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EXTERNATO CARVALHO ARAÚJO

Português 11º ano


Os Maias de Eça de Queirós

Ação
1. O título – Os Maias
1.1. As três gerações
1.2. A intriga secundária e a intriga principal
1.3. A crónica de costumes e a intriga principal
1.4. A estrutura trágica

2. O subtítulo – Episódios da Vida Romântica


2.1. O jantar do Hotel Central
2.2. As corridas no hipódromo
2.3. O jantar em casa dos Gouvarinhos
2.4. “Corneta do Diabo” e “A Tarde”
2.5. O sarau no Teatro da Trindade

Nos primeiros capítulos da obra, através de uma longa analepse, o narrador faz
a descrição exaustiva do Ramalhete, a residência do protagonista, Carlos da Maia, em
Lisboa, situada nas Janelas Verdes (Santos-o-Velho). É o primeiro contacto com a
família Maia: ficamos a conhecer, em traços largos, Caetano da Maia e seu filho,
Afonso da Maia (avô de Carlos) cujas ideias liberais são contrapostas ao
conservadorismo da família e da mulher (Maria Eduarda Runa); segue-se a história da
partida da família para Londres, da educação de Pedro da Maia, filho do casal, do
casamento deste com Maria Monforte (a “negreira”) e do suicídio de Pedro após a fuga
da mulher que o abandona, levando consigo a filha e deixando-lhe o filho, Carlos, cuja
educação vai ficar a cargo do avô, Afonso.

Intriga principal: os amores de Carlos e Maria Eduarda e o respetivo desfecho trágico


– a descoberta do incesto e a morte de Afonso da Maia.

Intriga secundária: os amores, o casamento e a separação de Pedro da Maia e Maria


Monforte – constituem condição necessária para que a intriga principal se
desencadeie.

Os diversos episódios da crónica de costumes (relacionados com o


subtítulo da obra).

Episódios Ojantar As corridas O jantar dos Episódios O sarau


co
da vida no Hotel
Central
no
hipódromo
Gouvarinhos
[pp. 388-402]
dos jornais
[pp. 538-564 e
literário no
Teatro da
romântica [pp. 312-341] 571-579]
Trindade
[pp. 156-176]
[pp. 586-613]

Os Maias – Carlos vê Carlos Carlos Ega é Revelação


intriga Maria procura declara-se a adjuvante da relação
Eduarda pela Maria Maria na relação incestuosa
principal Eduarda
primeira vez Eduarda amorosa [pp. 613-621]
[pp. 156-157] [pp. 317-319] [pp. 408-411]

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Intriga secundária e intriga principal

Capítulos da obra Datas Acontecimentos mais relevantes


Outono de 1875
I • juventude de Afonso
• casamento de Afonso
II 1820 • nascimento de Pedro
III 1875 • educação de Pedro
• casamento de Pedro
IV • suicídio de Pedro
• educação de Carlos
V Outono de 1875
• juventude de Carlos
a
XVII • vida de Carlos em Lisboa
XVIII
• viagem de Carlos
Janeiro de 1877

• regresso de Carlos a Lisboa


1887

Os Maias

Caetano da Maia

Afonso da Maia Maria Eduarda Runa

Pedro da Maia Maria Monforte

Maria Eduarda Carlos Eduardo

A relação entre as três gerações


A história da família Maia […] foi o pretexto que o autor encontrou para caracterizar
três gerações que se encontram delineadas na obra, o que lhe permite traçar uma linha

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temporal cronológica, marcada por mutações sucessivas. Deste modo, são-nos
apresentadas:
• a geração das lutas entre liberais e absolutistas (que opuseram D. Pedro a
D. Miguel) e que corresponde, na obra, à juventude de Afonso da Maia;
• a geração ultrarromântica, a que pertence Pedro da Maia e que sobreviverá na
figura de Tomás de Alencar;
• a geração do Portugal da Regeneração, aquela em que Carlos se insere.

A estrutura trágica

Esta intriga reveste-se praticamente de todas as características da tragédia. Há um destino


cego, corporizado frequentemente em presságios, que conduz os protagonistas a uma
situação sem saída – o incesto. No desenrolar dos acontecimentos não faltam a peripécia com
ousados desafios às forças da moralidade pública, o reconhecimento, a catástrofe.

Peripécia – mudança súbita e radical do curso dos


acontecimentos. Revelações de Guimarães a Ega. [pp.
613-616]

Momentos da tragédia Reconhecimento – revelação de dados novos. Revelações


a Carlos e Afonso. [pp. 640-648] Revelações a Maria
Eduarda. [pp. 681-685]

Catástrofe – desenlace com punição, geralmente morte


física ou moral.
Morte de Afonso. [pp. 668-672] Separação de Carlos e
Maria Eduarda. [pp. 685-687]

O incesto
“[…] Em Os Maias, de Eça de Queirós, o incesto entre Carlos e Maria Eduarda conduz à

catástrofe inevitável. Embora de forma inconsciente, pois nenhum sabia da existência


do outro, os dois irmãos apaixonam-se e vivem uma intensa relação como amantes. Só
Carlos acaba por conscientemente praticar o incesto depois de descobrir a verdadeira
identidade de Maria Eduarda e ao não resistir aos seus encantos, quando tem o propósito de
pôr fim a essa relação.”

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A crónica de costumes

A par da história da família, encontramos episódios que funcionam como a


caracterização da sociedade portuguesa. Estes assumem a forma de crítica e de
sátira social, revelando os defeitos sociais que impedem o progresso e a
renovação das mentalidades. São apresentados como espelho dos elementos
estruturadores da ação portuguesa e da forma de compreender e de estar no
mundo daqueles que integram o país e que, afinal, se traduzem em falta de visão
histórica e cultural, em ausência de espírito crítico, em apatia e ociosidade ou
em importação de modos estrangeiros que não se adequam ao nosso perfil
nacional, já para não falar no oportunismo decadente e medíocre que caracteriza
os atos dos homens da nossa terra.

1 - O jantar no Hotel Central


[pp. 156 – 176]

• Primeiro grande contacto de Carlos com a sociedade Lisboeta, num jantar


organizado por Ega, que reúne um grupo de “rapazes” – Alencar, Dâmaso, Craft
e Cohen, entre outros.
• Discute-se:
 literatura,
 crítica literária,
 a decadência nacional,
 as finanças.

1.1. Relação com a intriga principal


Enquanto se encontram no peristilo do Hotel Central, Carlos e Craft veem uma belíssima
mulher descer de um coupé da Companhia [pp. 156-157].
Dâmaso Salcede identifica-a: “Os Castro Gomes... [...] Uma gente muito chique que vive
em Paris” [p. 157].
Esta é a primeira vez que Carlos vê Maria Eduarda.

1.2. Personagens intervenientes

Carlos da Maia Craft


João da Ega Jacob Cohen
Dâmaso Salcede Tomás de Alencar

1.3. Visão crítica da sociedade portuguesa


A decadência do país, nomeadamente os constantes empréstimos ao estrangeiro, é
criticada, em claro contraste com a opulência do jantar e das vidas daqueles homens. Cohen,
apesar das suas responsabilidades políticas, afirma que “A bancarrota é inevitável” [p. 165], o
que nos remete para a irresponsabilidade dos políticos. Ega critica-os, para, em seguida,
depois de Cohen os defender, concordar com este, o que demonstra a sua volubilidade.

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A forma como os convidados se envolvem nas discussões, que quase se tornam físicas,
demonstra também falta de civismo.

2. As corridas no hipódromo
[pp. 312 – 341]
•Visão caricatural da sociedade lisboeta, que Ega pretende traçar na sua comédia com o
significativo título O Lodaçal.
•Critica-se a imitação inadequada de modas estrangeiras que dão a todo o evento um ar
de provincianismo snob.

2.1. Relação com a intriga principal


Depois de procurar Maria Eduarda no Aterro e em Sintra, Carlos tenta encontrá-la no
hipódromo.
A Condessa de Gouvarinho pretende marcar um encontro secreto com Carlos.
Dâmaso informa Carlos que madame Castro Gomes reside agora no prédio de Cruges, na
Rua de S. Francisco.
Consequentemente, após a corrida, Carlos dirige-se aí, com o pretexto de visitar Cruges.
Carlos conhece Maria Eduarda na casa da Rua de S. Francisco.

2.2. Personagens intervenientes


• Carlos da Maia • Condessa de
• Craft Gouvarinho
• Taveira • Teles da Gama
• D. Maria Cunha • Vargas
• Tomás de Alencar • Conde de
• Sequeira Gouvarinho
• Clifford • Dâmaso Salcede
• Marquês

2.3. Visão crítica da sociedade portuguesa


O desejo de imitar o estrangeiro está presente ao longo de todo o episódio. Contudo, é
notório que o espaço é inadequado, as mulheres não se encontram vestidas de acordo com a
ocasião e o comportamento dos participantes é grotesco, sendo que alguns até se envolvem
em confrontos físicos.
Além disso, neste episódio é focado também o adultério, através do convite da condessa
de Gouvarinho a Carlos.

3. O jantar em casa dos Gouvarinhos


[pp. 388–402]
Os Gouvarinhos organizam um jantar em que reúnem membros da aristocracia e
burguesia.
Entre os convidados, encontra-se Sousa Neto, membro da Administração Nacional.

3.1. Relação com a intriga principal


Durante o jantar, Carlos combina um encontro com a Condessa de Gouvarinho no dia
seguinte, na casa da tia desta.
Imediatamente após esse encontro, Carlos visita Maria Eduarda e declara-se-lhe.

3.2. Visão crítica da sociedade portuguesa


Neste episódio:

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• critica-se o atraso intelectual do país e a falta de cultura dos responsáveis pelos destinos
nacionais e a reverência àquilo que se faz noutros países;
• debate-se a educação das mulheres.

3.3. Personagens intervenientes


• Carlos da Maia
• João de Ega
• Condessa de Gouvarinho
• Conde de Gouvarinho
• D. Maria da Cunha
• Baronesa de Alvim
• Sousa Neto

4. Episódios dos jornais


4.1. A Corneta do Diabo
[pp. 538-564]
Dâmaso paga a Palma Cavalão para publicar no jornal que dirige,A Corneta do Diabo, um
artigo em que difama Carlos, tornando pública a sua relação com Maria Eduarda.
Ega é informado do que está prestes a suceder e suborna Palma Cavalão para suprimir a
tiragem do jornal. Carlos descobre que Dâmaso é o responsável pelo artigo e solicita a Ega e
Cruges que o desafiem para um duelo.
Amedrontado, Dâmaso implora-lhes uma alternativa. Ega apresenta-lhe a possibilidade
de se retratar numa carta. Ega escreve uma carta humilhante que Dâmaso aceita assinar.

4.1.1. Relação com a intriga principal


Carlos e Maria Eduarda utilizam a quinta dos Olivais como refúgio romântico. Contudo,
Dâmaso difama-os em Lisboa, acabando por mandar publicar um artigo onde expõe a sua
relação.
Durante a ida para Lisboa, Maria Eduarda vê casualmente o Sr. Guimarães que revelará,
mais tarde, a Ega a relação de parentesco entre esta e Carlos.

4.2. A Tarde
[pp. 571-579]

Quando, mais tarde, Ega vê Dâmaso com Raquel Cohen, desejando vingar-se, manda
publicar a carta de Dâmaso no jornal A Tarde.
A sua visita à redação deste jornal é oo momento em que se evidenciam os vícios mais
degradantes do jornalismo nacional: a parcialidade e a dependência política em troca de
contrapartidas económicas.

5. O sarau no Teatro da Trindade


[pp. 586–613]
Após um jantar na Rua de S. Francisco, Carlos e Ega dirigem-se ao Teatro da Trindade
para assistir a um sarau, no qual participam Rufino, Cruges e Tomás de Alencar.
Entre os que assistem ao evento estão aristocratas, políticos, jornalistas e burgueses,
cujo comportamento é impróprio ao local onde se encontram e evidencia falta de cultura.

5.1. Relação com a intriga principal


Durante o sarau, Guimarães pede a Alencar para o apresentar a Ega e pede-lhe
explicações sobre a publicação da carta de Dâmaso.

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No final do sarau, enquanto Ega e Cruges passam à frente do Hotel Aliança, Guimarães
pede ao primeiro que entregue um cofrezinho à família Maia, acabando por revelar a relação
familiar existente entre Carlos e Maria.
No dia seguinte, Ega revela o segredo a Vilaça, solicitando-lhe que o comunique a Carlos,
o que o administrador faz.
Carlos questiona Afonso sobre a possibilidade de Maria Eduarda, sua neta, estar viva.

5.2. Personagens intervenientes


• Carlos da Maia • os dois Vargas
• João da Ega • Mendonça
• Rufino • Neves
• Cruges • Conde de Gouvarinho
• Tomás de Alencar • Condessa de Gouvarinho
• Guimarães • Marquesa de Alvim
• Teles da Gama • Baronesa de Craben
• Steinbroken • Joaninha Vilar
• Taveira • D. Maria Cunha
• Eusebiozinho • as duas Pedroso
• Sousa Neto • Marquesa de Soutal
• Gonçalo • Teresa Darque

5.3. Visão crítica da sociedade portuguesa


Neste episódio:
• evidencia-se o gosto convencional e retrógrado da alta burguesia e da aristocracia
portuguesas;
• critica-se a oratória balofa, a retóricafácil e os excessos do ultrarromantismo.

Personagens
1. As personagens da intriga
• Afonso da Maia
• Maria Eduarda Runa
• Pedro da Maia
• Maria Monforte
• Carlos da Maia
• Maria Eduarda
• João da Ega
• Guimarães

2. As personagens da crónica de costumes


• Tomás de Alencar • Palma Cavalão
• Jacob e Raquel Cohen • Conde e Condessa de
• Craft Gouvarinho
• Cruges • Sousa Neto
• Dâmaso Salcede • Steinbroken
• Eusebiozinho • …

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Afonso da Maia
Figura de grande integridade moral e de carácter reto, simboliza o Portugal liberal que sofreu
na pele as lutas contra o Absolutismo na sequência das quais teve de se exilar. Depois da
morte da sua mulher e do seu filho, isola-se em Santa Olávia, onde se dedica à educação do
neto a quem devota inteiramente os seus últimos anos. No final da sua vida, é sobre ele que
recai diretamente a desgraça que se abate sobre a família.

Maria Eduarda Runa


É a mulher de Afonso da Maia – “filha do conde de Runa, uma linda morena, mimosa e
um pouco adoentada.” [p. 15] – e, portanto, mãe de Pedro e avó de Carlos da Maia.
Doente, fraca e arreigada aos valores mais tradicionais da religião católica, insiste em
dar uma educação tipicamente portuguesa a seu filho, mesmo contra a vontade Afonso.

Pedro da Maia
Filho de Afonso e Maria Eduarda Runa, criado num ambiente beato, teve como tutor o
padre Vasques. Com uma aparência frágil, demonstra, desde muito novo, instabilidade
emocional e uma índole nervosa.
Quando conhece Maria Monforte, apaixona-se profundamente e, contra a vontade do
seu pai, casa com ela. Desta união nascem duas crianças: Maria Eduarda e Carlos Eduardo.
A sua esposa enamora-se de um napolitano, Tancredo, com quem acaba por fugir,
levando a filha do casal.
Desesperado, Pedro retorna a casa do seu pai, com o seu filho, Carlos. Nessa noite, suicida-
se.

Maria Monforte
É conhecida em Lisboa como a “negreira”, alcunha pejorativa que lhe foi atribuída pelo
facto de o seu pai ter sido comandante de um navio de transporte de escravos. É uma mulher
fútil, sensual e deixa-se influenciar pela literatura romântica que contribui, em grande parte,
para o seu carácter romanesco.

Carlos da Maia
Protagonista da obra é um cosmopolita. Destaca-se pela sua sensualidade e pelo bom
gosto, gostando de se rodear de luxo. Por onde passa, suscita paixões, acabando por se tornar,
em Lisboa, amante da condessa de Gouvarinho. Inevitavelmente, porém, virá a apaixonar-se
por Maria Eduarda. Apesar de ter sido educado para ser capaz de enfrentar todas as
contrariedades, a sua vida fracassa em grande parte: absorvido por uma vida social e amorosa
que o levará à perda das suas motivações adota o diletantismo e o dandismo como formas de
vida, dispersando-se por inúmeros interesses (as armas, os cavalos, o bricabraque, a literatura,
a medicina), mas sempre apenas pelo prazer e pelo gosto dos ambientes sofisticadamente
elegantes e requintados.
Maria Eduarda
Frequentemente associada a uma deusa, pela sua beleza e elegância, entra na sociedade
lisboeta pela mão de Castro Gomes, de quem é amante. Tem uma filha, Rosa, de uma relação
anterior com Mac Gren, e acabará sendo Madame de Trelain, no final da obra.

João da Ega
É o companheiro e confidente de Carlos da Maia e o responsável pela sua apresentação
à sociedade lisboeta. Tal como Carlos, é um dândi e um diletante, sendo, no entanto, muito

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mais exuberante e excêntrico, quer pelo seu comportamento, permanentemente
contraditório, quer pelo seu empenho na defesa de ideias radicais.
Tomás de Alencar
Símbolo do ultrarromantismo sentimentalista personifica a resistência às novas ideias e
a estagnação da cultura portuguesa.
Honesto e generoso, faz a ligação entre as duas gerações: foi amigo de Pedro e é amigo
de Carlos.

Raquel Cohen
Mulher romântica que, embora amando o marido, se entrega com paixão a uma relação
adúltera com Ega.
Jacob Cohen
Diretor do Banco Nacional, Jacob é o marido de Raquel Cohen. Homem muito influente,
prepotente, demonstra ser cínico e indiferente ao destino do país.

Craft
Ega apresenta-o a Carlos da Maia.
Esta personagem representa o ideal do homem. É um inglês rico e culto, que usufruiu,
tal como Carlos, de uma educação britânica. “Afonso […] começara logo a sentir uma estima
elevada por aquele gentleman de boa raça inglesa […] cultivado e forte, de maneiras graves, de
hábitos rijos, sentindo finamente e pensando com retidão.”[p. 186]
“Madrugador”, “grande no xadrez”, Afonso considera-o “deveras um homem”. [p. 186]

Cruges
Maestro e pianista, Cruges é amigo de Carlos como o fora, anteriormente, da sua mãe,
Maria de Monforte. Íntimo do Ramalhete, é, de acordo com a obra, “um diabo adoidado,
maestro, pianista, com uma pontinha de génio”. Possui uma “grenha crespa que lhe ondulava
até à gola do jaquetão”.
Apesar da genialidade que lhe reconhecem, mostra-se desmotivado, pois não encontra
na sociedade lisboeta quem se interesse pelo seu trabalho. Diz ele: “Se eu fizesse uma boa
ópera, quem é que ma representava?”

Dâmaso Salcede
Fisicamente gordo e balofo, provinciano, mesquinho, bajulador e cobarde é a
personagem mais repugnante da obra. Simboliza o que há de pior na sociedade portuguesa da
época: tem uma visão deturpada da vida e de si próprio, defende valores sociais imorais, não
respeitando os outros nem se fazendo respeitar.

Eusebiozinho
Influenciável, cobarde e fraco, socialmente ignorado, personifica as vítimas da educação
à portuguesa tradicional, norteada por uma moralidade caduca e retrógrada.

Palma Cavalão
Proprietário do jornal A Corneta do Diabo, representa o jornalismo imoral, corrupto, de
escândalo. Cria e elimina artigos por dinheiro. É baixo, gordo e sem caráter.

Conde de Gouvarinho
Ministro e par do Reino, membro da nobreza, revela-se nostálgico, misógino, inculto,
demonstrando consequentemente a incompetência dos políticos.

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Condessa de Gouvarinho
Filha de um comerciante inglês, casada com o Conde de Gouvarinho, envolve-se numa
relação com Carlos da Maia. É ruiva, com olhos escuros, apaixonada, arrebatada, mas também
fútil e desinteressante, razões que levam Carlos a terminar a relação.

Guimarães
Tio de Dâmaso que conhecera a mãe de Carlos em Lisboa. É ele quem entrega a Ega a
caixa que contém os documentos reveladores da verdadeira identidade de Maria Eduarda,
desencadeando, assim, a desgraça que se abate sobre a família Maia.

Sousa Neto
Representante da administração pública, Sousa Neto é um figurante e personagem-tipo
da burocracia. “Oficial superior de uma grande repartição do Estado”, “Da Instrução Pública”,
revela falta de cultura e mediocridade intelectual. O narrador, ironicamente, apresenta-o
“cheio de curiosidade inteligente”a perguntar a Carlos da Maia se “em Inglaterra havia
tambémliteratura”.
Não é capaz de ter um diálogo consequente, quer devido à falta de conhecimentos sobre
personagens e temas da época, como Proudhon e o socialismo utópico, quer por formação
preconceituosa e ignorância que o leva a afirmar (acerca das “páginas de Proudhon sobre o
amor”) que não sabia “que esse filósofo tivesse escrito sobre assuntos escabrosos”.

Steinbroken
Steinbroken é apresentado como conde, diplomata e ministro da Finlândia. Torna-se
amigo de Afonso da Maia e íntimo do Ramalhete depois de pretender alugar umas cocheiras e
de as ter recebido como oferta.
Steinbroken é um homem “muito fino, um gentleman, entusiasta da Inglaterra, grande
entendedor de vinhos, uma autoridade no whist.”; é também especialista em canto, como
todos os da sua família, e “levara parte da sua carreira ao piano”. No fim da obra, Carlos da
Maia é informado por Ega que Steinbroken se tornou “Ministro em Atenas”, na Grécia.

Espaço
1. Espaço físico

1.1. Espaço geográfico


• Coimbra
• Sintra
• Lisboa

1.2. Espaços interiores


• Vila Balzac
• A casa na rua de S. Francisco
• A Toca
• Ramalhete

1.3. Simbologia dos espaços físicos

2. Espaço social

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Coimbra
[pp. 89-95]
Carlos estuda Medicina, em Coimbra. Aí conhece João da Ega, que se tornará o seu fiel
companheiro. O avô prepara-lhe uma casa, apelidada de “Paços de Celas” pelo amigo, devido
aos seus luxos.
À noite, os serões são ocupados com whist, música, leituras de jornais e revistas e
discussões sobre os temas mais diversos.
A faceta dandy de Carlos começa a revelar-se.

Sintra
[pp. 218-251]
Local idílico surge como contraponto à urbanização de Lisboa. Para as classes altas do
século XIX representava o ócio, o contacto com a Natureza.
Maria Eduarda visita Sintra na companhia de Castro Gomes e de Dâmaso. Tomando
conhecimento desse facto, Carlos convida Cruges para um passeio a esse local. Contudo, não
consegue encontrá-la.

Lisboa
Local onde o ócio e a degradação moral imperam, Lisboa é o símbolo da decadência
nacional.
Portugal, simbolizado através da sua capital, é um país culturalmente estagnado e
politicamente amorfo.
Os espaços mais relevantes da cidade são o cenário d’Os Maias: o Aterro, o Teatro da
Trindade, o S. Carlos, o Hipódromo, o Hotel Central e o Hotel Aliança.
Depois de uma viagem pela Europa, após a conclusão do curso de Medicina, Carlos
regressa a Portugal e instala-se no Ramalhete, propriedade da sua família nesta cidade.

A Vila Balzac
A “Vila Balzac”, situada na Graça, é a casa e o retiro amoroso de Ega.
A denominação que Ega dá a este local reflete a sua dualidade literária e a sua
personalidade contraditória pois, tal como o escritor francês, também este se divide entre o
Romantismo e o Realismo.
A cor predominante do interior da casa é o vermelho, o que denuncia a dimensão
dissoluta da vida de Ega.
A ausência de decoração na sala remete para a faceta intelectual desta personagem.

A casa da rua de S. Francisco


“[…] quando da visita a Rosa, é sobretudo a atmosfera de intimidade e de uma certa
sensualidade que Carlos apreende nesse primeiro contacto […]; daí que a visão do protagonista
seja atraída sobretudo pelo “delicado alvejar de roupa branca, todo um luxo secreto e raro de
rendas e baptistes”, bem como por “um sofá onde ficara estendido, com as duas mangas
abertas, à maneira de dois braços que se oferecem, o casaco branco de veludo lavrado de
Génova” [p. 260].
Sintomaticamente, porém, a Carlos não escapam outros objetos que, introduzindo no
cenário observado notações de estranheza e excesso, começam a esboçar o sentido de
irregularidade que acabará por dominar a ligação entre as duas personagens […]”

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A Toca
“A Toca surge no romance Os Maias como o lugar dos encontros amorosos de Carlos e Maria
Eduarda, nos Olivais. Propriedade de Craft, é arrendada por Carlos para aí residir a sua amada
e preservar a intimidade da sua relação. […]
O nome “Toca” é atribuído por Carlos com a aprovação de Maria Eduarda, que o "achou
originalíssimo". Simbolicamente, "Toca" pode expressar o lado instintivo e animal da relação
entre Carlos e Maria Eduarda, na medida em que o nome atribuído lembra a habitação ou
esconderijo de muitos animais.”
O Ramalhete
Residência da família Maia, no bairro das Janelas Verdes, em Lisboa, é um espaço
profundamente ligado à sua desgraça – é lá que Carlos desespera depois de conhecer a
verdade sobre Maria Eduarda e que Afonso da Maia morre. O seu nome deriva do grande
ramo de girassóis no escudo de armas na fachada da casa.
Este edifício apresenta inúmeros objetos simbólicos, sendo um dos mais relevantes a
estátua de Vénus Citereia, que simboliza três fases da vida desta família: a morte de Pedro da
Maia, o esperançoso retorno da família à cidade e a desgraça final da família, consequência da
relação incestuosa entre Carlos e Maria Eduarda.
O Ramalhete representa também a decadência da sociedade lisboeta e do país, em geral.

Tempo

Educação
Um dos temas mais marcantes n´Os Maias é a educação.
Ao longo da obra vemos o contraponto entre dois tipos de educação:
• educação portuguesa;
• educação inglesa.

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Modelos educativos e seus resultados práticos
Modelo Personagens a Características do modelo educativo Vertentes Consequências
quem é dominantes
aplicado
Tradicional, Pedro • a proteção dos Influência Não encontra
português braços da mãe, que feminina e solução para a sua
o “amoleciam” religiosa vida:
• o refúgio no colo suicida-se
das criadas FALHA A VIDA
• a influência
pedagógica
escolástica do Padre
Vasques
• o estímulo do
espírito boémio do
Romantismo
Eusebiozinho • desde o berço que Desenvolvimento Leva uma vida de
mostrava interesse intelectual livresco devassidão
pelo saber FALHA A VIDA
• ainda gatinhava e já
gostava de folhear
livros e permanecer
imóvel
• quando crescido,
permanecia inativo
numa cadeira a
desenhar letras
• recitava versos sem
qualquer
expressividade
Inglês Carlos • dormia sozinho Influência Vida ociosa; viola
antes dos cinco masculina, as leis morais ao
anos desenvolvimento praticar incesto
• tomava banho em físico, religião e conscientemente
água fria todas as moral secundárias FALHA A VIDA
manhãs
• tinha uma dieta
alimentar rigorosa
• podia correr
livremente, pular,
cair, subir às árvores

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Educação
Carlos Eusebiozinho
Educação Inglesa Educação Portuguesa
[Cap. III] [pp. 68-69 e 76]

• símboloo trapézio • símboloa cartilha


• pedagogoBrown (o inglês) • pedagogo Custódio (o abade)
• vida ao ar livre • debilidade física
• contacto com a Natureza • aprendizagem de línguas mortas (Latim)
• exercício físico • recurso à memorização
• aprendizagem de línguas vivas (Inglês) • deformação da vontade própria através da
• desprezo pelo conhecimento chantagem afetiva
exclusivamente teórico
• submissão da vontade ao dever:
• rigor – método – ordem
ROMANTISMO DECADENTE

EQUILÍBRIO CLÁSSICO

Simbologia dos espaços físicos

O passeio final de Carlos e Ega por diversos locais de Lisboa é profundamente


simbólico:cada um dos espaços físicos percorridos remete-nos, para uma visão crítica da
sociedade portuguesa.
Tudo está, na sua essência, como estava há dez anos; no entanto, a degradação de
Lisboa e de Portugal, simbolizada no Ramalhete em ruínas, instalou-se.
A exclamação de Ega: “– Falhámos a vida, menino!” [p. 713] dá-nos conta que o
percurso de vida do ser humano é determinado por causas que lhe são totalmente alheias.

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