Você está na página 1de 2

CANTIGA

a esta cantiga alheia:

Perdigão perdeu a pena,


não há mal que lhe não venha.

VOLTAS
Perdigão, que o pensamento
subiu em alto lugar,
perde a pena do voar,
ganha a pena do tormento.
Não tem no ar nem no vento asas,
com que se sustenha:
não há mal que lhe não venha.

Quis voar a lia alta torre


mas achou-se desasado;
e, vendo-se depenado,
de puro penado morre.
Se a queixumes se socorre,
lança no fogo mais lenha:
não há mal que lhe não venha.

Luís de Camões, Rimas

1. Neste texto, conta-se a história das perdas e dos ganhos de um perdigão.

1.1. Refere a sua perda.

1.2. Consideras que os ganhos são, de facto, positivos? Justifica a tua resposta.

2. Justifica a existência do verso final de cada volta.

2.1. Tendo em conta a situação do perdigão, qual a expressão popular que poderá
substituir este verso?

3. Explica o significado das frases «[…] que o pensamento subiu em alto lugar» (vv. 1 e
2) e «Se a queixumes se socorre, lança no fogo mais lenha» (vv. 12 e 13).

4. Embora não explicitamente, podemos encontrar neste texto uma semelhança de


comportamento entre a ave e o ser humano. Segundo o texto, o que poderá levar um
ser a sentir-se infeliz?

5. Ao longo da redondilha, há a descrição de um estado de infelicidade, Destaca as


expressões linguísticas que refletem esse estado. Como designas a relação semântica
que existe entre as palavras “pena” em «pena do voar» (v. 3) e «pena do tormento»
(v.4)?

6. No primeiro verso da cantiga alheia, há um som que se repete.

6.1. Como se chama essa repetição de som?

6.2. Dá outro exemplo deste fenómeno.

Proposta de resolução

1.1. O perdigão perdeu as penas e, em consequência disso, não pode voar.


1.2. Apesar de o texto referir que o perdigão ganhou penas, não se trata,
efetivamente, de um ganho, pois as penas que ele possui agora são as
do “tormento” ou a dor de já não poder voar.
2. O verso final de cada volta é igual ao segundo verso do mote, servindo esta técnica
para reforçar o conceito ou a moralidade que se pretendia que o leitor retirasse do
poema, para além de conferir musicalidade à composição.
2.1. O segundo verso do mote poderá ser substituído pela expressão popular
“Um mal nunca vem só”. Com a perda das penas, outros acontecimentos
dolorosos aconteceram: o perdigão deixou de voar e vive infeliz.
3. A primeira frase significa que a capacidade de pensar elevou-o acima das outras
aves, mas retirou-lhe a sua condição de ave. A segunda frase exprime a angústia do
perdigão, na medida em que se ele resolve queixar- se, ainda sofre mais.
4. Um ser pode ver aumentado o seu sofrimento se aumentar a sua capacidade de
pensar e de refletir sobre a vida e o mundo.
5.1. Ao longo do texto há expressões que evidenciam o estado de infelicidade
da personagem como, por exemplo, a forma verbal “perde”, a frase “de puro penado
morre” e os nomes “pena”, “queixumes” e “mal”.
5.2. Estas palavras são homónimas porque, embora apresentem a mesma forma, têm
significados diferentes.

6.1. A essa repetição do mesmo som chama-se aliteração.


6.2. Outro exemplo de aliteração com o som [p] é “perde a pena”.

Você também pode gostar