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Português - Exame - .................

Português 11 ano (Universidade de Lisboa)

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10.º Ano

POESIA TROVADORESCA
○ Contextualização histórico-literária

A poesia trovadoresca situa-se na idade média, quando se deu a formação das cortes
senhoriais e o desenvolvimento da corte régia, um momento marcado pelo nascimento das
nacionalidades ibéricas e pela Reconquista Cristã. Estas poesias foram elaboradas em
galego-português por um conjunto de trovadores e jograis; o que possibilitou a produção
cultural nobre, de poesia lírica (lirismo medieval se associar à música: a poesia era cantada,
ou entoada, e instrumentada) e satírica, com as suas cantigas de amigo, de amor, de
escárnio e maldizer.

○ Representações de afetos e emoções:

Cantigas de amigo
● Tema
As cantigas de amigo são composições poéticas nas quais o sujeito poético é uma donzela
apaixonada, saudosa, inocente e, muitas vezes, ingénua, que, dirigindo-se à mãe, às amigas
ou à natureza como confidentes, exprime os seus sentimentos face à ausência do seu
amado, a sedução do amigo através da dança e os encontros com o amado.
Estas cantigas falam da vida amorosa da donzela, são designadas de amigo, pois, em geral, a
palavra amigo aparece com o significado de pretendente ou namorado.
O trovador imaginava os sentimentos de jovens donzelas apaixonadas e escrevia como se
fosse uma mulher enamorada pelo seu amigo.

● Ambiente
Doméstico (a casa), rural (a fonte, o campo, igreja).

● Variedade do sentimento amoroso


Saudosa e expectante pela ausência do amado, triste e saudosa pela partida do amado, feliz
a dançar com as amigas em romarias, para seduzir os moços ou, porque são correspondidas,
desconfiada e triste, por temer uma traição, temerosa da Mãe por mentir-lhe sobre a sua
relação com o amado. Estes eram alguns dos sentimentos.

● Confidência amorosa
Diálogos com a Mãe, as irmãs, as amigas ou ainda a Natureza sobre os seus sentimentos do
momento relativamente ao amado presente, ou ausente. Monólogos de verbalização do
sentimento amoroso, feliz ou frustrado.

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● Relação com a Natureza


A Natureza está sempre consoante o estado de espírito da jovem, tornando-se até um
prolongamento desse estado. Como confidente, a Natureza surge frequentemente
personificada, assumindo um papel de confidente à semelhança da mãe ou da amiga.

● Caracterização formal
Do ponto de vista formal, as cantigas de amigo são constituídas por estrofes breves, nas
quais predominam repetições, genericamente designadas de paralelismo. Nas cantigas de
amigo, encontram-se geralmente repetições com a função de refrão.
A nível semântico, muito frequentemente com a utilização de sinónimos. A cantiga
paralelística com refrão. Nestas cantigas, as estrofes são constituídas por dísticos que se
repetem uma vez com variações mínimas. Sendo o último verso de cada par de estrofes
retomado no par de estrofes seguinte.

Cantigas de amor
● Tema
— Coita de amor: o “eu” poético assume o sofrimento amoroso, por motivos vários, um
deles é por não ter a atenção da amada.
— Amor cortês: é a expressão de sentimentos por parte do amador que adota uma atitude
servil ou de vassalagem em relação à amada. O alvo das Cantigas de Amor é sempre a
mulher da Nobreza ou da Corte, cujo estatuto social confere-lhe um certo endeusamento;
para a cantar, o trovador segue as regras da «mesura» ou do cortejar da dama, com
linguagem formal e respeito evidentes.
Nas cantigas de amor, é no ambiente aristocrático que podemos entrever a aspiração do
trovador a uma mulher inatingível, a «senhor», que, por vezes, era casada ou de condição
social superior. Por isso, o trovador imaginava a dama como um suserano e coloca-se numa
posição submissa de vassalagem, evidenciando a coita (sofrimento) e prometendo-lhe amor.

● Ambiente
Cortês, aristocrático.

● Caracterização formal
Número variável de estrofes/de rimas; por vezes têm refrão, mas nem sempre acontece;
existe progressão de sentido.

Cantigas de escárnio e maldizer

● Tema
Cantigas onde o trovador troça de uma determinada pessoa indiretamente, recorrendo ao
duplo sentido e à ambiguidade das palavras, à ironia, à alusão e à sugestão jocosa.
Cantigas de maldizer Cantigas onde o trovador ridiculariza determinada pessoa diretamente,
criticando situações de adultério, amores interesseiros ou ilícitos, entre outros.

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● Dimensão satírica
- Paródia do amor cortês: louvor à mulher amada (nobre, cortesã ou real), mas com
ironia e sarcasmo, exaltando as suas faltas, os seus defeitos e as suas características
físicas ou de personalidade, que o autor quer denunciar; crítica ao tópico muito
frequente do fingimento da morte de amor.
- Crítica de costumes: toda a sociedade medieval é alvo de críticas: mulheres e
homens do povo (de várias profissões ou até mesmo outros jograis); nobres,
religiosos; o próprio rei, assim como todos aqueles que o trovador entender criticar
sarcasticamente pela denúncia de escândalos e perversidades.

● Caracterização formal
Críticas através de sátiras e sarcasmos; recurso a calão; trocadilhos e seleção de vocábulos
que surtem efeitos cómicos.

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CRÓNICA DE D. JOÃO I — Fernão Lopes


● Contexto histórico

Em 1434, D. Duarte confiou-lhe a importante missão de escrever a história dos reis de


Portugal, criando, deste modo, o cargo de cronista-mor do Reino. A obra de Fernão Lopes
situa-se, pois, na Época Medieval, período dos cronistas, e constitui-se como um precioso
documento literário e histórico, dado que o cronista faz um relato de factos históricos, numa
prosa verdadeiramente inovadora e artística.
A crónica de D. João I foi escrita por Fernão Lopes e tendo como principal a figura do Mestre
de Avis/ D.João I.
A crónica de D. João I apresenta duas partes:

- 1.º parte: pré-Aljubarrota. Nesta parte são narrados os acontecimentos decorrentes


da morte do rei D. Fernando, e consequentemente crise de sucessão de 1383–1385,
até à aclamação a cabo pelos castelhanos, bem como o da Batalha de Aljubarrota,
em que se destaca a figura de D. Nuno Álvares Pereira, aliado incondicional do
Mestre e mentor da estratégia que conduziu os portugueses à vitória.
- 2parte: pós-Aljubarrota. Parte que regista os acontecimentos ocorridos durante o
reinado de D. João I.

● Afirmação da consciência coletiva

Na Crónico de D. João 1 (1.ª parte), testemunhamos a afirmação da consciência coletiva, ou


seja, o papel do povo, como herói coletivo, que age unido por um mesmo propósito,
acudindo ao Mestre e resistindo durante o Cerco.
A morte do Conde de Andeiro e o apelo do pajem do Mestre e de Álvaro Pais em defesa do
Mestre de Avis, fazendo supor que este corria perigo de vida, levam à adesão popular e a

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que povo e burguesia acorram ao Paço da Rainha, agindo solidariamente e com uma
consciência coletiva.
O povo age solidariamente, revelando união e coesão em defesa da causa do Mestre de
Avis.
O cronista evidencia a força da consciência popular que defende a independência nacional,
de armas nas mãos, opondo-se a camadas populares, designadamente a alguns nobres que
assumiam a defesa do rei castelhano.
O povo é sujeito da História, sente-se senhor da terra onde vive e que foi conquistada pelos
seus antepassados, ganhando, por isso, uma consciência coletiva na sua defesa, porque
sente que a pátria é um direito inaliável.

● Atores

— Coletivo:

Povo: Protagonista da ação, acorrendo rapidamente em defesa do Mestre, quando ouve os


brados do pajem a solicitar apoio. A arraia-miúda, coesa e solidária, age e acorre aos Paços
da Rainha para acudir ao Mestre, embora o cronista nos dê a conhecer ações individuais
anónimas.

— Individual:

D. João, Mestre de Avis: Líder carismático e determinado, que se preocupa com a defesa do
reino e o bem coletivo. Mata o Conde de Andeiro, nos Paços da Rainha, fazendo supor que
era ele a vítima de um ataque traidor. Fernão Lopes atribui-lhe o mérito de se oferecer para
ocupar o lugar de regedor e defensor do reino, o que parece ser mais um risco do que um
privilégio.

Pajem do Mestre: Defensor da causa do Mestre, informa e incita o povo, gritando pelas ruas
de Lisboa que alguém quer matar o Mestre. É um «homem bom», que sabia manejar o povo
de Lisboa e gozava de bom ascendente sobre a burguesia e o povo.

Álvaro Pais: Agitador do povo, clamando que alguém quer matar o Mestre nos Paços da
Rainha, revelando-se determinado.

D. Leonor Teles: Rainha ambiciosa e determinada, designada como aleivosa pela relação que
mantinha com o Conde de Andeiro.

Conde de Andeiro: Nobre interesseiro e traidor, amante da rainha. D. João I de Castela


Poderoso e nobre, luta pelos interesses de Castela, revelando-se ambicioso.

Nuno Álvares Pereira: É um herói com um forte pendor místico. A par da sua faceta espiritual
e do virtuosismo que o rege, distingue-se pela determinação, coragem, perspicácia e
lealdade.

Rei de Castela: É orgulhoso, ambicioso e calculista. Representa a forca de Castela.

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Farsa de Inês Pereira — Gil Vicente


● Caracterização das personagens

— Inês Pereira: jovem altiva e arrogante, presunçosa e ignorante


Solteira - Inês é ociosa, despreza a vida rústica do campo. O seu quotidiano é
entediante: costura, borda e fia. É alegre, quer sair e divertir-se, mas é contrariada pela mãe.
É ambiciosa, idealista, quer casar-se com um homem que, ainda que pobre, seja «avisado»
(discreto), meigo e saiba cantar e tocar viola, para fugir à vida que tem, viver alegremente e
ascender socialmente. A carta que recebe de Pero Marques não lhe agrada, considerando-o
disparatado e simplório. Troça de Pero Marques, quando este a visita, e rejeita-o.
Casada e viúva - Inês casa com Brás da Mata, o Escudeiro, sem saber que ele é pobre
e interesseiro. Fica a viver em casa da mãe, que se retira para viver num casebre. É infeliz,
pois o marido é tirano, não a deixa cantar e prende-a em casa. Fica sozinha quando o seu
marido vai para Marrocos lutar contra os mouros, vigiada pelo Moço, durante a ausência do
marido. Reconhece que errou ao rejeitar Pero Marques e, ao casar-se com o Escudeiro,
deseja a sua morte, jurando que se casará uma segunda vez com um marido que seja
submisso, para gozar a vida e vingar-se das provações sofridas enquanto casada com o
Escudeiro. Não se comove com a morte do marido, pelo contrário, sente-se livre. É hipócrita
ao chorar pelo marido morto e ao dizer que está triste. Reconhece que a experiência de vida
ensina mais do que os mestres.
Casada em segundas núpcias - Materialista, pragmática e calculista, decide casar-se
com Pero Marques. Canta e, livre, sai de casa com o consentimento do marido. Inicialmente,
não reconhece o Ermitão como um apaixonado do seu passado, mas tenciona cometer
adultério com ele. Abusa da ingenuidade do segundo marido e pede-lhe para a acompanhar
à ermida, para ter um encontro amoroso com o ermitão.

- Mãe de Inês Pereira: experiente, boa conselheira, amiga.

- Lianor Vaz: amiga da família, alcoviteira/casamenteira.

- Pero Marques: lavrador abastado, rico, honesto, mas rude, puro em sentimentos.

- Judeus (Latão e Vidal): casamenteiros, mentirosos.

- Escudeiro (Brás da Mata): fidalgo pobre, vive das aparências, ambicioso e maldoso. Antes
do casamento é simpático, após o casamento passa a ser intolerante e repressor.

- Moço (Fernando): servo miserável, que ficará à sua sorte depois da morte do seu senhor

- Ermitão: falso religioso, castelhano enamorado de Inês, com ela terá relações adúlteras

● Relações entre as personagens

- Inês - Mãe: apesar de obedecer à Mãe. Inês protesta e reclama da sua condição de solteira
inútil; não segue os seus conselhos e recusa casar com Pero Marques, numa fase inicial. A
Mãe assume sempre uma atitude crítica, mas paciente, com ela.

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- Inês - Escudeiro: movida pelo desejo cego de se casar com um membro da nobreza. Inês
aceita o Escudeiro como marido, neste casamento ela é oprimida, sofredora e revoltada. Esta
escolha errada será solucionada com a morte de Brás da Mata.

- Inês - Pero Marques: recusado no início por ser inculto e brejeiro, Inês aceita Pero como o
seu marido e, a partir daí, conseguirá ser feliz, enganando-o e pondo-o ao serviço dos seus
prazeres. O bom Pero Marques concretiza todos os seus desejos. Apesar de Inês acabar por
se vingativa adultera e desrespeitosa, já que tinha um marido ingénuo.

● A representação do quotidiano

A prática religiosa (ida à missa); o hábito de recorrer a casamenteiros (Lianor Vaz e os


Judeus); a falta de liberdade da rapariga solteira, confinada à casa da mãe e a viver sobre o
jugo desta; a ocupação da mulher solteira em tarefas domésticas (bordar, coser); o
casamento como meio de sobrevivência e de fuga à submissão da mãe; a tradição da
cerimónia do casamento, seguida de banquete; a submissão ao marido da mulher casada e o
seu «aprisionamento» em casa; a inércia da nova burguesia que nada fazia para adquirir
mais cultura; a decadência da nobreza que procurava enriquecer através do casamento e
buscava o prestígio perdido na luta contra os mouros; a devassidão do clero; a corrupção
moral das mulheres que se deixavam seduzir por elementos do clero; o adultério.

● A dimensão satírica

Gil Vicente apresenta a sociedade do seu tempo, criticando os vícios e os defeitos dos seus
contemporâneos, nomeadamente a hipocrisia e a oposição entre o ser e o parecer. Satiriza a
sociedade, retratando-a por personagens que representam estratos sociais e alguns aspetos
negativos dessa época.

ο Linguagem, estilo e estrutura:


● características do texto dramático

As características do texto dramático, visíveis nesta farsa: não existem divisões cénicas
explícitas, embora seja possível detetar três momentos principais da ação: Inês solteira, Inês
casada, Inês viúva e novamente casada: existe um número variável de cenas, as quais
mudam sempre que entram ou saem personagens

● a farsa: natureza e estrutura da obra

Farsas: género cómico, satiriza aspetos da vida pessoal quotidiana das várias classes sociais;
este texto dramático possui um número reduzido de personagens.
Esta farsa retrata a vida quotidiana de uma jovem moça, em idade de casar, arrogante que
pretende um marido culto e nobre. Após defraudada nas suas expectativas para com o
Escudeiro, o seu primeiro marido, fica viúva, voltando a casar, desta vez. Com Pero Marques.
Deste quotidiano fazem igualmente parte a Mãe, a amiga alcoviteira Lianor e os criados de
casa.

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Rimas - Luís de Camões


● Contextualização histórico-literária

Período Clássico-Renascentista. Nova conceção do Homem e do Mundo. Privilégio


da razão e da experiência. Sobreposição do antropocentrismo ao teocentrismo
medieval. A crença do saber do homem e na sua experiência. Ascensão da burguesia
e proliferação de atividades mercantis, devido aos Descobrimentos. Desenvolvimento
das artes e das letras.

● A representação da amada

Dois tipos de mulher:

A imagem realista, inspirada na vida quotidiana, em algumas redondilhas; a amada é


de qualquer classe social, privilegiando a de origem popular; geralmente, tanto o
sujeito poético como a amada pertencem ao mesmo meio social; bela, encantadora,
com detalhes sobre indumentária, objetos, sentimentos; possibilidade de
relacionamento físico, entre outros.

Aimagem dos sonetos, geralmente pertencente a uma classe social alta (nobreza /
aristocracia / Coroa), portanto, mulher palaciana; pele branca, olhos claros (azuis ou
verdes), cabelos louros, indumentária elegante; superior em relação ao sujeito
poético, seu submisso; relacionamento platónico (sem contacto físico). Era o símbolo
de perfeição.

● A representação da Natureza

A natureza é um espaço alegre, tranquilo, sereno, propicio ao amor. Espelho da alma


do poeta, refletindo os seus sentimentos. Confidente, testemunha da dor da
ausência/separação da amada.

● A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor

Sujeito poético dividido entre o fascínio do amor platónico/ espiritual vs. a atração
por um amor carnal. A ausência da amada, origina o sofrimento, saudade, ânsia por
um reencontro físico. A experiência de uma vida amorosa fracassada que poderá
explicar a influência do amor de conceção platónica.

● A reflexão sobre a vida pessoal

Considerações do poeta sobre o Destino e ele próprio como os responsáveis pelo


seu infortúnio. Nesta temática, já não é só o amor o sentimento explorado, mas

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também a revolta, o remorso, o cansaço e o desespero perante a existência da


morte.

● O tema do desconcerto

Este tema surge da consciência do poeta em relação ao mundo injusto, corrupto e


maquiavélico que o rodeia e que nunca lhe é favorável, mostra como o mundo
provoca injustiças aos bons e premia os maus.
A destruição do amor puro, a morte e a passagem do tempo, que só traz infortúnio,
são algumas realidades que chocam o poeta.
O desconcerto do mundo provoca espanto, revolta e inconformismo.

● O tema da mudança

«Mudança» abrange o andamento da vida, a passagem do tempo e as suas


repercussões na vida e nos sentimentos do poeta.
A sucessão de mudanças ocorre através do tempo. Na Natureza, a mudança opera-
se de forma cíclica, natural e positiva, enquanto na vida do poeta se concretiza
negativamente. A passagem do tempo traz novidades, mas nem sempre a esperança.

● Linguagem, estilo e estrutura:


- Estilo engenhoso: o das redondilhas; estilo clássico: verso decassilábico
- Estrutura: redondilha menor ou maior
*Com mote: vilancete e cantiga;
*Sem mote: esparsa, trova ou endecha e soneto.
- Linguagem:
*De estilo engenhoso: construções curtas e glosar um mote, com uma linguagem sóbria,
mas engenhosa, servindo-se de jogos de palavras, trocadilhos, antíteses…
*De estilo clássico: léxico e frases de influência latinizante; vocabulário a apontar para a
descrição, a reflexão, a confissão; recursos expressivos diversificados, com predomínio de
uma linguagem figurada (metáforas, hipérboles…) e de sonoridades (aliteração).

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Os Lusíadas - Luís de Camões


● Imaginário épico:
ο Matéria épica: feitos históricos e viagem

Luís de Camões propõe-se narrar em verso a viagem marítima dos portugueses desde
Portugal até à Índia. Neste sentido, afirma que contará os feitos gloriosos dos navegadores,
os quais dizem respeito não só à navegação e à descoberta de novas terras ultramarinas,
mas também à conquista de povos africanos e asiáticos. O poeta acrescenta que os feitos

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históricos serão para sempre recordados como maiores do que os dos heróis da Antiguidade
Clássica.

ο Sublimidade do canto

Para conseguir cantar e louvar os feitos gloriosos dos portugueses nesta sua epopeia.
Camões recorre às ninfas do Tejo, as Tágides: invocando-as. pede-lhes que lhe deem
inspiração e linguagem erudita, elevada, sublime, para conseguir igualar a sublimidade dos
feitos dos portugueses, que ele quer deixar famosos por todo o «Universo» (presente e
futuro). Na verdade. faz parte de uma epopeia o uso de vocabulário, frases e estâncias de
estilo formal e de uma eloquência superior. Esta informação encontra-se na «Invocação»

ο Mitificação do herói

O herói de Os Lusíadas é o povo português, simbolizado na figura de Vasco da Gama.


Narrando os seus feitos gloriosos e sublimes, mais meritórios do que todos os dos povos e
nações anteriores, Camões eleva os portugueses à divinização ou imortalização dos lusos na
«Ilha dos Amores» é alcançada especialmente através da união física dos nautas com as
ninfas, divinas. Simbolicamente, a entrega das ninfas aos navegadores representa o
nascimento de uma geração que sabe amar bem, promovendo a harmonia no universo. Os
deuses descem à condição de humanos e os navegadores elevam-se à condição de deuses,
prémio merecido pela sua coragem e ousadia.

ο Reflexões do poeta

Camões exprime as suas opiniões críticas sobre os factos que vai narrando. Assim,
acompanhando a viagem, as conquistas e as proezas gloriosas dos nossos navegadores, o
poeta tece também comentários críticos à ambição desmedida e exagerada por dinheiro e
fama, a faltar cultura e apreço pelas Artes (especialmente a Poesia), ao poder corruptor do
dinheiro e do ouro e aos comportamentos negativos dos portugueses.

- No Canto I, observa-se a reflexão sobre a fragilidade humana, apesar dos valores


humanistas que norteiam a epopeia. A vida no Oriente é marcada pela corrupção,
indisciplina e abusos de poder.

- No Canto V, o poeta incide na defesa da conciliação das armas e das letras, aspeto
que se relaciona com a importância que os humanistas atribuíam à formação integral
do indivíduo, num momento em que a aristocracia, empenhada nas trocas
comerciais, descurava o apoio às artes e às letras.

- No Canto VII, o poeta retoma a importância da conciliação das artes e das letras,
numa perspetiva autobiográfica («Nua mão sempre a espada e noutra a pena»), e
manifesta cólera e indignação perante a ingratidão daqueles que ele cantava.

- No Canto VIII, Camões reflete sobre o poder do dinheiro, o vil metal que leva a
mortes, traições, corrupção, tirania e inimizades.

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- No Canto IX, o poeta reflete sobre o caminho a percorrer para alcançar a fama e a
imortalidade

- No Canto X, Camões triste fala a uma pátria que despreza as artes e o próprio
Camões. Apelando assim para D. Sebastião liderar os portugueses aos feitos
gloriosos.

● Linguagem, estilo e estrutura:


ο A epopeia: natureza e estrutura da obra
- A natureza: os Lusíadas é um poema épico, do género narrativo em verso, destinado
a celebrar feitos de heróis fora do comum, mais precisamente o povo português,
herói coletivo. A epopeia remonta à antiga Grécia, com Homero, e a Roma, com
Virgílio, autores a que Camões recorreu para se inspirar.

- Estrutura externa: A obra contém 1102 estrofes, organizadas em dez cantos, com um
número variável de estrofes, sendo o Canto X o mais longo, com 156 estâncias. As
estrofes são oitavas, em versos decassilábicos heroicos, seguindo o esquema rimático
abababcc, sendo a rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois
últimos.

- Estrutura interna: da estrutura interna fazem parte a Proposição - apresentação do


assunto do poema (cantar os reis que dilataram a Fé e o Império, os que
desbravaram mares desconhecidos, os que se imortalizaram pelos seus feitos, em
suma, enaltecer o povo português), a Invocação - pedido de ajuda às ninfas ou
musas inspiradoras, a Dedicatória – o poeta dedica a obra a D. Sebastião e incentiva-
o a realizar feitos dignos de serem cantados e a Narração (a viagem. a mitologia e a
História de Portugal, começada «in media res», ou seja, a meio da viagem), a que se
juntam as considerações do poeta, fora do plano da narração.

ο Os quatro planos
- Plano da viagem: ação central - viagem de Vasco da gama à Índia.
- Plano dos deuses ou mitológico: olímpio e os outros.
- Plano da história de Portugal: ação secundaria - narração da história de Portugal.
- Plano das reflexões do poeta. A sua interdependência: as reflexões surgem em
consequência de acontecimentos relatados anteriormente e que suscitam as
considerações que o poeta faz.

ο Estrofe e métrica

O texto está dividido em cantos (espécie de capítulos), com um número variável de estrofes
(conjunto de versos). As estrofes têm 8 versos decassilábicos, sendo a rima cruzada nos seis
primeiros e emparelhada nos dois últimos, com o esquema rimático abababcc.

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11.º Ano
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“Sermão de Santo António” - Padre António Vieira
Sermão é um texto de natureza argumentativa que convence os locutores, levando-os a
adotar determinados comportamentos. Este sermão é alegórico que critica os vícios dos
homens em geral e dos colonos em particular.

● Contextualização histórico-literária
Instabilidade política em Portugal e em outros países europeus, onde os índios e os escravos
tinham 0 direitos. Fuga à expressão simples e imediata. Apologia do dever da sociedade.
Antinomia/valorização do sentimento/manifestação subtil da razão. • intenções de
persuasão dos interlocutores/ouvintes (estes eram chamados a mudar de comportamento e
de vida); recurso a estratégias retóricas e argumentativas, assentes numa linguagem
artificiosa/engenhosa (sempre com intenções de convencer/persuadir).

● Objetivos da eloquência
Captar a atenção dos ouvintes e a sua disponibilidade para ouvir, fazê-los conscientes do
que têm de bom, para o preservar, e do que têm de mau para o corrigir ou emendar, com
isto Viera satiriza, o poder dos brancos maranhenses no meio das desavenças entre a
Companhia de Jesus e os colonos. O sermão tenta docere - ensinar, com o objetivo
moralizador e doutrinário de delectare – deleitar e movere- influenciar, a mudança de
comportamentos.

● Intenção persuasiva e exemplaridade


Padre António Vieira seleciona exemplos do conhecimento do mundo que os ouvintes
possuem - esta é a base da estratégia de persuasão previamente preparada. Assim,
conhecendo bem as categorias dos peixes e respetivos comportamentos, os ouvintes
entenderão perfeitamente as críticas e convencer-se-ão daquilo que o padre jesuíta
pretende mostrar. A partir da análise dos exemplos dos peixes, seguindo as virtudes dos
peixes louvados, paralelas às ações de Santo António - Tobias (aceitação da doutrina divina);
rémora (moderação, refreamento de apetites); torpedo (arrependimento e mudança);
Quatro-olhos (distinção entre o Bem e o Mal, o Céu e o Inferno). E a abandonarem os
defeitos reconhecidos nos peixes advertidos (Roncador, Pegador, Voador e Polvo). Desta
forma, dá a conhecer a Bíblia aos ouvintes (evangeliza) e faz com que estes corrijam os seus
defeitos e pecados (persuade e altera comportamentos —> movere).

● Crítica social e alegoria


A crítica social prende-se com a exposição dos vícios da sociedade do Maranhão, através da
caricatura dos vícios humanos representados figurativamente nos peixes. Vieira recorre aos

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peixes que representam, simbolizam e denunciam as virtudes e as repreensões ou defeitos


dos seres humano (ex.: presunção e gabarolice (Roncador); parasitismo e bajulação
(Pegador); vaidade e ambição (Voador); traição e maldade (Polvo). - Alegoria (dirige-se a um
auditório fictício (peixes), quando o auditório real são os peixes).
É através de vários tipos de argumentos que orador convoca bom senso, a moralidade e a
justiça, assente na natureza bíblica.

● Linguagem, estilo e estrutura:


○ Visão global do sermão e estrutura argumentativa
- Exórdio
> capítulo I – exposição do tema
«”Vós”, diz Cristo Senhor nosso, falando com os Pregadores, “sois o sal da terra” o e chama-
lhe sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal». “vos” - pregadores; ”sal” -
doutrina; ”terrae” - ouvintes.
O orador parte de uma citação bíblica (conceito predicável). Refere Santo António, como
modelo de pregação, terminando com uma invocação à Virgem Maria.

- Exposição/confirmação
> capítulo II – louvores em geral
> capítulo III – louvores em particular
Inicialmente o orador lamenta que o auditório seja constituído pelos peixes, dado que estes
nunca se converterão. Porem, apresenta os argumentos a favor ou contra os peixes, os quais
representam as pessoas por meio da alegoria. Os peixes são bons ouvintes, são as criaturas
que Deus primeiramente criou, são obedientes, acorrem devotadamente ao chamamento
divino e são pacatos, são prudentes e permanecem afastados, a boa distância, dos homens.
Peixes elogiados e comparados com Santo António:
Peixe de Tobias: simboliza o poder da cura comparado a Santo António, que, pela sua
bondade e amor a Deus e aos homens, afasta os demónios, e pelo seu «fel», as suas
palavras, cura da cegueira, ou seja, tira os seres humanos das trevas da Vida e mostra-lhes a
Luz de Deus (por meio da evangelização);
Rémora: é comparada à língua de Santo António, que se entregou à evangelização dos
povos e nunca se afastou desse objetivo;
Torpedo: a ação evangelizadora de Santo António. pois, tal como o santo, agita a
mente e toca o coração dos outros.
Quatro-Olhos: a qualidade de viver preocupado com as duas realidades da vida
humana, ou seja, preocupações como mundo físico e preocupação como divino.

> capítulo IV – repreensões em geral

Fala de como os peixes são arrogantes, falsos e soberbos, o facto de os peixes se comerem
uns aos outros, os grandes comem os pequenos, isto é, o acontece com a exploração dos
pobres e indefesos por parte dos ricos poderosos.

> capítulo V – repreensões em particular

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Viera particularizou a sua crítica a alguns peixes, condenando os portugueses por


abandonarem os valores do passado.
Roncadores: arrogantes, presunçosos e orgulhosos. símbolo das pessoas
insignificantes na vida, mas que falam e apregoam arrogantemente o seu suposto valor;
Pegadores: corruptos, pegando-se aos poderosos para usufruírem dos seus
benefícios, ou seja, são oportunistas e parasitas. símbolo da dependência e parasitismo de
quem tem pouco valor, mas se «pega» àqueles que o têm para subir ou suceder na vida; a
isto se chama também oportunismo e falta de escrúpulos; Padre António Vieira afirma que
se o Homem se há de pegar a algo ou alguém é a Deus, como ele mesmo o faz todos os
dias;
Voadores: vaidosos, ambiciosos, presunçosos, que querem fazer mais do que
podem/devem para obter honra e glória. símbolo da ambição desmedida e da presunção de
que se pode fazer tudo o que se quer; no caso, o peixe nada e voa, o faz com presunção,
acarreta a sua vida não só os perigos da água, mas também os que vêm do ar;
Polvo: traidor e falso. considerado «o maior traidor do mar», o polvo, pelas suas
características de disfarce e pacatez, ilude a presa, tomando a cor das pedras ou da
vegetação do fundo do mar, surpreende a vítima e caça-a ele mesmo. Isto é símbolo de
todos quantos são hipócritas e dissimulados, o que os faz conseguir o que querem à custa
da hipocrisia. Padre António Vieira afirma que, em comparação com o polvo, até Judas
parece menos traidor.

- Peroração
> capítulo VI – conclusão – julgamento
Vieira finaliza o discurso expositivo-argumentativo: reaviva a memória dos ouvintes sobre
virtudes e repreensões com vista à última tentativa de convencer o seu público e de o
influenciar na adoção de um novo estilo de vida, de uma vida mais voltada para o Céu e
menos presa à terra.

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Frei Luís de Sousa - Almeida Garrett


● Contextualização histórico-literária
Início do período da Regeneração; Período de transição entre o Neoclassicismo e o
Romantismo; Apologia do devir da sociedade. Antinomia/valorização do
sentimento/manifestação subtil da razão.

● A dimensão patriótica e a sua expressão simbólica


O patriotismo é revelado de duas maneiras: pela fé no regresso de D. Sebastião para
restaurar a independência nacional e pelo comportamento anticastelhano de Teimo Pais.
A expressão simbólica está presente: na situação — a incerteza e a visão passadista; na
necessidade de valorizar a nacionalidade e o orgulho português.

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Assim, algumas personagens servem os propósitos do autor: denunciar a sujeição da pátria


do passado); defender o patriotismo e o nacionalismo (manual de Sousa coutinho);
combater a tirania dos governantes, o cabrlismo (Maria).

● O Sebastianismo: História e ficção


O Sebastianismo consiste numa crença que se transformou em mito, originada pelo
desaparecimento de D. Sebastião na batalha de Alcácer Quibir, na medida em que o seu
corpo nunca foi recuperado. Este acontecimento deu origem à convicção, entre a população,
de que o rei regressaria, numa manhã de nevoeiro, para pôr fim ao domínio filipino. A
inserção do Sebastianismo na obra poderá significar a necessidade de ultrapassar as
vivências passadistas para que a nação se projetasse no futuro com um espírito novo.
Sebastianismo refere-se a todas as menções, ideias e sentimentos relativos a D. Sebastião.
último rei de Portugal, antes da ocupação castelhana. História: diz respeito ao que é factual e
comprovado historicamente - a existência do próprio rei, jovem: a sua ida para combate na
Batalha de Alcácer Quibir e respetivo desaparecimento para sempre. Ficção: associada ao
sentimentalismo e a crenças no fantástico, a ficção diz respeito a todas as profecias, agouros,
mitos e lendas que envolvem o regresso de D. Sebastião, regresso esse muito desejado, mas
hipotético e imaginário - montado no seu cavalo, O branco, regressado a Portugal numa
manhã de nevoeiro.

● Recorte das personagens principais


Madalena de Vilhena: personagem dominada pelo remorso de ter amado Manuel
Sousa Coutínho ainda quando vivia com D. João de Portugal. O medo de se ter casado em
segundas núpcias sem ter a total certeza da morte de D. João, na Batalha de Alcácer Quibir.
traz Madalena numa vivência assombrada, receosa, temerata e sempre com a perceção e
intuição de que algo de terrível está para acontecer. Apesar de tudo isto, e da fraqueza de
personalidade, Madalena é culta, respeitadora de
Manuel de Sousa Coutínho: Manuel é um homem inteligente, prudente e indiferente
aos temores e presságios de Madalena. É um homem correto, honesto e um grande patriota,
acérrimo defensor de ideais cavaleirescos. honrosos e íntegros.
Maria de Noronha:. Maria tem as características típicas da sua idade: é curiosa,
interessada, aberta a crenças (de que o Sebastianismo é bom exemplo), infantil (desejando
presenciar uma batalha). Todavia, e porque é doente, apresenta- -se sempre fisicamente
debilitada ou fragilizada. Adora e admira o patriotismo do pai.
Frei Jorge Coutínho: Jorge revela-se uma personagem mediadora, tentando
apaziguar Manuel quando este se revolta contra os governadores invasores, assim como
dando calma a Madalena e a Teimo. Apesar de equilibrado. Frei Jorge pressente o desenlace
trágico desta família.
Telmo Pais: é um fiel servidor dos seus amos: primeiro. D. João de Portugal e, depois.
Manuel de Sousa Coutínho. Esta personagem concentra em si todos os agouros e presságios
que derivam da crença, cega e pia. no regresso de D. Sebastião e de D. João de Portugal.
Telmo nunca concordou com a atitude de Madalena em casar-se pela segunda vez. sem
antes ter certezas sobre D. João.

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D. João de Portugal (Romeiro): está sempre presente na obra, pela diversidade de


vezes que é nomeado e lembrado. Ele é o responsável pela alteração do rumo dos
acontecimentos da ação trágica. pois é do seu reconhecimento que resulta a impossibilidade
da existência do segundo casamento de Madalena e a ilegitimidade de Maria de Noronha.
quando percebe que da sua vida e saúde dependem a desgraça e a infelicidade desta
família, pede ainda a Teimo que lhes diga que afinal este romeiro não é o verdadeiro D. João
de Portugal, o que acaba por não acontecer.

 A dimensão trágica
A dimensão trágica vê-se pelo desenrolar dos acontecimentos: D. Madalena de Vilhena casa
com Manuel de Sousa Coutinho sem ter certeza de que o seu primeiro marido, D. João de
Portugal, realmente morreu, como D. Sebastião, na Batalha de Alcácer Quibir. A tragicidade
vai-se desenrolando à medida que os atos se sucedem sendo instalada pelo reconhecimento
(feito por Frei Jorge Coutinho) do Romeiro como D. João de Portugal. A partir daqui a família
será desmembrada, pois, o segundo casamento é inválido e Maria tornada uma filha
bastarda.
Desafio: paixão de D. Madalena, ainda casada com D. João de Portugal, por Manuel de Susa
Coutinho;
Conflito: tormento de D. Madalena, visível logo no início, e a sua intensificação ao longo da
obra.
Peripécia e reconhecimento: a chegada, do romeiro e a descoberta da sua identidade.
Catástrofe: morte de Maria e ingresso de D. Madalena e Manuel de Sousa na vida
conventual.

○ Linguagem, estilo e estrutura:


● Características do texto dramático
ação (enredo); personagens (principais, secundárias e figurantes); tempo: espaço; didascálias
(indicações cénicas várias, colocadas entre parênteses); apartes (parte das falas das
personagens proferidas sem o interlocutor dar conta); atos (cada ato corresponde a um
cenário); cenas (muda a cena quando entram ou saem personagens); falas de personagens
(sempre em discurso direto, seja em formato de diálogo, seja em monólogo).
Tempo da escrita e tempo da ação dramática: apesar de este texto dramático ter sido
escrito por Almeida Garrett no século XIX, Frei Luís de Sousa trata de momentos e
acontecimentos da vida de personagens que se encontram num tempo anterior - o século
XVI, designadamente, na segunda metade deste século, terminando o terceiro ato em 1599.
Sucessão cronológica do tempo, desde a partida de D. João de Portugal para Alcácer Quibir
até ao seu regresso como Romeiro

● Estrutura da obra
ATO I – 12 cenas
- Decorre no palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada.
- D. Madalena encontra-se a ler o episódio de Inês de Castro (Os Lusíadas) na 1.ª cena.
- A ação situa-se no final do séc.XVI e início do XVII.

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- Evocação da batalha de Alcácer Quibir (4 de agosto de 1578).


- Alusão ao domínio filipino, iniciado em 1580.
- Decisão da mudança de palácio e tomada de consciência das consequências.
- Incêndio do palácio e terror de D. Madalena ao ver o retrato do marido consumido
pelas chamas.
ATO II – 15 cenas
- Decorre no palácio de D. João de Portugal, em Almada.
- Destacam-se grandes e pesados retratos de D. Sebastião, de Camões e de D. João de
Portugal.
- Entre o ato primeiro e o ato segundo decorre uma semana.
- Referência aos factos ocorridos após o incêndio.
- Pânico de D. Madalena ao deparar com o retrato do primeiro marido, em contraste
com o outro retrato queimado.
- Ausência de Manuel de Sousa Coutinho naquela sexta-feira de aniversário (do
primeiro casamento e da paixão pelo segundo marido).
- Anúncio da chegada de um Romeiro.
ATO III – 12 cenas
- Decorre na parte baixa do palácio de D. João de Portugal e na capela da Senhora da
Piedade, que com ela comunica.
- O ato segundo é separado do terceiro por apenas algumas horas.
- Referência aos factos ocorridos após a identificação de D. João de Portugal.
- Decisão da tomada de hábito por Manuel de Sousa e D. Madalena.
- Morte de Maria.
- A ação termina na madrugada de 5 de agosto.

● o drama romântico: características.


Escrito em prosa: não segue a lei das três unidades da tragédia clássica; exaltação e louvor
dos valores de patriotismo de Manuel de Sousa Coutinho; Presença do mito do
Sebastianismo (Maria e Teimo): superstições, presságios (sobretudo, Madalena e Maria) e
agouros do Povo: Cenários (de paisagens naturais ou dos interiores de uma casa) soturnos,
sombrios, assustadores, fechados e com pouca luz natural; presença do Cristianismo como
redenção e consolação; morte de uma personagem em cena; Maria; Críticas às injustiças
sociais de que são vítimas pessoas inocentes, tais como filhos ilegítimos (Maria).

**
**

Amor de Perdição - Camilo Castelo Branco


● Sugestão biográfica (Simão e narrador) e construção do herói romântico
O narrador, Camilo Castelo Branco, afirma ser sobrinho do herói do seu Amor de Perdição.
Simão Botelho, cuja história de amor infeliz leu enquanto estava preso na Cadeia da Relação,
sentindo se abandonado (tal como Camilo que foi preso na mesma prisão e que partilhava
deste sentimento de solidão com a morte dos seus pais). Pelo conhecimento da biografia de
Camilo e de Simão. cedo os leitores se apercebem da semelhança entre estes dois heróis

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românticos - apaixonados fervorosamente (Simão - Teresa e Camilo - Ana Plácido),


perseguidores da sua felicidade amorosa contra as adversidades, sofredores das respetivas
consequências, mas continuamente ao serviço do verdadeiro Amor-Paixão
Camilo propõe ao leitor contar esta história, mostrando Simão como um herói
verdadeiramente romântico que «Amou, perdeu-se e morreu amando». No início
manifestava algumas características de um anti-herói, mas o amor o transformou num
homem sensível. O herói romântico é, em geral, um ser dotado de idealismos, de honra e de
coragem. Cedendo aos apelos do coração ou da justiça, põe frequentemente a própria vida
em risco. A sua ação revela a natureza de um sujeito em permanente tensão consigo mesmo
e com a sociedade, de acordo com os valores paradoxais do Romantismo.

● A obra como crónica da mudança social


Crítica à estrutura social da época, refletida nos casamentos de conveniência: honra/estatuto
social vs amor.
Denúncia da corrupção da justiça, à mão dos poderosos.
Sátira ao comportamento inadequado e mundano dos membros religiosos

● Relações entre personagens


- Teresa - Teresa ama Simão, perde-se por amor (clausura por não abdicar do amor) e
morre por amor.
- Simão - Simão ama Teresa, perde-se por amor (assassínio, prisão, degredo) e morre a
amar Teresa.
- Mariana - ama Simão, perde-se por amor (abdicação da família e da felicidade) e mata-se
por amor a Simão.
- Domingos Botelho, D. Rita Preciosa e Tadeu de Albuquerque: Representam o antagonismo
motivado por um preconceito de honra social. São pais tiranos e insensíveis e posicionam-se
como defensores do sobrenome, da posição social familiar (facto ironicamente ridicularizado
pelo narrador).
- Baltasar Coutinho: Representa os valores sociais instituídos, contribuindo para a tragédia
final. É mesquinho, vingativo e vaidoso, incapaz de compreender o amor de Simão e Teresa.
- João da Cruz: É o protótipo do homem popular português, simples e castiço na sua
linguagem e atitudes. É simultaneamente bondoso, grato, violento e corajoso. Os traços
negativos da sua caracterização, e que o levam a cometer alguns crimes, são substituídos,
aos olhos do leitor, por honradez e bondade.

● O amor-paixão
A paixão romântica, ou seja, o sentimentalismo quase obsessivo, ou paixão como
sofrimento/desgraça.
Simão e Teresa: amor impossível por causa da família e do degredo de Simão para a índia,
que a ela leva à morte espiritual no convento e, posteriormente, à morte física, e a ele à
morte física.

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Mariana e Simão: amor impossível de Mariana por não ser correspondido, que culmina com
a morte física dos dois (morte de Simão por doença e suicídio de Mariana).

● Linguagem, estilo e estrutura:


○ O narrador
é omnisciente, subjetivo e opinativo
○ Os diálogos
Permite o avanço da ação
Imprime ritmo e dinâmica teatral à narrativa
Reflete o estatuto social de quem fala

Os Maias - Eça de Queirós


● Contextualização histórico-literária
Regeneração: estabilização do regime liberal graças a uma revolta militar chefiada pelo
marechal Saldanha, a 28 de abril de 1851.
A Geração de 70 defende o Republicanismo e uma nova forma de fazer literatura-intenções
naturalistas. realistas, positivistas, herdeiras das tendências que faziam furor no estrangeiro,
nomeadamente, em França.

● A representação de espaços sociais e a crítica de costumes

Jantar no Hotel Central: Discussão sobre o Realismo/Naturalismo contra


Ultrarromantismo. Discussão sobre o estado das finanças em Portugal: opinião de Cohen
sobre o destino inevitável de bancarrota; resposta de Ega sobre a necessidade de «receita»
«e uma agitação revolucionária constante»; intervenção de Alencar e de Carlos, sempre
equilibrado e apaziguador.
Jantar em casa dos condes de Gouvarinho: Crítica à alta burguesia e aristocracia pela
mediocridade resultante do seu pensamento a propósito de temas como o ensino e a
educação da mulher e o desenvolvimento dos povos africanos.
Corridas de Cavalos (Hipódromo de Lisboa): crítica à sociedade lisboeta, pois, na tentativa
de imitar os ingleses, os lisboetas acabam por viver este desporto de forma postiça, não
sabendo bem como comportar-se e envolvendo-se inclusivamente em desrespeitos,
desentendimentos e impropérios.
Sarau no Teatro da Trindade: Crítica à falta de cultura e provincianismo da suposta elite
portuguesa da época (aristocracia, figuras políticas e personalidades ligadas à cultura).

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Impressa: Crítica à imprensa da época, pela sua parcialidade e falta de rigor, bem como a
sua dependência política. Maledicência sem escrúpulos e pública; Dâmaso escreve n'A
Corneto sobre os amores adúlteros de Carlos e Maria Eduarda; logo de seguida, ameaçado,
desmente n’A Tarde, explicando que escrevera a primeira carta quando estava altamente
embriagado. (Corneta do Diabo: o jornalismo sensacionalista) (A Tarde: a politiquice, a
ausência de ética, a proteção dos correligionários)

● Espaços e o seu valor simbólico e emotivo


- Santa Olávia
Local de refúgio em momentos difíceis (suicídio de Pedro).
Local onde Carlos passa a sua infância, determinante na sua educação e afetos.
Simboliza a vida e a sua capacidade de regeneração.
- Coimbra
Local da juventude, da formação académica e da vida boémia.
Simboliza a formação pessoal e intelectual e a capacidade das relações humanas,
nomeadamente a amizade.
- Lisboa
Espaço de convívio e de formação da personalidade social em adulto.
Representa o país com todos os seus defeitos e atributos sociais.
- Ramalhete
Residência de Afonso e Carlos da Maia em Lisboa (1875-1877).
Representa o Portugal velho (antes de 1875); as expectativas e os projetos
(1875-1877); a catástrofe e a decadência da família Maia (1877).
O jardim acompanha simbolicamente o percurso da família:
- O consultório e o laboratório
Locais que representam os projetos de Carlos e o seu entusiasmo face à profissão
que terminam em falhanço.
Simbolizam o diletantismo de Carlos e da sua geração.
- Sintra
Espaço de lazer e de férias para a sociedade lisboeta do século XIX.
Local de encontros sociais e amorosos.
Simboliza o paraíso romântico.
- A Toca
Local de transgressão – aí ocorre o incesto.
Espaço repleto de elementos que sugerem a sensualidade, a paixão.
Presença de símbolos que anunciam a destruição da família Maia.

● A descrição do real e o papel das sensações


Sensação de autenticidade da ficção queirosiana – naturalidade do diálogo e descrição dos
espaços cénicos urbanos (interiores e exteriores), por:
- Sensações visuais, auditivas, olfativas, tácteis e gustativas: dinamismo
descritivo e vivacidade da narrativa; descrição mais sugestiva do real;
recriação de espaços e de personagens e da ambiência que os rodeia;

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transporte do leitor para «dentro» da narrativa (emoções e instintos);


expansão da perceção da obra literária;
- Recursos expressivos: sinestesia, comparação, metáfora, uso expressivo do
adjetivo e do advérbio.

● Representações do sentimento e da paixão: diversificação da intriga


amorosa (Pedro da Maia, Carlos da Maia e Ega).
Na ação da obra Os Maias é imprescindível considerar a intriga principal e a intriga
secundária, ambas associadas à história de uma família pouco numerosa.
Pedro da Maia, fragilizado por uma educação católica castradora, une-se
perdidamente a uma mulher, Maria Monforte. casando-se com ela e de quem tem
dois filhos. Esta abandona-o na primeira oportunidade. Sofrendo de rejeição e
desespero. Pedro suicida-se. Da paixão louca, cega e obcecada resulta a sua morte.

Carlos da Maia, depois de uma educação à inglesa, leva uma vida académica
meritória, com a sua parte de boémia e desprendimento em relação às mulheres.
Depois de algumas relações, cai nas malhas do Destino e apaixona-se pela própria
irmã sem o saber. O seu desenlace é bem diferente do de Pedro: depois da culpa e
da vergonha (diante do avô), usufrui da sua fortuna e viaja pelo mundo,
recomeçando a sua vida. Da paixão, do erotismo e da união (quase matrimonial)
resultam a separação e o recomeço.

João da Ega, revolucionário, ateu e irreverente, acaba por se apaixonar por


uma mulher casada, Raquel Cohen, cujo marido ao descobrir, acaba coma relação
entre os amantes. Da paixão e do erotismo surgem o desgosto, a bebida e o
recomeço

● Características trágicas dos protagonistas (Afonso da Maia, Carlos da Maia


e Maria Eduarda).
Afonso da Maia: Advertido por Vilaça de que as paredes do Ramalhete «eram sempre fatais
aos Maias», quando decidiu instalar-se em Lisboa, após a conclusão do curso de Carlos.
Afonso da Maia evitou que o neto tivesse o mesmo percurso de Pedro da Maia, mas a força
inexorável do destino (ananké) abateu-se sobre a família, aproximando os seus dois netos,
Carlos Eduardo e Maria Eduarda.
A morte de Afonso, após o reconhecimento da relação incestuosa entre os seus netos,
provoca sofrimento (pathos) e desperta sentimentos de terror e piedade no leitor.

Carlos da Maia: Nome que indicia desgraça, porque lhe fora atribuído pela mãe que, na
altura do seu nascimento, lia uma «novela de que era herói o último Stuart, o romanesco
príncipe Carlos Eduardo; e, namorada dele, das suas aventuras e desgraças».

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Carlos da Maia desafia (hybris) o destino, envolvendo-se com uma mulher que ele supunha
ser casada, cometendo o incesto, primeiro inconsciente e, por fim, consciente, porque já se
tinha dado o reconhecimento (anagnórise) das origens de Maria Eduarda.

Maria Eduarda: Afastada da família pela mãe, é vítima do destino e da fatalidade.

● Linguagem, estilo e estrutura:


○ O romance: pluralidade de ações; complexidade do tempo; Personagens
da crónica de costumes

➢ Pluralidade das ações: A ação de Os Maias integra duas componentes basilares:


a intriga principal {os acontecimentos em torno de Carlos da Maia e Maria
Eduarda Maia) e a intriga secundária (acrónica de costumes com a crítica social a
Portugal do século XIX). Os dois primeiros capítulos do romance integram os
antecedentes da intriga principal, pois retratam as gerações do bisavô
(Sebastião), do avô (Afonso) e do pai (Pedro) de Carlos da Maia.

➢ Complexidade do tempo:
Tempo da história:
1820-1875: antecedentes da intriga principal. 1875-1877: vida do protagonista. Carlos da
Maia, em Lisboa. 1887: regresso de Carlos da Maia à cidade de Lisboa, depois de dez anos
de viagem.
Tempo do discurso:
Analepses: recuos no tempo. Elipses: ausência de informação sobre determinado período.
Resumos: de acontecimentos necessários à compreensão da ação

➢ Personagens da crónica de costumes


João de Ega, Conde de Gouvarinho Condessa de Gouvarinho Craft Cruges Dâmaso Cândido
de Salcede Eusebiozinho Silveira Tomás de Alencar Jacob Cohen Raquel Cohen Palma
«Cavalão» Neves Sousa Neto Steinbroken Taveira, Marquês de Souselas. abade Custódio, as
irmãs Silveira

● Visão global da obra e estruturação: título e subtítulo;


O título da obra remete-nos para a história de uma família, os Maias, e consequentemente
para um período temporal longo, contribuindo para a complexidade das diversas ações.
Após a referência inicial ao ano de 1875, o narrador organiza o discurso de modo a
apresentar a família:
> referência a Caetano da Maia (pai de Afonso);
> apresentação, em analepse, da vida de Afonso da Maia (pai de Pedro);
> apresentação, em analepse, da vida de Pedro da Maia (pai de Carlos e Maria
Eduarda);
> narração da vida de Carlos e Maria Eduarda da Maia (bisnetos, netos e filhos, de

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acordo com a respetiva ordem da árvore genealógica da família).

Caetano da Maia fora adepto de D. Miguel: «Caetano da Maia era um português


antigo (…), dera ele o seu amor ao senhor infante D. Miguel», o que significa que
fora adepto do Absolutismo, em Portugal.
Afonso da Maia integra-se na geração de 1820, adepto de ideais do Liberalismo, o que
levava o pai a acusá-lo de ser jacobino.
Pedro da Maia faz parte da geração de 1840, aquando do início da Regeneração.
Carlos da Maia (e Maria Eduarda) já fazem parte da geração de 1870 por isso, podemos
inferir que é a época contemporânea do autor do romance.

O subtítulo do romance é «Episódios da vida Romântica», remetendo-nos para os episódios


da crónica de costumes e, consequentemente, para a crítica social. Não podemos, contudo,
associar diretamente o subtítulo ao Romantismo, porque, na verdade, o narrador tem uma
intenção satírica muito mais abrangente, incidindo sobre várias facetas da sociedade
portuguesa oitocentista.

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Sonetos Completos - Antero de Quental
● A angústia existencial
O desejo de alcançar um Bem Maior, um mundo perfeito e a frustração de não conseguir;
A luta interior entre Sentimento versus Pensamento;
Complexidade interior; luta entre a extrema Imaginação {entusiasta e hiperbólica, que o leva
a ilusões e quimeras) e a Razão (a lógica crítica que o faz consciente);
Por não haver equilíbrio entre estas dicotomias, o seu Ser é arrasado pelo pessimismo, pela
impotência;
A angústia transforma-se em estoicismo (opção por sofrer por não ter outra alternativa);
Antero nunca consegue deixar de ser o poeta nem o filósofo, por isso é constantemente
crítico de tudo e de si mesmo e daqui se compreende a sua angústia existencial, o seu viver
desequilibrado.

● Configurações do Ideal
O Ideal é sempre algo Perfeito, Absoluto, Eterno, é o seu «Palácio da Ventura», o Inatingível
(daí a frustração/angústia existencial);
As religiões não lhe chegam porque Deus, que conhece, não assume para Antero essa
Perfeição, esse Absoluto, o não sentir, o não pensar, o Bem imaterial;

● Linguagem, estilo e estrutura:


○ O discurso conceptual
A poesia como prolongamento ou complemento da reflexão filosófica.
Materialização da palavra em conceito (muitas vezes maiusculizada).
Complexidade e abstração de conceitos.

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Discurso dialogado com personagens alegóricas: ideia, razão, noite, morte.


Eixo horizontal (relação Eu/Mundo) e vertical (Eu/Deus).

○ O soneto;
Os Sonetos estão divididos em ciclos, sem título algum, apenas com data, correspondendo
às fases cronológicas da vida do autor, ficcionadas ou não.
Influência de Camões e de Bocage.
Estilo clássico: unidade de conteúdo (uma só ideia desenvolvida em partes e resumida num
final); simplicidade na forma; coerência entre quadras e tercetos (rigorosa coerência literal
que a «unidade final» põe em destaque).

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Cânticos do Realismo - Cesário Verde
○ A representação da cidade e dos tipos sociais.
A cidade como símbolo da opressão da vida burguesa. A cidade moderna – atração e
repulsa.
A rua – lugar de representação das injustiças sociais. Análise social e dissecação dos tipos
sociais. Nesses lugares, dá-nos a ver os membros do povo que trabalham na urbe, em
condições físicas muito duras e até desumanas. Destacam-se populares, tais como
calceteiros. varinas, mestres carpinteiros, a vendedora de hortaliça, entre outros.
Solidariedade com os mais frágeis.

○ Deambulação e imaginação: o observador acidental.


À medida que vai a caminhar da sua casa até à loja onde trabalha com o seu pai, Cesário
Verde vai registando no seu olhar tudo quanto vê (lugares, pessoas, sensações). Por vezes,
passa da realidade que vê àquilo que ela lhe lembra e, então, vamos para o plano da
imaginação. Prova desse plano imaginativo é o conjunto de verbos que o transportam do
visível para o imaginário.

○ Perceção sensorial e transfiguração poética do real.


Apreensão da realidade através dos sentidos. A cor, a luz, o movimento, o cheiro, o som e o
paladar estimulam e inspiram. Juntando às sensações um toque de imaginação poética e de
pintor. Cesário transforma mentalmente vegetais e frutos (entre outros) em partes do corpo
humano.

○ O imaginário épico (em “O Sentimento dum Ocidental”):


Trata-se de um poema longo, dividido em quatro partes: «Ave-Marias», «Noite fechada»,
«Ao gás» e «Horas mortas». Segundo as marcas do género épico, nele Cesário Verde faz
brotar críticas e louvores às qualidades e potencial lusitanos (muito associados ao período
dos Descobrimentos e de Camões), isto é, escolhe um tema de interesse universal (glórias
conseguidas com as Descobertas), cantado com linguagem erudita. Consciente das injustiças

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sociais que testemunha ao circular por Lisboa, especialmente as que opõem os muito ricos
aos muito pobres, Cesário Verde apela a um futuro glorioso construído no presente século
XIX e respetivo futuro.

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12.º Ano
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Poesia lírica do ortónimo - Fernando Pessoa


● O fingimento artístico.
O ortónimo escreve de acordo com o seguinte processo: sente, pensa sobre o que sentiu
(pensamento, razão, «fingimento» - que não é mentira, mas intelectualização e
transformação mental do que sentiu) e, só no final, escreve. Portanto, o que está escrito não
é o resultado de uma sensação pura, mas de uma Já transformada pelo pensamento (“fingir
não é mentir”)

● A dor de pensar
Esta «dor de pensar» nada mais é do que o sofrimento que o poeta adulto sente por ter uso
da razão o “e da consciência. Ora, tal consciência dá-lhe a visão do que é negativo e
aflitivo/sofrível na vida humana. Por isso mesmo, deseja não pensar e manter a inconsciência
de uma criança, de uma pessoa ignorante, inculta, de um não poeta, de um gato, entre
outros.

● Sonho e realidade
Estes dois mundos são sempre apresentados ao leitor (porque sentidos assim pelo poeta)
em contraste/oposição. O «sonho» é regra geral, conotado com Ideal, Liberdade, Perfeição,
Plenitude. A realidade é o factual, o inevitável, o quotidiano físico em que vive o poeta e que
lhe causa frustração, o sofrimento e desequilíbrio.

● A nostalgia da infância
A infância é um período de vida recheado de momentos felizes, plenos e maravilhosos, onde
não tinha deveres nem direitos, onde era inconsciente, inocente. Porém, sendo trazida por
um som, uma visão ou sensação, a referida infância vem intensificar o contraste entre um
passado longínquo e um presente (idade adulta), tão próximo do poeta quanto fonte de
problemas. Por conseguinte, ao recordar esse passado infantil, o poeta evoca espaços,
pessoas e vivências que hoje, para sua tristeza e imensa saudade, são apenas memórias, não
factos.

● Linguagem, estilo e estrutura:

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A escrita de Pessoa ortónimo integra os temas acima apresentados, recorrendo


frequentemente a formas da lírica tradicional (quadras e quintilhas em redondilha menor e
maior), a um vocabulário e construção sintática simples c a um conjunto de recursos
expressivos típicos do seu estilo.

Poesia dos heterónimos - Fernando Pessoa

Alberto Caeiro
● O fingimento artístico: o poeta «bucólico»
Camponês desprovido de educação literária, não gosta de estar no meio das pessoas.
Aprecia a solitude e o silêncio dos ambientes rurais, a natureza e a profissão diretamente
ligada a ela, uma vivência tranquila no tempo presente. A Simplicidade e felicidade
primordiais.

● Reflexão existencial: o primado das sensações


Caminho, deambulação pela natureza.
Sensacionismo: sente apenas o que lhe é dado sentir por meio dos cinco sentidos, nada
mais, a sensação sobrepõe-se ao pensamento. Sensações vividas como se fossem as
primeiras.
Ausência total de pensamentos de filosofia. Tem uma observação objetiva da realidade.
Rejeitando o pensamento abstrato e da intelectualização.

● Linguagem, estilo e estrutura


Estilisticamente revela uma certa infantilidade e simplicidade.

Ricardo Reis
● O Fingimento artístico: o poeta «clássico»
Adota o epicurismo: demanda da felicidade e do prazer relativo; indiferença perante as
emoções excessivas e preferência pelo estado de ataraxia (serenidade e ausência de
perturbação ou inquietação). E o Estoicismo: aceitação das leis do Tempo e do Destino;
resignação perante a frágil condição humana e o sofrimento; culto da autodisciplina e da
abdicação voluntária de sentimentos e compromissos.
Acredita no destino como força superior aos próprios deuses, ao qual ele se submete; no
carpe diem (fruir o momento com moderação). Contemplação da Natureza e desejo de com
ela aprender a viver; afastamento social e rejeição da proatividade.

● Reflexão existencial
Consciência da efemeridade da Vida, da inexorabilidade do Tempo e da inevitabilidade da
Morte.
Tragicidade da vida humana.
A vida como «encenação» da hora fatal (previsão e preparação da morte): despojamento de
bens materiais, negação de sentimentos excessivos e de compromissos.

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Intelectualização de emoções e contenção de impulsos.


Vivência moderada do momento (o presente como único tempo que nos é concedido).
Preocupação obsessiva com a passagem do Tempo e com a inevitável Morte (apesar do
esforço empreendido na construção da máscara poética).

● Linguagem, estilo e estrutura


Tem um discurso intelectualizado e um vocabulário culto, recorrendo a recursos expressivos.

Álvaro de Campos
● O fingimento artístico: o poeta da modernidade
Canta entusiasticamente a civilização industrial, numa euforia que leva o sensacionalismo ao
paroxismo.

● Reflexão existencial
Tendo plena consciência do tempo, sabe que não poderá recuperar o passado, mas evoca o
insistentemente, muito em particular a infância, que é o objetivo de uma nostalgia
decorrente da sua irrecuperabilidade.

● O imaginário épico
Louvor aos progressos da ciência, como fundamentais na mudança do Passado para o
Futuro; Escrita desenfreada e permeada de exageros motivados pelas sensações novas e
vibrantes de um mundo novo, com novas máquinas, navios, automóveis, engrenagens.

● Linguagem, estilo e estrutura


Verso livre e, normalmente, longo.
irregularidade estrófica, rítmica e métrica.
Linguagem simples, objetiva, incluindo vários registos de língua.

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Mensagem (Poesia épica) - Fernando Pessoa
● O Sebastianismo
Mito reavivado e alimentado por Fernando Pessoa perante a necessidade de
reerguer Portugal sendo urgente que outros tomem o sonho que moveu outrora D.
Sebastião, que, transformado em messias redentor, conduzirá os portugueses à
construção de um novo império. Podendo revelar poder, ânimo e esperança de que
os portugueses dos séculos seguintes pudessem imitar a valentia, a luta e o
patriotismo do rei jovem, fazendo de Portugal uma nação novamente grandiosa.

● O imaginário épico:
○ natureza épico-lírica da obra

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Mensagem, no seu lado épico exalta Portugal conquistador, descobridor e lutador,


qualidades que o levaram a feitos gloriosos à escala universal. Enquanto o lirismo
acompanha estes feitos porque Pessoa os comenta, verbalizando ideias e
sentimentos críticos: os portugueses podem continuar a ser grandes obreiros de
Glória, não já de descoberta geográfica, mas de «descobertas» intelectuais,
científicas e espirituais, formando um novo império.
«O quinto Império» - Império construído na esfera de uma identidade cultural, um
império que a vontade e a esperança transformadora. Império civilizacional, de paz
universal, espiritual, tendo como centro Portugal, que pressupõe o regresso de um
Messias: o D. Sebastião mítico, coordenada simbólica da sua edificação. Este império
será império espiritual, cultural, de fraternidade humana, de Paz Universal.

○ estrutura da obra
estrutura tripartida – «Brasão», «Mar Português» e «O Encoberto» – que se pode
associar ao ciclo de vida da Pátria: os fundadores ou o nascimento; a realização ou a
vida e o fim/morte/ressurreição, anunciando um novo ciclo que corresponde à
possível vinda do Quinto Império. Obra dividida em 3 partes. Primeira – os
fundadores da nação, desde a Antiguidade até ao final da Idade Média (nascimento).
Segunda - o tempo magnífico dos Descobrimentos, expansão e afirmação do
império (vida). Terceira - O Presente e o Futuro de um Portugal envolto em inércia,
marasmo, apatia e indiferença, ou seja, o fim ou decadência (morte → renascimento).

○ dimensão simbólica do herói


Herói: aquele que se eleva acima da medida humana comum na defesa de um ideal,
pela sua energia, coragem e sabedoria.
Mito: conjunto de valores que não tem tempo nem espaço, contrariamente ao facto
histórico concreto, e que tipifica uma situação existencial comum a um povo.
Transformação do mito em História: o modo como recria e sonha a vida de um
grupo.
Reconhecimento de um povo nos seus mitos: contributo para a construção de uma
memória coletiva e de uma identidade própria, aspetos que prefiguram também um
futuro comum.
Dois tipos de herói:
> o que age por instinto sem apresentar consciência do alcance dos seus atos no
futuro;
> voluntário, consciente dos seus atos e de ter cumprido um dever contra o Destino.
Aspeto comum aos heróis: encontram-se envoltos por um misticismo de algo a
cumprir, existem em função do futuro que nebulosamente prenunciam.

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○ exaltação patriótica.
A exaltação patriótica de Mensagem surge, antes de mais, pela recuperação que
Pessoa faz de toda a História de Portugal desde os mitos iniciais, passando pela
Idade Média, pelo período histórico e os seus correspondentes heróis - Os
Descobrimentos, glória universal que exalta Portugal, chegando ao Portugal do
século XX, a quem Pessoa tenta reavivar e estimular. Por outro lado, e num nível de
interpretação simbólica da Pátria, Fernando Pessoa dedica-se, em Mensagem, a dar
uma visão esotérica, misteriosa e oculta dos factos e das personagens, oferecendo
aos seus contemporâneos exemplos que os motivem a atingir um novo «império», o
«Quinto Império», de inteligência posta ao serviço do avanço da humanidade, desta
feita com o cunho português. Trata-se de uma espécie de novos reis «D. Sebastião»
e «descobridores» simbólicos e atuantes ao nível do intelectual e espiritual. Estes
dois níveis, por si mesmos, exaltadores da Pátria portuguesa.

● Linguagem, estilo e estrutura:


Pessoa constrói textos em que desvaloriza a narração e a descrição dando antes
relevo ao pensamento numa linguagem simbólica.

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Contos
● Linguagem, estilo e estrutura
O conto define-se como um género narrativo, de relato curto, homogéneo e linear, através
dos qual se narram sucessos fictícios. Os contos têm mais ou menos um desfecho
imprevisto, têm bastantes diálogos, com um número reduzido de personagens.

“George”, de Maria Judite de Carvalho


● As três idades da vida
Passado - juventude —► Gi: a obediência aos pais: o conflito de gerações - pais incultos e
ligados à terra natal versus filha ambiciosa que quer uma vida melhor e liberdade, por isso
emigra, deixando tudo para trás.
Presente - Idade adulta —► George: o tempo atual, de realização pessoal, profissional e
amorosa (George conseguiu ter sucesso como pintora, o que lhe deu bons rendimentos/
dinheiro e liberdade para ir vivendo os seus amores).
Futuro - Velhice—► Georgina: o que considera «um crime» - «o único sem perdão», pois o
espelho será implacável e dir-lhe-á a verdade: está fisicamente enrugada, sozinha, impedida
de pintar e vive até à morte na sua «casa mobilada».

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● O diálogo entre realidade, memória e imaginação


- Memória: lembranças do passado, da sua antiga vida, da família; outras lembranças
que vão desaparecendo, à medida que o comboio se afasta da estação onde entrou.
Lembranças no futuro, prevendo-se velha e refletindo sobre o que terá acontecido
dos 45 até aos cerca de 70 anos.
- Realidade: George com 45 anos a fazer a viagem de comboio até à sua terra natal em
Portugal. George no regresso a Amesterdão.
- Imaginação: apesar de fisicamente não conversar com Gi nem com Georgina, da sua
imaginação resulta a verdade de uma realidade - a vida nas suas três grandes idades:
juventude, idade adulta e velhice. É a partir desta relação Imaginação e Realidade que
Maria Judite de Carvalho consegue caracterizar cada uma dessas fases da vida,
totalmente reais e irreversíveis.

● Metamorfoses da figura feminina


As transformações físicas de George, que refletem diferentes estados psicológicos e
existenciais, acompanham as várias fases e facetas da sua vida adulta, podemos verificar isto
na partida da vila e concretização do sonho de ser pintora, na alteração de visual, a
inconstância amorosa, e nas mudanças frequentes de residência.

● A complexidade da natureza humana


As relações interpessoais (sociais e familiares).
A introspeção e a avaliação do projeto e percurso de vida.
A relativização do sucesso e do fracasso.
A fragmentação do eu, a passagem do tempo, a solidão e a morte.

“Famílias desavindas”, de Mário de Carvalho


● História pessoal e história social: as duas famílias
- A família Bekett e a família de Ramon: a sucessão de pais, filhos, netos e bisneto;
cada personagem com as suas características psicológicas. Os galegos são
competentes e dedicados, amam a sua profissão, são imigrantes no Porto. Os Bekett
são médicos, abastados. ociosos e maldosos.
- A família Bekett e a família de Ramon: movendo-se pela História Universal - Primeira
Grande Guerra; Segunda Grande Guerra; 25 de Abril de 1974; «um dia destes», ou
seja, tempo presente.

● Valor simbólico dos marcos históricos referidos.


- «No dobrar do século XIX» - tempo de avanços na indústria e na tecnologia, mesmo
que ridículos (e conseguidos graças à corrupção), como este semáforo.
- Primeira Grande Guerra e Segunda Grande Guerra: impedindo o desenvolvimento,
dado que. simbolicamente, o semáforo permanece. E na Primeira Grande Guerra que

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se atribui o cargo de semaforeiro a Ramon, também é o começo da história das


desavenças. A Segunda Grande Guerra dá continuidade à História Universal, bem
como a partir dela se dá continuidade às famílias desavenças.
- 25 de Abril de 1974: É em tempo de democracia (anos mais tarde) que se dará a
peripécia final e o início da amizade.
- Tempo presente «um dia destes», o início da amizade, a amizade e o perdão entre as
duas famílias simbolizam a fraternidade e a união necessárias ao mundo e à
sociedade atuais

● A dimensão irónica do conto.


«um autarca do Porto» subornado com vinho de Bordéus para trazer um projeto ridículo à
cidade (já recusado por Paris e Lisboa).
Concurso cómico que procurava «concorrentes [que] soubessem andar de bicicleta»,
acabando por contratar «um galego chamado Ramon, que era familiar do proprietário dum
bom restaurante e nunca tinha pedalado na vida.».
Os médicos ignorantes, arrogantes e maliciosos: o pai Bekett andava pelas ruas, tentando
chamar clientes, inventando-lhes supostas doenças; o filho, Dr. João, que orientava sempre
os doentes para um colega porque sabia que o seu diagnóstico era errado; o neto. Dr. Paulo,
que desenrolava teorias decoradas e memorizadas, mas nada sabia de prática médica.
A herança de desencontros e incidentes do passado, que leva a inimizades e a ódios ilógicos,
situação que afeta não só estas famílias, mas sociedades e nações à escala global.

● A importância dos episódios e da peripécia final.


Tudo se originou com a não aceitação por parte do DR. João Pedro Beckett da regulação do
trânsito dos peões pelo semáforo pedal comandado pelo galego Ramon sendo assim o
Ramon aborrecido com a atitude do médico começou a dificultar-lhe a travessia da rua.
O Incidente final é o desencadeado pela alteração desta eterna desavença entre as duas
famílias. Assim, após ter sido deixado ferido no chão, por um assaltante, Paco é levado para
o hospital e substituído pelo agora amigo, Dr. Paulo. Se um incidente inicial deu origem a
uma inimizade de várias gerações entre semaforeiros galegos e médicos portugueses, assim
também outro incidente final originou a reconciliação e amizade entre estas duas famílias
não mais «desavindas».

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POEMAS DE POETAS PORTUGUESES CONTEMPORÂNEOS


● Representações do contemporâneo
A sociedade do início do século XX - denúncia dos horrores das guerras, luta pela liberdade,
a natureza, representações do quotidiano, a igualdade de género.
Futurismo e contemporaneidade; indústria, cinema, literatura, escrita.

● Tradição literária

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Abordagem de temas: o amor (espiritual e físico); a nostalgia da infância; a natureza; a


complexidade da natureza humana; o estoicismo; físico e metafísico ou transcendente
(vida/além-vida); o quotidiano; a crítica sociopolítica;
Poesia de temática lírica amorosa por excelência, na esteira da poesia de tradição oral e de
Camões sobretudo.
Poesia que privilegia a temática amorosa, inscrevendo-se na longa tradição da lírica
amorosa, mas que dela se distancia pela inovação formal e pelas associações inusitadas.
Aborda as contradições, que explora, a luta insensata com o mundo.

● Figurações do poeta.
O poeta fragmentado/despersonalizado, o sofredor, o ser pensante, a consciência/
inconsciência, a razão/o pensamento.
O poeta é homem revoltado, desiludido e inconformado com o mundo que o rodeia ou o
poeta como um ser empenhado socialmente.

● Arte poética
A dureza inerente ao ato de escrever;
O poema como parte do próprio corpo humano;
O poema como espelho da Natureza, das sensações;
O poema como fruto da confluência a interartes e interciências
O poema como arma ao serviço de denúncia da liberdade

O Ano da Morte de Ricardo Reis - José Saramago


● Representações do século XX: o espaço da cidade, o tempo histórico e os
acontecimentos políticos
- O espaço da cidade:
A cidade que se assume ser o espaço central neste romance é Lisboa, aonde Ricardo Reis
chega vindo de barco do Brasil. Por Lisboa, Ricardo Reis deambula geograficamente e
literariamente. Nela exerce a sua profissão (médico). Nela tem a sua morada (Hotel Bragança
e, depois, apartamento no Alto de Santa Catarina). Nela se encontra com Fernando Pessoa.
Nela testemunha acontecimentos históricos e políticos relativos ao último mês de 1935 e a
todo o ano de 1936 (em plena Ditadura Salazarista e em pleno poder da PVDE). Nela vive o
seu triângulo amoroso: Lídia-Ricardo-Marcenda. Em suma, é a partir do protagonista e da
sua vida em Lisboa que percebemos como era Portugal no final de 1935 e, sobretudo, em
1936.

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● o tempo histórico e os acontecimentos políticos


A Europa: Ditaduras militares - Fascismo em Espanha. Itália, Alemanha e Portugal.
Portugal: o Estado Novo - Ditadura Fascista, encabeçada por António de Oliveira Salazar, que
manipulava o Presidente da República. Óscar Carmona

● Deambulação geográfica e viagem literária.


A deambulação geográfica catalisa a viagem literária.
Monumentos, ruas, o rio Tejo, a população lisboeta sugerem escritores e ficções literárias.
Encontros com o fantasma de Pessoa proporcionam discussões de índole filosófica, literária,
existencialista…
Revisitação da própria obra de Ricardo Reis.
Lisboa: Recuperação de uma Lisboa paisagística, em que mortos e vivos circulam.
Mapeamento geográfico e social do centro urbano da metrópole. A deambulação sugere um
jogo de realidade/irrealidade: itinerários reais definidos versus recriações labirínticas e
simbólicas da cidade.

● Representações do amor.
O amor neste romance assume a forma de triângulo amoroso entre Lídia, Ricardo e
Marcenda. Se por Lídia, criada de hotel, empregada doméstica, esta simboliza o amor
incondicional, desinteressado e libertador, por quem Reis nutre sentimentos carnais, ainda
que a respeite pela sua inteligência, já por Marcenda sente amor matrimonial que acaba por
não ser correspondido, esta simboliza o amor imaterial e impossível de se concretizar.
Ricardo Reis tem uma incapacidade de decisão e de adaptação ao mundo real: não vive
plenamente nenhum destes casos amorosos; acobarda-se perante a gravidez de Lídia e de
perfilhar o filho; escreve um poema a Marcenda, sem revelar a sua identidade de poeta.

● Intertextualidade: José Saramago, leitor de Luís de Camões, Cesário Verde


e Fernando Pessoa.
Evocação, mais ou menos explícita, da lírica e épica camonianas, da poética de Cesário Verde
(sobretudo de O Sentimento dum Ocidental) e do universo literário pessoano (ortónimo,
heterónimo e semi-heterónimo).
Intertextualidade recorrente através de: imitação criativa, alusão, paráfrase e paródia.

● Linguagem, estilo e estrutura:


○ a estrutura da obra
O Ano da Morte de Ricardo Reis é um romance dividido em 19 capítulos, não numerados
graficamente.
Desde o final do ano de 1935 e ao longo do ano de 1936, temos como protagonista Ricardo
Reis.
Em O Ano da Morte de Ricardo Reis, há duas partes narratológicas a ter em conta: os
encontros/diálogos com Fernando Pessoa e a deambulação/itinerários que Reis faz por
Lisboa (maioritariamente) e Fátima (uma única vez). Nos dois casos, encontramos ocasiões

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para reflexões sobre a cidade (espaço), a História (tempo histórico), a Política (fascismos
europeus e revoluções), a Literatura, as personagens, a intertextualidade e a crítica (por meio
do narrador omnisciente).
○ o tom oralizante e a pontuação
Tom oralizante (registo de língua popular) c pontuação expressiva (frases longas, separadas
por vírgulas e pontualmente por pontos finais, parágrafos igualmente longos, discurso direto
antecedido por vírgula e encetado com letra maiúscula);
○ reprodução do discurso no discurso.
No discurso politicamente correto de políticos e analistas, recuperado pelo narrador
omnisciente dos jornais portugueses e estrangeiros;
no discurso do narrador, que parafraseia discursos de outras personagens e de políticos;
no discurso de emissoras de rádio (RCP);
no discurso de anúncios publicitários (Bovril é disso exemplo) ou de placas que anunciam
lojas e casas de interesse público.

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