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COLÉGIO PEDRO II - UNIDADE ESCOLAR HUMAITÁ II VALE: 6,0

Avaliação de Português – 3ª Certificação - 2º ano do EM - 1°turno - Nota:


Professor: WAGNER TRINDADE Coord. Prof.: ANDRÉ CALDAS
Estudante: GABARITO___Nº:______

INSTRUÇÕES: 1. Conte as suas folhas e confira se você está com 5 páginas de prova. 2. A
compreensão dos enunciados faz parte da resolução das questões, assim como o domínio do
vocabulário utilizado. 3. Evite ao máximo rasurar as repostas discursivas, PENSE antes de escrever.
4. Tenha atenção à modalidade escrita e revise o que escreveu.  BOA PROVA

TEXTO 1 – Ismália (Alphonsus de Guimaraens)

Quando Ismália enlouqueceu, E como um anjo pendeu


Pôs-se na torre a sonhar... As asas para voar...
Viu uma lua no céu, Queria a lua do céu,
Viu outra lua no mar. Queria a lua do mar...

No sonho em que se perdeu, As asas que Deus lhe deu


Banhou-se toda em luar... Ruflaram de par em par...
Queria subir ao céu, Sua alma subiu ao céu,
Queria descer ao mar... Seu corpo desceu ao mar...

(In: GUIMARAENS, Alphonsus de. Obra completa.


E, no desvario seu, Organização de Alphonsus de Guimaraens Filho.
Na torre pôs-se a cantar... Introdução de Eduardo Portella. Notas biográficas de João
Estava perto do céu, Alphonsus. Rio de Janeiro: J. Aguilar, 1960. p. 231-232.)
Estava longe do mar...

TEXTO 2 – Ismália (Canção de Emicida / Ela quis ser chamada de morena


Letra: Alphonsus De Guimaraens/Daniel C. Que isso camufla o abismo entre si e a humanidade plena
Nascimento) A raiva insufla, pensa nesse esquema
A ideia imunda, tudo inunda
Com a fé de quem olha do banco a cena A dor profunda é que todo mundo é meio tema
Do gol que nós mais precisava na trave Paisinho de bosta, a mídia gosta
A felicidade do branco é plena Deixou a falha e quer migalha de quem corre com fratura
A pé, trilha em brasa e barranco, que pena exposta
Se até pra sonhar tem entrave Apunhalado pelas costa
A felicidade do branco é plena Esquartejado pelo imposto imposta
A felicidade do preto é quase E como analgésico nós posta que
Um dia vai 'tá nos conforme
Olhei no espelho, Ícaro me encarou
Que um diploma é uma alforria
"Cuidado, não voa tão perto do sol
Minha cor não né uniforme
Eles num 'guenta te ver livre, imagina te ver
Hashtags #PretoNoTopo, bravo!
rei"
80 tiros te lembram que existe pele alva e pele alvo
O abutre quer te ver de algema pra dizer
Quem disparou usava farda (mais uma vez)
"Ó, num falei?"
Quem te acusou nem lá num tava (banda de espírito de
porco)
Porque um corpo preto morto é tipo os hit das parada
Todo mundo vê, mas essa porra não diz nada
No fim das conta é tudo
Ismália, Ismália (4x)
Quis tocar o céu, mas terminou no chão (2x)

Olhei no espelho, Ícaro me encarou Um primeiro salário / Duas fardas policiais


"Cuidado, não voa tão perto do sol Três no banco traseiro / Da cor dos quatro Racionais
Eles num guenta te ver livre, imagina te ver rei" Cinco vida interrompida / Moleques de ouro e bronze
O abutre quer te ver drogado pra dizer Tiros e tiros e tiros / O menino levou 111 (Ismália)
"Ó, num falei?" Quem disparou usava farda (Ismália)
Quem te acusou nem lá num 'tava
No fim das conta é tudo É a desunião dos preto junto à visão sagaz
Ismália, Ismália (3x) De quem tem tudo, menos cor, onde a cor importa
demais
Quis tocar o céu, mas terminou no chão
Ter pele escura é ser (Poema “Ismália” – Alphonsus de Guimaraens)
Ismália, Ismália (3x)
Olhei no espelho, Ícaro me encarou
Quis tocar o céu, mas terminou no chão
"Cuidado, não voa tão perto do sol
(Terminou no chão) Eles num 'guenta te ver livre, imagina te ver rei"
O abutre quer te ver no lixo pra dizer
Primeiro 'cê sequestra eles, rouba eles, mente sobre
"Ó, num falei?"
eles
Nega o deus deles, ofende, separa eles No fim das conta é tudo / Ismália, Ismália (3x)
Se algum sonho ousa correr, 'cê para ele Quis tocar o céu, mas terminou no chão
E manda eles debater com a bala que vara eles, mano Ter pele escura é ser / Ismália, Ismália (3x)
Infelizmente onde se sente o sol mais quente Quis tocar o céu, mas terminou no chão
O lacre ainda 'tá presente só no caixão dos adolescente (Terminou no chão) / Ismália
Quis ser estrela e virou medalha num boçal Quis tocar o céu, terminou no chão
Que coincidentemente tem a cor que matou seu
ancestral
(In: Emicida. Amarelo. [2019]. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4pBp8hRmynI. Acesso em:
22/11/2019)

SOBRE O TEXTO 1:

Questão 1. O poema de Alphonsus de Guimaraens apresenta uma marcante sonoridade. Identifique


elementos que propiciam esse aspecto rítmico do poema. (0,3)

O ritmo das rimas (alternadas e constantes), O uso constante de anáforas, os versos com bases vocálicas
(formando assonâncias)

Questão 2. Uma das marcas centrais do Simbolismo é a sugestão, levar o leitor a perceber o que está por
trás e além das palavras usadas pelo poeta.

a) Diversas figuras de linguagem permitem a impressão dessa marca simbolista no poema. Identifique,
ao menos, uma figura presente no texto, destacando um trecho comprobatório. (0,2)

A metáfora, que sugere a morte de Ismália (“as asas que Deus lhe deu...”), A antítese (“céu x mar”), que
sugere a impossibilidade da realização de seu sonho, a anáfora constante, que sugeria a intensidade da
loucura de Ismália.

b) Observando a última estrofe, qual seria o sentido sugerido pelo eu-lírico, numa perspectiva
simbolista de apego à espiritualidade? E numa perspectiva materialista (característica dos estilos anteriores),
como pode ser entendido os versos finais de Ismália? (0,3)
Seguindo a perspectiva simbolista, Ismália conseguiu, enfim, seu sonho de ter as suas luas, por meio de
seu espírito. As estéticas anteriores (realista/naturalista), reduziriam o fato à mera morte de Ismália,
suicidando-se ao se jogar da torre.

c) Identifique 02 (duas) características do Simbolismo presentes no poema, destacando trechos que


comprovem sua análise. (0,5)

Subjetividade – “sua alma subiu ao céu, seu corpo desceu ao mar”

Antítese – “céu x mar”

Temática da morte

Temática da loucura e do sonho

SOBRE O TEXTO 2

Questão 3. A composição, recentemente lançada, apresenta mais de um século de diferença em relação ao


poema que lhe serviu de inspiração (texto 1). Por esse motivo, embora não seja o único, apresenta
distinções formais e temáticas que singularizam a canção e proporcionam novas leituras.

a) Em termos formais, aponte elementos marcantes do texto 2 que claramente o distingue do texto 1
(0,3).

Pela estrutura dos textos, é nítido o caráter mais narrativo do texto 2, em oposição à forma mais poética
do texto 1, a utilização do vocabulário mais formal do texto 1 distingue-se da coloquialidade do t2, a rima
fixa dos versos do texto 1 se distanciam da variedade rítmica dos versos do texto 2.

b) Assim como no texto 1, a canção apresenta diversos paralelismos marcados por antíteses.
Identifique 02 passagens em que se constata esse recurso, explicando o sentido dessas oposições em relação
à proposta temática da canção. (0,5)__
1. “Quis tocar o céu, mas terminou no chão” – embora ainda remeta o poema original, a
oposição céu/chão, na canção, reforça a ideia das barreiras do negro no país, visto que busca voar, ser
livre, mas encontra a realidade dura que o impede de se libertar.
2. “A felicidade do branco é plena / A felicidade do preto é quase” – o uso dos opostos
branco/preto; plena/quase serve para demonstrar que, na busca pela felicidade, a cor da pele
influencia o desfecho da jornada.

Questão 4. O texto 2, como já observado, é uma canção presente no álbum recente do rapper Emicida.
Nela, ainda que se observe elementos de clara erudição do compositor (o uso de diversas figuras de
linguagem, a intertextualidade, o jogo de palavras etc.), é marcante o coloquialismo da linguagem em
diversos momentos da composição. Explique, entendendo a coloquialidade como um recurso
comunicativo, a utilização dessas “incorreções” na perspectiva da recepção da obra. (0,5)

Se apropriando da linguagem coloquial pressuposta pelo estilo do rap, o cantor Emicida objetiva a
aproximação com seu público, marcado em grande parte por adolescentes, jovens, de periferia e classe
média-baixa, que tem em suas composições uma espécie de alto-falante de seus anseios. A ideia do autor é
fazer da composição uma forma de expressão plena das mazelas e dificuldades de seus semelhantes em
cor e situação social.

Questão 5.

A felicidade do branco é plena Olhei no espelho, Ícaro me encarou


"Cuidado, não voa tão perto do sol
Eles num 'guenta te ver livre, imagina te ver rei"
A felicidade do preto é quase
Ter pele escura é ser Ismália
Os trechos destacados da canção apresentam um tema fundamental
que o autor deseja trazer à luz: o racismo e suas consequências na
vida do negro no Brasil. Para isso, há uma clara associação à situação
de Ismália, retratada no poema de Alphonsus de Guimaraens. Explique como o desfecho de Ismália é
relacionado à mensagem expressa pela canção do texto 2. (0,5)

O poema simbolista de A.G. é revisto pelos compositores a partir da ótica da vida do negro no Brasil.
Dessa forma, as imagens sugeridas pela poesia são adaptadas a essa nova realidade e utilizadas pelo
compositor para consolidar a máxima da condição negra: alguém que sonha, deseja, quer ser livre, mas
tem como desfecho constante a frustração e a derrota, sendo alijado da possibilidade de uma vida melhor
e mais igual.

Questão 6. Sintaticamente, a canção Ismália apresenta uma série de versos marcados por relações de
coordenação e subordinação. Observe os exemplos abaixo e classifique-os: (1,0)
a) “Quis tocar o céu, mas terminou no chão”
Oração coordenada assindética / Oração coordenada sindética adversativa.
b) “A dor profunda é que todo mundo é meio tema”
Oração principal / Oração subordinada substantiva predicativa
c) “80 tiros te lembram que existe pele alva e pele alvo”
Oração principal / Oração subordinada substantiva objetiva direta
d) “Se algum sonho ousa correr, 'cê para ele”
Oração subordinada adverbial condicional / Oração principal
e) “Quis ser estrela e virou medalha num boçal”
Oração Coordenada Assindética / Oração coordenada sindética adversativa
Texto para as questões de 7 e 8
TEXTO 3. Soneto XXXI (Olavo Bilac)

Longe de ti, se escuto, porventura, Porque teu nome é para mim o nome
Teu nome, que uma boca indiferente De uma pátria distante e idolatrada,
Entre outros nomes de mulher murmura, Cuja saudade ardente me consome:
Sobe-me o pranto aos olhos, de repente...
E ouvi-lo é ver a eterna primavera
Tal aquele, que, mísero, a tortura E a eterna luz da terra abençoada,
Sofre de amargo exílio, e tristemente Onde, entre flores, teu amor me espera.
A linguagem natal, maviosa e pura,
Ouve falada por estranha gente...
(BILAC, Olavo. "Melhores poemas". Seleção de Marisa Lajolo. São Paulo: Global, 2003. p. 54. (Coleção
Melhores poemas).
Glossário: Maviosa – afetuosa/comovente

Questão 7. Olavo Bilac, mais conhecido como poeta parnasiano, expressa traços românticos em sua obra.
No soneto apresentado observa-se o seguinte traço romântico: (0,3)
(a) objetividade do eu lírico.
(b) predominância de descrição.
(c) a solidão e o pessimismo amoroso.
(d) erudição do vocabulário.
(e) idealização do tema amoroso.

Questão 8. Ainda que transcenda, em diversos momentos, a estética parnasiana que o caracterizou
artisticamente, Olavo Bilac não abandonou seu estilo de origem na quase totalidade de sua obra poética.
Observando esse aspecto, destaque 02 (duas) características parnasianas no poema lido, apresentando
trechos que comprovem sua análise. (0,5)
Estrutura de versos fixos – decassílabos poéticos Rimas ricas – gente/tristemente; primavera/espera
Vocabulário erudito – “maviosa”, “exílio”

Texto para as questões de 9 e 10:

TEXTO 4: De cortiço a cortiço (Antônio Cândido) - fragmento

Aluísio Azevedo certamente se inspirou em L’Assommoir (A Taberna), de Émile Zola, para escrever O
Cortiço (1890), e por muitos aspectos seu texto é um texto segundo, que tomou de empréstimo não apenas a
ideia de descrever a vida do trabalhador pobre no quadro de um cortiço, mas também um bom número de
pormenores, mais ou menos importantes. Mas, ao mesmo tempo, Aluísio quis reproduzir e interpretar a
realidade que o cercava e sob esse aspecto elaborou um texto primeiro. Texto primeiro na medida em que filtra
o meio; texto segundo na medida em que vê o meio com lentes de empréstimo. Se pudermos marcar alguns
aspectos dessa interação, talvez possamos esclarecer como, em um país subdesenvolvido, a elaboração de um
mundo ficcional coerente sofre de maneira acentuada o impacto dos textos feitos nos países centrais e, ao
mesmo tempo, a solicitação imperiosa da realidade natural e social imediata.
(CANDIDO, Antônio. De cortiço a cortiço. In: O discurso e a cidade. São Paulo / Rio de Janeiro: Ouro sobre
Azul, 2004, p.106-7/128-9 (com adaptações).

Questão 9. Assinale a opção em que a relação intertextual entre O Cortiço e Germinal é interpretada
pelos parâmetros críticos apresentados no texto de Antônio Candido acerca da relação entre a obra de
Aluísio Azevedo e a de Émile Zola. (0,3)

(a) O texto de Aluísio Azevedo é um texto primeiro em relação ao de Zola porque foi escrito anteriormente e
influenciou a produção naturalista do escritor francês.
(b) A relação de proximidade entre o texto de Azevedo e o de Zola evidencia que o diálogo entre os textos
desassocia-os da realidade social em que foram produzidos.
(c) O texto de Aluísio Azevedo, por suas condições de produção, está submetido ao modelo naturalista
europeu, ao mesmo tempo em que atende a demandas da realidade nacional.
(d) O Cortiço é um texto segundo em relação ao texto de Zola porque é, sobretudo, a duplicação do modelo
literário francês e da realidade social das classes operárias europeias.
(e) A presença de elementos do naturalismo francês em O Cortiço é um indicativo da troca cultural que ocorre
no espaço do intertexto, independentemente das realidades locais de produção.

Questão 10. Assinale a alternativa que apresenta uma análise equivocada acerca da classificação
oracional do segmento destacado, em relação à coordenação ou à subordinação. (0,3)

(a) “...mas também um bom número de pormenores...” (L.02) – Oração coordenada sindética aditiva
(b) “...a realidade que o cercava” (L.04) – Oração subordinada substantiva completiva nominal
(c) “...e sob esse aspecto elaborou um texto primeiro.”(L.04/5) – Oração coordenada sindética aditiva
(d) “Texto primeiro na medida em que filtra o meio...” (L.05) – Oração subordinada adverbial
proporcional
(e) “Se pudermos marcar alguns aspectos dessa interação...” (L.06) – Oração subordinada adverbial
condicional
Questão 11. Relacionando os enredos e as características que aproximam os romances O cortiço (Aluísio
Azevedo) e Germinal (Émile Zolà), disserte acerca da importância das duas obras para o estabelecimento
do Naturalismo como uma estética singular na literatura do século XIX. (0,5)

O aluno precisa explicar o caráter fundador de ambas as obras, demonstrando suas características mais
marcantes: estilo visceral, abordagem coletiva, personificação do ambiente, divulgação de ideias
cientificistas, personagens que atendem a uma coletividade etc.

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