A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
Como a mídia de massa se tornou uma
máquina de propaganda
SUMÁRIO
PREFÁCIO – HEITOR DE PAOLA (PAG. 05)
INTRODUÇÃO (PAG.21)
Os fatos não são adequados para os leitores em sua forma crua, apenas
depois de cozidos, mastigados e, então, servidos com a saliva do repórter.
Arthut Koestler
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Já de início coloca-nos frente a uma característica do novo
jornalismo que tem sido ensinado nas universidades, algo desconhecido
para a maioria dos leitores: a ideia de que a um jornal, ou outra mídia
qualquer, não cabe apenas informar, mas transformar a sociedade, tendo
ouvido de um professor que “... o único motivo pelo qual buscamos
conhecimento é a vontade de alteração da realidade, a modificação ou
controle do nosso meio social”, não como uma conclusão, mas como
premissa.
Esta afirmação, em sendo verdadeira, poria por terra não apenas o
jornalismo informativo, mas toda a pesquisa filosófica e científica de
séculos. Mas só por isto podemos ver qual a base deste ensino: a anti-
filosofia marxista. Marx afirmou que “Até então os filósofos limitaram–se a
interpretar o mundo. Cabe, agora, transformá–lo”. Marx pretendia acabar
com a filosofia como amor ao conhecimento para, em seu lugar, colocar a
práxis – a aplicação da teoria à prática. Chega de investigar! Não mais
buscar o conhecimento “para o simples conhecer ou simplesmente para
orientar-nos, adaptar-nos, conhecendo as opções disponíveis com vista à
ação individual” . Prossegue o autor: “Individualmente, ninguém normal
busca transfigurar a sociedade à imagem e semelhança de suas utopias. Ao
menos este anseio não pode ser visto como natural no ser humano, mas
instigado de fora...”.
Creio que aqui cabe um esclarecimento de ordem psicológica: este
anseio é natural em todos os seres humanos na fase de desenvolvimento
infantil. A criança muito pequena não aceita adapta-se ao mundo, mas quer
que o mundo se adapte a ela. Revolta-se quando percebe sua extrema
fragilidade e dependência, abre o berreiro quando se defronta com qualquer
aspecto do mundo real que a frustra. É uma das principais tarefas dos
adultos que a cercam ajuda-la carinhosamente a aceitar as crescentes
frustrações, de modo que aquelas fantasias onipotentes (utópicas) sejam
reprimidas e enterradas profundamente. Mas permanecem com o potencial
de serem despertadas frente a frustrações naturais. Se persistirem na vida
adulta, o que eram fantasias normais, configuram agora um afastamento
delirante do mundo real.
Eis que encontramos aqui a crueldade maquiavélica da proposta
marxista: apesar da aparência racional e “científica” ela apela tão somente
para as frustrações profundamente enterradas em todos os seres humanos
fazendo com que elas voltem à tona. Como diz Armando Ribas: “educar
com marxismo é como amamentar com álcool”. A analogia é perfeita, pois
a ideologia embriaga ao estimular o retorno das antigas fantasias, já
inconscientes, de ser capaz de mudar o mundo a seu bel-prazer. É o perfeito
idiota útil (apud Lenin).
A predominância desta estimulação doutrinária no meio
jornalístico, pedagógico, artístico e nos consultórios psicológicos é
devastadora. Não por outro motivo o autor anunciou no Capítulo II uma
nova era, a das técnicas sociais.
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Heitor De Paola
Rio de Janeiro, julho de 2016
INTRODUÇÃO
I
JORNALISMO
TRANSFORMADOR
O ativista, aquele que sempre quer fazer, coloca a sua atividade acima de
tudo. Isso limita o seu horizonte ao âmbito do factível, daquilo que pode se
tornar objeto da sua ação. Ele vê apenas objetos. Não consegue perceber
aquilo que é maior do que ele, porque isso poderia colocar um limite à sua
atividade. Ele restringe o mundo àquilo que é empírico. O homem é
amputado. O ativista constrói para si uma prisão, contra a qual ele mesmo
protesta em voz alta.
O experimento
A sociedade planificada
Controle intelectual
O enfoque sistêmico
A Teoria Geral dos Sistemas, criada para o âmbito da biologia,
propunha-se a ser uma resposta aos erros do mecanicismo cartesiano que
vigorava como paradigma científico desde o início da ciência moderna.
Propôs uma dinâmica não mais linear, que analisasse as etapas de um
processo, mas circular, que compreendesse as relações dos diversos
processos com o todo. Do uso biológico para a compreensão de estruturas,
passou-se para a sociologia. É fácil imaginar a tentação de mudança social
mediante alterações cirúrgicas em elementos influentes para alcançar
objetivos em escala global.
O uso político das teorias matemáticas foi um dos fatores que
trouxe grandes modificações na compreensão do processo de comunicação
e do seu consequente uso para controlar os efeitos das mensagens. Oriundos
do sistemismo matemático, muitos conceitos puderam migrar para as
ciências humanas e dar origem a teorias e correntes do pensamento pós-
moderno. Apesar de parecer oposto à mentalidade técnica, o que chamamos
hoje de cibercultura (cyberculture) deve grande parte de suas crenças
cientificistas aos primeiros sistematizadores das telecomunicações.
No intuito de serem associadas à cientificidade, e com isso angariar
a tão disputada legitimidade social e política moderna, as ciências humanas
ocuparam grande parte da sua história tentando aproximar seus métodos aos
das ciências exatas. Os modelos de Lazarsfeld e outros, como vimos, já
buscavam esquematizar de modo exato e fixo o desenvolvimento de suas
teorias e hipóteses, muitas vezes tratando conceitos como elementos
invariáveis e dispondo-os em tabelas, gráficos e fórmulas. Mas
paralelamente aos funcionalistas como Lazarsfeld, e de modo
complementar a eles, surgiam por volta do final da década de 1940,
enfoques que buscavam aproximar ainda mais os modelos de comunicação
literalmente a uma exatidão matemática. O livro de Claude Elwood
Shannon, intitulado The Mathematical Theory of Communication,
rapidamente se tornou um manual para os estudantes das áreas de
telecomunicações. O trabalho foi desenvolvido dentro das pesquisas dos
Laboratórios Bell Systems, em que Shannon trabalhava. No ano seguinte,
após grande interesse científico, foi republicada com comentários de
Warren Weaver, que era coordenador de pesquisas técnicas sobre grandes
máquinas de calcular durante a Segunda Guerra Mundial. Mas aquilo que
havia sido pensado para ser um guia de modelos comunicacionais do setor
das telecomunicações, foi aos poucos ganhando uso em áreas inicialmente
não pensadas pelos seus autores.
Shannon propunha um esquema baseado no conceito de “sistema
geral de comunicação”. Para ele, todo processo de comunicação se resume
em “reproduzir em um ponto dado, de maneira exata ou aproximativa, uma
mensagem selecionada em outro ponto”. Tratava-se de um esquema linear
de comunicação, composto dos componentes como fonte (a informação),
que reproduz a mensagem, o codificador ou emissor, que a transforma em
sinais transmissíveis, o canal (meio), o decodificador ou receptor, que
reconstrói a mensagem por meio dos sinais, e finalmente, o destino ou
pessoa a quem é destinada a mensagem. O objetivo de Shannon era
puramente técnico, voltado a resolver os principais problemas das
telecomunicações. Ele queria poder quantificar o custo de uma mensagem e
do processo de transmissão dela, detectar possíveis problemas (ruídos) para
a plena correspondência entre dois pontos.
Esses estudos foram responsáveis pelo desenvolvimento posterior
da linguagem binária e outras pesquisas que levaram à criação das primeiras
máquinas de calcular e posteriormente do computador na década de 1940.
Mas outros cientistas perceberam que a mesma característica de
organização e sequência entre fatores aleatórios que se observava entre
máquinas, podia ser aplicada a organismos biológicos, organizações sociais
e ao processo de comunicação. O esquema linear utilizado na comunicação
da época vem da percepção de um sistema afetado por fenômenos
aleatórios, entre um emissor que tem liberdade para escolher a mensagem
enviada a um destinatário que recebe a informação com suas próprias
exigências. As noções de informação, transmissão, codificação e
decodificação, são emprestadas de Shannon, dessa forma, para a
esquematização de numerosos estudos sociais.
Traduzindo a partir dessa terminologia, surgem termos que vieram
para ficar nas ciências da comunicação, como redundância, ruído disruptor
e variáveis como a liberdade de escolha tanto do emissor quanto do
receptor. A fonte, como origem de toda a comunicação, dá forma à
mensagem que é transformada em informação quando codificada pelo
emissor. Esta teoria ainda não levava em conta a significação dos sinais,
isto é, o sentido que o destinatário vai atribuir a eles, nem mesmo a intenção
do emissor.
Essa corrente de estudo do processo comunicativo evidentemente
ficou presa demais à noção de uma linha reta entre um ponto de partida e
um de chegada, mas impregnou-se em grande parte das escolas de
pesquisas, mesmo opostas umas às outras. Esta ideia da comunicação faz
parte do funcionalismo e da sua característica preocupação com os efeitos.
A concepção sistêmica influenciou de modo substancial o estruturalismo na
linguística, especialmente as correntes que utilizaram a semiótica.
Tanto o sistemismo quanto o funcionalismo partilham um mesmo
conceito chave como ponto de partida: o conceito de função. Este conceito
é o que indica o primado do todo sobre as partes e esteve presente no uso da
“teoria dos sistemas”, para elaboração de estratégias de mobilização durante
a Segunda Guerra Mundial. O livro The modern theories of development,
publicado em 1933, pelo biólogo Ludwig von Bertalanffy, lança as bases
para o uso político do termo “função” do mesmo modo como ele era usado
na biologia.
A proposta do sistemismo é pensar o todo, o conjunto das
interações entre elementos, algo mais importante do que os vínculos de
causa e efeito. Compreender o conjunto do processo e a dinâmica dos
conjuntos de relações intercambiantes e múltiplos passa a ser o grande
objetivo desse novo enfoque. Não tardou para que a ciência política
encontrasse ai um método de análise e também de ação. A política passa a
ser considerada um “sistema de conduta”, o que se distingue do meio social
no qual ele se encontra, mas está aberto às suas influências. A política se
torna também um sistema de entradas e saídas (input-output), ação e
retroação, formado pelas interações com o meio, que influencia e é
influenciado, melhorando-o ou piorando-o. David Easton, no livro A
framework for political analysis, de 1965, trouxe importante contribuição
neste sentido e elaborou um sistema de estudo comparado das formas
políticas. E finalmente, Karl W. Deutsch, que já havia aplicado estes
estudos às relações internacionais e, dez anos depois, apresentou a
aplicação do esquema sistêmico para a comunicação política e o controle
(The nerves of government: models of political communication and
control).
A grande ameaça da teoria dos sistemas na análise de problemas
sociais, admitida por inúmeros cientistas, é o uso revolucionário da noção
de dependência do todo, o que permite sugestões totalitárias, já que o
indivíduo é reduzido a uma parte dependente e portanto reordenável por
meio de mecanismos que agem no todo. Para qualquer problema social
almeja-se a ação global e mudança radical de mentalidade por meio de
atividade cirúrgica nos moldes hipodérmicos. Pascal Bernardin, no livro O
Império Ecológico, chama atenção para quando problemas sistêmicos são
usados para justificar reformas em todos os domínios[13]. A teoria de
sistemas cresceu muito e hoje ganhou apreço dos grandes cientistas à frente
de pesquisas sociais das Nações Unidas. O problema ecológico, sobre o
qual falaremos mais adiante, exemplifica muito bem esta situação. Na
mídia, a noção de função editorial permite que se escolha aspectos da
realidade que expliquem determinado fenômeno. Assim, pode também
selecionar os fatos que concorram para a realização de objetivos específicos
negligenciando outros.
A perspectiva sistêmica na comunicação representou um
importante avanço estratégico para a política, que forneceu instrumentos
para o controle das reações do público, de movimentos sociais. Sua
eficiência teve impulsos consideráveis com a combinação entre teoria
sistêmica e a psicanálise. Assim, a partir da década de 1960, pesquisadores
mais conhecidos pelos estudos teóricos em comunicação de massa e opinião
pública acabaram percebendo tais virtudes do modelo sistêmico para a
compreensão do processo de decisão política, assim como as possibilidades
de alteração.
Utopias cibernéticas
III
O GOVERNO MUNDIAL
Revolução global e Nova Era
Libido dominandi
Aqueles que desejam liberar o homem da ordem moral precisam impor controles sociais tão
logo eles o consigam, porque a libido liberada conduz inevitavelmente à anarquia. No curso
de dois séculos, aquelas técnicas tornaram-se mais e mais refinadas, resultando num mundo
onde as pessoas fossem controladas, não por forças militares, mas pelo controle técnico de
suas paixões.
...Mais nascimentos entre as pessoas aptas e menos entre as não aptas, esse
é o principal objetivo do controle da natalidade.
O DISCURSO
AMBIENTALISTA NOS JORNAIS
Figura 1: Tipos de discurso e o modo como apareceram ao longo dos seis meses pesquisados
O CONTROLE DA MÍDIA