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POR QUE PRODUZIMOS ARTE?

POR QUE TEMOS NECESSIDADE DE


EXPRESSAR AS INCOERÊNCIAS DA VIDA?

POR QUE A VIDA PRECISA DA ARTE PARA


FAZER SENTIDO?

POR QUE SENTIMOS PRAZER NO ENCONTRO


COM OUTROS PENSAMENTOS ATRAVÉS DAS
CRIAÇÕES ARTÍSTICAS?
LITERATURA é a forma
ARTE artística que tem a palavra
LITERÁRIA como matéria-prima

O BELO ARTÍSTICO

Para o filósofo grego Aristóteles, imitar, representar,


criar imagens é natural ao ser humano, é uma forma de
experimentar o universo.
O QUE É LITERATURA?
“Arte literária é mÍmese (imitação);
é a arte que imita pela palavra.”
(Aristóteles,séc.IV a.c.) 
Assim:
•Literatura como imitação da
realidade;
•Manifestação artística;
•A palavra como matéria-prima;
•Manifestação da expressividade
humana
FUNÇÕES DA LITERATURA:
•Função evasiva – fuga da realidade;
•Função lúdica – jogo de experiências sonoras e de
relações surpreendentes;
•Ex. A ONDA (Manuel Bandeira) 

A onda anda
Aonde anda
A onda?
A onda ainda
Ainda onda
Ainda anda
Aonde?
Aonde?
A onda a onda
•Função de “Arte pela arte” – descompromissada das lutas sociais
(Parnasianismo)
•Função de literatura “engajada” – comprometida com a defesa de
certas idéias políticas.
Ex. NÃO HÁ VAGAS (Ferreira Gullar)
O preço do feijão
Não cabe no poema. O preço
Do arroz
Não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
A luz o telefone
A sonegação
Do leite
Da carne
Do açúcar
Do pão
O funcionário público
Não cabe no poema
Com seu salário de fome
Sua vida fechada
Em arquivos.
Como não cabe no poema
O operário
Que esmerila seu dia de aço
E carvão
Nas oficinas escuras
-         porque o poema, senhores
está fechado: “Não há vagas”
Só cabem no poema
O homem sem estômago
A mulher de nuvens
A furta sem preço
 
O poema, senhores,
Não fede
Nem cheira.
(Antologia Poética)
 
 
DIFERENÇAS ENTRE UM TEXTO LITERÁRIO E UM NÃO-
LITERÁRIO:
 
Texto Literário:
 
        ênfase na expressão;
        predominância da linguagem conotativa;
        linguagem mais pessoal, emotiva;
        recriação (representação) da realidade;
        ambiguidade – recurso criativo.
Texto não-literário:
 
•ênfase no conteúdo;
•linguagem denotativa;
•linguagem mais impessoal;
•realidade apenas traduzida;
•Normalmente sem ambigüidade ou duplas interpretações.
Texto 1:
 
“Uma nuvem colossal em forma de cogumelo sobre a cidade
japonesa de Hiroxima assinala a morte de 80 mil de seus
habitantes – vítimas do primeiro ataque nuclear do mundo, em
6 de agosto de 1945. O lançamento da bomba, uma das duas
únicas do arsenal americano, foi feito para forçar os
japoneses à rendição. Como não houve resposta imediata, os
americanos lançaram outro “artefato” remanescente sobre
Nagasaqui e os russos empreenderam a prometida invasão à
Manchúria. Uma semana depois, o governo japonês
concordou com os termos da rendição e a capitulação formal
foi assinada em 2 de setembro.” (“A sombra dos ditadores”,
História dos ditadores, 1993, p.88)
 
Texto 2
A ROSA DE HIROXIMA
(Vinícius de Moraes) 
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
como rosas cálidas
 
mas oh não se esqueçam
Da rosa, da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
Quanto à disposição gráfica, um texto literário pode ser:
Prosa: em linhas “corridas”.
Poesia (verso): a cada linha dá-se o nome de verso e ao
conjunto deles, estrofe.
 
Estilo individual: é o estilo único de determinado escritor,
ou seja, sua visão única e modo próprio de criação literária.
 
Estilo de época: características comuns em obras de
autores diferentes,mas contemporâneos. Ex. embora
Bernardo Guimarães e José de Alencar tenham estilos
diferentes, ambos pertencem ao Romantismo.
Escolas literárias: (ou estilos de época)
•Quinhentismo – (1500 – 1601)
•Barroco – (1601 – 1768)
•Arcadismo – (1768 – 1836)
•Romantismo – (1836 – 1881)
•Realismo/Naturalismo/Parnasianismo – ( 1881 – 1922)
•Simbolismo – (1893 – 1922)
•Pré-modernismo – (1902 – 1922)
•1ª ger. Modernista – (1922 – 1930)
•2ª ger. Modernista – (1930 – 1945)
•3ª ger. Modernista – (1945 – 1960)
•Literatura contemporânea – (1960 – até nossos dias)
GÊNEROS LITERÁRIOS:
 
Conjuntos de elementos semânticos, estilísticos e
formais utilizados pelos autores em suas obras, para
caracteriza-las de acordo com a sua visão da realidade
e o público a que se destinam.
 
Lírico: sentimental, poético.
Épico: narrativo em versos metrificados.
Dramático: teatro (para representação)
Narrativo: conto, novela, romance, crônicas....
 
 
GÊNERO LÍRICO: é a manifestação literária em que
predominam os aspectos subjetivos do autor. É, em geral, a
maneira de o autor falar consigo mesmo ou com um
interlocutor particular (amigo, amante, fantasia, elemento
da natureza, Deus...)
 
Não confundir “eu-lírico” com o autor. O “eu-lírico” ou
“eu-poético” é uma espécie de personalidade poética criada
pelo autor que dá vazão a sensações e/ou impressões.
ELEMENTOS DA VERSIFICAÇÃO: Elementos técnicos que
auxiliam a leitura, a interpretação e a análise de textos
poéticos.
1. Verso e Estrofe:
Cada linha = verso Conjunto de versos = estrofe
Classificação das estrofes:
•Dísticos = 2 versos
Ex. Canção do exílio (José Paulo Paes) 
Um dia segui viagem
Sem olhar sobre o meu ombro
 
Não vi terras de passagem
Não vi glórias nem escombros.
 
Guardei no fundo da mala
Um raminho de alecrim.
 
(...)
•Tercetos = estrofes com 3 versos
Ex. Os Lírios (Henriqueta Lisboa)
 
Certa madrugada fria
Irei de cabelos soltos
Ver como nascem os lírios.
 
Quero saber como crescem
Simples e belos – perfeitos! –
Ao abandono dos campos.
(...)
•Quartetos = 4 versos
Ex. Infinito presente (Helena Kolody)
No movimento veloz
De nossa viagem,
Embala-nos a ilusão
Da fuga do tempo.
 
Poeira esparsa no vento,
Apenas passamos nós.
O tempo é mar que se alarga
Num infinito presente.
•Oitavas = 8 versos
Ex. Os Lusíadas (Canto primeiro) - Camões
 
As armas e os barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram.
 
As ar/mas/ e os/ ba/rões a/ssi/na/la/dos
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram.
 
•Décimas = 10 versos
Ex. As duas ilhas (Castro Alves) 
São eles – os dois gigantes
No século de pigmeus.
São eles que a majestade
Arrancam da mão de Deus.
-         Este concentra na fronte
Mais astros – que o horizonte
Mais luz – do que o sol lançou!...
-         Aquele – na destra alçada
Traz segura sua espada
-         Cometa, que ao céu roubou!...
•Soneto: composição poética de 14 versos = 2 quartetos e 2
tercetos
 
 Soneto de Fidelidade
 Vinicius de Moraes

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

1. Rimas: coincidência de sons (total ou parcial) entre palavras
no final ou no meio dos versos.
Classificação das rimas: Quanto à categoria gramatical:
 POBRES: as palavras que rimam pertencem à mesma classe
gramatical.
 
Exemplo:

Na marcha da vida
Que vai a voar
Por esta descida
Caminho do mar
RICAS: as palavras que rimam pertencem a classes gramaticais
distintas.
 
Exemplo: .....................arde (verbo)
.....................distante (advérbio)
.....................diamante (substantivo)
.....................tarde (substantivo)

RARAS: quando acontecem entre palavras de poucas rimas possíveis,


ou seja, palavras que não facilitam o processo de rima

cisne/tisne
•Quanto à disposição ao longo do poema:

 ALTERNADAS ou CRUZADAS:
seguem o esquema ABAB
 

“Mas que dizer do poeta - A


numa prova escolar -B
Que ele é meio pateta -A
e não sabe rimar?” -B
PARALELAS ou EMPARELHADAS:
seguem o esquema AA,BB, CC, etc.

Sino de Belém, pelos que inda vêm! - A


Sino de Belém, bate bem-bem-bem. - A
Sino da Paixão, pelos que lá vão ! - B
Sinos da Paixão, bate bão-bão-bão. - B

(Manuel Bandeira)
INTERPOLADAS ou OPOSTAS : seguem o esquema ABBA
 
Nas nossas ruas, ao anoitecer -A
Há tal soturnidade, há tal melancolia -B
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia -B
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer -A

Versos brancos: versos cuja


métrica se repete ao longo do
poema, mas não apresentam
rima.
 
1. Métrica: É o número de sílabas poéticas do verso. 
Na contagem das sílabas métricas (escansão), observam-se,
geralmente, as seguintes normas:
• A leitura de um verso deve ser caracterizada pelo ritmo;
• Faz-se a contagem de sílabas até a sílaba tônica da última
palavra;
• Acomodar as sílabas seguindo a entonação. Elisão = supressão
de sons ou a sinalefa = acomodação de vários sons a uma
única sílaba métrica).
• Os ditongos, em geral, equivalem a apenas uma sílaba métrica;
• Normalmente, quando uma palavra termina em vogal e a outra
começa por vogal, unem-se esses fonemas numa única sílaba
métrica.
Exemplos:
 

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas


 Ou – vi – ram – do – I – pi – ran – ga – as – mar – gens – plá –
ci – das
= 14 sílabas gramaticais
 
Ou – vi – ram – doI – pi – ran – gaAs – mar – gens – plá
= 10 sílabas poéticas
De um povo heróico o brado retumbante
 
De – um – po – vo – he – rói – co – o - bra – do – re – tum – ban –
te
= 14 sílabas gramaticais
 
Deum – po – vohe – rói – coo- bra – do – re – tum – ban
= 10 silábas poéticas
 
Tais versos são “decassilábicos” = 10 versos
Pentassílabos ou redondilha menor (5 sílabas)
 
E agora, José?
A festa acabou,
A luz apagou,
O povo sumiu.
(...)
Heptassílabos ou redondilha maior (7 sílabas)
 Como são belos os dias
Do despontar da existência
(...)
 
Eneassílabos = 9 sílabas
 Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
(...)
Dodecassílabo ou alexandrino: 12 sílabas poéticas
 
Olhai! O sol descamba...A tarde harmoniosa
Envolve luminosa a Grécia em frouxo véu,
Na estrada ao som da vaga, ao suspirar do vento,
De um marco poeirento um velho então se ergueu.
Versos livres são os que não
apresentam métrica regular.
 

Ritmo: a musicalidade implícita ou explícita no poema.

A Banda (Chico Buarque)


Estava à toa na vida,
O meu amor me chamou,
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor. (...)
ALITERAÇÃO: é a repetição constante de um mesmo
fonema consonantal.
Observe a aliteração do fonema /b/ neste verso de
Augusto dos Anjos:

“Brancas bacantes bêbadas o beijam”


ASSONÂNCIA:
É a repetição de um mesmo fonema vocálico e de
sílabas semelhantes, mas não idênticas. Observe a
assonância do fonema vocálico /a/ neste verso de
Cruz e Souza:

“Ó Formas alvas, brancas, Formas


claras.”
PARONOMÁSIA:
É a aproximação de palavras de um texto pela sua
semelhança na forma ou no som.

“Ah pregadores! Os de cá acharvo-eis com mais


paço; os de lá, com mais passos.”

“Como um eco que vem na aragem


a estrugir, rugir e mugir
o lamento das quedas d’águas!”
PARALELISMO:
É a repetição de ideias e palavras que se
correspondem quanto ao sentido. Observe o
paralelismo nestes versos:

“Mas é preciso ter força


É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
quem traz no corpo a marca.
ENJAMBEMENT:
Quando a pausa final do verso não coincide com a pausa
respiratória; quando o verso não finaliza juntamente com um
segmento sintático. Recurso este que consiste em terminar o verso
em discordância flagrante com a sintaxe, pela separação de
palavras estreitamente unidas num grupo fônico. As palavras
deslocadas para o verso seguinte adquirem, com isso, um realce
extraordinário.

E PARAMOS DE SÚBITO NA ESTRADA


DA VIDA: LONGOS ANOS, PRESA À MINHA
A TUA MÃO, A VISTA DESLUMBRADA
TIVE DA LUZ QUE TEU OLHAR CONTINHA.
 
GÊNERO DRAMÁTICO: textos para serem representados no
palco.
• Tragédia: fato trágico que provoca reação de medo ou
compaixão. Ex. “Édipo Rei”, de Sófocles.
• Comédia: satirização dos costumes sociais. Ex. “O Rei da
Vela”, de Oswald de Andrade.
• Drama: envolve a tragédia e a comédia. Ex. “Eles não usam
black-tie”, de G. Guarnieri.
• Farsa: pequena peça que critica a sociedade e seus
costumes. Ex. A Farsa de Inês Pereira”, de Gil Vicente.
• Auto: peça breve, de tema religioso ou profano, de aspecto
moralista. Ex. Auto da Barca da Glória, de Gil Vicente.
 

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