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10.º Ano
POESIA TROVADORESCA
○ Contextualização histórico-literária
A poesia trovadoresca situa-se na idade média, quando se deu a formação das cortes
senhoriais e o desenvolvimento da corte régia, um momento marcado pelo nascimento das
nacionalidades ibéricas e pela Reconquista Cristã. Estas poesias foram elaboradas em
galego-português por um conjunto de trovadores e jograis; o que possibilitou a produção
cultural nobre, de poesia lírica (lirismo medieval se associar à música: a poesia era cantada,
ou entoada, e instrumentada) e satírica, com as suas cantigas de amigo, de amor, de
escárnio e maldizer.
Cantigas de amigo
● Tema
As cantigas de amigo são composições poéticas nas quais o sujeito poético é uma donzela
apaixonada, saudosa, inocente e, muitas vezes, ingénua, que, dirigindo-se à mãe, às amigas
ou à natureza como confidentes, exprime os seus sentimentos face à ausência do seu
amado, a sedução do amigo através da dança e os encontros com o amado.
Estas cantigas falam da vida amorosa da donzela, são designadas de amigo, pois, em geral, a
palavra amigo aparece com o significado de pretendente ou namorado.
O trovador imaginava os sentimentos de jovens donzelas apaixonadas e escrevia como se
fosse uma mulher enamorada pelo seu amigo.
● Ambiente
Doméstico (a casa), rural (a fonte, o campo, igreja).
● Confidência amorosa
Diálogos com a Mãe, as irmãs, as amigas ou ainda a Natureza sobre os seus sentimentos do
momento relativamente ao amado presente, ou ausente. Monólogos de verbalização do
sentimento amoroso, feliz ou frustrado.
● Caracterização formal
Do ponto de vista formal, as cantigas de amigo são constituídas por estrofes breves, nas
quais predominam repetições, genericamente designadas de paralelismo. Nas cantigas de
amigo, encontram-se geralmente repetições com a função de refrão.
A nível semântico, muito frequentemente com a utilização de sinónimos. A cantiga
paralelística com refrão. Nestas cantigas, as estrofes são constituídas por dísticos que se
repetem uma vez com variações mínimas. Sendo o último verso de cada par de estrofes
retomado no par de estrofes seguinte.
Cantigas de amor
● Tema
— Coita de amor: o “eu” poético assume o sofrimento amoroso, por motivos vários, um
deles é por não ter a atenção da amada.
— Amor cortês: é a expressão de sentimentos por parte do amador que adota uma atitude
servil ou de vassalagem em relação à amada. O alvo das Cantigas de Amor é sempre a
mulher da Nobreza ou da Corte, cujo estatuto social confere-lhe um certo endeusamento;
para a cantar, o trovador segue as regras da «mesura» ou do cortejar da dama, com
linguagem formal e respeito evidentes.
Nas cantigas de amor, é no ambiente aristocrático que podemos entrever a aspiração do
trovador a uma mulher inatingível, a «senhor», que, por vezes, era casada ou de condição
social superior. Por isso, o trovador imaginava a dama como um suserano e coloca-se numa
posição submissa de vassalagem, evidenciando a coita (sofrimento) e prometendo-lhe amor.
● Ambiente
Cortês, aristocrático.
● Caracterização formal
Número variável de estrofes/de rimas; por vezes têm refrão, mas nem sempre acontece;
existe progressão de sentido.
● Tema
Cantigas onde o trovador troça de uma determinada pessoa indiretamente, recorrendo ao
duplo sentido e à ambiguidade das palavras, à ironia, à alusão e à sugestão jocosa.
Cantigas de maldizer Cantigas onde o trovador ridiculariza determinada pessoa diretamente,
criticando situações de adultério, amores interesseiros ou ilícitos, entre outros.
● Dimensão satírica
- Paródia do amor cortês: louvor à mulher amada (nobre, cortesã ou real), mas com
ironia e sarcasmo, exaltando as suas faltas, os seus defeitos e as suas características
físicas ou de personalidade, que o autor quer denunciar; crítica ao tópico muito
frequente do fingimento da morte de amor.
- Crítica de costumes: toda a sociedade medieval é alvo de críticas: mulheres e
homens do povo (de várias profissões ou até mesmo outros jograis); nobres,
religiosos; o próprio rei, assim como todos aqueles que o trovador entender criticar
sarcasticamente pela denúncia de escândalos e perversidades.
● Caracterização formal
Críticas através de sátiras e sarcasmos; recurso a calão; trocadilhos e seleção de vocábulos
que surtem efeitos cómicos.
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que povo e burguesia acorram ao Paço da Rainha, agindo solidariamente e com uma
consciência coletiva.
O povo age solidariamente, revelando união e coesão em defesa da causa do Mestre de
Avis.
O cronista evidencia a força da consciência popular que defende a independência nacional,
de armas nas mãos, opondo-se a camadas populares, designadamente a alguns nobres que
assumiam a defesa do rei castelhano.
O povo é sujeito da História, sente-se senhor da terra onde vive e que foi conquistada pelos
seus antepassados, ganhando, por isso, uma consciência coletiva na sua defesa, porque
sente que a pátria é um direito inaliável.
● Atores
— Coletivo:
— Individual:
D. João, Mestre de Avis: Líder carismático e determinado, que se preocupa com a defesa do
reino e o bem coletivo. Mata o Conde de Andeiro, nos Paços da Rainha, fazendo supor que
era ele a vítima de um ataque traidor. Fernão Lopes atribui-lhe o mérito de se oferecer para
ocupar o lugar de regedor e defensor do reino, o que parece ser mais um risco do que um
privilégio.
Pajem do Mestre: Defensor da causa do Mestre, informa e incita o povo, gritando pelas ruas
de Lisboa que alguém quer matar o Mestre. É um «homem bom», que sabia manejar o povo
de Lisboa e gozava de bom ascendente sobre a burguesia e o povo.
Álvaro Pais: Agitador do povo, clamando que alguém quer matar o Mestre nos Paços da
Rainha, revelando-se determinado.
D. Leonor Teles: Rainha ambiciosa e determinada, designada como aleivosa pela relação que
mantinha com o Conde de Andeiro.
Nuno Álvares Pereira: É um herói com um forte pendor místico. A par da sua faceta espiritual
e do virtuosismo que o rege, distingue-se pela determinação, coragem, perspicácia e
lealdade.
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- Pero Marques: lavrador abastado, rico, honesto, mas rude, puro em sentimentos.
- Escudeiro (Brás da Mata): fidalgo pobre, vive das aparências, ambicioso e maldoso. Antes
do casamento é simpático, após o casamento passa a ser intolerante e repressor.
- Moço (Fernando): servo miserável, que ficará à sua sorte depois da morte do seu senhor
- Ermitão: falso religioso, castelhano enamorado de Inês, com ela terá relações adúlteras
- Inês - Mãe: apesar de obedecer à Mãe. Inês protesta e reclama da sua condição de solteira
inútil; não segue os seus conselhos e recusa casar com Pero Marques, numa fase inicial. A
Mãe assume sempre uma atitude crítica, mas paciente, com ela.
- Inês - Escudeiro: movida pelo desejo cego de se casar com um membro da nobreza. Inês
aceita o Escudeiro como marido, neste casamento ela é oprimida, sofredora e revoltada. Esta
escolha errada será solucionada com a morte de Brás da Mata.
- Inês - Pero Marques: recusado no início por ser inculto e brejeiro, Inês aceita Pero como o
seu marido e, a partir daí, conseguirá ser feliz, enganando-o e pondo-o ao serviço dos seus
prazeres. O bom Pero Marques concretiza todos os seus desejos. Apesar de Inês acabar por
se vingativa adultera e desrespeitosa, já que tinha um marido ingénuo.
● A representação do quotidiano
● A dimensão satírica
Gil Vicente apresenta a sociedade do seu tempo, criticando os vícios e os defeitos dos seus
contemporâneos, nomeadamente a hipocrisia e a oposição entre o ser e o parecer. Satiriza a
sociedade, retratando-a por personagens que representam estratos sociais e alguns aspetos
negativos dessa época.
As características do texto dramático, visíveis nesta farsa: não existem divisões cénicas
explícitas, embora seja possível detetar três momentos principais da ação: Inês solteira, Inês
casada, Inês viúva e novamente casada: existe um número variável de cenas, as quais
mudam sempre que entram ou saem personagens
Farsas: género cómico, satiriza aspetos da vida pessoal quotidiana das várias classes sociais;
este texto dramático possui um número reduzido de personagens.
Esta farsa retrata a vida quotidiana de uma jovem moça, em idade de casar, arrogante que
pretende um marido culto e nobre. Após defraudada nas suas expectativas para com o
Escudeiro, o seu primeiro marido, fica viúva, voltando a casar, desta vez. Com Pero Marques.
Deste quotidiano fazem igualmente parte a Mãe, a amiga alcoviteira Lianor e os criados de
casa.
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● A representação da amada
Aimagem dos sonetos, geralmente pertencente a uma classe social alta (nobreza /
aristocracia / Coroa), portanto, mulher palaciana; pele branca, olhos claros (azuis ou
verdes), cabelos louros, indumentária elegante; superior em relação ao sujeito
poético, seu submisso; relacionamento platónico (sem contacto físico). Era o símbolo
de perfeição.
● A representação da Natureza
Sujeito poético dividido entre o fascínio do amor platónico/ espiritual vs. a atração
por um amor carnal. A ausência da amada, origina o sofrimento, saudade, ânsia por
um reencontro físico. A experiência de uma vida amorosa fracassada que poderá
explicar a influência do amor de conceção platónica.
● O tema do desconcerto
● O tema da mudança
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Luís de Camões propõe-se narrar em verso a viagem marítima dos portugueses desde
Portugal até à Índia. Neste sentido, afirma que contará os feitos gloriosos dos navegadores,
os quais dizem respeito não só à navegação e à descoberta de novas terras ultramarinas,
mas também à conquista de povos africanos e asiáticos. O poeta acrescenta que os feitos
históricos serão para sempre recordados como maiores do que os dos heróis da Antiguidade
Clássica.
ο Sublimidade do canto
Para conseguir cantar e louvar os feitos gloriosos dos portugueses nesta sua epopeia.
Camões recorre às ninfas do Tejo, as Tágides: invocando-as. pede-lhes que lhe deem
inspiração e linguagem erudita, elevada, sublime, para conseguir igualar a sublimidade dos
feitos dos portugueses, que ele quer deixar famosos por todo o «Universo» (presente e
futuro). Na verdade. faz parte de uma epopeia o uso de vocabulário, frases e estâncias de
estilo formal e de uma eloquência superior. Esta informação encontra-se na «Invocação»
ο Mitificação do herói
ο Reflexões do poeta
Camões exprime as suas opiniões críticas sobre os factos que vai narrando. Assim,
acompanhando a viagem, as conquistas e as proezas gloriosas dos nossos navegadores, o
poeta tece também comentários críticos à ambição desmedida e exagerada por dinheiro e
fama, a faltar cultura e apreço pelas Artes (especialmente a Poesia), ao poder corruptor do
dinheiro e do ouro e aos comportamentos negativos dos portugueses.
- No Canto V, o poeta incide na defesa da conciliação das armas e das letras, aspeto
que se relaciona com a importância que os humanistas atribuíam à formação integral
do indivíduo, num momento em que a aristocracia, empenhada nas trocas
comerciais, descurava o apoio às artes e às letras.
- No Canto VII, o poeta retoma a importância da conciliação das artes e das letras,
numa perspetiva autobiográfica («Nua mão sempre a espada e noutra a pena»), e
manifesta cólera e indignação perante a ingratidão daqueles que ele cantava.
- No Canto VIII, Camões reflete sobre o poder do dinheiro, o vil metal que leva a
mortes, traições, corrupção, tirania e inimizades.
- No Canto IX, o poeta reflete sobre o caminho a percorrer para alcançar a fama e a
imortalidade
- No Canto X, Camões triste fala a uma pátria que despreza as artes e o próprio
Camões. Apelando assim para D. Sebastião liderar os portugueses aos feitos
gloriosos.
- Estrutura externa: A obra contém 1102 estrofes, organizadas em dez cantos, com um
número variável de estrofes, sendo o Canto X o mais longo, com 156 estâncias. As
estrofes são oitavas, em versos decassilábicos heroicos, seguindo o esquema rimático
abababcc, sendo a rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois
últimos.
ο Os quatro planos
- Plano da viagem: ação central - viagem de Vasco da gama à Índia.
- Plano dos deuses ou mitológico: olímpio e os outros.
- Plano da história de Portugal: ação secundaria - narração da história de Portugal.
- Plano das reflexões do poeta. A sua interdependência: as reflexões surgem em
consequência de acontecimentos relatados anteriormente e que suscitam as
considerações que o poeta faz.
ο Estrofe e métrica
O texto está dividido em cantos (espécie de capítulos), com um número variável de estrofes
(conjunto de versos). As estrofes têm 8 versos decassilábicos, sendo a rima cruzada nos seis
primeiros e emparelhada nos dois últimos, com o esquema rimático abababcc.
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11.º Ano
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“Sermão de Santo António” - Padre António Vieira
Sermão é um texto de natureza argumentativa que convence os locutores, levando-os a
adotar determinados comportamentos. Este sermão é alegórico que critica os vícios dos
homens em geral e dos colonos em particular.
● Contextualização histórico-literária
Instabilidade política em Portugal e em outros países europeus, onde os índios e os escravos
tinham 0 direitos. Fuga à expressão simples e imediata. Apologia do dever da sociedade.
Antinomia/valorização do sentimento/manifestação subtil da razão. • intenções de
persuasão dos interlocutores/ouvintes (estes eram chamados a mudar de comportamento e
de vida); recurso a estratégias retóricas e argumentativas, assentes numa linguagem
artificiosa/engenhosa (sempre com intenções de convencer/persuadir).
● Objetivos da eloquência
Captar a atenção dos ouvintes e a sua disponibilidade para ouvir, fazê-los conscientes do
que têm de bom, para o preservar, e do que têm de mau para o corrigir ou emendar, com
isto Viera satiriza, o poder dos brancos maranhenses no meio das desavenças entre a
Companhia de Jesus e os colonos. O sermão tenta docere - ensinar, com o objetivo
moralizador e doutrinário de delectare – deleitar e movere- influenciar, a mudança de
comportamentos.
- Exposição/confirmação
> capítulo II – louvores em geral
> capítulo III – louvores em particular
Inicialmente o orador lamenta que o auditório seja constituído pelos peixes, dado que estes
nunca se converterão. Porem, apresenta os argumentos a favor ou contra os peixes, os quais
representam as pessoas por meio da alegoria. Os peixes são bons ouvintes, são as criaturas
que Deus primeiramente criou, são obedientes, acorrem devotadamente ao chamamento
divino e são pacatos, são prudentes e permanecem afastados, a boa distância, dos homens.
Peixes elogiados e comparados com Santo António:
Peixe de Tobias: simboliza o poder da cura comparado a Santo António, que, pela sua
bondade e amor a Deus e aos homens, afasta os demónios, e pelo seu «fel», as suas
palavras, cura da cegueira, ou seja, tira os seres humanos das trevas da Vida e mostra-lhes a
Luz de Deus (por meio da evangelização);
Rémora: é comparada à língua de Santo António, que se entregou à evangelização dos
povos e nunca se afastou desse objetivo;
Torpedo: a ação evangelizadora de Santo António. pois, tal como o santo, agita a
mente e toca o coração dos outros.
Quatro-Olhos: a qualidade de viver preocupado com as duas realidades da vida
humana, ou seja, preocupações como mundo físico e preocupação como divino.
Fala de como os peixes são arrogantes, falsos e soberbos, o facto de os peixes se comerem
uns aos outros, os grandes comem os pequenos, isto é, o acontece com a exploração dos
pobres e indefesos por parte dos ricos poderosos.
- Peroração
> capítulo VI – conclusão – julgamento
Vieira finaliza o discurso expositivo-argumentativo: reaviva a memória dos ouvintes sobre
virtudes e repreensões com vista à última tentativa de convencer o seu público e de o
influenciar na adoção de um novo estilo de vida, de uma vida mais voltada para o Céu e
menos presa à terra.
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A dimensão trágica
A dimensão trágica vê-se pelo desenrolar dos acontecimentos: D. Madalena de Vilhena casa
com Manuel de Sousa Coutinho sem ter certeza de que o seu primeiro marido, D. João de
Portugal, realmente morreu, como D. Sebastião, na Batalha de Alcácer Quibir. A tragicidade
vai-se desenrolando à medida que os atos se sucedem sendo instalada pelo reconhecimento
(feito por Frei Jorge Coutinho) do Romeiro como D. João de Portugal. A partir daqui a família
será desmembrada, pois, o segundo casamento é inválido e Maria tornada uma filha
bastarda.
Desafio: paixão de D. Madalena, ainda casada com D. João de Portugal, por Manuel de Susa
Coutinho;
Conflito: tormento de D. Madalena, visível logo no início, e a sua intensificação ao longo da
obra.
Peripécia e reconhecimento: a chegada, do romeiro e a descoberta da sua identidade.
Catástrofe: morte de Maria e ingresso de D. Madalena e Manuel de Sousa na vida
conventual.
● Estrutura da obra
ATO I – 12 cenas
- Decorre no palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada.
- D. Madalena encontra-se a ler o episódio de Inês de Castro (Os Lusíadas) na 1.ª cena.
- A ação situa-se no final do séc.XVI e início do XVII.
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● O amor-paixão
A paixão romântica, ou seja, o sentimentalismo quase obsessivo, ou paixão como
sofrimento/desgraça.
Simão e Teresa: amor impossível por causa da família e do degredo de Simão para a índia,
que a ela leva à morte espiritual no convento e, posteriormente, à morte física, e a ele à
morte física.
Mariana e Simão: amor impossível de Mariana por não ser correspondido, que culmina com
a morte física dos dois (morte de Simão por doença e suicídio de Mariana).
Impressa: Crítica à imprensa da época, pela sua parcialidade e falta de rigor, bem como a
sua dependência política. Maledicência sem escrúpulos e pública; Dâmaso escreve n'A
Corneto sobre os amores adúlteros de Carlos e Maria Eduarda; logo de seguida, ameaçado,
desmente n’A Tarde, explicando que escrevera a primeira carta quando estava altamente
embriagado. (Corneta do Diabo: o jornalismo sensacionalista) (A Tarde: a politiquice, a
ausência de ética, a proteção dos correligionários)
Carlos da Maia, depois de uma educação à inglesa, leva uma vida académica
meritória, com a sua parte de boémia e desprendimento em relação às mulheres.
Depois de algumas relações, cai nas malhas do Destino e apaixona-se pela própria
irmã sem o saber. O seu desenlace é bem diferente do de Pedro: depois da culpa e
da vergonha (diante do avô), usufrui da sua fortuna e viaja pelo mundo,
recomeçando a sua vida. Da paixão, do erotismo e da união (quase matrimonial)
resultam a separação e o recomeço.
Carlos da Maia: Nome que indicia desgraça, porque lhe fora atribuído pela mãe que, na
altura do seu nascimento, lia uma «novela de que era herói o último Stuart, o romanesco
príncipe Carlos Eduardo; e, namorada dele, das suas aventuras e desgraças».
Carlos da Maia desafia (hybris) o destino, envolvendo-se com uma mulher que ele supunha
ser casada, cometendo o incesto, primeiro inconsciente e, por fim, consciente, porque já se
tinha dado o reconhecimento (anagnórise) das origens de Maria Eduarda.
➢ Complexidade do tempo:
Tempo da história:
1820-1875: antecedentes da intriga principal. 1875-1877: vida do protagonista. Carlos da
Maia, em Lisboa. 1887: regresso de Carlos da Maia à cidade de Lisboa, depois de dez anos
de viagem.
Tempo do discurso:
Analepses: recuos no tempo. Elipses: ausência de informação sobre determinado período.
Resumos: de acontecimentos necessários à compreensão da ação
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Sonetos Completos - Antero de Quental
● A angústia existencial
O desejo de alcançar um Bem Maior, um mundo perfeito e a frustração de não conseguir;
A luta interior entre Sentimento versus Pensamento;
Complexidade interior; luta entre a extrema Imaginação {entusiasta e hiperbólica, que o leva
a ilusões e quimeras) e a Razão (a lógica crítica que o faz consciente);
Por não haver equilíbrio entre estas dicotomias, o seu Ser é arrasado pelo pessimismo, pela
impotência;
A angústia transforma-se em estoicismo (opção por sofrer por não ter outra alternativa);
Antero nunca consegue deixar de ser o poeta nem o filósofo, por isso é constantemente
crítico de tudo e de si mesmo e daqui se compreende a sua angústia existencial, o seu viver
desequilibrado.
● Configurações do Ideal
O Ideal é sempre algo Perfeito, Absoluto, Eterno, é o seu «Palácio da Ventura», o Inatingível
(daí a frustração/angústia existencial);
As religiões não lhe chegam porque Deus, que conhece, não assume para Antero essa
Perfeição, esse Absoluto, o não sentir, o não pensar, o Bem imaterial;
○ O soneto;
Os Sonetos estão divididos em ciclos, sem título algum, apenas com data, correspondendo
às fases cronológicas da vida do autor, ficcionadas ou não.
Influência de Camões e de Bocage.
Estilo clássico: unidade de conteúdo (uma só ideia desenvolvida em partes e resumida num
final); simplicidade na forma; coerência entre quadras e tercetos (rigorosa coerência literal
que a «unidade final» põe em destaque).
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Cânticos do Realismo - Cesário Verde
○ A representação da cidade e dos tipos sociais.
A cidade como símbolo da opressão da vida burguesa. A cidade moderna – atração e
repulsa.
A rua – lugar de representação das injustiças sociais. Análise social e dissecação dos tipos
sociais. Nesses lugares, dá-nos a ver os membros do povo que trabalham na urbe, em
condições físicas muito duras e até desumanas. Destacam-se populares, tais como
calceteiros. varinas, mestres carpinteiros, a vendedora de hortaliça, entre outros.
Solidariedade com os mais frágeis.
sociais que testemunha ao circular por Lisboa, especialmente as que opõem os muito ricos
aos muito pobres, Cesário Verde apela a um futuro glorioso construído no presente século
XIX e respetivo futuro.
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12.º Ano
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● A dor de pensar
Esta «dor de pensar» nada mais é do que o sofrimento que o poeta adulto sente por ter uso
da razão o “e da consciência. Ora, tal consciência dá-lhe a visão do que é negativo e
aflitivo/sofrível na vida humana. Por isso mesmo, deseja não pensar e manter a inconsciência
de uma criança, de uma pessoa ignorante, inculta, de um não poeta, de um gato, entre
outros.
● Sonho e realidade
Estes dois mundos são sempre apresentados ao leitor (porque sentidos assim pelo poeta)
em contraste/oposição. O «sonho» é regra geral, conotado com Ideal, Liberdade, Perfeição,
Plenitude. A realidade é o factual, o inevitável, o quotidiano físico em que vive o poeta e que
lhe causa frustração, o sofrimento e desequilíbrio.
● A nostalgia da infância
A infância é um período de vida recheado de momentos felizes, plenos e maravilhosos, onde
não tinha deveres nem direitos, onde era inconsciente, inocente. Porém, sendo trazida por
um som, uma visão ou sensação, a referida infância vem intensificar o contraste entre um
passado longínquo e um presente (idade adulta), tão próximo do poeta quanto fonte de
problemas. Por conseguinte, ao recordar esse passado infantil, o poeta evoca espaços,
pessoas e vivências que hoje, para sua tristeza e imensa saudade, são apenas memórias, não
factos.
Alberto Caeiro
● O fingimento artístico: o poeta «bucólico»
Camponês desprovido de educação literária, não gosta de estar no meio das pessoas.
Aprecia a solitude e o silêncio dos ambientes rurais, a natureza e a profissão diretamente
ligada a ela, uma vivência tranquila no tempo presente. A Simplicidade e felicidade
primordiais.
Ricardo Reis
● O Fingimento artístico: o poeta «clássico»
Adota o epicurismo: demanda da felicidade e do prazer relativo; indiferença perante as
emoções excessivas e preferência pelo estado de ataraxia (serenidade e ausência de
perturbação ou inquietação). E o Estoicismo: aceitação das leis do Tempo e do Destino;
resignação perante a frágil condição humana e o sofrimento; culto da autodisciplina e da
abdicação voluntária de sentimentos e compromissos.
Acredita no destino como força superior aos próprios deuses, ao qual ele se submete; no
carpe diem (fruir o momento com moderação). Contemplação da Natureza e desejo de com
ela aprender a viver; afastamento social e rejeição da proatividade.
● Reflexão existencial
Consciência da efemeridade da Vida, da inexorabilidade do Tempo e da inevitabilidade da
Morte.
Tragicidade da vida humana.
A vida como «encenação» da hora fatal (previsão e preparação da morte): despojamento de
bens materiais, negação de sentimentos excessivos e de compromissos.
Álvaro de Campos
● O fingimento artístico: o poeta da modernidade
Canta entusiasticamente a civilização industrial, numa euforia que leva o sensacionalismo ao
paroxismo.
● Reflexão existencial
Tendo plena consciência do tempo, sabe que não poderá recuperar o passado, mas evoca o
insistentemente, muito em particular a infância, que é o objetivo de uma nostalgia
decorrente da sua irrecuperabilidade.
● O imaginário épico
Louvor aos progressos da ciência, como fundamentais na mudança do Passado para o
Futuro; Escrita desenfreada e permeada de exageros motivados pelas sensações novas e
vibrantes de um mundo novo, com novas máquinas, navios, automóveis, engrenagens.
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Mensagem (Poesia épica) - Fernando Pessoa
● O Sebastianismo
Mito reavivado e alimentado por Fernando Pessoa perante a necessidade de
reerguer Portugal sendo urgente que outros tomem o sonho que moveu outrora D.
Sebastião, que, transformado em messias redentor, conduzirá os portugueses à
construção de um novo império. Podendo revelar poder, ânimo e esperança de que
os portugueses dos séculos seguintes pudessem imitar a valentia, a luta e o
patriotismo do rei jovem, fazendo de Portugal uma nação novamente grandiosa.
● O imaginário épico:
○ natureza épico-lírica da obra
○ estrutura da obra
estrutura tripartida – «Brasão», «Mar Português» e «O Encoberto» – que se pode
associar ao ciclo de vida da Pátria: os fundadores ou o nascimento; a realização ou a
vida e o fim/morte/ressurreição, anunciando um novo ciclo que corresponde à
possível vinda do Quinto Império. Obra dividida em 3 partes. Primeira – os
fundadores da nação, desde a Antiguidade até ao final da Idade Média (nascimento).
Segunda - o tempo magnífico dos Descobrimentos, expansão e afirmação do
império (vida). Terceira - O Presente e o Futuro de um Portugal envolto em inércia,
marasmo, apatia e indiferença, ou seja, o fim ou decadência (morte → renascimento).
○ exaltação patriótica.
A exaltação patriótica de Mensagem surge, antes de mais, pela recuperação que
Pessoa faz de toda a História de Portugal desde os mitos iniciais, passando pela
Idade Média, pelo período histórico e os seus correspondentes heróis - Os
Descobrimentos, glória universal que exalta Portugal, chegando ao Portugal do
século XX, a quem Pessoa tenta reavivar e estimular. Por outro lado, e num nível de
interpretação simbólica da Pátria, Fernando Pessoa dedica-se, em Mensagem, a dar
uma visão esotérica, misteriosa e oculta dos factos e das personagens, oferecendo
aos seus contemporâneos exemplos que os motivem a atingir um novo «império», o
«Quinto Império», de inteligência posta ao serviço do avanço da humanidade, desta
feita com o cunho português. Trata-se de uma espécie de novos reis «D. Sebastião»
e «descobridores» simbólicos e atuantes ao nível do intelectual e espiritual. Estes
dois níveis, por si mesmos, exaltadores da Pátria portuguesa.
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Contos
● Linguagem, estilo e estrutura
O conto define-se como um género narrativo, de relato curto, homogéneo e linear, através
dos qual se narram sucessos fictícios. Os contos têm mais ou menos um desfecho
imprevisto, têm bastantes diálogos, com um número reduzido de personagens.
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● Tradição literária
● Figurações do poeta.
O poeta fragmentado/despersonalizado, o sofredor, o ser pensante, a consciência/
inconsciência, a razão/o pensamento.
O poeta é homem revoltado, desiludido e inconformado com o mundo que o rodeia ou o
poeta como um ser empenhado socialmente.
● Arte poética
A dureza inerente ao ato de escrever;
O poema como parte do próprio corpo humano;
O poema como espelho da Natureza, das sensações;
O poema como fruto da confluência a interartes e interciências
O poema como arma ao serviço de denúncia da liberdade
● Representações do amor.
O amor neste romance assume a forma de triângulo amoroso entre Lídia, Ricardo e
Marcenda. Se por Lídia, criada de hotel, empregada doméstica, esta simboliza o amor
incondicional, desinteressado e libertador, por quem Reis nutre sentimentos carnais, ainda
que a respeite pela sua inteligência, já por Marcenda sente amor matrimonial que acaba por
não ser correspondido, esta simboliza o amor imaterial e impossível de se concretizar.
Ricardo Reis tem uma incapacidade de decisão e de adaptação ao mundo real: não vive
plenamente nenhum destes casos amorosos; acobarda-se perante a gravidez de Lídia e de
perfilhar o filho; escreve um poema a Marcenda, sem revelar a sua identidade de poeta.
para reflexões sobre a cidade (espaço), a História (tempo histórico), a Política (fascismos
europeus e revoluções), a Literatura, as personagens, a intertextualidade e a crítica (por meio
do narrador omnisciente).
○ o tom oralizante e a pontuação
Tom oralizante (registo de língua popular) c pontuação expressiva (frases longas, separadas
por vírgulas e pontualmente por pontos finais, parágrafos igualmente longos, discurso direto
antecedido por vírgula e encetado com letra maiúscula);
○ reprodução do discurso no discurso.
No discurso politicamente correto de políticos e analistas, recuperado pelo narrador
omnisciente dos jornais portugueses e estrangeiros;
no discurso do narrador, que parafraseia discursos de outras personagens e de políticos;
no discurso de emissoras de rádio (RCP);
no discurso de anúncios publicitários (Bovril é disso exemplo) ou de placas que anunciam
lojas e casas de interesse público.