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Maio de 2022
Índice
Introdução.................................................................................................................................3
Personagens intervenientes.................................................................................................4
Alguns dos personagens mais marcantes.........................................................................4
Descrição do Hipódromo......................................................................................................6
As corridas................................................................................................................................8
1ª Corrida: “1º Prémio dos Produtos”.................................................................................8
2ª Corrida: “Grande Prémio Nacional”................................................................................8
3ª Corrida: “Prémio de El-Rei”.............................................................................................8
4ª Corrida: “Prémio da Consolação”...................................................................................8
Desejo de imitar o estrangeiro.............................................................................................9
Mentalidade provinciana.....................................................................................................12
As roupas..............................................................................................................................12
Falta de conhecimento........................................................................................................13
Comportamentos.................................................................................................................13
Caricatura da sociedade feminina.....................................................................................15
Atualidade da intenção crítica............................................................................................17
Estado do ensino em Portugal...........................................................................................17
O adultério............................................................................................................................18
O comportamento da sociedade.......................................................................................19
A mentalidade de o que é nacional não é bom...............................................................19
Conclusão...............................................................................................................................21
Bilbiografia..............................................................................................................................22
Ao nosso grupo, foi proposta a análise do episódio das corridas do Hipódromo (cap. X)
com vista a aprofundar mais acerca da crónica de costumes e da simbologia deste
evento, não só para a obra como um todo, como também para a crítica que o autor
pretendia fazer com este livro.
Do ponto de vista do nosso trabalho, este episódio está fortemente ligado ao subtítulo
pois é demonstrada de forma clara a crítica que o autor faz à sociedade do final do
século XIX.
“O bufete estava instalado debaixo da tribuna, sob o tabuado nu, sem sobrado,
sem um ornato, sem uma flor. (…) E, no balcão tosco, dois criados, estonteados e
sujos, achatavam à pressa as fatias de sanduíches com as mãos húmidas da espuma
da cerveja”
O hipódromo situava-se numa colina em Belém, num largo com condições precárias.
Devido ao facto de este tipo de eventos não ser recorrente em Portugal, ninguém tinha
conhecimento acerca de como se organizava um evento desportivo, levando a uma
construção insegura das tribunas e bancadas. Os pregos eram visíveis, as tábuas de
madeira apresentavam fendas entre si, as pinturas das tribunas estavam mal feitas, os
tecidos que forravam a tribuna real eram de má qualidade e os jardins não estavam
devidamente tratados. O buffet era servido debaixo da tribuna real, numa bancada que
não estava higienizada nem decorada, onde dois criados, com as mãos molhadas com
cerveja, faziam as sandes que eram servidas no evento. A música foi mal escolhida
pois transformava um ambiente que era suposto ser requintado, mas ao mesmo tempo
ligeiro, como compete a um evento desportivo daquele calibre, num autêntico arraial
popular. Além disso, Carlos e Dona Maria da Cunha partilham da opinião de que o
hino português era inadequado pois ele costumava ser tocado em dias de parada.
A primeira corrida fica marcada não só pela ausência de apostas como também pela
ausência de interesse por parte do público. Todos os homens fumavam e
contemplavam as mulheres chegando ao ridículo de se encontrarem de costas para a
pista. Devido ao desinteresse e a cenas de pancadaria e insultos causadas por uma
burla, esta corrida acaba sem sequer se saber quem é o vencedor.
Esta é a corrida central do evento. Nela estão inscritos quatro cavalos dos quais o
favorito é “Rabino”. Esta corrida fica marcada pelas apostas que nela se realizam.
Mesmo sendo “Rabino” o favorito à vitória, Carlos decide apostar em “Vladimiro” por
puro entretenimento e fantasia de homem rico. Contra tudo o que era esperado, o
cavalo em que Carlos apostara consegue ganhar a corrida o que lhe permite vencer a
poule.
Esta corrida vem de novo reforçar o ridículo do evento visto que nela apenas
participam dois cavalos. A corrida fica marcada pelo facto de apenas um cavalo
atravessar a meta de forma descontraída e sem pressa e o outro já cansado e fraco
atravessar a meta muito tempo depois.
Dâmaso levou as mãos à cabeça. Uma tourada! Então o Sr. Afonso da Maia
preferia touros a corridas de cavalos? O Sr. Afonso da Maia, um inglês!...
- Um simples beirão, Sr. Salcede, um simples beirão, e que faz gosto nisso; se
habitei a Inglaterra é que o meu rei, que era então, me pôs fora do meu país... pois é
verdade, tenho esse fraco português, prefiro touros. Cada raça possui o seu sport
próprio, e o nosso é o touro: o touro com muito sol, ar de dia santo, água fresca, e
foguetes... Mas sabe o Sr. Salcede qual é a vantagem da tourada? É ser uma grande
escola de força, de coragem e de destreza... Em Portugal não há instituição que tenha
uma importância igual à tourada de curiosos. E acredite uma coisa: é que se nesta
triste geração moderna ainda há em Lisboa uns rapazes com certo musculo, a
espinha direita, e capazes de dar um bom soco, deve-se isso ao touro e à tourada de
curiosos...
O marquês entusiasmado bateu as palmas. Aquilo é que era falar! Aquilo é que
era dar a filosofia do touro! Está claro que a tourada era uma grande educação física!
E havia imbecis que falavam em acabar com os touros! Oh, estúpidos, acabais então
com a coragem portuguesa!...
- Nós não temos os jogos de destreza das outras nações, exclamava ele,
bracejando pela sala e esquecido dos seus males. Não temos o cricket, nem o footbal,
nem o runing, como os ingleses; não temos a ginástica como ela se faz em França;
não temos o serviço militar obrigatório que é o que torna o alemão sólido... Não temos
nada capaz de dar a um rapaz um bocado de fibra. Temos só a tourada... tirem a
Craft, do canto do sofá, onde Carlos se fora sentar e lhe falava baixo,
respondeu, convencido:
- O que, o touro? Está claro! o touro devia ser neste país como o ensino é lá
fora: gratuito e obrigatório.
Uma das criticas mais notáveis neste excerto é a critica ao desejo e necessidade que
o português tinha de imitar o estrangeiro. A alta sociedade tomava como exemplo as
civilizações francesa e inglesa, sociedades vistas como chiques e a favor do
progresso, tentando imitar o que havia de melhor “lá fora”.
O problema é que a sociedade lisboeta se encontrava atrasada em relação às outras
sociedades europeias, faltando-lhe caráter, originalidade e orgulho nacional. Tudo isto
resulta numa tentativa de espelho dos costumes estrangeiros acabando por falhar
miseravelmente já que a alta sociedade portuguesa não estava acostumada a este
tipo de eventos. A burguesia, naquela época, achava-se chique e achava que só o que
vinha do estrangeiro é que era bom dando maior importância aos costumes
estrangeiros do que aos nacionais.
Neste caso, inspirou-se nas corridas de cavalo que decorriam em França e Inglaterra,
tentando reproduzi-las em Portugal, mas, como era de esperar, foram um fiasco. Este
desejo de imitar o estrangeiro resultou numa tentativa de imitar não só um desporto
que não era característico de Portugal como também a decoração do espaço e as
vestimentas. O ridículo do evento emerge também do facto de os participantes
recorrerem a estrangeirismos do campo lexical das corridas de cavalos tais como
"jockey", "High Life", "gentleman" e “cocotes” para se sentirem chiques e cosmopolitas.
Uma das mais marcantes tentativas de imitar os costumes das corridas de cavalos
europeias foram as apostas. Eça refugia-se nas apostas para reforçar o ridículo que se
tornou a busca pelo requinte estrangeiro. Como apenas haviam 4 cavalos para
apostar, fizeram uma aposta sorteada em que os papeis eram dobrados e misturados
num chapéu de um dos apostadores. Isto só evidencia a falta de nível dos
portugueses que conseguiram tornar um costume de ricos em algo de mau gosto e de
estilo popular.
Afonso da Maia, por ser um verdadeiro patriota, aparece neste episódio com o objetivo
de criticar esta busca incessante ao que não é nacional. Isso é evidenciado no diálogo
entre Afonso da Maia e Dâmaso, em que este acha preferível as touradas (tradição
portuguesa) às cópias baratas das corridas de cavalos (tradição francesa e inglesa).
Temos assim um confronto entre o velho Portugal, que defende o que é nacional, e o
novo Portugal, que tem uma mentalidade de que o que é chique vem de fora.
- Então, estão convencidos? Que lhes tenho eu sempre dito? Isto é um país
que só suporta hortas e arraiais... Corridas, como muitas outras coisas civilizadas lá
de fora, necessitam primeiro gente educada. No fundo todos nós somos fadistas! Do
que gostamos é de vinhaça, e viola, e bordoada, e viva lá seu compadre! Aí está o
que é!
Ao lado dele Cliford, que no meio daquele desmancho todo esticava mais
corretamente a sua linha de gentleman, mordia um sorriso, assegurando, com um ar
de consolação, que conflitos iguais sucedem em toda a parte... Mas no fundo parecia
achar tudo aquilo ignóbil. Dizia-se mesmo que ele ia retirar a Mist. E alguns davam-lhe
razão. Que diabo! Era aviltante para um belo animal de raça correr num hipódromo
sem ordem e sem decência, onde a todo o momento podiam reluzir navalhas. (…)”
Sendo este tipo de evento incomum em Portugal, a sua realização gerou uma
confusão total. Esta confusão provinha, não só do mau gosto na decoração do espaço,
na má escolha da música e na organização do evento, como também dos
comportamentos apresentados pela alta sociedade e da forma como esta se
apresentou para a ocasião.
As roupas
Alguns homens estavam então vestidos de forma formal, mas não excessiva,
enquanto que outros, nomeadamente os mais ricos e com estatutos sociais mais
elevados, se haviam vestido de forma muito extravagante e desadequada ao tipo de
evento. Os homens que se haviam vestido de forma excessiva acabam mesmo por
sentir mal por estarem demasiado “chiques”.
“A maior parte tinha vestidos sérios de missa. Aqui e além um desses grandes
chapéus emplumados à Gainsborough, que então se começavam a usar, (…) E na luz
Com o decorrer das corridas, começou a vir ao de cima aquilo que era na realidade a
alta sociedade portuguesa. Esta não passava de pessoas ricas que muito pouco ou
nada sabiam sobre o desporto e que apenas haviam aparecido para ostentar as suas
roupas caras, o seu estatuto social elevado e aparecerem nos jornais mais
prestigiados da época. Esta falta de conhecimento acerca do desporto tornou o que
poderia ter sido um evento cativante e competitivo, num ambiente de ignorância e
desinteresse. Os homens preocupavam-se mais em apostar com os amigos apenas
pelo entretenimento, do que apostar logicamente num possível cavalo vencedor. Com
isto, os gentlemen mostravam que fosse qual fosse o resultado das corridas, estes
tinham e podiam esbanjar o seu dinheiro em apostas ilógicas pelo puro prazer de
ostentar. O evento acabou por se tornar apenas numa multidão desinteressada nas
corridas e focada apenas no seu ego o que revelava a mentalidade provinciana da
época.
“Já vira a “Mist”, a égua do Clifford, e decidira apostar pela “Mist”.” (Taveira)
Comportamentos
Por fim, há também um episódio de grande importância que Eça descreve de forma a
realçar mais ainda a tentativa de imitar o estrangeiro por parte dos que apareciam para
assistir às corridas mas que, dada a falta de civismo e boas maneiras dos
portugueses, era impossível. Este episódio é o da luta que se desenrola logo após a
primeira corrida. No fim desta corrida, o juiz toma uma decisão polémica acerca do
vencedor da mesma o que acaba por causar descontentamentos e desacatos que
acabam numa cena de pancadaria totalmente inadequada tendo em conta o suposto
requinte do evento. Por mais ridículo que possa parecer, este momento foi o único no
qual tanto os homens como as mulheres prestaram atenção e mostraram interesse
pelo que se estava a passar no hipódromo. Aquando o fim da luta, o clima de
desinteresse voltou a instalar-se. Esta discórdia gerou uma perda de postura por parte
tanto das mulheres que corriam com os filhos de um lado para o outro como por parte
dos gentleman que começam a insultar-se gratuitamente.
Durante o evento os homens estavam junto ao recinto das corridas, entre a tribuna e a
pista de corrida, vestidos de forma leve e adequada ao evento desportivo que ia
acontecer.
A assistência feminina é descrita como inútil “que nada faz de útil” e Taveira descreve
o conjunto de senhoras como um “canteirinho de camélias meladas”.
A única mulher que se destaca pela positiva é D. Maria da Cunha que desceu da
tribuna e se veio misturar com os homens, não ligando às regras de conduta, porque
não aguentava estar junto com as senhoras num clima entediante.
“Carlos, no entanto, fora falar à sua velha amiga D. Maria da Cunha que (…)
era a única senhora que ousara descer do retiro ajanelado da tribuna, e vir sentar-se
em baixo, entre os homens: mas, como ela disse, não aturara a seca de estar lá em
cima perfilada, à espera da passagem do Senhor dos Passos. E, bela ainda sob os
seus cabelos já grisalhos, só ela parecia divertir-se ali, muito à vontade, com os pés
pousados na travessa duma cadeira, o binóculo no regaço, cumprimentada a cada
instante, tratando os rapazes por meninos...”
No que toca então à atualidade da crítica feita por Eça podemos destacar alguns
aspetos principais que escolhemos abordar e desenvolver:
“- Nós não temos os jogos de destreza das outras nações, exclamava ele,
bracejando pela sala e esquecido dos seus males. Não temos o cricket, nem o footbal,
nem o runing, como os ingleses; não temos a ginástica como ela se faz em França;
não temos o serviço militar obrigatório que é o que torna o alemão sólido... Não temos
nada capaz de dar a um rapaz um bocado de fibra. Temos só a tourada... Tirem a
tourada, e não ficam senão badamecos derreados da espinha, a melarem-se pelo
Chiado! Pois você não acha, Craft?
Craft, do canto do sofá, onde Carlos se fora sentar e lhe falava baixo,
respondeu, convencido:
- O que, o touro? Está claro! o touro devia ser neste país como o ensino é lá
fora: gratuito e obrigatório.”
No que toca à atualidade, podemos abordar este tema de duas formas distintas.
Podemos abordar este tema no que toca à evolução do ensino português ou podemos
analisar o atraso que continua a existir no nosso ensino quando comparado com
outros países.
A nosso ver, o ensino português dos dias de hoje pode ser considerado de qualidade.
Desde há alguns anos que o nosso ensino se tornou obrigatório até ao secundário e,
mais recentemente, acabou mesmo por se tornar gratuito a partir do momento que a
oferta no que toca a escolas públicas é muito grande e o governo passou a pagar os
manuais escolares. Para além disso, o ensino em Portugal é de renome visto que o
nosso país possui grandes universidades de renome internacional e que a nossa
formação é reconhecida por produzir excelentes profissionais em diversas áreas.
Desta forma, a crítica feita ao ensino da época é intemporal e pode-se aplicar aos dias
de hoje visto que, mesmo os problemas apontados tendo sido resolvidos, o ensino
português continua muito atrás do ensino nos países “modelo”.
O adultério
Outra das críticas evidentes feitas por Eça relaciona-se com o adultério que, nos finais
do século XIX, era visto como um comportamento escandaloso.
A Gouvarinho representa então o adultério pois, sempre que esta entra em ação, tem
como objetivo estar perto de Carlos e falar com ele, tentando convencê-lo a ir com ela
passar uma noite a um hotel em Santarém mesmo esta estando casada.
O comportamento da sociedade
Esta crítica ao comportamento da sociedade é presente até aos dias de hoje visto que
diariamente nos deparamos, não só com pessoas que tentam fazer-se passar por
quem não são, mas também com uma mentalidade por parte da nossa sociedade
onde todos tentam tirar proveito próprio em qualquer situação implique o que implicar.
Desta forma, o povo português continua a ter um espírito arruaceiro e desrespeitador,
sem qualquer requinte.
Até aos dias de hoje, grande parte da população acredita que o que é bom e de
qualidade tem que vir de fora. Esta é a crítica mais importante feita por Eça neste
episódio e é fácil entender o porquê da sua intemporalidade. Ao longo de todo o
capítulo, é feita uma caricatura da forma como a sociedade daquela época tenta
importar costumes, eventos e comportamentos característicos de outros países que
esta via como exemplo do “chique” falhando miseravelmente. Desta forma deparamo-
nos com um povo que tenta igualar Lisboa às grandes capitais europeias, tais como
Paris, e que para isso opta pelas corridas de cavalos em vez das touradas que eram
algo característico de Lisboa mas que aos olhos da população não eram requintadas.
Lisboa era então uma cidade sem qualquer originalidade e orgulho nacional onde
“Todo o patriota devia apostar pelos cavalos do visconde de Darque, que era o
único criador português!... - Pois não é verdade, Sr. Afonso da Maia? O velho sorrio,
amaciando o seu gato. - O verdadeiro patriotismo talvez, disse ele, seria, em lugar de
corridas, fazer uma boa tourada.”
Concluindo, sugerimos a todos que releiam este capítulo de uma forma mais crítica e
tentando entender a simbologia por detrás de cada pormenor.
https://prezi.com/xm9t8amue6wx/corridas-de-cavalos-os-maias/
https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$corridas-no-hipodromo-(os-maias)
https://issuu.com/dbrolinn/docs/trabalho_de_portugu_s
https://notapositiva.com/os-maias-episodio-corridas-cavalos/
http://figaro.fis.uc.pt/queiros/obras/Maias/Maias_20001210.pdf
https://www.studocu.com/pt/document/ensino-secundario-portugal/portugues/os-
maias-episodio-da-corrida-de-cavalos-e-marcas-da-linguagem-queirosiana/9529280
http://www.esqm.pt/documentos/BE/Nova%20pasta/Maias.pdf
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