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GÊNERO LÍRICO
ATENÇÃO!
Nesse tipo de texto não há narradores. A voz que fala é a do EU-LÍRICO, que não pode ser
confundido com o autor, aquele que assina o texto. O escritor português Fernando Pessoa tratou
dessa questão em seu “Autopsicografia”, um dos seus poemas mais conhecidos. Por meio da
metalinguagem, o eu-lírico apresenta uma reflexão sobre o fazer poético.
AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Agora vamos ver a ESTRUTURA dos textos que pertencem ao gênero lírico.
Cada LINHA corresponde a um VERSO, agrupado em um conjunto chamado ESTROFE.
Cada estrofe do poema de Fernando Pessoa transcrito acima possui 4 (quatro) versos.
Muitos poemas, como é o caso do “Autopsicografia”, possuem métrica e rimas.
Já outros possuem VERSOS BRANCOS (sem rimas) e LIVRES (sem métrica).
O texto “Vozes-mulheres”, que também é um exemplo de metalinguagem e foi escrito pela
brasileira Conceição Evaristo, é um exemplo de poema composto por versos brancos e livres.
VOZES-MULHERES
Os versos dos sonetos também são rimados, obedecendo ao(s) seguinte(s) esquema(s): ABBA /
ABBA / CDC (CDE) / DCD (CDE).
Em Portugal, dois dos principais autores de sonetos são Luís Vaz de Camões (século 16) e
Florbela Espanca (início do século 20).
CAMÕES FLORBELA
Amor é fogo que arde sem se ver; Eu sou a que no mundo anda perdida
É ferida que dói, e não se sente; Eu sou a que na vida não tem norte
É um contentamento descontente; Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
É dor que desatina sem doer. Sou a crucificada... a dolorida
É um não querer mais que bem querer; Sombra de névoa ténue e esvaecida
É um andar solitário entre a gente; E que o destino amargo, triste e forte
É nunca contentar-se de contente; Impele brutalmente para a morte!
É um cuidar que se ganha em se perder. Alma de luto sempre incompreendida!
É querer estar preso por vontade; Sou aquela que passa e ninguém vê
É servir a quem vence, o vencedor; Sou a que chamam triste sem o ser
É ter com quem nos mata, lealdade. Sou a que chora sem saber porquê
Mas como causar pode seu favor Sou talvez a visão que Alguém sonhou
Nos corações humanos amizade, Alguém que veio ao mundo pra me ver
Se tão contrário a si é o mesmo Amor? E que nunca na vida me encontrou!
No Brasil, merecem destaque os sonetos de Vinicius de Moraes. Alguns dos mais conhecidos são
o “Soneto de fidelidade” e o “Soneto de separação”.
E assim, quando mais tarde me procure De repente, não mais que de repente
Quem sabe a morte, angústia de quem vive Fez-se de triste o que se fez amante
Quem sabe a solidão, fim de quem ama E de sozinho o que se fez contente.
CURIOSIDADE:
Apesar de muitas vezes falarmos como se fosse sinônimos, há sutis diferenças entre os termos
POEMA e POESIA. O “poema” está relacionado à estrutura/forma do texto, organizado em
versos – rimados ou não – e em oposição à prosa. Já a “poesia” tem a ver com o conteúdo, que
costuma ser repleto de subjetividade, plurissignificações e ambiguidade. É possível, portanto,
encontrarmos poesia na prosa (“prosa poética”) ou até mesmo em uma imagem.
No poema metalinguístico “O poeta e a poesia”, a escritora Cora Coralina nos ajuda a refletir
acerca da distinção entre os dois termos. Transcrevemos, a seguir, apenas as primeiras estrofes do
texto:
O POETA E A POESIA