Você está na página 1de 10

Grupo de Estudos

Bioética – Canal Resenha Forense


Prof. Marcelo Pichioli da Silveira

Grupo de Estudos em Bioética

Material examinado:
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2007.

Canal RESENHA FORENSE

MARCELO PICHIOLI DA SILVEIRA


Professor. Mestrando em Direito Negocial pela Universidade Estadual de Londrina/PR. Graduado em
Direito pela Universidade Estadual de Maringá/PR. Especialista em Direito Processual Civil pela
Universidade Cândido Mendes (Rio de Janeiro/RJ). Especialista em Direito Administrativo pela
Universidade Cândido Mendes (Rio de Janeiro/RJ). Membro da Associação Brasileira de Direito
Processual (ABDPro). Parecerista da Revista Brasileira de Direito Processual (RBDPro) e da Revista
Eletrônica de Direito Processual (REDP). Editor, escritor e produtor do Resenha Forense.

Adquira produtos exclusivos do canal em


www.resenhaforense.com
Grupo de Estudos
Bioética – Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira

Como todos os outros materiais do Grupo de Estudos em Bioética do Canal Resenha


Forense, este material foi também examinado em versão audiovisual nesta playlist aqui.

Obra examinada
Ao lado de A Alma do Embrião Humano, de LUIZ CARLOS LODI DA CRUZ e de
Metafísica, de ARISTÓTELES (ver aqui), começamos agora um estudo de O estado atual do
biodireito, de MARIA HELENA DINIZ.

Capítulo I – Bioética e Biodireito


O capítulo introdutório da obra de MARIA HELENA DINIZ é o mais curto, mas
dotado de fulminante força para prender atenção do leitor. As perguntas iniciais que ela
própria propõe são: i) por que bioética?; e ii) para que serve o biodireito?
Tais indagações, responde nossa autora, “surgem em razão da perplexidade e do
forte impacto social provocados pelos problemas decorrentes das inovações das ciências
biomédicas, da engenharia genética, da embriologia e das altas tecnologias aplicadas à
saúde”1. As novidades seriam: a) o progresso científico que vem alterando a medicina
tradicional; b) a socialização do atendimento médico; c) a universalização da saúde; d) a
progressiva medicalização da vida; e) a emancipação do paciente; f) a criação e o
funcionamento de comitês de ética hospitalar, além dos comitês de ética para pesquisas em
seres humanos; g) o advento de vários institutos não governamentais; h) a necessidade de
um padrão moral que possa ser compartilhado por pessoas de moralidades diferentes, “pois
há constatação mundial de uma inversão de valores morais, de apatia e de fragmentação
moral”; e i) o crescente interesse da ética filosófica e teleológica nos temas alusivos à vida,
à reprodução e à morte do ser humano2.
Aliás, no ponto “a”, a autora traz alguns questionamentos interessantes. “Há alguns
anos, como se poderia falar”, inicia sua série de perguntas...:
• em legalização da eutanásia ou acreditar que um doente terminal pudesse ser
mantido, por vários anos, numa UTI, em estado vegetativo irreversível?; ou
• que um deficiente mental ou criminoso, voltado à prática de delitos sexuais,
pudesse ser compulsoriamente esterilizado?; ou

1
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 1.
2
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 1-5.
Grupo de Estudos
Bioética – Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira

• que fossem possíveis a inseminação artificial post mortem e a fertilização in vitro,


concebendo-se um ser humano fora do útero para ulterior implantação?; ou
• que se falasse em mães pós-menopausa ou substitutas?; ou
• que houvesse conflito de paternidade ou maternidade sobre uma mesma
criança, em razão da reprodução humana assistida?; ou
• que se clonassem seres humanos descerebrados para servirem de repositórios
de órgãos para seus pais genéticos ou para terceiros?; ou
• que se fecundasse óvulo de macaco com sêmen humano para produção de um
ser híbrido, destinado a efetuar serviços repetitivos e penosos?; ou
• que surgisse o direito “a um certo filho”, substituindo o de ter um filho?; ou
• que se elaborassem, através de pesquisas genéticas, bebês com caracteres físicos
predeterminados?; ou
• que fosse possível a formação de banco de óvulos, espermatozoides, embriões,
células, tecidos e órgãos para transplante?; ou
• que se tratassem embriões humanos como mercadorias?; ou
• que se comercializassem material fertilizante, órgãos e tecidos humanos?; ou
• que pudesse haver estoque de embriões excedentes, subprodutos inevitáveis da
fertilização in vitro e de uma hiperestimulação ovariana, não aproveitados por
serem malformados ou não atenderem aos caracteres desejados pelos pais?; ou
• que fossem possíveis a crioconservação de embriões, a experimentação
terapêutica em fetos mortos ou a ocorrência de milhares de abortos
eugenésicos decorrentes do egoísmo e da irresponsabilidade de médicos e
pais?; ou
• que se pensasse em reprodução humana assexuada?; ou
• que houvesse a possibilidade de ocorrer a gemelaridade induzida ou mesmo a
criação de seres humanos idênticos por partenogênese?; ou
• que se realizassem diagnoses pré-natais, terapias gênicas ou manipulações
genéticas em seres humanos?; ou
• que houvesse uma “DNAlatria”?; ou
• que se induzisse a tecnologia desenvolvida no DNA recombinante para alterar
o patrimônio genético da pessoa?; ou
• que se estocassem amostras de DNA, criando Bancos de Material Genérico ou
Bancos de DNA, que seriam de quatro tipos (de pesquisa, de diagnóstico, de
dados e o em potencial)?; ou
• que se criasse um Banco de DNA para ajudar na solução da investigação da
paternidade, levando doentes, ou idosos, cautelosos, que vislumbram a
Grupo de Estudos
Bioética – Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira

eventual possibilidade de sofrerem, futuramente, tal ação, a armazenar o seu


DNA, para que possa ser usado após sua morte, resolvendo questões de direito
sucessório e de direito à filiação?; ou
• que se fizessem estudos para catalogar o código genético da espécie humana,
efetuando um mapeamento completo do genoma?; ou
• que se falasse em bioética social?; ou
• que se admitisse a manipulação de células somáticas para fins terapêuticos ou
não?; ou
• que se promovesse a modificação programada do patrimônio genético de uma
célula germinativa ou embrionária humana?; ou
• que houvesse um atentado ao direito à identidade genética?; ou
• que não houvesse limites para o eugenismo, nem para a manipulação do gene
humano?; ou
• que se falasse em triagem cronológica do HIV?; ou
• que houvesse diretrizes internacionais para pesquisas em seres humanos?; ou
• que seria possível uma intervenção não terapêutica no patrimônio
cromossômico para produzir seres humanos perfeitos?; ou
• que se fizessem experiências científicas em embriões ou seres humanos
necessitados ou vulneráveis?; ou
• que houvesse técnica cirúrgica de transplante de órgãos ou de mudança de sexo
em caso de transexualidade?; ou
• que se utilizassem técnicas de biologia molecular para reconhecimento do
vínculo entre pais e filhos, de vítimas de desastres ou até mesmo para
identificação de criminosos?; ou
• que pudesse haver patentes biotecnológicas que induzissem ao biopoder?; ou
• que se produzissem ou usassem microorganismos geneticamente modificados
em laboratórios ou indústrias?; ou
• que fosse possível a criação de animais ou plantas transgênicas?; ou ainda
• que pudesse haver alarmante degradação do meio ambiente, poluição da
hidrosfera e da atmosfera e uma terrível ameaça de holocausto nuclear?

Sobre todos os pontos acima, todos impressionantes (sim: é bom que haja espanto
diante das questões), confesso que o ponto sobre a figura do “ser híbrido” foi a que mais me
impressionou (utilização de óvulo de macaco com sêmen humano). Aparentemente, este
tipo de trabalho vem sendo desenvolvido (não sei, ao certo, o que foi ou não foi feito) por
CRISTINA EGUIZABAL, NURIA MONTSERRAT, ANNA VEIGA e JUAN CARLOS IZPISÚA
Grupo de Estudos
Bioética – Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira

BELMONTE, para fins de medicina regenerativa (substituição de tecidos danificados –


damaged tissue)3. Há uma palestra do último aqui. A questão já foi motivo de gigantesca
repercussão ainda nos anos 1980, após BRUNETTO CHIARELLI ter denunciado que algo
similar já era feito nos Estados Unidos (ver aqui). A repercussão de sua fala foi grande, como
comenta ABRAHAM SANTIBÁÑEZ:

Dicen que ya está al alcance del laboratorio, pese a que los próprios cientificos no
parecen estar muy de acuerdo. Los avances en biología genética anuncian ya el
nacimiento del primer humanoide, um híbrido entre mono y hombre, um ser
extraño que deja em pañales la ciencia ficción para saltar a la más monstruosa
realidad.
[...].
La escena parecia sacada de uma vieja película barata (ahora se pueden ver
espantos mejor pensados), pero no se trata de fantaciencia. Es muy problable que
lo descrito ocurra antes que se inicie – ya falta poco – el famoso tercer milenio de
la era cristiana. La creación del hombre-mono (es um decir: podría nacer hembra)
es ya uma hipótesis tan real de la biogenética que suscita escándalo. Hace dos
semanas, un antropólogo italiano, profesor em la Universidad de Florencia, lanzó
uma alarmada denuncia, atrayendo sobre sí, como um pararrayos, uma
avalancha de protestas. Hasta la comunidad académica florentina atacó a
Brunetto Chiarelli por haber dicho: “Me consta que un experimento fue iniciado
em Estados Unidos”.
[...]
El escándalo y la preocupación se propagaron com rapidez a los cuatro vientos,
lo que demuestra que el profesor Chiarelli pegó el grito en el momento justo. The
New York Times decidió ocuparse a fondo del tema y em Francia se recordo que el
presidente Miterrand ha creado uma comisión oficial de bioética, presidida por el
profesor Jean Bernard, cuyas conclusiones han sido consideradas como um
ultimatum: durante tres años no se podrán hacer experiencias con embriones
humanos em los laboratorios franceses. Tampoco realizar manipulaciones y
transplantes entre seres humanos y animales. No se podrán vender embriones,
como ya sucede en Chicago, Estados Unidos, y se dispone um severo control sobre
los embriones humanos conservados para la fecundación en probeta.
También em Gran Betraña se ha creado el Comitê Warnock para poner freno a la
gran tentación de atravessar la frágil frontera que divide las manipulaciones
genéticas entre animales y seres humanos4.

Como se pode perceber, o “entrecruzamento da ética com as ciências da vida e


com o progresso da biotecnologia provocou uma radical mudança nas formas tradicionais de
agir dos profissionais da saúde, dando outra imagem à ética médica e, consequentemente,

3
Cf. EGUIZABAL, Cristina; MONTSERRAT, Nuria; VEIGA, Anna; IZPISÚA BELMONTE, Juan Carlos.
Dedifferentiation, Transdifferentiation, and Reprogramming: Future Directions in Regenerative Medicine.
Future Directions in Regenerative Medicine, v. 31, n.º 1, 2013, p. 82-94.
4
SANTIBÁÑEZ, Abraham. Periodismo interpretativo. Santiago: Editorial Andres Bello, 1995, p. 261-262.
Grupo de Estudos
Bioética – Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira

originando um novo ramo do saber, qual seja, a bioética” 5. Por isso, é necessária “uma
‘biologização’ ou ‘medicalização’ da lei, pois não há como desvincular as ‘ciências da vida’
do direito”6. Como se sabe, toda estrutura de (verdadeiro) direito natural pressupõe uma
ordem, pautada por uma transcendência (por isso nossos esforços com Metafísica, de
ARISTÓTELES [aqui] e com a Suma Teológica, de SANTO TOMÁS DE AQUINO [aqui]).
Evidentemente, a ordem social e civilizacional pressuporá, assim, encadeamento e harmonia
diante dos próprios aspectos ontológicos da vida humana. O direito à vida passa pela
constatação lógico-objetiva de que é impossível construir uma civilização sem vida. Inexiste
“ordem social fúnebre”. Sendo a vida elemento inexorável da pessoa, então naturalmente a
sua vida é um direito. E, sendo direito natural, a vida espraia deveres e sujeições diante de
toda a sociedade. Não fosse assim, então não teríamos obrigação alguma de respeitar
situações jurídicas alheias (impregnadas à natureza ontológica dos outros). Antes de qualquer
direito fundamental, há a vida. É impossível cogitar-se, só para exemplificar, de um “direito
de propriedade da pessoa morta”. Aliás, a morte é fato jurídico stricto sensu que encerra a
personalidade jurídica (não por acaso, abre a sucessão).
Tudo o que dito acima justifica – mesmo na concepção kantiana – a impossibilidade
jurídica de “auto-escravatura”, pois ninguém é “autoproprietário” de si. Seria de grande
monstruosidade lógica pensar-se numa “posse de alguém nele mesmo”. O leitor não tem
“posse” de sua vida; a sua vida É vida (verbo ser, não ter). O direito de propriedade,
reconhecidamente fundamental, não passa de uma faculdade do homem: a utilização das
potencialidades da coisa (para nos apegarmos aos aspectos linguísticos de ARISTÓTELES), de
maneira que a apropriação desta acarreta num uso (em prol da vida). Se isto satisfaz a própria
existência humana, então há uma categoria própria do direito natural. Qualquer ordem
social só existe com a vida. O bem, assim, está impregnado na ação ou omissão que procure
a manutenção da vida e dos aspectos de sociedade que satisfaçam-na. Daí a lógica detrás do
princípio da justiça: segundo RÉGIS JOLIVET, “a justiça consiste na vontade firme e constante de
dar a cada um o que lhe é devido”, supondo ela duas condições necessárias: “a) A distinção de
pessoas em que existem correlativamente um direito e um dever de justiça; b) A especificação
de um objeto, que pertence a uma delas e que deve ser respeitado, devolvido ou restabelecido
em sua integridade pela outra”7. Daí se afirmar, ainda, que a lei natural é transcendente,
pois abraça qualquer civilização bem-sucedida, com variações imanentais aqui e ali. Lembre-
se, ademais, que, no paradigma filosófico grego, a intelectualidade revela-se como potência,
vocacionada ao vislumbrar da verdade (conceito de ser ao lado do bem e da beleza). Sendo
assim, é seguro afirmar que a inteligência é atributo destinado ao captar do ser como
verdade. E a verdade é um juízo de ajustamento do intelecto ao ser. A regra da lei natural é

5
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 5.
6
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 8.
7
JOLIVET, Régis. Curso de Filosofia. Trad. Eduardo Prado de Mendonça. 4.ª ed. Rio de Janeiro: Livraria
Agir Editora, 1959, p. 394.
Grupo de Estudos
Bioética – Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira

captada pela razão humana, de maneira que o intelecto apreende o que é fazer o bem
(caridade, bondade, justiça, boa-fé), evitando o mal.
Origem do termo “bioética”: segundo MARIA HELENA DINIZ, a primeira vez
de utilização do termo se deu pelo oncologista e biólogo VAN RENSSELAER POTTER (EUA),
na obra Bioethics: bridge to the future, de 1971, embora com sentido ecológico. Por outro
lado, ANDRÉ HELLEGERS utilizou a palavra com sentido totalmente diverso, passando a
considerar a bioética como “ética das ciências da vida” (“[...] a Belgian gynaecologist then at the
Kennedy Institute of Ethics established at Georgetown University, proposed a link between humanistic
thinking and the practice of medicine”, como diz FERNANDO LOLAS STEPKE8-9). A bioética seria,
assim, uma ética biomédica (como prefere, aliás, JEAN PIERRE MARC-VERGNES). E tal ideia
acabou se sedimentando na obra The principles of bioethics de TOM L. BEAUCHAMP e de JAMES
F. CHILDRESS, de 1979. No ano de 1978, a Encyclopedia of bioethics definiu a bioética como
“estudo sistemático da conduta humana no campo das ciências da vida e da saúde, enquanto
examinada à luz dos valores e princípios morais” 10. Enfim: “a bioética seria, então, um
conjunto de reflexões filosóficas e morais sobre a vida em geral e sobre as
práticas médicas em particular”11. E o paradigma dela é “o valor supremo da pessoa
humana, de sua vida, dignidade e liberdade ou autonomia”12.
Por outro lado, há quem defenda que não há inovação alguma na palavra “bioética”,
que só seria original do ponto de vista filológico, por assim dizer. P. ex.: ELENI
KALOKAIRINOU sustenta que, deixando de lado a palavra “bioética” para, ao invés disso,
encararmos os tipos de problemas éticos suscitados com as ciências biomédicas, então nos
daremos conta de que, muito antes de VAN RENSSELAER POTTER, filósofos de toda ordem
temporal investigaram e tentaram responder as mesmas perguntas que hoje formulamos.
Leia-se:

Gilbert Hottois, for instance, in his book, Qu’ est-ce que la Bioéthique? argues
that it was the American oncologist Van Rensselaer Potter who first used the term
“Bioethics” in his article, “Bioethics, the science of survival”, which was then
included in his book, Bioethics: Bridge to the Future in 1971. A number of
publications following Potter’s introduction of the term further support the idea
that it was the American scientists’ and philosophers’ concern about the ethical
dilemmas, raised by the development of medical sciences and technologies, which
gives rise to this new interdisciplinary science called Bioethics. But if we leave the
term aside and, instead, concentrate on the kind of ethical problems which the

8
LOLAS STEPKE, Fernando. Bioethics at the pan american health organization. Origins, development, and
challenges. Acta Bioethica, 2006, n.º 12, p. 113-114.
9
Sobre a vida de ANDRÉ HELLEGERS na Igreja Católica e sobre o Kennedy Institute of Ethics, com riqueza de
detalhes, cf. THAM, Joseph. The Secularization of Bioethics: A Critical History, 2007, p. 93-97 e 247-248.
10
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 9.
11
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 11.
12
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 12.
Grupo de Estudos
Bioética – Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira

development of the contemporary biomedical sciences raise, we will realize that,


long before Potter, philosophers – physicians like Hippocrates, Galen and Celsus,
philosophers like Plato, Aristotle, Immanuel Kant, Friedrich Schleiermacher,
Hans Ionas, Albert Schweitzer and, of course, the German theologian and
philosopher Fritz Jahr (1895-1953) investigated and attempted to answer the
same questions which contemporary American bioethicists contend to have dealt
with first. Our contention therefore is that Bioethics is a European discipline and
that we must trace it to its roots if we wish to verify this fact13.

Ademais, há ainda quem cite a utilização do termo “Bio-Ethik” pelo teólogo


protestante FRITZ JAHR muito antes de VAN RENSSELAER POTTER, em 1927, embora se
reconheça que tal sugestão caiu em desuso após se falar em “bioethics”14. O texto de F. JAHR
era intitulado “Bio-Ethik. Eine Umschau über die ethischen Beziehungen des Menschen zu Tier und
Pflanze”, sendo publicado no vol. 24, n.º 1, da Kosmos – Handweiser für Naturfreunde15, embora
a preocupação do autor esteja longe de nossas premissas tomistas. De qualquer maneira,
ainda antes de POTTER, há ainda a reconstrução documental de STEFANO MENTIL a respeito
da produção teológica do Papa Pio XII, ainda na 1.ª metade do século XX16.
Princípios bioéticos básicos: como ensina MARIA HELENA DINIZ, no final dos
anos 1970 (e começo dos anos 1980), a bioético passou a se pautar por quatro princípios
básicos que enalteceram a pessoa humana. São eles: 1.º) não-maleficência; 2.º) justiça; 3.º)
beneficência; e 4.º) autonomia. Tais princípios “estão consignados no Belmont Report,
publicado, em 1978, pela National Comission of the Protection of Human Subjects of Biomedical
and Behavioral Research (Comissão Nacional para a Proteção dos Seres Humanos em Pesquisa
Biomédica e Comportamental), que foi constituída pelo governo norte-americano com o
objetivo de levar a cabo um estudo completo que identificasse os princípios éticos básicos
que deveriam nortear a experimentação de seres humanos nas ciências do comportamento
e na biomedicina. Tais princípios são racionalizações abstratas de valores que decorrem da
interpretação da natureza humana e das necessidades individuais” 17.
Paradigma da dignidade humana: atesta a autora, com razão, que “nem tudo
que é cientificamente possível é moral e juridicamente admissível” 18. O objeto cognoscível
da “ciência” (biológica, médica, naturalística em geral) é reduzido aos fenômenos universais
“brutos”. Nada mais, nada menos. Por mais impressionante que seja o estudo do átomo e
por mais longe que tenha ido o ser humano, nada, absolutamente nada, pode explicar o
peculiar fator temporal daquilo que precedeu o próprio universo. Daí a famosa colocação de
13
KALOKAIRINOU, Eleni. Tracing the roots of european bioethics back to the Ancient Greek philosophers-
physicians. Jahr, 2011, p. 59.
14
FERBER, Sarah. Bioethics in Historical Perspective. Londres: Palgrave Macmillan, 2013, p. 1.
15
ZAGORAC, Ivana. Fritz Jahr’s Bioethical Imperative. Synthesis Philosophica, 2011, p. 143.
16
Ver MENTIL, Stefano. La riflessione bioetica di Pio XII. Trieste, Edizioni Meudon, 2017.
17
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 13-14.
18
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 17.
Grupo de Estudos
Bioética – Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira

WILLIAM LANE CRAIG: há muitas coisas que não podem ser explicadas cientificamente, como
i) verdades lógicas e matemáticas, já que a própria ciência as pressupõe; ii) verdades
metafísicas; iii) crenças axiológicas (no exemplo memorável: “você não pode mostrar, pela
ciência, se os nazistas nos campos de concentração fizeram algo mau em contraste com os
‘cientistas das democracias’ ocidentais”); iv) juízos de estética; v) a ciência nela mesma, que
não pode ser explicada pelo método científico (p. ex.: “na teoria especial da relatividade, a
teoria toda depende da suposição de que a velocidade da luz é constante entre quaisquer
pontos A e B, mas isso estritamente não pode ser provado”, de maneira que devemos apenas
supor isso) etc.
Enfim: “com o reconhecimento do respeito à dignidade humana, a
bioética e o biodireito passam a ter um sentido humanista, estabelecendo um
vínculo com a justiça [...]. Se em algum lugar houver qualquer ato que não
assegure a dignidade humana, ela deverá ser repudiada por contrariar as
exigências ético-jurídicas dos direitos humanos”19.

Capítulo II – Microbioética: questões ético-jurídicas


[Continua]...

Bibliografia

DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

EGUIZABAL, Cristina; MONTSERRAT, Nuria; VEIGA, Anna; IZPISÚA


BELMONTE, Juan Carlos. Dedifferentiation, Transdifferentiation, and Reprogramming:
Future Directions in Regenerative Medicine. Future Directions in Regenerative Medicine, v. 31,
n.º 1, 2013.

FERBER, Sarah. Bioethics in Historical Perspective. Londres: Palgrave Macmillan,


2013.

19
DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 4.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 18-19.
Grupo de Estudos
Bioética – Canal Resenha Forense
Prof. Marcelo Pichioli da Silveira

JOLIVET, Régis. Curso de Filosofia. Trad. Eduardo Prado de Mendonça. 4.ª ed. Rio
de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1959.

KALOKAIRINOU, Eleni. Tracing the roots of european bioethics back to the


Ancient Greek philosophers-physicians. Jahr, 2011.

LOLAS STEPKE, Fernando. Bioethics at the pan american health organization.


Origins, development, and challenges. Acta Bioethica, 2006, n.º 12.

MENTIL, Stefano. La riflessione bioetica di Pio XII. Trieste, Edizioni Meudon, 2017.

SANTIBÁÑEZ, Abraham. Periodismo interpretativo. Santiago: Editorial Andres


Bello, 1995.

THAM, Joseph. The Secularization of Bioethics: A Critical History, 2007.

ZAGORAC, Ivana. Fritz Jahr’s Bioethical Imperative. Synthesis Philosophica, 2011.

Você também pode gostar