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TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA:

UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA


FERNANDA RIBEIRO MARINS
07/10/2019

CONTEÚDO
 RESUMO

 1. INTRODUÇÃO
 2. METODOLOGIA
 3. A HISTÓRIA E O ADVENTO DA REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA
 4. PRINCIPAIS TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA
 4.1 INSEMINAÇÃO INTRAUTERINA (IIU)
 4.2 FERTILIZAÇÃO IN VITRO (FIV)
 4.3 INJEÇÃO INTRACITOPLASMÁTICA DE ESPERMATOZOIDES (ICIS)
 4.4 DOAÇÃO DE ÓVULOS
 5. REPRODUÇÃO ASSISTIDA E LEGISLAÇÃO
 6. A BIOMEDICINA E A REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA
 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
 8. REFERÊNCIAS

ARTIGO ORIGINAL

PAULA, Patrícia Joelma de [1], MAIA, Laís Edmara de Paula [2], NUNES, Maria Helena
Magina [3], FILHO, Marcelo Limborço [4], MARINS, Fernanda Ribeiro [5]

PAULA, Patrícia Joelma de. Et al. Técnicas de reprodução humana assistida: uma


revisão bibliográfica. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano
04, Ed. 09, Vol. 02, pp. 90-104. Setembro de 2019. ISSN: 2448-0959, Link de
acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/tecnicas-de-reproducao

RESUMO

A infertilidade é uma realidade que acomete muitos casais no mundo todo, com dados
estatísticos que demonstram um crescimento desta condição. Entretanto, subsidiada
pelas evoluções tecnológicas e científicas, a Medicina e a Biomedicina vêm
contornando esta situação com a promoção do desenvolvimento de técnicas de
reprodução humana assistida para o tratamento desta patologia. O que para muitos
representa um obstáculo moral e religioso, para outros casais vem representando uma
alternativa para a formação de famílias e para o planejamento familiar que, no mundo
moderno, ganharam novos conceitos e concepções. Mesmo sem uma legislação
específica, o assunto vem sendo amparado pela Constituição Federal e por diversos
decretos. Desta forma, o presente trabalho objetivou abordar a reprodução humana
assistida, identificando suas principais técnicas e destacando a importância da
biomedicina neste processo. Para tanto, adotou-se a revisão bibliográfica como
recurso metodológico. Destaca-se com o estudo que as principais técnicas utilizadas
são: Inseminação Intrauterina (IIU), Fertilização In Vitro (FIV), Injeção
Intracitoplasmática de Espermatozóides (ICIS) e Doação de óvulos, que vêm garantindo
o alcance de um índice maior de gravidez para mulheres com problemas de fertilidade.
Neste contexto, o biomédico vem desempenhando papéis importantes para que a
aplicação das técnicas se torne exitosas, principalmente em atividades relacionadas à
Andrologia e à Embriologia nos laboratórios.

Palavra-Chave: Infertilidade, reprodução, reprodução humana assistida, biomedicina.

1. INTRODUÇÃO

Reprodução Humana Assistida (RHA) é o termo utilizado para descrever o conjunto de


técnicas utilizadas para o tratamento da infertilidade através de métodos médico-
tecnológicos onde ocorre a manipulação de pelo menos um dos gametas (RAMIREZ-
GALVEZ, 2008). Assim, pode-se afirmar que a RHA surgiu a partir do progresso e do
avanço dos estudos da genética.

Apesar dos obstáculos, principalmente morais e religiosos, houve um salto tecnológico


no desenvolvimento e aplicação das técnicas de RHA nas três últimas décadas
(AVELAR, 2008). De acordo com a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA,
2019), a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cinquenta milhões de
pessoas no mundo relatem problemas para ter filhos, sendo que no Brasil o número
pode chegar a oito milhões de pacientes.
Entretanto, o que há 20 anos era considerado como impossível em termos de
fertilidade, a reprodução assistida vem caracterizando-se como uma importante
ferramenta justamente pelos avanços tecnológicos. Desta forma, a medicina
reprodutiva vem possibilitando a construção de famílias entre casais com problemas
reprodutivos.

Em 1978, o primeiro bebê-proveta gerado nasceu na Inglaterra, e teve sua tecnologia


aplicada no Brasil em 1984, quando em Curitiba foi gerado o primeiro bebê-proveta
brasileiro (MACHADO, 2008). Desde então, avanços significativos vêm sendo
registrados e diversas descobertas acerca de técnicas de reprodução assistida vêm
mudando realidades e atualizando dados estatísticos.

Dentro desta assertiva, algumas questões investigativas norteiam a pesquisa para o


referido artigo de revisão: quais as principais técnicas de reprodução humana assistida
utilizadas nos dias de hoje? Como as mesmas podem ser diferenciadas ou
caracterizadas? Qual o papel do biomédico em relação às tais técnicas? Qual é o
amparo legal neste âmbito?

Desta forma, esta revisão bibliográfica tem como objetivo principal abordar aspectos
da reprodução humana assistida na atualidade. Para o seu cumprimento, alguns
objetivos específicos foram elencados: identificar as principais técnicas para a
reprodução assistida, destacar o papel e a importância da biomedicina na reprodução
assistida e conhecer a legislação aplicada e pertinente à reprodução assistida.

2. METODOLOGIA

Para a elaboração deste trabalho, a metodologia adotada foi a revisão bibliográfica,


desenvolvida por meio de um estudo baseado em artigos científicos publicados em
revistas relacionadas ao tema. Os principais termos de referência para estudo foram:
fertilidade, infertilidade, fecundação, fertilização, biomedicina, biomédicos,
Reprodução Humana Assistida (RHA), Inseminação Intrauterina (IIU), Fertilização In
Vitro (FIV), Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICIS) e Doação de Óvulos.
Foram utilizadas várias combinações entre os descritores para êxito de pesquisa. Como
critérios de inclusão, priorizaram-se as publicações mais recentes, bem como as que se
correlacionam ao objetivo proposto por este artigo.

3. A HISTÓRIA E O ADVENTO DA REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA

A reprodução assistida foi ensaiada pela primeira vez na idade média, em torno de
1300, quando Le Bom teria realizado tentativas de inseminação artificial em animais.
Em 1790, o médico inglês Jon Hunter obteve êxito com a prática em uma mulher.
Entretanto, só em 1944 foi realizada a primeira fertilização com óvulos humanos,
executada por Rock e Menki. No Brasil, a reprodução humana foi iniciada em 26 de
dezembro de 1947 com a criação da Sociedade Brasileira de Esterilidade (SBE) (SOUZA
e ALVES, 2016).

Em 25 de julho de 1978, ocorreu na Inglaterra o primeiro caso de reprodução humana


assistida, onde foi fecundado o óvulo fora do organismo materno, em uma proveta.
Assim, após um trabalho de pesquisa de 15 anos feito pelos doutores Patrick Steptoe e
Robert Edwards, nasceu Louise Brown, filha de Leslie e John Brown, o primeiro ser
humano nativo da reprodução in vitro. A técnica foi replicada no Brasil pela primeira
vez em 7 de outubro de 1984 com a inseminação que geraria o bebê Ana Paula
Caldeira (MACHADO, 2008).

O processo de concepção, que pode ser natural na maioria dos casos entre casais, tem
se mostrado complexo para alguns. Nestes casos, a ciência tem demonstrado
inovações e criado possibilidades de aumento das chances de reprodução entre casais
com problemas de infertilidade (SILVA, 2016). Dada a relevância da alta prevalência
mundial, atingindo entre 8 a 12% os casais em idade fértil, com uma média global de
9%, podendo chegar até 30% em determinadas populações, como no centro e sul da
Ásia e norte e leste da África, a infertilidade tem sido alvo de investimentos e
pesquisas de suas causas e estratégias intervencionistas de alta complexidade. Quanto
às principais causas de infertilidade, em um estudo realizado com 193 mulheres em
tratamento, os fatores masculino e tubário foram as principais etiologias, contribuindo
com 31,3 e 20,2% dos casos, respectivamente. A idade avançada (12,8%), síndrome do
ovário policístico (11,8%), endometriose (11,1%), esterilidade sem causa aparente
(9,0%), oligo-ovulação (1,1%) e miomatoseuterina (0,5%) também foram considerados
fatores predisponentes (FERREIRA et al. 2017).

A evolução da reprodução humana assistida é marcada pela evolução das pesquisas e


experimentos da genética, e vem ao longo dos anos rompendo limites e barreiras em
relação à fecundidade de homens e mulheres, promovendo e proporcionando
planejamento familiar por meio da oferta de diversas técnicas. O aperfeiçoamento das
técnicas tornou o processo de fecundação por técnicas artificiais rotineiras e,
consequentemente, além das inquietações bioéticas, as habilidades médicas
reprodutivas passaram a ser vistas como um passo adiante na ciência e um progresso
da humanidade. O fenômeno de controle da reprodução da espécie se fez um marco
científico em meio a conflitos éticos e religiosos (MEDEIROS e LIMA, 2014; FERREIRA et
al., 2017).

4. PRINCIPAIS TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA

As técnicas de reprodução humana assistida auxiliam o procedimento de procriação


quando outros métodos se mostram ineficazes. Deste modo, ajustam-se de duas
maneiras: inseminação artificial ou fertilização assistida, conforme o problema
apresentado (CRUZ, 2008).

Várias técnicas são utilizadas no tratamento de infertilidade e algumas têm se


evidenciado pela sua eficácia, sendo elas: Estimulação Ovariana Controlada (ECO),
Inseminação intrauterina (IIU), Inseminação Intrauterina com Sêmen de Doador (IIUD),
Transferência Intratubárea de Gametas (GIFT), Fertilização In Vitro e Transferência de
Embriões (FIV-TE), Fertilização In Vitro e Transferência de Embriões com Sêmen de
Doador, Fertilização In Vitro e Transferência de Embriões com Doação de Oocistos,
Doação de Oocistos (DO), Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoide (ICSI),
Criopreservação de Embriões, Criopreservação de Embriões em Estágio de Pró-núcleo,
Criopreservação de Oocistos, Descongelamento e Transferência de Embriões, Doação
de Embriões, Descongelamento de Embriões e Transferência de Embriões Doados,
Fertilização In Vitro com Útero de Substituição (SOUZA e ALVES, 2016).
O número de procedimentos realizados no Brasil chegou a 33.790 no ano de 2016,
segundo o Relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio),
elaborado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (SOUZA e ALVES,
2016).

O último registro da Rede Latino-Americano de Reprodução Assistida (REDLARA)


destacou aumento de 50% no número de ciclos realizados no Brasil com apenas um
embrião. Isto significa que o número de embriões transferidos com reprodução
assistida no Brasil vem se reduzindo. Os casos nos quais é feita a transferência de dois
embriões também caíram de 30% nos últimos anos (REDLARA, 2018).

Destaca-se nesse processo que o objetivo atual é buscar uma taxa menor de gestações
múltiplas para possibilitar uma maior segurança para os pacientes, uma vez que uma
gestação com múltiplos embriões pode ocasionar riscos para a gestante. Neste
sentido, através do aperfeiçoamento das técnicas e do avanço tecnológico na
medicina, tem-se permitido selecionar embriões com maior probabilidade de gerar
uma gestação de feto único. Em contrapartida, devido ao desgaste físico, econômico e
emocional desse processo, muitos casais ainda buscam a implantação de mais de um
embrião de modo a aumentar a taxa de sucesso da inseminação (REDLARA, 2018).

Neste referido artigo serão exploradas as principais e mais comuns técnicas utilizadas,
sendo elas: Inseminação intrauterina (IIU), Fertilização In Vitro (FIV), Injeção
Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICIS) e Doação de Óvulos.

4.1 INSEMINAÇÃO INTRAUTERINA (IIU)

A Inseminação Intrauterina (IIU) é definida como uma técnica simples e de menor


complexidade, no qual ocorre apenas a manipulação de um dos gametas. Ocorre uma
seleção dos espermatozóides conforme a sua normalidade e motilidade para que
possam ser introduzidos no interior do útero por cateter específico, sem que haja
relação sexual (SCALQUETTE, 2010).
A IIU é usada na terapêutica de pacientes com disfunção ovulatória, disfunção no fator
masculino leve a moderado, anormalidades do fator cervical, infertilidade de causas
desconhecidas e endometriose (SOUZA e ALVES, 2016).

Esta técnica baseia-se em depositar os espermatozóides qualificados em laboratório,


seja a amostra do parceiro ou de um doador, no útero através da inserção de um
catéter sem anestesia ou internamento, durante o período ovulatório da paciente. A
indução da ovulação seguida de IIU é considerada um tratamento simples, e são
escassos os registros de complicações, apresentando, portanto, taxa de gestação
satisfatória sempre que indicada (FERREIRA et al., 2017).

O tratamento pode ser dividido em três etapas: (1) Estimulação Ovárica – etapa de
grande importância para o sucesso do tratamento IIU, no qual o objetivo é estimular
os ovócitos em no máximo três; (2) Capacitação Espermática – o espermatozóide é
selecionado em laboratório por meio de técnicas de capacitação. O sêmen é colocado
no fundo do tubo de ensaio e encoberto por uma fração de meio de cultura
tamponado. Os melhores espermatozóides se desprendem e nadam para a superfície;
(3) Inseminação – o ginecologista utiliza um espéculo e insere no útero um cateter com
os espermatozóides decorrentes da capacitação.

A IIU não pode ser realizada por mais de três tentativas. Em caso de insucesso, indica-
se outro método para a fertilização in vitro (SOUZA e ALVES, 2016)

4.2 FERTILIZAÇÃO IN VITRO (FIV)

A Fertilização In Vitro (FIV) é uma das técnicas de reprodução assistida mais utilizada,


na qual a manipulação e a fecundação dos gametas masculinos e femininos são
executadas em laboratório (CRUZ, 2008). É utilizada para reproduzir artificialmente o
ambiente das trompas de falópio em um tubo de ensaio ou em uma placa, facilitando
a fecundação do óvulo por meios laboratoriais. Aconselha-se sua utilização nas
seguintes condições clínicas: lesão das tubas, laqueadura sem chance de reversão,
endometriose, infertilidade masculina ou esterilidade sem causa evidente (FERREIRA et
al., 2017).
Apesar de ser uma técnica simples, a manipulação é complexa e apresenta algumas
limitações legais. Por este motivo, nota-se que o número ideal de embriões não
poderá ultrapassar em quatro amostras para que não haja risco clínico para a futura
mãe possibilitando, dessa forma, a gravidez múltipla dentro dos parâmetros de
segurança (CFM, 2013; CFM, 2015).

A FIV pode ser constituída de duas formas: homóloga e heteróloga, sendo homóloga a
inseminação realizada com material genético dos próprios cônjuges; e a heteróloga a
fecundação utilizando material genético de pelo menos um terceiro indivíduo,
utilizando-se ou não os gametas de um dos cônjuges (RODRIGUES, 2002). Para que se
realize a FIV, é preciso que algumas fases sejam observadas: Indução da ovulação,
monitorização do crescimento folicular, coleta de óvulos, coleta do sêmen,
inseminação in vitro, transferência de embriões para o útero, suporte da fase lútea e
diagnóstico de gestação (WRIGHT et al., 2008; SOUZA e ALVES, 2016).

As chances de sucesso buscando alcançar uma gravidez saudável com a utilização da


FIV diferenciam conforme a idade da mulher, sendo 35% para as mulheres até 30 anos,
30% para as mulheres entre 30 e 35 anos, 28% para as mulheres entre 35 e 37 anos,
20% para as mulheres de 38 a 40 anos, 10% quando a idade é de 41 e 42 anos, caindo
para 4%, quando a mulher tem mais de 42 anos de idade (SOUZA e ALVES, 2016).

4.3 INJEÇÃO INTRACITOPLASMÁTICA DE ESPERMATOZOIDES (ICIS)

A Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICIS) foi desenvolvida na Bélgica em


1992 e só chegou ao Brasil dois anos depois, sendo esta técnica apropriada para os
casos de infertilidade masculina grave. É indicada para homens considerados estéreis
irreversivelmente, por terem problemas com o número, motilidade ou forma dos
espermatozóides (FERREIRA et al., 2017). Podem ser utilizados gametas provenientes
de aspiração do epidídimo, do testículo e até coletados de amostra de tecido testicular
congelado nos casos de tumores de testículo, de vasectomia ou agenesia de ducto
deferente (FERREIRA et al., 2017).
A fertilização também ocorre in vitro, mas não espontaneamente. Primeiramente, são
coletados os gametas, efetuada uma seleção dos melhores e mais capacitados
espermatozóides e, em cada óvulo colhido é injetado apenas um gameta masculino,
sendo este processo executado com o auxílio de uma agulha para atravessar a zona
pelúcida, camada que envolve o óvulo (SOUZA e ALVES, 2016).

4.4 DOAÇÃO DE ÓVULOS

A doação de óvulos é dividida em três categorias: i) altruística; ii) sentimental


e, iii) doação relacional cruzada ou doação relacional anônima personalizada. Na mais
comum, a altruística, os óvulos são doados de forma anônima e gratuita. Por sua vez,
na sentimental a doação é feita por familiares ou amigos. Já a terceira é mais
complexa, por que há uma troca de óvulos, onde uma mulher oferecerá óvulos a
outra, essa receptora por sua vez providenciará uma doadora para a primeira mulher
(SOUZA e ALVES, 2016). A prática da doação de óvulos no mundo está diretamente
ligada à cultura e à regulamentação local. Na Alemanha, por exemplo, a doação de
óvulos não é permitida, enquanto em outros lugares da Europa é permitido com o
anonimato das doadoras (como na França, Grécia, Hungria, Itália, Polônia, Portugal,
Eslovênia e Espanha), ou não-anonimato (como na Áustria, Finlândia, Países Baixos,
Suécia e Reino Unido) (ALVARENGA, ZUCULO e GUIMARÃES, 2018,).

A doação de óvulos é indicada principalmente quando há falência ovariana precoce,


caracterizada pela menopausa antes dos 40 anos de idade, incluindo predisposição
genética, infecções, doenças enzimáticas, entre elas os tratamentos de quimioterapia
e radioterapia (JANKOVSKA, 2017).

Reame (2000) destaca a função social que as doadoras. Segundo Weil e colaboradores
(1994), mediante uma pesquisa em um grupo de doadoras de óvulos, descobriram que
metade delas encarava a atitude como um ato de solidariedade feminina, ou seja,
ajudar uma mulher a partir de sua própria capacidade fértil.

5. REPRODUÇÃO ASSISTIDA E LEGISLAÇÃO


Apesar das inúmeras mudanças no contexto mundial e desenvolvimento das técnicas
clínicas e das pesquisas revolucionárias da reprodução humana assistida, houve
paralelamente um aumento das discussões éticas e religiosas que podem, em alguns
casos, promover retrocesso ou atraso no desenvolvimento e aplicação destas técnicas.
Entretanto, da mesma forma, especialistas e estudiosos vêm se dedicando aos
achados, pareceres e dispositivos legislativos para amparar o tema (SOUZA e ALVES,
2016; SILVA, 2016).

Além de muito discutido, ainda há lacunas em alguns pontos determinantes sobre esse
assunto. No Brasil não há uma lei específica para a reprodução humana assistida,
sendo a inovação amparada pela Constituição Federal e por alguns decretos (SOUZA e
ALVES, 2016).

De acordo com Silva (2016), é garantido aos cidadãos, constitucionalmente, o direito à


reprodução humana assistida, enquanto forma de procriação e planejamento familiar.
Este direito é matéria do artigo 226, §7º (BRASIL, 1988). Em complemento à
Constituição Federal, a Lei 9.263/96 veio dispor sobre a condição do planejamento
familiar enquanto uma visão integral à saúde (BRASIL, 1996).

Encontra-se breve menção sobre o termo ‘Reprodução Humana Assistida’ na Lei n.


11.105/05 (BRASIL, 2005). A Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) n. 33 de 2006 da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabelece condições técnicas dos
bancos de sêmen, óvulos e embriões (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Entretanto, o
Conselho Federal de Medicina (CFM, 2013), em sua Resolução n. 2.013/13 veio impor
limites para tal procedimento, de forma a impedir abusos. Esta resolução foi revogada
para a de número 2.121 no ano de 2015 (CFM, 2015).

Mais tarde, o mesmo Conselho Federal de Medicina (CFM, 2017), em sua Resolução n.
2.168/17 – que adota as normas éticas para a utilização das técnicas de reprodução
assistida sempre em defesa do aperfeiçoamento das práticas e da observância aos
princípios éticos e bioéticos que ajudam a trazer maior segurança e eficácia a
tratamentos e procedimentos médicos – faz menção sobre o assunto, concedendo as
pessoas sem problemas reprodutivos identificados o direito a explorar as técnicas
acessíveis de reprodução assistida, como o congelamento de gametas, embriões e
tecidos germinativos.

Desta maneira, de acordo com Silva (2016), considerando que a constituição pátria e a
legislação vêm abarcar a cobertura em relação ao planejamento familiar, entendendo-
se que esta obrigatoriedade se estenda ao Estado que da mesma forma que às
instituições privadas, considerando abusiva a exclusão contratual de cobertura de
técnicas de reprodução assistida o que amplia aos planos de saúde a garantia do deste
direito pleno aos cidadãos e do cumprimento à saúde.

6. A BIOMEDICINA E A REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA

A Biomedicina vem sendo exercida em laboratórios para se cumprir as atividades de


análises clínicas, cujo foco está tanto em pesquisas, quanto em análises. Este
segmento, na mesma proporção que a Medicina e a tecnologia, vêm acompanhando
os avanços e as descobertas. Dentro deste contexto, Câmara (2013) veio ressaltar a
atuação da Biomedicina na reprodução humana assistida, afirmando que o Biomédico
especializado nessa área tem diversas fontes de atuação. As mesmas foram
compiladas e organizadas no Quadro 1 (que segue) para melhor compreensão.

Quadro 1 – Atuações do Biomédico especializado em Reprodução Humana Assistida

Atuação Caracterização

Identificação e O líquido folicular é recebido e aliquotado em placas de Petri onde, sob


Classificação visão microscópica os oócitos são identificados e classificados quanto à sua
oocitária maturidade

Processamento O sêmen coletado após período de liquefação, é avaliado quanto às suas


Seminal características biofísicas e passa então por técnica de processamento com
a associação de lavagens, centrifugações e migrações, em meios
específicos, que visam a separação do plasma seminal e a seleção dos
espermatozoides mais móveis e capazes para a inseminação dos oócitos.
Espermograma O espermograma possibilita a obtenção de dados relativos a quantidade e
qualidade dos espermatozoides; mesmo um espermograma normal não é
garantia de fertilidade do homem.

Criopreservação Objetiva garantir a fertilidade de homens que irão se submeter a


Seminal procedimentos que possam prejudicar a sua capacidade fértil, para estes
casos existem os chamados bancos de sêmen. Têm a função de evitar
danos celulares causados pela desidratação e a formação de cristais de
gelo intracelular. O congelamento é realizado a partir do sêmen ejaculado,
mas também podem ser congelados espermatozoides provenientes
diretamente do epidídimo ou do testículo.

Classificação Os embriões são classificados pela aparência ao microscópio quanto ao


embrionária número de células, características das células e presença ou ausência de
fragmentação.

Criopreservação Congelamento do embrião.


Embrionária

Biópsia Embrionária Este procedimento implica na retirada de uma única célula do embrião
(biópsia) “in vitro”, no seu terceiro dia de desenvolvimento, onde ele se
apresenta com seis a oito células. A biópsia possibilita análise genética,
sem prejudicar o desenvolvimento posterior deste embrião.

Hatching O Assisted Hatching é uma técnica laboratorial que ajuda na fragilização da


zona pelúcida, permitindo que o embrião possa implantar-se com mais
facilidade no útero. Este tratamento é realizado no laboratório, antes da
transferência para o útero da mulher.

Fonte: Adaptado a partir de Câmara (2013)

De acordo com Corrêa e Loyola (2015), para auxiliar a manipulação das células
reprodutivas e do embrião, há a participação de biólogos e biomédicos que se
vincularam às clínicas de ginecologia e obstetrícia.

A reprodução biológica, que era interrompida pelas ‘infertilidades sem cura’, nos dias
de hoje é realizada por técnicas biomédicas. Um dos exemplos práticos desta assertiva
foi a FIV, exibida na mídia, na literatura, no cinema e na apresentação de publicidade
científica como a revolução da vida do século XX (CORRÊA; LOYOLA, 2015).

De acordo com Câmara (2016), de forma generalizada, ao biomédico vem sendo


incumbida desde a tarefa de um espermograma, até o acompanhamento do
desenvolvimento embrionário. Atuando em laboratórios, este profissional vem se
ocupando da Andrologia e Embriologia, lhe sendo confiados os exames que avaliam
qualidade de semen, as atividades de manipulações de gametas e embriões. Nos
laboratórios de Andrologia, além do espermograma, o biomédico prepara o sêmen
para as técnicas de reprodução humana assistida, bem como promove uma bateria de
testes funcionais. Já nos laboratórios de Embriologia, este profissional ocupa-se de
mimetizar in vitro o que acontece in vivo. Ainda, cabe ao mesmo o cuidado com os
rigores da qualidade de seus serviços prestados para que não interfira na
micromanipulação de gametas, garantindo a realização da fertilização e a promessa de
um embrião desenvolvido adequadamente, para que esteja apto à transferência
eficiente para o útero (CÂMARA, 2016).

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Brasil, a Reprodução Humana Assistida vem crescendo, cada vez mais, em sua
proposta que era inicialmente apenas uma promessa tem se transformado em um
tratamento efetivo para solução de problemas de infertilidade de muitos casais.
Apesar de ainda não existir uma legislação única e específica, a Constituição Federal e
algumas resoluções vêm amparando este direito, principalmente por considerar o
novo conceito e modelo de família e planejamento familiar.

A reprodução humana assistida veio se concretizando e ganhando espaço, tanto para


discussões, quanto para pesquisas. Os casais com problemas de infertilidade possuem
um grande espectro de técnicas diferentes, bem como profissionais e centros médico-
tecnológicos com alta taxa de sucesso na busca pela reprodução.

É importante destacar que a ciência cada vez mais inovando e abrindo caminhos para
possibilidades penetrarem na vida de milhares de pessoas, mesmo sendo tratamentos
de alto custo e ainda restrito a uma minoria. O biomédico vem desempenhando papéis
importantes para que a aplicação das técnicas em laboratórios de Andrologia e da
Embriologia.

8. REFERÊNCIAS

AVELAR, Ednara Pontes. Responsabilidade civil médica em face das técnicas de reprodução humana

assistida. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP,2008.

ALVARENGA, Raquel de Lima Leite Soares; ZUCULO, Jaqueline VercezeBortolieiro;GUIMARÃES, Fernando

Marques. DoaçãodeóvulosnoBrasil: regulamentaçõeselegislações. Percurso

Acadêmico,BeloHorizonte,v.8,n.18,jan./jun.2018.

BRASIL. Casa Civil. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20 ago. 2019.

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BRASIL. Casa Civil. Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005. Disponível em:

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CÂMARA, Brunno. Biomedicina e Reprodução Humana. Biomedicina Padrão, 10 out. 2013. Disponível

em: <https://www.biomedicinapadrao.com.br/2010/02/biomedicina-e-reproducao-humana.html>.

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CÂMARA, Brunno. Entrevista sobre Reprodução Humana Assistida. Biomedicina Padrão, 20 maio 2016.

Disponível em: <https://www.biomedicinapadrao.com.br/2016/05/entrevista-sobre-reproducao-

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CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução CFM nº 2.121. de 2015. Disponível em:

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CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução CFM nº 2.168. de 2017. Disponível em:

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[1]
 Graduanda em Biomedicina na Faculdade São Lourenço – UNISEPE.

[2]
 Graduanda em Biomedicina na Faculdade São Lourenço – UNISEPE.

[3]
 Graduanda em Biomedicina na Faculdade São Lourenço – UNISEPE.

[4]
 Biólogo, mestre e doutor em Fisiologia e Farmacologia, Professor da Faculdade São Lourenço –

UNISEPE.

[5]
 Fisioterapeuta, mestre e doutora em Fisiologia e Farmacologia, Professora da Faculdade São Lourenço

– UNISEPE.

Enviado: Agosto, 2019.

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