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PORTUGUÊS

Poesia trovadoresca

 Cantigas de amor

A sua origem é provençal, e o sujeito de enunciação é o trovador sendo o seu objeto a


dona a “senhor”. Lamenta a ausência ou indiferença do amigo ou namorado. As
características da figura feminina descrita são ser divinizado, quase inatingível e da
aristocracia, já as características da figura masculina são ser vassalo, submisso e sofredor.
As confidentes são a mãe, as amigas ou a Natureza- servem para a donzela desabafar ou
compartilhar alegrias. O ambiente destas cantigas é palaciano e cortês, a sua essência é
artificial, convencional e aristocrática. O tema das cantigas são o elogio da mulher armada
e a coita amorosa. Paralelismo (repetição de palavras, versos ou conceitos e a existência de
um refrão).

 Cantigas de amigo

A sua origem é autóctone, e o sujeito de enunciação é a “amiga” (a donzela) sendo o seu


objeto o amigo. As características da figura feminina são ser terrestre, de cariz
essencialmente popular, a qual é idealizada e considerada como perfeita, já as
características da figura masculina são apaixonadas, ausente e mentiroso, presta
vassalagem à mulher. O ambiente destas cantigas é doméstico, familiar, rural e marítimo, a
sua essência é simples, espontânea e popular. O tema das cantigas são a paixão pelo
amigo, a saudade, a incerteza e a insegurança na relação, os arrufos de amor e o ciúme, é
um amor idealizado e impossível.

 Cantigas de escárnio e maldizer

A cantiga de escárnio tem como características a sátira dissimulada, dúbia e encoberta, as


cantigas de maldizer tem como características a sátira direta, mordaz e explícita. A sua
intenção crítica é sátira política, critica de costumes e parodia do amor cortes com muita
ironia e humor.

Linguagem, estilo e estrutura

 Cantigas de amigo: vocabulário simples, frases simples, repetição do refrão que se


repete no final de cada estrofe e paralelismo estrutural ou semântico. -paralelismo
perfeito com “leixa-prom” (repetição de uma ideia); -paralelismo anafórico (repetição
de palavras no inicio de um verso/ estrofe; -paralelismo semântico (repetição com
recurso a sinónimos)
 Cantigas de amor: vocabulário menos repetitivo, frases mais complexas e ausência de
refrão (cantiga de mestria).

Fernão Lopes, crónica de D. João I

Afirmação da consciência coletiva: emerge um sentimento coletivo do povo português que se


traduz na consciência de se pertencer a uma nação. A consciência nacional dos portugueses
advém em grande medida temerem a invasão estrangeira e de sentirem a independência do
reino e a sua liberdade ameaçada durante a crise de 1383 a 1385.

Estilo:
 Vivacidade e credibilidade;
 Uso de discurso direto;
 Coloquialismo;
 Sensações (auditivas, visuais e de movimento);
 Uso de gerúndio;
 Pormenorização e apelo visual;
 Pontuação expressiva;
 Verbos expressivos e de movimento;
 Objetividade e subjetividade;
 Recursos expressivos: -enumeração, comparação, hipérbole, metáfora, personificação,
pergunta retórica e polissíndeto.

Atores individuais e coletivos:

 D. Leonor Teles: determinada, persistente e astuciosa;


 Conde Andeiro: bode-expiatório;
 Rei de Castela: orgulhoso, ambicioso e calculista;
 Álvaro Pais: astuto, determinado e destemido;
 D. João Mestre de Avis: homem vulgar, ambicioso e cariz realista.
 Povo: ignorante, sofredor, lutador, força motora da revolução

Capítulo 11:

Neste capítulo, conta-se como o povo de Lisboa foi ajudar o Mestre de Avis quando soube que
a sua vida corria perigo, após Álvaro Pais ter avisado toda a cidade. Chegando ao paço a
multidão verificou que o Mestre de Avis estava vivo, tendo Conde Andeiro sido morto. Desse
momento resultaram grandes manifestações de alegria. Tudo isso foi apenas um esquema por
parte de Álvaro para apoiar o Mestre na batalha pelo trono, gerando esta revolta no povo.

Capítulo 115

Neste capítulo conta-se como feita a preparação para o Cerco de Lisboa. De modo a não faltar
nada o Mestre de Avis ordena a recolha dos mantimentos, ll 4 e 5, a reparação dos muros à
volta da cidade, ll 13 e 14, a verificação das armas, ll 15 e 16 e a distribuição das tarefas de
defesa da cidade, ll 22-26. Salienta-se o facto de ser um esforço de guerra coletivo.

Capítulo 148

Este capítulo divide-se em três partes, na primeira começa por falar da grande falta de
mantimentos para a quantidade de gente que na cidade se refugiava, depois refere que os mais
pobres já nem arranjavam quem lhes desse comida e por isso vendo que a falta de alimentos
era cada vez maior decidiram expulsar as pessoas que eram consideradas incapazes de lutar
como as prostitutas, os judeus e os deficientes. Os castelhanos primeiro aceitavam estas
pessoas e alimentavam-nos, mas depois de se aperceberem das dificuldades da cidade
passaram a mandá-los de volta, mas aqueles que preferiam ficar eram maltratados. Na
segunda parte continua esta falta de mantimentos e é referido a subida dos preços, é também
usada uma metáfora para mostrar os sacrifícios feitos pelos habitantes para comer algo mesmo
que fosse incomestível, por fim refere a enorme tristeza que caia sob a cidade inteira. Na
terceira parte começa por falar sobretudo da tristeza e das tentativas para melhorar a situação,
sobretudo recorrendo à religião e às crenças, mesmo o Mestre de Avis se sentia triste ao
observar esta situação e sem nada para poder fazer. Muitas pessoas já preferiam morrer a
continuar a viver este pesadelo.

Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira

Gil Vicente havia sido acusado de plagiar obras do teatro espanhol de Juan del Encina. Em vista
disso, pediu para que aqueles que o acusavam dessem um tema para que ele pudesse, sobre
ele, escrever uma peça. Deram-lhe o seguinte ditado popular como tema: Mais vale asno que
me leve que cavalo que me derrube. No auge de sua carreira dramática, sobre este tema, Gil
Vicente criou A Farsa de Inês Pereira, respondendo assim àqueles que o acusavam de plágio.

Inês é uma personagem modelada- transformação psicológica(ideal>real). Representações do


quotidiano: modo de vida popular/cortês; devassidão do clero. Existe uma dimensão satírica:
crise de valores; conflitos sociais; conflito de gerações.

Auto- moralidade religiosidade

Farsa- critica social

Existem três momentos na obra:

1. Inês solteira
2. Inês casada com pero marques
3. Inês casada com Brás da mata

Apenas através das palavras é feita a caracterização indireta de Inês. Inês é uma jovem imatura,
algo rebelde, cansada, sente-se inútil com a vida que tem, desencantada, sonhadora,
sofrimento, prisioneira e sente se só.

 Lianor Vaz é amiga da família e casamenteira, apresenta Pero Marques. Revela a


devassidão do clero.
 A mãe de Inês Pereira é experiente e boa conselheira.
 Pero Marques: provinciano, sem maneiras, rude, desajeitado, honesta e humilde.
(através do humor Gil Vicente leva o publico a refletir neste ideal.
 Brás da Mata(escudeiro): aparentemente bem-educado, cobarde, falso, oportunista,
quer ascender socialmente ao casar-se com Inês(dote) para melhorar a sua qualidade
de vida porque não tem dinheiro, é hipócrita e interesseiro.

A relação entre Inês e a sua mãe: apesar de obedecer à mãe, Inês protesta e reclama da sua
condição de solteira inútil, não segue os seus conselhos e recusa casar com Pero Marques,
numa fase inicial. A mãe assume sempre uma atitude critica, mas paciente, com ela.

A relação entre Inês e o escudeiro: movida pelo desejo de se casar com um membro da
nobreza, Inês aceita o escudeiro como marido, o que lhe vai ser nefasto, devido à sua tirania e
falta de escrúpulos. Esta escolha errada vai ser solucionada com a morte de Brás da Mata.

A relação entre Inês e Pero Marques: recusado no início por ser inculto r brejeiro, Inês vai
aceitar pero como seu marido e, a partir daí, vai conseguir ser feliz, enganando-o e pondo-o ao
serviço dos seus prazeres. Néscio, o bom Pero Marques vai concretizar todos os seus desejos
incluindo levando Inês a ver o seu amanta, o Ermitão.
Estrutura da obra

 Exposição: monologo inicial de Inês e o diálogo com a mãe, em que se apresentam as


características da jovem e dos seus objetivos;
 Conflito: da chegada de Lianor Vaz, até ao casamento com Pero Marques;
 Desenlace: desde o casamento até ao final, onde se caracteriza o tema da peça e o
provérbio que a determina: “Mais vale asno que me carregue, que cavalo que me
derrube”. Ponto de partida- aspiração de Inês a libertar-se pelo casamento.
Desenvolvimento- proposta e recusa de casamento com Pero Marques, casamento
falhado com o escudeiro, casamento com Pero. Ponto de chegada- concretização da
aspiração de Inês.

Dimensão satírica

Transtorno da ordem social estabelecida:

 Crise de valores;
 Conflitos sociais (casamento de classes sociais distintas)

Mecanismos: personagens-tipo; recurso ao cómico da situação: caracter e de linguagem.

Camões lírico

Humanismo, Renascimento e Classicismo.

Tópicos de conteúdos:

 a representação da amada: a mulher é um ser próximo da perfeição, percecionada


como um ser quase divino, que encarna o Bem e a Beleza, mas também um ser
maléfico, origem do sofrimento do sujeito poético. Ideal de beleza feminina
petrarquista: tez e olhos claros, com qualidades excecionais psicológicas e morais.
 A experiência amorosa e a reflexão sobre o amor: manifestação de uma conceção
neoplatónica do amor, segundo a qual o amor é um sentimento que suscita alegria,
tranquilidade, conduz à felicidade e eleva o ser humano. Por oposição, a mulher de
olhos e cabelos pretos pode também surgir como ideal de beleza. Presença, por
oposição de uma conceção anti neoplatónica, que encara o amor como um sentimento
capaz de despertar mágoa e conduzir à destruição. Poder transformador do amor e os
seus efeitos contraditórios.
 A representação da natureza: a natureza surge como um espaço alegre, quase
paradisíaco, propício ao amor (locus amoenus). A natureza é confidente do estado de
espírito do sujeito poético que celebra ou lamenta as suas vivencias amorosas, ou
ainda o cenário em que o sujeito projeta os seus sentimentos, estabelecendo com ela
semelhanças ou contrastes.
 A reflexão e a vida pessoal: Camões refere a dureza da vida que viveu, de desalento,
mágoas e sofrimento, sem prazeres nem alegrias. Considera-se marcado pela má sorte
no amor e alvo de um destino injusto.
 O tema do desconcerto: o mundo é injusto e desigual, ao nível social e moral. A vida
castiga sobretudo os que praticam o bem.
 O tema da mudança: a mudança é continua e abrange a natureza, por ser humano e o
modo como a própria mudança se vai efetuando. O tempo é irreversível e conduz o
individuo inevitavelmente para a morte.
 Linguagem e estilo: discurso pessoal e marcas de subjetividade. Diversificação de
recursos expressivos (a aliteração, a anáfora, a antítese, a apostrofe, a anástrofe, a
metáfora e a personificação).

Formas:

Redondilhas (medida velha):

 Poemas com número variável de estrofes cantigas, endechas, esparsas, vilancetes,


voltas
 Redondilha menor: 5 silabas métricas
 Redondilha maior: 7 silabas métricas
 Rima e esquema rimático variáveis.
 A amada é de qualquer classe social, privilegiando a de origem popular, possibilidade
de relacionamento físico

Sonetos (medida nova):

 Sonetos: duas quadras, dois tercetos


 Versos de 10(decassilábico) ou 12(alexandrino) silabas métricas
 Rima interpolada e emparelhada nas quadras
 Rima interpolada nos tercetos
 Esquema rimático: abba abba cde cde

Luís de Camões- Lusíadas

É uma epopeia: poema narrativo de exaltação de um acontecimento digno de ser louvado. O


seu assunto é de interesse universal dizendo respeito ao louvor e imortalização do povo
português (mitificação do herói). Em estilo elevado, canta uma ação heroica passada e analisa
os acontecimentos futuros, cuja visão os deuses são capazes de antecipar.

Epopeia do início do Império (séculos XVI, 1572) - narrativa em verso, com características
clássicas a nível da estrutura e do estilo, que narra os feitos grandiosos de um herói com
interesse para toda a Humanidade:

1. Proposição: poeta propõe-se a exaltar os feitos dos portugueses;

2. Invocação: poeta pede ajuda às ninfas;

3. Dedicatória: poeta dedica a sua obra a D. Sebastião;

4. Narração: poeta relata a descoberta do caminho marítimo para a Índia pelos navegadores
portugueses liderados por Vasco da Gama, começada «in media res», ou seja, a meio da
viagem.

5. Considerações do poeta: Camões exprime as suas opiniões sobre os factos que vai narrando.
A recompensa-os heróis têm acesso à Ilha dos Amores, prémio simbólico da heroicidade
•Plano da viagem: constitui a ação central relacionada com a descoberta do caminho marítimo
para a Índia, chefiada por Vasco da Gama. (canto 1, 2, 5, 6, 7, 8, 9, 10)

•Plano mitológico: intervenções dos deuses do Olimpo na viagem, em alternância com a ação
principal. (canto 2, 5, 6, 7, 8, 9, 10)

•Plano da História de Portugal: encaixado no plano da viagem. (canto 2, 3, 4, 5, 8, 9)

•Plano das reflexões do poeta: considerações de Camões, normalmente no final de cada canto,
fazendo várias críticas (nomeadamente à ignorância, desprezo pela cultura, ambição
desmensurada, poder tirânico, hipocrisia, exploração dos pobres, poder corrupto do ouro), e
defendendo um modelo de homem ideal que ganhará o direito a ser recebido na Ilha de Vénus.
(canto 2, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10)

Reflexões do poeta

Canto I- reflexões sobre a fragilidade da vida humana: o homem “bicho tão pequeno” esta
condicionado pelos “grandes e gravíssimos perigos”

Canto V- crítica à incultura dos portugueses, desprezo pelas artes e letras: falta de cultura e
divulgação dos feitos

Canto VI- valor das glórias e das honras, quando obtidas por mérito próprio.

Canto VII- invocação dos poetas às ninfas do tejo e do Mondego, lamento pelos infortúnios
sofridos e pelo não reconhecimento do seu mérito, facto de incentivo a futuros escritores.
Queixas do poeta: azares pessoais.

Canto VIII- o poder corruptor do dinheiro, o dinheiro corrompe qualquer um, sobretudo os
cargos altos da justiça e do clero.

Canto IX- ilha dos amores: gloria eterna, guerra pela religião, controlo do ócio, abstenção da
ambição e busca pela igualdade. O poeta reflete também sobre o significado da ilha dos
amores (o premio merecido, a união entre os deuses e os homens).

Canto X- conselhos ao rei D. Sebastião, o poeta lamenta a falta de reconhecimento pátrio e a


decadência do país. Dirige-se ao rei dizendo que este devia dar continuidade à expansão
marítima e oferece-se para cantar os feitos de novo.

Estrutura externa:

 Dez cantos
 Oitavas
 Versos decassilábicos
 Rima cruzada (seis primeiros versos) e emparelhada (dois últimos versos).

Analepse- narração de feitos passados

Prolepse- narração de feitos futuros


Sermão de Santo António- Padre António Vieira

Este sermão é de estilo barroco, os objetivos de eloquência do sermão, exprimem-se pelas


palavras:

-docere, isto é, ensinar, visto que os pregadores se servem dos púlpitos para criticar;

-delecture, isto é, deleitar através de uma linguagem marcada pelo excesso;

-movere, isto é, persuadir ou convencer.

Com este sermão, Padre António Vieira pretende persuadir os fiéis a seguirem a palavra de
Deus, encantá-los e ensiná-los a seguir uma vida reta. Para isso utiliza várias citações de
exemplos evangélicos. Padre António Vieira satiriza o poder dos colonos que pretendem
escravizar os índios, utilizando um sistema alegórico, falando e criticando os peixes quando na
verdade são críticas aos homens.

Alegoria da pregação aos peixes:

Louvor das virtudes dos peixes, em geral (são bons ouvintes, escutaram santo António sendo
atentos e obedientes)>critica aos vícios dos homens, em geral (falta de devoção relativamente
à procura de Deus)

O sermão está dividido em 3 partes:

 Exordio (capítulo 1)

Este capítulo inicia-se com o conceito predicável- vos etis sal terrae (vos sois o sal da terra)
- a partir do qual o discurso se desenvolve

Vós(pregadores) sois o sal (mensagem evangélica) da terra(ouvintes). Tal como o sal


impede a corrupção da matéria também os pregadores devem impedir a corrupção das
almas espalhando a doutrina evangélica. Vieira decide pregar aos peixes e não aos homens
e questiona de quem é a culpa da terra não se deixar salgar: será dos pregadores ou dos
ouvintes?

 Exposição (capítulo 2, 3, 4 e 5)

O orador afirma nunca ter tido pior auditório que os peixes, pois embora ouçam e
apresentem boas qualidades não se podem converter.

Louvores dos peixes em geral: ouvem e não falam; os primeiros que Deus criou; melhores
que o ser humano; obedientes; ordeiros; não se deixam domesticar; os que há em maior
número e tamanho no planeta. Os louvores dos peixes apresentam os vícios dos homens.

-Peixe de Tobias: cura a cegueira com as suas entranhas e o coração afasta os demónios. É
comparado a Santo António que curava a cegueira dos ateus e é indiretamente criticada a
falta de fé e de conversão dos homens.

-Rémora: pequena, mas forte consegue alterar o percurso de uma nau agarrando-se a ela,
e por isso comparada a Santo António por impedir que os homens se desorientem. Critica
a fraqueza humana. Com o seu discurso alegórico apresenta as naus:

 A nau Soberba: não se desfez nos rochedos porque as palavras de António a salvaram;
 A nau Vingança: repleta de ira e ódio, encontrou a paz através das palavras do santo;
 A nau cobiça: sobrecarregada com uma carga injusta, foi salva das garras dos corsários
pela ação de santo António;
 A nau Sensualidade: perdida na cerração e na noite, iludida pelos cantos das sereias e
encontrou a salvação graças ao santo.

-Torpedo: produz descargas elétricas não se deixando apanhar pelos pescadores, critica a
exploração do próximo, corrupção

-4 olhos: capaz de olhar para cima e para baixo, olha para o céu e o inferno ao mesmo
tempo, critica a vaidade e a incapacidade de discernimento humana.

Os homens vêm a ser como os peixes que se comem uns aos outros (exploram uns aos
outros) - antropofagia social.

Repreensões aos peixes em geral: comem-se uns aos outros>os maiores aos mais
pequenos. São também acusados de ignorância e cegueira.

-Roncadores: pequenos, mas barulhentos, simboliza a arrogância e o exibicionismo. O


Santo António e o contrário do roncador pois calou-se e tornou a sua voz
poderosa>paralelismo antitético.

-Pegador: colam-se aos peixes maiores, sendo uma parasita, é uma critica aqueles que
vivem à custa dos outros. Vieira diz que os peixes aprenderam com os portugueses.

-Voador: arma-se em ave por ter barbatanas maiores, representando a vaidade e a


ambição.

-Polvo: parece inofensivo, mas é traiçoeiro, é uma critica à traição.

 Peroração (capítulo 6)

Vieira finaliza o discurso expositivo-argumentativo: reaviva a memoria dos ouvintes sobre


virtudes e repreensões com vista à última tentativa de convencer o seu publico e de o
influenciar na adoção de um novo estilo de vida, de uma vida mais voltada para o Céu e
menos presa à terra.

Frei Luís de Sousa- Almeida Garrett

 Sebastianismo
 Dimensão patriótica
 Papel trágico do destino

Hybris(desafio); climax; pathos(sofrimento); peripécia (inversão brusca); catástrofe;


ananke(destino); agnorise(reconhecimento); ágon (conflito interior ou não);
catarse(purificar).

É um drama considerado também uma tragedia antiga, esta escrito em prosa e aborda
muitos temas relacionados ao romantismo. Desenrola-se em três atos, divididos em cenas
(cada ato muda o cenário, cada cena muda as personagens).

Personagens:
 D. Madalena Vilhena: nobre; vive numa grande angústia e agitação emocional,
consciente da sua condenação à infelicidade; vive com a ideia de pecado;
sentimental. Apaixonada e instável.
 D. Manuel de Sousa Coutinho: nobre; culto e apreciador de letras; dominado pela
racionalidade; patriota, corajoso, determinado e sensato.
 Maria de Noronha: nobre; mulher anjo-perfeita; crê no sebastianismo; encontra-se
doente com tuberculose, frágil; inteligente, perspicaz, tem o dom da intuição.
 Telmo Pais: escudeiro da família; conselheiro fiel; protetor de Maria; desempenha
a voz da consciência; vive com um profundo conflito interior.
 D. João de Portugal: nobre (alta nobreza) muito respeitado; inicialmente severo e
vingativo e depois humano e compassivo; reduzido de anonimato; patriota e
integro.
 Frei Jorge: pertence ao clero; amigo e confidente; apaziguador; sensato, firme,
sendo a voz da razão e muito equilibrado.

Estrutura interna:

-Exposição: apresentação das personagens e acontecimentos que levam ao conflito

-Conflito: desenvolvimento da ação

-Desenlace: acontecimentos dramáticos da ação

Atos:

 Ato 1: decorre no palácio de D. Manuel de Sousa Coutinho o qual é bem iluminado,


cheio de flores e cor transmitindo o estado de espírito da família, feliz no geral. Inicia-
se com um excerto d’Os Lusíadas, o excerto de Inês de Castro lido por D. Madalena
Vilhena considerando esta estar numa situação pior que Inês pois ao menos esta
morreu feliz enquanto Madalena vive numa angústia constante. Telmo entra em cena e
ambos discutem sobre Maria. Os medos de Madalena em relação ao regresso do Ex
marido, que nunca regressou da batalha de Alcácer Quibir, refletem-se na proteção da
sua filha em relação ao Sebastianismo, se D. Sebastião regressasse o seu Ex marido
também podia. Telmo incentiva Maria a acreditar no sebastianismo. Por fim chega com
D. Manuel, um cavaleiro da nobreza que informa as personagens da necessidade de
movimentação daquela casa porque os espanhóis iriam instalar-se lá. O ato acaba com
D. Manuel a incendiar a sua própria casa, como símbolo de patriotismo, incendiando
também um retrato seu, simboliza o início da destruição da sua família, movendo-se a
família para o palácio de D. João de Portugal (apesar da desaprovação de D.
Madalena).
 Ato 2: decorre no palácio de D. João de Portugal, lugar melancólico, fechado e antigo
com diversos retratos que trazem de volta memórias do passado, assim revelando uma
presença indesejada e uma família mais abatida. D. Madalena apresenta-se muito fraca
e após a partida de D. Manuel com Maria e Telmo fica ainda mais desassossegada, pois
ficaria em casa sozinha com Frei Jorge. Aparece um Romeiro que não se identificando
dá indícios de ser D. João de Portugal que voltaria 21 anos depois da batalha de Alcácer
Quibir>anagnórises.
 Ato 3: decorre na parte baixa do palácio de D. João de Portugal, a ideia de clausura
neste espaço é diferente, remetendo para a tragédia do local. Caso o Romeiro fosse D.
João estaria perante um casamento e filha ilegítimos. Quando Telmo retorna este
encontra-se com Romeiro reconhecendo-o imediatamente, mas a sua lealdade al
antigo amo não é certa pedindo-lhe que finja ser um impostor para salvar a família.
Telmo vai pedir conselhos a Frei Jorge que lhe diz que com certezas a verdade não deve
ser escondida. Por fim, não tendo outra salvação, Maria morre de desgosto e os pais
vão para um convento tornando-se D. Manuel, Frei Luís de Sousa.

O afunilamento gradual do espaço anda a par do desenrolar da tragedia.

Sucessão cronológica:

Antes de 1578: Madalena casa com D. João de Portugal

4/08/1578: D. João desaparece na batalha de Alcácer Quibir com D. Sebastião

7 anos decorrem: Madalena procura por D. João

Depois dos 7 anos: Madalena casa com D. Manuel Coutinho (casados há 14 anos) e nasce
Maria (tem 13 anos na altura)

Passados 21 anos: ação dramática que se passa numa semana de desaparecimento

Romantismo VS tragédia clássica:

-Romantismo

 Escrito em prosa;
 Dividido em 3 atos;
 Presença de sentimentos fortes nas personagens;
 Exaltação do patriotismo;
 Personagens anjo- maria;
 A morte de maria em palco;
 A religião como consolo.

-Tragedia clássica

 A família condenada apesar de não ter culpa;


 O erro de D. Manuel e D. Madalena em casa, hibris;
 A catarse, ou seja, a sensação da audiência de que a sua vida não é assim tão má;
 Os ambientes que mudam com o estado de espírito;
 Poucos espaços e personagens;
 os conflitos interiores de Madalena e Telmo, agon;
 o reconhecimento de D. João no Romeiro, anagnórises;
 o aparecimento de D. João e as suas consequências, peripécia;
 O climax quando se reconhece o Romeiro;
 O sofrimento das personagens, pathos.
 A catástrofe que é a dissolução da família e a morte de Maria.

Amor de perdição- Camilo Castelo Branco

Obra de ficção>amor de perdição

Relato histórico verídico>memorias de uma família: Camilo afirma ser sobrinho do herói da sua
obra, Simão.
O narrador é omnisciente, subjetivo e opinativo.

Herói romântico- Simão Botelho

-Estatuto nobre

-Sentimentos fortes: antes de amar (rebelde, marginal, violento)

Depois de amar (sincero, fiel, excessivo no amor e ódio)

Heroínas românticas

Teresa Albuquerque:

-Estatuto nobre

-jovem, frágil e pura(mulher-anjo)

-Sentimentos fortes: (amor-paixão, vive o amor intensamente e morre de amor; persistência na


recusa de aceitar a autoridade paterna)

Mariana:

-Nobreza de sentimentos- sofre em silencio por amor (amor não correspondido)

-Indiferença em relação à sociedade

-Morte por amor (suicídio)

Relações entre as personagens

 Simão e Teresa: amor-paixão, sincero, puro, excessivo, oposto às convenções sociais e à


ordem instituída. Através deste casal é feita uma denuncia de uma sociedade
repressiva que atua através de instituição familiar (autoritarismo paterno, casamentos
por inconveniência, situação de inferioridade da mulher), igreja (conventos),
justiça(prisão).
 Simão e Teresa e os respetivos pais: conflito intergeracional. Denúncia do conflito
intergeracional e reivindicação dos valores dos jovens: filhos (idealismo, excesso e
radicalismo de posições) e pais.
 Famílias de Simão e Teresa: ódio e rivalidade. Denuncia de uma sociedade marcada
pelo ódio, pela violência.
 Mariana e Simão: amor-paixão não correspondido. Denúncia da autorrepressão
relacionado com a classe social (povo) e com o género (feminino)

Crónica de mudança dos valores sociais:

Representação da mudança de valores sociais através de:

 Reflexão sobre o degredo dos jovens úteis à sociedade;


 Intervenções do narrador sobre a sociedade e sobre os factos narrados;
 Critica as injustiças e martírios de Simão, Teresa e Mariana;
 Critica ao seguimento da vida consagrada a Cristo quando não é por vontade própria;
 Reflexão sobre a morte de 4 pessoas por um amor não aprovado pelos pais;
 Reflexão sobre as condições precárias dos degradados que viajam para a Índia.
Baltasar Coutinho>rival de< SIMÃO >filho de<Domingos Botelho e D. Rita Preciosa
Amor correspondido
Amor não correspondido

Triângulo amoroso

Tadeu Albuquerque>filha de< TERESA MARIANA>filha de<João da Cruz

Os Maias- Eça de Queirós

Episódios da vida romântica

O título da obra-Os Maias- remete o leitor para a história trágica de uma família da aristocracia
lisboeta.

O subtítulo- Episódios da vida romântica- encaminha o leitor para o ambiente social da época,
Eça faz o retrato satírico, mas realista, da Lisboa no final do séc XIX.

Personagens

Afonso da Maia (pai de Pedro e avô de Carlos)

 Símbolo dos valores tradicionais apesar de escolher uma educação britânica para o seu
neto;
 Na sua juventude defendeu os ideias liberais
 Homem de carater forte

Pedro da Maia (pai de Carlos)

 O seu comportamento é justificado pela educação, hereditariedade e o meio;


 Instável e nervoso;
 É um homem fraco, caracterizado pelo naturalismo;
 Depois da sua desilusão amorosa, suicida-se.

Maria Monforte (mãe de Carlos)

 Descrita como uma bela mulher, sedutora, enigmática;


 Acaba por deixar Pedro com o seu filho e partir com um italiano com a sua filha.

Carlos da Maia

 Um homem de gosto requintado e culto


 Fruto da educação britânica
 Quis estudar medicina apesar dos desejos do avô de estudar direito
 Vive vários amores
 Apaixona-se profundamente por Maria Eduarda, a qual depois descobre ser sua irmã;
 Não concretiza os projetos que idealiza.

Maria Eduarda
 Bela mulher, loura e elegante;
 Passado misterioso;
 Bondosa;
 Passa por um amor incestuoso com Carlos.

João da Ega

 Vive um amor com Raquel Cohen, cometendo adultério;


 Idealiza vários projetos, mas não os termina;
 É um homem culto, excêntrico e sarcástico;
 Representa o realismo.

Críticas sociais

Jantar do Hotel Central

 São abordados temas como Literatura, Finanças, História de Portugal


 Este episodio mostra a mentalidade retrógrada da alta sociedade portuguesa;
 Jantar para Cohen, organizado por Ega, o amante da sua mulher e para introduzir
Carlos à sociedade.

Corridas de cavalo

 Falso cosmopolitano;
 Tentativa de imitar os costumes estrangeiros;
 Provincianismo;
 Falta de civismo por parte da alta sociedade.

Jantar dos Gouvarinho

 Mediocridade mental da aristocracia e da classe dirigente.

Episodio dos jornais

 Jornalismo corrupto e parcial.

Sarau da Trindade

 Atraso cultural;
 Provincianismo;
 Poesia ultrarromântica.

Critica através das personagens-tipo

 Eusebiozinho: educação tradicional portuguesa


 Alencar: ultrarromantismo; exagerado, sentimental e teatral; tinha sido amigo de Pedro
da Maia
 Conde de Gouvarinho: poder político incompetente; medíocre; sem visão política.
 Sousa Neto: administração publica; ignorante e presunçoso;
 Palma Cavalão: jornalismo corrupto; vergado ao poder, oportunista.
 Steinbroken: diplomacia; estrangeiro e por isso observa o país de forma neutra.
 Dâmaso Salcede: novo riquismo; egoísta, gabarola, vaidoso.
 Cruges: talento artístico não reconhecido.
 Craft: formação britânica; excêntrico.
Educação tradicional portuguesa VS Educação à inglesa

Educação tradicional portuguesa:

 Memorização de conceitos ultrapassados;


 Estudo de línguas mortas (latim);
 Super proteção/chantagem afetiva;
 Permanecia em casa;
 Educação religiosa cristã;
 Debilidade física>sentimentalismo romântico

Educação à inglesa

 Criatividade, contato com a vida prática;


 Estudo do inglês;
 Rigor e disciplina nos horários;
 Vida ao ar livre, contacto com a natureza;
 Educação agnóstica;
 Prática de desportos>equilíbrio clássico

Resumo:

Afonso da Maia, um rico proprietário e nobre, vive em Lisboa no Ramalhete. Pedro da Maia,
seu filho, casa-se contra a vontade do pai com Maria Monforte, filha de um traficante de
escravos. No entanto, depois de terem tido 2 filhos esta irá apaixonar-se por um italiano com o
qual foge e leva a sua filha. Pedro suicida-se e o seu filho, Carlos, fica a encargo do avô.

Carlos Da Maia é educado através de uma educação britânica e forma-se em Coimbra em


medicina. Carlos vem a conhecer Maria Eduarda, esposa de Castro Gomes, e apesar de ter um
caso com a Condessa Gouvarinho, passa os dias com Maria Eduarda, comprando uma casa para
estarem juntos a “toca”. Carlos vem a descobrir que Castro Gomes e Maria Eduarda são apenas
amantes.

No entanto, outra tragedia acontece, o senhor Guimarães trouxe um pequeno cofre de Maria
Monforte, onde descobre que Carlos e Maria Eduarda são irmãos. Carlos apesar desta
informação continua a sua relação com Maria Eduarda até que esta descobre e ambos se
separam. Com esta tragédia, Afonso da Maia morre. Maria Eduarda vai para Paris e lá se casa.
Carlos parte para uma longa viagem, voltando para Portugal 10 anos depois.

Antero de Quental- Sonetos Completos

Fase eufórica

Antero luminoso, gracioso e diurno

 Sonetos otimistas
 Presença da razão
 Confiante, acredita numa sociedade melhor
 Romantismo humanitarista

Fase pessimista

Antero obscuro, romântico e noturno

 Reflexão interior, inquietação filosófico e desassossego


 Presença de sentimentos
 Desilusão, angustia e dor;
 Refúgio na transcendência religiosa (Deus)

Esta dualidade resulta da angústia existencial do poeta e da sua busca por um ideal.

Temas

Configurações do ideal:

 Procura a finalidade da existência humana


 Busca do ideal e ânsia do absoluto
 Desejo de sonhar
 Libertação na morte
 Transcendência religiosa

Angústia existencial

 Consciência da imperfeição humana


 Vida terrena sem alegria
 Ausência de esperança, triunfo da dor, do mal, morte
 Tristeza, pessimismo e desencanto
 Cansaço e frustração
 Desistência

Linguagem, estilo e estrutura

Soneto- forma mais prática para a apresentação dos seus conceitos e conclusões

Vocabulário- sábio e ao serviço de verbalização de ideias, pensamentos e essência do sentir.

Recursos expressivos: apostrofes, metáforas, personificação e alegorias

Noite<razão>morte

Relação “eu-Deus”>eixo vertical Relação “eu-mundo”>eixo horizontal

 Espaço das coisas tenebrosas


 Alem
 Não tem forma, espaço nem tempo
 Espaço das coisas sagradas

Cosmos

 Ideal
 Sentido oculto das coisas
 Razão para a vida
Cesário Verde

A representação da cidade e dos tipos sociais:

Cesário apresenta maioritariamente lugares da cidade de Lisboa, por onde passa a caminho do
trabalho. Nesses lugares, dá-nos a ver os membros do povo que trabalham na urbe, em
condições físicas muito duras e até desumanas. Destacam-se populares, tais como calceteiros,
varinas, mestres carpinteiros, a vendedora de hortaliça, entre outros. No entanto, escreve
também poemas em que o centro é o campo e a burguesia que nele deambula/passeia, como
acontece, por exemplo, em textos poéticos como “De tarde” ou “De verão”.

Deambulação e imaginação: o observador acidental

À medida que vai caminhando de sua casa até à loja onde trabalha com o seu pai, Cesário
Verde vai registando no seu olhar tudo quanto vê (lugares, pessoas, sensações). Por vezes,
passa da realidade que vê aquilo que ela lhe lembra e, então, vamos para o plano da
imaginação. Prova desse plano imaginativo é o conjunto de verbos que o transportam do
visível para o imaginário, como, por exemplo: “embrenho-me”, “sigo”, “e eu recompunha, por
anatomia, /um novo corpo orgânico”, “e evoco, então, as cronicas medievais”.

Perceção sensorial e transfiguração poética do real

É pelos seus cinco sentidos que o poeta regista em verso tudo quanto absorve, enquanto
caminha. Juntando às sensações um toque de imaginação poética e de pintor, Cesário
transforma mentalmente vegetais e frutos (entre outros) em partes do corpo humano,
“subitamente- que visão de artista! -/se Eu transformasse os simples vegetais (…) /num ser
humano que se mova e exista”.

Imaginário épico

Estrutura de “O sentimento dum ocidental”: Trata-se de um poema longo, dividido em quatro


partes: “Ave-Marias”, “Noite fechada”, “Ao gás” e “Hortas mortas”. Segundo as marcas do
género épico, nele Cesário Verde faz brotar críticas e louvores às qualidades e potencial
lusitanos (muito associados ao período dos Descobrimentos e de Camões), isto e, escolhe um
tema de interesse universal (glórias conseguidas com as Descobertas), cantando com
linguagem erudita. Consciente das injustiças sociais que testemunha ao circular por Lisboa,
especialmente as que opõem os muito ricos aos muitos pobres, Cesário Verde apela a um
futuro glorioso construído no presente século XIX e respetivo futuro.

Linguagem e estilo

 Seleção frequente de rima cruzada e interpolada ao serviço do cruzamento de planos


visíveis e transfigurados pelo poeta-pintor;
 Estrofes: quadras, quintilhas;
 Métrica: versos decassilábicos e alexandrinos;
 Comparações, metáforas, enumerações, hipérboles, sinestesias, usos expressivos do
adjetivo e advérbio.

Importante:

 Procura de finalidade para a existência humana


 Consciência da imperfeição humana
 Vida terrena sem alegria, cansaço, ausência de esperança.

Fernando Pessoa: poesia do ortónimo

Fingimento artístico

 A poesia é um produto intelectual;


 Não acontece no momento da emoção, resulta da sua recordação;
 É necessário intelectualizar os sentimentos e sensações para criar arte;
 A distanciação do real permite elaborar mentalmente algo novo: -conceção de novas
relações significativas;
 Fingir não é mentir, mas sim transfigurar a realidade utilizando a imaginação e a razão;
 O que importa é a sinceridade artística;
 Síntese da imaginação e da sensação. Citações: “Eu simplesmente sinto/ com a
imaginação/ Não uso o coração”, “O poeta é um fingidor/ finge tão completamente/
que chega a fingir que é dor/ a dor que deveras sente”.

Dor de pensar

 Pessoa sente-se condenado à consciência;


 Quanto mais se conhece mais se percebe que não é uno;
 A consciência de si condiciona a sua felicidade;
 Desejo de uma inconsciência consciente;
 Não abdica do mundo intelectual, mas este também lhe traz dor, a dor de pensar.
Citações: “Escuto e passou…”, “Ah, pode ser tu, sendo eu! / ter a tua alegre
inconsciência/ e a consciência disso! (…)”

Nostalgia de infância

 Recorda o tempo em que era feliz pois era inconsciente;


 Infância=sentir;
 Inutilidade do sonho pois não pode voltar atrás no tempo;
 Símbolo da inconsciência, do sonho, de uma felicidade longínqua;
 Recordar≠viver;
 Tempo como fator de desagregação porque tudo é efémero;
 Os sons da natureza, da música e das crianças a brincar na rua, entre outros, fazem
lembrar a infância perdida.

Sonho e realidade

 Para Pessoa, a sensação do sonho torna-se mais profunda que a própria realidade;
 Os sonhos necessitam de proteção e privacidade;
 Uma parte de ti é a realidade a outra parte é o sonho;
 Fragmentação do eu.

Poesia dos heterónimos- Alberto Caeiro

 Vê a realidade de forma objetiva e natural;


 Recusa o pensamento metafisico e o misticismo;
 Nega a utilidade do pensamento;
 Poeta da Natureza, desejo de integração e comunhão com a Natureza;
 Inexistência do tempo;
 Poeta sensacionista- dá primazia à visão;
 Inocência e constante novidade das coisas- pasmo essencial;
 A poesia é um ato involuntário e espontâneo;
 Recusa a introspeção e a subjetividade;
 É um ser uno e não fragmentado;
 Panteísta naturalista;
 Mestre de Fernando Pessoa ortónimo e restantes heterónimos, pois consegue atingir a
paz e tranquilidade;
 Antítese de Fernando Pessoa ortónimo, elimina a dor de pensar, isto é, ao não
intelectualizar as sensações Caeiro consegue encontrar a tranquilidade que o eu
criador nunca conseguiu alcançar;
 Guarda as sensações, protegendo-se dos predadores (pensamentos)> metáfora;
 Utiliza uma linguagem simples com verso livre- metáforas e comparações;
 Léxico objetivo;
 Poucos adjetivos;
 Verbos no presente;
 Aspeto frágil;
 Louro sem cor, olhos azuis;
 Sem profissão;
 Apenas fez a escola primária;
 Órfão muito jovem;
 Vida modesta;
 Morre de tuberculose> apura os sentidos.

A reter:

 Defesa da objetividade: predomínio da sensação sobre o pensamento


(pensamento deturpa o significado);
 Comunhão total entre o Homem e a Natureza (aceitar os processos naturais)>
neopaganismo (descrença total na transcendência);
 Desculturalização (não pensar nas coisas), Estoicismo- aceitação passiva de tudo
(vida humana faz parte do universo) - aceitar a realidade como é conduz à
tranquilidade;
 Divide os seus poemas em: -Poemas em conjunto; -Guardador de rebanhos
(Natureza não tem significados ocultos); -Pastor amoroso.

Poesia dos heterónimos- Álvaro de Campos

O poeta da modernidade (futurismo)- indisciplinado por natureza, este heterónimo é a


manifestação de cosmopolitismo do Modernismo português e do Futurismo. Por essa razão
canta a modernidade e a máquina. Através de um canto arrebatado, exalta como matéria épica
a civilização industrial e da técnica, da força, da violência e do excesso, querendo “sentir tudo
de todas as maneiras”.

Fase intimista> semelhante ao ortónimo


Esta fase caracteriza-se por uma incapacidade de realização, trazendo de volta o abatimento. O
poeta vive rodeado pelo sono e pelo cansaço, revelando desilusão, revolta, inadaptação,
devido à incapacidade das realizações. Após um período de exaltação da máquina Álvaro de
Campos é possuído pelo desânimo e frustração. A fase intimista traduz a reflexão interior e
angustiada de quem apenas sente o vazio. Campos é irmão de Pessoa ortónimo no ceticismo,
na dor de pensar e nas saudades da infância ou de qualquer coisa irreal. O poeta debate-se
com a inexorabilidade da morte, desejando até morrer (“Não me venham com conclusões! / A
única conclusão é morrer”). Aponta a infância como símbolo da felicidade perdida (“O céu azul-
o mesmo da minha infância/ Eterna verdade vazia e perfeita”)

Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. A construção antitética


destes versos é, sem dúvida, o espelho do interior fragmentado do poeta.

Linguagem e estilo:

 Tendência para o emprego do verso solto;


 Vertigem da palavra- que se traduz numa gradação da linguagem;
 Uso de onomatopeias, aliterações e outros recursos fonéticos;
 Recurso a grafismos expressivos e pontuação emotiva.

Ode triunfal

Álvaro de Campos glorifica o triunfo da civilização moderna. Elogio explosivo e excessivo da


civilização tecnológica, fascínio excessivo pelas sensações e celebração exacerbada e
provocatória do progresso e da civilização moderna.

Análise:

 Localização- dentro de uma fábrica;


 Temporal- presente em que o sujeito observa a fábrica;
 O sujeito poético encontra-se num estado febril e delirante (“tenho febre e escrevo”)
canta o progresso e a modernidade de forma entusiástica;
 O sujeito poético sente dor, sente fúria;
 Deleita-se a apreciar a beleza do que o rodeia, mas essa realidade causa-lhe dor
(contradição);
 Valorização de um novo conceito de antiestética, de uma nova forma de beleza-
relaciona-se com Força, Velocidade, Dinamismo, Excesso, Modernidade…
 Sensacionismo: Campos sente uma ânsia eufórica de abarcar a totalidade das
sensações- sentir tudo de todas as maneiras- deseja “exprimir-se todo como um motor
se exprime! / ser completo como uma máquina...”. O sensacionismo de Campos é de
cariz masoquista e sensualista.
 O heterónimo canta a civilização moderna e os avanços tecnológicos, tratando a
modernidade como uma espécie de nova «religião», que merece ser enaltecida através
de poesia.
 O instante presente é a congregação de todos os tempos> o presente é o resultado dos
esforços científicos passados e catalisadores dos feitos futuros, o tempo é um continuo
e a civilização um acumular de saberes e experiências que atravessam o tempo como
uma herança. Todas as referências a Platão, Virgílio, Alexandre Magno e Ésquilo são
porque estas figuras passadas permitiram a realidade atual;
 O sujeito poético procura identificar-se com as máquinas, traduzindo-se num “amor”
desesperado, traduzindo uma atitude sensacionista de ser tudo de todas as maneiras.
 O sujeito poético perceciona o real baseado no excesso de sensações;
 Comparado com Caeiro, para Campos a natureza é substituída pela visão do mundo
moderno e “supercivilizado” com o qual o sujeito poético estabelece uma relação de
erotismo;
 A infância surge representada por diversos elementos: a nora, o quintal, a casa, os
pinheiros, o burro (animal que representa a ausência de pensamento).
 O eu denuncia alguns aspetos negativos da modernidade: -a desumanidade, -a
corrupção, -a pobreza e a miséria.
 O último verso do poema sintetiza a atitude do deslumbramento em relação às
realidades cantadas e com as quais se deseja fundir. Exprime o desejo de ser múltiplo
(“toda a gente”) e omnipresente (“toda a parte”) - sentir tudo de todas as maneiras e
identificar-se com tudo.
 O poema é composto por estrofes de extensão variada e por versos em que não existe
uma regularidade métrica. Esta irregularidade sugere a exaltação descontrolada do
«eu» lírico e a ideia de que uma nova realidade pede um novo tipo de poesia que seja
menos presa à regularidade.
 Predomínio do vocabulário técnico;
 Canto excessivo da civilização industrial, encarada como matéria épica;
 A ousadia de mencionar os aspetos negativos da sociedade;
 Tendência para humanizar as máquinas;
 Uso da ironia sobretudo para traduzir a face negativa da civilização industrial;
 O ritmo do poema é torrencial, feroz, vivo, onde surgem as diferentes realidades
captadas por um “eu” em plena histeria de sensações;
 Utilização de onomatopeias e apostrofes;
 Suicídio moral;
 A ode está dividida em 3 partes.

Poesia dos heterónimos- Ricardo Reis

A poesia de Ricardo Reis revela claras influências de duas doutrinas filosóficas clássicas, o
epicurismo e o estoicismo. Na sua essência mais profunda, ambas procuram fornecer ao
homem respostas que o tranquilizem ao longo de uma vida perturbada por múltiplas
inquietações existenciais, nomeadamente a consciência da fugacidade da vida, do fluir
inelutável do tempo e da inevitabilidade da morte.

Procura encontrar paz e equilíbrio como o Mestre> equilíbrio do espírito clássico. É uma poesia
cerebral e didática. Existe o niilismo que é a negação da realidade e verdade.

Características gerais:

A nível temático:

- Perturbações existenciais decorrentes da consciência da transitoriedade da vida, da


voracidade do tempo e da inevitabilidade da morte;

- Valorização do universo cultural clássico, nítida nas influências do epicurismo e estoicismo e


na referência a deuses e mitos pagãos;

- Caráter moralístico da mensagem poética difundida.


A nível formal:

- Uso preferencial da ode;

- Irregularidade métrica;

- Ritmo sereno e disciplinado;

- Linguagem erudita, com vocabulário cuidado, por vezes, alatinado, num estilo laboriosamente
construído;

- Sintaxe complexa, com frequentes hipérbatos;

- Formas verbais no gerúndio, no imperativo e no conjuntivo (estas duas últimas com claro
valor exortativo, na linha, aliás, da intenção moralista da sua mensagem).

Conceitos importantes à sua filosofia:

 Estoicismo: indiferença perante as emoções, aceitação do poder do destino (apatia),


atitude de abolição;
 Epicurismo: procura da felicidade relativa, busca do estado de serenidade, moderação
nos prazeres, fuga às sensações extremas, indiferença face á morte;
 Carpe Diem: satisfação de aproveitar o dia e os prazeres do momento;
 Consciência da mortalidade: consciência da efemeridade da vida, indiferença face à
morte, reflexão sobre o fluir inelutável do tempo.

Mensagem- Fernando Pessoa

A Mensagem inicia-se com uma frase em latim “Benedictus Dominus noster qui dedit nobid
signum” cuja tradução é “bendito seja deus” e termina com “Valete frates” significando
“Saúde, irmãos”, demarcando o domínio de religiosidade em que se situa a obra. A frase de
abertura reenvia para o legado de Deus na terra e a frase final assume-se como uma exortação
para que o homem reencontre os caminhos de salvação que essa herança postula. O poeta
assume-se como um medianeiro entre o nível divino e terreno.

A obra apresenta três partes, número cabalístico da perfeição, correspondendo a primeira às


origens míticas de Portugal, à fundação, à consolidação do território continental, a segunda à
expansão em ato pelo mar e a terceira ao futuro, o Quinto Império, sonho sebasticamente
anunciado nas anteriores.

Mensagem é o sonho do poeta, percorre uma espécie de viagem iniciática em busca de um


novo império de valores. Propõe uma nova forma de pensar, o que somos como portugueses e
o que Portugal poderá vir a ser. O passado é transformado num mito para que se possa
reinventar o futuro. Portugal era um povo escolhido por Deus para ditar o futuro> tese
providencialista. O Homem e a obra são um só, como Deus faz e a obra é feita. Não é o Herói
que escolhe, o herói apenas é escolhido por Deus e por isso tem que cumprir a sua promessa.
A estrutura tripartida de Mensagem está relacionada com a ideia de que as profecias se
realizam 3 vezes, ainda que de formas diferentes, em 3 tempos distintos.

1ªParte- Brasão
Bellum sine bello (Guerra sem guerra)> pelo jogo dos oximoros sugere um espaço para ser
conquistado por fazer parte de um desígnio

 Começa pela localização de Portugal na Europa e em relação ao Mundo, procurando


atestar a sua grandiosidade e o valor simbólico do seu papel na civilização ocidental;
 Define o mito como um nada capaz de gerar os impulsos necessários a construção da
realidade;
 Apresenta Portugal como um povo heroico e guerreiro, construtor de um império
marítimo;
 Faz referências à fundação da nação e às figuras históricas que construíram o país;
 Refere as mulheres portuguesas, mães dos fundadores, celebradas como “antigo seio
vigilante” ou “humano ventre do Império”.

2ªparte- Mar Português

Possesio maris (Posse do mar)>o domínio dos mares permitiu expansão e a ligação entre os
povos

 Inicia-se com o poema “Infante” onde o poeta exprime a sua conceção messiânica da
História, mostrando que o braço do herói é movido por Deus como causa primeira, o
Homem como agente intermédio e a obra como efeito;
 Evoca a época dos Descobrimentos com os seus heróis, as glórias e as tormentas,
considerando que valeu a pena ao desbravarem os mares dando “novos mundos ao
mundo”;
 Em Mar Português procura simbolizar a essência do ideal de ser português
vocacionado para o mar e para o sonho;
 Termina com o poema “Prece” onde renova o sonho.

3ªParte- O Encoberto

“Pax in Excelsis” (Paz nas alturas/ Suprema paz) - mensagem de paz e fraternidade, tema do
Quinto Império e do Desejado.

 Encobrimento resultante da morte e ligação ao messianismo– Representa a esperança


num futuro associado a um messias e ao mito sebastianista, através da ressurreição,
que nos impulsiona para um Quinto Império num domínio espiritual - antecipação
profética de um acontecimento grandioso que está escrito no destino português.
 Tom claramente demiúrgico, sublinhar que o futuro se alcandora a um reino espiritual,
único domínio em que a salvação poderá assumir caráter eterno;
 A noite simboliza tudo o que é desconhecido, tudo o que é apático ou ainda tudo
aquilo que está em germinação;
 Manhã: simboliza o início de uma nova vida, bem como a glória, a luz e a própria vida;
 Nevoeiro: é sempre fonte de ambiguidade, pois é símbolo da incerteza e da tristeza, e,
no entanto, significa ainda esperança no futuro/ no regresso de D. Sebastião.

Discurso épico:

 Mitificação de um herói;
 Importância atribuída a acontecimentos marcantes da História;
 Uso narrativo da 3ªpessoa.

Discurso lírico:
 Expressão de emoções e de subjetividade;
 Uso da 1ª pessoa.

Contos- Sempre é uma companhia- Manuel da Fonseca

Este conto fala sobre a história de uma vila alentejana na qual a vida dos habitantes mudou por
completo após a visita de um vendedor de telefonias. Nesta vila existia um casal, onde a
mulher era trabalhadora e forte enquanto Batola, o homem, era um bêbado preguiçoso que
nunca queria trabalhar, juntos tinham uma venda na qual pouco ou nada se passava. No
entanto um dia foram abordados por um vendedor o qual promoveu a venda de uma telefonia,
o mesmo interessou a Batola, mas a sua mulher não parecia convencida, no entanto contra a
sua vontade a telefonia ficou durante um mês à experiência na monótona venda. Nada se
passava naquela aldeia sendo o momento mais empolgante da vida de Batola quando o seu
amigo Rata chegava, rata era um mendigo que andava a pedir pelas várias cidades do país
retornando com inúmeras histórias por contar, assim era o meio de comunicação com o resto
do mundo. Após adoecer irá perder a possibilidade de viajar e por isso suicidar-se-á, deixando
de existir quaisquer informações do mundo exterior. Por isso com a chegada da telefonia o que
aconteceu foi que a aldeia voltou a ter informações sobre o mundo, animando a vida na venda,
a qual tinha passado agora a ser um ponto de convívio. Chegando ao fim do mês de
experiência Batola considerava já destinado o fim da telefonia, mas surpreendentemente a sua
mulher queria agora manter a telefonia, devido à positiva mudança que a mesma tinha trazido
para a aldeia.

Solidão e convivialidade:

 A planície alentejana como símbolo não só de silêncio e pacatez, mas como um


«deserto» em que as pessoas fazem a sua vida de camponeses- «ceifeiros» -
maquinalmente, trabalhando desde manhã até à noite, não tendo vida social. O
convívio dá-se, porventura, dentro de casa. A solidão está espelhada no protagonista
António Barrasquinho, o Batola, e no mendigo «velho Rata», que acaba por se suicidar.
 Com a chegada de uma telefonia, tudo muda: as pessoas passam a juntar-se na venda
de Batola a ouvir as notícias do mundo e as belas melodias que motivam festas e
bailes. O convívio passa a ser evidente, aproximando as pessoas e ligando-as ao resto
do mundo.

Caracterização do espaço físico, psicológico e sociopolítico:

 O espaço físico é a planície alentejana que rodeia a aldeia de Alcaria e acaba por ser
propício ao espaço psicológico, pois é a partir do espaço desértico que as personagens
pensam e se transportam psicologicamente para outros lugares.
 O espaço sociopolítico é o de uma aldeia cuja sociedade, feita de ceifeiros, não
convivia, não dialogava, nem se divertia por estar geograficamente muito distante de
grandes cidades e mergulhada num quotidiano maquinalmente dividido entre campo e
casa. A telefonia aproxima metaforicamente os camponeses do resto do mundo, numa
época histórica marcada pela ditadura do Estado Novo.

Importância dos episódios e da peripécia final:

 No conto, sucedem-se episódios que vão ajudando a avançar a ação e servem para
caracterizar personagens e espaços, como, por exemplo: a descrição da rotina da
venda, a vida e morte do mendigo «velho Rata», os homens que trazem a telefonia e a
mudança social que se opera na aldeia de Alcaria, que acaba quando Batola desliga o
aparelho no fim do mês.
 A peripécia final corresponde ao momento em que Batola desliga a telefonia,
pensando que a mulher seria sempre contra ela, porém esta pede-lhe que fiquem com
a telefonia porque esta «sempre é uma companhia».

Contos- George- Maria Judite de Carvalho

Esta história desenrola-se em torno de uma mesma personagem feminina, George, desdobrada
na menina, mulher e velha, o que representa as três idades da sua vida. George saiu de casa
com cerca de 18 anos, rumo a Amesterdão, à procura da sua liberdade. Tornando-se com 45
anos numa mulher de sucesso, reconhecida pintora.

As três idades da vida

 Infância – adolescência – juventude> Gi: a obediência aos pais, o conflito de gerações-


pais incultos e ligados à terra natal versus filha ambiciosa que quer uma vida melhor e
liberdade, por isso emigra, deixando tudo para trás;
 Idade adulta> George: o tempo atual, de realização profissional e amorosa (George
conseguiu ter sucesso como pintora, o que lhe deu bons rendimentos/ dinheiro e
liberdade para ir vivendo os seus amores).
 Velhice> Georgina: o que considera «um crime» - «o único sem perdão», pois o
espelho será implacável e dir-lhe-á a verdade: está fisicamente enrugada, decrépita e
vive até à morte na sua «casa mobilada».

O diálogo entre realidade, memoria e imaginação

 Realidade: George com 45 anos a fazer a viagem de comboio até à sua terra natal em
Portugal, George no regresso a Amesterdão;
 Memoria: lembranças do passado, da sua antiga vida, da família (através do reencontro
e diálogo imaginados com Gi), outras lembranças que vão desaparecendo, à medida
que o comboio se afasta da estação onde entrou. Lembranças no futuro, prevendo-se
velha (Georgina) e refletindo sobre o que terá acontecido dos 45 até aos cerca de 70
anos.
 Imaginação: apesar de fisicamente não conversar com Gi nem com Georgina, da sua
imaginação resulta a verdade de uma realidade- a vida nas suas três grandes idades:
juventude, idade adulta e velhice. É a partir desta relação Imaginação e Realidade que
Maria Judite de Carvalho consegue caracterizar cada uma dessas fases da vida,
totalmente reais e irreversíveis.

Metamorfoses da figura feminina

As transformações físicas de George, que refletem diferentes estados psicológicos e


existenciais, acompanham as várias fases e facetas da sua vida adulta: “Mais tarde partiu por
alem terra, por alem mar. Fez loiros os cabelos, de todos os loiros, um dia ruivos por cansaço
de si, mais tarde castanhos, loiros de novo, esverdeados, nunca escuros, quase pretos, como
dantes eram. Teve muitos amores, grandes e não tanto, definitivos e passageiros, simples
amores, casou-se, divorciou-se, partiu, chegou, voltou a partir e a chegar, quantas vezes?”
A complexidade da natureza humana

 Tudo começa com uma crescente insatisfação com a vida pacata, vivida numa família
com pucos recursos e ausência de cultura/ de conhecimento do mundo. Daí surge a
sensação de incompreensão e a luta pela autonomia e pela liberdade.
 O escape/ a evasão pelo desenho, durante a juventude com os pais, como único meio
de libertação.
 Durante a idade adulta, George tenta livrar-se de tudo o que a prenda a algum lugar, o
que se nota no facto de gostar vender os seus livros, estando sempre pronta a sair para
qualquer outro mundo, sem amarras.
 Nesta fase, a complexidade manifesta-se também pelo constante mudar de sítio, de
aspeto físico, de namorados, pelo casamento, pelo divorcio e recomeço de outras (e
novas) formas de viver.
 Na velhice, esta complexidade fica demonstrada pelo inevitável reconhecimento da
decrepitude física, da vida agora sem grandes objetivos e do regresso a uma «casa
mobilada» (símbolo de estabilidade), esperando, resignadamente, a morte.

Poetas contemporâneos

 Miguel Torga
 Jorge de Sena
 Eugénio de Andrade
 António Ramos de Sousa
 Alexandre O’Neill
 Herberto Helder
 Ruy Belo
 Manuel Alegre
 Luiza Neto Jorge
 Vasco Graça Moura
 Nuno Júdice
 Ana Luísa Amaral

Representações do contemporâneo

 A sociedade do início do seculo XX; a sociedade das duas Grandes Guerras; a sociedade
do Fascismo e do Pós-Fascismo; a sociedade finissecular;
 Estrutura formal: irregularidade estrófica e métrica; linguagem ao serviço das
sensações; polissemia; trocadilhos; experiências linguísticas surrealistas;
 Futurismo e contemporaneidade: indústria, cinema, literatura, escrita; representações
do quotidiano do século XX.

Tradição literária

 Abordagem de temas: o amor (espiritual e físico); a nostalgia de infância; a natureza; a


complexidade da natureza humana; o estoicismo; físico e metafisico ou transcendente
(vida/além-vida); o quotidiano; a critica sociopolítica;
 Estrutura formal.

Figurações do poeta
 O poeta fragmentado/despersonalizado; o sofredor; o ser pensante; a consciência/ a
inconsciência; a razão/ o pensamento; o ser versus o não-ser; paradoxos e imagens;
existencialismo; niilismo.

Arte poética

 A dureza inerente ao ato de escrever;


 O poema como parte do próprio corpo humano;
 O poema como espelho da Natureza, das sensações;
 O poeta como fruto da confluência interartes e interciências (escrita, música, pintura,
escultura, medicina, anatomia, tecnologia).

Conceitos importantes

 Existencialismo: centralidade do ser humano, único capaz de dar sentido à sua vida,
sem a existência de Deus. O centro é o individuo e a sua interpretação da própria
existência, em luta pela liberdade e pela individualidade.
 Niilismo: ceticismo radical em relação a interpretações da realidade provenientes da
ciência e da religião. Este questionamento de tudo posiciona o ser humano num nível
de discussão e procura da verdade a partir de um ponto zero.

Memorial do Convento- José Saramago

Título

A palavra memorial significa um texto cujos factos, eventos e acontecimentos do passado nele
retratados fora, contados para que ficassem na memória de quem os ler. Quanto a convento
refere-se à construção do Convento de Mafra, assim serve como memória aqueles utilizados
como escravos para a construção daquilo que ia ser um convento feito em tempo limite devido
às dimensões do Convento e ao envelhecimento do rei o qual ordenou a sagração do Convento
para o seu 41º aniversário, em 1730.

Linhas de ação

 Construção do Convento de Mafra: ocupa grande parte da ação e tem a ver com a
narração de factos como: a escolha do local pelo rei D. João V, o lançamento da
primeira pedra (1717), a construção do monumento (sobressaindo o recrutamento
forçado dos homens do povo), por último a Sagração da Basílica, a 22 de outubro de
1730.
 Construção da passarola: é paralela à narrativa da construção do Convento, é
desenhada e arquitetada pelo Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão (após alguns
conselhos holandeses sobre o seu combustível, ou seja, âmbar e éter), com a ajuda de
Blimunda e Baltasar a «maquina de voar» vai sendo construída na quinta do duque de
Aveiro, em São Sebastião da Pedreira, quando acabada Blimunda recolheu as vontades
dos vivos e a passarola fez o primeiro voo, sobrevoando Lisboa e Mafra, e caindo em
Monte Junto, desparecendo o Padre Bartolomeu e morrendo anos depois em Espanha.
 Relação amorosa entre Blimunda e Bartolomeu: esta era uma relação livre, após os
dois se conhecerem no auto de fé passaram a viver juntos, sem outra bênção
sacerdotal que não a do Padre Bartolomeu; entre ambos ocorrem várias relações
intimas nutridas com um profundo amor; depois de ter ido visitar a passarola a Monte
Junto Baltasar desaparece misteriosamente, após ser apanhado pela passarola num
voo imprevisto, Blimunda procura-o então por 9 anos sem sucesso, encontrando-o
apenas num ato de fé a ser queimado pela Inquisição pela sua «bruxaria».
 Relação amorosa entre D. João V e Rainha D. Maria Ana Josefa: esta era uma relação
mais por obrigação reunindo-se grosseiramente para o ato sexual de uma forma
impessoal. D. Maria Ana Josefa não conseguia engravidar e, por isso, o rei prometeu
que se a rainha engravidasse construiria um convento em Mafra, por isso quando a
rainha engravidou foi o que fez. A rainha tinha durante a sua relação sonhos eróticos
com o irmão do seu marido.

Caracterização das personagens:

Personagens pertencentes à História

D. João Quinto: rei de Portugal, representante do absolutismo e repressor do povo, é retratado


no livro de Saramago como um homem vulgar, ignorante e libidinoso.

D. Ana Maria Josefa: rainha de Portugal, representa a submissão da mulher da época, cuja
única missão era gerar herdeiros para o marido. No romance é retratada como uma mulher
submissa, medrosa e beata.

Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão: brasileiro nascido em 1685, ignorava o fanatismo


religioso da época, acreditava na ciência e, pelo seu espírito visionário, foi perseguido e morto
em 1724 pela Inquisição.

Domenico Scarlatti: músico italiano que compôs inúmeras músicas, peças musicais e ganhou
fama como compositor e maestro. No romance, é o mensageiro da morte do Padre Bartolomeu
a Baltasar e Blimunda.

Personagens fictícios

Blimunda de Jesus (Blimunda Sete-Luas): jovem com poderes sobrenaturais que se apaixona
por Baltasar à primeira vista. Possuía o dom de ver o íntimo das pessoas, representando assim
a transcendência do ser humano quanto à morte, o amor, o pecado e a existência de Deus. Foi
a única sobrevivente da Inquisição.

Baltasar Mateus (Baltasar Sete-Sóis): jovem corajoso e forte que se apaixonou por Blimunda
assim que a conheceu. Perdeu a mão esquerda em combate durante a Guerra da Sucessão
Espanhola, característica corporal que representa os horrores do período de conflito armado. É
quem ajuda o padre Bartolomeu a realizar o seu sonho, tornando-se o responsável pela
conclusão do projeto de uma máquina voadora (Passarola) depois que o padre foge para a
Espanha.

O herói coletivo (o povo)

Foram os populares incógnitos, sobre quem nunca rezou a História de Portugal, que realmente
construíram o Convento de Mafra, e não propriamente el-rei D. João V. os populares são
incultos, rudes e humildes, muito sacrificados, vivendo na miséria, mas revelam-se muito
respeitadores e obedientes à Coroa e às tarefas que dela lhes chega. Do povo sobressai Manuel
Milho que dialogo com outros populares. Representa, na sua individualidade, as características
da sua classe em geral: é corajosa, trabalhadora, consciente das diferenças sociais entre classes
e gosta de contar histórias.
Dimensão simbólica

 A construção do Convento de Mafra é um símbolo da megalomania de D. João V e ao


mesmo tempo da injustiça e escravidão que recai sobre os membros do povo;
 Os membros do clero simbolizam a devassidão moral e o aproveitamento do fervor
religioso do povo, utilizando a Inquisição;
 O número 3 simboliza os elementos que compõem o centro da construção da
passarola- Blimunda, Baltasar e o Padre Bartolomeu
 O número 7, incluído nas alcunhas Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas como que a
pressagiar a morte de Baltasar e a viuvez de Blimunda, estas alcunhas explicam-se
porque Baltasar vê às claras e Blimunda vê às escuras.
 O Maravilhoso Pagão (sobrenatural) existe paralelamente ao Maravilhoso Cristão-
manifestações da religião católica e poderes de Blimunda.

Breve análise de Memorial do Convento

A mistura de personagens reais e fictícios é utilizada por Saramago para abordar temáticas
como o amor, as relações humanas, a religião e a exploração do povo miserável em prol das
vontades dos homens poderosos.

Além disso, o autor faz também uma reflexão acerca da perseguição da igreja em Portugal no
século XIX àqueles que não seguiam os dogmas do catolicismo, sendo estes (judeus, cristãos-
novos, muçulmanos) acusados de bruxaria.

O dilema entre a liberdade do amor é outro assunto ao qual Saramago se dedica – enquanto a
rainha era submissa ao rei, sem liberdade para amar, Blimunda, uma mulher despojada e sem
pudores, era livre para viver o seu romance com Baltasar.

Assim, podemos dizer que Memorial do Convento se trata de um romance que critica a
história, a sociedade e a hipocrisia religiosa, temática recorrente na obra de Saramago e que
por tantas vezes causou indisposição entre o célebre escritor e a Igreja Católica de Portugal.
Com uma estrutura cambiante, Memorial do Convento promove, por meio da presentificação
dos factos, uma revisão crítica da narrativa histórica, destituindo-a da sua condição de oficial e,
logo, passível a interpretações.

Linguagem e estilo

 Registo de língua popular;


 Pontuação expressiva: frases longas, separadas por vírgulas e pontualmente por pontos
finais, parágrafos igualmente longos, discurso direto antecedido por virgula e encetado
com letra maiúscula;
 Recursos expressivos: anáforas, comparações, enumerações, ironias e metáforas;
 Reprodução do discurso no discurso.

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