Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Coordenação de Biologia
NT Biotecnologia
Objetivo da Atividade: Conhecer a biotecnologia como uma ciência interdisciplinar, e a sua importância para o
desenvolvimento científico. Conhecer as bases que deram origem a teoria cromossômica da herança e conhecer a
estrutura química do material genético. Conhecer o que são Genes e entender os processos de replicação
transcrição e tradução do DNA.
A Teoria da pré-formação
A teoria da epigênese
A teoria da epigênese (do grego: epi = depois; génesis = origem, fonte de vida), também
chamada teoria da pós-formação, foi formulada em 1759 em oposição à teoria da pré-formação.
Segundo a teoria da epigênese, os seres surgem pelo desenvolvimento da célula-ovo ou zigoto,
portanto, após a fecundação. Embora essa ideia já tivesse sido apresentada por Aristóteles,
quando de seus estudos sobre o desenvolvimento de galinhas a teoria da epigênese só ganhou
força na década de 1820, com Karl Ernst von Baer (1792 – 1876).
Com base em estudos detalhados do desenvolvimento embrionário de coelhos e de cães,
von Baer conseguiu descrever não só os óvulos, como também as fases do desenvolvimento do
embrião (ontogenia). Esse cientista dedicou-se ao estudo da embriologia animal comparada.
Propôs que o desenvolvimento dos embriões ocorre da forma geral para a mais específica e que,
nas fases iniciais do desenvolvimento embrionário de organismos relacionados, os embriões são
mais parecidos. Porém, à medida que o desenvolvimento prossegue, essas semelhanças
diminuem e os embriões passam a ter suas características próprias. Quanto mais proximamente
aparentados são os animais, maior a sua semelhança entre os estágios iniciais do
desenvolvimento embrionário.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA CELSO SUCKOW DA FONSECA
A interpretação de von Baer é mais próxima do que se aceita hoje. No entanto, mais tarde,
ela foi resgatada com outro viés a partir dos estudos de embriologia e anatomia comparada do
médico alemão Ernst Haeckel (1834-1919). Esse cientista propôs em 1899 a Teoria da
Recapitulação ou Lei Biogenética, expressa por uma famosa frase: A ontogenia recapitula a
filogenia.
O termo ontogenia refere-se ao desenvolvimento embrionário, e filogenia, à história
evolutiva das espécies. Essa lei foi proposta sob influência da teoria evolutiva de Charles Darwin.
Segundo essa lei, embriões humanos, por exemplo, passariam por uma fase em que se parecem
com peixes, pois esses animais fazem parte da história evolutiva dos mamíferos, e, à medida que
o desenvolvimento embrionário prossegue, ficariam mais parecidos com mamíferos e, por fim,
tomariam a forma da espécie humana. Essa interpretação não é aceita atualmente. Embora se
aceite que exista grande relação entre ontogenia e filogenia, sendo essa uma área em expansão
na Biologia (Chamada EVO-DEVO, ou evolução e desenvolvimento embrionário), o enfoque atual
é mais próximo ao da interpretação dada por von Baer. Há semelhanças nos padrões de
desenvolvimento embrionário de espécies filogeneticamente próximas, mas não com os adultos já
diferenciados. As semelhanças referem-se às etapas do desenvolvimento do embrião.
Charles Darwin propôs em 1868 uma explicação para a transmissão das características
hereditárias: a teoria da pangênese (do grego: pan = todo; genos = origem).
Segundo essa teoria, todos os órgãos e os componentes do corpo produzem suas próprias
cópias em miniaturas infinitamente pequenas, denominadas gêmulas ou pangenes. Estas são
carregadas pela corrente sanguínea até as gônadas, reunindo-se, então, nos gametas. Na
fecundação, o gameta masculino, portador das gêmulas do pai, une-se ao feminino, portador das
gêmulas da mãe, dando origem ao embrião. Neste, as gêmulas desenvolvem-se e dão origem às
diversas partes do corpo do indivíduo.
Embora suas noções sobre hereditariedade estivessem incorretas, como se sabe hoje,
Darwin publicou o livro que revolucionou a história da Biologia: A origem das espécies, lançado
em 1859. Entretanto, ele não conseguiu explicar satisfatoriamente o mecanismo da transmissão
hereditária dos caracteres.
Francis Galton (1822-1911), matemático e médico inglês e primo de Darwin, elaborou
vários experimentos sobre mecanismos de herança. Em 1897 enunciou a lei da herança
ancestral, segundo a qual a herança ocorre pelo sangue e um descendente recebe 50% das
características do pai e 50% da mãe, 25% de cada um dos avós, 12,5% de cada um dos bisavôs,
e assim por diante.
Ao anunciar essa lei, no entanto, Galton não estava se referindo a genes, conceito que só
surgiu muito mais tarde.
Figura 4 – Representação dos quatro tipos de nucleotídeos do DNA. Nas moléculas de desoxirribose estão indicados os locais onde ocorre a
ligação do fosfato (Carbono 5’), da base nitrogenada (Carbono 1’) e de outro nucleotídeo na molécula (Carbono 3’).
Franklin publicou a fotografia 51 em 1953, na mesma revista científica em que foi publicado
o modelo do DNA, mas a contribuição de seu trabalho para a descoberta da estrutura do DNA só
começou a ser reconhecida no final da década de 1960, após a sua morte.
Watson e Crick também propuseram que a estrutura em espiral decorre do
emparelhamento dos nucleotídeos. Os nucleotídeos de adenina em uma das fitas se uniam aos
de timina na outra fita, e os de citosina se uniam aos de quanina. Por isso, a concentração de
adenina é igual à de timina, e a de citosina, igual à de guanina em todas as moléculas de DNA.
Assim, esse modelo explica também a regra de Chargaff.
A sequencia linear de nucleotídeos em cada fita do DNA corresponde à estrutura primária
dessa molécula. Em função do modo como os nucleotídeos se unem ao longo da fita, estabelece-
se uma polaridade, em que uma extreminade é chamada 5” e a outra 3’.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA CELSO SUCKOW DA FONSECA
Na estrutura secundária, forma-se a configuração tridimensional em dupla hélice. As duas
fitas complementares de polinucleotídeos são unidas por ligações de hidrogênio que se formam
entre as bases nitrogenadas e essas fitas apresentam-se invertidas entre si. Isso significa que, se
uma fita tem extremidade livre 3’, a outra fita nesse local tem extremidade 5’.
Watson e Crick propuseram também uma explicação para o mecanismo de duplicação do
DNA, segundo a qual, antes da duplicação, as duas fitas se desembaraçam, e cada uma delas
serve de molde para a formação, sobre si mesma, de uma fita complementar. Ao final da
duplicação, têm-se duas moléculas de DNA. Cada uma delas possui uma fita pertencente à
molécula-mãe e outra, recém-formada. Fala-se, portanto, em duplicação semiconservativa. Desse
modo, são produzidas réplicas exatas da molécula-mãe de DNA.
O conceito de gene e como ele atua está em plena construção na ciência atual, com
muitos estudos mais recentes trazendo novas informações a esse respeito. Vamos aqui sintetizar
alguns dos conceitos de genes que surgiram ao longo do tempo em pesquisas na área sem, no
entanto, descrever essas pesquisas.
Na década de 1940, verificou-se que havia relação entre genes e a síntese de enzimas,
tendo sido proposta a hipótese um gene → uma enzima. Posteriormente, outros estudos
ampliaram essa relação, pois não apenas as enzimas seriam codificadas pelos genes, mas todas
as proteínas também. Foi proposta então a hipótese um gene → uma proteína.
Porém, apesar de haver proteínas formadas por apenas uma cadeia polipeptídica, muitas
são formadas por cadeias polipeptídicas distintas, como acontece com a proteína hemoglobina.
Ela é formada por quatro cadeias polipeptídicas unidas, sendo duas chamadas beta e duas
chamadas alfa. Na espécie humana, a cadeia beta é codificada por um gene localizado no par de
cromossomos número 11, e a cadeia alfa, no par de cromossomos número 16.
Figura 8 – Esquema mostrando que uma proteína (hemoglobina) pode ser formada por duas cadeias polipeptídicas e, portanto, codificada por dois
genes. (Elementos representados em diferentes escalas; cores fantasia).
Mesmo esses conceitos mais gerais têm sido contestados atualmente, como analisaremos
a seguir ao discutirmos os processos de transcrição e de tradução. Vamos entender que um
mesmo gene pode dar origem a vários tios de mRNA, que conterão mensagens para proteínas
distintas, e que essas proteínas, após terem sido formadas, podem sofre modificações, dando
origem a proteínas diferentes.
A área da Biologia Molecular está crescendo a cada dia, trazendo novas informações a
respeito da atuação e dos produtos dos genes. Hoje se sabe que, no processo de maturação do
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA CELSO SUCKOW DA FONSECA
RNA, alguns éxons podem ser removidos em alguns tipos celulares e não em outros. Com isso,
formam-se moléculas maduras de RNA que são diferentes, apesar de serem produto de um só
gene. Assim, um mesmo gene pode estar relacionado à produção de RNAs maduro diferentes.
Esse mecanismo é chamado de processamento alternativo do RNAm ou splicing (significa
união, junção) alternativo.
Com os avanços da Biologia Molecular, sabe-se também que, na molécula de DNA que
forma cada um dos cromossomos, um gene é separado do outro por extensas regiões do DNA
que não são transcritas em
moléculas de RNA. Essas
sequências espaçadoras do DNA
não ocorrem ou são raras nos
procariontes. Já nos eucariontes,
chegam a corresponder a cerca
de 97% de todo o DNA. Assim,
apenas uma pequena parte do
DNA dos cromossomos dos
eucariontes é formada por genes.
O DNA não codificante era chamado DNA-lixo, pois aparentemente não tinha função. Ainda
não se sabe exatamente a função de todos os trechos de DNA, mas estudos verificaram que
certos trechos do DNA não codificante:
Formam o centrômero, estrutura fundamental na correta distribuição dos cromossomos na
divisão celular;
Participam da regulação da expressão dos genes, em um processo bastante complexo.
Isso explica, por exemplo, por que cada das nossas células tem só uma fração desses
genes ativa, apesar de o repertório de genes ser idêntico em todas elas.
O código genético
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA CELSO SUCKOW DA FONSECA
Cada polipeptídio é formado por uma sequência específica de aminoácidos determinada
pelo RNAm maduro. Sabe-se que existem vinte diferentes aminoácidos e que cada RNAm
maduro é formado por uma sequência de bases nitrogenadas. Como será que as quatro bases
nitrogenadas conseguem codificar vinte aminoácidos?
Se considerássemos que cada base codifica um aminoácido, então só poderiam existir quatro
aminoácidos, mas existem vinte. Propôs-se, então, que as bases nitrogenadas formariam uma
linguagem em código e que cada código corresponderia a um aminoácido. Surgiu, assim, a
expressão código genética.
Figura 13 – O código genético consiste em 64 códons. Cada códons é escrito no sentido 5’ → 3’, à medida que
aparecem no RNAm. AUG codifica o aminoácido metionina e é um códon iniciador; UAA, UAG e UGA não
codificam aminoácidos e são códons finalizadores. Os códigos dos aminoácidos estão em negrito.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA CELSO SUCKOW DA FONSECA
um aminoácido poder ser codificado por mais de uma trinca, o código genético é dito
degenerado.
Além disso, existem três trincas que não codificam aminoácidos, mas determinam o fim do
polipeptídeo.
Síntese de proteínas: Tradução
O processo de síntese de proteínas denomina-se tradução e dele participam o RNAm, o
RNAt e o RNAr, os dois primeiros esquematicamente representados a seguir:
Toda molécula de
RNAm dos
eucariontes
apresenta: um códon
de iniciação, que é
sempre o mesmo
(AUG) correspondente ao aminoácido metionina;
Vários códons que determinam a sequência dos aminoácidos no polipeptídeo;
Um códon de terminação, que marca o final daquela cadeia polipeptídica, podendo ser
UAG, UAA ou UGA; só há um deles em cada molécula de RNAm.
A tradução ocorre em três etapas sucessivas: iniciação, alongamento e terminação.
Na etapa de iniciação a subunidade menor do ribossomo associa-se ao RNAt da
metionina e juntos passam a percorrer a molécula de RNAm até encontrarem o códon de
iniciação AUG. Quando o encontram, a subunidade maior do ribossomo une-se à subunidade
menor.
No ribossomo existem dois sítios (ou regiões) principais:
Sítio A, onde ocorre a entrada do RNAt que carrega o aminoácido;
Sítio P, onde fica o polipeptídeo em formação.
Cada RNAt contém um anticódon específico que corresponde ao aminoácido a ser
incorporado à cadeia em formação. Suas bases nitrogenadas são complementares às dos códons
do RNAm.
Fase de Iniciação
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA CELSO SUCKOW DA FONSECA
Fase de alongamento
Os ribossomos livres no citosol são responsáveis pela síntese de proteínas que vão atuar
no citosol, no núcleo, nas mitocôndrias ou nos cloroplastos. Os ribossomos ligados ao retículo
granuloso vão produzir proteínas que irão para o complexo golgiense, as vesículas secretoras, os
lisossomos e os vacúolos.
Após a tradução, as proteínas podem sofre vários tipos de modificações, que são
chamadas modificações pós-traducionais. Há casos em que alguns aminoácidos são removidos
ou modificados; ou os polipeptídeos associam-se a carboidratos; pode haver ainda dobramentos
espontâneos da proteína, originando a estrutura secundária ou a terciária. Entre as proteínas que
fazem dobramentos, existem as que só o fazem sob a ação de certas moléculas auxiliares
chamadas chaperonas.
Como se pode notar, as possibilidades de produtos de um gene são muitas: o RNA que é
transcrito pode ser maturado de forma distinta e, com isso, um gene pode dar origem a RNAm
diferentes, e, após a tradução, o polipeptídeo formado pode sofrer modificações. Todos esses
processos explicam por que na espécie humana há tão poucos genes para tantas características.
Pensava-se que o número de genes era muito maior que o verificado: temos apenas cerca de 25
mil genes relacionados a todas as nossas características.
Duplicação do DNA
Antes do início da divisão celular, cada molécula do DNA do núcleo sofre duplicação
semiconservativa, resultando em duas novas moléculas idênticas à que lhes deu origem.
Para que ocorra a duplicação semiconservativa do DNA, as cadeias se desenrolam e a
dupla hélice se abre pela ação de enzimas chamadas helicases. Á medida que o DNA sofre
desespiralização, enzima chamadas DNA-polimerases catalisam a síntese da fita nova tomando a
fita-mãe como molde. Essas enzimas adicionam nucleotídeos complementares somente no
sentido 5’→3’. Como as fitas do DNA são invertidas, a síntese de uma acontece no sentido
oposto ao da síntese da outra.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA CELSO SUCKOW DA FONSECA