de uma venda;

81. Mateus, criado negro de Alencar;


82. Dr. Teodósio;

83. Charlie, o filho dos Gouvarinho;

84. Lola e Concha, as espanholas do Eusébiozinho;

85. Palma, amigo do Eusébiozinho;

86. Carvalhosa, amigo do Alencar, que vive em Colares (p.242);

87. Médico Smith;

88. Mª Eduarda, a "esposa" do Castro Gomes;

89. Melanie, criada dos Castro Gomes;

90. Miss Sara, governanta dos Castro Gomes;

91. Rosa (Rosicler), filha de Mª Eduarda;

92. Godefroy, costureiro que fez o fato de Mefistófeles do Ega;

93. Sra. Adélia, criada de Raquel Cohen;

94. Domingos, ex-serviçal do Ramalhete, criado dos Cohen;

95. D. Maria Lima, tia de Gastão Gouvarinho;

96. D. Maria da Cunha, amiga da Gouvarinho;

97. Teles da Gama, amigo dos Gouvarinho;

98. Torres Valente, político da câmara;

99. Miss Jones, tia da Gouvarinho, que lhe emprestara a casa à R. de Sta. Isabel para os seus
"encontros" com Carlos;

100. Borges, vizinha de Miss Jones;

101. Manuela (ou, Manueleta), "conhecida" do marquês de Souselas;

102. Pe. Serafim, padre da família do Ega;

103. Clifford, um sportsman de Córdova;


104. Visconde de Darque, um sportsman português;

105. Viscondessa de Alvim, presente no hipódromo;

106. Joaninha Vilar, presente no hipódromo;

107. As Pedrosos, presentes no hipódromo;

108. Condessa de Soutal, presente no hipódromo;

109. Menina Sá Videira, filha do negociante de sapatos de ourelo, presente no


hipódromo;

110. Ministra da Baviera;


111. Baronesa de Craben;

112. Concha, amiga de D. Maria da Cunha;

113. Pancho Calderon, anfitrião de Carlos e Clifford;

114. D. Pedro Vargas, primo do marquês e comissário das corridas de cavalos;

115. Mendonça, juiz das corridas;

116. Pinheiro, o jóquei que montou o "Escocês";

117. Josefina do Salazar, acompanhante do Dâmaso;

118. Bertonni, tenor;

119. Sra. Augusta, porteira (?) do prédio onde mora o Cruges e a Castro Gomes;

120. "Niniche", a cadelinha de Mª Eduarda;

121. Dr. Chaplain, médico de Mª Eduarda em Paris;

122. Romão, criado de Mª Eduarda (tinha sido antes do Dâmaso);

123. Manuelinho, filho do Vicente, mestre-de-obras;

124. Fillon, o fotógrafo;

125. Sr. Sousa Neto, amigo do conde Gouvarinho;

126. Barros, ministro do Reino;

127. Vicenta, criada da Baronesa de Alvim;

128. Julinha, mulher do Carvalhosa;

129. Travassos (deve ser médico);

130. Mr. Antoine, o chef francês;

131. Micaela, cozinheira da casa;

132. Cortês, alfaiate do avô de Carlos;

133. Conde de Landim;

134. Patrick Mac Gren, "marido" de Mria Eduarda em Paris;

135. Silvestre, ajudante no pasquim do Palma;

136. Viscondessa de Cabelas;

137. Zeferino, conhecido (?) do Dâmaso, a quem Palma pediu emprestado um relógio;

138. Nunes, tabelião do Dâmaso, sito à Rua do Ouro;

139. Neves, político, director d' A Tarde;


140. Dâmaso Guedes, político;

141. Sr. Pereirinha, editor do jornal do Neves;

142. José Clemente e Rufino, políticos aludidos por Neves;

143. Gonçalo, político, conhecido do Neves;

144. Melchior, conhecido do Ega (e do Neves);

145. D. José Sequeira, comissário do sarau da Trindade;

146. O Prata, que fala no sarau (e põe toda a gente a "fugir");

147. Vieira da Costa, correligionário do Gouvarinho;

148. Clemence, uma costureira de Levaillant, com quem Guimarães vive;

149. Simões, um estofador;

150. Visconde de Torral, amigo (ou cliente) do Vilaça;

151. Padre Talloux, confessor de Maria Monforte;

152. Paca e Cármen Filósofa, duas espanholas;

153. Dr. Azevedo, mora ao pé da padaria, perto do Ramalhete;

154. Marquês de Vila Medina, amigo de Carlos;

155. Barradas, pintor do retrato de Cruges;

156. Leonor Barradas, tia do Barradas, já falecida;

157. Homens e mulheres que o Ega conhcera: Lucy Gray, Conrad, Marie Blond, Mr. de
Menant, Doubs;

158. Barroso, o amante da mulher de Dâmaso, filha dos condes de Águeda;

159. Adosinda;

160. João Eliseu;

161. Mr. de Trelain, noivo de Mª Eduarda.

Resumo detalhado d'Os Maias


Capítulo I

Descrição e historial do Ramalhete, casa que a família Maia veio habitar em Lisboa, Outono de
1875. Em 1858, quase tinha sido alugada a monsenhor Buccarini pelo procurador dos Maias,
Vilaça; nota-se que os Maias eram uma família nobre, mas com sinais de decadência. A casa que
tinham em Benfica foi vendida (já pelo Vilaça Júnior) e seu conteúdo passou, em 1870, para o
Ramalhete. A Tojeira, outra propriedade, também fora vendida. Poucos em Lisboa sabiam quem
eram os Maias, família que vivia até então na Quinta de Santa Olávia, nas margens do Douro.
Os Maias, antiga família da Beira, eram, no momento desta narração, constituídos por Afonso da
Maia e Carlos Eduardo da Maia, seu neto, que estudava medicina em Coimbra. Meses antes de
este acabar o curso, o avô decide vir morar para Lisboa, no Ramalhete. Reforma-se o Ramalhete
sob a direcção de um compadre de Vilaça, um arquitecto e político chamado Esteves. Mas Carlos
traz também um arquitecto-decorador de Londres, despedindo assim Esteves. A casa é fechada e,
só depois de uma longa viagem de Carlos pela Europa, é que é habitada pelo avô e neto, em
1875. Descrição física de Afonso (p.12). Começa-se, através do contar da vida de Afonso, uma
analepse (pp.13-95), onde se conta a ida a Inglaterra, a morte do pai, o casamento, o nascimento
de Pedro da Maia, o retorno e exílio a Inglaterra devido às suas ideias políticas; em Richmond,
Afonso fica a saber da morte da mãe, em Benfica. Pedro da Maia é educado pelo padre Vasques,
capelão do conde Runa, mandado vir de Lisboa. Morre a tia Fanny. Vão para Roma, Itália. Voltam
a Benfica, finalmente. Explica-se porque Afonso se torna ateu (pp.18-20). Pedro cresce; tem um
filho bastardo, aos 19 anos. A mãe, esposa de Afonso da Maia, morre; Pedro da Maia entrega-se à
bebida e distúrbios. Um ano depois, "acalma-se". Começa a grande paixão de Pedro da Maia
(p.22): descrição de Maria Monforte, de origens misteriosas. Alencar vê Pedro e Maria no teatro S.
Carlos, no final do I acto do Barbeiro de Sevilha. Pedro pede permissão ao pai para casar com
Maria Monforte. Afonso recusa. Pedro casa e vai para Itália.

Capítulo II

De Itália, Pedro e Maria vão para França. Maria engravida e Pedro trá-la para Lisboa; antes,
porém, escreve ao pai. Vai para Benfica, mas o pai, em desfeita, já tinha partido para Sta. Olávia.
Nasce uma filha a Pedro; mas este já não o comunica ao pai, Afonso; começa um período de cerca
de 3 anos, em que pai e filho não se falam. Descreve-se o ambiente das soirées lisboetas em
Arroios. Nasce um menino, Carlos Eduardo. Ao ir a uma caçada na Tojeira, Pedro fere um recém-
chegado, um napolitano chamado Tancredo. Trata-o em sua casa. Dois dias depois, Tancredo
recolhe-se a um hotel. Descrição do napolitano (p.41). M.ª Monforte isola-se, acaba com
as soirées, depois de saber que o sogro voltara a Benfica. Passam-se alguns meses, com a
presença habitual de Tancredo. A filha tem já 2 anos. Maria Monforte foge com o napolitano e a
filha, deixando o filho, Carlos Eduardo e uma carta. Afonso, por causa disto, reconcilia-se com
Pedro. Nessa mesma noite e madrugada, Afonso acorda com um tiro. Pedro suicidara-se. É
enterrado no jazigo de família em Sta. Olávia.

Capítulo III

Passam-se vários anos. Afonso vive com o neto em Sta. Olávia, o Teixeira e a Gertrudes,
escudeiro e governanta, respectivamente. Vive lá também uma prima da mulher de Afonso, uma
Runa, que era agora viúva de um visconde de Urigo de la Sierra, e o preceptor de Carlos Eduardo,
o Sr. Brown. Refere-se a severa educação inglesa de Carlos, em que não entra a religião, para
desgosto do abade Custódio. Descreve-se uma noite em Sta. Olávia com os amigos de Afonso.
Fala-se dos arrulhos de Teresinha e Carlinhos (p.72). Menciona-se a Monforte, mãe de Carlos
(p.78), que dá pelo nome de Madame de l'Estorade. Não se sabe o que é feito da filha que ela
levou. Mais tarde, sabe-se por Alencar que Maria Monforte lhe dissera que sua filha tinha morrido
em Londres. Vilaça morre (p.84). Manuel Vilaça, filho do Vilaça, torna-se administrador da casa.

Capítulo IV

Passam-se anos. Carlos faz exames; está prestes a formar-se em Medicina. Contam-se as cenas
da vida em Celas, com os amigos. O Teixeira, Gertrudes e o abade já haviam morrido. Descrição
de João da Ega (p.92), aluno baldas e grande ateu. Alude-se a uma aventura adúltera passageira
de Carlos com uma Hermengarda, mulher de um empregado do Governo Civil. Outra aventura foi
com uma espanhola, Encarnacion. Carlos forma-se em Agosto. Parte de viagem para a Europa.
Chega o Outono de 1875 e Carlos também. Volta-se ao PRESENTE da narração (p.96). Descrição
de Carlos já homem feito (p.96). Carlos instala-se no Ramalhete com toda a sua parafernália de
instrumentos de medicina. Passa tudo para um laboratório no Largo das Necessidades e abre um
consultório no Rossio. Ninguém lhe aparece para consulta. Ega visita-o no consultório. Diz-lhe que
vai publicar um livro, "Memórias de Um Átomo".

Capítulo V

Carlos tem a sua 1ª doente, a mulher do padeiro Marcelino. Descreve-se um dos serões no
Ramalhete. Às 2.15 a.m., começam a abandonar o Ramalhete. Carlos começa a ter clientes. Ega
aparece-lhe ocasionalmente, para ler uma parte do seu manuscrito, para o convidar a ser
apresentado aos Gouvarinhos… Conhece-os, por fim, na frisa do teatro.

Capítulo VI

Carlos visita Ega na sua nova casa, a Vila Balzac, no Largo da Graça, depois da Cruz dos 4
Caminhos. Saem. Encontram Craft. Combinam jantar no Hotel Central, em honra ao Cohen.
Chegam os Castro Gomes para se hospedar (p.157). Alencar encontra Carlos da Maia, que tem
agora 27 anos. Alencar é contra o Naturalismo e tudo o que lhe cheire a Realismo. Começam a
discutir a decadência de Portugal, política e socialmente. Acabam bem o jantar. Ega e Alencar
discutem. Reconciliam-se. Saem todos do Hotel Central. Alencar acompanha Carlos até casa.
Analepse de uma conversa de Carlos e Ega em que este, bêbado, lhe revelara a verdadeira
história da mãe de Carlos. Carlos adormece, pensando na misteriosa senhora do Hotel Central e
no Alencar.

Capítulo VII

Craft tornara-se íntimo no Ramalhete. Carlos, retirado do consultório, passava os dias em casa,
escrevendo o seu livro. O Dâmaso pegou-se a ele como uma "lapa". Ega, endividado, vem pedir
mais 115 libras a Carlos. Certo dia, o Dâmaso não aparece, nem nos dias seguintes. Carlos acaba
por ir procurá-lo. Chegando ao fim da Rua do Alecrim, encontra Steinbroken, que se dirige ao
Aterro. Durante a conversa, passa a misteriosa figura do Hotel Central (pp.202-3). No dia seguinte
Carlos volta ao Aterro e ela torna a passar, mas agora acompanhada do marido.
A Gouvarinho, a pretexto da "doença" do filho Charlie, visita-o no consultório. Carlos flirta-a
abertamente. Reaparece Dâmaso, de repente, numa caleche, dizendo a Carlos ter um "romance
divino". Tudo indica serem os Castro Gomes a sua companhia. Aparece na "Gazeta" um artigo de
J. da Ega elogiando os Cohen. Discutem-no na soirée. Carlos convida o Cruges a ir a Sintra, depois
do Taveira lhe ter dito que Dâmaso e os Castro Gomes se dirigiam para lá.

Capítulo VIII

(Este capítulo demora 2 dias) Viagem a Sintra; instalam-se no Nunes. Apanham o Eusébiozinho
com duas espanholas. A Concha faz uma cena quando o Eusébiozinho "se deita de fora" (p.228).
Na manhã seguinte, partem em direcção a Seteais detendo-se, porém, em frente ao Lawrence.
Pausa de reflexão idílica sobre Sintra. Encontram Alencar (p.234). Na volta, passam pelo
Lawrence, vão até o Nunes, e Carlos descobre que Dâmaso e os Castro Gomes já tinham saído no
dia antes para Mafra. Pensa disparates românticos sobre a Castro Gomes (p.245). Jantam no
Lawrence, um bacalhau preparado segundo o Alencar. Partem de Sintra. Cruges, a meio do
caminho, lembra-se de que se tinha esquecido das queijadas.
Capítulo IX

(1 dia) Já no Ramalhete, no final da semana, Carlos recebe uma carta a convidá-lo a jantar no
Sábado seguinte nos Gouvarinhos; entretanto, chega Ega, preocupado em arranjar uma espada
conveniente para o fato que leva nessa noite ao baile dos Cohen. Dâmaso também aparece de
repente, pedindo a Carlos para ver um doente "daquela gente brasileira", i.e., os Castro Gomes. É
a menina, visto que os pais haviam partido essa manhã para Queluz. Chega ao Hotel, mas a
pequena, chamada Rosicler, não teve mais que um mal-estar passageiro. Carlos dá uma receita a
Miss Sara, a governanta.
10 horas da noite: ao preparar-se para o baile, aparece o Mefistófeles Ega a Carlos, dizendo que o
Cohen o expulsara (ao que parece, descobrira as cartas de Raquel e Ega). Vão a casa do Craft
pedir conselho sobre o "provável" duelo. Ceiam.
(1 dia) No dia seguinte, nada acontece, excepto a vinda da criada de Raquel Cohen, anunciando
que ela levara uma coça e que partiam para Inglaterra. Ega dorme nessa noite no Ramalhete.
Na semana seguinte, só se ouve falar do Ega e do mau-carácter que ele é. "Todos caem-lhe em
cima" (p.289). Carlos vai progressivamente ficando íntimo dos Gouvarinhos. Visita a Gouvarinho e
dá-lhe um tremendo beijo (p.297), mesmo antes da chegada do conde Gouvarinho.

Capítulo X

Passam-se 3 semanas. Carlos sai de um coupé, onde acabara de estar com a Gouvarinho. Nota-se
que já estava farto dessas 3 semanas e que se quer ver livre da Gouvarinho. Encontra o marquês
pela rua, constipado. Fugazmente, vê Rosicler acenando de um coupé adiante do Grémio.
Combina com o Dâmaso, no Ramalhete, levar os Castro Gomes a ver o bricabraque do Craft, nos
Olivais. Não se concretiza a ideia. Chega o(s) dia(s) das corridas de cavalos. Confusão à porta do
hipódromo. Descrição do ambiente dentro do hipódromo (pp.314-320). Confusão com um dos
jóqueis que perdera uma corrida. Briga e rebuliço. Encontra a Gouvarinho, que lhe propõe ir até o
Porto (seu pai estava mal), dar uma "rapidinha" em Santarém, e daí cada um seguia para o seu
lado. Carlos começa a ruminar no absurdo de toda aquela ideia. Fazem-se apostas. Todos
apostam contra Vladimiro, cavalo em que Carlos tinha apostado. Vladimiro vence e Carlos ganha
12 libras, facto muito comentado. Encontra Dâmaso, que lhe informa que o Castro Gomes afinal
tinha ido para o Brasil e deixara a mulher só por uns 3 meses. Carlos devaneia. Discute com a
Gouvarinho, mas acaba por aceder ao desejo do encontro em Santarém. Sempre pensando na
mulher de Castro Gomes, vem a Lisboa, com o pretexto de visitar o Cruges (o Vitorino), agora que
sabe que ela mora no mesmo prédio, à R. de S. Francisco. O Cruges não está; Carlos vai para o
Ramalhete. Tem uma carta da Castro Gomes pedindo-lhe que a visite, por ter "uma pessoa de
família, que se achava incomodada". Carlos fica numa agitação (de contentamento).

Capítulo XI

Carlos vai visitar a Castro Gomes, i.e., Maria Eduarda. É a governanta, Miss Sara, que está
doente. Descrição de Maria Eduarda (p.348). Examina Miss Sara. Receita-lhe. Falando com Maria
Eduarda, descobre que é portuguesa, não brasileira. "Até amanhã!" é agora no que Carlos só
pensa; um recado da Gouvarinho indispõe-no. Começa a "odiá-la". Por sorte, o Gouvarinho decidiu
à última da hora ir com a mulher para o Porto, o que convém muito a Carlos, assim como a morte
de um tio de Dâmaso em Penafiel, deixando-lhes os "entraves" fora de Lisboa.
Nas semanas seguintes, Carlos vai-se familiarizando com Maria Eduarda, graças à doença de Miss
Sara. Falam ambos das suas vidas e dos seus conhecidos. Dâmaso volta de Penafiel; visita Maria
Eduarda. "Niniche", aninhada no colo de Carlos, rosna e ladra quando Dâmaso tenta lhe fazer
festas. "Desconfianças" de Dâmaso. Sabe-se que, por coincidência, os Cohens voltaram de
Inglaterra e que Ega está para chegar de Celorico.
Capítulo XII

O Ega chega e pede "asilo" no Ramalhete. Informa Carlos de que viera com a Gouvarinho, e de
que o conde os convidara para jantar na próxima 2ª feira.
(2ª feira) Nesse jantar, a Gouvarinho está mesmo uma chata, mesmo a "pedir nas trombas", com
as suas indirectas e quiproquós. O clima suaviza-se durante o jantar, devido aos ditos irreverentes
do Ega. A pretexto de um mal-estar de Charlie, a Gouvarinho beija Carlos nos aposentos
interiores. Carlos e Ega são os últimos a sair.
(3ª feira) Depois de ter sido "retido" pela Gouvarinho na casa da tia, Carlos chega atrasado à casa
de Maria Eduarda. Leva uma "indirecta". No meio da conversa, Domingos anuncia Dâmaso; Maria
Eduarda recusa-se a recebê-lo. Fala a Carlos sobre uma possível mudança de casa (Carlos pensa
logo na casa do Craft). Carlos deixa escapar que a "adora" depois de uma troca de olhares.
Beijam-se.
(4ª feira) Carlos conclui o negócio da casa com o Craft. Maria Eduarda fica um pouco renitente
com a pressa de tudo, mas acaba concordando, com um novo beijo.
Ega, depois de se mostrar insultado pelo segredo que Carlos faz de tudo, vem a saber que Carlos
está a ter mais do que uma aventura com Maria Eduarda.

Capítulo XIII

(6ª feira) Ega informa a Carlos de que Dâmaso anda a difamá-lo e a Maria Eduarda. Carlos faz os
preparativos para a mudança de Maria Eduarda para os Olivais. Encontra Alencar, que refere a
crescente antipatia de Dâmaso por Carlos. Aparece Ega. Cumprimentam-se. Do outro lado da rua,
aparecem o Gouvarinho, o Cohen e Dâmaso. Carlos atravessa a rua; ameaça Dâmaso.
(Sábado) Maria Eduarda visita a sua nova casa nos Olivais. Descrição da casa. Têm a sua 1ª
relação sexual (p.438).
(Domingo) Aniversário de Afonso da Maia. Tagarelice do marquês: Dâmaso estava a namorar a
Cohen. Aparece Baptista a informar de que está uma senhora dentro de uma carruagem que quer
falar com Carlos. Era a Gouvarinho. Ela tenta uma "rapidinha" mas, ao se lembrar da imagem de
Maria Eduarda, Carlos recua. Discutem. Carlos sai. Terminou tudo.

Capítulo XIV

O avô parte para Sta. Olávia. Maria Eduarda instala-se nos Olivais. Ega parte para Sintra por
alguns dias. Carlos, só, vai passear depois do jantar. Encontra Taveira no Grémio, que o adverte
contra Dâmaso. Taveira arrasta-o até o Price, mas Carlos pouco se demora. Ao sair, encontra
Alencar e o Guimarães, tio do Dâmaso.
Sabe-se que Carlos e Maria Eduarda pretendem fugir até Outubro para Itália, mas Carlos pensa no
desgosto que dará ao avô. A sua felicidade, por fim, supera o avô nos seus raciocínios. Descreve-
se as idas de Carlos aos Olivais: os encontros com Maria Eduarda e as relações que tinham no
quiosque japonês (p.456). Isto não é o suficiente: eles querem passar as noites também. A 1ª
noite é descrita na p.459. Carlos descobre uma outra casa perto da dos Olivais, que servirá para
esperar pelos encontros nocturnos dele e de Maria Eduarda. Numa dessas noites, descobre Miss
Sara a fazer sexo no jardim da casa com o que lhe parece ser um jornaleiro. Sente vontade de
contar tudo a Maria Eduarda mas, à medida que pensa no caso, compara-o com a furtividade do
seu. Decide não dizer nada.
Chega Setembro. Craft, regressado de Sta. Olávia para o Hotel Central, diz a Carlos que pareceu-
lhe estar o avô desgostoso por Carlos não ter aparecido por lá. Carlos diz a Maria Eduarda que vai
visitar o avô. Ela pede-lhe para visitar o Ramalhete, antes. Combinam isso para o dia em que
Carlos partirá para Sta. Olávia. Maria Eduarda visita o Ramalhete mas, misteriosamente,
desanima-se; Carlos "conforta-a" (p.470). Maria Eduarda refere que às vezes Carlos faz-lhe
lembrar a sua mãe (p.471); diz que a mãe era da ilha da Madeira que casara com um austríaco e
que tinha tido uma irmãzinha, que morrera em pequena (p.472). Chega Ega. Traz novas de
Sintra. Carlos parte para Sta. Olávia. Regressa uma semana depois. Fala a Ega do plano de
"amolecer" o avô quanto à relação com Maria Eduarda. Susto! Castro Gomes anuncia-se! Mostra
uma carta anónima que lhe haviam mandado para o Brasil, dizendo que a sua mulher tinha um
amante, Carlos. Revela não ser marido de Maria Eduarda, que lhe retirava o uso do seu nome,
deixando-a apenas como Madame Mac Gren, seu verdadeiro nome. A Carlos "cai o queixo".
Ruminando pensamentos, entre escrever uma carta de despedida ou não, Carlos decide confrontar
Maria Eduarda nos Olivais. Ao entrar, sabe por Melanie, a criada, que o Castro Gomes já lá tinha
estado. Maria Eduarda, em chôro, pede perdão a Carlos de não lho ter contado; conta a
verdadeira história da sua vida. Depois de uma grande cena de chôro, Carlos pede-a em
casamento.

Capítulo XV

Na manhã seguinte, perguntam a Rosa se quer o Carlos como "papá". Aceita. Maria Eduarda conta
toda a sua vida (pp.506-14). Dias depois, ao ir visitar Maria Eduarda com Carlos, Ega diz-lhe pelo
caminho que seria melhor esperar que o avô morresse para então se casar. Carlos acalenta a
ideia. Jantam nos Olivais e Ega, rodeado deste ambiente, diz querer casar e louva tudo o que até
aí era contra (p.523). Aos poucos, os amigos de Carlos (o Cruges, o Ega, o marquês), vão
frequentando esses jantares de amizade dados nos Olivais. Meados de Outubro: estava Afonso
com ideias de vir de Sta. Olávia (e Carlos de sair dos Olivais), pois o Inverno aproximava-se.
Recebe, através do Ega, um n.º da Corneta do Diabo, que o difama em calão "num caso que
tem com uma gaja brasileira". Carlos primeiro pensa em matar a quem escreveu mas, reflectindo
na verdade dos escritos, pensa se não será melhor não casar com Maria Eduarda. Volta ao 1º
pensamento, em matar. Descobre, pelo editor do artigo, o Palma, que tinham sido o Dâmaso e o
Eusébiozinho que lho tinham encomendado. Ega e Carlos vão até o Grémio; encontram o
Gouvarinho e Steinbroken. Finalmente, aparece Cruges, a quem pedem que faça de padrinho num
duelo de Carlos. Sabe-se, a meio disto, que o Governo caíra, pelo Teles da Gama (p.550). Cruges
e Ega vão a casa do Dâmaso. Este faz uma cena ao saber do desafio, mas acaba por escrever uma
retractação. Ega escreve-lhe a retractação e ele copia-a. Ega entrega-a, ao sair, a Carlos.
Satisfeito, Carlos devolve-lha, para usar como lhe aprouver. No dia seguinte, Ega remói a ideia de
fazer conhecer a carta do Dâmaso. Chega uma carta anunciando que Afonso voltava ao
Ramalhete. Carlos retorna ao Ramalhete e Maria Eduarda à R. de São Francisco. No dia seguinte,
chega Afonso à estação de Sta. Apolónia. Ao almoço, Carlos e Ega falam do projecto de uma
revista. Ega vai ao Ginásio. Vê a Cohen e o Dâmaso. Sai do Ginásio; dirige-se à redacção d'A
Tarde e pede ao Neves para publicar a carta do Dâmaso. Há um ligeiro rumor nos dias seguintes,
mas tudo acalma. Dâmaso "vai de férias" a Itália.

Capítulo XVI

Antes do sarau da Trindade, Ega ouve com Carlos e Maria, uma parte de "Ofélia" ao piano, na
casa desta. Carlos e Maria "enrolam" Ega para fazerem o seu próprio sarau, ali mesmo. Mas
lembram-se do Cruges, e Carlos e Ega acabam por ir ao sarau da Trindade. Ouvem o discurso de
Rufino. Entretanto, no botequim, dá-se um conversa entre o Guimarães e Ega, a propósito da
carta do sobrinho. Ega volta ao sarau, ouve Cruges e sai quando o Prata sobe ao estrado. Carlos
vê o Eusébiozinho saindo. Vai atrás dele e dá-lhe uns "abanões" e um pontapé. Voltam ao sarau,
onde Alencar já ia declamar. Alencar arrebata a sala com o seu poema, "Democracia". Ega fica
desacompanhado; Carlos, disseram-lhe, já havia saído. O Gouvarinho sai furibundo por causa do
poema do Alencar. À saída, de caminho para o Chiado, Ega é parado por Guimarães, que lhe diz
ter um cofre da mãe de Carlos para entregar à família. No meio da conversa, descobre
inconscientemente uma verdade terrível a Ega: Carlos tem uma irmã; é a Maria Eduarda! (p.615).
Guimarães conta a Ega tudo o que sabe sobre M.ª Monforte (p.617), inclusive a mentira que ela
dissera a Maria Eduarda sobre a sua origem de pai austríaco. Enquanto Guimarães vai buscar o
cofre nessa mesma noite, Ega fica a atormentar-se com os seus pensamentos. Chega ao
Ramalhete e deita-se, sempre pensando no incesto como ideia fixa.

Capítulo XVII

Ega não tem coragem de contar a Carlos. Sai, à procura de Vilaça. Come no Café Tavares e volta
à R. da Prata. "Despeja" tudo ao Vilaça. Incumbe-o de contar tudo a Carlos. Abrem a caixa de M.ª
Monforte. Encontram um documento provando que Maria Eduarda é filha de Pedro da Maia. Susto!
Carlos está em baixo à procura do Vilaça! Ega e Vilaça, atarantados, mandam dizer que não está.
Combinam que Vilaça irá ao Ramalhete, às 9 da noite. Mas Carlos não o atende e adia para o dia
seguinte, às 11 horas. Ao saber disso, Ega sai para cear no Augusto com o Taveira e duas
espanholas. Toma uma carraspana. Acorda ao lado de Cármen Filósofa, uma das espanholas, às 9
da manhã. Chega atrasado ao Ramalhete, às 12 h. Carlos e Vilaça já estavam "lá dentro". Carlos,
insensatamente, não acredita no que lhe contam. Mostra ao avô os papéis da Monforte. Mas
Afonso não os refuta, dando a Carlos uma insegurança de que tudo pode ser verdade. Afonso, no
corredor, diz a Ega que sabe que "essa mulher" é a amante de Carlos. No jantar dessa noite,
estão todos "murchos". No final do jantar, Carlos escapuliu-se: ia à Rua de São Francisco. Passa
pela casa, desce até o Grémio, toma um conhaque e volta à casa de Maria Eduarda; entra. Tenta
inventar uma história, mas ela, no quarto, já deitada, puxa-o para si e… Carlos não "resiste". Na
festa de anos do marquês, no dia seguinte, Carlos está muito alegre. Ega desconfia. Ega acaba
descobrindo que Carlos continua indo "visitar" Maria Eduarda. Na 3ª feira evita Carlos; só aparece
no Ramalhete às 9 da noite para se arranjar para o aniversário de Charlie, o filho do Gouvarinho.
Afonso da Maia sabe que Carlos continua a encontrar-se com Maria Eduarda. Ega decide partir;
pensa melhor: desfaz a mala. Baptista diz-lhe que Carlos parte amanhã para Sta. Olávia. Carlos
debate-se com os seus pensamentos: o desejo e a culpa simultâneos (p.664-65); ao vir de Maria
Eduarda, às 4 da manhã, encontra o avô e o seu silêncio acusador, como um fantasma (p.667-
68). Já era dia, quando dizem a Carlos que o avô estava desacordado no jardim; estava morto
(suponho ser trombose, visto que tinha um fio de sangue aos cantos da boca). Carlos culpa-se a si
mesmo dessa morte, pois achava que era pelo avô saber tudo que havia morrido. Vilaça toma as
providências. Ega escreve um bilhete a informar Maria Eduarda do facto. Reunião dos amigos da
família; recordam Afonso. 1878 (p.681) O enterro é no dia seguinte, à uma hora. Carlos, depois
do enterro, pede a Ega para falar com Maria Eduarda, contar-lhe tudo e dizer-lhe que parta para
Paris, levando 500 libras. Quanto a Carlos, vai para Sta. Olávia, esperar a trasladação do avô;
depois, viajará para espairecer. Convida o Ega para tal. Carlos parte. Ega deixa,
atabalhoadamente, a revelação a Maria Eduarda e diz-lhe que ela deve partir já para Paris.
Encontra-se com ela na estação de Sta. Apolónia, no dia seguinte. Segue no mesmo comboio até
o Entroncamento. E nunca mais a vê.

Capítulo XVIII

Passam-se semanas. Sai na "Gazeta Ilustrada" a notícia da partida de Carlos e Ega numa longa
viagem. Ano e meio depois (1879), regressa Ega, trazendo a ideia de escrever um livro, "Jornadas
da Ásia"; Carlos ficara em Paris. (1886) Carlos passa o Natal em Sevilha; de lá, escreve a Ega que
vai voltar a Portugal. Chega nesse ano a Sta. Olávia. (Jan. 1887) Carlos chega a Lisboa e almoça
no Hotel Bragança com Ega, que está ficando careca; a mãe deste já morrera. Carlos pergunta
pela Gouvarinho. Aparece o Alencar. Aparece o Cruges. Reminiscências desses últimos anos. Ega e
Carlos vão visitar o Ramalhete. Antes, descem o Chiado. Encontram o Dâmaso perto da Livraria
Bertrand. Aos poucos, Carlos toma consciência do novo Portugal que existe agora, anos passados.
Passagem de Charlie (insinuação de que ele é maricas, p.705). Passagem do Eusébiozinho. Às 4 h,
tomam uma tipóia para o Ramalhete. Dentro, nota-se que a maior parte das decorações (tapetes,
faianças, estátuas) já tinham ou estavam a ser despachadas para Paris, onde Carlos vivia agora.
Também no Ramalhete estavam os móveis trazidos da Toca. Sabe-se que Maria Eduarda ia casar.
Saem do Ramalhete, descem a Rampa de Santos. Carlos olha para o relógio: 6.15! Está atrasado
para o encontro com os amigos no Bragança. Desata a correr, junto com Ega, pela rampa de
Santos e Aterro abaixo, atrás de um transporte.

Crítica Social
A Corrida de Cavalos

Objectivos:

• Novo contacto de Carlos com a alta sociedade lisboeta, incluindo o próprio rei;

• Visão panorâmica dessa sociedade (masculina e feminina) sob o olhar crítico de Carlos;

• Tentativa frustrada de igualar Lisboa às capitais europeias, sobretudo Paris;

• Cosmopolitismo (fingido) da sociedade;

• Possibilidade de Carlos encontrar aquela figura feminina que vira à entrada do Hotel
Central.

Existem 4 corridas.
Visão caricatural:

• O hipódromo parecia um palanque de arraial;

• As pessoas não sabiam ocupar os seus lugares;

• As senhoras traziam "vestidos sérios de missa";

• O bufete tinha um aspecto nojento;

• A 1ª corrida terminou numa cena de pancadaria;

• As 3ª e 4ª corridas terminaram grotescamente.

Conclusões a retirar:

• Fracasso total dos objectivos das corridas;

• Radiografia perfeita do atraso da sociedade lisboeta;

• O verniz da civilização estalou completamente;

• A sorte de Carlos, ganhando todas as apostas, é indício de futura desgraça (Sorte no


jogo…).

O Jantar dos Gouvarinho


Objectivos:

• reunir a alta burguesia e aristocracia;

• reunir a camada dirigente do País;

• radiografar a ignorância das classes dirigentes.

Os alvos visados neste jantar são:


• Conde de Gouvarinho

o voltado para o passado;

o tem lapsos de memória;

o comenta muito desfavoravelmente as mulheres;

o revela uma visível falta de cultura;

o não acaba nenhum assunto;

o não compreende a ironia sarcástica do Ega;

o vai ser ministro.

• Sousa Neto

o acompanha as conversas sem intervir;

o desconhece o sociólogo Proudhon;

o defende a imitação do estrangeiro;

o não entra nas discussões;

o acata todas as opiniões alheias, mesmo absurdas;

o defende a literatura de folhetins, de cordel;

o é deputado.

Nota-se assim a superficialidade dos juízos dos mais destacados funcionários do Estado;
incapacidade de diálogo por manifesta falta de cultura.

A Imprensa

"A Corneta do Diabo":

• o director é o Palma "Cavalão", um imoral;

• a Redacção é um antro de porcaria;

• publica um artigo contra Carlos mediante dinheiro;

• vende a tiragem do número do jornal onde saíra o artigo;

• publica folhetins reles, de baixo nível.


"A Tarde":

• o director é o deputado Neves;

• recusa publicar a carta de retractação de Dâmaso porque o confunde com um seu


correligionário político;

• desfeito o engano, serve-se da mesma carta como meio de vingança contra o inimigo
político;

• só publica artigos ou textos dos seus correligionários políticos.

Aspectos a notar: o baixo nível; a intriga suja; o compadrio político; assim como os jornais, está o
País.

Sarau do Teatro da Trindade

Objectivos:

• ajudar as vítimas das inundações do Ribatejo;

• apresentar um tema querido da sociedade lisboeta: a oratória;

• reunir novamente as várias camadas das classes mais destacadas, incluindo a família
real;

• criticar o ultra-romantismo que encharcava o público;

• contrastar a festa com a tragédia.

Neste sarau, destacam-se dois personagens:


• Rufino

o o bacharel transmontano;

o o tema do Anjo da Esmola;

o o desfasamento entre a realidade e o discurso;

o a falta de originalidade;

o o recurso a lugares-comuns;

o a retórica é oca e balofa;

o a aclamação por parte do público tocado no seu sentimentalismo.

• Alencar

o o poeta ultra-romântico;

o o tema da Democracia Romântica;

o o desfasamento entre a realidade e o discurso;

o o excessivo lirismo carregado de conotações sociais;


o a exploração do público seduzido por excessos estéticos estereotipados;

o a aclamação do público.

N.B.: As classes dirigentes estão alheadas da realidade (nota-se isso pela indignação do
Gouvarinho). Caracteriza-se a sociedade como sendo deformada pelos excessos líricos do ultra-
romantismo.

Espaço e Cor
O Ramalhete

O Jardim:
1. A estátua de Vénus Citereia

o "enegrecendo a um canto na lenta humidade das ramagens silvestres" (Cap.I)

o "parecendo, agora, no seu tom claro de estátua de parque, ter chegado de


Versalhes" (Cap.I)

o "uma ferrugem verde, de humidade, cobria os grossos membros de vénus


Cetereia" (Cap.XVIII)

2. A Cascata

o "uma cascatazinha seca" (Cap.I)

o "E desde que a água abondava, a cascatazinha era deliciosa" (Cap.I)

o "Por entre as conchas da cascata, o fio de água punha o seu choro lento"
(Cap.XVII)

o "mais lento corria o prantozinho da cascata, esfiado saudosamente, gota a gota"


(Cap.XVIII)

3. O Cipreste e o Cedro

o "um pobre quintal inculto, abandonado às ervas bravas, com um cipreste, um


cedro" (Cap.I)

o "o cipreste e o cedro envelhecendo como dois amigos tristes" (Cap.I)

o "o cipreste e o cedro envelheciam juntos, como dois amigos, num ermo"
(Cap.XVIII)

Os móveis do escritório do Afonso:

• "Todos os móveis do escritório do avô desapareciam sob os largos sudários brancos."


(Cap.XVIII)

A Toca:

• "O melhor é baptizá-la definitivamente com o nome que nós lhe dávamos. Nós
chamávamos-lhe a Toca" (Cap.XIII)
• "só meter a chave devagar e com uma inútil cautela na fechadura daquela morada
discreta, foi para Carlos um prazer" (Cap.XIII)

• "uma tarde, (…) experimentaram ambos essa chave" (Cap.XIV)

• "tapeçarias, onde desmaiavam, na trama de lã, os amores de Vénus e Marte" (Cap.XIII)

• "onde se distinguia uma cabeça degolada"(Cap.XIII)

• "uma enorme coruja fixava no leito de amor, os deus dois olhos redondos e agoirentos"
(Cap.XIII)

• "o famoso armário, o móvel divino de Craft" (Cap.XIII)

• "na base quatro querreiros" (Cap.XIII)

• "a peça superior era quardada aos quatro cantos pelos quatro evangelistas" (Cap.XIII)

• "espigas, foices, cachos de uvas e rabiça de arados" (Cap.XIII)

• "dois faunos, recostados em simetria, indiferentes aos heróis e aos santos" (Cap.XIII)

• "era ao centro um ídolo de bronze, um Deus bestial" (Cap. XIII)

Os símbolos cromáticos

O Vermelho:

• "aquela sombrinha escarlate (…) quase o envolvia, parecia envolvê-lo todo - como uma
larga mancha de sangue" (Cap.I)

• "ao lado de Maria, com uma camélia escarlate na casaca" (Cap.I)

• "todas as cadeiras eram forradas a repes vermelhos" (Cap.XI)

• "abria lentamente o grande leque negro pintado de flores vermelhas" (Cap.XI)

Amarelo e Dourado:

• "uma senhora loura, os cabelos loiros, de um oiro fulvo" (Cap.I)

• "uma senhora alta, loira" (Cap.VI)

• "era toda forrada, paredes e tecto, de um brocado amarelo, cor de botão-de-oiro"


(Cap.XIII)

O Negro:

• "seus olhos muito negros" (Cap.III)

• "o negro profundo de dois olhos que se fixaram nos seus" (Cap.VII)

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