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-> Poemas
- Deveras
- Meus Oito anos (intertexto) com o
poema romântico de Casimiro de Abreu
- Deserto
# Luci Collin é uma autora curitibana; lecionou
- Howcool (intertexto com Quadrilha de
letras e Literatura na Universidade Federal do
Carlos Drummond de Andrade.
Paraná; Escreve poesias e contos.
- É uma das escritoras contemporâneas do
Paraná mais renomada na atualidade.
PARTINDO DO TÍTULO
O que é a palavra algo?
•Algo é um pronome indefinido e diz sobre alguma coisa indeterminada, que não se
pode definir com precisão
•O título já nos dá pistas de que ali, no livro, será tratado de alguma coisa que # A autora, nesse livro,
retrata a perseguição,
escapa, mas que é perseguida pela poeta nos poemas, via palavra. Algo de busca, o entendimento
indeterminado, indefinido, que foge das mãos, cujo entendimento total se esquiva da palavra algo
•O próprio título também é uma brincadeira com a ambiguidade: o livro não é sobre
a palavra “algo” em si, mas sobre a dimensão da palavra, do escrever, da criação
literária, principalmente da poesia, que toca muitas vezes em coisas não definíveis
objetivamente
Eis aqui uma dica: procurem sentir os poemas antes de buscar o entendimento racional. Numa segunda
leitura, aí sim busquem por pistas mais formais, pontos de destaque, figuras de linguagem...
NA ORELHA DO LIVRO, POR SÉRGIO ALCIDES
•“De que espécie será essa alguma coisa – essa coisa alguma?”
•Poesia movediça, que insinua, oscila, perturba
•Esperança da poesia: “que talvez esteja num será”
POEMA QUE ABRE O LIVRO: “DEVERAS”
o poeta finge o poeta finge
e enquanto isso e enquanto isso
cigarras estouram vozes racham
pontes caem veias entopem
azaleias claudicam galeões afundam
édipos ressonam medeias abatem crias
vacinas vencem turvam-se as corredeiras
a bolsa quebra e o sapato aperta e
o poeta finge o poeta finge
e enquanto isso que as mãos cheias de súbitos
vagalhões explodem não são as suas
o pão adoce
astros desviam-se (Luci Collin em A palavra algo, p. 11, grifo meu)
manadas inteiras se perdem
a noite range
o vento derruba ninhos e
INTERTEXTO COM FERNANDO PESSOA:
“AUTOPSICOGRAFIA”
O que é intertexto? O poeta é um fingidor
De acordo com o dicionário Oxford Languages: Finge tão completamente
“Texto literário preexistente a outro texto e que é Que chega a fingir que é dor
aproveitado, por absorção e transformação, na A dor que deveras sente.
elaboração deste, ou que o influencia.”
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem, # Em contrapartida, Clarice Lispector se
Não as duas que ele teve, recusava a ler seus antigos textos, sentia
Mas só a que eles não têm. algo quando porventura os lia, mas não
era ¨algo¨ bom, como afirma Fernando
Pessoa em sua poesia.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
(Fernando Pessoa em Poesias)
AINDA SOBRE “DEVERAS”
•Poema que abre o livro anuncia um pouco de tudo o que está por vir: bagagem
literária, referências mais clássicas (medeias, édipos) misturadas a assuntos do
cotidiano (o sapato aperta)
•Possui um diálogo com o famoso poema do poeta português Fernando Pessoa,
“Autopsicografia”, em que o eu-lírico atesta que o poeta é um fingidor já no primeiro
verso
•Assim como Pessoa, Luci usa essa ideia para iniciar o seu poema, repetindo-a por # Collin usa neste
poema a repetição:
quatro vezes, de forma a criar um ritmo, uma repetição, que dá a ideia de que, repetindo quatro
vezes que o "o
apesar de tudo, das coisas todas, das dores todas, o poeta continua fingindo, poeta finge#,
trazendo ritmo a
continua escrevendo, continua fazendo poesia... estrutura de seu
poema
•Cotidiano x vivência do poeta
“MEUS OITO ANOS”
AURORA DA MINHA VIDA
ORA IDA
[...]
INTERTEXTOS
• Além de dialogar com o poema, bem conhecido, de Oh que saudades que eu tenho
Casimiro de Abreu (Romantismo), o poema de Luci Collin Da aurora de minha vida
também acaba bebendo de outras releituras e paródias Das horas
de Casimiro, como é o caso do poema “Meus oito anos”, De minha infância
de Oswald de Andrade (Modernismo): Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra
Da Rua de Santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais
•“Escrever. Não posso. Ninguém pode. É preciso dizer: não se pode. E se escreve.”
Marguerite Duras
PARA PRESTAR ATENÇÃO
•Anáfora (repetição de uma ou mais palavras no início de orações, períodos ou versos
sucessivos. Saiba mais aqui)
•Comparação (como, tal qual etc.)
•Metáfora (comparação implícita), uma marca da poesia de forma geral
•Repertório de palavras (ler com dicionário em mãos para eventuais dúvidas)
• Bagagem literária (Luci tem formação em Letras e foi professora por anos. Isso
transparece nos seus escritos)
•Ritmo (Luci tem formação em música; o ritmo e a repetição são preocupações
constantes em seus poemas. Para ajudar, leia os poemas em voz alta)
NOMEAR PARA NÃO PERDER, MAS MESMO ASSIM PERDER
•“Ela é uma maneira de falar certas coisas em uma linguagem que trabalha nesse
nível metafórico, simbólico, mas também sonoro. Na nossa relação com a poesia,
especialmente no Brasil, amputou-se o elemento principal da poesia, que é a
sonoridade. Via de regra, a gente não abre o livro de poesia para fazer justiça à
condição de um poema – lemos o poema de forma silenciosa.”
•“É preciso ler o poema em voz alta, ler com outras pessoas, que seja uma atividade
de libertar o poema.”
(Luci Collin em entrevista ao Topview)
SEJAM LEITORAS E LEITORES ATENTOS
•“Se passamos pelo poema e ele não nos dá tudo que esperávamos, a gente não
volta, é descartado. Às vezes, tem um trabalho com a linguagem, tem sutilezas,
requinte — e isso demanda um leitor atento. Mais que isso, um leitor que estabeleça
esse pacto de querer extrair tudo de maneira amorosa. A leitura é um processo
lento. É como saborear uma coisa.” (Luci Collin em entrevista ao Topview, grifo meu)
LUCI COLLIN É UMA POETA DESAFIADORA
“Uma vez o Dalton Trevisan queria me passar uma mensagem e falou com um amigo
em comum para não me ofender. Ele disse: “pergunta pra Luci por que ela escreve
de uma forma tão difícil”. Eu falei: “fala pro Dalton que eu escrevo assim porque é
só assim que eu sei escrever.” (Luci Collin em entrevista ao Topview)
A fim de facilitar a pesquisa, a referência dos outros textos utilizados se encontram junto com
cada citação.
OUÇA TAMBÉM O PODCAST SOBRE “A PALAVRA ALGO”
Episódio #5 | Clube de Leitura - Obras do Vestibular UEL 2021/22 "Palavra Algo"
de Luci Collin, com Layse Barnabé de Moraes
DÚVIDAS E QUESTIONAMENTOS
Sintam-se à vontade para entrar em contato comigo:
laysebmoraes@gmail.com ou @coracaononsense