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Resumos exame de português

10º ano

Poesia trovadoresca --------------------------------------------------------------------------------------------


- Cantigas de amigo e amor desenvolvem o amor não correspondido de um sujeito feminino e de um sujeito
masculino, respetivamente. (amor e amigo)

- galego-português

- uso frequente: comparação, ironia e personificação de elementos da natureza

cantiga de amigo: sujeito poético feminino

- exprimem-se os sentimentos femininos de donzelas casadoiras que partilham alegrias/angustias com confidentes
(amigas/ irmã/ mãe/ natureza- adquire um grande protagonismo). O sentimento amoroso está retratado em
situações do quotidiano rural

- ambiente rural, descreve o cenário natural. Encontros amorosos afastados de olhares indiscretos, ligados ao
quotidiano da donzela que vive no campo

- o sujeito é uma donzela de origem popular que expressa os seus sentimentos amorosos: incita as amigas do baile
para seduzir o amigo; lamenta a ausência/ falta de notícias; espera ansiosamente a sua chegada (tarda); exprime o
seu desalento pela indiferença/ traição/ mentira do amigo

- o cenário rural tem um papel simbólico na construção do poema: uma alusão ao final do relacionamento amoro, à
presença do amigo na forma de cervo do monte, ao conflito interior da donzela

- vocabulário simples, frase simples/coordenada, repetição e refrão, paralelismo (perfeito, anafórico ou semântico)

- personificação, apóstrofe, aliteração, …

- cantiga de refrão e paralelística. Musicalidade do par de estrofes. Presença de rima, regularidade estrófica e métrica

cantiga de amor: sujeito poético masculino

- ambiente e linguagem da corte. Expressa um código amoroso artificial: o código do amor cortês baseado numa
relação de vassalagem. Influência autóctone.

- afastada das formas rurais. É estruturada como um pedido de amor do sujeito à dama/ lamento pela sua
indiferença. Modelo poético estereotipado de influência provençal, divida a sua intensidade expressiva: torna-se
artificial.

- sentimentos do homem por uma “dona”/”senhor” casada e hierarquicamente superior ao sujeito que a enaltece de
forma hiperbólica. O homem assume inferioridade à mulher amada, eleva as qualidades femininas ao seu expoente
máximo e hiperboliza o seu sentimento de amor- a sua coita de amor.

- o sujeito faz uma transposição amorosa para uma “senhor”, abstrata/ idealizada, dos sentimentos do vassalo pelo
senhor feudal: admiração, devoção, fidelidade, desejo da intimidade

- é cultivado o amor cortês: ideal amoroso com convenções e artificialismo, o homem serve a sua amada
- representam o estado emocional e a vivência psicológica do que ama. Assumem sentimentos contraditórios: o
sujeito ama/sofre; espera/desespera; morre de amor/enlouquece; espera sempre um sinal de afeto da sua dama. A
mulher assume uma forma abstrata, raramente descrita, idealizada e as suas virtudes morais são elogiadas.

- vocabulário menos repetitivo, frases complexas, ausência de refrão

- o sujeito mostra a complexidade dos seus sentimentos e argumentos/razões para o seu sofrimento

- antítese, metáfora, gradação, …

- cantiga de mestria. Organização em 3/4 estrofes de 7 versos. Regularidade estrófica e métrica.

cantigas satíricas: de escárnio e maldizer

- composições satíricas que expressam uma crítica a comportamentos/vícios da época medieval; falam de
acontecimentos históricos/militares, sociais/pessoais, polemicas entre trovadores/paródias das cantigas de
amigo/amor

- cantiga de escárnio: crítica encoberta/indireta || cantiga de maldizer: crítica direta

- recurso à ironia, humor e sarcasmo

- trocadilhos, adjetivação, ironia, …

- cantiga de mestria, refrão. Presença de rima. Regularidade estrófica e métrica.

Crónica de D. João I, Fernão Lopes --------------------------------------------------------------------------


- parte 1: espaço de tempo desde a morte de D. Fernando até à eleição de D. João I; parte 2: relato do reinado de D.
João I até à paz com Castela em 1411

- a glorificação de um povo que luta pelos seus ideais; Fernão Lopes legitima o direito de D. João I ao trono de
Portugal

- legitimação da (nova) Dinastia de Avis. A crise dinástica e a revolução popular e burguesa que então se deram foi o
resultado de uma série de acontecimentos durante o reinado de D. Fernando, marcado por confrontos com Castela
que empobreceram o reno e culminaram com a assinatura do Tratado de Salvaterra Matos: casamento de D. Beatriz,
filha de D. Fernando, e o Rei D. João I de Castela, pondo em causa a independência de Portugal. Acresce a grave crise
económica – reinado marcado por um clima de instabilidade e incerteza que se acentuaram com a morte de D.
Fernando que não deixou filho verão, pelo que a sucessão deveria caber à sua filha D. Beatriz casada com o Rei de
Castela.

- D. Beatriz: apoiada pela nobreza e pelo clero; o povo pretendia que o sucessor do trono fosse um dos filhos
bastardos de D. Pedro (irmãos de D. Fernando) -> Álvaro Pais (burguês) prepara uma conspiração e povo apoia o
Mestre de Avis.

- invasão castelhana -> longo e doloroso cerco de Lisboa e diversas batalhas, onde os portugueses saem vitoriosos
sob o comando de Nuno Álvares Pereira -> o Mestre de Avis é proclamado Rei, graças à habilidade jurídica do Dr.
João das regras que nas cortes de Coimbra encontrou argumentos para defender a sua aclamação, recebendo o
nome de D. João I, fundador da 2ª Dinastia.

Consciência coletiva
- legitimação da dinastia adveio da força do povo: força moral da revolução, representa todos os que queriam manter
a independência de Portugal e o amor à terra que cultivaram e dependem para viver -> afirmação da consciência
coletiva, o verdadeiro herói da obra é um herói coletivo, o povo.

- Fernão Lopes mostra o povo que se revolta com realismo, vivacidade, pormenor descritivo e emotividade

- a voz do povo, o sentir, é transmitida através de uma voz anonima da multidão ou pela própria cidade que revela a
consciência do todo, assumindo o estatuto de uma personagem coletiva. A afirmação da consciência coletiva é uma
inovação e uma prova de originalidade e da modernidade de Fernão Lopes.

- registo histórico dos acontecimentos com pormenor descritivo, valorização da verdade dos factos

Visualismo e dinamismo: visível no apelo às sensações e no uso de verbos de movimento – cinematografia; Fernão
Lopes preocupa-se com os elementos de fundo: movimento, com uma visão em conjunto: elementos económicos,
políticos e sociais e com as massas

Sentimento do povo português: consciência de pertença, consciência nacional, temor face à invasão estrangeira,
independência e liberdade do reino ameaçadas

Noção de comunidade: sentimento nacional, desejo de derrota dos castelhanos, sofrimento pelas privações do cerco,
mobilização à volta de um líder, preparação da resistência da nação

Conceção de ser português: povo ganha consciência coletiva, participa na vida política do reino e na salvação
nacional, “salva” o Mestre, é mobilizado por uma causa comum, escolhe o seu líder o futuro rei

Atores individuais e coletivos

atores individuais: rei de Castela

Mestre de Avis – receoso com o assassinato do conde Andeiro; acarinhado e apoiado pelo povo de Lisboa; líder
resoluto e solidário com a população, aquando no cerco à cidade, realista, cativante

Álvaro Pais – burguês que espalha pelas ruas de Lisboa questão a matar o Mestre, influenciando o povo a correr para
o ajudar

D. Leonor de Teles – gera ódios na população, apelidada de “aleivosa”: traidora, manipuladora, hipócrita e forte

D. Nuno Álvares Pereira – herói hagiográfico, santo, guerreiro

atores coletivos:

Povo – papel ativo e decisivo; função determinante no curso dos acontecimentos; protagonista da crónica: organiza-
se e sofre em conjunto; herói com vontade própria; símbolo da unidade nacional. Grande protagonismo do povo de
Lisboa: a sua mitificação literária, pois o povo anónimo adquire contornos de mito, dignificando-se pela ação. O povo
adquire protagonismo: autonomiza-se e transcende-se através das ações de defesa da Pátria

Rimas, Luís Vaz de Camões -------------------------------------------------------------------------------------

Representação da amada (marcada por 2 influências)

- Influência trovadoresca: relações da sociedade feudal alicerçada na hierarquia senhor/vassalo ou no quotidiano da


donzela no povo

- influência da Itália renascentista: influência do ideal da mulher renascentista/petrarquista – pele branca, cabelos,
louros, idealização das suas qualidades morais –> põe-na num plano inacessível – visão celestial da mulher
- no entanto, também há a presença da mulher com os contornos bem definidos – permite ao sujeito libertar-se das
convenções sociais e identificar-se com a harmonia da natureza

- os dois ideais femininos cruzam-se e conduzem o sujeito a sentimentos contraditórios que o levam à reflexão

Experiência amorosa e a reflexão sobre o amor

- sofrimento amoroso -> tortura || saudade-> insuportável e faz desejar a morte

- insatisfação pela infelicidade do amor ou pelos obstáculos da fortuna. Experiência amorosa = derrota da razão e
domínio do sentimento perante a sedução do amor

- Amor em Camões: forma de elevação espiritual, sentimento inexplicável e paradoxal, uma entidade superior

- conceito do amor: associado a figuras mitológicas e a locais ideias – uma ficção cuja concretização é impossível

- figura feminina: angelical e à semelhança do ideal petrarquista

- reflexão amorosa: complexa: o sujeito exprime o desejo da amada, mas canta ao mesmo tempo o amor do amor. O
“eu” deseja ascender a um estado de exaltação amorosa que lhe permita a elevação espiritual

Representação da natureza

- associada ao amor e à representação da amada. Natureza ligada à expressão sentimental do sujeito e marcada
pelos cenários idílicos. Natureza: diurna, natural e edénica -> “locus amoenus”. Tem diferentes papeis: cenário
propicio ao amor e à sublimação da amada; confidente do sujeito poético; objeto de contemplação, pretexto para
reflexão e contraponto ao estado de espírito do sujeito poético; cenário natural associado à passagem do tempo e ao
movimento cíclico das estações do ano

Reflexão sobre a vida pessoal

- é determinada por um destino implacável e marcada por experiências pessoas negativas. Percurso existencial do
sujeito: sofrimento, angústia e inquietação. Experiência infeliz do amor, recordação de um bem passado,
instabilidade e desnorte no presente -> revolta, desejo de vingança e tentação de morte do sujeito.

- a constante desilusão amorosa é acentuada pela crueldade do destino que tira ao “eu” possíveis esperanças.

- reflexão da vida pessoal: faz o sujeito cair num profundo desencanto que o leva à perplexidade, ao remorso e
profundo sofrimento

Desconcerto (duas vertentes)

- é de caracter social, moral e existencial, pois o sujeito dá-se conta que os verdeiros valores estão completamentos
invertidos e que o mundo anda às avessas

Desordem entre o homem e o mundo

- sinais da desordem: injustiças sociais, valorização da mediocridade, inevitabilidade da passagem do tempo, absurdo
da morte e ação do destino implacável

- sujeito é vítima do desconcerto: infeliz no amor, enfrenta dificuldades, vive na miséria, não é reconhecido no seu
trabalho e dedicação à Pátria

Mundo e a desarmonia no interior do próprio homem

- o sujeito vive vários conflitos interiores, sente-se responsável pelos seus erros, condenado pela fortuna e
perseguido pelo fado adverso
Mudança (desenvolvida em duas perspetivas)

- desencanto e frustração, determinante do tom crítico dos poemas

- na natureza, a mudança tem um pendor cíclico: as mudanças naturais são previsíveis e os períodos de decadência
são substituídos por períodos de renascimento

- no Homem, a mudança anula a esperança: domínio da instabilidade, fragilidade e imprevisibilidade. Nunca se muda
para melhor e o declínio e adversidade marcam o percurso do sujeito -> assume uma posição de desencanto e
frustração pela impossibilidade de inversão do percurso natural da vida.

Linguagem, estilo e estrutura 3 (lírica camoniana é oriunda de duas tradições diferentes)

Lírica tradicional – Península Ibérica: medida velha -> géneros e formas literárias já usadas na poesia do séc. 15.
Redondilhas: versos de redondilha menor (5 sílabas métricas) ou redondilha maior (7)

- vilancetes: poesia de mote* (2-3 versos) e glosas/voltas (estrofes)

- cantigas: poesia de mote (4-5 versos) e glosas/voltas

- trovas: não sujeita a mote, n.º variável de estrofes com o mesmo n.º de versos

- esparsas: uma estrofe


*(1 estrofe inicial mais curta e as restantes têm o desenvolvimento dela)

Lírica de influência italiana/ inspiração clássica (Petrarca) – medida nova -> inovadora

- soneto: versos decassilábicos

- canções

- elegias

Farsa de Inês Pereira, Gil Vicente---------------------------------------------------------------------------

A representação do quotidiano

- tem como tema/mote o provérbio: “Mais vale asno que me leve que cavalo que me derrube”

- Inês pertence ao povo, mas sonha com um marido galante e “discreto”-> rejeita casar com um camponês rico e casa
com um escudeiro pelintra que a mal trata -> Inês arrepende-se e casa com o camponês

- temática - questões sociais da época vicentina: dissolução de costumes, duplicidade: dissimulação e hipocrisia,
condição feminina, casamento, relações mãe/filha, ânsia de libertação da mulher, ruína da baixa nobreza, decadência
dos velhos costumes morais da sociedade medieval/feudal, oposição entre a cultura popular e cortês, êxodo dos
campos e desenvolvimento das cidades, atração pela riqueza fácil

- a ambição, o materialismo e o desrespeito pelas regras religiosas espelham a dissolução de costumes; a falta de
liberdade e de direitos da mulher, o casamento visto como negócio e o conflito de gerações são temas da peça.
Dimensão Satírica

- a peça procura corrigir comportamentos e divertir, “Ridendo castigat mores”: a rir se corrigem os costumes

- processos para satirizar a peça: ironia, caricatura, cómico, caracterização das personagens e personagens-tipo

Estrutura

Exposição: desejo de libertação de Inês, monólogo inicial de Inês e o diálogo com a mãe - características da jovem e
seus objetivos

Conflito: proposta de Pero Marques, casamento com o Escudeiro e casamento com Pero Marques

Desenlace: a concretização da aspiração de Inês e do provérbio da peça “Mais vale asno que me leve que cavalo que
me derrube”

Personagens

- Inês: jovem indolente, sonhadora, leviana, romântica, rebelde, fantasiosa, determinada, firme, desencantada,
vingativa, calculista, adúltera, livre. Despreza Pro Marques e casa com o escudeiro, o homem que idealizou –
desencanto no 1º casamento, casa com Pero.

- Lianor Vaz: alcoviteira astuciosas, leviana, experiente, persuasiva e determinada. Apresenta Pero Marques a Inês.

- Pêro Marques: lavrador abastado, grosseiro, trabalhador, honesto, boçal, ingénuo, ignorante de regras sociais

- Mãe: voz da experiência, boa conselheira, compreensiva, confidente, crítica, generosa. Não concordou com o
casamento do escudeiro.

- Escudeiro: Brás da Mata, fanfarrão, elegante, mentiroso, desleal, pelintra, galanteador, interesseiro, sovina,
autoritário, despótico, cruel, cobarde

- Moço: criado crítico, fiel, denunciante da condição miserável do amo

- Ermitão: amante de Inês, falso religioso, parasita, mentiroso, sedutor

- Latão e Vidal: Judeus casamenteiros, persuasivos, comerciantes, astutos, bajuladores, oportunistas, bem-sucedidos

Relações entre personagens

- conflito de gerações: Inês viver sob o jugo da mãe e sonha com a libertação através do casamento

- casamento: Inês vê uma oportunidade para realizar o seu sonho, ter um marido galante, ascender socialmente e
libertar-se das condições em que vive. O 1º casamento é uma ilusão: marido autoritário que a fecha em casa. 2º
casamento permite-lhe encontrar a liberdade.

Crítica vicentina

- a mentalidade das jovens raparigas

- os escudeiros fanfarrões, galantes e pelintras

- a selvajaria e ingenuidade de Pêro Marques

- as alcoviteiras e os judeus casamenteiros


- o casamento por conveniência

- os clérigos e ermitões no não cumprimento do juramento do celibato

O Auto da Feira ---------------------------------------------------------------------------------------------

Dimensão religiosa e representação alegórica

- critica religiosa e social por meio de alegorias: o mundo é alegoricamente representado sob forma de feira, o
mundo é um grande mercado onde tudo se negoceia, desde sentimentos a mercadorias; por meio de alegorias pinta
a decadência da sociedade quinhentista

- as personagens populares ficam perdidas nos ardis da vida, a ficção da compra e venda num local onde se juntam
compradores e vendedores permite acentuar o contraste entre as diferentes conceções da vida e criar uma sátira
ideológica e social

Representação do quotidiano

- dois momentos: visita de Roma e presença de populares: os populares que vão à feira demonstram um grande
desprezo pelas virtudes que Serafim vende. Os maridos e as mulheres queixam-se dos seus cônjuges -> insatisfação
de uma sociedade cada vez mais materialista e afastada dos valores éticos e morais

- início do desenvolvimento mercantil e mudança de valores sociais: a sociedade submete-se aos valores materiais. O
diálogo entre as personagens simboliza a crise do casamento e dos valores morais.

Personagens e relações

- Serafim: figura alegórica, enviado por Deus para ajudar o Tempo

- Tempo: fa, vai vender o que falta à sociedade: virtudes e conselhos

- Mercúrio: fa, simboliza o deus dos ladrões, do comércio, dos viajantes e mensageiro dos deuses

- Diabo: fa, simboliza o Mal. Vendedor de Roma que o recusa pelas consequências do que já lhe comprou

- Roma: fa, simboliza o Papado; compradora da feira que pretende mudar de vida: foi cliente do Diabo, mas está
arrependida e quer voltar a ser virtuosa e justa

- Amâncio Vaz: lavrador descontente com a sua vida conjugal; Deniz Lourenço: lavrador descontente com a sua vida
conjugal; Branca Annes: mulher “brava”, descontente com o marido; Marta Dias: mulher “mansa”, descontente com
o marido.

- Moças e mancebos: pastores alegres, simples, rústicos

- crítica à crença generalizada na astrologia e a reprovação da imoralidade dos membros da Igreja; reproduz-se a vida
popular e exalta-se a religiosidade popular; elogio do culto marino e defesa da vida pura

Estrutura

- estrutura tripartida: representação alegórica, representação do quotidiano, exaltação do modo de vida simples
11º ano

Sermão de Santo António aos Peixes, Padre António Vieira --------------------------------------

contextualização

- período conturbado em Portugal: desaparecimento de D. Sebastião, perda da independência nacional pela invasão
espanhola, tempos de crise na europa

Objetivos da eloquência – arte de bem falar

O sermão seiscentista tem uma componente lúdica, objetivo: levar os fiéis a reconhecerem os seus erros e alterarem
os seus comportamentos

- Docere, educar/ensinar: função pedagógica, através de citações bíblicas, Doutrina Cristã – objetivo: prática dos
ensinamentos de Cristo

- Delectare, agradar: função estética, construção do raciocínio, jogos de linguagem expressivos – objetivo:
deslumbrar os ouvintes

- Movere, influenciar: função critica e moralizadora, auditório, atitudes e comportamento – objetivo: persuadir os
ouvintes

- censura/denuncia do comportamento dos colonos portugueses no Maranhão e defesa dos direitos dos índios –
intenção persuasiva, procura convencer o publico a mudar de comportamento

O Sermão de Santo António

Exórdio: parte do conceito predicável vos estis terrae (vós sois o sal da terra), o pregador acusa a “terra” de
corrupção talvez por causa dos pregadores, mas principalmente pela culpa dos homens. Santo António vai pregar aos
peixes já que os homens não o ouvem.

Exposição/ Confirmação: demonstração e comprovação da tese inicial do orador, que recorre a argumentos
convincentes - de analogia: exemplo de Santo António; de autoridade: citações bíblicas; de experiência; históricos;
proverbiais: sentenças morais de sabedoria popular

Peroração: influenciar emocionalmente o auditório de forma a obter a sua adesão

Crítica social e alegoria

- sátira social onde Padre António Vieira julga comportamentos corruptos e condenáveis

- os homens tomam atitudes contra homens: colonos contra Índios; assumem comportamentos não próprios de
cristãos -> marginalização do pregador pela denuncia dos erros dos homens e pela defesa dos Índios e denuncia da
sua escravatura

- alegoria: os peixes são apenas o meio para o pregador criticar os homens – as virtudes dos peixes são metáfora
antitética dos vícios dos humanos e os defeitos dos peixes representam os dos seres humanos
- Santo António opta por pregar aos peixes que o escutaram, os homens não querem os seus pecados expostos; o
padre serve-se dos defeitos e virtudes dos peixes para denunciar os pecados dos homens

Estrutura

Exórdio: - Capítulo I: conceito predicável, tema do sermão, panegírico a Santo António, invocação a Maria; Santo
António foi o sal da terra e o sal do mar

Exposição/ Confirmação:

- Capítulo II: início da alegoria, apresentação da estrutura, louvores aos peixes de caracter geral - os primeiros
animais a serem criados e nomeados, são os animais em maior número e os maiores, ouviram Santo António, não se
deixaram domar nem domesticar

- capítulo III: louvores de alguns peixes - Tobias: cura a cegueira e expulsa os demónios; Rémora: evita a soberba, a
vingança, a cobiça e a sensualidade; Torpedo: faz tremer quem não respeita o que é dos outros, o arrependimento;
Quatro-olhos: ensina a importância dos bens espirituais em detrimento dos materiais, consciência da salvação e da
condenação

- capítulo IV: repreensões aos peixes em geral - comem-se uns aos outros, os grandes comem os pequenos,
evidenciam ignorância e cegueira

- capítulo V: particularização da critica – Roncador: orgulhoso e arrogante; Pregador: parasita e oportunista; Voador:
ambicioso; Polvo: traidor

Peroração: Capítulo VI: despedida, apelo final, incentivo à ação, remate; louvor final aos peixes, critica aos homens,
exortação aos peixes

Linguagem e estilo

- alegoria, anáfora, antítese, apóstrofe, citação, comparação, enumeração, gradação, hipérbole, interrogação retórica,
jogos semânticos, metáfora, narrativização, visualismo nas sequências descritivas

Frei Luís de Sousa, Almeida Garrett --------------------------------------------------------------------

Estrutura da obra

- estrutura tripartida: exposição, conflito e desenlace

- do primeiro ao segundo ato há o evoluir do conflito que acaba com o reconhecimento do Romeiro por Frei Jorge. A
resolução do conflito começa no Ato III e culmina com a catástrofe das cenas finais: morte de Maria e morte para o
mundo de D. Madalena e Manuel de Sousa Coutinho.

- ATO I: início do séc. 17, aristocracia, espaço íntimo e familiar; ATO II: lugar opressivo e inquietante, leva as
personagens ao passado; ATO III: espaço mais restrito, austero e desprovido de marcas mundanas

Patriotismo

- decorre durante o domínio filipino -> Manuel de Sousa Coutinho e Maria desejam a independência de Portugal e
não aceitam o governo espanhol; Manuel recusa-se a colaborar com os governadores -> incendeia a sua casa. O reino
perdeu a sua independência e acredita no regresso de D. Sebastião para a recuperar.
- família de Manuel muda-se para a casa de D. João -> regresso ao passado, a um Portugal velho que impede a
construção do Portugal novo. Esta família -> tragédia coletiva de um povo; o ressurgimento da pátria está ameaçado
pelo regresso de D. João de Portugal

Sebastianismo

História: Morte do rei D. Sebastião (desparece na batalha) -> perda da independência

Ficção: A história de uma família nobre portuguesa. Mito sebástico: crença popular do regresso do rei numa manhã
de nevoeiro para libertar Portugal do domínio filipino -> o rei é capaz de salvar a pátria; traço da personalidade
nacional.

Sebastianismo na obra: D. João de Portugal (símbolo do rei) é feito prisioneiro e regressa 21 anos depois da batalha
para libertar o país, D. Madalena, a sua mulher, já está novamente casada com Manuel com quem tem D. Maria; é
negativo pois o regresso de D. João não permite o Portugal Novo

Personagens

- D. Madalena: mulher romântica, amor-paixão; atormentada pelo passado e dominada por pressentimentos de
desgraça; possibilidade do regresso de D. João (alimentada por Telmo) não a deixa viver tranquilamente; a sua
instabilidade emocional é causada por amar D. Manuel ainda estando casada com D. João, cujo regresso seria fatal
para Maria, seria filha ilegítima

- Manuel de Sousa Coutinho: homem culto com amor à escrita; antigo cavaleiro da Ordem de Malta; desprendido de
bens materiais e patriota; regresso de D. João -> ingressa na vida religiosa

- Maria de Noronha: mulher-anojo, ser puro; jovem entusiasta e sonhadora, aventureira, corajosa; muito precoce
para a sua idade, perspicaz e intuitiva, compreende o mundo e o que está fora do comum; é tuberculosa, aumenta a
sua sensibilidade, a sua intuição fá-la suspeitar que a família lhe esconde algo -> não sobrevive ao saber que é
ilegítima

- Telmo: escudeiro fiel ao seu amo, D. João, acredita no seu regresso -> sebastianista; critica D. Madalena por se ter
casado sem saber da morte de D. João e confessa que sempre amou Maria; dividido entre o passado e o presente, o
seu amor por Maria é superior ao do seu amo, é capaz de mentir para a salvar

- D. João de Portugal: o Portugal passado; regressa como Romeiro com o desejo de se vingar de D. Madalena; ao
confirmar que D. Madalena se esforçou 7 anos para o encontrar arrepende-se e decide anular a sua existência para
evitar a catástrofe

- Frei Jorge: equilibrado, sensato e sereno, inflexível na obediência aos seus princípios religiosos, morais e cívicos;
irmão de Manuel

Dimensão trágica

- concentração de personagens -> intensifica a ação; um mistério que provoca um conflito; desfecho trágico: incendio
serve a fatalidade que se abate sobre toda a família porque obriga à mudança para o palácio de D. João a que
regressa

- Agnórise: reconhecimento do romeiro

- anankê: afunilamento do espaço que conduz as personagens à catástrofe

- catarse: experiência do terror e piedade na conversão religiosa de Madalena e Manuel

- catástrofe: morte física de Maria e morte psicológica dos outros

- clímax: chegada do romeiro que dá a conhecer a sua identidade


- desenlace: conversão de madalena e Manuel, morte de maria

- hybris: paixão de madalena por Manuel durante o 1º casamento, segundo casamento sem a confirmação da morte
de João, incendio no palácio

- pathos: sofrimento de todos que leva à redenção

- peripécia: incendio e aparecimento de João: casamento inválido e filha ilegítima

Valores do romantismo

- primazia dos sentimentos da razão; patriotismo e sebastianismo; liberdade individual; cosmovisão cristã;
importância do oculto; intenção pedagógica; amor, revolta e religião

Viagens da minha terra, Cesário Verde ------------------------------------------------------------------

Retrato de um país

- jornada a Santarém – retrata o país dividido por uma regra civil; há um vaivém entre o presente narrativo e a
nostalgia de uma época passada revivida

- presente: período de viagem a Santarém

- passado: época das lutas liberais e absolutistas, desde a revolução francesa até aos anos 40

Deambulação geográfica e sentimento nacional

- viagem do narrador de Lisboa a Santarém – lugares, personagens e incidentes do percurso são motivos para
digressões

- a viagem real serve como pano de fundo para viagens interiores: redescobre o espaço nacional, desejo estimulado
pelo nacionalismo cultural romântico; enaltece a beleza da paisagem natural e aspetos pitorescos; valoriza o
aristocrático e o popular, desprezando a burguesia; faz comentários de natureza história, cultural, literária, ideológica
e política

Representação da natureza

- espaço espontâneo, harmonioso, paradisíaco; ideal do ser humano puro e natural

- natureza retemperadora ≠ sociedade corrompe: normas e convenções afetam a liberdade humana; idealização dos
genuínos valores nacionais vs. os modelos convencionais

- natureza: espaço de comunhão, harmonioso, genuíno, perfeito e simples; exclui os vícios sociais e as paixões
humanas, preserva a inocência; espaço de reflexão -> paisagem idílica

Dimensão refletiva e crítica

- reinterpretação critica da tradição romântica dos relatos de viagem

- adulteração dos ideias de igualdade e justiça defendidos pelo liberalismo; denuncia da degradação do património
nacional; materialismo vs. idealismo e conflito frade/barão; critica política e aos estereótipos românticos; oposição
romantismo/ “romantismos”
Estrutura

- jogo entre ficção e real

- relato de viagem; reflexões; novela

Novela

- contextualização política, cenário edénico, mulher-anjo, herói romântico, ação trágica, desenlace

Personagens românticas

- narrador-personagem (viajante), narrador comentador, Carlos e Joaninha

- valores da liberdade, da justiça e da autenticidade; ânsia de absoluto que lança a personagem romântica em
tensões e conflitos insolúveis; atitudes de rebeldia perante as convenções, a ironia e a superioridade; evasão no
tempo e no espaço; afirmação e preservação dos valores que defende; irreverência; inconformismo

Linguagem e estilo

- início da prosa literária moderna: tom coloquial, estilo dialogante; pluralidade de narradores: diversificação de vozes
que o narrador principal controla; conversa distendida com o leitor; variações de ritmo; pontuação adequada às
divagações e às emoções; uso de expressões populares, empréstimos e neologismos; predileção pela ironia;
alternância de registos de língua

- níveis narrativos: relato de viagem, divagações e reflexões críticas, novela sentimental, autobiografia de Carlos,
cruzamento de estratos narrativos diferentes, narrador-viajante encontra personagem da novela

Amor de perdição, Camilo Castelo Branco ---------------------------------------------------------------

A obra como crónica da mudança social

- crítica à sociedade do século 19, crónica de mudança social; narrativa passional; está em causa o Antigo Regime e
o Liberalismo/Romantismo

- denúncia de uma sociedade repressiva: autoritarismo paterno, casamento de conveniência, inferioridade feminina,
eco da revolução francês, denúncia da incipiência do estado de direito, crítica a uma sociedade retrograda, denúncia
da corrupção na justiça, vida conventual dissoluta, afirmação dos direitos individuais, valorização social da mulher e
dos valores da liberdade e igualdade, denúncia do conservadorismo social

Caracterização das personagens

A ação da obra concentra-se num triangulo amoroso: Simão, Teresa e Mariana

- Simão Botelho: filho de Domingos Botelho e D. Rita Preciosa com os quais não tem uma relação pacifica; antes de
se apaixonar por Teresa tem um comportamento arruaceiro e violento, o amor por Teresa transforma-o, dedica-se
aos estudos e abandona a vida boémia; afirma-se como herói romântico; opõe-se às convenções sociais, aos valores
instituídos -> rapaz viril, turbulento e irascível, MAS inconformado, luta pela honra e dignidade
- Teresa de Albuquerque: ideal de mulher-anjo, é pura, frágil e sofre em nome do amor -> delicada e ingénua, MAS
forte e desobediente face ao poder paternal autoritário

- Mariana da Cruz: filha de João da Cruz, mulher-anjo; dedicada, meiga, amiga, enfermeira, companheira, MAS
amante infeliz, exemplo de dignidade compaixão e vontade

- Baltasar Coutinho: primo de Teresa, fidalgo fanfarrão e odiento, age em nome do ódio por Simão

- João da Cruz: protetor de Simão, salva-lhe a vida; tipicamente popular, ferrador, exemplo de dedicação e nobreza de
carácter

- Tadeu de Albuquerque: odeia o pai de Simão, o seu ódio e noção de honra superam o amor pela filha; pai
autoritário e obstinado no exercício do poder paternal

- Domingues Botelho: obstinado nos seus sentimentos, corrupto, preconceito de honra social

- Baltasar Coutinho e Tadeu de Albuquerque odeiam Simão; Domingos Botelho, Teresa de Albuquerque e Mariana da
Cruz amam Simão; João da Cruz entreajuda Simão

O amor-paixão

- evocação dos pares amorosos – Romeu e Julieta, etc. : idealização do sentimento amoroso e ideal de perfeição para
além da morte

- Simão – herói complexo e herói romântico: rebelde e marginal, violento antes de amar, amante fidelíssimo,
obstinado na defesa da sua honra e seus ideias, luta desigual contra o mundo, perde-se em nome da sua dignidade,
simboliza a tensão entre o destino e o livre-arbítrio, personifica os novos ideais de liberdade, justiça e cidadania

- Teresa e Simão: dispostos a abdicar da liberdade e da vida em nome do seu amor -> dimensão transcendente da sua
paixão, vêm o amor como sentimento ideal a ser vivido no Céu pois é impossível em vida

- Mariana: vive um amor-paixão -> dedica a sua vida a Simão, sabe que o amor não é correspondido, tem esperança
de ser amada no exílio, suicida-se quando Simão morre

Sonetos Completos, Antero de Quental ----------------------------------------------------------------

A angústia existencial

- profunda angústia existencial, inquietação interior causada pela dualidade entre a face luminosa vs. obscura do
“eu”

- permanente busca pela perfeição, desejo de alcançar o bem – dimensão imperfeita -> ideais condenados ao
insucesso

- felicidade aparente/ “nuvens tempestuosas”; insatisfação face ao amor e à vida; inquietação espiritual

Configurações do ideal

- poesia como projeção de um sonho impossível – conciliação: a vida e o Ideal

- apelo da transcendência: aspiração ao infinito e exotismo

- aspiração a um amor idealizado – sabe que é uma abstração, é inalcançável


O soneto e o discurso conceptual

- forma lírica por excelência: unidade perfeita

- conjugação de sentimento e inteligência – pensamento e emoção

- o Sentimento e a Ideia

Cânticos do Realismo, Cesário Verde ----------------------------------------------------------------------

A representação da cidade e dos tipos sociais

- poema: a pintura ou fotografia do real, instantâneo quase cinematográfico

- os tipos sociais: articulação entre coletivo e individual – as varinas, os calafates, os lojistas, os padeiros, …/ o povo, a
burguesia e os marginais

- cidade: espaço opressivo

Deambulação e imaginação: o observador acidental

- captação do real; o passeio casual; a vista do poeta penetrante e lúcida;

- perceção sensorial e imaginação

- trivial -> surpreendente

- ação da memória e dos sentidos: o primado das sensações

Perceção sensorial e transfiguração poética do real

- modo especial de ver e captar a realidade

- visão de poeta, penetrante e lúcida: a partir do real, mas não o substitui completamente

- transfiguração do observado sem perder a ligação ao real

- associação invulgar de ideias

- poder criativo do sol: associações emocionais de cores

O imaginário épico – “O Sentimento dum Ocidental”

- poema longo: 44 quadras divididas em 4 partes

- estrutura: observador em movimento, permeável ao sofrimento humano; defesa da arte poética eticamente justa;
estrutura narrativa do poema

- progressão da narrativa; relato de pequenos episódios

- concentração: descrição do espaço real ou evocado

-passado grandioso vs. presente de uma sociedade decadente e angustiante


- subversão da memória épica – poeta, a viagem e personagens: memória -> tentativa vã de evasão da asfixia da
cidade; sonho -> tentativa vã de um futuro diferente

- a degradação do universo citadino; a viagem pela cidade; os novos heróis; os marginais; o povo/ os trabalhadores

Linguagem, estilo e estrutura

- estrutura: perfeição formal (quadra e quintilha, verso alexandrino, e musicalidade na rima)

- recursos expressivos: comparação, enumeração, hipérbole, metáfora, sinestesia; uso expressivo: adjetivo e advérbio

- linguagem e estilo: discurso pouco ornamentado, associação invulgar de ideias, vocábulos e expressões de vivência
citadina, tom coloquial, forte apelo visual, técnica impressionista aplicada à literatura, anteposição do adjetivo,
apreciação subjetiva do real, predomínio da coordenação

Os Maias, Eça de Queirós

O título e o subtítulo

Os Maias: referência À família de Carlos da Maia, representa a decadência e crise de Portugal; apresentam-se 4
gerações, cada uma representação períodos diferentes do século 19; a ação principal é centrada na relação
incestuosa de Carlos Eduardo e Maria Eduarda, consequência dos atos do passado

- estrutura: Intriga Principal, Intriga secundária e Tragédia

Episódios da Vida Romântica: retrato de costumes, representação de um mundo social dominado pelo Romantismo;
os hábitos da sociedade portuguesa em particular das classes elevadas -> crónica de costumes

Representações do sentimento e da paixão

- pares amorosos: Carlos Eduardo e Maria Eduarda, Pedro da Maia e Maria Monforte, João d Ega e Raquel Cohen

- Carlos e Maria: amor verdadeiro, sublime, fruto de um encontro casual à porta do Hotel Central; paixão fortificada
pelo carácter e interesses comuns; amor destruído pela relação de irmãos -> Carlos comete incesto consciente antes
de contar a Maria o seu laço; amor dominado por forças exteriores, impressíveis e inexplicáveis -> dimensão trágica
do seu amor

- Pedro e Maria: Pedro transfere a paixão obsessiva que sente pela sua mãe, após a sua morte, para Maria; casam
contra a vontade de Afonso da Maia e têm 2 filhos; Maria foge com um napolitano, Tancredo, e leva a filha com ela;
Pedro regressa com o filho (Carlos) a casa do pai e suicida-se pelo adultério da mulher

- João e Raquel: encontros amorosos na Vila Balzac; relação adúltera que é descoberta pelo marido de Raquel,
banqueiro Cohen que humilha João, expulsa-o de sua casa -> refugia-se em Celorico em casa da mãe que vai para o
estrangeiro

Personagens

- Jacob Cohen: banqueiro da alta finança; Conde Gouvarinho: político medíocre, politicamente incompetente, sem
espírito crítico; Raquel Cohen e Condessa Gouvarinho: mulher fútil e adúltera
- Dâmaso Salcede: novo-rico provinciano, exibicionista e cobarde; Rufino: deputado; Steinbroken: diplomata,
ministro da Finlândia; Taveira: empregado público ocioso; Craft: britânico rico e diletante

- Tomás de Alencar: poeta ultrarromântico; Cruges: pianista talentoso, incompreendido; Eusebiozinho: mentalidade
romântica

- Sousa Neto: representante da Administração Pública, ignorante e presunçoso ; Guimarães: tio de Dâmaso,
democrata; Vilaça, pai e filho: procuradores da família Maia, leais

- Afonso da Maia – características trágica: carácter excecional, nobre social e moralmente; marcado pelo destino: o
filho e o neto

- Carlos da Maia – características trágicas: carácter excecional, qualidades físicas e intelectuais; marcado pelo destino:
vários presságios

- Maria Eduarda – características trágicas: carácter excecional, qualidades físicas e sociais; marcada pelo destino:
vários presságios

A representação dos espaços sociais e a crítica de costumes

- Santa Olávia: origens da família, a ligação ao campo e ao que é genuíno e puro; crítica: educação

- Jantar no Hotel Central, cap. VI: p primeiro impacto social de Carlos com a sociedade lisboeta; organizado por Ega
em honra do banqueiro Cohen, marido da sua amante – mentalidade retrógrada do grupo elitista e incapacidade do
grupo de pessoas com relevo nacional se comportar com civismo; crítica: literatura, economia, finanças e política

- Corridas de Cavalos, cap. X: imitação reles do estrangeiro; provincianismo e a aparência do cosmopolitismo


caracterizam a alta sociedade lisboeta; ambiente de tédio e monotonia, anima-se quando alguns dos presentes se
envolvem numa luta; crítica: provincianismo

- Jantar em Casa dos Gouvarinho, cap. XV: caricatura da classe dirigente do país: incompetência política, falta de
cultura, inteligência e de valores sociais; crítica: ensino, educação feminina

- Episódios dos Jornais, cap. XV: “Corneta do Diabo” e “A Tarde” denunciam os vícios do jornalismo; crítica:
jornalismo, corrupção e clientelismo

- Sarau Literário do Teatro da Trindade, cap. XVI: cultura das classes endinheiradas é escassa, superficial, falta o gosto
pela arte; interesse exagerado pelo Ultrarromantismo e desinteresse pela Música de Cruges - falta de gosto e
espírito crítico; crítica: oratória parlamentar, cultura musical, literatura

- Passeio final, crítica: degradação do país

A educação

Tradicional português

- Pedro: proteção excessiva, pedagogia escolástica do Padre Vasques, estímulo do espírito romântico; influência
feminina e religiosa; suicídio

- Eusebiozinho: proteção excessiva, folheava in-fólios, inatividade, decora sem compreender; conhecimento livresco
desatualizado; devassidão

Britânico – Carlos: pouca proteção, horários rigorosos, contacto com o ar livre, dieta rigorosa, prática regular do
desporto; desenvolvimento físico; falhanço pessoal e profissional
*modelo de educação - personagem: características; aspetos dominantes; consequências
Espaços – valor simbólico e emotivo

Espaços simbólicos

- jardim do Ramalhete e Portugal: a estátua, a cascatazinha, aspeto geral

- estátua de Camões: Portugal expansionista

- os “altos da cidade”, o “castelo” e os “palacetes decrépitos”: Portugal absolutista e ultrapassado, mas verdadeiro

- Chiado e Restaurantes: Portugal da regeneração, falta de originalidade e decadência

Espaços físicos

- Coimbra: formação de Carlos

- Lisboa: decadência de Portugal

- Sintra: encontros amorosos

- Santa Olávia: pureza e tranquilidade

Espaços sociais

- Hotel Central: falta de civismo

- Teatro da Trindade: falta de gosto e espírito crítico

- Hipódromo: provincianismo

- Consultório de Carlos: incapacidade de Carlos no exercício da medicina

- Avenida da Liberdade: tentativa falhada de um Portugal moderno e cosmopolita

Espaços psicológicos

- A toca: amor marginal; O Ramalhete: percurso de vida das personagens

Descrição do real e papel das sensações

- valorização da observação do real recriado de forma verosímil – sensações e emoções; as descrições das pessoas,
espaços e comportamentos advêm da perceção sensorial do narrador – importância da sinestesia: espaços sociais e
urbanos, ambientes naturais

Representações do sentimento e da paixão

- Amor: Pedro (paixão obsessiva) e Maria Monforte; Carlos e Maria Eduarda (paixão/sintonia de personalidades)

- Adultério: Maria Monforte e Tancredo; Ega e Raquel Cohen; Carlos e Condessa Gouvarinho

Intriga Trágica

- peripécia: relação de Carlos e Maria Eduarda

- reconhecimento: revelação de Guimarães e Ega

- clímax: Carlos pratica o incesto conscientemente

- catástrofe: morte física de Afonso e psicológica de Carlos e Maria Eduarda


12º ano

Fernando Pessoa Ortónimo --------------------------------------------------------------------------------

Fernando Pessoa e a questão da heteronímia

- o “drama em gente” é explicado por Fernando Pessoa na Carta a Adolfo Casais Monteiro

- heterónimos: formas de fingimento artístico; não são poetas autónomos -> são criações fictícias, existem por causa
do fingimento estético, do cruzamento de espelhos em diálogo

- heteronímia -> espaço ficcional

Poesia ortónima

- texto de reflexão que permite fixar as recordações das emoções experimentadas – possibilita experienciar a
dispersão de refletir sobre a multiplicidade do “eu”

- dicotomia sentir/pensar: forma de o sujeito expressar a impossibilidade da conciliação de opostos que levam à
frustração, angústia e abulia do “eu” que traduz o drama da personalidade do ortónimo

O fingimento artístico

- arte poética: processo de criação artística, a nível da perspetiva do sujeito poético e da receção do texto pelo leitor

- a sinceridade artística constrói-se no fingimento: transfiguração da emoção pela razão

- expõe a fragmentação do “eu” e a tensão entre o sentir e o pensar: no processo de criação artística, o sujeito
intelectualiza a dor sentida; os leitores não têm acesso nem à dor sentida nem à dor fingida, apenas à dor lida

- resulta da consciencialização da impossibilidade de o sujeito fazer coincidir o que sente com o que pensa que sente

- o pensar domina o sentir – a poesia é um ato intelectual

A dor de pensar

- reflete a consciência da dicotomia sentir/pensar

- resulta da lucidez do “eu” e da sua obsessão pela análise

- decorre da tendência excessiva para a abstração e intelectualização


- torna o sujeito incapaz de atingir a felicidade, para a atingir deseja ser inconsciente

- conduz o sujeito ao desejo de atingir a inocência inicial de uma vida instintiva

- faz o sujeito debater entre a consciência e a inconsciência, deseja conciliá-las

- pensamento -> forma de elevação do homem

Sonho e realidade

- são difíceis de distinguir

- sonho: dimensão idealizada onde o “eu” crê atingir a plenitude/equilíbrio desejado

- a sensação do sonho torna-se mais profunda do que a realidade

- perante a oposição entre o sonho e a realidade o “eu” fica perplexo e angustiado

- o sonho é ilusão, não evita o tédio, a náusea, o vazio nem a nostalgia da infância perdida

Nostalgia da infância

- infância: tempo idílico, símbolo da inocência e da incapacidade de racionalizar, espaço de evasão

- “paraíso perdido” -> representa a felicidade, a inconsciência e a ausência de intelectualização

- a infância contrapõe-se ao real violento e agressivo que só o sonho consegue atenuar

- angústia existencial-> idealização da infância-> símbolo da inconsciência e do sonho-> evocação da infância->


tentativa de evasão infrutífera-> angústia existencial outra vez

Poesia dos heterónimos, Fernando Pessoa-------------------------------------------------------------

Alberto Caeiro

- “Mestre” de Pessoa e dos outros heterónimos: não procura um sentido para a vida, contenta-se com aquilo que vê
e sente a cada momento

- apologista da simplicidade total preconizador do objetivismo absoluto

- recusa do pensamento metafísico

- defensor de que o pensamento deturpa a compreensão da realidade

- criador do Sensacionismo: multiplicidade das sensações, realismo sensorial, privilégio da visão, reconhecimento da
existência das coisas

- identificação com a natureza – constante renovação, vive em plena comunhão com ela

- poeta deambulante, lírico e ingénuo, pastor por metáfora, espontaneidade da escrita, existência no presente

- fingimento artístico: não há lugar para a intelectualização das emoções

- campo lexical da natureza; ausência de rima; irregularidade estrófica, métrica e rítmica


Ricardo Reis

- influência dos poetas clássicos

- supremacia do Fado em relação aos Deuses

- serenidade na aceitação da efemeridade das coisas, busca do autodomínio, pensamento equilibrado, emoções
controladas pela razão

- defesa do epicurismo: prazer do momento, carpe diem horaciano (“aproveitar o momento presente”)

- elogio ao estoicismo: aceitação da fugacidade e efemeridade da vida e das leis do Destino, disciplina da razão,
esforço lúcido, busca da ataraxia – tranquilidade sem qualquer perturbação

- elogio da vida campestre – procura de felicidade num ideal de vida simples, aurea mediocritas

- estilo e forma complexos, preferência pela ode; regularidade estrófica, métrica e rítmica; ausência de rima

Álvaro de campos

- poeta decadentista: inadaptação, tédio, apatia, ânsia de novas sensações

- poeta futurista-sensacionista: a sensação é tudo, afastamento do objetivismo de Caeiro, perceção das sensações
centradas no sujeito, excesso violento de sensações, apologia de sentir tudo de todas as maneiras, emoção
espontânea e torrencial, atitude transgressora da moral, elogio da civilização industrial, celebração do triunfo da
máquina, gosto pela velocidade, beleza da máquina por oposição à beleza tradicional

- poeta intimista: angústia existencial, expressão do tédio e do cansaço, necessidade de novas sensações, fuga para a
recordação ou para o sonho, nostalgia da infância, pessimismo face à incapacidade de realização

- estilo intenso e repetitivo; irregularidade estrófica, métrica e rítmica; ausência de rima

Imaginário épico

- a exaltação do Moderno e o arrebatamento do canto: elogia a força e a velocidade das máquinas, o ritmo frenético
dos grandes centros urbanos -> Modernismo – desejo de identificação total com as máquinas

- Futurismo – defesa da estética não aristotélica baseada na ideia de força

Mensagem, Fernando Pessoa ----------------------------------------------------------------------------


- põe lado a lado o herói histórico e o herói mítico, o sonho de um novo Império espiritual

O Sebastianismo

- D. Sebastião é simbolicamente Portugal - Portugal foi grande no passado, perdeu a sua grandeza com D. Sebastião,
voltará a ser grande com o regresso simbólico do rei

. D. Sebastião regressará numa manhã de nevoeiro – renascimento anunciado por restos de Noite, no seu cavalo
branco, virá de uma ilha longínqua – onde esperou a hora do regresso

- Deus voltará a escolher um homem que reencarne o espírito de D. Sebastião e lidere Portugal na construção de um
novo império, desta vez espiritual -> O Quinto Império

- ideia de que movidos pelo sonho, loucura, que D. Sebastião encarna, devemos perseguir o impossível e,
contemplando o “horizonte”, deveremos entrever o invisível e lutar por alcança-lo
Natureza épico-lírica da obra

- dimensão épica: relato das ações históricas que retomam heróis e acontecimentos da História de Portugal, na
glorificação e mitificação do herói, na exaltação de ações heroicas sob a proteção divina, na narratividade e utilização
da terceira pessoa

- dimensão lírica: tom reflexivo e introspetivo da obra, tom emotivo e linguagem expressiva – o poeta dá conta dos
seus sentimentos e reflexões sobre Portugal; os símbolos e mitos assumem um carácter subjetivo e fragmentário

Estrutura da obra

- 44 poemas, estruturada em três partes: Brasão, Mar Português e O Encoberto; número 3: perfeição, totalidade e
evolução mística que culminará no Quinto Império

- Brasão – nascimento da Nação e da epopeia marítima, os heróis fundadores da Nação: materialização do esboço da
ideia de império que nasce com D. Dinis, a nação vai cumprindo o seu destino divino e consolidando os ideais
nacionais; Pessoa apresenta um brasão novo reconstruído a partir do brasão do Infante D. Henrique -> cristaliza o
lugar da memória coletiva – Nascimento: Pai

- Mar Português – domínio do mar, protagonistas e acontecimentos marcantes da epopeia marítima: 12 poemas,
canta o português que desvendou mundos, “cumpriu o mar” e criou um império material – Vida: Filho

- O Encoberto – decadência e anúncio da ressurreição, profetas do Quinto Império e os Avisos dos novos Tempos:
anuncia a instauração do Quinto Império; imagem do império moribundo, com a fé de que a morte conduza ao
nascimento de um império espiritual, moral e civilizacional – Morte e ressurreição: Espírito

Dimensão simbólica do herói

- figuras históricas: dimensão exemplar no plano espiritual/dimensão mítica, marcada pela inspiração divina; são
solitárias , de exceção, incompreendidas, visionárias – perseguiram os seus sonhos, deixaram-se levar pela sua
“loucura” e cumpriram a sua missão enquanto portugueses

- D. Sebastião é o representante paradigmático deste herói: elevou-se à condição de mito

Exaltação patriótica

- obra sobre Portugal - identidade nacional, história e destino da nação

- temáticas: o nacionalismo, o passado de inspiração, o pressente de frustração, o futuro de concretização e o sentido


providencial e messiânico de Portugal como povo eleito para liderar o Quinto Império

- obra de exaltação nacional voltada para o futuro, exortando o povo a reerguer a nação e fundar o Quinto Império

Contos -------------------------------------------------------------------------------------------------------------

“Sempre é uma companhia”, Manuel da Fonseca


Título: anúncio de um novo meio de comunicação; alteração da vida de uma população degradada, no contexto da II
Guerra Mundial

Intriga: simples, contada de forma linear; peripécia banal-> um engando de percurso leva um vendedor a Alcaria;
isolamento geográfico da aldeia e ausência de comunicação-> abandono, solidão e desumanização da população;
chegada do novo aparelho, a radiotelefonia; ligação ao mundo-> música e notícias; alteração dos comportamentos->
devoção da humanidade

Espaço

- Aldeia de Alcaria; estabelecimento do casal Barrasquinho- lugar onde reina o desleixo; “fundos da casa”- espaço de
habitação separado da venda; locais longínquos por onde viajava Rata- Ourique, Castro Marim, Beja; o espaço
exterior conflui para apresentar os sentimentos negativos do protagonista

- aldeia: espaço físico claustrofóbico que determina as vidas rotineiras, vazias, das personagens

- pensamentos e angústias: espaço psicológico – vazio interior e frustração

- o espaço social permite a critica às opções de governo central do Portugal da década de 40 do séc. 20, Estado Novo

Tempo: anos 40 do séc. 20, passagem do tempo condensada, tempo sintetizado- chegada do vendedor e partida dele
no prazo de entrega do aparelho- um mês

Personagens

- António Barrasquinho, o Batola: preguiçosos, improdutivo, sonolento, bêbado, bate na mulher; indumentária
própria do homem do Alentejo; a morte de Rata agudiza a sua solidão

- Mulher do Batola: expedita, dominadora e trabalhadora

- Rata: companheiro de Batola, mendigo e viajante, mensageiro do exterior; suicidou-se quando deixou de poder
viajar

- Caixeiro-viajante: vendedor de aparelhos radiofónicos, comerciante e amigo de vender

- Homens de Alacaria: trabalhadores agrícolas com vida dura

- os homens perdem características humanas e o mundo inanimado adquire-as

Narrador: terceira pessoa, narra os acontecimentos, conhece o passado e o mundo interior das personagens, centra
a atenção no abandono e solidão sentidos pelo protagonista, conhece os sentimentos dele e desvenda como se vão
formando – o desgosto leva-o a fechar-se num mundo de evocações

Atualidade: isolamento e falta de convivialidade; relações entre homem e mulher; vícios sociais: alcoolismo, violência
doméstica

- o conto permite uma reflexão sobre a condição humana que excede os limites corporais da ação

George, Maria Judite Carvalho

Intriga

- focalizada cinematograficamente, valoriza os pormenores

- regresso de uma artista de renome à vila anterior onde nasceu, depois de 23 anos de ausência

- diálogo de mulheres que se cruzam: confronto com a juventude - Gi e George, confronto com a velhice - George de
Georgina

- partida de George no comboio que a levará para longe da vila onde nasceu

Espaço
- vila parada do interior: ponto de confluência de lugares e de tempos

- locais de passagem: várias casas alugadas, Amesterdão, Estados Unidos

Personagem

- Gi, 18 anos – passado, juventude, tentativa vã de fugir a si mesma: recusa da vida imposta pela sociedade; ânsia de
liberdade, descoberta e conhecimento

- George, 45 anos – presente, vida adulta, vida vazia/solidão: desamparo, desvalorização das relações afetivas;
desapego dos objetos ligados a recordações

- Georgina, cerca de 70 anos – futuro, velhice, ausência de esperança: consciência da passagem do tempo,
efemeridade da vida e do poder, importância dos afetos

George

- pintora consagrada de 45 anos: personalidade bem-sucedida num universo dominado pelo masculino; estilo de vida
normalmente interdito às mulheres – bem-estar económico, ligações efémeras e ocasionais com o sexo oposto

- protótipo da mulher independente profissionalmente realizada, crença no poder imortalizador da arte,


egocentrismo, consciência plena do envelhecimento e da solidão que é combatida pela presença do dinheiro
acumulado

- evocação de uma elite intelectual e artísticas: independência económica fruto do seu próprio esforço; escândalo
das ligações sentimentais à margem das convenções: hábito de fumar em público, uso frequente de indumentária
masculina, cores de cabelo extravagantes

Narrador

- terceira pessoa, focaliza os acontecimentos, conhece o passado e o mundo interior das personagens; mistura a sua
voz com os pensamentos da personagem principal e com as suas falhas de memória; visão crítica e desprovida de
autopiedade que a protagonista tem de si própria

Atualidade

- condição feminina: situação profissional, independência económica, o amor

- reflexão sobre a morte e tempo

- mundividência invulgar e a sensibilidade artísticas: reflexão sobre a complexidade da natureza humana e sobre a
constante redefinição da mesma

- fusão da arte narrativa com diversas formas de arte

Temas: nostalgia de si mesma, pluralidade, passagem do tempo, morte, solidão

Símbolos: vila- passado e retorno à família; fotografia- ligação ao passado, fixação da juventude perdida, imagem
ideal da juventude intocada e dos sonhos por cumprir; comboio- marcha rápida para a velhice; quadros de George,
autorretratos- projeto artístico de uma vida, garantia da imortalidade

Famílias Desavindas, Mário de Carvalho

Intriga: peripécia banal: um invento insólito e “provisório” nas ruas labirínticas do Porto; retrospetiva do cargo
“hereditário” de “semaforeiro” até à atualidade; acontecimento imprevisto: acidente de Paco; conclusão inusitada

Espaço: alusões à cidade do Porto

Tempo: desde o século 19, período entre a I e II guerras mundiais até à atualidade; a passagem do tempo é
condensada
Personagens

- Gerald Letelessier: engenheiro francês fracassado no seu país e em Lisboa, tem sucesso no Porto com uma invenção
inútil

- Autarca do Porto: símbolo de todos os autarcas da província, deslumbrado por um projeto estrangeiro; mais
entusiasmado com as garrafas de vinho do que com o invento

- Transeuntes e motoristas do Porto: representantes do gosto pelo facilitismo, “brandos costumes” e tráfico de
influências

- Ramon: primeiro “semaforeiro”, não sabia pedalar, Galego, geração da I Guerra Mundial -> é inimigo de Dr. João
Pedro Bekett: pai, médico singular com elevado espírito de missão

- Ximenez: filho de Ramon, segundo semaforeiro, geração da II guerra -> inimigo de Dr. João: médico muito modesto,
raramente acerta no diagnóstico, herdou odio pelo semaforeiro do pai

- Asdrúbal: filho de Ximenez, terceiro semaforeiro, geração de 1974 -> inimigo de Dr. Paulo: médico, filho do Dr. João,
adormecia os doentes com explicações, quase chegou a vias de facto com o semaforeiro

- Paco: bisneto de Ramon, pertence à geração do século 21, sofre um acidente -> inimigo de Dr. Paulo: assume o
posto de Paco para se redimir

Narrador: terceira pessoa, narra os acontecimentos, comenta, conhece o passado e o mundo interior das
personagens; retoma o passado para criticar o presente; parodia ironicamente atitudes e comportamentos banais da
sociedade portuguesa que se arrastam no tempo

Dimensão paródica, atualidade da ironia: provincianismo português, invenções inúteis, atribuição duvidosa de cargos
públicos, deslumbramento nacional pelo estrangeiro, relações ibéricas e humanas, estereótipos sociais

Poetas Contemporâneos -----------------------------------------------------------------------------------

Miguel Torga

- telurismo (amor à terra natal), condição humana, papel do homem/poeta

- aborda as contradições que decorrem da luta perante com o mundo, com as palavras de Deus

- linguagem sóbria, associada à terra, em oposição à linguagem marítima, insere símbolos bíblicos e imagens cristãs e
pagãs

- poemas: contra o Estado novo são expressão de uma profunda revolta contra a ditadura; mias recentes salientam o
desalento do sujeito face a uma Pátria estagnada

- temáticas contemporâneas: dor humana, relação homem/Deus, luta pela liberdade, afirmação da dignidade
humana, comunhão com a natureza

Jorge de Sena

- poesia complexa, está entre o exercício espiritual, da linguagem e a interrogação metafísica; poemas marcados pela
reflexão sobre a alma e a condição humana e pelo diálogo entre o mundo objetivo e subjetivo, num trabalho de
decifração do mundo

- poemas: Portugal como país opressivo e sem liberdade; reflexão sobre o seu exilio político; temas intemporais como
o amor, o conhecimento e a vida; temas de Camões como o desconcerto do mundo, corrupção e degradação social
- caracterização da sociedade: materialista, omnipresença do dinheiro, desvalorização do ser humano

- Camões: modelo escolhido pelas afinidades humanas e pela comunhão da dor existencial

Eugénio de Andrade

- exaltação do sensualismo e afirmação da corporalidade; vertente lírica virada para o amor e para a natureza; atento
às grandes causas dos anos 40; poemas associados a um compromisso com o seu tempo, numa vertente mais ética
do que política

- temas: opinião em relação ao país e ao mundo, crítica o que considera errado nele; vertente ecológica da Natureza;
amor e Natureza

Alexandre O’Neil

- manifestações do cómico e do humor; inconformidade entre o real e o sonho; poesia de provocação, escárnio ou de
amor

- realidade satirizada: miséria moral e material, podridão social e conformismo

- temas: Portugal é apresentado de forma desencantada e irónica, país estagnado, lugar hostil onde a felicidade e o
amor não se concretizam; a vida portuguesa no tempo da Ditadura salazarista

- crítica a realidade social e política: vida medíocre do povo, mentalidade estagnada e religiosa, apatia, conformismo
generalizado, isolamento de Portugal face à Europa

António Ramos Rosa

- retrata o contemporâneo opressivo e evasão através da procura de uma outra realidade; descoberta de si mesmo e
do mundo através da linguagem; oposições são recorrentes; eco do quotidiano e da vida opressiva; denuncia da
alienação

- obsessões: recuperação das origens, invenção do novo, descoberta da própria identidade

Herberto Helder

- toque do imaginário, a impressibilidade e a exatidão; quotidiano e solicitações do universo envolvente

- aborda o real em tom paródico e recria grandes espaços metafóricos

Guy Belo

- temática religiosa e metafísica sob a forma de interrogações à cerca da existência; reflexões irónicas sobre o real
quotidiano

- retrato do sofrimento real e a vida anónima dos homens comuns -> interesse pela realidade social e política
portuguesa no fim da ditadura e início da democracia: sociedade conservadora e antiquada, profundamente
hierarquizada em que o regime político condiciona os cidadãos

- crítica: Igreja Católica que colabora com o regime, denúncia a sua hipocrisia ao ignorar os problemas dos mais
desfavorecidos
Manuel Alegre

- poeta cidadão, tradição dos cancioneiros, adota Camões como modelo da sociedade, permanente revolucionário,
destaque da História de Portugal, cruzamento de referências com a experiência pessoal e da guerra colonial

- temas: guerra e exilio, imagem de Portugal e a ausência de liberdade, revisitação da contemporaneidade:


experiência prisional de um país sem liberdade/horrores da guerra colonial

Luiza Neto Jorge

- intemporalidade da realidade e do mundo, diálogo com a inovação surrealista e a tradição literária; contenção
emotiva e despojamento -> rutura com o senso comum

- leitura da realidade e do mundo; transformação dos significados socialmente cristalizados em novos sentimentos;
encenação dramática do real: questiona as relações socioculturais, familiares, afetivas, políticas

Vasco Graça Moura

- temas: fugacidade da vida, passagem do tempo, finitude da existência e o espetro da morte; vida e real atual,
instante do quotidiano

- forte pendor narrativo num registo coloquial próximo do quotidiano, conjugado com uma reflexão mediativa e
humanista herdada de Camões

Nuno Júdice

- diálogos com a tradição literária, valorização do sonho e imaginação; reflexão metapoética: reflexão sobre o próprio
poema ou a criação poética, o fazer poético e o ato criador

- forte ligação ao factual; recorre a paisagens marítimas e portuárias; referências a diferentes formas da natureza

- temas: vida, tempo e poesia

Ana Luísa Amaral

- temas: o amor e o quotidiano, perspetiva de responsabilidade cívica, profunda crença no ser humano

- poesia -> forma de sublimação do quotidiano

O Ano da Morte de Ricardo Reis, José Saramago ----------------------------------------------------

Resumo da obra

- acontecimentos desenrolados ao longos dos meses que Ricardo Reis passou em Lisboa até morrer, regressando ao
Brasil logo após a morte de Fernando Pessoa, no meio disso é dado um realça à atmosfera político-social de Portugal,
ao ambiente lisboeta, aos acontecimentos históricos mais importantes e a uma intriga romanesca que está em torno
da relação de Ricardo com Lídia, criada do Hotel Bragança, e com Marcenda, menina de Coimbra que também
frequenta o hotel

Representações so século XX: espaço da cidade, tempo histórico e acontecimentos políticos


- em 1936, contexto de amizade e de especulação entre Ricardo Reis e Fernando Pessoa, com ficção e profecias para
o futuro de Portugal

- 1936: ano decisivo para desencadear dos acontecimentos fatais da II Guerra Mundial; Ricardo Reis sente-se perdido
na Lisboa revisitada, debatendo-se durante nove meses neste labirinto que é um país de marinheiros naufragados
em pessimismo e corrupção

- Ricardo Reis encontra marcos culturais e memórias do passado que constituem as suas âncoras culturais, na
deambulação pela cidade que não reconhece

- reflexão sobre um momento do passado histórico português e uma perspetiva crítica/reflexiva sobre a História,
questionando a versão oficial e tendo em conta os movimentos de revolta que conduzirão ao 25 de abril

Espanha: Golpe de Estado liderado pelo General Franco, para instalar a ditadura em Espanha e que se prolongará por
3 anos de guerra civil

França: crises políticas de tendência democrática ou totalitária -> vitória da Frente Popular -> governo de Léon Blum

Itália: governo de Mussolini, para alargar os seu domínio territorial invade a Etiópia, sob indiferença da sociedade das
nações, da qual o país africano fazia parte -> é criado o Eixo Roma-Berlim

Alemanha: pardito nazi de Hitler leva avante uma política nacionalista e racista; anexo das regiões de possível
ascendência germânica, como a Áustria e ocupa a Renânia

Portugal:

-primeiros anos do Estado Novo que iniciou a política de desenvolvimento do país que trouxe equilíbrio financeiro e
obras públicas ≠ impôs restrições à liberdade, criação da Mocidade Portuguesa, da Censura e da PVDE/PIDE e da
Propaganda do Estado Novo -> conivência da Igreja, assente na visão de Salazar como o salvador da moralidade cristã

- sucesso de Salazar desde 1928 enquanto Ministro das Finanças permitiu ter grande prestígio entre os portugueses –
abre caminho para uma campanha de propaganda na qual era considerado o protetor do povo, o pai, o “salvador da
pátria”, um modelos a seguir em Portugal e na Europa

- o povo vivia na miséria e o país estava mergulhado num estado de estagnação, muitas pessoas emigravam

Deambulação geográfica e viagem literária

- adoção da atitude de observador acidental de Cesário Verde e visão crítica do episódio final de Os Maias; as veredas
da cidade e da criação poética são esclarecidas pelos versos Camonianos

- a viagem literária cruza-se com a viagem geográfica

Representações do amor

- triângulo amoroso: Ricardo Reis, Lídia e Marcenda – as duas mulheres apresentam relações amorosas antagónicas e
ambas terminam, pois Ricardo Reis prescinde das duas e fica sozinho

Personagens

- Marcenda – conhece no Hotel Bragança: exerce sobre ele fascínio: o nome latino torna-a mais próxima das musas
da poesia de Ricardo Reis, “aquela que deve murchar”, é prisioneira do labirinto familiar e afetivo; tem uma mão
paralisada – representa o vazio afetivo da sua vida e a prisão a que os compromissos familiares a condenam ->
motivo pelo qual Ricardo Reis termina -> figura labirinta e inatingível

- Lídia: assume a vida de compromisso político, mulher a dias, camareira de hotel, morena, mulher humilde, lúcida,
inteligente e Ricardo pensa nunca ter uma relação séria com ela; simboliza a esperança numa nova revolução que
não aborte antes de nascer, representa a imagem da terra portuguesa: “aqui, onde o mar se acabou e a terra se
espera” -> musa de Ricardo, plano do ideal, tem um filho com Ricardo Reis que ele não assumirá

- Ricardo Reis: personagem múltipla – inexistente heterónimo, poeta-doutor, poeta que é hospede do hotel, poeta
que não se reconhece na sua criação, opõe-se ao autor dos seus versos

- Fernando Pessoa: “o fantasma” – o poeta que já não existe, o interlocutor de Ricardo Reis

- Daniel: irmão revolucionário de Lídia, morre na luta contra o totalitarismo

- Salvador: gerente do Hotel Bragança

- Carlota: funcionária do consultório

Intertextualidade: José Saramago, leitor de Luís de Camões, Cesário Verde e Fernando Pessoa

- muitos textos afloram neste romance em forma de citação: versos e prosas de variados autores, numa leitora fiel,
por vezes, mas quase sempre muito pessoal e subversiva

- o narrador privilegia a paródia ou a paráfrase irónica nas leituras dos outros autores

- o texto camoniano é retomado com frequência e colocado ora na voz do narrador, ora na voz de Ricardo Reis, ora
na de Fernando Pessoa

- de Eça de Queirós, fica a ideia de que os caminhos da ficção portuguesa se cruzam com os seus escritores

- o texto bíblico é recuperado e subvertido, salientando discrepâncias entre os vários Evangelhos e apresentando
uma nova versão

- Saramago retoma Saramago quando Ricardo Reis evoca a Passarola do Padre Bartolomeu de Gusmão, refere
Blimunda, ou os boieiros de Mafra

- o diálogo intertextual com a obra de Pessoa é recorrente: citam-se e reescrevem versos de vários poetas; o romance
assume-se como uma biografia complementar de Ricardo reis, iniciada por Pessoa e concluída por Saramago; o
trabalho poético de criação de Reis continua, após a morte de Pessoa

Linguagem, estrutura e estilo

- subversão das regras tradicionais

- forma intempestiva

- reinvenção da escrita – combinação do discurso literário com o oral

- ausência de pontuação convencional - maior relevância da vírgula, confere ao texto fluidez rítmica aproximando-o
do discurso oral ou do ritmo do pensamento

- frases muito longas e labirínticas – aproximação ao discurso oral ou como tradução do monólogo interior e da
celebridade do pensamento

- uso subversivo da maiúscula no interior de frase

- utilização predominante do presente – marca do fluir constante do narrador entre o passado e o presente

- comentários e reflexões através da intertextualidade

- tom simultaneamente cómico, trágico e épico

Simbologia
- Adamastor: confluência de todos os destinos do povo português – o obstáculo do passado e a aurora do futuro,
anunciando uma nova sociedade

- estátua de camões: elemento norteador das personagens do labirinto da cidade

- visão da pátria e do mundo de camões - conceção de “ser português”

- limites da poesia portuguesa: poesia de camões e pessoa

- 8: equilíbrio cósmico, associado à estátua do adamastor; 8 anos depois da partida de Ricardo para o Brasil é erigido
o monumento e após 8 anos de a estátua estar no Alto de Santa Catarina é que Reis regressa à pátria

- 9 meses: período que ricardo está em Lisboa e tempo de gestação de um novo caminho para Portugal

- Hotel Bragança: referencia literária que evoca a obra de Eça

- estátua de Eça de Queirós: sua influência incontornável na ficção portuguesa

- Lídia: fusão entre o artista e o homem do mundo

Memorial do Convento, José Saramago -----------------------------------------------------------------


- cruzamento de histórias: história de D. João V, da construção do Convento de Mafra, de Baltasar e Blimunda, do
Padre Bartolomeu Lourenço, do povo que construiu o Convento

Título e linhas de ação

- título: narrativa histórica relacionada com a construção do Convento de Mafra; memorial – relato de factos e
pessoas memoráveis de um período – título sugere uma narrativa histórica baseada em relatos verdadeiros que
privilegia a ficção -> romance de acontecimentos históricos e ficcionados a que se adicionou uma vertente fantástica

- o sonho de edificação do convento cede o foco ao sonho de voar do Padre Bartolomeu Lourenço -> construção da
passarola assume papel central na obra, congrega o trabalho de 3 personagens, só depois da concretização deste
sonho se dá atenção à construção do convento

- as personagens são movidas pelo sonho; o romance estrutura-se a partir de dois sonhos: o sonho individual de D.
João V de contruir um Convento para sua satisfação pessoal e o sonho coletivo do Homem que sente o apelo e anseia
voar

- D. João V: sonho de grande vaidade-> promessa do rei – sonho do padre franciscano-> construção do convento,
arquiteto, mestres e operários-> execução remunerada, forçada, com sacrifício de vidas-> construção parcial do
convento-> sagração da Basília, aclamação de D. João V e esquecimento dos construtores-> consecução de um sonho
individual: prestígio social – mais um convento

- Padre Bartolomeu: sonho de voar-> projeto inicial de Padre Bartolomeu Gusmão-> construção da passarola,
Bartolomeu mostra o projeto a Baltasar-> execução partilhada - Bartolomeu: ciência, Baltasar: força física, Blimunda:
a magia, Scarlatti: a música-> voo da passarola-> perseguição pelo Santo Ofício - inteligência, coragem e superação ->
consecução de um sonho ancestral da humanidade: voar – evolução

1. Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um Convento em Mafra; 2. Era uma vez a gente que contruiu
esse Convento; 3. Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes; 4. Era uma vez o Padre que
queria voar e morreu doido

Caracterização das personagens

Personagens históricas: classes sociais mais privilegiadas, nobreza/clero, vivem o seu belo prazer e menosprezam os
interesses do povo, caracterizadas por um tom depreciativo e irónico
- D. João V: rei de Portugal, aproveita o ouro do Brasil para obras sumptuosas; vaidoso, magnificente e megalómano,
pretende deixar a obra que ateste a grandeza da sua riqueza e poder, ainda que tenha de sacrificar o povo; “marido
leviano”, a sua relação com a rainha é contratual; ao contratar Scarlatti revela o seu interesse pelas artes e ao mostrar
interesse pela invenção do Padre Bartolomeu revela apetência pelo progresso científico

- D. Maria Ana Josefa: oriunda da Áustria, devota e submissa, deve dar herdeiros ao rei; simboliza a mulher do século
18: submissa, reprimida, destinada a procriar, enclausurada no palácio, cumprindo as suas devoções religiosas; entre
ela e o rei não há amor -> o rei é infiel e a rainha sabe -> sonha com o cunhado D. Francisco

- Infanta D. Maria Bárbara: filha primogénita do casal real, bexigosa e feia, boa rapariga, musical a quanto pode
chegar uma princesa; casa aos 17 anos com o Infante D. Fernando de Espanha

- Infante D. Francisco: irmão de D. João V, homem sem escrúpulos que cobiça o trono e a esposa ao rei

- João Frederico Ludovice: arquiteto alemão contratado para construir o Convento como uma réplica da Basílica de
São Pedro em Roma, consegue dissuadir o rei dessa intenção

- Domenico Scarlatti: músico italiano, professor do irmão do rei infante D. António e D. Maria Bárbara; conhece o
Padre Bartolomeu no passo e partilha com ele o segredo da construção da passarola; é o 4º membro da trindade
terrestre; simboliza o poder da arte, pois é graças à música que Blimunda recupera do esgotamento depois da
recolha das vontades; para a concretização dos sonhos do Homem é fundamental a conjugação da arte com o
conhecimento científico

- Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão: espírito aberto, gosto pelas viagens, estrangeirado, com interesse pela
ciência; acalenta o sonho de voar -> projeto da passarola, apoiado por D. João V de quem é amigo; tem laços de
profunda amizade com Baltasar e Blimunda que o ajudam na construção da passarola e com quem forma a trindade
terrestre, o pai, o filho e o espirito santo; representa o conhecimento cientifico- concebe a passarola e o elemento
secreto que a fará voar; padre muito pouco convencional, questiona os dogmas da Igreja, considera que a religião
deve estar aos serviço dos homens; a sua intenção de contruir uma máquina voadora torna-o alvo da inquisição mas
é protegido pelo rei; consegue fugir na passarola, mas depois de aterra em Montejunto tenta deitar fogo à máquina
com medo da Inquisição; refugia-se em Toledo onde morre

Personagens fictícias: grupo social desfavorecido, pertencem ao povo, são exploradas/oprimidas pelas classes de
poder

- povo: massa anónima, subestimada e esquecida pela História, é apresentado como verdadeiro herói, na medida em
que foi à custa do seu sacrifício que se tornou possível a construção do convento, é o seu responsável; caracterização
positiva e valorativa; o romance apresenta a construção do convento perspetivada pelo verdadeiro herói, o povo.

- Baltasar Mateus: homem do povo, analfabeto e humilde, alcunha de Sete-Sois, esteve na guerra de sucessão de
Espanha onde foi dispensado por ter perdido a mão esquerda em combate; de regresso trabalha no açougue no
Terreiro do Paço em Lisboa; conhece Blimunda num auto de fé; com o convite do padre Bartolomeu para a
construção da passarola, o sonho também passa a ser seu; dentro da trindade terrestre representa a força física na
construção; trabalha nas obras do convento; após a morte do padre zela pela preservação da passarola; acaba por
ser queimado nove anos mais tarde num auto de fé

- Blimunda de Jesus: mulher do povo, a Sete-Luas; tem o dom de em jejum ver o interior das pessoas e das coisas o
que lhe permite recolher as 2 mil vontades indispensáveis para a passarola voar; dimensão espiritual da trindade
terrestre; dotada de uma profunda inteligência e estranha sabedoria, detentora de grande densidade psicológica e
de uma perseverança sem limites; representa a força que permite ao povo a sua sobrevivência e o contestar o poder
e resistir
- Sebastiana Maria de Jesus: mãe de Blimunda, condenada a ser açoitada em público e ao degredo por ter “visões e
revelações”, ser blasfema e herética

- Marta Maria: mãe de Baltasar; João Francisco: pai de Baltasar, homem do povo cuja subsistência reside na
agricultura; Inês Antónia: irmã de Baltasar, mãe de dois filhos, sofre a morte do mais novo
- Trabalhadores do Convento: personagem coletiva, cuja fora bruta e esforço desmedido são explorados de forma
desumana

Amor de D. João e D. Maria Ana x Amor de Baltasar e Blimunda

Respeito por convenções Libertação das convenções

Contrato de casamento Casamento: partilha da colher

Relação desiquibrada Relação equilibrada

Ausência de amor Amor verdadeiro

Papel subalterno da mulher Relação de igualdade e respeito mútuo

Tempo da narrativa

- Analepse: desde 1624, os franciscanos andavam a tentar que fosse Construído um Convento em Mafra

- Prolepse: referência à morte do infante D. Pedro; referência à morte do filho mais novo de Inês Antónia e de Álvaro
Diogo; várias referências do narrador a acontecimentos posteriores

- Elipse: narrativa cobre 28 anos de tempo cronológico incidindo nos episódios mais importantes

- Sumário: relato da construção do convento

Visão crítica

- sociedade portuguesa da primeira metade do século 18; sumptuosidade da Corte – luxo, ostentação, frivolidade
moral duvidosa, privilégios em exagero, ostentação, parasitismo, autoridade, repressão, insulto à dignidade humana

- sofrimento de um povo – exploração na edificação do convento: ausência de privilégios, falta de dignidade,


sofrimento, sacrifico, morte, opressão, aniquilamento, miséria física e moral

- tom irónico

- o clero: exerce o seu poder sobre o povo ignorante através da instauração de um regime repressivo entre seus
seguidores

- atuação da inquisição – regime de terror: manipula os mais fracos; criticada através da representação dos autos de
fé, alienação e injustiça, terror e obscurantismo, intolerância e perseguição, censura de ideias inovadoras

- justiça portuguesa que castiga os pobres e despenaliza os ricos

- rejeição dos artífices e dos produtos nacionais em defesa dos estrangeiros

- adultério

- Corrupção generalizada

- D. João: prepotência e devassidão – megalomania, satisfação de caprichos, devassidão, libertinagem e ignorância,


indecoro

Dimensão simbólica

- três - perfeição: para os cristãos representa a perfeição da ordem divina (Santíssima Trindade); o tempo é triplo;
fases da existência

- sete: totalidade, perfeição


- nove: conclusão de uma criação e o recomeço; insistência de Blimunda na procura do homem perfeito

- Sete-Sóis e Sete-Luas: ideia de união, complementaridade e perfeição

- olhar de Blimunda: poder mágico e maravilhoso, expresso nas mudanças de cor

- vontades: metáfora da realização do sonho, causadoras do progresso

- a mãe da pedra: gesta heroica, epopeica, do transporte da pedra gigante de mármore

- Convento de Mafra: memória do passado, denúncia da exploração do povo, ostentação régia, exemplo do
misticismo religiosos, representa o poder do rei e da Igreja, construção associada à morte dor

- Passarola: desejo de liberdade, harmonia entre o sonho e sua realização, fraternidade e igualdade entre os homens,
evolução do homem ao longo dos tempos no caminho para a liberdade e afirmação do livre-arbítrio

Gramática e recursos expressivos

Recursos Expressivos --------------------------------------------------------------------------------------


- Adjetivação: estabelece relações inesperadas entre nomes e adjetivos que os caracterizam e em que se enfatiza o
valor conativo do adjetivo, tornando o irónico – “É um barco sério e sisudo que se não mete nessas andanças”

- Alegoria: representação de um conceito/abstração, usa-se pata dizer uma coisa por outra, para representar o
abstrato através do concreto – a representação da justiça através de uma figura feminina de olhos vendados com
uma balança e com uma espada

- Aliteração: repetição do mesmo som consonântico dentro da mesma palavra ou em palavras próximas, contribui
para a musicalidade do texto – “Se vim ao mundo, foi só para desflorar florestas viagens e desenhar meus próprios
pés”

- Anáfora: repetição da mesma palavra/expressão no início de frases que se sucedem, intensifica uma
ideia/sentimento “Sim, o que fui de suposto a mim mesmo/O que eu fui de coração e parentesco/ O que fui de
serões de meia-província”

- Anástrofe: anteposição do elemento determinante, constituído por uma preposição e um nome, em relação ao
determinado – Com papas e bolos se enganam os tolos, Em força e azul, cinco oceanos soma

- Antítese: oposição semântica e/ou sintática – “A ti que és ténue, dócil, recolhida, Eu que sou hábil, prático, viril”

- Apóstrofe: interpelação exclamativa de um destinatário real/fictício – “E, vós, Tágides minhas, pois criado tendes…”

- Comparação: “O seu olhar, então fuzila como um facho”

- Enumeração: “Ocorrem-me em vista exposições, países: Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!”

- Eufemismo: evita mencionar conceitos, suavizando palavras cruéis/desagradáveis

- Gradação: um grupo de palavras amplifica/diminui um significado de um elemento textual pela sua intensidade
semântica, ascendente/descendente – “ de um elemento tão puro, tão claro e tão cristalino como o da água

- Hipérbole: exagera o pensamento para tornar o discurso mais convincente – “Ficar sem pinga de sangue”

- Interrogação retórica: pergunta que não pretende resposta, mas sim chamar à atenção para um assunto

- Ironia: produção de um enunciado com a intenção de significar o contrário/diferente do que se está a dizer – “Que
rico dia!”, o locutor pretende dizer que chove imenso
- Metáfora: aproximação de duas realidades diferentes que sã assemelhadas, atribui-se à primeira uma qualidade da
segunda – “Santarém é um livro de pedra em que a mais interessante e poética parte das nossa crónicas está
escrita”

- Metonímia: designar uma realidade por meio de outra, devido a uma relação de continuidade e não de
semelhança, causa/efeito, continente/conteúdo, … - “Já li Camões”

- Paralelismo: repetição de uma frase, ideia ou construção frásica – “Para grandes males, grandes remédios”

- Perífrase: diz com várias palavras o que se poderia dizer com uma – “Convocador, da parte do Tonante pelo neto
gentil do velho Atlante”

- Personificação: atribuição de qualidades humanas a uma coisa/ser vivo – “Os altos promontórios o choraram”

- Pleonasmo: uso intencional de ideias repetidas na mesma frase – “Ele desceu para baixo”

- Sinestesia: combinação de perceções relativas a sensações captadas por órgãos sensoriais diferentes – “O quadro
mostra cores quentes”

- Uso expressivo do advérbio: colocação hábil do advérbio na frase, pela multiplicação da sua utilização e pela sua
aplicação inovadora – “Carlos recusou-se embaraçadamente à borda do sofá de repes”

Gramática ---------------------------------------------------------------------------------------------------------

Processos fonológicos

1. Inserção

- prótese: adição de um fonema no início da palavra - stare > estar

- epêntese: adição no meio da palavra – humile > humilde

- paragoge: adição no fim da palavra – ante > antes

2. Supressão

- aférese: supressão de um fonema no início da palavra – inamorare > namorar

- síncope: supressão no meio da palavra – rivu > rio

- apócope: supressão no fim da palavra – amore > amor

3. Alteração de segmentos

- assimilação: transformação de um fonema que se torna igual/semelhante a um vizinho, devido à sua influência –
ipsu > isso

- dissimilação: transformação de iguais/semelhantes em fonemas diferentes - lilium > lírio

- redução vocálica: enfraquecimento de uma vogal, passa a átona – taça > tacinha

- metátese: mudança da posição de fonemas dentro de uma palavra – feria > feira

Determinantes - determina o nome que antecede

- artigo: definido- o, os; indefinido- um, uns – precede o nome indicando se é uma referência conhecida/
desconhecida
- demonstrativo: mostra e indica a posição de objetos face ao locutor e elocutório – este, aquele, estes, aqueles

- possessivo: relação de posse – meu, teu, seu, nosso, deles

- indefinido: precede o nome ao qual se refere de forma imprecisa – certo, certos, outro, outros

- interrogativo: qual, quais, quê

- relativo: estabelece uma relação com o antecedente – cujo, cujos

Pronome – cria uma cadeia de referência ao substituir o nome

- pessoal: substitui o nome do destinatário/locutor/de quem se fala – eu, tu, ela, nós, vós, eles, me, mim, comigo, te,
ti, contigo, o, se, lhe, si, consigo, connosco, nos, vos, convosco, os, lhes

- demonstrativo – a posição de objetos face ao locutor do enunciado ou pode retomar elementos já referidos – este,
aquele, estes, aqueles

- possessivo – relação de posse – meu, teu, seu, …

- indefinido – o nome substituído é referido de forma imprecisa, não definida – outro, algum, alguns, pouco, outros,
poucos

- interrogativo – qual, quais, que

- relativo- substitui um antecedente – que, o qual, quem, …

Complemento do nome

- É selecionado pelo nome que o antecede completando o seu sentido


- É introduzido por uma preposição
- Não pode ser suprimido
Ex: O desejo de paz prevaleceu.

Complemento do adjetivo

- É selecionado pelo adjetivo que o antecede – completa o seu sentido

- É introduzido por uma preposição

-Pode ser opcional ou obrigatório quando sem ele a frase perde o sentido Ex: És difícil de contentar.

Complemento direto

- Pode ser substituído por: o, a, os, as, isso Ex: A Filipa comeu a tarte. – A Filipa comeu-a.

Complemento indireto

- pode ser substituído por lhe ou lhes Ex: O Gil escreveu à namorada. O Gil escreveu-lhe.

Complemento oblíquo

- Não pode ser substituído por nenhum pronome

Ex: Todos gostamos de chocolate. / O campeonato decorreu cá.


Complemento agente da passiva

- Surge numa frase passiva

- Está no grupo preposicional iniciado por “por”

- Na frase ativa desempenha sujeito Ex: O jogo foi ganho por Portugal.

Predicativo do sujeito

- É exigido por verbos copulativos – ser, estar, ficar, permanecer, …

- Não pode ser substituído por nenhum pronome Ex: A tarte está boa!

Predicativo do complemento direto

- Aparece depois dos verbos – achar, julgar, nomear, …

- Verbos que pedem o c.d. e uma expressão que complete o sentido do verbo e do c.d. Ex: Ele achou a tarte muito
boa!

Orações Subordinadas Substantivas

Substantiva completiva

- Que, para, se
- É sujeito ou complemento de um verbo, nome ou adjetivo
Ex: Todos sabemos que a Leonor não quer estudar mais. / O jornalista afirmou que desconhecia o caso.

Substantiva relativa

- Como, quem, o que, onde, quando


Ex: Quem canta os seus males espanta. / Encontro respostas onde menos espero.

Orações Subordinadas Adjetivas

Adjetiva relativa restritiva

- Que
- Função de restringir a informação dada sobre o antecedente
Ex: Os textos que escreveu na prisão retratam o Estado Novo. / Vou passar férias com os tios que vivem na Escócia.

Adjetiva relativa explicativa

- Que
- Informação adicional sobre o antecedente
Ex: As viagens, que fazem bem alma, não são o meu passatempo favorito.

Orações Subordinadas Adverbiais

Adverbial causal

- Porque, visto que, uma vez que, já que


- Exprimem a razão, a causa, o motivo do evento descrito na oração subordinante Ex: Uma vez que a praia
está deserta, a Ana dança à vontade.

Adverbial comparativa

- Como, tal como, conforme, que nem

- Segundo elemento de uma comparação Ex: Ela toca tão bem como a irmã.

Adverbial concessiva

- Embora, ainda que, mesmo que, se bem que

- Ideia de oposição/ contraste

Ex: A Maria foi correr, embora estivesse frio.

Adverbial condicional

- Contando que, a não ser que, se, salvo se, caso, caso de

- Exprime uma condição

Ex: Vamos ao parque aquático se não tiveres medo de alturas.

Adverbial consecutiva

- Que, de tal modo que, de tal maneira que, tão... que

- Indica uma consequência

Ex: O livro era tão interessante que o li em dois dias.

Adverbial temporal

- Quando, mal, depois, logo que, enquanto, assim que

- Estabelece a referência temporal Ex: Dá-me uma ajuda quando puderes.

Adverbial final

- para que, a fim de que, com a finalidade de

- Exprime a intenção, a finalidade Ex: eu comprei-o para que faças trabalhos melhores.

Orações Coordenadas

Copulativa: e, nem, não só… mas também, não só… como


Adversativa: mas, contudo, todavia, entretanto, porém, no entanto, ainda, assim
Disjuntiva: ou… ou, ora… ora, quer… quer, seja… seja
Conclusiva: logo, portanto, por fim, por conseguinte, consequentemente
Explicativas: isto é, ou seja, a saber, na verdade, pois

Atos Ilocutórios

Assertivos
Indicam que o locutor assume a verdade do conteúdo que vincula no enunciado - Asserções, descrições,
constatações, explicações, … Ex: A Maria fez o exame.

Diretivos

- Traduzem a vontade do locutor em levar o interlocutor a realizar uma ação

- ordens, pedidos, convites, sugestões, perguntas, … Ex: Proíbo-te que faças isso.

Compromissivos

- exprimem um compromisso locutor em relação à realização de uma futura ação que pode afeitar o interlocutor de
forma positiva

- promessas, juramentos, …

Ex: Ligo-te logo.

Expressivos

- expressam sentimentos, emoções, estados de espírito do locutor

- agradecimentos, congratulações, condolências, desculpas, ... Desculpa Ex: Que lindo casaco!

Declarativos

- exprimem uma realidade criada pelo próprio ato de fala sendo inquestionável a autoridade do locutor. Estão
associados a atos sociais

- casamentos, batismos, nomeações, demissões, condenações, … Ex: Está aberta a audiência.

Valor Aspectual

Valor perfectivo
Apresenta situações concluídas o pretérito perfeito simples está associado a este valor, assim como os verbos
auxiliares acabar de, deixar de, parar de

- a Ana comeu um gelado


- gostei muito de ti
- finalmente, acabei de ler Os Maias

Valor imperfectivo
A situação é apresentada como não concluída, prolongada no tempo. O pretérito imperfeito e os verbos auxiliares
aspetuais estar a ou andar a constroem este valor

- a criança chorava copiosamente


- os alunos estudavam para o teste, quando se ouviu um estrondo
- ando a ler o Memorial do Convento
- o meu pai está a lavar a louça

Valor genérico
A situação descrita no enunciado é atemporal e atribui propriedades permanentes a uma entidade ou classe, ou
mesmo a outras situações. Este valor pode ser dado pelo presente ou pelo pretérito imperfeito.

- os cães gostam de ir à rua


- os dinossauros eram répteis
- a baleia é um mamífero
- quem vai ao mar perde o lugar
- dormir a sesta é muito saudável
Valor habitual
A mesma situação é repetida no tempo com a frequência suficiente para que se possa considerar um hábito ponto
expressões adverbiais como sempre, frequentemente, normalmente. Estruturas quantificadas como todas as
semanas, duas vezes por dia, … Verbos aspetuais como costumar

- levanto-me cedo todos os dias


- costumo ler antes de dormir
- bebo café três vezes por dia

Valor iterativo
A repetição da situação descrita pelo enunciado não é sistemática nem ocorre com frequência suficiente para que
se possa considerá-la um hábito. É construído pela interação de eventos com expressões adverbiais como
ocasionalmente, ultimamente, de vez em quando, agora, naquele dia. Com estruturas quantificadas como duas
vezes, muitas vezes. Com pretérito perfeito composto ou com verbos auxiliares aspetuais
- como marisco ocasionalmente
- naquele dia, o João foi três vezes para a rua
- o professor tem faltado às aulas

Coesão textual gramatical

Referencial

- Anáfora : os termos anafóricos retomam o antecedente e respetivo valor, mantendo-o ativo - Ao sair da escola,
encontrei o Luís e ele disse-me que o seu médico o atendeu rapidamente

- Catáfora: os termos correferentes surgem antes d elemento que indica o referente do discurso - Após a consulta e o
que nela lhe fora dito, o jovem sossegou.

- Elipse: os termos não surgem realizados, subentende-se a presença de uma retoma, mas a cadeia de referência é
formada por espaços vazios - O Armando foi à consulta e (-) sossegou.

- Correferência não anafórica: utilização de duas ou mais expressões relativas ao mesmo referente sem que nenhuma
dependa da outra - O pequeno gato aventurou-se no mundo. A cria ganhou liberdade.

Frásica

- Liga os constituintes de uma operação/ frase simples de modo a torná-los unos Processos:

a. Ordenação das palavras e das funções sintáticas


b. Concordância em género e/ ou número de palavras
c. regências
d. Presença de complementos exigidos pelo verbo
Ex: Os meus vizinhos candidataram-se a um emprego em França. -> frase coesa

Interfrásica

- Liga frases simples, complexas e parágrafos, garantindo a unidade semântica e traduzindo as diversas dependências
Recorre:
a. Coordenação - sindética e assindética
b. Subordinação
c. Conectores e organizadores do discurso
d. Pontuação
Ex: Decidi sair cedo, mas não cheguei a horas porque fiquei preso no trânsito. / No Natal, a Lurdes ofereceu uma
boneca à filha, dedicou um poema à mãe e preparou a ceia com o marido.

Temporal

Os acontecimentos são apresentados de acordo com uma lógica de ordenação temporal, numa sequência que
respeita o conhecimento do mundo que é partilhado pelos falantes É conseguida através:
a. Do uso correlativo dos modos e tempos verbais
b. Do recurso a advérbios e/ ou locuções adverbiais
c. Expressões preposicionais com valor temporal
d. Do uso de datas e marcas temporais
e. Recurso a articuladores indicadores de ordenação
Ex: Tinha decidido sair cedo, mas não cheguei a horas porque fiquei preso no trânsito

Coesão textual lexical

Repetição da mesma palavra ou na sua substituição por outras que com ela se relacionam.
Processos:

a. Repetição - A criança é a força do mundo. A criança é a expectativa de renovação e é na criança que está o
futuro.
b. Sinonímia/ antonímia – adoro as lembranças que certos odores despertam. Os cheiros do mar e da areia
trazem-me memorias. / Ao ver a caixa cheia, desejava que já estivesse vazia.
c. Hiperonímia/ hiponímia - certos ossos do corpo são mais vulneráveis. O fémur, por exemplo, exige mais
atenções.
d. Holonímia/ meronímia - Naquela casa tudo a atraía. Os quartos luminosos, as salas coloridas, a cozinha
espaçosa, …

Dêixis

Pessoal - Eu estava em minha casa quando ligaste.


Temporal – Ontem, depois do jantar, vi o Telejornal, como sempre.
Espacial – Passa-me esse livro que está ao lado da jarra, por favor.
Textual – a ideia antes exposta... / como se referiu no capítulo anterior... / veremos seguidamente...

Deíticos

Pessoais – marcas do EU que fala e do TU a quem se dirige – eu, tu, me, lhe, …, este, isto, aquilo, aquela, …, meu, tua,
sua, nosso, vosso, …, vocativos
Temporais – marcas do TEMPO que se entende em função do AGORA – agora, logo, depois, …, tempos verbais,
preposições . apos, sob, sobre, para, …
Espaciais – localização no ESPAÇO em função do AQUI -advérbios de lugar- aqui, la, acolá,…, este, aquele, esse, …

Valores modais

Modalidade epistémica – o falante expressa a sua atitude


- valor de certeza; valor de possibilidade/duvida; valor de probabilidade

Modalidade deôntica: o locutor procura agir sobre o interlocutor -


valor de obrigação/ proibição; valor de permissão

Modalidade apreciativa: o locutor exprime um juízo de valor

Quantificadores

Existenciais: algum, pouco, muito, tanto, vários, bastante


Universais: todo, nenhum, ambos, qualquer, cada

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