Você está na página 1de 37

Trovadorismo

Século XII ao XIV


A LÍRICA TROVADORESCA
• 1.1 Os marcos cronológicos
O Trovadorismo, ou Primeira Época
Medieval, é o período que se estende de
1189 (ou 1198) – data provável da Cantiga
da Ribeirinha, cantiga de amor de Paio
Soares de Taveirós, considerada o mais
antigo texto escrito em galego-português
– até 1434, com a nomeação de Fernão
Lopes para o cargo de cronista-mor da
Torre do Tombo.
1.2 As cantigas e a sociedade

A cultura trovadoresca, surgida entre os


séculos XI e XII, reflete bem o momento
histórico que caracteriza o período: na
Europa cristã, a organização das Cruzadas
em direção ao Oriente; na Península Ibérica,
a luta contra os mouros; o poder
descentralizado e as relações entre os
nobres determinadas pelo feudalismo; o
poder espiritual em mãos do clero católico
detentor da cultura e responsável pelo
pensamento teocêntrico (Deus como centro
de todas as coisas).
• 1.3 Tipos de cantigas
Podemos reconhecer dois grandes grupos de cantigas: as
cantigas líricas e as cantigas satíricas. As cantigas
líricas se subdividem em cantigas de amor e cantigas
de amigo; as cantigas satíricas, em cantigas de
escárnio e cantigas de maldizer.

de amor
líricas
de amigo
Cantigas
de escárnio
satíricas
de maldizer
• 1.4 Os artistas
Todos os textos poéticos desta primeira época medieval
eram acompanhados por música e normalmente
cantados em coro, daí serem chamados de cantigas.
Isso ocasionou o aparecimento de uma verdadeira
hierarquia de artistas, assim classificados:

 Trovador: poeta que compunha a letra e a música de


canções; em geral era uma pessoa culta.
 Menestrel: músico-poeta sedentário; vivia na casa de um
fidalgo enquanto o jogral andava de terra em terra.
 Jogral: cantor tangedor ambulante, geralmente de origem
plebeia.
 Segrel: trovador profissional, fidalgo desqualificado que
ia de corte em corte, acompanhado de um jogral.
 Soldadeira ou jogralesa: moça que dançava, cantava e
tocava castanholas ou pandeiro.
Alguns trovadores e jograis
• Paio Soares de Taveirós: trovador dos mais
discutidos, pois segundo a tese de Dona Carolina
Michaëlis, teria sido o autor da mais antiga
canção do Trovadorismo. Segundo outros, esse
trovador teria vivido no século XII.

• Martim Codax: teria sido um jogral do fim do


século XIII, autor de excelentes cantigas de
amigo. Sua obra apresenta uma particularidade –
não só nos chegaram as letras mas também as
músicas.
• Dinis, o Rei trovador: Dom Dinis (1261-1325)
foi o sexto rei de Portugal, assumindo o trono
com 18 anos de idade. Governou entre 1261-
1325. Apesar de enfrentar várias rebeliões e a
guerra contra Castela, o rei ainda encontrava
tempo e recursos para o desenvolvimento
cultural do país; sob seu governo foi criada a
primeira universidade portuguesa, em Lisboa
(1290). Foi excelente poeta, e sua produção
religiosa é composta por 138 cantigas (76 de
amor, 52 de amigo e 10 de maldizer).
D. Dinis
o Rei-Trovador
(1261 – 1325)
• 1.5 Cantigas líricas
• 1.5.1 – Cantigas de amor
Origem: as cantigas de amor têm origem provençal. Na Provença,
região do sul da França, no período compreendido entre os séculos
XI e XIII, desenvolve-se a arte dos trovadores e o “amor cortês”,
que tanto influenciou as cantigas de amor em Portugal. O mais
famoso trovador de Portugal é D. Dinis (chamado Rei-Trovador).

Características: o ambiente das cantigas de amor é sempre o palácio,


com o trovador declarando seu amor por uma dama (tratada de
“senhor”, isto é senhora). Daí o relacionamento respeitoso, cortês,
dentro dos mais puros padrões medievais que caracterizam a
vassalagem, a servidão amorosa.
Cantiga de Amor (atual)
O céu explica tudo
Pros nossos corações
As estrelas são as várias paixões que eu tive
O céu explica tudo
E o amor é feito a lua
Adivinha o que que 'cê é no meu céu
Chuta
A lua

Henrique e Juliano
• 1.5.2 – Cantigas de amigo
Origens: as cantigas de amigo têm suas origens na própria
Península Ibérica, surgindo do sentimento popular.
Cronologicamente, são mais antigas que as cantigas de
amor, porém não eram escritas. Só com a entrada das
cantigas provençais e o desenvolvimento da arte poética
é que se concretizaram em textos.

Características: a principal característica das cantigas de


amigo é o sentimento feminino que exprimem, apesar de
escritas por homens. Esse fenômeno reflete o tipo de
sociedade patriarcal que marca todo o período medieval.
Cantiga de Amigo (atual)

Sei bem o que te faz bem, eu sei


Mas de tudo eu já tentei não faltou coragem
É, uma hora eu ia me tocar que você não vai mais voltar
Não receber mensagem também é mensagem
Sei que o pra sempre virou pó
E na cabeça deu um nó, mas tô bem consciente

Marília Mendonça
Comparação entre as cantigas líricas

Cantiga de amor Cantiga de amigo


autoria masculina autoria masculina
sentimento masculino sentimento feminino
origem provençal origem galego-portuguesa
ambiente palaciano ambiente rural (popular)
(aristocrático) a mulher sofre pelo amigo
o homem presta vassalagem (namorado, amante) ausente
amorosa à mulher a mulher é um ser mais real e
a mulher é um ser idealizado, concreto
superior
• 1.6 Cantigas satíricas
Muitos eram os temas das cantigas satíricas: os
costumes, notadamente do clero; a covardia; a
decadência de alguns nobres; os vilãos; o adultério
das damas. Dois eram tipos de cantigas satíricas.
1.6.1 – Cantigas de escárnio
Sátiras indiretas, palavras ambíguas, expressões
irônicas, sem, contudo, revelara pessoa satirizada.
1.6.2 – Cantigas de maldizer
Sátiras diretas com citação nominal da pessoa
ironizada marcadas pela maledicência. Seus temas
prediletos eram o adultério, amores interesseiros ou
amores ilícitos (padres); usavam um vocabulário
direto com palavras obscenas, carregadas de
erotismo.
Cantiga de Escárnio (atual)

'Tá tirando onda, né?


'Tá tirando onda aí com o meu ex-namoradinho
Passando na boca que era minha
Coitada, já caiu na conversinha
Já caiu no lero-lero, né?

Maiara e Maraisa
Cantiga de Maldizer (atual)

Renata ingrata, trocou meu amor por uma ilusão


Renata ingrata, quem planta sacanagem, colhe solidão
Até pra namorar a bela foi atriz
Fingindo que eu era o que ela sempre quiz
A lua entristeceu, o céu mudou de cor
Renata foi embora e a depre ficou

Latino
• 1.7 Os cancioneiros
Anteriores ao advento da tipografia, as cantigas medievais chegaram até
nós através dos cancioneiros, que são compilações manuscritas
de toda a produção do Trovadorismo português conhecida em nossos
dias. As cantigas foram reunidas em três volumes (é interessante
notar que só havia um original de cada cancioneiro):

• Cancioneiro da ajuda – é o mais antigo dos cancioneiros,


encerrando 310 cantigas, quase todas de amor. Foi compilado
no final do século XIII ou princípio do XIV. Encontra-se na
Biblioteca do Palácio da Ajuda, em Lisboa.
• Cancioneiro da Biblioteca Nacional – encontrado na Itália e
adquirido pela Biblioteca Nacional de Lisboa, no início XX. É o
mais completo dos cancioneiros, com 1647 cantigas de todos
os gêneros.
• Cancioneiro da Vaticana – encontrado na Biblioteca do
Vaticano, é composto por 1205 cantigas de diversos autores
(entre eles, D. Dinis e suas 138 cantigas).
Causas da decadência do
Trovadorismo
 Decadência do mecenatismo real – até a metade do século
XIV, os reis portugueses mantinham os jograis, segréis, menestréis e
as soldadeiras na Corte. Consta que D. Pedro I de Portugal, por volta
de 1366, foi o responsável pela extinção do lirismo jogralesco na
Corte. Saliente-se que esse lirismo já entrara em franca decadência
na França, saindo dos ambientes palacianos para as portas das
tavernas.

 Aburguesamento de Portugal – nos anos de 1383-5, com a


Revolução de Avis, Portugal conhece uma grande virada em sua
estrutura econômico-social. A vida portuguesa começou a tomar novos
rumos. Realizada a unidade geográfica, pacificando o reino, o país
começou a expandir-se e a revelar um vigoroso espírito mercantil. Em
tempos de D. Fernando, Lisboa era já um grande empório comercial.
D. Afonso IV de Portugal
A Prosa
Medieval
Séculos XIII e XIV
Hagiografias
• 2.1 Hagiografias

Do grego (“santo”) e grafia (“escrita”). São


relatos biográficos sobre figuras
canonizadas, realçando a conduta e a moral
edificantes.
Tarefa quase exclusiva dos mosteiros, as
primeiras hagiografias produzidas em
Portugal foram escritas em latim.
Livros de linhagens
ou nobiliários
o 2.2 Livros de linhagens ou nobiliários
Trata-se de relatos genealógicos das famílias
nobres. O mais importante nobiliário de Portugal
é o Livro das linhagens, composto sob a
orientação do conde de Barcelos, filho bastardo
de D. Dinis, por volta de 1340. Nessa obra, as
longas relações de parentesco aparecem
entremeadas por relatos de episódios históricos;
às maneira de introdução, o conde nos
apresenta uma rápida história universal, desde
Adão até a luta da Reconquista.
Cronicões
• 2.3 Cronicões

São os primeiros relatos romanceados de


acontecimentos históricos e sociais,
redigidos no século XIV.
Novelas de cavalaria
• 2.4 Novelas de cavalaria
Originárias da Inglaterra e da França, as novelas de
cavalaria derivam das canções de gesta, poemas
medievais cantados em linguagem popular e que
celebravam os feitos guerreiros. Destacam-se na
literatura medieval portuguesa por serem obras de ficção
escritas em prosa.
As novelas de cavalaria podem ser agrupadas em
três ciclos, dependendo da origem de seus heróis:
• Ciclo clássico – sobre temas latinos e gregos.
• Ciclo carolíngio – sobre Carlos Magno e os doze
pares de França.
• Ciclo bretão ou arturiano – sobre o rei Arthur e os
Cavaleiros da Távola Redonda.
Rei Arthur
A Távola Redonda
No final do século XIII, foram traduzidas
em Portugal três novelas, todas do
ciclo bretão ou arturiano (daí serem
chamadas “matéria da Bretanha”):
História de Merlim, José de
Arimateia e Demanda do Santo
Graal, a mais famosa e popular delas.
SINOPSE
O arqueólogo Indiana Jones (Harrisson
Ford) tem acesso a um misterioso
envelope que contém informações
sobre a localização do lendário Santo
Graal, o cálice que Jesus Cristo teria
utilizado na Última Ceia. Quando seu
pai, o professor Henry Jones (Sean
Connery), é sequestrado pelos nazistas,
o aventureiro irá embarcar numa
missão perigosa para salvá-lo e impedir
que a relíquia sagrada caia em mãos
erradas.
Santo Graal

A Demanda do Santo
Graal conta as
aventuras dos
Cavaleiros da Távola
Redonda em busca do
Santo Graal, um
cálice sagrado onde
teria sido colocado o
sangue de cristo após
o sepultamento.
Mago Merlim

Você também pode gostar