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N’Os Maias, Eça de Queirós propõe a história duma família lisboeta, representante
da alta burguesia, apresentada em três gerações sucessivas:
1.ª geração– Caetano da Maia que representa o português antigo; apoiante do
absolutismo em decadência; – Afonso da Maia que lutou contra o absolutismo
e pela implantação do liberalismo;
2.ª geração– Pedro da Maia que representa as crises do liberalismo e a
mentalidade frustrada dum romantismo que começa a apreciar-se na falência e
na catástrofe;
3.ª geração- Carlos da Maia que representa a decadência do liberalismo e a
Regeneração, mostrando os ambientes e os hábitos de uma sociedade em crise
cultural, social e política.
O subtítulo propõe – Episódios da Vida Romântica – que vão servir de
pretexto para a comédia de costumes.
O Subtítulo
A par da história da família dos Maias surgem vários episódios que retratam a
sociedade burguesa lisboeta dos finais do século XIX. Eça de Queirós dá uma
visão crítica ao mundo social e político dessa sociedade, apresentando os seus
costumes, vícios, virtudes..., representada por personagens que tipificam um
vício, grupo e/ou profissão.
O Subtítulo
A visão crítica do mundo social e político dessa sociedade, surge sobretudo nos
seguintes episódios:
- O jantar no Hotel Central;
- O jantar dos Gouvarinhos;
- O episódio dos jornais (A Corneta do Diabo e A Tarde);
- A corrida de cavalos;
- O sarau da Trindade;
- O passeio Final.
O hybris (desafio) de Pedro quando casa com Maria O clímax é atingido na consumação do incesto.
Monforte, contra a vontade do pai, Afonso da Maia, e de
Carlos que desafia os valores morais da sociedade, quando
concretiza a relação amorosa com Maria Eduarda, pois O reconhecimento/agnórise da identidade de Maria Eduarda
julgava-a casada. como irmã de Carlos da Maia.
A peripécia, ou seja, a mudança súbita de situação: as casuais O sofrimento/pathos provocado pela descoberta da
revelações de Guimarães a Ega, preparadas pelo seu encontro identidade de Maria Eduarda.
com Maria Eduarda, mudando assim a relação entre Carlos e
Maria Eduarda.
A catástrofe, originada pelo reconhecimento do grau de
parentesco entre Carlos e Maria Eduarda.
O destino, corporizado por Guimarães, mensageiro do grau
de parentesco entre Carlos e Maria Eduarda. A cartarse dá-se no último encontro de Carlos com o avô e na
separação dos dois amantes: Carlos viaja pela Europa e Maria
Eduarda parte para Paris.
N’Os Maias, as características da tragédia
clássica estão patentes em algumas situações.
Catástrofe
Peripécia
Agnórise
Destino
Catarse
Pathos
Climax
Hybris
Repara neste quadro que estabelece uma
relação entre essas situações e as
características da tragédia clássica que lhe
estão subjacentes.
Consumação do incesto X
As corridas no hipódromo
Estes episódios constituem a crónica de
costumes através da qual Eça de Queirós nos O jantar dos Gouvarinhos
dá uma visão crítica ao mundo social e político
dessa sociedade, apresentando os seus O episódio jornal A Tarde
costumes, vícios, virtudes...
Vejamos esses episódios: O Sarau da Trindade
O passeio final de
Carlos e Ega
Jantar no Carlos em As corridas no O sarau no Passeio final
Jantar dos
Hotel Central Sintra hipódromo Os Jornais Teatro da de Carlos e
Gouvarinho
[Cap. VI] [Cap. VII] [Cap. X] [Cap. XV] Trindade Ega
[Cap. XII]
[Cap. XVI] [Cap. XVIII]
Críticas Críticas Críticas Críticas Críticas Críticas Críticas
À oratória À
À À imitação À
bajuladora estagnaçã
literatura; do sociedade o de
e banal;
estrangeir lisboeta Portugal;
Às em geral; Ao À
Finanças A busca o; jornalismo
(frustrada) literatura; À falta de
Ao À parcial e originalida
À História da provincian mediocrid À
corrupto; de;
À felicidade ismo; ade permanên
mentalida mental; À política cia dos À
Ao mau
de valores do incapacida
gosto À de de
retrógrada ultrarroma
ignorância evoluir
ntismo
Espaço Físico
Espaços Exteriores e Interiores
É o recanto idílico nos Olivais, onde Maria Eduarda e Carlos trocam juras de
A Toca amor e onde surgem objetos que apontam para a tragédia que o atingirá
através do incesto.
O quarto do O quarto do Hotel Central e a casa na Rua de S. Francisco constituem
Hotel Central e cenários que envolvem Maria Eduarda, daí que Carlos os observe, assim
a casa na Rua como os objetos que os constituem, tentando adivinhar a personalidade de
de S. Francisco Maria Eduarda.
•A instalação no Ramalhete
Representa a projeção da personalidade de Carlos. Este contrata um
decorador inglês para o decorar, confirmando, assim, a educação que
recebeu. Deste modo, sob a influência de Carlos, o Ramalhete
transformar-se-á num espaço «de luxo inteligente e sóbrio». Não
obstante, os pormenores decorativos com nuances exóticas e o
excesso de objetos de arte suscitam algumas dúvidas sobre a vida
futura de Carlos, remetendo para o dandismo: Vilaça face ao aspeto
dos quartos, «os recostados acolchoados, a seda que forrava as
paredes», afirma «que aquilo não eram aposentos de médico – mas
de dançarina!».
•Os dois anos em que viveu em Lisboa
Nesta segunda fase, o Ramalhete acompanha o evoluir da intriga e constitui um espaço de
crónica de costumes, apresentando-se com um local de «luxo maciço e sóbrio» e
confortável «a luz (…) coada, caindo sobre os damascos vermelhos das paredes, dos
assentos, fazia um adoce refracção cor-de-rosa.», ou seja, um espaço propício à
tranquilidade e à felicidade. Contudo, «uma venerável cadeira de braços, cuja tapeçaria
mostrava ainda as armas dos Maias no desmaio da trama de seda» pressagia algo de
trágico, através dos cuidados decorativos exagerados de Carlos com o avô. O reencontro
de Carlos com este espaço é marcado pela decadência: o desconforto e o abandono,
imbuído de uma atmosfera de morte e sofrimento: «Em cima, porém, a antecâmara
entristecia, toda despida, sem um móvel, sem um estofo, mostrando a cal lasca dos
muros. (…) Depois, no amplo corredor, sem tapete, os seus passos soavam como um
claustro abandonado»; «Carlos pôs também o chapéu: e desceram pelas escadas forradas
de veludo cor de cereja, onde ainda pendia, com um ar de ferrugem, umas panóplia de
velhas armas. Depois na rua Carlos parou, deu um longo olhar ao sombrio casarão, (…)
mudo, para sempre desabitado, cobrindo-se já de tons de ruína». O «ar de ferrugem»
simboliza da decadência de um poder e de um prestígio perdidos, «os tons de ruína» que
predominavam antes das reformas do Ramalhete, instalaram-se nesta fase para sempre.
•O reencontro com o Ramalhete em 1887
Na primeira e última fase, o Ramalhete denota tristeza e abandono. No
jardim destacam-se três símbolos do amor puro e imortal: o cipreste e o
cedro, unidos, inseparáveis pela união das raízes que resistem a tudo,
envolvidos num amor puro e eterno. Este amor não é o de Carlos e Maria
Eduarda pois este é impuro, mas sim a amizade de Carlos e Ega, pura e
eterna. Surge ainda a Vénus Citereia, ligada à sedução e volúpia. Deusa do
amor, desejo e prazer, metonimicamente, surge ligada às três fases do
Ramalhete: na primeira, relaciona-se com a morte de Pedro da Maia «…
uma estátua de Vénus Citereia enegrecendo a um canto…»; na segunda, a
estátua aparece restaurada, cheia de esplendor, simbolizando o renascer,
uma nova vida, sem deixar de indiciar algo trágico, na última fase, esta
estátua, símbolo do Amor e do Feminino, surge «… coberta de ferrugem
verde, de humidade», ou seja, preconizando Maria Eduarda, o seu amor,
destrói a harmonia da família dos Maias.
•A Vila Balzac
A própria decoração da Vila Balzac constitui o prolongamento das
concepções de Ega, que afirma que «o móvel deve estar em harmonia
com a ideia e o sentir do homem que o usa!»; logo a exuberância
afectiva e erótica de Ega reflecte-se neste espaço: o leito «enchia,
esmagava tudo»; a predominância do encarnado, o «fundo vermelho»,
o «felpo escarlate», a «seda da Índia avermelhada», sugerindo também
o satanismo manifestado muitas vezes por esta personagem. Por outro
lado, o espelho à cabeceira acentua o temperamento exibicionista e
narcisista e contrasta com o «aparato de tabernáculo», vincando
novamente o comportamento contraditório de Ega.
•A Toca
Este espaço surge envolto de exotismo, excentricidade e anormalidade. Esta
última destaca-se pelos seguintes objectos: «o armário da Renascença» com
os seus dois faunos, simboliza a atracção carnal; «a taça de faiança» com o
seu «renque de negros ciprestes» e o «ídolo japonês», «representação
transparente de tudo quanto é sórdido e anormal no incesto». Este espaço,
como o próprio nome indica, é a habitação de alguns animais. À semelhança
de alguns animais, Carlos e Maria Eduarda têm o seu lugar, o seu canto de
união. Por outro lado, as cores predominantes são o amarelo e o dourado,
cores que representam a luxúria, as sensações fortes e proibidas (o incesto).
•O quarto do Hotel Central
No quarto do Hotel Central, quando Carlos visita Rosa destaca uma
atmosfera de intimidade e de ligeira sensualidade: «delicado alvejar de
roupa branca, todo um luxo secreto e raro de rendas e baptistes»; «um
sofá onde ficara estendido, com as duas mangas abertas, à maneira de
dois braços que se oferecem, o casaco de veludo lavrado de Génova».
Todavia, há objectos que causam estranheza a Carlos, indiciando a
irregularidade da relação entre este e Maria Eduarda: o «Manual de
Interpretação dos Sonhos»; «uma enorme caixa de pó de arroz, toda de
prata dourada…» e «uma jóia exagerada de coccote».
•A casa na Rua de S. Francisco
A casa na Rua de S. Francisco, segundo Carlos, projecta o temperamento de
Maria Eduarda: «e em tudo havia a ordem clara que tão bem condizia com
o seu puro perfil». Carlos é atraído pela decoração, pois Maria Eduarda
tenta atenuar o desconforto deste espaço com os seus «retoques de
conforto e de gosto»: as cortinas novas, o pequeno contador árabe, um
cesto de porcelana duas taças japonesas. Esta atitude de dissimulação,
ocultação representa também a relação irregular destas duas personagens,
o engano em se estão envolvendo.
Espaço Psicológico
O espaço psicológico é um espaço subjetivo, porque está
relacionada com as vivências íntimas das personagens. N’Os
Maias, este espaço surge, sobretudo, em função da
personagem central da obra, Carlos da Maia, ocupando
também João da Ega um lugar de destaque.
O espaço psicológico é um espaço subjetivo, porque está relacionado com as vivências
íntimas das personagens; é constituído pelo conjunto de elementos que traduz a
interioridade das personagens.
Focalização interna
Vilaça a educação de Carlos.
a descrição de Maria Eduarda;
Carlos os episódios da crónica de costumes;
os seus estados de alma.
os episódios do Jornal A Tarde e do sarau da Trindade;
Ega
a sua própria consciência.
Personagens
Personagens de ambiente e personagens da intriga
Guimarães Cruges
Pintura Realista
Abordagem científica The Gleaners – Jean Francois Millet
A abordagem científica de Os Maias
traduz-se na observação objetiva
e minuciosa da realidade, ou seja, dos Eça de Queirós elabora, aparentemente, a
espaços onde decorre a ação, e na história de uma família, mas constrói,
análise das circunstâncias sociais que sobretudo, uma crónica social, cultural e
envolvem as personagens, política, através da qual conhecemos o espaço
condicionando o seu comportamento. social da época em que a obra foi produzida, ou
(clique para fechar) seja, da sociedade da alta burguesia
portuguesa do século XIX.
Realismo Naturalismo
Pintura Realista
The Gleaners – Jean Francois Millet
Os termos Realismo e Naturalismo
surgem muitas vezes associados: há
quem considere o Naturalismo como
o prolongamento do Realismo e quem
diga que o Naturalismo é um Realismo
exacerbado.
Eça de Queirós, na 4.ª Conferência do Casino
Lisbonense, a respeito do Realismo diz:
O Realismo é uma corrente estética e literária
que surge como reação ao idealismo e «É a negação da arte pela arte; é a proscrição do
subjetivismo românticos. Procura a convencional, do enfático e do piegas. É a
conformação com a realidade e, por isso, as abolição da retórica considerada arte de
suas características estão ligadas ao momento promover a emoção, usando da inchação do
histórico em que surgiu, refletindo essa época, período, da epilepsia da palavra, da congestão
ou seja, representando o mundo exterior de dos tropos. É a análise com o fito na verdade
forma fidedigna. absoluta. Por outro lado, o realismo é uma reação
O Realismo preocupa-se com a verdade dos contra o romantismo: o romantismo era a
factos, com a realidade concreta, vista de forma apoteose do sentimento; o realismo é a anatomia
objetiva, explicando os comportamentos das do carácter, é a crítica do homem. É a arte que
personagens, voltada para a análise das nos pinta a nossos próprios olhos – para
condições políticas, económicas e sociais. condenar o que houver de mau na nossa
Vê a definição de Realismo dada pelo próprio sociedade.»
Eça de Queirós. Reconstituição de António Salgado Júnior,
Histórias das Conferências do Casino, Lisboa
1930, páginas 55-56.
O Naturalismo é uma conceção filosófica que considera a realidade como a
única realidade existente, aceitando apenas o que pode ser explicado através
das ciências naturais. Analisa o comportamento das personagens tendo em
conta as circunstâncias sociais que as condicionam, ou seja, a obra naturalista
procura explicar as personagens através da análise aos antecedentes familiares,
aos problemas e/ou doenças hereditárias, à sua educação e à sua posição
económica, tendo em conta o meio social em que se inserem.