Você está na página 1de 298

Um livro que radiografa, critica e ironiza o exercício do poder no Brasil –

um país que tem o surrealismo como regime de governo. Não é uma obra
para a direita ou a esquerda, para coxinhas ou mortadelas, mas uma leitura
voltada a todos aqueles que já se deram conta de que há algo fora do lugar
na política brasileira. O autor oferece um livro revelador, utilizando dados
e contradições para quebrar mitos propagados há séculos e colocar em
desconforto nossos próprios conceitos ideológicos. Como Pedro Bial
escreve no prefácio, "este guia é corretíssimo, incorreta é a realidade aqui
descrita". Uma realidade escandalosa, retratada no livro com ironia e
sarcasmo.
Clube SPA

Podes ter um senhor, podes ter um rei, mas o homem a temer é o


cobrador de impostos.
– Tábuas de barro de Lagash, 2500 a.C.

Nós enforcamos os pequenos ladrões e indicamos os grandes para os


cargos públicos.
– Esopo, 600 a.C.

Quanto mais corrupto o Estado, maior o número de leis.


– Tácito, século I

O governo tem estratégias. As pessoas têm contraestratégias.


– Provérbio chinês

Se gritar pega ladrão, não Nica um, meu irmão.


– Bezerra da Silva1

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA

Não sei se concordo com o título deste livro.


Não consigo chamar de politicamente incorreta a clara exposição de um
quadro tenebroso, fruto de investigação fundada e profunda, diagnóstico
detalhado das patologias que assolam o sistema político e os poderes públicos
do Brasil.
Este guia é corretíssimo, incorreta é a realidade aqui descrita.
Aliás, incorreta é apelido, eufemismo brabo. O que aqui se demonstra, de
forma equilibrada e cirúrgica, muito mais que incorreto, é indecente, de
arrepiar qualquer ser minimamente dotado de senso moral; é escandaloso,
revoltante, nojento, tétrico. (Deixa eu gastar todos os adjetivos no prefácio, pois
o texto beira o irrefutável de tão substantivo.)
Logo na introdução, em bem-vindo “disclaimer” (aviso legal), Rodrigo da
Silva promete o que irá de fato cumprir:

Nas próximas páginas, você não encontrará em nenhum capítulo, em


qualquer contexto, palavras como esquerda ou direita, ou ainda
socialismo, conservadorismo ou (neo)liberalismo.

Porém, não se confunda tal independência com neutralidade forçada, o


ponto de vista de Rodrigo se expõe com clareza. O autor observa nossa
realidade de um posto altamente subversivo, quase banido de nossa prática,
anátema da cultura brasileira: o lugar da racionalidade. E é uma razão solidária,
movida por compaixão discreta, quase disfarçada sob tantos números, dados,
estatísticas, planilhas, documentos; numa palavra: e-vi-dên-ci-as.
Pois então.
Volto a repetir: este guia nos conduz, de forma mais que correta, precisa,
pelos círculos malditos da, esta sim, incorreta política brasileira. Aliás, vamos
aproveitar a oportunidade para tentar resgatar o sentido de “correção política”.
Nos tempos que correm – de saudável dissolução de valores podres e do
insalubre vácuo que por ora se segue e se instala –; nesses dias em que se levam
a sério abundantes sandices populistas, mas que rir de uma piada pode levar o
sujeito à prisão, ou pior, ao tribunal pré-hamurábico da internet; valei-nos a
razão neoiluminista aqui representada por Rodrigo da Silva.
Rodrigo não esquece, e pratica nesta obra, o lema iluminista expresso por

outubro2018
Clube SPA

Emanuel Kant: “Ouse compreender!”


(Sim, há um movimento neoiluminista, libertário, no panorama intelectual
do mundo, representado por nomes como Steven Pinker, Antonio Damasio,
Yuval Noah Harari, Jordan Peterson e Hans Rosling, entre outros. No Brasil,
arriscaria apontar Eduardo Gianetti e Fernando Gabeira como dois que estão
antenados nessa onda, cientes de que já há no horizonte, na vanguarda do
pensamento, projeções, interpretações e especulações de como e o que será o
mundo da governança pós-governo, e qual será o capitalismo pós-capitalismo –
pois sabemos que o capitalismo se transforma, enquanto suas defuntas
alternativas jazem fossilizadas.)
Essas páginas, além de retrato sem filtro de brutal realidade, podem bem
servir como manual de referência a quem se dispuser, paciente, honesta e
tenazmente, a promover mudanças no “status ‘cocô’” que nos domina há
séculos. Bastaria a homens de boa vontade seguir o inventário de absurdos aqui
organizado para iniciar o tremendo e inevitável trabalho de desmonte do
edifício disfuncional e torto, erguido desde nosso “descobrimento” – o
monumento é antigo e parece inexpugnável, mas nem por isso é invulnerável ou
imutável.
Não temos por que e não podemos aceitar o inaceitável como fato da vida, ou
traço cultural. Não! Nossa cultura, em sua mestiçagem única e exemplar, pode,
ao contrário, nos servir de aliada na demolição das estruturas que criaram,
adubam e perpetuam a vergonhosa desigualdade brasileira. Rodrigo desvela,
com paciência e exatidão, os mecanismos pelos quais o Estado brasileiro se
tornou o principal promotor e mantenedor de nossas iniquidades.
A começar pela descrição minuciosa das perversões de nosso poder
legislativo, vítima do que Rodrigo qualificou de “diarreia institucional” (e olha
que ele foi elegante na classificação!), somos levados ao misto de trem-fantasma
com montanha-russa dos poderes Executivo e Judiciário.
Por exemplo, no Rio de Janeiro, da guerra civil não declarada, da intervenção
militar semicrônica: “A Câmara dos Vereadores do Rio gasta anualmente R$ 3,6
milhões apenas com selos para cartas, 700 vezes mais do que o desembolso
anual com inteligência policial do estado do Rio de Janeiro”; enquanto no
Nordeste, “Entre 2015 e 2017, o gasto do Gabinete Civil do Governo do Estado do
Rio Grande do Norte com a aquisição de flores e alimentação em eventos internos
foi três vezes maior do que o investimento do estado na Polícia Civil”.

A cada 24 horas, nós produzimos dezoito novas leis no país.

outubro2018
Clube SPA

O Congresso brasileiro é o mais caro do mundo (…) e o nosso Judiciário é


o mais caro do Ocidente. (…)

E qual é a profissão mais bem remunerada no Brasil? Neurocirurgião?


Advogado? Médico? Cantor sertanejo? Jogador de futebol? Não! “Em
primeiríssimo lugar, com um rendimento médio anual de mais que o dobro do
segundo colocado no ranking, está uma profissão que não é exatamente
exercida por funcionários públicos, mas por agentes privados que detêm o
direito a uma concessão pública: os titulares de cartório. Esses profissionais
ganham anualmente, em média, R$ 1,136 milhão.”
A tradição da insensatez está bem descrita na parte histórica do livro, em
que o jogo de espelhos entre passado e presente revela de onde vêm, por que e
como persistem nossos instrumentos de criação e disseminação de injustiças.
O primeiro historiador brasileiro, Frei Vicente de Salvador, já identificava,
em 1627, que “nenhum homem nesta terra é repúblico, nem zela, ou trata do
bem comum, senão cada um do bem particular. (…) Pois o que é fontes, pontes,
caminhos e outras coisas públicas é uma piedade, porque atendo-se uns aos
outros, nenhum as faz, ainda que bebam água suja, e se molhem ao passar dos
rios, ou se orvalhem pelo caminho.”
Outro historiador, Manoel Bomfim, em 1905, diagnosticava: “o Estado só tem
um objetivo: garantir o máximo de tributos e extorsões. (…) Este, porém, vasto
como é, não representa nenhum serviço de utilidade pública. Compreende
apenas: a força pública – para manter a máquina de exações; a justiça – para
condenar; a corte e os empregados do fisco. Todo o pensamento político se
resume em conservar as coisas como estão, em manter a presa.” E Rodrigo da
Silva aqui complementa: “A história do Brasil pode ser resumida como uma
coleção de grupos de pressão buscando conquistar o máximo de privilégios
através da atividade política, dentro ou fora do serviço público.”
Algumas consequências dessa história identificáveis no presente:

(…) nós somos o segundo pior país do mundo no quesito regulação


governamental (atrás apenas da Venezuela) e disputamos as primeiras
posições na categoria ineficiência do gasto público, junto com a
Venezuela, El Salvador e o Zimbábue (…) O Brasil é o campeão mundial
em burocracia fiscal, o líder global em encargos trabalhistas e o quinto
pior país do mundo no quesito “facilidade para começar um negócio”
(atrás apenas de Bolívia, Etiópia, Camboja e Zimbábue).

outubro2018
Clube SPA

O que aqui se faz exposto torna vãs as discussões acadêmicas sobre o


tamanho ideal do Estado, se mínimo, se máximo, se inevitável. O Estado
brasileiro, tal como existe e opera, grande ou pequeno, é indefensável. Para
abrigar alguns dos infinitos tentáculos do Leviatã tupiniquim, por exemplo, “nós
gastamos, através de impostos, quase o mesmo valor do maior programa de
financiamento de imóveis populares do país apenas para bancar o aluguel de
prédios que abrigam serviços públicos. E ainda assim temos de 10 a quase 20
mil imóveis de propriedade do governo federal vazios, sem qualquer utilidade”.
O que têm em comum nosso sistema tributário e os serviços públicos? São
ambos indecentes:

No índice que mede a qualidade da infraestrutura de um país, o Brasil


ocupa o vergonhoso 120o lugar em 144 posições possíveis, atrás de países
como Etiópia, Suazilândia, Uganda, Camboja e Tanzânia. As nossas
estradas são piores que as da Bolívia, do Zimbábue, do Butão e do
Paquistão.

No Brasil, 92% dos lares têm celular e 63% possuem acesso à internet,
mas quase 100 milhões de pessoas ainda não possuem acesso à coleta de
esgoto – e desse esgoto coletado, apenas 40% é tratado.

Depois dessa viagem pelos labirintos de nossa distópica burocracia, ao fim


da leitura chegamos bruscamente a 2018. Neste ano de eleições tensas, nos
vemos acossados pelos dois extremos do mesmo fenômeno, o melhor parceiro
das estruturas arcaicas e injustas: “O populismo promete respostas fáceis para
problemas complexos; ignora leis básicas da economia; incita o ódio, o
preconceito e a violência; suprime evidências para sustentar promessas
inconsistentes; cria bolhas ideológicas; manipula a opinião pública; loteia o
Estado, distribuindo privilégios injustificados; personifica o debate e altera de
forma grosseira os acontecimentos do passado.”
Mas Rodrigo da Silva não se deixa levar pelo esporte nacional de apontar a
responsabilidade alheia ao mesmo tempo em que se tapam os olhos para o
espelho sujo: “O populismo, porém, não é uma doença. É um sintoma, uma
oferta atendendo a uma demanda. Ele indica um forte viés de uma parcela
significativa da população que insiste em enxergar a política como um
instrumento de libertação; uma catarse coletiva que, de quatro em quatro anos,
atinge até os mais céticos dos eleitores; uma grosseira noção de esperança
relegada à mera eleição de líderes messiânicos, salvadores da pátria e super-

outubro2018
Clube SPA

heróis.”
Por sua fúria, clareza e coragem moral, este guia não vai deixar indiferente.
Mas não se iludam: só indignação não absolve ninguém.

– Pedro Bial é jornalista, escritor, cineasta, poeta e apresentador de TV. Cobriu


alguns dos eventos mais importantes do século XX, como a guerra do Golfo, o
colapso da União Soviética e a queda do Muro de Berlim. Apresenta atualmente o
talk-show Conversa com Bial, na Rede Globo.

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA

Esta não é uma obra para coxinhas. Nem para mortadelas.


Nas próximas páginas, você não encontrará em nenhum capítulo, em
qualquer contexto, palavras como esquerda ou direita, ou ainda socialismo,
conservadorismo ou (neo)liberalismo.
Este livro não elege um partido ou um candidato como o centro dos
problemas do país. Tampouco tem a pretensão de fazer propaganda para quem
quer que seja.
Caso você esteja atrás de palavras de ordem, procurando apenas mais uma
maneira de confirmar aquilo que já defende sobre os assuntos abordados aqui,
sinto informar: este livro não foi feito para você. Aposto, no entanto, que há
inúmeros títulos desse tipo disponíveis na seção de política da sua livraria
favorita. Muitos deles logo na entrada, por preços ainda mais convidativos do
que este. Eu garanto, eles preencherão melhor o seu tempo.
As próximas páginas foram escritas sob medida para você, que já não tem
mais paciência de encarar a propaganda eleitoral obrigatória; que está cansado
das filas de pagamento das guias de recolhimento de órgãos públicos; que é
incapaz de colocar a mão no fogo pela maioria esmagadora dos nossos
representantes políticos, independentemente do partido. Este livro foi feito
para quem já sacou há muito tempo que há algo fora do lugar na política
brasileira, mas que desconfia que os problemas deste país são
assustadoramente mais complexos do que projetam os nossos palanques.
Antes de dar sequência à leitura dele, porém, um aviso importante. Esta
também não é uma obra escrita por alguém que vive em cima do muro, fingindo
uma isenção para inglês ver. Como a capa deste livro entrega, o que reside em
suas mãos neste momento é uma série politicamente incorreta, com o desafio de
ser um fact-checking do poder no Brasil, escrita com o propósito de quebrar
mitos insistentemente propagados por aqui desde tempos imemoriais, muitos
deles por alguns dos nossos mais importantes formadores de opinião. Não é
tarefa deste livro tentar agradar a gregos e troianos, a petistas e tucanos – mas,
pelo contrário, provocar torcidas involuntárias de narizes, colocando em
desconforto nossos próprios preconceitos ideológicos.
Longe, apesar disso, da pretensão de apolitizar ou demonizar a atividade
política, como um panfleto anarquista, esta obra foi escrita sob a égide de uma

outubro2018
Clube SPA

profunda desconfiança das promessas políticas. Sua ideologia é o ceticismo, uma


extensa desconstrução da visão romântica de que os eleitos são servidores
altruístas do interesse público, verdadeiros super-heróis do povo.
Parte importante desta obra procura revelar a matemática distópica por trás
da máquina pública brasileira, numa coletânea de causos que se reunidos numa
obra de ficção testariam a verossimilhança em qualquer leitor minimamente
desconfiado.
Cada palavra publicada aqui foi instigada por um arraigado cinismo sobre o
exercício do poder no Brasil, o protagonista na construção da história de um
país que tem o surrealismo como regime de governo: uma engrenagem
executada de forma completamente desregulada, sem instrumentos genuínos
de controle e que tem como principal objetivo, longe da preocupação com a
manutenção dos serviços públicos – como as páginas a seguir demonstrarão –,
servir para o sustento dos seus próprios atores.

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA


Não há nada tão inútil quanto fazer eficientemente o que não deveria ser feito.
– Peter Drucker

O Estado brasileiro não faz o menor sentido

O Brasil é a maior fábrica legislativa do mundo. Do Caburaí ao Chuí, a cada


24 horas, nós produzimos dezoito novas leis no país. É lei que não acaba mais.
Entre 2000 e 2010, considerando decretos federais e legislações ordinárias e
complementares estaduais e federais, os nossos legisladores produziram a
incrível marca de 75.517 leis e decretos.1 Numa mísera década. Isso sem levar
em consideração o trabalho das nossas Câmaras de Vereadores, que faria esse
número ir para o espaço.
E nós não paramos por aí. Há ainda outras normas. De acordo com um
levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação
(IBPT),2 de outubro de 1988, quando ainda testemunhava o nascimento de sua
sétima Constituição Federal, até setembro de 2016, quando viu Michel Temer
completar seus primeiros trinta dias no poder, o Brasil editou 5.471.980
normas. A média do período é de 769 normas (somando 2,3 milhões de
palavras) por dia útil.
Eis uma robusta máquina de burocracia. E com o conteúdo mais
diversificado possível: emendas constitucionais, leis delegadas, leis ordinárias,
leis complementares, decretos federais, medidas provisórias. Na prática, quase
um programa nacional de estímulo às fábricas de celulose.
No almoxarifado do Leviatã, seria necessário 28.618.455 folhas de papel A4
só para publicar todas as normas editadas no país desde 1988 (em letra tipo
Arial 12). Se colocássemos uma folha ao lado da outra, seria possível construir
uma estrada com 8.500 quilômetros de burocracia, 1.133 quilômetros a mais do
que a extensão do litoral brasileiro. Seria possível ainda converter todo esse
material em 283.333 rolos de papel higiênico, o suficiente para atender às
necessidades de uma pessoa por quase cinco mil anos.
E há as palavras inseridas dentro dessa papelada toda. Só em matéria de
normas tributárias (363.779 editadas no período, 1,88 por hora, considerando
dias úteis), a média é de 11,23 artigos publicados por norma, com cada artigo

outubro2018
Clube SPA

somando 2,33 parágrafos e 7,45 incisos. A matemática é distópica: na ponta do


lápis nós estamos falando de 4.085.239 artigos, com 9.518.606 parágrafos e
30.435.029 incisos publicados desde 1988. Repito: apenas no que diz respeito
às normas tributárias.
Em 2014, o advogado mineiro Vinicios Leoncio decidiu publicar um livro
catalogando a legislação tributária brasileira editada entre 1988 e 2011. O
resultado é Pátria amada, literalmente um dos maiores livros do mundo, com
7,5 toneladas (o peso de dois hipopótamos)3 distribuídas em mais de 41 mil
páginas, cada uma delas medindo 2 metros e 10 de comprimento por 1 metro e
40 de largura. A obra custou R$ 1 milhão para ser produzida.
Partes importantes dessas normas já não estão mais em vigor, é verdade. Os
números, no entanto, permanecem desproporcionais. A estimativa do IBPT é
que cada empresa brasileira siga nesse momento uma média de 3.796 normas
tributárias, com mais de 11 milhões de palavras; o correspondente a 5,9
quilômetros de normas para cada uma delas.
Em decorrência desta quantidade kafkiana de normas, as empresas
brasileiras gastam um caminhão de dinheiro todos os anos apenas para manter
a estrutura necessária para acompanhar as modificações da legislação.
Despejam uma fortuna em recursos materiais e mão de obra improdutiva: cerca
de R$ 60 bilhões por ano,4 segundo o IBPT (mais que o dobro do valor
desembolsado anualmente pelo governo federal com o Bolsa Família).
Não sem motivo, o Brasil é o país em que os empreendedores mais dedicam
tempo com burocracia tributária no mundo: em média 2.038 horas por ano,5 o
dobro do segundo colocado no ranking, a Bolívia. Nós também gastamos seis
vezes mais que a média dos países da América Latina e Caribe, e doze vezes a
média dos países desenvolvidos – tempo suficiente para assistir 3,5 vezes a
todas as partidas do Campeonato Brasileiro de Futebol da série A. O cenário por
aqui é tão complexo que, para a economista portuguesa Rita Ramalho, diretora
do Banco Mundial, o tempo perdido com a burocracia no Brasil custa mais ao
país que os próprios impostos.6
O problema nasce logo na hora de abrir uma empresa por aqui. Segundo o
Banco Mundial, nós estamos entre as quinze piores nações no quesito facilidade
de abrir um negócio (junto com o Zimbábue, o Haiti e a Venezuela). É mais fácil
encarar a burocracia para montar uma empresa na Faixa de Gaza do que no
Brasil. Por aqui, nós precisamos de longos 101,5 dias para cumprir essa tarefa,
ou quase três meses e meio – doze vezes mais que os países desenvolvidos.
Não há outra expressão: é uma diarreia institucional. Segundo um estudo

outubro2018
Clube SPA

elaborado pela Endeavor, dos 32 municípios mais importantes para a economia


brasileira, 16 fizeram de uma a 13 atualizações na legislação do Imposto sobre
Serviços, o ISS, num intervalo de apenas quatro anos, entre 2013 e 2017; 12
modificaram a legislação municipal entre 13 e 25 vezes; dois alteraram entre 25
e 37 vezes e ainda outros dois entre 37 e 49.7

Com o IPTU, o cenário é parecido. Durante o mesmo período, 14 municípios


atualizaram sua legislação entre 1 e 10 vezes, nove atualizaram entre 10 e 19
vezes e outros nove entre 19 e 37 vezes.

outubro2018
Clube SPA

E nós não paramos nos municípios. Nos estados, o modelo é insistentemente


repetido com o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS),
com atualizações para todos os gostos: para conceder benefícios fiscais, regular
o parcelamento de débitos, modificar o recolhimento de impostos, estabelecer
isenção em operações, entre outras inúmeras razões. Entre 2013 e 2017, num
grupo de 22 estados analisados, Santa Catarina foi o que menos modificou a
legislação do ICMS (fez isso 54 vezes, uma média de 14 atualizações por ano).
Na ponta do ranking, o Rio Grande do Sul editou 558 novas leis e decretos para
o imposto no mesmo intervalo de tempo, uma média dez vezes superior à dos
vizinhos catarinenses.
No meio de tamanha dislexia legislativa, com tantas leis e atualizações
tributárias invadindo o arcabouço jurídico do país, não é de estranhar que
tantas empresas tenham dificuldade para pagar seus impostos no Brasil.
Distante das salas dos nossos aspones, é uma atividade quase sobre-humana
acompanhar cada alteração na legislação do país.
Segundo um levantamento do Fórum Econômico Mundial, nós estamos na
posição 139 entre 140 países analisados no quesito “facilidade de cumprir
requisitos administrativos e regulatórios”. Além disso, a burocracia
governamental é considerada o terceiro pior fator entre os que mais
atrapalham os negócios no país, atrás apenas de acesso ao crédito e corrupção.8

Facilidade de cumprir requisitos administrativos e regulatórios, 2015 (7 = altamente fácil, 1 =


extremamente difícil)

outubro2018
Clube SPA

A partir do processamento de dados de aproximadamente 6,5 milhões de


CNPJs ativos em 2017, a Endeavor chegou à conclusão que 39% das empresas
brasileiras operam com pelo menos uma pendência no pagamento de tributos
federais ou no cumprimento de exigências de órgãos como a Procuradoria-
Geral da Fazenda Nacional, o Tribunal Superior do Trabalho e a Caixa
Econômica Federal (FGTS), o que representa algo próximo a 2,5 milhões de
empresas negativadas. E o pior: boa parte delas sequer tem conhecimento das
suas irregularidades com o fisco.
Ao analisar os dados do Instituto Brasileiro de Certificação e Monitoramento
(Ibracem), que cobre irregularidades em cinco órgãos do fisco, nos níveis
municipal e federal, a Endeavor chegou à conclusão de que o cenário é ainda
pior: 86,2% das empresas apresentaram alguma irregularidade em 2017
(sendo que 28,2% delas contabilizaram irregularidades em todos os órgãos
consultados pelo Ibracem).
O ambiente regulatório do país é tão mal construído que mesmo escritórios
de contabilidade e de advocacia, que representam a ajuda profissional
fundamental às empresas para encarar toda a complexidade tributária
construída pelos nossos legisladores, apresentam alta irregularidade: em 2017,
80,4% dos escritórios de advocacia e 88,2% dos escritórios de contabilidade
analisados tinham pendências em relação a pelo menos um órgão do fisco. Nem
os profissionais do ramo são capazes de decifrar o nosso desarranjo tributário.
E se manter uma empresa por aqui é difícil, fechá-la é ainda pior. Uma
análise de dados da Neoway, exposta pela Endeavor, mostra que havia 20,5
milhões de CNPJs ativos no Brasil em 2017. Desses, 31,7% possuíam um nível
considerado alto de atividade, enquanto 50% apresentavam nível médio. O
ponto fora da curva surge exatamente do que sobra: os dados mostram 18% –
ou seja, 3,7 milhões de CNPJs – ativos na Receita, mas com níveis de atividade
baixíssimos. É nessa parcela significativa que residem todas as empresas que
não conseguiram fechar suas atividades por alguma pendência com o fisco no

outubro2018
Clube SPA

Brasil. E isso fica escancarado ao cruzar esses dados com o das pendências
tributárias: dessas empresas, menos de 3% estavam regulares em 2017.
Todo esse modelo caótico cria uma série de problemas para o país. Na
prática, o trabalho mal desenvolvido pelos nossos legisladores torna o Brasil
mais pobre. Como os economistas Marcos Lisboa e José Scheinkman
argumentam,9 quando permitimos um processo mais rápido de fechamento das
empresas que não andam muito bem das pernas, transferindo seus ativos para
empresas mais eficientes, geramos um nível maior de produtividade e geração
de emprego. Em contrapartida, quando dificultamos esse processo, protegendo
a manutenção de empresas ineficientes, reduzimos a produtividade geral.
Os dois economistas calculam que a produtividade no Brasil permaneceria
inferior à de países como os Estados Unidos ainda que tivéssemos a mesma
composição setorial que a dos americanos – e isso porque, de modo geral, nós
somos menos eficientes que eles (o que, em outras palavras, quer dizer que com
o mesmo capital e trabalho nós produzimos menos).
Lisboa e Scheinkman citam que a nossa produtividade nos setores de
serviços de alta tecnologia, por exemplo, é similar a dos serviços de baixa
tecnologia nos países desenvolvidos. Para ambos, o aumento de produtividade
nesses países é fruto principalmente de um arranjo legislativo que facilita tanto
a entrada de novas empresas no mercado como o fechamento de empresas
ineficientes, permitindo a destruição e criação de empregos e transferindo os
ativos destas para aquelas, mais eficientes.
Na indústria americana, por exemplo, essa troca de velhas por novas
empresas explica 60% da destruição e criação de empregos no setor na última
década (nos serviços, a conta é ainda maior: de 80%). Nesse processo, é
verdade, não faltam exemplos de novas empresas que em pouco tempo
fracassam de forma retumbante. Algumas delas, no entanto, sobrevivem
exatamente por se revelarem mais eficientes do que as antigas no setor. O
resultado é o crescimento geral da produtividade (leia-se: mais emprego e
maior renda).
O problema é que o nosso arcabouço jurídico não é pensado para facilitar
esses processos. Devido em grande parte ao arranjo legislativo incompreensível
produzido pelo Estado brasileiro, a produtividade geral do trabalho por aqui
está entre as mais baixas do mundo (US$ 19,52 por pessoa empregada por
hora).10 A média dos países analisados pelo International Institute for
Management Development é de US$ 40,54, mais que o dobro da nossa.
A existência desse complexo modelo tributário, constantemente atualizado

outubro2018
Clube SPA

pelos legisladores para permitir lacunas fiscais como deduções, isenções e


preferências especiais a determinados setores econômicos, também torna o
país inteiramente sujeito às atividades do lobby e da corrupção. E não é muito
difícil entender o porquê. No momento em que a legislação do país permite
tamanho espaço para esse tipo de proteção fiscal, incentiva as empresas a
dedicar vastos recursos para influenciar as atualizações do nosso código
tributário, abrindo terreno para a compra de legisladores, distorcendo o
mercado, diminuindo a renda e a produtividade geral e aumentando a
desigualdade social. É isso que veremos mais a fundo no quinto capítulo deste
livro.
Tamanha burocracia também pune diretamente os mais pobres. Políticas
que aumentam o custo de empreender – como as que exigem volumosos gastos
para acompanhar todas as atualizações da máquina tributária (com advogados,
contadores etc.) – empurram os que não possuem recursos suficientes para
encarar a legalidade para a marginalidade institucional, tornando esses
empreendedores mais suscetíveis à insegurança nos negócios e à falência,
protegendo da concorrência os já estabelecidos (e mais ricos) no mercado.
A burocracia faz o mesmo com os empregados. No Brasil há 34,2 milhões de
trabalhadores informais e 33,1 milhões de registrados.11 Ou seja, há mais
brasileiros sem qualquer proteção no mercado de trabalho do que com carteira
assinada, um luxo acessível apenas para a parcela mais rica da população. Na
média, um trabalhador sem carteira ganha 44% menos que um empregado
formal.12
Em 2015, o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio
Vargas (FGV), em parceria com o Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial
(ETCO), apurou que a fatia da economia subterrânea em toda a riqueza gerada
no país foi de 16,2%.13 Em números absolutos, nós estamos gerando R$ 956,8
bilhões da nossa riqueza na informalidade. A maior parte disso graças ao
péssimo trabalho realizado pelos legisladores que elegemos.

Inútil. A gente somos inútil.

Como os números apontam, nós temos uma séria fixação em produzir


legislação. Nem a nossa Constituição escapa: com 64.488 palavras, ela é mais
longa do que a de qualquer país da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) ou da América Latina (é oito vezes maior

outubro2018
Clube SPA

que a Constituição americana e quase treze vezes maior que a Constituição


japonesa).14
Com tamanha burocracia, tudo que conseguimos provocar é uma ignorância
generalizada: 84% dos brasileiros afirmam conhecer pouco ou quase nada as
leis do nosso país.15
E se você é parte desse bolo, mas está curioso em tentar mensurar a
qualidade da produção legislativa dos nossos vereadores, deputados e
senadores, não trago boas notícias: uma parcela importante desse trabalho é
literalmente inútil.
Os nossos políticos não apenas produzem uma quantidade avassaladora de
leis, eles também desconhecem solenemente o arcabouço jurídico do país,
inutilizando incontáveis horas de trabalho legislativo. Parte substancial das leis
produzidas no Brasil não viram leis de verdade. E por um motivo muito simples:
elas não são constitucionais.
No estado de São Paulo, quase oitocentas leis foram julgadas
inconstitucionais só em 2016.16 Naquele ano, 85% das ações de
inconstitucionalidade julgadas pelo TJ-SP foram consideradas procedentes. No
Rio de Janeiro esse número alcançou os 79%.17 No mesmo período, de cada três
leis, duas foram julgadas inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal
(STF).18
Há quase uma década, com o slogan Você sabe o que faz um deputado federal?
Eu também não sei, vote em mim que eu te conto, o palhaço Tiririca (PR/SP)
virou o deputado federal mais votado do país. Como escancaram os tribunais,
ele não estava sozinho nessa. Inúmeros parlamentares ainda em atividade
permanecem sem entender suas obrigações legais. E isso é facilmente
mensurado pela (falta de) qualidade de seus trabalhos: a principal motivação
para a presença de tanta inconstitucionalidade na produção legislativa
brasileira é o fato de os nossos legisladores criarem leis para âmbitos que não
lhes competem.
Em Aporá, no interior da Bahia, por exemplo, a Câmara de Vereadores
chegou a aprovar a alteração do artigo 29 da Constituição Federal. E se engana
quem pensa que o erro permaneceu preso aos vereadores: a emenda ao texto
constitucional foi sancionada pelo prefeito.
Nada disso é um fenômeno moderno. Já em 1971, na edição do dia 9 de
junho,19 O Estado de S. Paulo noticiava os planos mirabolantes de um prefeito
alagoano, disposto a alterar leis ainda mais resistentes que a Constituição
Federal. Diz o jornal:

outubro2018
Clube SPA

Informado pelo engenheiro da Municipalidade que a lei da gravidade


impedia a construção de uma caixa de água na praça central de Palmeira
dos Índios, devido a um forte declive, o prefeito Minervo Pimentel, do
MDB, não esteve pelos autos. Retornando ao gabinete, chamou seu líder
na Câmara recomendando-lhe que conseguisse maioria “para derrubar a
lei da gravidade, pois preciso construir uma caixa de água na praça”.
Ao que retrucou o líder: “Senhor prefeito, não se sabe se esta lei é
municipal ou estadual. E, depois, pode ser federal. É melhor não mexer no
assunto para não criar problemas. O negócio é não desobedecer ao
engenheiro, que é autoridade no assunto.”
Comenta-se em Maceió que se prevalecer a opinião do prefeito e a
caixa de água for construída, Palmeira dos Índios poderá ter a sua Torre
de Pisa.

O prefeito foi voto vencido e a caixa-d’água jamais foi erguida.


De fato, a estupidez jamais deixou de estar presente na prática legislativa
tupiniquim. Ainda hoje, sobram leis estapafúrdias constitucionais nos cantos
mais remotos do país.
Um exemplo disso é a lei nº 10.551/2017, de Mato Grosso, a qual exige que
pessoas que portam estilingue se inscrevam em associações, ligas, federações,
confederações ou entidades e portem uma carteira de associado para andar
livremente com o objeto pelas ruas. Ou a lei nº 5.292/2011, do Rio de Janeiro,
que proíbe o uso de mochilas nas costas em elevadores. Ou ainda a lei nº
11.746/2014, de Porto Alegre, que obriga bares, restaurantes e
estabelecimentos similares a conceder desconto especial às pessoas que
tenham realizado cirurgia bariátrica. E também a portaria 2.619/11, de São
Paulo, que exige que os ovos fritos tenham a gema dura.
Em Mato Grosso do Sul, a lei nº 2.405/2002 exige que turistas em grupo
estejam obrigatoriamente acompanhados de um guia local. No Espírito Santo,
de acordo com a lei 10.369/2015, restaurantes e bares são proibidos de expor,
em mesas e balcões, recipientes ou sachês que contenham sal. Já a portaria 55
do Ministério da Defesa, de 5 de junho de 2017, exige que qualquer cidadão que
queira ter um carro blindado tenha registro no Exército. O Código Civil, em seu
artigo 736, proíbe qualquer cobrança na hora de oferecer uma carona, mesmo
para dividir o combustível (a multa pode ultrapassar R$ 5 mil).20

10 produtos genuínos da maior fábrica de leis estúpidas do planeta

outubro2018
Clube SPA

1. Preocupado com os baixos índices de natalidade de Bocaiúva do Sul, no


Paraná (e com a queda das verbas repassadas pelo governo federal à
cidade com o encolhimento da população), o prefeito Élcio Berti decretou
a proibição da venda de camisinhas e anticoncepcionais em 1997
(decreto municipal 82/97). A lei gerou um furdunço e acabou revogada
24 horas depois.
2. A regularização da imigração no Brasil aconteceu logo depois da
Proclamação da República. Mas tinha um problema com ela: era
explicitamente racista. Um decreto de 1890 determinava que qualquer
imigrante válido e apto para trabalhar seria bem-vindo ao Brasil, menos
“os indígenas da Ásia ou da África” – estes precisavam de uma
autorização especial do Congresso Nacional para serem admitidos. Se
algum imigrante desses continentes aportasse por aqui sem o devido
papel, a ordem era ser barrado pela polícia portuária. Asiáticos e
africanos não eram os únicos com restrições para embarcar para o Brasil
– na lista também estavam mendigos e indigentes.
3. Na década de1960, o então prefeito Epitácio Cafeteira, de São Luís, baixou
um “código de posturas“ no município (lei municipal 1.790/68). Entre
outras coisas, ficou proibido o uso de máscaras em festas – exceto no
Carnaval, ou com uma licença especial das autoridades.
4. A Câmara Municipal do Recife aprovou, em 1967, um projeto do vereador
Moacir Lacerda proibindo mulher de vestido justo na rua.21
5. No Rio de Janeiro, a lei nº 1.626/1990 torna obrigatória a presença de
ascensoristas no interior de elevadores em prédios comerciais e mistos
da cidade (“mesmo em elevadores automatizados”). A lei também obriga
aos ascensoristas uma formação específica por meio de um curso
profissional ministrado pelo órgão competente, com o devido registro.
Essa lei ainda está em vigor.
6. Até a melancia já foi proibida no Brasil. Aconteceu em 1894, na cidade de
Rio Claro, no interior de São Paulo. No fim do século XIX, a fruta era
acusada de ser o agente transmissor de tifo e febre amarela. Com o
tempo, e a comprovação de que tudo não passava de uma grande
bobagem, a lei caiu em desuso.
7. Em 1995, o prefeito de Barra do Garças, no interior de Mato Grosso,
sancionou a lei 1.840, responsável por criar “a reserva da área para
aeródromo de pousos de óvnis (objetos voadores não identificados)”.
8. Em 1997, a Câmara Municipal de Pouso Alegre, em Minas Gerais, aprovou

outubro2018
Clube SPA

uma lei (lei municipal 3.306/97) que multava em R$ 500 os donos de


outdoors com erros de ortografia, regência e concordância. Para banners
e faixas a multa era consideravelmente menor: R$ 100, e os infratores
tinham um mês para corrigir os deslizes. Um ano depois, longe de ser
revogada, a lei foi copiada no Guarujá, no litoral paulista.
9. O Código Penal da República dos Estados Unidos do Brasil tratava a
capoeiragem como uma contravenção (decreto nº 847, de 11 de outubro
de 1890). Todos os brasileiros interessados em praticar a capoeira como
um esporte tiveram que passar a utilizar a denominação “ginástica
nacional”. Embora a repressão tenha diminuído logo nos primeiros anos
do século XX, a capoeira só deixou oficialmente de ser considerada uma
infração com o atual Código Penal, de 1942.
10. A já revogada resolução nº 81/1998, do Conselho Nacional do Trânsito
(Contran), continha uma bizarrice curiosa: obrigava os mortos em
acidentes a serem submetidos a um exame de teor alcoólico. A ideia era
que o teste pudesse verificar a culpa do falecido no acidente de trânsito.
Dizia o artigo 2º: “É obrigatória a realização do exame de alcoolemia para
as vítimas fatais de trânsito.” O problema é que o artigo 3º punia os
motoristas mortos que se recusassem a realizar o exame com penas de
multa e suspensão do direito de dirigir: “Art. 3º – Ao condutor de veículo
automotor que infringir o disciplinado no artigo anterior, serão aplicadas
as penalidades administrativas estabelecidas no artigo 156 do Código de
Trânsito Brasileiro.”

Mercado de homenagens

A instituição de datas comemorativas sempre foi objeto de interesse político


no Brasil, instrumento capaz de reconstruir a história e fomentar palanques em
vésperas de eleição. Pouco tempo depois da nossa emancipação, no século XIX,
foi a Monarquia a responsável por criar o primeiro calendário cívico nacional –
o evento aconteceu logo na legislatura de estreia da Câmara dos Deputados, na
lei de 9 de setembro de 1826. Ela estabeleceu as seguintes datas oficiais:
9 de Janeiro, Dia do “Fico”;
25 de Março, data de nascimento da nossa primeira Constituição;
3 de Maio, dia da celebração da chegada de Cabral ao Brasil;
7 de Setembro, Dia da Independência;

outubro2018
Clube SPA

12 de Outubro, aniversário de d. Pedro I e de sua aclamação como “defensor perpétuo e imperador


do Brasil”.

Por serem instrumentos políticos, as datas cívicas mudam de acordo com os


interesses dos grupos organizados detentores do poder. Assim, pouco tempo
após a proclamação da República, um dos primeiros atos do governo provisório
foi o decreto nº 155-B, de 14 de janeiro de 1890, que propagava que o regime
republicano baseava-se “no profundo sentimento da fraternidade universal” e
que esse sentimento não se poderia “desenvolver convenientemente sem um
systema de festas publicas destinadas a commemorar a continuidade e a
solidariedade de todas as gerações humanas”.
O 155-B foi o primeiro decreto a estabelecer datas cívicas na história da
República – e nele os feriados relacionados ao nascimento de d. Pedro I e à
nossa primeira Constituição foram expurgados do calendário nacional. Na
verdade, nada que fizesse lembrar o período monárquico foi mantido22 (o 14 de
Julho foi “consagrado á commemoração da Republica, da Liberdade e da
Independencia dos povos americanos” e o 15 de Novembro à “commemoração
da Patria Brasileira”). Com uma nova forma de governo, um novo conjunto
precisava ser construído. E ele não era monárquico.
Ainda hoje, lidar com homenagens é parte fundamental do trabalho dos
nossos legisladores. Há 306 datas cívicas e simbólicas criadas até o momento
por normas federais, leis ou decretos – do Dia Nacional do Macarrão (lei nº
13.050) ao Dia do Datiloscopista (decreto nº 52.871).23
E não pense que nós paramos por aí. A julgar o aquecido mercado de
homenagens, logo faltará data disponível no calendário para tanta
comemoração: há 120 projetos tramitando neste momento na Câmara dos
Deputados solicitando a criação de uma data comemorativa24 – como o Dia do
Orgulho Heterossexual (PL 1.672/2011), o Dia do Corinthians (PL 324/2015) e
o Dia Nacional dos Navios de Cruzeiro (PL 5.904/2016).
Segundo um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), 47% das leis aprovadas pelo Congresso Nacional, entre 2007 e 2014,
tratavam apenas de questões secundárias, como homenagens ou instauração de
datas simbólicas.25
E de acordo com a pesquisa esse cenário está piorando: houve crescimento
no volume de projetos de lei com essa finalidade no período. Entre 1995 e 2002,
o Congresso aprovava, em média, 6,3 propostas de homenagem por ano. Essa
média chegou a 38,1 projetos por ano, entre 2007 e 2014. Na ponta do lápis,
nossos congressistas multiplicaram por seis a lista de homenagens no período.

outubro2018
Clube SPA

O fenômeno se repete país afora. Um em cada três projetos aprovados pelos


vereadores de São Paulo se refere a homenagens, como nomes de ruas e títulos
de cidadão. De janeiro de 2013 a agosto de 2016, dos 1.300 textos que
tramitaram na Câmara Municipal de São Paulo, 470 eram referentes a nomes de
ruas e homenagens.26
Em Belo Horizonte, a Câmara Municipal aprovou 357 leis entre janeiro de
2013 e junho de 2016. Da legislação aprovada nesses três anos e meio, 238
projetos foram de iniciativa dos próprios vereadores. Desses, 130 trataram de
nomes de ruas, praças e prédios públicos e outros 34 tinham como objetivo
datas comemorativas. Ou seja, 69% dos projetos que tiveram iniciativa dos
vereadores foram para homenagens. Quase sete em cada dez propostas.27
O cenário é idêntico nas Assembleias Legislativas. Em 2016, nossas fábricas
de leis estaduais homenagearam todas as profissões que você conhece (e as que
você nunca ouviu falar), como o Dia do Enfermeiro Obstetra, do Condutor de
Transporte Escolar, do Pastor Assembleiano, do Quiropraxista, do Consultor
Parlamentar, do Operador Portuário, do Instrutor de Trânsito, do
Endocrinologista…
É tanta profissão homenageada que em novembro de 2017 o deputado
estadual Felipe Attiê (PTB/MG) foi flagrado ironizando o Projeto de Lei 3.697,
de 2016, que institui o Dia Estadual do Coach, durante uma reunião da
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa de Minas
Gerais (ALMG). Com o microfone ligado, Attiê satirizou a proposta: “Coach??
Esses deputados, é brincadeira, viu…”
Só tinha um problema: como o presidente da comissão anunciaria segundos
depois, o projeto era do próprio deputado…
E as nossas Assembleias Legislativas não se contentam em homenagear
apenas as profissões. Além delas, só em 2016, ganharam datas comemorativas
em diferentes estados brasileiros também o Funk, a Paz nos Estádios, a
Gastronomia Goiana, o Poderoso Sermão da Montanha, os Quadrinhos, a Festa
da Melancia e o Lazer da Família.
Das 4.661 leis aprovadas nas 26 Assembleias Legislativas e na Câmara
Legislativa do Distrito Federal em 2016, apenas 35% tiveram impacto real no
dia a dia das pessoas – ou seja, tratavam de assuntos como a regulação de
atividades comerciais ou modificações orçamentárias ou tributárias. As demais,
65% da produção legislativa estadual, se referiam a questões burocráticas
menores, como a atribuição de nomes de ruas e avenidas, a criação de datas
comemorativas e homenagens. A maior parte das leis aprovadas no período –

outubro2018
Clube SPA

cerca de 1.200 – tratava de transformar entidades em utilidade pública,


permitindo que recebessem recursos dos cofres estaduais (em muitos casos,
sem licitação).28 Só Minas Gerais aprovou 360 leis dessa natureza em 2016,29
declarando utilidade pública até a escolinha de futebol de Cachoeira da Prata,
um município com 3.654 habitantes no interior do estado.
Em Florianópolis, as homenagens estavam no topo das propostas que
tramitaram de janeiro a agosto de 2017 na Câmara de Vereadores. Dos 103
projetos de lei e de resolução com tramitação concluída nesse período, 59%
diziam respeito a algum tipo de homenagem ou honraria.30 E com os mais
diversos fins: semana de comemoração à criação de bairros, dos conselhos
comunitários, do profissional de educação física, do animal doméstico, Dia do
Rock, do Jovem Empreendedor, da Bíblia. Nos decretos, um festival de cores –
fevereiro dourado do esporte, março verde, setembro branco.
Na Câmara do Rio de Janeiro, nada muito diferente: um quarto dos projetos
apresentados diz respeito a nomes de ruas ou homenagens. Segundo um
levantamento da CBN, 76 dos 296 projetos de lei lançados aos vereadores no
primeiro semestre da gestão Marcelo Crivella (PRB) não tinham qualquer
importância para os cariocas. Em seis meses, 141 leis foram aprovadas na
cidade: 20% delas sobre nomes de rua e homenagens.
Nada disso é qualquer exceção na história da legislação carioca. Das últimas
cem propostas apresentadas na gestão de Eduardo Paes (MDB), 35 diziam
respeito a nomes de ruas e homenagens.31
Homenagear alguém, aliás, é o que não falta no Rio. Tem pra todos os gostos.
Charles Darwin, d. Pedro II, Martin Luther King. Conceder medalhas é quase
uma modalidade esportiva na cidade. A Pedro Ernesto, a principal
condecoração carioca, desde a sua criação, em 1980, já foi dada para cerca de
cinco mil pessoas.32 Até os descendentes do prefeito Pedro Ernesto, morto em
1942, criticam a falta de rigor na concessão da homenagem.33
Por ano, cada vereador carioca pode premiar até onze pessoas com
medalhas: cinco com a Pedro Ernesto, cinco com a São Francisco de Assis e uma
com a Chiquinha Gonzaga. O modelo funciona como um sistema de pontos (caso
um vereador não gaste sua cota num intervalo de doze meses, pode acumular
medalhas para o ano seguinte).
Em 2006, Carlos Bolsonaro (PSC) escolheu a aposentada Dora dos Santos
Arbex para receber uma Medalha Pedro Ernesto. O motivo: ter atirado num
ladrão. Ao receber a principal homenagem que o Rio de Janeiro presta a quem
mais se destaca na sociedade brasileira ou internacional, Dora discursou

outubro2018
Clube SPA

pedindo leis que proíbam moradores de rua de terem filhos e conclamou as


“mulheres cariocas” a realizar um mutirão para expulsar mendigos das ruas:34
“Tem que ter albergue. Se não tem albergue, que fique no meio do mar. Bota
num navio e descarrega longe.”
Em 1991, a Medalha Pedro Ernesto foi dada ao bicheiro Carlos Teixeira
Martins, o Carlinhos Maracanã.
Em 2005, a Câmara dos Vereadores premiou o inspetor Félix dos Santos
Tostes, apontado como o chefe da milícia de Rio das Pedras, dois anos antes de
ser assassinado.
Nadinho – outro miliciano, acusado de planejar o assassinato do inspetor
Félix – recebeu a homenagem em 2006. Ele morreu assassinado três anos
depois.
Analisando as 30.177 proposições dos 33 vereadores reeleitos no Rio em
2016, 67% delas (20.316 no total) não fariam falta.35 A análise seguiu critérios
da ONG Transparência Brasil, que considera “homenagens, batismo de
logradouros, simbologia, cidades-irmãs, pedidos de convocação de sessões
solenes para comemorações e homenagens, datas comemorativas e criação de
honrarias” como propostas “sem relevância”. Dos dez vereadores com
percentual mais alto nessa categoria, seis são do MDB.36
Em 2017, os vereadores do Rio atingiram a incrível marca de 4.460
homenagens na Câmara Municipal.37 E ninguém trabalhou mais por esses
números do que o bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, João Mendes de
Jesus (PRB): foram 877 homenagens num intervalo de apenas doze meses. Das
4.378 proposições apresentadas ao longo de todo o mandato pelo bispo João,
96,6% não tiveram qualquer utilidade pública (só de moções de louvor e
aplausos foram 4.201, a maioria esmagadora delas a pastores, diáconos, bispos,
reverendos, apóstolos e missionários evangélicos).
Homenagear líderes religiosos, aliás, é outro esporte favorito dos vereadores
cariocas. Na legislatura 2013-2016, a vereadora Tânia Bastos, do mesmo PRB,
concedeu trinta de suas moções a missionários religiosos. No mesmo período, o
vereador Eliseu Kessler, do PSD, concedeu moções de louvor e aplausos a dez
pastores – ele também defendeu a cessão de um selo de utilidade pública para
uma igreja pentecostal em Bangu e apresentou um pedido de criação do Dia do
Músico Evangélico.
Também em 2017, os vereadores do Rio de Janeiro transformaram em
instituições de utilidade pública a Assembleia de Deus Ministério Vida e Luz, a
Igreja Metodista da Aliança e a Sociedade Bíblica do Brasil. Também foi o ano

outubro2018
Clube SPA

em que eles incluíram no calendário oficial da cidade os dias do Futevôlei, do


Avivamento da Rua Azusa, do Combate ao Preconceito à Pessoa com Nanismo,
do Encontro Interdenominacional e do Prêmio Plumas e Paetês Cultural.
Entre os homenageados históricos da Medalha Pedro Ernesto, a lista é
infindável: Valesca Popozuda, Gilberto Kassab, Antonio Carlos Magalhães,
Roberto Jefferson (agraciado pela Câmara Municipal no ano seguinte à perda de
seu mandato como deputado federal em Brasília, depois do escândalo do
Mensalão), Silas Malafaia e o funkeiro Naldo.
Mesmo obras cinematográficas são agraciadas pela honraria. O cenário no
Rio é tão grotesco que até Os dez mandamentos – O filme ganhou uma Medalha
Pedro Ernesto em 2016.
Sérgio Cabral, Eduardo Cunha, Eike Batista, Anthony Garotinho e Jorge
Picciani também já foram condecorados com a maior distinção da cidade. Todos
acabaram atrás das grades.
Sérgio Cabral, aliás, não é o único homenageado da família. Seu filho, Marco
Antônio Cabral, antes mesmo de entrar na política já colecionava honrarias
bancadas por aliados do pai: sete municípios fluminenses já haviam concedido
título de cidadão honorário a ele antes dos 22 anos38 (incluindo a própria
capital). E se engana quem pensa que o filho do chefe da organização criminosa
que dilapidou os cofres do Rio de Janeiro tenha se contentado apenas com as
cidades. Levou para casa também a Medalha Tiradentes, a mais distinta
homenagem da Assembleia Legislativa do Rio, poucos meses depois de faturar
sua primeira eleição como deputado federal.
Como Marco Antônio Cabral atesta, o uso das homenagens como
instrumento de poder é uma prática recorrente em solo tupiniquim. Vejam só:
O carioca Eduardo Cunha é Cidadão Honorário de Belo Horizonte.39
O soteropolitano Marcelo Odebrecht é Cidadão Paulistano (e o vereador que
propôs o título a ele foi processado por receber caixa dois da empreiteira).40
O carioca (radicado em Alagoas) Fernando Collor de Mello é Cidadão
Paraibano.41
O paulistano Paulo Maluf é Cidadão Honorário de Nova Friburgo (ele esteve
apenas uma vez na cidade, em campanha presidencial).

A democracia brasileira é uma máquina de capitanias


hereditárias

outubro2018
Clube SPA

Títulos honorários, porém, soam ingênuos quando comparados ao uso dos


clãs políticos nas escolhas dos espaços públicos.
Há pelo menos 237 cidades no Brasil homenageando políticos. Muitos deles
históricos – como João Pessoa, 15o governador da Paraíba e sobrinho do
presidente Epitácio Pessoa; ou Florianópolis, em homenagem a Floriano
Peixoto, o primeiro vice-presidente do Brasil (e o segundo presidente); ou ainda
Presidente Prudente, em homenagem ao sucessor de Floriano na Presidência da
República, Prudente de Moraes.
Não faltam cidades brasileiras, no entanto, que homenageiam figuras
influentes de clãs ainda em atividade na política local ou nacional.
É o caso da cidade de Teotônio Vilela, em Alagoas – em homenagem ao ex-
senador do estado, pai de Teotônio Vilela Filho (PSDB/AL), senador por Alagoas
em três ocasiões e governador em duas (seu último mandato encerrou-se em
2015) e avô de Pedro Vilela (PSDB/AL), deputado federal.
Ou ainda da cidade de Luís Eduardo Magalhães, na Bahia – em homenagem
ao ex-deputado federal, filho de Antônio Carlos Magalhães e tio de ACM Neto
(DEM/BA).
Ou de Governador Dix-Sept Rosado, no Rio Grande do Norte – em
homenagem ao ex-governador do estado, membro de um clã tradicional de
Mossoró. Tome nota: Betinho Segundo (PP/RN), neto de Dix-Sept Rosado, é
deputado federal, filho de Betinho Rosado (PP/RN), ex-deputado federal ficha
suja em 2014, bisneto de Jerônimo Rosado – ex-intendente de Mossoró, em
1908 (e o responsável por colocar o nome de algarismos em língua francesa em
dezessete dos seus 21 filhos) –, sobrinho do ex-deputado estadual Carlos
Augusto Rosado – que é casado com Rosalba Ciarlini (PP/RN), ex-governadora
do Rio Grande do Norte que está em seu quarto mandato como prefeita de
Mossoró –, primo de Sandra Rosado (PSB/RN), ex-prefeita e atual vereadora de
Mossoró – que por sua vez é mãe da deputada estadual Larissa Rosado e do ex-
vereador Lairinho Rosado, casada com o ex-deputado federal Laíre Rosado
Filho –, sobrinho-neto do ex-deputado federal Vingt Rosado – também vereador
e ex-prefeito de Mossoró – e do ex-prefeito de Mossoró Dix-Huit Rosado.
Ou ainda de Irineópolis, em Santa Catarina – em homenagem ao ex-senador e
ex-governador Irineu Bornhausen; pai de Jorge Bornhausen, também ex-
senador e ex-governador do estado; e avô de Paulo Bornhausen, ex-deputado
federal.
Ou de Lindolfo Collor, no Rio Grande do Sul – em homenagem ao ex-
deputado federal gaúcho, avô de Fernando Collor (PTC/AL).

outubro2018
Clube SPA

Ou de Senador Rui Palmeira, em Alagoas – em homenagem ao ex-senador do


estado, pai de Guilherme Palmeira, o governador de Alagoas que nomeou
Fernando Collor prefeito da capital do estado, e avô de Rui Palmeira (PSDB/AL),
atual prefeito de Maceió.
Ou ainda da cidade de Paes Landim, no Piauí – em homenagem ao ex-
deputado estadual Francisco Antônio Paes Landim Neto, que teve quatro filhos
políticos, um deles, José Francisco Paes Landim (PTB/PI), o deputado federal
pelo Piauí com maior número de mandatos (no Congresso desde 1987).
Algumas cidades do Brasil também receberam nomes de políticos ainda
vivos em suas fundações, contrariando a lei federal nº 6.454.
É o caso de Braganey, no Paraná. Seu nome é uma homenagem a Ney
Aminthas de Barros Braga, que foi prefeito de Curitiba, deputado federal,
senador e governador do Paraná (para driblar a legislação, a homenagem a Ney
Braga acabou invertida para Braganey).
Ou de Curionópolis, no Pará, cidade com 17 mil habitantes que homenageia o
major Sebastião Curió, coronel político local e um dos responsáveis pela
emancipação do município. Curionópolis é literalmente a “Cidade do Curió”.
Ou ainda o caso das cidades de Presidente Sarney (com 17 mil habitantes e
Índice de Desenvolvimento Humano equivalente ao do Quênia, país africano
que aparece na 146ª posição no ranking mundial) e de Governador Edison
Lobão, ambas no Maranhão. Sarney dispensa apresentações. Edison Lobão
(MDB-MA), além de governador, foi ministro de Minas e Energia nos governos
Lula e Dilma (e em 2015 foi alvo de buscas na Operação Catilinárias, na 22ª fase
da Operação Lava Jato42).
O Maranhão, aliás, é celeiro de homenagens a políticos. Ao todo, quinze ex-
governadores dão nome a cidades do estado – as que recebem governador no
nome (como Governador Archer, Governador Edison Lobão, Governador
Eugênio Barros, Governador Luiz Rocha, Governador Newton Bello e
Governador Nunes Freire) e as que não recebem (como Barão de Grajaú,
Ribamar Fiquene, Benedito Leite, Godofredo Viana, Luís Domingues, Magalhães
de Almeida, Paulo Ramos, Presidente Sarney e Urbano Santos).
Ninguém, obviamente, possui mais influência no estado do que José Ribamar
Ferreira de Araújo Costa, o José Sarney. Há praça José Sarney, Ponte José
Sarney, Centro de Cultura José Sarney, Biblioteca Presidente José Sarney,
Hospital e Maternidade Governador José Sarney.
Há ruas em sua homenagem em diferentes cantos de São Luís. São duas
avenidas José Sarney (no centro e na Vila Mauro Fecury I), uma avenida

outubro2018
Clube SPA

Presidente José Sarney em Vila Conceição, quatro ruas José Sarney (nos bairros
Retiro Natal, Fátima, Pão de Açúcar e Anil) e ainda duas ruas Presidente José
Sarney (em São Francisco e na Vila Embratel). Para completar a lista, são três as
travessas José Sarney no bairro Fátima. São 32 logradouros com seu nome
apenas na capital do Maranhão. E o fenômeno se espalha por todo o estado.
Como é muito peculiar nos clãs políticos, José Ribamar não é o único dos
Sarneys a ser homenageado no Maranhão. Roseana Sarney, sua filha e ex-
governadora, é nome de rua, travessa, bairro, escola, unidade de saúde e jardim
de infância. Marly Sarney, sua esposa, é nome de maternidade, de praça, de rua
e de travessa. Sarney Filho tem catorze logradouros com seu nome apenas na
capital do estado (ele também é nome de bairro por lá). O pai de José Ribamar
dá nome ao Fórum de São Luís, o Fórum Desembargador Sarney Costa.
Os Sarneys mapearam o Maranhão com tamanho escárnio que há inclusive
uma Escola Fernanda Sarney, em homenagem à neta de José Ribamar, que fica
no município de Bom Jardim. Fernanda Sarney tinha apenas seis anos de idade
quando batizou a escola.
O Maranhão é o estado com a pior infraestrutura de ensino do país. Oito em
cada dez escolas maranhenses não possuem nenhum computador, TV, DVD ou
impressora (na verdade, apenas 2,96% das instituições de ensino do estado são
consideradas adequadas).43
Há 108 escolas públicas no Maranhão que homenageiam algum Sarney.
O Maranhão, no entanto, não é exceção. Se uma parcela considerável da
atividade dos legisladores brasileiros é nomear praças, ruas, escolas e avenidas,
parte importante desse trabalho se dá como instrumento de domínio político –
uma forma de homenagear clãs país afora.
Há uma avenida Senador Eduardo Azeredo em Santo Antônio do Monte,
Minas Gerais, em homenagem ao senador do PSDB, condenado na Justiça pelo
escândalo do Mensalão Tucano.44

outubro2018
Clube SPA

Mapa das escolas públicas que homenageiam algum Sarney no Maranhão (elaborado pelo autor).

Há uma praça Senador Renan Calheiros em Matriz de Camaragibe, Alagoas,


em homenagem ao senador pelo MDB.
Em Maceió, capital de Alagoas, mais de cem obras foram lançadas
homenageando pessoas vivas durante o mandato de Cícero Almeida
(Podemos/AL), entre 2005 e 2012 – sendo muitas delas homenagens a pessoas
ligadas ao prefeito.45 Um exemplo é a avenida Jornalista Márcio Canuto, que
interliga os bairros do Feitosa e Farol, em homenagem ao repórter da Rede
Globo, conhecido por sua irreverência nas transmissões da Copa do Mundo.
Canuto é maceioense e rasgou elogios ao prefeito durante a inauguração da
obra: “Essa transformação na nossa capital faz de você o melhor prefeito que
Maceió já teve.”46
Em 2008, Cícero Almeida também decretou a troca do nome de uma casa de
lazer e esportes da cidade. O local virou Centro de Atividades Múltiplas
Deputado Federal Benedito de Lira, em homenagem ao atual senador de
Alagoas, seu então companheiro no Partido Progressista (PP).
Exemplos não faltam. País afora, o domínio político dos espaços públicos
acontece com frequência mesmo quando diz respeito aos parentes distantes dos
clãs. É o caso do Centro Educacional Unificado Regina Rocco Casa, uma escola
pública de São Bernardo do Campo que homenageia a mãe de Marisa Letícia,
esposa de Lula (que, por sua vez, dá nome a um viaduto em São Paulo).
E dona Regina não é a única da família a ser eternizada numa instituição

outubro2018
Clube SPA

educacional. Dona Lindu, a “mãe analfabeta” de Lula, dá nome a uma escola


pública em São Paulo, o Centro de Educação Infantil Eurídice Ferreira de Melo, e
à Cidade dos Direitos da Criança e do Adolescente “Eurídice Ferreira de Melo –
Dona Lindu”, em São Bernardo do Campo.
Dona Lindu, aliás, também é nome de um dos principais parques de
Pernambuco, seu estado natal. Projetado por Oscar Niemeyer, o Parque Dona
Lindu foi construído num terreno que pertencia ao governo federal e foi cedido
pelo então presidente Lula ao Recife, durante o mandato do petista João Paulo
na prefeitura da cidade. Com orçamento inicial de R$ 18 milhões, o parque foi
inaugurado em 26 de março de 2011 ao custo de R$ 37 milhões.47
No Ceará, estado vizinho, nada muito diferente. Por lá, há uma marca
indelével dos Ferreira Gomes nos espaços públicos. Em Fortaleza, Maria José
Ferreira Gomes, a mãe de Cid e Ciro Gomes, é nome de escola de tempo integral.
Na capital também é possível encontrar uma travessa Ciro Gomes, no bairro
Bela Vista.
O principal domínio do clã, no entanto, se dá em Sobral, no interior do
estado, onde a família Ferreira Gomes disputa o poder desde 1890.48 É lá que se
encontra o Paço Municipal José Euclides Ferreira Gomes Jr., a prefeitura da
cidade, com nome dado em homenagem ao pai de Cid e Ciro Gomes, ex-prefeito
de Sobral por três mandatos. Há um bairro em homenagem a ele também, o
Cidade Doutor José Euclides Ferreira Gomes Junior, onde está a rua Doutor José
Euclides.
É em Sobral também que se encontra a avenida José Euclides Ferreira Gomes
– em homenagem ao patriarca dos Ferreira Gomes, tenente-coronel e prefeito
de Sobral após a proclamação da República, em 1891, em substituição ao
primeiro prefeito da cidade, seu parente, Vicente Cesar Ferreira Gomes. Há
ainda a avenida Deputado João Frederico Ferreira Gomes, em homenagem ao
tio de Cid e Ciro Gomes, deputado estadual pelo Ceará. João Frederico também
dá nome a uma escola municipal de Fortaleza. No total, há dezesseis escolas
públicas no Ceará homenageando algum Ferreira Gomes.

O único critério que rege a produção legislativa


brasileira é não ter qualquer critério

A verdade é que se parte considerável do nosso trabalho legislativo é


incompreensível, capaz de criar literalmente toneladas de normas ininteligíveis

outubro2018
Clube SPA

para o cidadão médio, e se parte das nossas leis – quando não inúteis, limitadas
a bajular os detentores do poder, ou ainda inconstitucionais, condenadas à lata
do lixo – é estúpida e indefensável, uma parcela importante disso ocorre devido
à ausência de instrumentos legais que garantam racionalidade às decisões
políticas, sejam elas do Executivo ou do Legislativo. Quando abrimos mão de um
expediente institucional capaz de produzir análises técnicas de custo-benefício
das regulações (como um instrumento de freios e contrapesos à banalidade
política, com permissão para impedir projetos de leis e programas de governo
improdutivos e onerosos aos brasileiros), entregamos as decisões das figuras
mais poderosas do país aos caprichos da ignorância e dos conchavos de grupos
que se organizam para arrancar privilégios dos bolsos dos pagadores de
impostos, ainda que jurando defender seus interesses.
O resultado inevitável da completa desregulação da atividade política é a
regulação excessiva da vida dos cidadãos.
Bruno Bodart, juiz de direito do Rio de Janeiro, diretor da Associação
Brasileira de Direito e Economia (ABDE), concorda com a tese.

Todos os países desenvolvidos no mundo adotam o que se chama de


“análise de impacto regulatório“ (Regulatory Impact Analysis). A ideia
básica é analisar, na maior medida possível, quais os benefícios que
aquela regulação pode trazer para a sociedade, quais os prejuízos que ela
vai causar, e ver se o saldo final é positivo. Sendo positivo, compara-se
aquela proposta com alternativas para ver se há outros modos de obter
tantos ou mais benefícios. Isso começou nos Estados Unidos com Reagan,
em 1984. Há mecanismos semelhantes no Reino Unido, Holanda,
Alemanha, Canadá, Austrália.
Recentemente a cidade de Nova York fez uma análise de custo-
benefício sobre a proposta de proibir o Uber. O saldo foi amplamente
negativo. A proposta não pôde ir adiante. No Brasil não há nada que limite
o desejo de rentismo dos parlamentares. Eles podem aprovar o que
quiserem, apontando genericamente benefícios, e conseguem atender ao
seu grupo de interesses. Pela análise de custo-benefício, tudo tem que ser
quantificado e provado da melhor forma possível. Se uma regulação causa
benefícios, tem que ser apontado para quem, por que e quanto. O mesmo
em relação aos custos. Os Estados Unidos têm um órgão só para fazer esse
tipo de cálculo. Chama-se Office of Information and Regulatory Affairs
(Oira).

outubro2018
Clube SPA

Os economistas Marcelo Pacheco dos Guaranys e Kelvia Frota de


Albuquerque, servidores federais da Casa Civil, endossam o coro.49

A “análise de impacto regulatório“ (AIR) é uma boa prática regulatória


reconhecida internacionalmente voltada à melhoria regulatória por
proporcionar transparência, robustez técnica e analítica ao processo
decisório e à qual estão integrados processos de participação social para
ouvir os interessados em uma possível nova regulação.
Não se trata de panaceia importada, mas de abordagem que busca
avaliar, a partir de um problema regulatório, os possíveis impactos das
alternativas de ação disponíveis para o alcance dos objetivos pretendidos,
em vez de se limitar a justificar uma decisão regulatória já tomada. E é
isso que faz toda a diferença.
Conforme destacado pela Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), a contribuição mais expressiva da
AIR para a qualidade das decisões regulatórias não é a precisão dos
cálculos, mas a própria ação de analisar, questionar, entender os
potenciais impactos da regulação e explorar alternativas possíveis. Ou
seja: o maior ganho está no processo.

E não é muito difícil medir as consequências da ausência desse instrumento.


Ao analisar, por exemplo, o impacto da política setorial de desoneração da folha
de pagamentos – implementada a partir de 2012, no governo Dilma Rousseff –
sobre o volume de emprego de empresas aptas a participar da mudança e
atuantes em setores da economia beneficiados pela alteração, um estudo do
Ipea,50 publicado em janeiro de 2018, chegou à conclusão de que a medida não
teve qualquer efeito visível sobre o volume de empregos no país.
A desoneração permitia que os 20% de contribuição patronal ao regime de
previdência, incidentes sobre a folha de pagamentos, fossem substituídos por
uma contribuição entre 1% e 2% sobre o faturamento das empresas. O custo
total da renúncia para os cofres públicos foi de R$ 77,9 bilhões entre 2012 e
2016, segundo a Receita Federal. Mas, como atesta o Ipea, “no geral, os
resultados obtidos apontam para ausência de efeitos da política sobre o volume
de empregos”.
Sem um instrumento que permitisse uma análise técnica criteriosa da
proposta, considerando seus benefícios e malefícios e ignorando as
subjetividades dos achismos e das cegueiras ideológicas, nós jogamos um
caminhão de dinheiro no lixo, grana suficiente para bancar dois anos e meio do

outubro2018
Clube SPA

Bolsa Família.
A própria ex-presidente concorda com a análise. Segunda Dilma Rousseff,
suas desonerações fiscais (que nem de longe se resumiram à folha de
pagamentos) foram um “grande erro”:51 “Eu acreditava que, se eu diminuísse
impostos, eu teria um aumento de investimentos. Eu diminuí e me arrependo
disso.”
E esses prejuízos, evidentemente, não permanecem presos aos projetos de
lei do Executivo Federal. No Congresso, a aprovação de medidas sem
racionalidade econômica é a regra. Já há alguns anos, por exemplo, nossos
deputados e senadores discutem a implementação de um Novo Código
Comercial Brasileiro, sob o patrocínio do deputado Vicente Cândido (PT/SP) e
do senador Renan Calheiros (MDB/AL).52
O impacto econômico, ignorado pelos nossos legisladores, foi objeto de um
profundo estudo formulado pela professora Luciana Yeung, do Insper de São
Paulo.53 Nele ficou demonstrado que os prejuízos para a economia brasileira
com a implantação desse código – tal qual ele se apresenta, sob a forma dos dois
projetos de lei apresentados no Congresso Nacional – serão da ordem de R$ 182
bilhões (apenas a título de comparação, o governo central encerrou 2017 com
um déficit de R$ 124,4 bilhões54).
Para Luciana, o maior problema com o Novo Código Comercial é o risco de
insegurança jurídica que ele apresenta, especialmente no que diz respeito à
“função social” da empresa – algo que, embora presente na lei brasileira desde a
Constituição de 1988, “ainda não é plenamente pacificado”, de acordo com a
professora. No projeto da Câmara é permitido ao Ministério Público questionar
negócios jurídicos entre entes privados com base no “descumprimento da
função social”.
De acordo com o estudo, caso seja aprovado, o Novo Código Comercial pode
gerar impactos negativos diretos à economia do país: como o aumento
substancial de litígios judiciais questionando a função social da empresa; o
aumento no fechamento de empresas que não cumprirem sua função social
(além da queda no número de abertura de empresas, devido às incertezas no
ambiente de negócios); o aumento de custos por precaução em um ambiente
jurídico mais inseguro (ante o caos normativo patrocinado pelo código); e a
queda no valor de mercado de empresas de capital aberto já existentes.
Em uma estimativa bastante conservadora, os custos finais com o Novo
Código Comercial seriam de, pelo menos, R$ 26,5 bilhões, o equivalente a um
ano de Bolsa Família.

outubro2018
Clube SPA

Há fartos exemplos de tomadas de decisões políticas sem qualquer apreço


pela análise de dados país afora. Algumas delas, grotescas.
No Ceará, no final de 2017, o governador do estado, Camilo Santana (PT/CE),
numa transmissão ao vivo por uma rede social, fechou os olhos, abriu um mapa
e sorteou com um dedo a próxima cidade do estado que receberia a construção
de uma arena55: “Eu vou aqui pegar o mapa do Ceará… Vou fechar os olhos
aqui… Deixa eu ver aqui… Ipu. Portanto, vai ter uma areninha no Ipu”, disse.
A promessa do governador é de instalar pelo menos quarenta arenas no
Ceará. O investimento é na casa dos R$ 70 milhões.56 Na prática, dinheiro dos
pagadores de impostos cearenses literalmente gasto às cegas.
Em Serra, no Espírito Santo, em 2015 uma lei obrigou os bares a fechar mais
cedo, acreditando que isso diminuiria os índices de violência na cidade. O
resultado no mundo real foi implacável: dezenas de estabelecimentos falidos,
com cerca de seiscentas demissões. Os números de violência na cidade
permaneceram inalterados. Em menos de seis meses a norma teve de ser
repensada.57 Não havia qualquer análise técnica que a corroborasse. Restou
apenas o prejuízo para contar a história. Tudo não passava, mais uma vez, de
uma ação irresponsável, sustentada pela cultura do achismo, algo ainda
insistentemente presente nas discussões – e nas decisões – da política
brasileira.
A ignorância é o motor da maior fábrica de leis estúpidas do planeta.

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA


Se colocarem o governo federal para administrar o deserto do Saara, em cinco anos faltará areia.
– Milton Friedman

Estadolândia

A maior fábrica de leis estúpidas do planeta definitivamente não é uma


pechincha.
Tome nota. O orçamento das nossas Câmaras de Vereadores chegou a quase
R$ 15 bilhões em 2015.1 Nas Assembleias Legislativas, esse valor alcançou os
R$ 10,8 bilhões no mesmo ano.2 A Câmara dos Deputados e o Senado Federal,
por sua vez, receberam R$ 10,2 bilhões em 2017.3
Fez as contas? Nós gastamos mais de R$ 36 bilhões todos os anos apenas
para manter o trabalho dos nossos legisladores – e isso sem considerar o gasto
com a Justiça Eleitoral. Isso é mais do que consome o Bolsa Família, o maior
programa de assistência social do país; mais do que gastamos em 2015 para
sustentar os seguintes ministérios somados:

das Relações Exteriores,


da Indústria, do Comércio Exterior e Serviços,
do Esporte,
da Cultura,
do Meio Ambiente,
do Turismo,
da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações,
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e
da Justiça e Segurança Pública.

Repito: somados.
É um acinte. O valor é maior do que o PIB de quatro estados brasileiros:
Roraima, Acre, Amapá e Tocantins. Também é maior do que o produto interno
bruto de dezesseis capitais.
Se fosse uma cidade, só o Congresso Nacional teria um PIB maior que 98,4%
dos municípios brasileiros.4
Se fosse uma nação, teria um PIB maior que 43 países.5

outubro2018
Clube SPA

O contingente de funcionários do Congresso Nacional, aliás, a sua população


nativa, é maior que o número de habitantes de 79% dos municípios brasileiros
(também é o dobro dos funcionários da Polícia Federal e suplanta o efetivo das
polícias militares de 22 dos 27 estados brasileiros e do Distrito Federal).6 É
gente que não acaba mais. E o cenário não se restringe a Brasília.
Se juntássemos somente os vereadores eleitos no Brasil e formássemos uma
cidade, a Vereadorlândia, ela seria maior que 90,3% dos municípios brasileiros.
E essa bolha não para de crescer: nas três últimas eleições, o total de
vereadores a tomar posse em todo o país teve um aumento de 11,8% (saiu de
51.802 para 57.942). A população brasileira, por outro lado, aumentou apenas
7,2% no período.7
Eis um Estado-paquiderme. E motorizado.
Em 2016, a administração pública federal gastou mais de R$ 1,6 bilhão
apenas com veículos, entre manutenções, combustíveis, melhorias e locações de
automóveis. Só com combustíveis e lubrificantes o gasto foi de R$
328.980.079,678 – o suficiente para abastecer um sedã com 87.728.021 litros de
gasolina, rodar mais de novecentos milhões de quilômetros e dar 24 mil voltas
ao redor do planeta (a quilometragem é maior do que a distância da Terra até
Júpiter). Tudo isso bancado pelos pagadores de impostos.
Nada parecido acontece no mundo.
Na Noruega, há vinte carros para atender ao governo. Prefeitos e chefes do
Conselho Municipal das três maiores cidades do país têm prioridade para usar a
frota em compromissos oficiais, e nada mais. Só o primeiro-ministro tem um
veículo exclusivo.9
Na Suécia, nem isso.10 O Parlamento tem apenas três veículos oficiais, que
estão disponíveis para seu presidente e seus três vice-presidentes – e não vá
pensando que é em qualquer situação: os veículos são restritos a eventos
oficiais. Os juízes do Supremo Tribunal da Suécia também não têm direito a um
carro oficial (por aqui, só com os seus 58 motoristas, o STF gastou R$
3.853.543,36 em 201611). No país, nem o primeiro-ministro possui um carro
oficial. O máximo que ele pode fazer é pedir um reembolso para viagens oficiais
(ou no caso de residir a 70 quilômetros ou mais da capital do país). Os prefeitos
suecos, por fim, até podem solicitar verba para se locomoverem, mas não
recebem qualquer colher de chá: ela é descontada do salário.
Em Londres, por sua vez, o prefeito e os integrantes do London Assembly – o
equivalente à nossa Câmara de Vereadores – recebem vale-transporte e são
obrigados a utilizar (e encorajar) o transporte público: “O prefeito e os

outubro2018
Clube SPA

membros da London Assembly têm o compromisso de usar o transporte


público”, diz um documento da instituição.12
O município só reembolsa despesas com táxi caso as autoridades provem
que não puderam optar por uma alternativa mais barata.
No Brasil, na contramão do planeta, só o estado do Ceará tem 26 mil veículos
oficiais13 (não há 26 mil habitantes em 108 municípios do estado).
No total, a administração pública federal gasta mais com os carros oficiais do
que com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o Samu, que atende a
2.452 municípios e milhões de brasileiros.14 O valor também é superior ao que
é gasto com transporte ferroviário.
A regra por aqui é implacável: a máquina pública tem sempre prioridade.
Dentro ou fora dos estacionamentos.
A previsão do governo federal para gastar com o funcionamento dos espaços
culturais em 2018 – tais como bibliotecas, teatros, museus, salas de exposições,
auditórios – é de R$ 64,4 milhões.15 O valor é menor do que o governo federal
destinou a redes sociais como o Facebook e o Twitter em 2016 com publicidade
oficial.16 Detalhe: o Brasil ainda tem 112 municípios sem bibliotecas públicas.17
Para que a Polícia Rodoviária Federal realize o policiamento ostensivo nas
rodovias e estradas federais, o governo promete gastar R$ 244 milhões em
2018 – ou seja, R$ 105 milhões a menos do que ele gastou só com material e
serviço de copa e cozinha para atender os funcionários da máquina pública
federal em 2016.18 O investimento em rodovias federais em 2016, aliás, com
recursos públicos investidos em todo o país, foi menor que o prejuízo com
acidentes nas estradas.19
Para a preservação do patrimônio cultural das cidades históricas – algo que
envolve planejamento, desenvolvimento, fomento, coordenação,
monitoramento e avaliação de ações de preservação do patrimônio cultural
brasileiro – há previsão de gastar R$ 16,2 milhões em 2018. O valor é menos da
metade do que o governo gastou só com material de cama, mesa e banho com a
máquina pública federal em 2016.
Exemplos não faltam.
Para garantir a segurança e a qualidade do tráfego aéreo brasileiro em 2017,
o Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro contou com R$ 2,1 bilhões do
orçamento do governo federal – R$ 200 milhões a menos do que as estatais
brasileiras gastam somente com escritórios de advocacia terceirizados.20
Para atestar a segurança apenas dos órgãos públicos federais em Brasília,
foram gastos R$ 532,8 milhões em 2016.21 O valor é R$ 192 milhões a mais do

outubro2018
Clube SPA

que o orçamento previsto para 2017 do programa de monitoramento das


fronteiras, destinado ao combate de crimes transfronteiriços.
A Câmara dos Vereadores do Rio gasta anualmente R$ 3,6 milhões apenas
com selos para cartas,22 setecentas vezes mais do que o desembolso anual com
a inteligência policial do estado do Rio de Janeiro.23
Entre 2015 e 2017, o gasto do Gabinete Civil do Governo do Estado do Rio
Grande do Norte com a aquisição de flores e alimentação em eventos internos
foi três vezes maior do que o investimento do estado na Polícia Civil.24
O cenário é orwelliano…
Só para armazenar documentos em papéis de treze ministérios, o governo
federal desembolsa R$ 466 milhões por ano.25 É mais do que o Ministério da
Educação gasta com merenda escolar para atender 41 milhões de estudantes
das escolas públicas de todo o país.26 A quantidade de papel armazenado é tão
grande que o edifício-sede do Dnit, em Brasília, teve de passar por uma reforma
estrutural de R$ 3,5 milhões para aguentar o peso dos documentos.
Só com o aluguel dos imóveis utilizados para esse fim, o governo federal
gasta cerca de R$ 320 milhões todos os anos. E não é suficiente. No Rio de
Janeiro, o governo resiste em construir um galpão, ao custo de R$ 15 milhões,
para armazenar documentos de órgãos extintos.
Para piorar, parte desse armazenamento é inútil. É o que afirma Ana Célia
Navarro, presidente da Associação dos Arquivistas de São Paulo. Segundo ela,
uma parcela considerável do volume de papel armazenado pelo governo
brasileiro é resultado de má gestão.27 Ana estima que, em média, 10% do total
dos documentos devem, de fato, ser guardados permanentemente (como
escrituras de imóveis, contratos e documentações com valor histórico). O
problema é que nossas instituições públicas não realizam qualquer processo de
avaliação. E sem gestão correta guardam mais papéis do que o necessário,
estocando toneladas de material sem critério, abandonando qualquer
tratamento de informação. O resultado é literalmente um lixão de burocracia
estocada, além de muita grana gasta com o aluguel de prédios públicos apenas
para conseguir manter toda essa estrutura.
Entre 2011 e 2016, aliás, a União desembolsou R$ 7,397 bilhões com
aluguéis de prédios públicos. A conta total com os imóveis alugados, só em
2016, foi de R$ 1,7 bilhão.28 A título de comparação, o orçamento para 2017 do
Minha Casa Minha Vida previu R$ 5,2 bilhões para o programa, mas somente R$
2,26 bilhões foram empenhados.29
Mesmo com toda essa montanha de dinheiro gasto com aluguel, no entanto,

outubro2018
Clube SPA

segundo o Ministério do Planejamento, o governo federal é proprietário de


10.304 imóveis em todo o Brasil e até no exterior que estão desocupados.
Segundo o Contas Abertas, esse valor é maior – são 18.091 unidades federais
sem uso.30
Ou seja: nós gastamos, através de impostos, quase o mesmo valor do maior
programa de financiamento de imóveis populares do país apenas para bancar o
aluguel de prédios que abrigam serviços públicos. E ainda assim temos de dez a
quase vinte mil imóveis de propriedade do governo federal vazios, sem
qualquer utilidade.
E ainda há o auxílio-moradia. Só a Câmara mantém dezoito prédios em
Brasília para a moradia de deputados. Considerando apenas a manutenção
deles, foram gastos R$ 9,5 milhões nos últimos quatro anos. Ao todo, são 432
apartamentos funcionais. Desses, no entanto, 84 estavam vazios no final de
2017, passando por reformas ou pequenos reparos – e gerando custos com
pessoal de limpeza, zeladoria e segurança, além de contas de luz.
E aqui uma informação relevante: a Câmara paga auxílio-moradia para os
deputados sem um apartamento funcional para morar. Ou seja, apenas por
conta desses imóveis fechados, no final de 2017, 84 deputados federais estavam
recebendo a ajuda mensal de R$ 4.253 para pagar um aluguel ou morar em um
hotel em Brasília. Por ano, essa conta ultrapassa os R$ 4 milhões.31
O Estado brasileiro é inquestionavelmente desenhado de forma irracional. E
esta não deveria ser uma perspectiva ideológica no debate público deste país.

Só com funcionários em funções de confiança, segundo dados do Tribunal


de Contas da União, a administração pública federal gasta R$ 3,47 bilhões
por mês, valor que representa 35% de toda a folha de pagamento do
funcionalismo público da União.32 Como observa a OAB: “Em 65 dos 278
órgãos federais analisados, o percentual dos cargos ad nutum (cargos de
confiança) ultrapassa 50% do total de servidores. Em tais casos, o número
de pessoas exercendo posições de comando era superior ao número de
comandados, o que é ilógico sob o ponto de vista organizacional.”33

Ou seja: sobra cacique e falta índio em Brasília.


E nunca é demais lembrar que a fábrica de cargos comissionados alimenta
diretamente os partidos políticos brasileiros: no estatuto de pelo menos 25
deles, a doação de filiados em cargos comissionados ou de confiança consta
como obrigatória – sujeito a sanções, caso contrariada. O percentual de

outubro2018
Clube SPA

contribuição varia de 1% a 10% da remuneração bruta ou líquida.


Em 2016, para comprar todos os 128.588.730 livros didáticos que
atenderam à educação pública, o governo federal desembolsou R$ 1,070
bilhão34 (e isso levando em conta que o Ministério da Educação estava desde
2014 sem comprar livros de literatura para as escolas públicas,35 mas abriu
novo edital agora em 2018). Parece muito? O valor é algumas dezenas de
milhões de reais menor do que o R$ 1,145 bilhão gasto no mesmo período com
auxílio-moradia com os nossos parlamentares, servidores e funcionários com
cargos comissionados (dinheiro esse, aliás, suficiente para custear durante um
ano o bolsa aluguel de 238,5 mil famílias de baixa renda em São Paulo, cidade
com o maior déficit habitacional do país).36
Em 2015, a União gastou R$ 2,1 bilhões só para bancar a energia elétrica dos
órgãos públicos federais. Com essa grana toda seria possível pagar a fatura
mensal de uma família com quatro pessoas por 343 mil anos. O valor é maior do
que os orçamentos dos ministérios do Turismo, do Esporte e da Cultura.37
Em 2017, R$ 3 bilhões saíram do erário para limpeza e conservação dos
órgãos públicos federais. Considerando como base o piso salarial da categoria
no estado de São Paulo, o valor corresponde ao pagamento anual de mais de
227 mil empregadas domésticas.38
O cenário por aqui é tão desolador que em 2016 teve ministério do governo
federal com orçamento menor do que a União gasta só com cafezinho.39

Um setor estratégico concentra os maiores


investimentos do Estado brasileiro: a lata de lixo

Para sustentar toda essa estrutura de poder, claro, é necessário um robusto


sistema de financiamento. No total, os brasileiros pagaram R$
2.172.053.819.242,78 em impostos em 2017. Faz ideia do que representa essa
montanha de dinheiro? Apenas a título de ilustração, aplicada na poupança essa
grana renderia juros de R$ 292.071 por minuto, R$ 17.524.194 por hora, R$
420.614.604 por dia, R$ 12.628.219.879 por mês.
Ou seja: você poderia receber dez salários mínimos mensais durante mais de
19 milhões de anos.
Quer carro na garagem, casa própria em bairro de classe média e comida na
geladeira? Sem problema. Com esse dinheiro você poderia comprar 83.572.674

outubro2018
Clube SPA

unidades zero-quilômetro do carro Chery New QQ 1.0; adquirir 3.458.684


apartamentos de 110m2, com três quartos, uma suíte e duas vagas de garagem,
no Morumbi, em São Paulo; ou ainda premiar uma multidão de gente com quase
cinco bilhões de cestas básicas.
É tanta grana que para conseguir transportá-la em notas de R$ 100 seriam
necessários 716 contêineres de vinte pés.40 Tanto dinheiro assim, recolhido
para garantir uma série de serviços básicos à população – como saúde,
segurança e educação –, deveria dar conta do recado, não é mesmo? Não é o
nosso caso.
Para início de conversa, o Brasil é o maior cemitério de obras públicas do
mundo. Não é como se o governo federal tivesse apenas dificuldade de prestar
serviços à população – nossos governantes sequer fazem ideia de como
estruturar o país.
No final de 2017, por meio de uma base de dados disponibilizada pela Caixa
Econômica Federal referente aos contratos de repasses firmados entre os
municípios e a União, a Confederação Nacional dos Municípios divulgou um
relatório listando o tamanho desse buraco. E o resultado é escandaloso. Mais de
8,2 mil obras públicas foram iniciadas e hoje estão paralisadas por todo o país.
Outras 11,2 mil já deveriam estar em andamento, mas nem sequer saíram do
papel.41 Ou seja: há mais de vinte mil obras públicas bancadas pelos pagadores
de impostos brasileiros, de norte a sul do país, que ainda não estão disponíveis
para atendê-los.
O buraco é tão profundo que se acredita que 70% das obras do setor elétrico,
independentemente do tamanho ou valor, estavam inacabadas ou atrasadas no
final de 2016.42 O prejuízo é enorme. Há custos decorrentes do cancelamento
de contratos, custos irrecuperáveis (sunk costs), custos decorrentes da
necessária preservação das estruturas semiacabadas e dos equipamentos
entregues, custos do impacto urbano de obras abandonadas e perdas dos
benefícios esperados com os investimentos nas obras.
Segundo um relatório divulgado pela Comissão Especial de Obras Inacabadas
(CEOI) do Senado Federal43 (e em que outro país o Parlamento instalaria uma
comissão com esse nome, afinal?), as perdas com obras financiadas com
recursos federais no Brasil, direta ou indiretamente, incompletas ou
paralisadas, podem chegar a cerca de R$ 1 trilhão. É tanto dinheiro que, se nós
empilhássemos essa grana toda em blocos de notas de cem, alcançaríamos uma
altura de 9.600 metros (maior que o monte Everest e 22 vezes o tamanho do
Empire State Building).

outubro2018
Clube SPA

A ferrovia Norte-Sul é um desses exemplos de descaso: um projeto lendário


no Brasil, pensado pela primeira vez no longínquo ano de 1927 como uma
grande espinha dorsal atravessando o país de norte a sul, concebido com a
ambição de conectar a Amazônia ao porto gaúcho de Rio Grande, cobrindo mais
de 4 mil quilômetros.
Nem ela escapa. A obra, que teve início há trinta anos, em 1987, ainda no
governo José Sarney, avança devagar, quase parando. E não dá para contar nem
mesmo com o que já foi entregue. O trecho de Palmas, capital do Tocantins, a
Anápolis, interior de Goiás, que tem extensão de 855 quilômetros, por exemplo,
foi inaugurado em maio de 2014, em clima de campanha, pela ex-presidente
Dilma Rousseff. Desde então, mais de três anos após a inauguração, foram
transportadas apenas três cargas por ele, menos de 1% daquilo que era
esperado para os primeiros cinco anos de ferrovia.44
Os pareceres do TCU são categóricos. Atestam que, além de superfaturada (o
grupo político de José Sarney, por exemplo, é citado nas delações dos executivos
da Odebrecht como beneficiário direto de recebimento de 1% de propina
relativo à obra entre 2008 e 200945), a ferrovia Norte-Sul é uma ode à
estupidez.
Há ao longo de todo o trecho curvas fechadas demais – onde ou o trem reduz
muito a velocidade ou descarrila. Em muitos pontos, os trilhos sequer foram
soldados – são presos por talas, que não suportam o peso de trens carregados.
Sem proteção, aliás, os taludes se desmancham.
O descaso é tamanho que, numa determinada região, a empreiteira entregou
um longo trecho de uma área de manobra sem o leito de brita sob os trilhos – o
que significa que se um trem passar por ela, simplesmente afunda. Pior: não há
um único pátio de manobras no caminho. Ou seja, não há espaço para permitir o
cruzamento de trens que vão em direção contrária. Muito menos lugar para
carregar ou descarregar.46
A estimativa de custos feita pelo governo é imprecisa, já que a obra teve
início há muito tempo. Mas a estatal Valec, que coordena a construção, aponta
um total de R$ 11,7 bilhões, em valores nominais, sendo R$ 4,6 bilhões apenas
para o trecho Palmas-Anápolis. Até o final de 2017, os contratos de transporte
firmados pela Valec no trecho central geraram uma receita de R$ 31,6 milhões –
menos de 1% do que custou construir esse trecho. Em outras palavras: a
ferrovia é um prejuízo colossal.
E não é o único. O aprofundamento do canal do porto de Rio Grande, o ponto
final previsto da ferrovia Norte-Sul, é mais um desses clássicos exemplos de

outubro2018
Clube SPA

descaso com o dinheiro de impostos por aqui.


A obra, iniciada em 2009, no auge da popularidade do Programa de
Aceleração do Crescimento, tinha a pretensão de aumentar a profundidade do
canal interno do quarto maior porto público do país – onde passam mais de
90% das exportações gaúchas –, permitindo assim que os navios
transportassem até vinte mil toneladas a mais em cada viagem, ajudando a
reduzir os custos logísticos das exportações. Executada pela Odebrecht e a belga
Jan de Nul, a construção custou aos cofres públicos a bagatela de R$ 196
milhões e ficou pronta pouco tempo depois de iniciada, em 2010.47
A má notícia? Até agora ela é inútil. A Marinha, responsável pela segurança
dos navios nos portos brasileiros, simplesmente não homologou as alterações
por considerar que o laudo apresentado após o término do serviço tem
inconsistências técnicas. Com isso, mesmo com toda a grana investida, os navios
não são autorizados a carregar nenhum quilo a mais por viagem.
Para piorar, o governo federal contratou mais uma dragagem no porto do
Rio Grande, no valor de R$ 368,6 milhões, só para retirar os sedimentos que se
acumularam na área desde 2010. O contrato foi assinado em 2015, num
consórcio formado pelas empresas Jan de Nul do Brasil e Dragabrás. Mas até
isso não saiu do papel: dessa vez foi o Ibama quem observou pendências no
plano inicial da obra e empacou a execução.
Janir Branco, diretor-superintendente do porto, admite que em algumas
ocasiões foi surpreendido com as exigências do órgão: “Eu sempre deixei bem
claro para a equipe técnica do Ibama que somos um órgão público, não temos a
agilidade de empresas privadas, que podem resolver determinadas exigências
em um passe de mágica.”48
Não há qualquer prazo para a realização da dragagem.
Trapalhadas com o dinheiro público como essas, dignas de comédia-
pastelão, se repetem exaustivamente pelo país.
Em Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, uma ventania derrubou
oito das 27 torres de um parque eólico em 2014. O prejuízo foi de R$ 300
milhões.49
Em Porto Alegre, uma obra no aeroporto Salgado Filho, iniciada em outubro
de 2013 e com previsão de conclusão para maio de 2016, foi paralisada em pelo
menos doze ocasiões, por greves de operários que protestavam contra as
condições de trabalho. No momento em que a obra deveria ter sido entregue,
apenas 19,2% dos trabalhos haviam sido realizados.50 No início de 2018, ao
constatar que a construção ficou excessivamente exposta às intempéries,

outubro2018
Clube SPA

devido aos atrasos, a Infraero decidiu realizar a demolição completa da


estrutura. A estatal descobriu que o custo de uma correção seria maior do que
fazer uma nova obra, completamente do zero. O investimento na ampliação do
terminal de passageiros do Salgado Filho chegou a R$ 36,68 milhões.51 Dinheiro
jogado no lixo.
Em São Paulo, em 2015, o governo estadual investiu R$ 29 milhões para
levar um metro cúbico de água por segundo do rio Guaió para a Represa
Taiaçupeba, em Suzano. Na inauguração da obra, porém, que contou até com a
presença do governador Geraldo Alckmin (PSDB), descobriram que a operação
não poderia ser iniciada. E pelo motivo mais trágico possível: “Não há água para
retirar do rio”, admitiu o superintendente de produção da Sabesp, Marco
Antônio Lopez Barros.52
Em Natal, uma obra do arquiteto Oscar Niemeyer, projetada para servir
como um espaço de turismo e inaugurada há mais de uma década, virou pista de
skate improvisada, após ser completamente abandonada pelo Estado (parte da
estrutura, inclusive, serve de rampa para as manobras). O Presépio de Natal,
como foi batizada, custou R$ 1,2 milhão com recursos do governo do Rio Grande
do Norte e atualmente está pichada e depredada. O Estado prometeu reformar o
espaço, mas o projeto não saiu do papel.53
O descaso com o dinheiro dos pagadores de impostos brasileiros é tamanho
que literalmente ultrapassa os assuntos ligados ao nosso planeta. Desde 2016, o
governo federal tenta, sem sucesso, o encerramento de uma empresa
binacional, a Alcântara Cyclone Space, que fundou em parceria com a Ucrânia,
para lançar foguetes produzidos pelos europeus a partir do Centro de
Lançamento de Alcântara, no Maranhão. Os ucranianos não querem nem ouvir
falar nessa história e prometem cobrar uma multa pesada, que pode chegar a R$
2 bilhões, caso o Brasil decida pelo rompimento do acordo de forma unilateral.
A empresa foi criada em 2003 e custou a bagatela de R$ 483 milhões aos
cofres públicos brasileiros até agora, sem nunca ter lançado um mísero foguete
– e esse era o único objetivo do negócio.54
De acordo com um relatório do Tribunal de Contas da União, a ideia era
economicamente inviável desde o começo.55 Segundo o TCU, para início de
conversa, a Alcântara Cyclone Space nunca poderia ter sido criada sem antes o
Brasil assinar um acordo de salvaguardas tecnológicas com os Estados Unidos –
o que não aconteceu até hoje. O acordo é o instrumento internacional utilizado
normalmente para impedir que empresas de um país acessem, sem autorização,
tecnologias de ponta de domínio de outra nação. Como cerca de 80% de todos

outubro2018
Clube SPA

os foguetes e satélites produzidos no planeta possuem tecnologias da terra do


Tio Sam – e “há indícios de que o veículo lançador ucraniano incorpora peças e
componentes estadunidenses”, segundo o relatório –, a falta de um acordo
inviabiliza a parceria brasileira com praticamente qualquer empresa ou
governo que use tecnologia ianque, incluindo a Ucrânia.
Outro grave problema, também apontado pelo TCU, é que o foguete
ucraniano já seria considerado ultrapassado desde a contratação do projeto.
Segundo o órgão, “o combustível utilizado pelo veículo lançador ucraniano
possuía materiais extremamente tóxicos e corrosivos”. Em caso de acidente ou
explosão, na ocorrência de o tanque de combustível voltar ao solo, o impacto
ambiental seria irreversível. Para piorar, a base fica próxima a áreas de
conservação e, em sua região de influência, há uma comunidade quilombola.
Na análise do TCU, os riscos alcançaram uma relevância ainda maior, pois,
além de o Brasil nunca ter lançado de forma bem-sucedida um foguete de
satélites, o país ficou inteiramente responsável, no acordo, por preparar toda a
infraestrutura de solo para o lançamento do veículo ucraniano. Algo que, como
sabemos depois de mais de uma década, fomos incapazes de realizar. A
incompetência é tamanha que nós nem sequer podemos afirmar que o governo
brasileiro jogou quase meio bilhão de reais para o espaço…
Nem a saúde escapa dos descasos.
Mesmo com tantas adversidades (segundo as pesquisas de opinião, para a
população, a saúde pública é o principal problema do país56), o Brasil tem 1.158
novas unidades do SUS que nunca foram abertas. Conforme os dados do
Ministério da Saúde, são 165 UPAs e 993 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) que
jamais atenderam um mísero paciente.
E a conta para descobrir esse prejuízo é simples. O Brasil hoje tem em
atividade 538 UPAs (prontos-socorros) e cerca de 40 mil UBSs (postos de
saúde). Se considerarmos a média de custo de construção de cada um desses
tipos de estrutura, a matemática é implacável: o Ministério da Saúde já gastou
mais de R$ 1 bilhão com obras de serviços jamais inaugurados, afetando
diretamente a vida de milhões de pessoas.57
Em 2013, o governo do Ceará desembolsou R$ 650 mil para a cantora Ivete
Sangalo inaugurar um hospital na cidade de Sobral, capital política do então
governador Cid Gomes (PDT). Um mês depois, a fachada do hospital desabou.58
Gastos estúpidos e dinheiro jogado no lixo afetam diretamente a saúde de
milhões de brasileiros.
Mais de 70% dos nossos hospitais públicos não têm condições de

outubro2018
Clube SPA

diagnosticar sequer um AVC.59 E 90% das cidades brasileiras não possuem nem
leitos de Unidade de Terapia Intensiva Neonatal.60
A oferta, aliás, de leitos de UTIs em estabelecimentos públicos (ou
conveniados ao SUS) existe em somente 505 dos 5.570 municípios brasileiros,
de acordo com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES).61
Ao todo, o Brasil possui quase 41 mil leitos de UTI. Metade deles está
disponível para o SUS, que potencialmente atende 204 milhões de brasileiros.
Onde está o resto? Reservado à saúde privada ou suplementar (por meio dos
planos de saúde), que hoje atende apenas 25% da população,
aproximadamente.
Segundo um levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM), em 70%
dos estados não há o número de leitos de UTI preconizado pelo Ministério da
Saúde para garantir um atendimento satisfatório à população. Pela portaria
ministerial nº 1.101/2002,62 deve existir no país de 2,5 a 3 leitos hospitalares
para cada mil habitantes. O SUS conta com apenas 0,95 leito de UTI para cada
grupo de dez mil habitantes – quase cinco vezes menos que a oferta da rede
privada.
E a diferença aqui não é apenas econômica. É regional também. Só o Sudeste,
habitado por 44% da população brasileira, concentra 54% das unidades de
terapia intensiva de todo o país (47% do total de leitos públicos e 61% dos
privados). Desse total, São Paulo, com 45 milhões de habitantes, possui 26% dos
leitos públicos, o que equivale quase à totalidade dos leitos públicos das regiões
Norte e Nordeste, que, somadas, possuem 75 milhões de habitantes. O norte do
país, aliás, tem a menor proporção de leitos do Brasil: apenas 5% do total (5,7%
dos leitos públicos e 4,4% dos privados).
E se não falta construção de hospital inacabada ou atrasada, sobra descaso
com obras ligadas ao saneamento básico, aumentando ainda mais a
dependência da população em relação à saúde pública.
Só com água tratada, são mais de 6,5 bilhões de metros cúbicos
desperdiçados todo ano no país. A perda financeira equivale a R$ 8,015 bilhões,
segundo um estudo do Instituto Trata Brasil.63 Com esse volume todo seria
possível encher 17,8 milhões de caixas-d’água de mil litros por dia (cabe
lembrar que apenas 6% dos prestadores de serviço de água e esgoto no Brasil
são privados, e que esses prestadores são responsáveis por 20% dos
investimentos do setor no país64). De fato, para cada R$ 100 em água produzida
pelas operadoras de água e esgoto, apenas R$ 63 são faturados pelas
companhias de saneamento.65 O resto se perde literalmente pelo ralo.

outubro2018
Clube SPA

O descaso é generalizado: mais de 60% dos recursos federais destinados ao


saneamento não são sequer aplicados.66 Sobram obras abandonadas. Levando-
se em conta apenas os projetos do PAC 2, a partir de 2015, somente 27% das
obras de saneamento no Brasil ficaram prontas até o momento, enquanto 14%
ainda nem começaram.67
O cenário com o saneamento básico é tão ameaçador que, ainda hoje, 41%
das escolas brasileiras têm internet, mas só 33% têm coleta de esgoto.68
E tudo isso é uma bola de neve. Cidades com piores indicadores de
saneamento chegam a gastar cinco vezes mais com saúde. Entre os dez
melhores municípios do país no quesito saneamento, a média é de 6,3
internações por mil habitantes, de pacientes com diarreia, dengue e
leptospirose. Entre os dez piores, esse número aumenta para 16,7.69
A ausência de bons instrumentos para estruturar o país, entregue a um
sistema de incentivos perverso, não custa apenas muito dinheiro. Também
custa muitas vidas.

Brasil, um país matematicamente inviável

Foi o economista norte-americano Milton Friedman, ganhador de um Nobel,


quem disse que há apenas quatro maneiras de um cidadão gastar dinheiro. Não
há como escapar das opções abaixo.

1) Você pode gastar seu dinheiro em benefício próprio. Imagine a cena:


você quer comprar um carro para que você mesmo use. Aqui, você se
importa com o preço e a qualidade daquilo que está comprando. É o tal do
custo-benefício. Você buscará encontrar o melhor veículo, na melhor faixa
de preço. Essa é a opção mais racional de como gastar dinheiro.
2) Você pode gastar o dinheiro dos outros em benefício próprio. Pense por
um segundo: você tem todos os carros do mundo à disposição sem
precisar colocar a mão no bolso. É inevitável, você estará mais interessado
na qualidade do modelo do que no preço, afinal o dinheiro não é seu. O
resultado é que provavelmente você terá um bom veículo na garagem por
um preço muito alto.
3) Você pode gastar seu dinheiro em benefício dos outros. Por exemplo:
você escolhe o presente de um amigo secreto do trabalho. Aqui, não dá
pra fingir o contrário – você está mais interessado no preço do que na

outubro2018
Clube SPA

qualidade do produto. É a primeira coisa que você pensa antes de sair às


compras. Um chaveiro pode ser uma boa opção. Um veículo novo, nem
pensar.
4) Você pode gastar o dinheiro dos outros em benefício dos outros. Aqui, o
interesse na qualidade inevitavelmente será baixo, sobretudo se você não
faz a menor ideia de quem receberá esse benefício. Não bastasse, não há
qualquer incentivo para procurar o menor preço, especialmente se você
desconhece o rosto de quem bancará sua compra. Essa é a opção menos
racional de como gastar dinheiro.

Incentivos importam. E o governo brasileiro naturalmente não tem o melhor


deles. Nossos políticos podem gastar o dinheiro alheio em benefício próprio.
Mas organizam a sociedade, administrando o dinheiro dos outros (os pagadores
de impostos) em benefício dos outros (todos os brasileiros).
Esse arranjo leva a um cenário previsível: num país com pouco controle das
ações estatais, despreocupado em regular e estabelecer limites ao exercício
político, nós encontramos uma classe de burocratas privilegiada, bancada com o
dinheiro alheio e pouco preocupada com a eficiência do gasto público.
Nós não temos apenas uma imensa dificuldade em tirar obras públicas do
papel, nós também não conseguimos administrar os serviços públicos quando
eles já estão em plena atividade.
Quer um exemplo? Todos os anos o SUS joga pelo menos R$ 16 milhões em
medicamentos de alto custo no lixo. E tudo porque ora adquire remédios com a
data de validade próxima do vencimento, ora os armazena de forma incorreta.
Na Bahia, por exemplo, entre 2013 e 2014, cerca de duzentos mil comprimidos
de Olanzapina (medicamento usado no tratamento da esquizofrenia) tiveram de
ser jogados fora por um erro de planejamento: acabaram vencendo antes que os
pacientes pudessem tomá-los. No total, R$ 3,5 milhões foram descartados em
comprimidos vencidos.70 E isso sem citar os medicamentos de uso comum.
Em um ano, o Rio de Janeiro gastou quase R$ 3 milhões só para incinerar
medicamentos e insumos hospitalares com prazo de validade vencido. O valor
se refere ao custo de R$ 2,86 por quilo incinerado, multiplicado pelas mil
toneladas de medicamentos fora da validade desperdiçadas entre 2015 e
201671 – como 2,2 milhões de comprimidos de Captopril, mais 1,8 milhão de
Propanolol e seis milhões de abaixadores de língua, além de diversos
comprimidos para controle da pressão, antibióticos, fitas de medição de glicose,
biolarvicida para combate à dengue, luvas, glicose, medicamentos para

outubro2018
Clube SPA

Parkinson e tuberculose, vitaminas e coletores de urina.72


No início de 2016, uma fiscalização de uma comissão especial da Assembleia
Legislativa do Rio de Janeiro encontrou mais de trezentas toneladas de
medicamentos vencidos na Central Geral de Abastecimento, em Niterói. A
empresa, administrada pelo consórcio Log Rio, formada pelas empresas Facility
e Prol, recebeu R$ 30 milhões apenas pela gestão do material.73
Pela Constituição, os municípios são obrigados a gastar 15% de suas receitas
na saúde e 25% na educação. O médico Gustavo Gusso, professor da USP, diz
que “a falta de foco e a busca de votos” são os grandes entraves na área. Para
ele, os investimentos que os prefeitos realizam são proporcionalmente maiores
nos níveis secundário (especialidades) e terciário (hospitais complexos) do que
no primário (prevenção): “Muitas vezes o prefeito não tem condição, mas
constrói um hospital em que não se faz direito nem o atendimento secundário,
nem o primário. São elefantes brancos, com equipamentos errados na cidade
errada para pacientes errados no lugar errado. É um clássico.”74
Segunda uma análise do Banco Mundial publicada em 2017, o Brasil poderia
aumentar a eficiência da saúde pública em 10% mantendo o nível de gastos, ou
economizar 34% de seus gastos para produzir os mesmos resultados. A análise
aponta para 37% de ineficiência na atenção primária (potencial para reduzir
gastos em R$ 9 bilhões) e 71% nos cuidados de saúde secundários e terciários
(potencial para reduzir gastos em R$ 12 bilhões). Ou seja: neste momento, nós
não estamos apenas não conseguindo entregar uma boa prestação de serviço na
saúde pública, ela também está inflacionada.
Segundo o estudo, “as ineficiências advêm, principalmente, de: escala
inadequada, escassez de mão de obra, falta de incentivos para os prestadores de
serviços e pacientes, aquisição inadequada e uso de drogas”.75
Além disso, por uma série de razões, a produtividade da força de trabalho
médica também é relativamente baixa no Brasil. Segundo dados da OCDE,
utilizados no estudo do Banco Mundial, 1.470 foi o número estimado de
consultas por médico no Brasil em 2013. No Chile, esse número é de 1.894. Na
Colômbia é de 2.727. Na Coreia do Sul, a líder no ranking, é de 6.732. A média
entre os países da OCDE é de 2.294.
E o cenário de ineficiência se repete com a educação. Entre 2000 e 2015, o
gasto real no ensino fundamental brasileiro, da 5ª à 8ª série, teve um aumento
de mais de 300% no custo por aluno. No mesmo período, no entanto, a nota dos
estudantes brasileiros no Pisa, o principal programa de avaliação escolar do
planeta, ficou praticamente estagnada. Enquanto o resto do mundo evoluiu, nós

outubro2018
Clube SPA

não saímos do lugar.76

Fonte: Inep, OCDE.

No Ensino Superior, que concentra o gasto público com educação de forma


desproporcional, o cenário é ainda pior. Nós gastamos com nossos alunos
universitários US$ 11,7 mil, mais do que países como Itália (US$ 11,5 mil),
República Tcheca (US$ 10,5 mil) ou Polônia (US$ 9,7 mil). Também gastamos
mais que a Coreia do Sul (US$ 9.600), que está entre os primeiros colocados no
ranking do Pisa (o Brasil está entre os últimos). Em média, os membros da
OCDE, organização que reúne as nações mais desenvolvidas do planeta, gastam
quase a metade a mais por estudante do ensino universitário do que com os do
primário. Nós gastamos três vezes mais.77
Segundo o Banco Mundial, em termos de gastos com educação em relação ao
gasto público total, o Brasil já investe acima da média dos países membros da
OCDE: mais de 16,2% dos recursos públicos vão para o setor por aqui, contra
10,3% de média da organização. Os números do Brasil também são superiores
aos de Coreia do Sul (14,5%), Suíça (13,9%), Dinamarca (13,5%) e Noruega
(13%). Considerando os 43 países analisados, o Brasil aparece em sexto lugar
nesse quesito. Ainda assim, apenas 50% dos estudantes brasileiros do Ensino
Médio se formam no prazo. A média da OCDE é de 73%.78
Para o Banco Mundial, com um aumento da eficiência seria possível manter o

outubro2018
Clube SPA

padrão atual de educação com 37% menos recursos no Ensino Fundamental e


47% menos recursos no Ensino Médio. O total economizado representaria
aproximadamente 1% do PIB.79
Com o Ensino Superior, uma reforma do sistema que buscasse maior
eficiência poderia economizar 0,5% do PIB do orçamento federal. O governo
federal gasta aproximadamente 0,7% do PIB com universidades federais. A
análise realizada pela organização indica que aproximadamente um quarto
desse dinheiro é desperdiçado.
Para o Banco Mundial, parte da nossa ineficiência no setor está intimamente
ligada à obrigatoriedade constitucional dos municípios gastarem 25% de suas
receitas em educação. E a razão não é difícil de entender: nosso país está
envelhecendo.

A vinculação constitucional dos gastos em educação a 25 por cento das


receitas dos municípios pode ser uma das principais causas da
ineficiência dos gastos. Municípios mais ricos, com uma alta taxa de
receita corrente líquida por aluno, tendem a ser bem menos eficientes que
municípios mais pobres. Logo, é provável que para cumprir as regras
constitucionais, muitos municípios ricos sejam obrigados a gastar em
itens que não necessariamente ampliem o aprendizado. Isso é ainda mais
preocupante dada a drástica transição demográfica pela qual o país está
passando. Com a rápida queda da taxa de fertilidade para menos de 1,8, o
número de alunos vem caindo rapidamente em muitos municípios,
principalmente no Ensino Fundamental. Dado que essa queda do número
de alunos não está necessariamente associada a uma queda das receitas
correntes líquidas, isso implica que, para cumprir a lei, muitos municípios
são obrigados a gastar mais e mais por aluno, mesmo que esse gasto
adicional não seja necessário.

Além de saúde e educação, nós também somos ineficientes na organização


do trânsito das nossas grandes cidades. E jogamos muito dinheiro pelo ralo
devido a isso.
De fato, nossas metrópoles possuem um grande desequilíbrio entre a
ocupação habitacional nas áreas periféricas e a oferta de funções urbanas
(como empregos, escolas, hospitais, lazer e serviços em geral) em suas áreas
centrais. A consequência disso é que uma parcela expressiva da população
precisa realizar longas viagens para conseguir desempenhar suas atividades.
Nesse ambiente, o impacto dos extensos deslocamentos casa-trabalho-casa

outubro2018
Clube SPA

sobre a produtividade vem crescendo ano após ano. Na prática, nossa


deficiência crônica na prestação de bons serviços de transporte público, somada
aos problemas na engenharia de trânsito das grandes cidades, está literalmente
empacando a vida dos brasileiros.
Na Região Metropolitana de São Paulo, por exemplo, mais de 5,2 milhões de
trabalhadores levaram, em média, 137 minutos (mais de duas horas) nos
deslocamentos casa-trabalho-casa em 2013. O custo da produção sacrificada, da
grana que fica presa nos semáforos e engarrafamentos, é bilionário: chegou a R$
53,4 bilhões em 2013, o equivalente a 5,6% do PIB metropolitano.80
Um estudo da Firjan aponta que, no país como um todo, esse prejuízo pode
chegar a R$ 111 bilhões por ano,81 dinheiro suficiente para adquirir, a cada
doze meses, mais de 284 mil ônibus urbanos com ar-condicionado (três vezes
mais do que a frota nacional, que atende 32 milhões de pessoas por dia82),
construir 222 quilômetros de metrô (três vezes mais que toda a extensão do
metrô de São Paulo) ou abrir uma ferrovia com 18.500 quilômetros (o
suficiente para sair do Brasil e alcançar a China).
O Estado brasileiro é inquestionavelmente mal administrado.
Segundo uma análise do Banco Mundial de 2017, das licitações públicas
realizadas pelo governo federal entre 2012 e 2014, cobrindo, em média, cerca
de 5% do orçamento federal (ou R$ 155 bilhões), é possível afirmar que apenas
nossos representantes do âmbito federal poderiam economizar entre R$ 24
bilhões e R$ 35 bilhões em três anos (um valor entre 0,15% e 0,20% do PIB por
ano; 1% do orçamento federal) por meio da introdução de estratégias
customizadas para as licitações públicas. E tudo isso sem necessariamente
aplicar qualquer alteração nas leis de licitação e contratos ou elaborar novas
leis – apenas apostando em princípios básicos de planejamento e estratégia,
algo insistentemente ausente na gestão pública brasileira.

O curioso caso da máquina multiplicadora de


municípios

Parte importante do estímulo à ineficiência no Estado brasileiro se encontra


no nosso modelo de distribuição de municípios. Entre 1984 e 2000, o Brasil
testemunhou o surgimento de 1.405 municípios, uma média de 87 novos
municípios instalados a cada doze meses.

outubro2018
Clube SPA

Quase todos eles tinham algo em comum: eram muito pequenos – 94,5%
deles foram fundados com menos de vinte mil habitantes. Na verdade, entre
1991 e 2000, apenas quarenta novos municípios ultrapassaram essa barreira.
Isso alterou radicalmente a distribuição dos municípios no país: enquanto
em 1940 apenas 2% deles possuíam menos de cinco mil habitantes, em 2000
esse número representava 24,10%.83 Hoje, dos 5.570 municípios nacionais,
1.301 ainda possuem menos de cinco mil moradores. Mas para entender
exatamente como esse fenômeno aconteceu nós precisaremos voltar um
pouquinho no tempo. Mais precisamente a 1988.
Foi nesse ano, entre pares de All-Star e lançamentos de Atari, que o
Congresso Nacional, por meio da promulgação da Constituição Federal, aprovou
um amolecimento das regras de emancipação de porções do território em
unidades políticas locais. E não se contentou apenas com isso: também elevou
de maneira substancial as transferências financeiras que a União e os estados
devem fazer, obrigatoriamente, aos municípios.
O resultado disso tudo foi uma verdadeira corrida à criação de novas
emancipações (um fenômeno bizarro que durou até 1996, quando o Congresso,
diante do notório problema fiscal gerado, aprovou a Emenda Constitucional 15,
instituindo a obrigatoriedade de um Estudo de Viabilidade Municipal antes do
prosseguimento de qualquer processo de emancipação).
Estabeleceu-se o caos: um forte incentivo para que nossos municípios se
acomodassem no esforço de arrecadação de tributos – algo impopular para
qualquer prefeito que se preze, e desnecessário quando você tem à disposição o
dinheiro de todos os outros municípios para pagar suas contas –, criando uma
profunda cultura de dependência.
De acordo com dados do Tesouro Nacional, em 2012, apenas 13% da receita
corrente dos municípios brasileiros foram arrecadados por meio de tributos
locais. No caso dos municípios com até quinze mil habitantes esse número é
ainda menor: míseros 9%.84
Em 2016, apenas 136 municípios em todo o país arrecadaram mais de 40%
de suas receitas com tributos municipais. Nesse grupo, a população média é de
130 mil habitantes. No entanto, 81,7% das cidades brasileiras não geraram nem
20% de suas receitas: exatos 3.714 municípios.85 Ou seja, quase nada é
arrecadado localmente.
Três décadas depois da promulgação da Constituição, o cenário é
catastrófico: cada um desses novos municípios, incapazes de bancar suas
próprias atribuições, trazem para o bolso de todos os pagadores de impostos

outubro2018
Clube SPA

brasileiros a conta pela nova máquina pública municipal estabelecida – os


salários de seu prefeito e vice-prefeito, de seus vereadores, secretários e de
todos os demais funcionários públicos necessários para tocar a administração
de um município. Essa máquina, implacável, suga tudo o que pode pela frente.
Os pequenos municípios brasileiros apresentam receitas próprias per capita
equivalentes a 23% da receita própria média per capita dos grandes. Apesar
disso, eles possuem uma despesa legislativa média equivalente a 70% mais que
a dos grandes municípios.86
Em 10% dos municípios brasileiros – ou seja, em mais de quinhentos
municípios – 80% da força de trabalho é composta por funcionários públicos. E
desse grupo, impressionantes 96% estão em situação fiscal difícil ou crítica.
É o caso de Bom Jesus da Serra, no interior da Bahia. Por lá, o percentual de
funcionários públicos chega a 90%. E os que não trabalham na administração
pública viram-se como podem. Dos 10.644 moradores da cidade, 1.773 são
beneficiários do Bolsa Família. Outros 1.308 estão no Programa Garantia
Safra.87 Ou seja: boa parte dos que não estão na administração pública do
município também dependem diretamente da União.
No Brasil, 707 municípios gastam mais com despesas legislativas do que
conseguem arrecadar a título de receitas próprias. Outros 218 municípios
gastam mais de 80% das receitas próprias com as Câmaras Municipais. Sobra
dinheiro para vereadores, falta para escolas, hospitais e obras de saneamento.
No papel, as despesas legislativas municipais têm limites estabelecidos pela
Constituição. O problema é que esses limites utilizam como base de cálculo a
soma das receitas tributárias e das transferências estaduais e federais. Caso
esses percentuais fossem aplicados exclusivamente às receitas próprias dos
municípios – ou seja, desconsiderando todas as transferências –, eles seriam
forçados a gastar menos com seus trabalhos legislativos, gerando uma
economia anual superior a R$ 10 bilhões, se levarmos em conta as mais de cinco
mil cidades brasileiras, de acordo com um estudo realizado pela Firjan.88
O modelo atual é inviável. Todos os anos nós enviamos muito dinheiro para
os pequenos municípios brasileiros. Mas essa grana fica retida nas máquinas
públicas locais. Não chega à população.
Em 2016, apenas 6,8% do orçamento das cidades foi destinado a
investimentos. No mesmo período, a parcela do orçamento consumida pelos
gastos com pessoal nos municípios brasileiros chegou a 52,6%. Mais da metade
das prefeituras brasileiras, 2.503 municípios, terminou o ano comprometendo
mais de 50% de seus orçamentos com a folha de salário do funcionalismo

outubro2018
Clube SPA

público. A situação é tão caótica que apenas 144 municípios (3,2%) em todo o
país gastaram menos de 40% do orçamento com pessoal – entre eles só uma
capital, São Paulo.
Não bastasse isso, dos nossos 5.570 municípios, quase a metade descumpre
a Lei de Responsabilidade Fiscal. Dos municípios avaliados pela Firjan, 87%
fecharam as contas de 2016 em situação difícil ou crítica.
Em 2016, aliás, 2.091 prefeituras brasileiras descumpriram pelo menos uma
determinação legal, o que poderia levar ao impeachment de seus prefeitos: 937
não deram transparência às contas até a data limite, 715 terminaram o mandato
sem deixar recursos em caixa para honrar os compromissos postergados (algo
bastante comum em último ano de mandato), 575 declararam gastos de pessoal
acima do teto, e outras dez registraram gastos com juros e amortizações acima
do permitido. E 146 municípios conseguiram descumprir mais de uma dessas
determinações legais. De qualquer perspectiva que se encare, a aposta em
tantos municípios pequenos é um equívoco grosseiro, parte importante do
subdesenvolvimento do país.
De fato, na administração pública, o ideal é que o processo decisório seja o
mais descentralizado possível. E não apenas isso: tudo que possa ser
administrado pelo município deveria ser atribuído a ele – a julgar que um
prefeito está consideravelmente mais próximo da população, podendo captar
melhor suas necessidades, do que um governador ou um presidente.
Mas isso é apenas parte da história. Também é inquestionável que, para que
uma boa dose de eficiência seja realmente alcançada, deve ocorrer escala
suficiente para a prestação dos serviços públicos. É preciso que o custo fixo de
construção e manutenção das estruturas que atendem à população não seja
elevado em relação ao custo total e aos benefícios gerados. Caso contrário, a
conta não fecha.
Qualquer município com uma população pequena demais terá
inevitavelmente um custo fixo muito alto para a construção e a manutenção de,
por exemplo, uma unidade de saúde, que acabará atendendo poucos pacientes.
O mesmo pode ser dito sobre outros serviços básicos – desde o custo,
distribuído entre os moradores, da construção da própria prefeitura até às
escolas.
A ausência de escala na prestação dos serviços dificulta a saúde financeira de
qualquer município com essas características. Mas como tudo que é muito ruim
pode sempre piorar por aqui, não faltam incentivos para que isso aconteça no
Brasil.

outubro2018
Clube SPA

O próprio Fundo de Participação dos Municípios (FPM), responsável direto


por 44% de toda a receita corrente desses municípios com menos de dez mil
habitantes, tem regras de partilha que beneficiam as cidades pequenas. Parece
insanidade, mas três municípios com cinco mil habitantes recebem 50% a mais
do FPM do que um município de quinze mil.
Em essência, nós estamos falando de uma máquina multiplicadora de
municípios. A Constituição brasileira criou um imenso estímulo para a
proliferação de microcidades: na prática, o modelo do FPM não apenas aumenta
o montante de transferência quando os municípios se dividem (Bom Jesus da
Serra, na Bahia, por exemplo, citada há alguns parágrafos, desmembrou-se do
município de Poções em 1989), como multiplica os cargos políticos – e os
empregos públicos, que aumentam a renda de uma parcela de alguns
privilegiados cidadãos locais, sem que eles precisem custear isso por meio de
impostos, já que essa conta é bancada pelo resto do país.
São os piores incentivos possíveis. Dessa forma, nós invertemos
completamente a lógica de qualquer estruturação racional de uma malha
municipal: parte considerável dos nossos municípios não foi fundada para
buscar autonomia econômica e financeira, engolida pela máquina de um
município maior, mas porque alguns burocratas identificaram uma grande
oportunidade de ganhar rios de dinheiro com transferências federais e
estaduais, e ainda de quebra conseguir o milagre da multiplicação dos cargos
públicos. Para essas pessoas, quanto menos populoso o município, maior a
vantagem financeira. Tudo virou mera questão de disputa por verbas e cargos.
Mais uma em nossa história.
Como diz o economista Marcos Mendes:89

Por um lado, para os habitantes de municípios pequenos, tornou-se mais


fácil viver de uma renda pública do que investir em um negócio ou buscar
um emprego privado. Por outro lado, os municípios grandes perdem
verbas (que são realocadas para os novos municípios) e deixam de ser
capazes de enfrentar complexos problemas sociais que entravam o
desenvolvimento econômico e social, como os congestionamentos de
trânsito, a violência urbana, a proliferação de habitações em áreas de
risco.
Há uma clara desproporção entre os recursos recebidos e as
necessidades das populações locais quando se comparam municípios
pequenos com os grandes aglomerados urbanos.

outubro2018
Clube SPA

As novas administrações municipais, em vez de se instalarem em


lugares prósperos, como suporte ao desenvolvimento econômico já em
curso na localidade, vão se instalar em locais estagnados, de baixa
produtividade e sem maiores perspectivas econômicas.
O desenvolvimento econômico, em uma economia capitalista, se dá por
meio do crescimento do setor privado e não do governo. Mais dinheiro
público em lugares sem condições para o desenvolvimento do setor
privado não fará a mágica de despertar o empreendedorismo ou de criar
novas atividades econômicas rentáveis. Pelo contrário, aumentará a
dependência da população local em relação ao dinheiro e ao emprego
públicos.

Em Santa Catarina, por exemplo, 87 dos 96 municípios criados depois da


Constituição de 1988 consomem R$ 1,1 bilhão por ano somente com a
manutenção da máquina pública. Dessas cidades, apenas nove conseguiram, ao
longo dessas três décadas, cortar a dependência das transferências federais e
estaduais e andar com as próprias pernas. Todas as demais ainda dependem
umbilicalmente do Fundo de Participação dos Municípios.
É o caso de São Miguel da Boa Vista, no oeste do estado. Com 1.904
habitantes, o município tem 58,6% da sua receita oriunda do FPM. Flor do
Sertão, com 1.597 moradores, tem uma dependência orçamentária de 53,2% do
fundo.
As 87 cidades teriam um ganho de escala médio na arrecadação em torno de
20% caso voltassem a se fundir aos antigos municípios-sede90 – uma
verdadeira utopia frente a um sistema que não foi desenvolvido para ser
racional com o gasto público e que tem como único propósito premiar a
atividade política.

Desfuncionalismo público

Mas o talento criativo dos nossos políticos não se limita à fundação de


microcidades: com motivações muito parecidas, ele também se estende à
construção de empresas estatais. Nós somos campeões nisso.
O governo federal terminou 2016 como dono (ou com participação
majoritária) de exatas 154 empresas. Parece muita coisa? Esse número já foi
maior. Em 1980, durante a euforia nacionalista dos militares, nós chegamos a

outubro2018
Clube SPA

alcançar a marca de 382 estatais sob controle da União. Das empresas que ainda
estão em atividade, 33% foram criadas pelos militares, num intervalo de apenas
duas décadas (entre 1964 e 1984).91

Parte importante dessas empresas é composta de verdadeiros elefantes


brancos, a mil léguas de atingir seus objetivos.
É o caso da Empresa Brasil de Comunicação, a EBC, responsável pela TV
Brasil, uma emissora pública que chega a dar zero ponto de Ibope e soma,
literalmente, quarenta vezes menos audiência do que a Globo quando a
emissora carioca coloca barras de manutenção na madrugada92 (a TV Brasil, um
canal aberto, alcança uma média de audiência menor que a da Rede Vida ou da
TV Aparecida, e equivalente à de canais como Animal Planet e Boomerang, que
são pagos e não estão sequer nos pacotes básicos de algumas operadoras93).
Mesmo sem público, a estatal consome anualmente R$ 680 milhões dos
pagadores de impostos94 – mais do que o governo federal gasta com o
funcionamento de 225 postos de representação no exterior, como embaixadas,

outubro2018
Clube SPA

consulados e missões diplomáticas.95


É o caso também da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), a estatal
criada antes da Copa do Mundo com o objetivo de desenvolver o trem-bala que
ligaria São Paulo ao Rio de Janeiro. A obra nunca saiu do papel, mas desde 2012
a estatal, que é 100% dependente da União, já recebeu R$ 178 milhões do
Tesouro Nacional.
Empresas dependentes da União são aquelas incapazes de se sustentarem
sozinhas, as que terminam no vermelho no final do ano. De 2006 a setembro de
2017, o quadro de pessoal efetivo nessas estatais – são dezoito nessa situação –
mais do que dobrou, passando de 34.616 para 74.041 funcionários (um
aumento de 113,9%). Mais sujeitas a controle político, essas empresas agem na
contramão das demais. Na média geral, considerando todas as empresas com
controle direto ou indireto da União, o quadro de pessoal efetivo teve um
aumento bem menor no mesmo período: de 17,5%.96
Nem todas as estatais, claro, estão no controle da União. Muitas delas
pertencem aos estados e municípios. Quantas existem de fato no Brasil?
Ninguém sabe. Com a conta parcial, porém, é possível afirmar que, comparando
com as empresas públicas pertencentes aos entes federais, o Brasil possui mais
estatais que todos os países-membros da OCDE (a instituição que reúne as
nações mais desenvolvidas do planeta), à exceção de Hungria e Polônia.97

Fonte: OCDE. O tamanho e distribuição setorial das estatais na OCDE e países-membros. Set. 2014.

outubro2018
Clube SPA

Nós adquirimos tamanha vocação para estatais que, em 2008, o Ministério


da Saúde chegou a fundar a Natex, uma estatal para a produção de
preservativos masculinos, no Acre.98 O projeto, como você deve imaginar,
falhou miseravelmente. Com matéria-prima escassa, atraso no pagamento dos
salários dos funcionários (muitos dos quais ameaçados de demissão), um
quadro de servidores reduzido à metade e uma capacidade de produção
rebaixada em 70%, a primeira fábrica estatal de preservativos do país entrou
em rota de privatização.99 Nada que causasse qualquer tumulto nas vendas de
camisinha país afora.
Os problemas envolvendo as estatais brasileiras, no entanto, não se limitam
aos folclores de casos como a Natex. Eles são notórios, presentes em diferentes
manchetes há mais de um século, envolvendo as empresas públicas mais
tradicionais do país: escândalos de corrupção, loteamentos de cargos políticos,
uso eleitoreiro da máquina, má gestão.
De modo geral, os equívocos que se repetem ano a ano nas estruturas
organizacionais de cada estatal do país são muito parecidos com os que
alimentam a vida da nossa classe política – e eles se escancaram no exato
momento em que nos damos conta de que seus funcionários vivem num país
completamente diferente do que vemos nas ruas; num reino de regalias e
imunidades: a República dos Aspones.
Há casos emblemáticos que escancaram o tamanho dos privilégios
concedidos aos servidores públicos das estatais brasileiras. Na EBC, por
exemplo, os funcionários recebem dois bônus extras de mil reais: em julho,
apelidado de “vale-canjica”, e outro no mesmo valor no final do ano, chamado
de ‘‘vale-peru’’.
Na Infraero, a estatal responsável pelos nossos aeroportos, servidores têm
vale-alimentação e vale-refeição inclusive nas férias, além de dois planos de
saúde e auxílios-babá e combustível.100
A Casa da Moeda emprega praticamente um hospital para seus funcionários,
além do plano de saúde a que os servidores têm direito. A estatal gasta R$ 8
milhões por ano só para manter uma estrutura de 22 médicos, 11
fisioterapeutas, 1 massoterapeuta, 2 dentistas, 2 psicólogos, 1 nutricionista, 1
farmacêutico, 9 enfermeiros, 3 técnicos de enfermagem, 5 recepcionistas e 7
motoristas. Toda essa estrutura está à disposição exclusiva dos seus 2.700
funcionários, no Rio de Janeiro. Segundo o presidente da instituição, Alexandre
Cabral, o projeto “era para ser só um ambulatório”.
A matemática escancara o esdrúxulo. A Suíça tem um médico para cada 238

outubro2018
Clube SPA

habitantes. O Reino Unido tem um para cada 361.101 No Maranhão, há um


médico para cada 1.382 pessoas.102 A Casa da Moeda tem um para cada 122
funcionários.
Atualmente, aliás, nossas estatais federais gastam mais de R$ 9 bilhões por
ano com assistência de saúde, mais da metade do que o governo federal gastou
com medicamentos e insumos para atender a toda a população brasileira em
2016.103
Na média, o gasto por funcionário das estatais que adotam planos de
autogestão – planos de saúde administrados por empresas sem fins lucrativos –
é de R$ 10.163 ao ano. Para as empresas privadas, esse mesmo custo anual tem
média de R$ 3.858. Ou seja, três vezes menor. Na prática, o governo é ineficiente
em escala: contrata mal, administra mal e presta serviços piores ainda.
Infraero e Correios são as estatais que mais financiam seus planos de saúde –
pagam, respectivamente, 93% e 95% da mensalidade das suas assistências (a
média, considerando todas as empresas, é de 77% bancados pelas estatais).
E se as despesas das estatais com planos de saúde já são altas, no caso dos
Correios elas custam mais do que o triplo. A assistência por funcionário
bancada pela empresa supera os R$ 12 mil por ano – tudo isso porque o
benefício não é privilégio apenas do servidor, mas também dos seus pais. O
cenário é tão grotesco que, apesar de os Correios possuírem 108 mil
funcionários na ativa e 32 mil aposentados, paga as despesas de saúde de 400
mil pessoas104 (das quais 91 mil têm mais de sessenta anos e demandam
atendimentos médicos periodicamente).
E os privilégios não param por aí. Os servidores dos Correios também têm
direito a plano odontológico e a duzentos procedimentos além dos
determinados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Em 2016,
1% dos beneficiários da estatal, quatro mil pessoas, foi responsável por 38% do
gasto total da operadora.105
Com esse modelo, o plano de saúde está aniquilando qualquer possibilidade
de saúde financeira da estatal. De acordo com a própria empresa, nos moldes
que opera hoje, o sistema é inviável e não cabe em seu orçamento. Segundo o
presidente da estatal, entre 2015 e 2016, da perda total de R$ 4,1 bilhões dos
Correios, R$ 3,4 bilhões, quase 83%, entraram na conta dos desembolsos para
cobrir gastos com os planos de saúde (vale lembrar que entre 2013 e 2017
foram todos anos no vermelho106).
E nada disso é culpa exclusiva dos Correios. A ingerência é sistêmica. Em
cinco anos, entre 2012 e 2016, as estatais federais brasileiras geraram mais

outubro2018
Clube SPA

custos do que retorno financeiro para a União. A média geral é vermelha.


Segundo o Tesouro Nacional, os gastos foram de R$ 122,31 bilhões e o retorno
foi de R$ 89,35 bilhões no período.107 Analisando ano a ano, somente em 2014
as empresas geraram um retorno maior do que os seus custos.
Parte desse resultado se dá pela completa falta de gestão nas estatais,
entregues aos conchavos políticos. Como são loteadas a dirigentes ligados a
grupos partidários, invariavelmente as decisões administrativas das estatais
são políticas, e não técnicas ou econômicas. E isso, claro, tem reflexo na
eficiência. O custo final é prejuízo no bolso dos pagadores de impostos.108
E exemplos de ineficiência não faltam. Em 2014, por exemplo, a Petrobras
contava com 1.146 pessoas em seu time de comunicação109 – um exército de
relações-públicas, publicitários e jornalistas, responsáveis pelo relacionamento
direto da empresa com os funcionários e a imprensa. E um detalhe importante:
esses números referem-se apenas à holding (ou seja, sem considerar os
profissionais contratados diretamente por subsidiárias como a Transpetro e a
BR Distribuidora).
No Brasil, não há nada parecido. Na Vale, 45 pessoas cuidavam da
comunicação em 2015. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Comunicação
Empresarial, de 2012, revelou que 179 grandes companhias brasileiras
(excluindo a Petrobras) tinham, juntas, 1.500 pessoas na área. Ou seja: a
Petrobras, sozinha, empregava em 2014 o equivalente a 76% da equipe de
todas essas empresas.
Nada parecido também ocorre fora do Brasil. A Shell fatura o triplo da
Petrobras, mas o time responsável por sua imagem ao redor do mundo é
metade da equipe disponibilizada pela nossa estatal. Na Statoil a comparação é
ainda pior: a empresa norueguesa tem seis vezes menos funcionários que a
brasileira.
E em se tratando de minas e energia, a Petrobras tem uma companheira de
peso na ingerência. Em quinze anos, a ineficiência fez a Eletrobras desperdiçar
R$ 85 bilhões. O cálculo é da empresa de investimentos 3G Radar e compara os
índices da estatal com três empresas privadas do setor: Engie, AES Tietê e
Cteep. O resultado mostra que as três pagaram mais impostos ao governo e
dividendos aos acionistas no período – e ainda assim investiram R$ 65 bilhões
no setor (a Eletrobras investiu R$ 84 bilhões, mas perdeu algo em torno de R$
20 bilhões com a construção de alguns empreendimentos, como as hidrelétricas
de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, e Belo Monte, no Xingu).110
Mesmo com um rombo de R$ 4,2 bilhões em 2017, as distribuidoras da

outubro2018
Clube SPA

Eletrobras pagam salários médios quase três vezes maiores que os praticados
pela iniciativa privada: o salário médio dos funcionários é de R$ 11,7 mil. Nas
distribuidoras do Amazonas e de Roraima, o cenário é ainda pior. A Amazonas
Energia, a que dá mais prejuízo, paga o maior salário médio do país, de R$ 15,5
mil. A distribuidora de Roraima, a mais ineficiente do Brasil, de acordo com a
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), paga um salário médio de R$ 15
mil. O salário médio da Neoenergia, o maior grupo privado do setor elétrico
brasileiro em número de clientes, é de R$ 4,3 mil.111
O cenário é tão caótico que, em 2017, o próprio presidente da Eletrobras,
Wilson Ferreira Júnior, gravado por sindicalistas, chegou a dizer que a empresa
tinha 40% de chefes “vagabundos”:

São 40% da Eletrobras. 40% de cara que é inútil, não serve para nada,
ganhando uma gratificação, um telefone, uma vaga de garagem, uma
secretária. Vocês me perdoem. A sociedade não pode pagar por
vagabundo, em particular, no serviço público. Temos um monte de safado,
lamentavelmente, que ganha lá 30, 40 paus (mil reais). Tá lá em cima,
sentadinho.112

E a Eletrobras nem de longe é a única estatal com problemas de chefia. Não


faltam casos de distorção na organização das empresas públicas brasileiras. Os
Correios, recentemente, chegaram a ter um chefe para cada dois servidores. O
Instituto Nacional de Educação de Surdos, um órgão ligado ao Ministério da
Educação, tem um chefe para cada oito servidores.113
A encrenca nos Correios chegou a levar a estatal a ter, recentemente, nove
mil empregados em licença médica.114 A falta de gestão é tamanha na empresa
que, em 2011, a estatal gastou R$ 60 milhões com o pagamento de indenizações
a clientes por atrasos, extravios, avarias e roubos de correspondências. Em
2016, este valor triplicou para R$ 201,7 milhões.115
O próprio governo federal, aliás, não aprova a administração de suas
empresas. No final de 2017, ele mesmo deu média 4, em um ranking de 0 a 10,
para a gestão das empresas estatais. O indicador, uma espécie de selo de
qualidade, contemplava três critérios: gestão e controle, transparência e
informação, e funcionamento de órgãos de governança, como comitês e
conselhos.
Entre as 48 estatais analisadas, 8 estavam no nível 1; 4 no nível 2; 20 no
nível 3; e 16 no nível 4. Ou seja: na própria avaliação do governo, em matéria de
gestão, há o dobro de estatais com a nota zero em relação àquelas com a nota

outubro2018
Clube SPA

dez.116
Nenhuma surpresa para quem conhece minimamente como funciona a
organização das empresas na República dos Aspones.

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA


Quando o czar dá um ovo, toma uma galinha.
– Provérbio russo

Parasitus publicae

De uma perspectiva científica – e quem não fugiu das aulas de biologia deve
ainda se lembrar disso – o parasitismo é uma interação ecológica interespecífica
entre organismos; uma relação íntima em que um dos envolvidos, o parasita,
usa o outro, o hospedeiro, como habitat. É através dessa associação, onde uma
única espécie se beneficia, que o parasito obtém nutrientes e se reproduz,
gerando doenças parasitárias que podem não apenas alterar a saúde, como até
matar o hospedeiro a longo prazo.
Parasita é uma palavra que vem do grego παράσιτος, parásîtos, de pará, que
significa paralelamente, com sitos (o étimo grego para alimento), o que quer
dizer que parasita é um ser que come ao lado do hóspede e não oferece nada em
troca.
Na antiga civilização grega, em Ática, a palavra parasita designava uma
função muito nobre. Era esse o nome dos ministros subalternos dos altares e
dos representantes do povo, pensionistas do Estado, que nos templos e nos
centros cívicos tomavam parte nos banquetes oficiais, sentando-se à mesa
revestidos de caráter sacerdotal.1
Segundo os dicionários etimológicos, a apreciação moderna do termo teria
relação com os atores da comédia grega que faziam o papel de parasito. Foram
esses comediantes que colaboraram para dar um sentido depreciativo à
palavra, designando figuras que não trabalhavam e viviam à custa dos outros, os
famosos “papa-jantares”.2
No Brasil, o parasitismo não é apenas um acontecimento biológico, presente
na natureza, nas relações do gado com o carrapato ou das crianças com as
lombrigas. É também um fenômeno sociológico, exposto repetidas vezes em
nossa história.
Já em 1905, há mais de um século, o historiador, sociólogo e intelectual
sergipano Manoel Bomfim, em A América Latina: males de origem, debatia o
fenômeno:

Quando começou a colonização da América, já as nações peninsulares

outubro2018
Clube SPA

estavam viciadas no parasitismo, e o regime estabelecido é, desde o


começo, um regime preposto exclusivamente à exploração parasitária.
Desde o início da colonização, o Estado só tem um objetivo: garantir o
máximo de tributos e extorsões. Concedem-se as terras aos
representantes das classes dominantes, e estes, aqui – pois não vêm para
trabalhar – escravizam o índio para cavar a mina ou lavrar a terra.
Quando ele recalcitra ou se extingue, fazem vir negros africanos, e
estabelece-se a forma de parasitismo social mais completa, no dizer de
Vandervelde. Do ouro tira-se o quinto para a metrópole; tributa-se o
açúcar, monopoliza-se o comércio; e corre para a mãe-pátria um caudal de
riqueza. Todo o mundo vive dessa riqueza, ou diretamente – explorando
na colônia o trabalho escravo, ou indiretamente sobre o Estado; não se
compreendia viver de outra forma. Quem não tem ainda função ativa
entre os exploradores, não trata de outra coisa senão de colocar-se. Nas
metrópoles, as cortes se desenvolvem, crescem, proliferam, alastram, até
abranger todas as classes aristocráticas; multiplicam-se os cargos e
prebendas hereditárias; há uma pensão para cada nobre. Em torno de
cada senhor se forma uma corte secundária, porque todo o mundo se
desgosta das profissões modestas e laboriosas, e quem não pode montar
casa, só busca agregar-se a um grande solar qualquer, onde, sem
trabalhar, possa alcançar um meio de vida e uma situação. É como nos
tempos da decadência romana. Mommsen salienta bem essa proliferação
de parasitas: “Ociosos – ardélions – sempre pressurosos, prontos a todas
as tarefas, cavalheiros de indústria, famintos, à cata de um repasto,
mendigos em andrajos e em savatas, todo um mundo que acha cômodo e
digno viver a expensas de qualquer dos grandes personagens, subsistindo
pelo seu favor e esmolas.” Os campos são abandonados; os poucos
proprietários que ainda fazem trabalhar as suas terras mantêm os
domínios numa semisservidão; as populações rurais vivem numa
ignorância absoluta, agitadas pelas superstições mais grosseiras. Todo o
mundo corre para as cidades, e a cidade é o parasitismo, pois que não há
indústria, não há trabalho. Os conventos se enchem, a Igreja abrange todo
o resto da nação que não está agregado ao Estado. Este, porém, vasto
como é, não representa nenhum serviço de utilidade pública. Compreende
apenas: a força pública – para manter a máquina de exações; a justiça –
para condenar; a corte e os empregados do fisco. Todo o pensamento
político se resume em conservar as coisas como estão, em manter a presa.
Para isto, fecham-se as colônias completamente, absolutamente, ao resto

outubro2018
Clube SPA

do mundo; toda a sua produção tem de passar pela metrópole, que deve
tirar a sua parte.
Não há na sociedade da metrópole uma classe, um órgão, que não
participe dessa vida parasitária a que se entregou a nação. Ela apresenta o
todo perfeito de um organismo social preso a outro, sugando-o.3

Mais de um século após a publicação de A América Latina: males de origem, o


Brasil permanece na vanguarda no quesito cativeiro de parasitas.
E entre os inúmeros atores desse fenômeno, poucos possuem tamanha
capacidade de aglutinar privilégios como a classe política. Alheia às crises
econômicas e às tragédias que afetam cotidianamente a vida dos brasileiros,
nossa casta de burocratas parece viver num país completamente distinto – num
canto do mundo onde o Estado é genuinamente eficiente, o salário é volumoso,
a saúde não falha e a segurança protege: o Reino dos Camarotes.

Deitado eternamente em berço esplêndido

Como quase tudo por aqui, o exemplo vem sempre de cima.


O presidente do Brasil ganha um salário mensal de R$ 30.934,70 (o mesmo
destinado ao vice-presidente, aos ministros de Estado e aos titulares de
secretarias com status de ministério). Além desse rendimento, ele também
possui acesso a uma série de outros benefícios, dentre os quais o de ocupar
palácios oficiais na capital do país.
O primeiro deles é o da Alvorada, a residência oficial, que possui um terreno
com uma área total de quatrocentos mil metros quadrados (o equivalente a 56
campos de futebol) e 7.300 metros quadrados de área construída, distribuídos
ao longo de três andares.
O subsolo abriga um cinema, uma sala de jogos, uma cozinha, uma
lavanderia, um centro médico e a administração do edifício. O térreo possui um
hall de entrada, uma biblioteca (com 3.406 obras4), um mezanino e seis salas
(nobre, de jantar, de música, de espera, de estudos e de banquetes). O superior,
por sua vez, é a área privada, onde estão oito quartos, com quatro suítes.5
Michel Temer (2016-2018) morou apenas por uma semana no local, antes de
voltar para outro palácio, o do Jaburu, a residência oficial do vice-presidente da
República. Mesmo com sua ausência, no entanto, o Alvorada continuou gerando
despesas volumosas aos pagadores de impostos brasileiros: o valor pago para

outubro2018
Clube SPA

mantê-lo de setembro de 2016 a novembro de 2017, mesmo vazio, foi de quase


R$ 6 milhões6 – valor referente às contas de luz, água, jardinagem e gastos com
a manutenção da estrutura do palácio em geral (como o conserto de
infiltrações) e o cuidado dos animais (há no Alvorada 36 galinhas, 20 emas, 11
patos, 8 gansos, 3 araras e cerca de 500 peixes).
Apenas com energia elétrica, o custo do Palácio foi de R$ 1 milhão no
período (ou 1.740.647 kWh), suficiente para abastecer 777 residências por
catorze meses. A conta de água também não deixou por menos: em média, os
brasileiros arcaram com uma fatura de R$ 81.629,28 por mês.
E não se engane, o Alvorada não é a única residência oficial inutilizada a
gerar gastos dessa natureza… Com 370 mil metros quadrados, lago e córrego
artificiais, piscina, quadra poliesportiva, churrasqueira, campo de futebol,
heliponto e uma área de mata nativa, a Granja do Torto, sede campestre da
Presidência da República, também soma despesas desnecessárias ao erário:
todos os anos, no mínimo R$ 840 mil são gastos para manter esse espaço
subaproveitado (parte disso para custear seus dezesseis funcionários, um deles
com salário de R$ 5.652,01). Em catorze meses, Michel Temer esteve na
residência em míseras duas ocasiões.7
Nem todos esses gastos desnecessários, claro, são desembolsados para
sustentar palácios desocupados. Um deles peca exatamente pelo contrário.
O Palácio do Planalto, o local de trabalho da Presidência da República, abriga
onze vezes mais funcionários do que a Casa Branca, a residência e local de
trabalho do presidente dos Estados Unidos, o responsável por administrar o
maior orçamento do planeta. São 3,8 mil funcionários do lado de cá, contra 377
do lado de lá (cabe lembrar que não estão incluídos na conta os servidores de
órgãos como a vice-presidência, secretarias, Abin, agências, AGU etc.).8
É uma fortuna imperial. E nós não nos contentamos apenas em bater os
americanos nessa categoria: a Presidência da República custa mais até que a
Coroa britânica.

outubro2018
Clube SPA

E o posto mais alto do poder no país não é, nem de longe, monopolista dos
privilégios no Reino dos Camarotes. Não falta opulência com o dinheiro dos
outros no Congresso Nacional.
O salário mensal de um deputado federal no Brasil é de R$ 33.763,9 o
equivalente a 35 salários mínimos,10 valor suficiente para incluí-los no seleto
grupo de brasileiros que ganham mais do que 99% da população. Não há país
desenvolvido no mundo com tamanha diferença entre a renda de sua classe
política e a de sua população. Por aqui, eles ganham, em média, dezesseis vezes
mais do que nós.
E o salário é apenas parte de seus rendimentos.
Todo deputado federal brasileiro possui direito à chamada Cota para o
Exercício da Atividade Parlamentar (que você provavelmente conhece como
“cotão” ou “verba indenizatória”): uma garantia de custear gastos feitos com o
objetivo de melhorar as ações do Legislativo (e que na prática funciona como
uma brecha para gastar dinheiro público sem licitação ou compromisso com os
pagadores de impostos).
O que está incluso no cotão? Basicamente qualquer coisa: passagens aéreas;
contas de telefone; serviços postais; manutenção de escritórios de apoio à
atividade parlamentar (incluindo locação de móveis e equipamentos, material
de expediente e suprimentos de informática, acesso à internet, assinatura de TV
a cabo ou similar, locação ou aquisição de licença de uso de software, assinatura
de publicações como jornais e revistas); custos com alimentação; hospedagem;
despesas com locomoção (contemplando: locação ou fretamento de aeronaves,
veículos automotores e embarcações; serviços de táxi, pedágio e
estacionamento; passagens terrestres, marítimas ou fluviais); combustíveis e
lubrificantes; serviços de segurança prestados por empresa especializada;
contratação, para fins de apoio ao exercício do mandato parlamentar, de
consultorias e trabalhos técnicos; divulgação da atividade parlamentar;

outubro2018
Clube SPA

participação do parlamentar em cursos, palestras, seminários, simpósios,


congressos ou eventos congêneres; complementação do auxílio-moradia.

Os parlamentares têm até noventa dias, após o fornecimento do produto ou


da prestação do serviço que atende às categorias listadas acima, para
apresentar a documentação comprobatória do gasto e pedir reembolso. É a
partir desse ponto que a conta passa a ser sua.
O cotão da Câmara dos Deputados possui um limite: varia entre R$
30.788,66 e R$ 45.612,53 por mês.11 O saldo não utilizado em trinta dias fica
acumulado para os meses seguintes.
A conta final, claro, é alta. Os parlamentares gastaram R$ 235 milhões da
verba indenizatória em 2016, o equivalente a mais de 250 mil salários mínimos.

outubro2018
Clube SPA

MDB e PT, os partidos com maior representação no Congresso, são os que mais
gastaram no período. Juntas, as legendas foram responsáveis por quase 23% do
total dos gastos com o cotão.12 Em 2017, os deputados federais gastaram R$
208,5 milhões em cotas parlamentares (uma média de R$ 406,5 mil por
deputado federal, ou R$ 33,8 mil por mês apenas de benefícios no salário, valor
superior ao teto constitucional do funcionalismo público).13 Os senadores, por
sua vez, gastaram R$ 26,6 milhões com o cotão em 2017 (uma média de R$
328,8 mil por senador, ou R$ 27,4 mil por mês).14
O banquete de privilégios é generalizado.
Só com bilhetes aéreos, entre os meses de março de 2016 e 2017, a Câmara
dos Deputados gastou R$ 47.563.307,55. O campeão do uso para este fim
atende pelo nome de Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SD/SP). No
final de doze meses, R$ 264.849,43 foram gastos pelo gabinete do parlamentar
apenas com passagens aéreas, o equivalente a 438 bilhetes (uma média de 8,4
passagens adquiridas por semana).15
No mesmo período, 392 deputados federais pediram o ressarcimento de R$
1.483.237,31 em refeições. Considerando o valor total, o campeão nesse quesito
foi o deputado federal Zeca Dirceu (PT/PR): R$ 25.506,94. Na média, no
entanto, a coroação pertence a outra figura: Roberto Freire (PPS/SP), que no
período analisado em que esteve no Congresso, entre março e novembro de
2016, antes de assumir o Ministério da Cultura, pediu o reembolso de R$
24.143,47 de auxílio-alimentação. Na média, é o líder da categoria com R$ 3.017
mensais gastos com refeições.16
E aqui um ponto importante: não há limite para as compras envolvendo
alimentação, desde que elas não ultrapassem o valor final do cotão a que cada
parlamentar tem direito. Em 2017, o deputado federal Marcos Soares (DEM/RJ)
fez onze refeições com valores acima de R$ 200.17 No mês de maio, por
exemplo, uma conta sua na Parrilla Rio Bar e Restaurante Ltda., no Rio de
Janeiro – a razão social do restaurante Corrientes 348, do Shopping Rio Design
Barra –, alcançou R$ 333. Marcos consumiu um chorizo argentin de entrada e
um ojo del bife como prato principal, mais salada, farofa, papas fritas e uma
panqueca de dulce de leche de sobremesa. O Corrientes 348 é o terceiro
restaurante mais bem avaliado do Rio de Janeiro na categoria Steakhouse.18
Em setembro de 2017, em São Paulo, o próprio Roberto Freire foi
reembolsado em R$ 234 pela Câmara por um almoço na Churrascaria Rodeio,
na rua Haddock Lobo, um dos pontos mais nobres da capital paulista. No mês de
novembro, num domingo, ele retornou ao local e consumiu uma picanha para

outubro2018
Clube SPA

uma pessoa, mais complementos. A conta, paga às 14h49, alcançou o valor de


R$ 338. O reembolso pedido aos pagadores de impostos foi um pouco menor: de
R$ 199. Desde fevereiro de 2011, o ex-secretário-geral do Partido Comunista
Brasileiro esteve na churrascaria em setenta ocasiões, consumindo R$ 11,8 mil
em carnes de picanha e complementos.
Legalmente, aliás, o cotão só deveria ser usado com gastos diretamente
relacionados à atividade parlamentar. Na prática, porém, acaba bancando um
sem-fim de mordomias: em 2017, a Câmara dos Deputados gastou R$ 2,6
milhões com o reembolso de 19,4 mil notas emitidas em fins de semana por 471
deputados federais.19
Desse montante, nossos parlamentares reembolsaram R$ 123.198,72 apenas
com alimentação – valor suficiente para servir 55.495 refeições a alunos da rede
pública de ensino.20

Na lista dos maiores gastadores, o Partido dos Trabalhadores aparece em


primeiro lugar, tanto em números absolutos quanto proporcionais: seus
deputados gastaram R$ 464,4 mil com reembolsos nos fins de semana em 2017.
A média é de R$ 8,2 mil por parlamentar. Entre os sete primeiros colocados da
lista, cinco são do PT.

outubro2018
Clube SPA

O ranking é liderado pelo deputado federal Marcon (PT/RS), que só em 2017


foi reembolsado em R$ 22,3 mil graças a 166 gastos “para exercício da atividade
parlamentar” nos fins de semana. Foram R$ 14,5 mil somente com paradas para
reabastecimento de veículos, entre elas uma que detalha a compra de 160,67
litros de óleo diesel em Ronda Alta, no Rio Grande do Sul. A quantidade de
combustível é suficiente para viajar a Porto Alegre três vezes usando a picape
Ford F-250 que Marcon declarou ao TSE em sua relação de bens nas eleições de
2014 (cabe lembrar que o tamanho do tanque de combustível do modelo é de
110 litros).

outubro2018
Clube SPA

E as mordomias injustificadas com o cotão não se prendem aos fins de


semana. Em janeiro de 2017, mês de recesso, sem uma mísera sessão na
Câmara, os deputados federais gastaram R$ 10 milhões em recursos da verba
indenizatória. Desse montante, R$ 1,3 milhão foi utilizado para custear
passagens de avião e R$ 1,1 milhão para adquirir combustível.21 Mesmo sem
qualquer atividade em Brasília.
Em 2016, aliás, os 513 deputados federais brasileiros declararam R$ 18,4

outubro2018
Clube SPA

milhões de gastos do cotão com combustíveis.22 A estimativa é descomunal:


revertidos em gasolina, seriam mais de 4,6 milhões de litros pagos com dinheiro
dos pagadores de impostos – o que significa dizer que, em um ano, cada
deputado federal poderia rodar 104.902 quilômetros com um Toyota Corolla (o
equivalente a dar duas voltas e meia no planeta). Por mês, essa conta é de 8.515
quilômetros percorridos (mais de mil quilômetros a mais que a extensão do
litoral brasileiro).
No mesmo período, o gasto com locação e fretamento de veículos
automotores atingiu R$ 26,1 milhões, o suficiente para adquirir um Peugeot 208
para cada deputado federal brasileiro.23 O valor também permitiria ao poder
público a compra de 504 viaturas policiais e 313 ambulâncias.24
O deputado federal Zeca Dirceu (PT/PR), que votou a favor do projeto de lei
5.587/16, contra aplicativos como o Uber,25 gastou R$ 261.983,76 em 2016,
somente com transporte. Desse total, foram R$ 90 mil cravados gastos apenas
com o aluguel de veículos (o suficiente para adquirir um Jeep Renegade26); R$
40.212,02 em combustível (apto para dar três voltas ao redor do planeta); e R$
20.433,19 com táxi, pedágio e estacionamento (além de R$ 111.338,55 em
passagens aéreas). Zeca Dirceu alugou todos os meses, por R$ 7.500, uma Ford
Ranger Limited, 3.2 CD 4x4, automática, ano 2015/2016. Para abastecer esse
veículo, ele gastou R$ 3.350 mensais. Além disso, gastou outros R$ 1.700 por
mês com táxi, pedágio e estacionamento.27
Um em cada cinco deputados federais eleitos em 2014 recebeu doações de
empresas que realizaram pagamento pedindo reembolso por meio da cota de
atividade parlamentar. Ao todo, 103 deputados gastaram R$ 7.455.038,64 com
a contratação de 129 fornecedores que doaram R$ 3.314.098,19.28
É o caso, por exemplo, de Weliton Prado, eleito pelo PMB mineiro, mas desde
2017 no Pros. De 2013 a 2017, o mineiro gastou R$ 652.786,40 em 111
pagamentos à Sempre Editora Ltda., que publica cinco jornais em Minas Gerais.
Em 2014, a Sempre doou à campanha de Prado R$ 416.211,60.29
Inúmeras situações envolvendo os reembolsos do cotão beiram o absurdo…
Em 2016, Diego Garcia (PHS/PR) foi ressarcido em R$ 497 mil, apresentando
à Câmara dos Deputados nada menos que 2.284 notas, uma média superior a
seis notas por dia. No mesmo ano, Afonso Motta (PDT/RS) não abriu mão de ser
ressarcido pela compra de dois pãezinhos de queijo no valor de R$ 1.30
Eros Biondini (Pros/MG) foi o campeão no quesito envio de
correspondências em 2016. O deputado mineiro postou nada menos que 149
mil cartas, além de 233 correspondências registradas. O gasto do seu gabinete

outubro2018
Clube SPA

com correspondências passou de R$ 115 mil em apenas doze meses.


No total, nossos 513 deputados gastaram quase R$ 4 milhões em serviços
postais no período.31 No Senado, a conta proporcional é ainda maior. Em 2017,
os 81 senadores despenderam R$ 3 milhões para enviar cartas, livros e
impressos com divulgação da sua atividade parlamentar.32
Em 2017, aliás, 41 deputados federais gastaram ao menos R$ 754 mil do
cotão na compra de reportagens em sites, blogs, jornais e revistas influentes nas
regiões em que foram eleitos. A verba é parte de reembolsos por serviços de
divulgação de atividades dos parlamentares. Foram 316 recibos emitidos por
61 empresas entre janeiro e novembro, trazendo explicitamente a referência à
publicação de matérias.33 No total, a verba da Câmara dos Deputados destinada
à divulgação da atividade parlamentar custou R$ 56,4 milhões em 2017 (mais
de 60 mil salários mínimos), ou um quarto de todo o cotão.34
Privilégios como esses não raramente atingem o nonsense. De acordo com as
regras do cotão, a grana destinada para reembolso parlamentar pode ser
acumulada de um mês para outro, mas não de um ano para o seguinte. A medida
cria bizarrices, como uma corrida despudorada ao pote de ouro do erário para
aproveitar o que “sobra” da verba indenizatória, torrando cada centavo de
dinheiro público disponível nos últimos dias do ano.
No dia 28 de dezembro de 2016, por exemplo, uma quarta-feira, o gabinete
do deputado Lúcio Vieira Lima (MDB/BA), irmão de Geddel Vieira Lima (preso
na Operação Cui Bono), comprou 75 passagens em nome do parlamentar ou no
de seu assessor André Luiz Avelar Sant’Anna. No total, as passagens
correspondem a 79.935 quilômetros percorridos, o equivalente a praticamente
dar duas voltas inteiras no planeta.
E Vieira Lima não foi o único maratonista na liquidação de dinheiro público
de fim de ano. Além do deputado baiano, outros cinco parlamentares realizaram
compras em lotes superiores a trinta passagens aéreas em pelo menos dois dias
de dezembro para que a verba do exercício de 2016 não fosse inutilizada: foram
adquiridas 64 passagens para Marcelo Castro (MDB/PI), 38 para Edmílson
Rodrigues (Psol/PA), 34 para Bonifácio Andrada (PSDB/MG), 34 para Carlos
Sampaio (PSDB/SP) e 33 para Jorge Tadeu Mudalen (DEM/SP).35
Antes da corrida, nos primeiros onze meses de 2017, o deputado Fernando
Giacobo (PR/PR) gastou incríveis R$ 96 mil com aluguel de jatinhos
particulares. A regalia, porém, não foi suficiente. Seu gabinete empregou outros
R$ 189 mil em passagens aéreas de voos comerciais. Ou seja, em menos de um
ano, Giacobo torrou R$ 285 mil do bolso dos pagadores de impostos para voar

outubro2018
Clube SPA

pelo Brasil.36
E o deputado paranaense não é sequer o primeiro da lista de congressistas
em reembolsos com jatinhos. Nos primeiros dez meses de 2017, o senador Ciro
Nogueira (PP/PI) consumiu quase R$ 190 mil para fretar aeronaves e adquirir
combustível de aviação. Em 2016, esse gasto foi de aproximadamente R$ 260
mil; no ano anterior, de cerca de R$ 200 mil. Nos últimos três anos, Nogueira
usou avião privativo até mesmo durante o período de recesso parlamentar: nos
dias 29 e 31 de dezembro de 2016, o piauiense pediu o reembolso de seis notas
fiscais referentes a despesas com combustível de aviação no valor de quase R$
10 mil. Em redes sociais foram postadas fotos em que o senador aparece no
réveillon de Trancoso, na Bahia, com mulher e amigos.37
Em 2016, as despesas do Senado com combustível de aviação, fretamento de
jatinhos particulares ou táxi aéreo chegaram a R$ 1,02 milhão. No mesmo
período, o consumo de passagens em voos comerciais ultrapassou os R$ 5
milhões. Farras com dinheiro público pelos ares do país não são exatamente
uma novidade…
O Ministério Público Federal pretende cobrar a devolução de mais de R$ 50
milhões pelo uso indevido da cota de passagens aéreas da Câmara entre 2007 e
2009. São mais de quinhentos políticos envolvidos, na época deputados federais
– oito ministros do governo Michel Temer, três governadores (do Distrito
Federal, do Maranhão e do Sergipe), ministros do Tribunal de Contas da União e
prefeitos de diferentes cidades.38
A intenção é processar todas as 558 pessoas que gastaram 76 mil bilhetes
aéreos irregularmente, na avaliação dos procuradores. Desses, 1.606 eram para
o exterior. Já foram denunciados 72 deputados39 – eles gastaram ao todo,
inadequadamente, R$ 8,36 milhões com a emissão de bilhetes aéreos entre
2007 e 2009.
O próprio Michel Temer admitiu ter utilizado verba pública com terceiros,
não envolvidos na atividade parlamentar. O caso aconteceu em janeiro de 2008,
período de recesso, quando, então presidente da Câmara dos Deputados, Temer
pediu reembolso em passagens da Varig compradas para fazer turismo com
mulher, amigos e familiares em Porto Seguro, no litoral da Bahia.40
Mesmo o palhaço Tiririca (PR/SP) já pediu reembolso por uma viagem
particular a Ipatinga, Minas Gerais, em agosto de 2017. O deputado federal mais
votado em seu ano de estreia na política estava em cartaz na cidade.41
A falta de controle com o dinheiro dos pagadores de impostos é tamanha
que, só pelo excesso de bagagem em viagens feitas por autoridades e

outubro2018
Clube SPA

funcionários da administração pública federal, o governo desembolsou quase


R$ 700 mil em 2016.42
E essa festa é internacional.
De janeiro de 2015 a janeiro de 2018, a Mesa Diretora da Câmara dos
Deputados autorizou 1,4 mil viagens de deputados em missões oficiais no Brasil
e no exterior a um custo de R$ 7,6 milhões. Os dois bilhetes mais caros pagos
durante o período foram de uma viagem dos deputados baianos Claudio Cajado
(DEM) e Antonio Imbassahy (PSDB) para o Cazaquistão e a Geórgia, em
dezembro de 2015. Elas custaram, respectivamente, R$ 45,5 mil e R$ 45,3 mil e
duraram apenas quatro dias.43

7 exemplos de como nossos parlamentares torram seu dinheiro


com o cotão

1. Entre fevereiro de 2014 e janeiro de 2015, cinco deputados federais –


Francisco Floriano (PR/RJ), Sérgio Brito (PSD/BA), João Carlos Bacelar
(PR/BA), Marcos Medrado (SD/BA) e Maurício Trindade (Pros/BA) –
chegaram ao cúmulo de pedir reembolso pelo aluguel dos mesmos veículos,
ao mesmo tempo, numa mesma locadora inativa desde 2005.44
2. Entre fevereiro de 2015 e junho de 2016, o deputado federal Beto
Rosado (PP/RN) utilizou R$ 58.885,36 da verba do cotão para abastecer
veículos de seu escritório político no posto de combustível do seu tio, Carlos
Jerônimo Dix-Sept Rosado Maia, localizado em Mossoró, no Rio Grande do
Norte, seu reduto eleitoral.45
3. Entre outubro de 2009 e junho de 2015, foi a vez do deputado federal
Wellington Roberto (PR/PB) abastecer veículos particulares utilizando a
verba do cotão no Posto de Combustível Shopping Ltda-ME, empresa que tem
como sócios seu irmão e sua cunhada. Ao todo, Wellington gastou R$
189.196,80 do erário em família.46
4. No último mandato, até dezembro de 2017, metade da bancada dos
deputados federais de Roraima abasteceu no posto de gasolina Abel Galinha,
do colega de bancada na Câmara, Abel Mesquita Jr. (DEM/RR). Os quatro
gastaram R$ 70 mil da cota parlamentar na empresa do conterrâneo, em
valores corrigidos pela inflação – Shéridan Oliveira (PSDB) respondeu por R$
50 mil do total; Hiran Gonçalves (PP) gastou outros R$ 13 mil; Edio Lopes
(PR), R$ 4.000; e Maria Helena (PSB), R$ 1.500. E seus companheiros de
estado não foram os únicos a gastar dinheiro público para tornar Abel

outubro2018
Clube SPA

Mesquita Jr. ainda mais rico. Desde 2015, quando foi empossado deputado,
até dezembro de 2017, o montante repassado por órgãos do governo federal
ao posto do deputado soma R$ 7,6 milhões.47 Mesquita, claro, diz não ter
nada a ver com essa história. Quando era vereador, no entanto, gastou R$ 80
mil da Câmara na própria rede. “E eu ia comprar de quem?”, reagiu na
época.48
5. Entre 2013 e 2015, o deputado Hugo Leal (Pros/RJ) pediu reembolso
pelo cotão para quitar despesas que seriam do seu escritório. Mas no local –
avenida Beira-Mar, 406, sala 901, centro do Rio de Janeiro – também funciona
a sede do diretório estadual do seu partido. Hugo aluga a sala 902, que
incorporou ao escritório, pela qual pede ressarcimento. O total do reembolso
no período foi de R$ 73.417,52 referentes à locação das salas 901 e 902 (R$
53 mil), condomínio (R$ 8,5 mil), central telefônica com dezesseis ramais (R$
7,6 mil), energia elétrica (R$ 3 mil), IPTU (R$ 381) e TV por assinatura (R$
821).
6. O mesmo aconteceu com o deputado Wilson Filho (PTB/PB), que usou
parte do cotão para quitar despesas de aluguel de escritório do seu partido. A
sede oficial da legenda, em João Pessoa, fica na avenida Presidente Epitácio
Pessoa, 3.869, no bairro de Miramar. Entre janeiro e julho de 2015, era lá
também que funcionava o escritório político do deputado. Além do aluguel, os
pagadores de impostos também bancaram os custos com energia, água e
coleta de lixo. A conta chegou a R$ 52.962,09.49
7. A má utilização do cotão é tão evidente que, em plena eleição municipal,
em 2016, os deputados federais Giacobo (do PR/PR, o mesmo do gasto
exorbitante com os jatinhos citado anteriormente neste capítulo), Átila Lins
(PSD/AM), Júlio César (PSD/PI), Jutahy Júnior (PSDB/PA), Nilson Pinto
(PSDB/PA) e Ságuas Moraes (PT/MT) utilizaram o cotão para alugar
aeronaves e se deslocar por inúmeros municípios de seus estados para
turbinar a campanha de candidatos aliados. O cotão também foi utilizado
para bancar hospedagens em hotéis durante os compromissos de campanha.
A conta final chegou a R$ 288 mil.50

E o cotão, nem de longe, é o único ralo de privilégios legais aos


parlamentares. A Câmara dos Deputados gasta por ano cerca de R$ 100 milhões
só com serviço médico.
Não há definitivamente qualquer modéstia em sua estrutura. O
Departamento Médico da Câmara possui 82 médicos de dezessete

outubro2018
Clube SPA

especialidades, além de ambulância (novinha, comprada por mais de R$ 134


mil, e que realiza uma média de apenas duas viagens por dia de semana) e um
tomógrafo, que custou aos cofres públicos a bagatela de R$ 2,5 milhões (uma
raridade no SUS: em 2017, havia apenas dois na rede pública do Amapá e um
funcionando em Sergipe, estados que somam mais de três milhões de
habitantes51).
Segundo a Câmara, a ambulância atende atuais e ex-deputados, servidores,
incluindo aposentados, e os dependentes deles. No departamento, os
atendimentos mais comuns são pressão alta, dor de cabeça, infecções de vias
aéreas superiores, como nariz e laringe, diarreia e inflamação do sistema
gastrointestinal.
Em 2015, o gasto da Câmara com serviços médicos, odontológicos, aparelhos
e exames passou dos R$ 92,5 milhões. E é importante frisar que cada
parlamentar brasileiro também possui direito a um plano de saúde, que
ultrapassa R$ 36 milhões por mês. A Câmara investe R$ 17,9 milhões mensais
para deputados, ex-deputados e familiares, além de servidores ativos, inativos e
dependentes. No Senado, são R$ 18 milhões por mês apenas para concursados,
comissionados, aposentados e familiares – ou seja, nessa conta não entram
senadores, ex-senadores e seus dependentes, que têm um plano à parte.52
Em 2017, o plano exclusivo do Senado gastou R$ 1,9 milhão com a
assistência a 154 ex-senadores e seus cônjuges, e outros R$ 8,3 milhões com o
atendimento a 86 senadores, incluindo suplentes no exercício do mandato e
seus dependentes – uma média de R$ 97 mil por senador ao ano, ou R$ 8 mil
por mês (a contribuição deles é modestíssima: chega ao máximo de R$ 280,00
para senadores, ex-senadores e cônjuges, R$ 154,00 para filhos e R$ 410,00
para mãe e pai). O plano é vitalício e prevê, entre outras coisas, remoções
aéreas, tratamento no exterior e atendimento com profissionais e hospitais de
livre escolha. O Senado Federal ainda dispõe de dois postos destinados ao
pronto atendimento de emergências.53
É um verdadeiro escárnio. Se a Câmara dos Deputados fosse um município,
ela gastaria mais com saúde que a imensa maioria das prefeituras do país. Das
4.792 que informaram ao Tesouro Nacional o que foi direcionado para a saúde
em 2015, só 180 gastaram mais. Ou seja: menos de 4% dos municípios
brasileiros gastam mais com saúde do que a Câmara.54
Na prática, o Estado brasileiro não é apenas inepto ao oferecer um serviço de
saúde pública minimamente satisfatório para a população: também é
perfeitamente capaz de cobrar uma fortuna dessa mesma população para

outubro2018
Clube SPA

bancar saúde de Primeiro Mundo para sua classe de dirigentes.


E ainda há as aposentadorias… Deputados e senadores se aposentam
atualmente com sessenta anos de idade e 35 de exercício de mandato. Atingindo
esses limites, eles possuem direito a aposentadoria integral. A bagatela é de R$
33,7 mil por mês, sem fator previdenciário (se a contribuição ao PSSC, o Plano
de Seguridade Social dos Congressistas, for de apenas um ano, a aposentadoria
será de 1/35 do subsídio parlamentar).
E cabe destacar que um parlamentar não precisa cumprir exatos 35 anos de
exercício de mandato no Congresso: para completar o tempo de serviço
necessário, ele pode calcular a aposentadoria incluindo mandatos que exerceu
como vereador, prefeito ou deputado estadual (também pode contar o tempo
no serviço público e o de contribuição ao INSS na iniciativa privada).55
O parlamentar aposentado que volta a se eleger para o Congresso tem o
pagamento da aposentadoria suspenso até que conclua o mandato. Nesse
intervalo, se optar por voltar a contribuir para o PSSC, terá o valor do benefício
atualizado. É a chamada reaposentadoria. Na composição 2015-2018, 31
deputados e senadores aposentados voltaram a exercer o mandato. Após um
período de míseros quatro anos, terão um acréscimo de R$ 3,8 mil no
benefício.56
Hoje, a aposentadoria parlamentar é 7,5 vezes maior que a do INSS.
Enquanto o valor pago a ex-deputados, ex-senadores e dependentes equivale,
na média, a R$ 14.100 por cada aposentado, o benefício médio do cidadão
comum é de R$ 1.862.57
A conta, claro, não fecha. Com cinco mil servidores de carreira na ativa e 10
mil aposentados e pensionistas, a proporção entre contribuintes e beneficiários
na Câmara e no Senado é de dois aposentados para cada servidor na ativa – o
oposto do INSS, de dois na ativa para cada aposentado. Anualmente, o
Congresso arrecada R$ 718 milhões de seus contribuintes e paga R$ 3,1 bilhões
em benefícios. O resultado inescapável é um déficit anual de R$ 2,4 bilhões nas
contas da previdência dos servidores. Um rombo de 77% coberto pela União –
leia-se, por todos os pagadores de impostos, incluindo eu e você.58
A matemática é implacável. Com tantos cotões, direitos e privilégios
garantidos em lei, o nosso Congresso custa uma fortuna.

outubro2018
Clube SPA

Na prática, o pagador de impostos brasileiro é o patrão mais generoso do


mundo.

Tudo no mundo é sobre sexo, menos o sexo: sexo é


sobre poder59

Sexo e poder sempre foram duas forças da atividade humana entrelaçadas


na história do Brasil.
Durante a construção de Brasília, absolutamente lotada de operários dia e
noite preocupados em fabricar do zero a capital do país, era relativamente
difícil encontrar alguma mulher pelas redondezas, especialmente dispostas a
uma noite de diversão. As primeiras três espécimes raras a se relacionar com os
trabalhadores foram trazidas para Luziânia, um município goiano a sessenta
quilômetros da Praça dos Três Poderes, por engenheiros das primeiras
construtoras instaladas no Distrito Federal. Não demorou muito tempo, poucos
meses depois do início das obras, em meados de 1957, para que o primeiro
médico de Brasília, o doutor Edson Porto, observasse um aumento repentino
dos casos de blenorragia, popularmente conhecida como gonorreia. Quando o
Departamento Nacional de Endemias Rurais chegou a Luziânia, identificou 36
mulheres que se prostituíam. Quanto maior era o número de operários
aterrissando na futura capital do país, maior também era a oferta disponível por
sexo pago.
Os prostíbulos logo proliferaram, para atender os mais de trinta mil
operários da cidade – no começo, concentrados no entorno do Distrito Federal,
depois na chamada Cidade Livre, hoje Núcleo Bandeirante. Com apenas dois

outubro2018
Clube SPA

logradouros, o local concentrava no final de um deles a rua Principal, os


estabelecimentos mais frequentados dos primeiros anos da capital federal:
oitocentos metros quadrados de boates e casas de shows, constantemente
lotadas. Na esquina da rua, ficavam uma parada de ônibus e o Posto Cascão. Era
exatamente nesse ponto muito peculiar do país que as primeiras prostitutas de
Brasília encontravam dois tipos de cliente: os endinheirados, que as abordavam
enquanto abasteciam seus carros, e os mais pobres, que voltavam do trabalho
de ônibus.60 Essa era a esquina mais movimentada da região, mesmo em
comparação às cidades ao redor, já há muito tempo formadas.
A primeira boate de Brasília, instalada na Cidade Livre, foi a Olga’s Bar, que
pertencia a uma senhora austríaca. Todos frequentavam o local, de operários a
diretores da Novacap, a estatal criada em 1956 com o objetivo de construir a
nova capital federal. Até Niemeyer não esqueceu o estabelecimento em suas
memórias: “Frequentamos de preferência o Olga’s Bar, onde uma freguesia de
aparência exótica se divertia dançando animadamente, numa euforia que o
álcool estimulava, com as botas sujas de lama, no meio da algazarra dos que se
sentavam em volta da pista. Lá ocorriam as cenas mais estranhas e brigas
inesperadas.”61
Com a chegada dos prostíbulos, medicamentos contra a gonorreia, como o
Tetrex, passaram a ser figura constante na nova capital do país. Mas as doenças
sexualmente transmissíveis não eram os únicos impeditivos da diversão
candanga. Nos fins de semana, antes de os operários saírem para a farra,
interessado em prendê-los nos canteiros de obras do Aeroporto Comercial, o
engenheiro Atahualpa Schmitz apelava para uma tática um tanto quanto
inusual: ácido butírico, um estimulante de dor de barriga.
O episódio é compreensível. O comportamento dos operários da construção
da capital do país foi qualquer coisa, menos civilizado. Em um fim de tarde, no
acampamento da Construtora Rabello, duas mulheres chegaram ao local à
procura do marido de uma delas. Rapidamente, cerca de setecentos operários
trataram de correr atrás das visitantes, que, em desespero, saíram em disparada
para o ônibus que as havia levado até a cidade. A fuga, no entanto, não
prosperou. Um grupo de operários conseguiu entrar no veículo, onde as
mulheres foram estupradas. Depois do episódio, a construtora passou a proibir
a entrada de mulheres nos canteiros de obras.
Outro episódio de violência sexual aconteceu na inauguração do Hospital
Juscelino Kubitschek de Oliveira, enquanto a Novacap promovia um baile no
Clube dos Engenheiros. No fim da noite, o médico Edson Porto recebeu uma

outubro2018
Clube SPA

notícia de emergência: uma mulher havia sido estuprada no Núcleo


Bandeirante. Mas não uma mulher qualquer – uma garota de apenas quatro
anos, filha de candangos que trabalhavam no comércio da região. Um cirurgião
de Goiânia foi chamado às pressas para reconstituir o hímen da criança. Em
pouco tempo, a Guarda Especial de Brasília conseguiu prender o operário. O
homem acabou condenado pela Justiça de Goiás.62
O sexo nunca deixou de ser figura presente no Reino dos Camarotes, ainda
que pareça haver um acordo de cavalheiros entre os jornalistas políticos em
tratar questões morais, como o adultério ou o consumo de prostituição, como
algo a ser mantido na esfera privada.63
A capital do país permanece sustentando um imenso negócio de prostituição,
com mulheres que cobram cifras altíssimas para satisfazer os apelos de alguns
dos homens mais poderosos do país. Há quem desembolse até R$ 20 mil por
mês para isso.
Na Marcha dos Prefeitos, por exemplo, evento que acontece todos os anos
desde 1998 e que leva inúmeros chefes do Executivo Municipal a Brasília, atrás
de capital político e econômico junto com seus assessores e alguns vereadores,
ocorre uma alta no mercado de prostituição no Distrito Federal. Garotas de
programa chegam a se deslocar de outras cidades – como Goiânia, a 200
quilômetros de Brasília – para atender à demanda. Os prefeitos, longe de suas
cercanias, chegam a desembolsar até mil reais por um programa.
Os taxistas também aproveitam o evento, com a possibilidade de garantir um
dinheiro extra – eles recebem R$ 50 das boates para cada político que
conseguem levar para as casas de strip-tease. Um deles, em uma reportagem,
garantiu que numa única noite conseguiu levar seis prefeitos ao local.64
Segundo as prostitutas, seus clientes fixos, moradores dos prédios mais
nobres da capital federal, investem altos valores nos programas – elas cobram,
no mínimo, R$ 500 a hora. Além do dinheiro vivo, dizem elas, a nossa casta de
burocratas também banca viagens e presentes, como joias, óculos e sapatos.
Como relata uma: “Eles não têm problemas em pagar. Quando nos procuram,
sabem o nosso valor. E, assim como eles, gostamos de restaurantes e hotéis
bons. Eu me visto bem, sei me portar a uma mesa e satisfaço meu cliente. Eu
mereço cobrar um valor alto, não acha?”65
Parte substancial do pagamento dessa festa, claro, é pública, bancada pelos
pagadores de impostos.
Além de financiar a compra de lanchas, objetos de luxo, helicópteros e carros
importados, como revelou a Lava Jato, o dinheiro desviado da Petrobras na

outubro2018
Clube SPA

última década também foi usado para pagar serviços de prostituição de luxo. É
isso, ao menos, que relataram diferentes delatores às autoridades. De acordo
com a operação, só em 2012 o gasto para financiar a contratação de prostitutas,
algumas delas famosas por suas exposições na televisão, foi de R$ 150 mil.
Segundo os delatores, todos os valores associados aos termos “artigo 162”
(referência ao número do endereço de uma cafetina que agenciava os
programas para os políticos e dirigentes da Petrobras, conhecida como Jô) e
“Monik”, rabiscados nas planilhas, foram destinados ao financiamento de
garotas de programa. Algumas cobravam até R$ 20 mil por noite.
O dinheiro público desviado também foi usado para bancar festas com as
prostitutas. Só em uma delas, no terraço do hotel Unique, em São Paulo, um
estabelecimento de cinco estrelas que chega a cobrar mais de R$ 3 mil por
diária, foram gastos R$ 90 mil – especialmente com bebidas, de acordo com os
delatores.66
O Reino dos Camarotes é proibido para menores.

A festa da democracia

Como você deve imaginar, a farra não se concentra apenas em Brasília. A


democracia é uma festa do Caburaí ao Chuí.
Assim como deputados federais e senadores, vereadores e deputados
estaduais também possuem acesso ao cotão – para cobrir gastos com
escritórios, passagens aéreas, aluguel de veículos, combustível, entre outras
coisas. Como não existe qualquer regulação federal estipulando regras para o
uso dessas verbas – o artigo 29-A da Constituição estabelece limite apenas ao
total da despesa do Poder Legislativo Municipal – essas cotas acabam variando
radicalmente em cada município ou estado brasileiro.
O uso do cotão, não por acaso, volta e meia acaba virando assunto de polícia.
Em 2016, no município de Gurupi, no interior do Tocantins, entre fevereiro e
dezembro, os vereadores declararam um gasto com combustível de R$ 1,2
milhão. Cada vereador consumiu, em média, 4.257 litros de gasolina no período,
o suficiente para dirigir por mais de 42.570 quilômetros e dar catorze voltas ao
redor do planeta.
O caso passou a ser investigado pelo Ministério Público. O promotor Roberto
Freitas Garcia acusou: “Mesmo com números tão impressionantes, nenhum
deles se dignou a comprovar, perante a Câmara Municipal de Gurupi, através de

outubro2018
Clube SPA

documentos idôneos, que fizeram uso legítimo e regular dos automóveis.”67


Segundo o MPE, um posto de combustíveis forneceu notas fiscais fraudadas
aos vereadores, apontando abastecimento acima do consumo real. Além disso,
também registrou abastecimento de gasolina em veículos movidos a diesel.
País afora, o cenário é de total descontrole.
Como dito alguns parágrafos atrás, a cota parlamentar mensal da Câmara
dos Deputados varia entre R$ 30.788,66 e R$ 45.612,53. Essa diferença existe
por levar em consideração o preço das passagens aéreas do Distrito Federal
para o estado de origem do parlamentar. Por um motivo lógico, quanto mais
longe de Brasília for o seu domicílio eleitoral, maior o seu gasto para se deslocar
até o Congresso Nacional. Sendo assim, o menor limite disponível para uso do
cotão pertence justamente aos deputados federais do Distrito Federal, e o
maior, aos de Roraima.68
Quando pensamos, porém, na atividade dos deputados estaduais, que não
possuem base eleitoral fora de seus estados de atuação – e que, por isso, não
demandam voos de longa duração com alto custo ao erário – imaginamos
limites de verbas indenizatórias consideravelmente menores que as dos
deputados federais, certo? Ledo engano. Sobram exemplos de Assembleias
Legislativas com limites de cota ainda maiores.
A campeã é, com folga, Mato Grosso, cujo teto mensal aos deputados
estaduais é de inacreditáveis R$ 65 mil (ou seja, cada deputado estadual mato-
grossense custa por mês, apenas com cota parlamentar, quase 30 mil merendas
escolares na rede pública de ensino69). Outros onze estados dão verbas
indenizatórias superiores à de deputados federais. No geral, a média entre as
Assembleias fica em R$ 31,8 mil.70
Como cada Assembleia impõe suas próprias condições ao gasto da verba, não
faltam bizarrices. Na Assembleia do Rio Grande do Norte, por exemplo, cada
deputado pode justificar parte da cota que recebe com “apoio cultural a
entidades sociais”. Ou seja: o parlamentar pode, livremente, escolher doar para
diferentes entidades em seu nome, com dinheiro dos pagadores de impostos. Na
prática, tem acesso não apenas a desviar dinheiro da atividade parlamentar
para uso privado, como também a construir capital político usando o cotão
como instrumento eleitoreiro.
Em 2013, dos R$ 283 mil apresentados para ressarcimento pelo deputado
estadual Raimundo Fernandes (PSDB/RN), nada menos que R$ 128 mil em
recursos públicos foram destinados à Associação Cultural Esportiva Rodolfense
(Acerf). Somente em setembro daquele ano foram R$ 13 mil.71 Sem qualquer

outubro2018
Clube SPA

licitação.
Em Mato Grosso, além da cota mais alta do país, o pagamento deixou de ser
indenizatório. O deputado nem sequer precisa se dar ao trabalho de apresentar
as notas fiscais: os R$ 65 mil são depositados automaticamente em sua conta.
O mesmo ocorre na Assembleia Legislativa do Ceará, onde os deputados
estaduais recebem mensalmente montantes que variam dependendo de cargos
que tenham na mesa, em comissões ou em liderança de bancada.
Nas capitais, as Câmaras de Vereadores também possuem cotas de atividade
parlamentar – em média, R$ 14,6 mil, variando entre R$ 2,3 mil para os
vereadores de Florianópolis e R$ 25 mil para os de Cuiabá, a capital de Mato
Grosso, o estado com a classe política mais sedenta por cota parlamentar do
país.
Os vereadores das nossas capitais, aliás, desconsiderando todos os
benefícios, recebem um salário muito maior que a renda média do trabalhador
nessas cidades. Em 21 capitais, os vencimentos dos parlamentares para a
legislatura 2017-2020, representam ao menos cinco vezes a renda média da
população.72
Maceió, capital de Alagoas, é a líder no ranking: o rendimento dos seus
vereadores é superior a onze vezes a renda média da sua população.
Vitória, capital do Espírito Santo, é a última no quesito: seus vereadores
recebem “apenas” o dobro do rendimento médio de seus moradores.
Com o poder de definir o próprio salário na caneta, não é de espantar que
tantos vereadores tenham aumentado seus rendimentos na legislatura 2017-
2020 em comparação a 2013-2016. Esse cenário se repetiu em dezesseis
capitais estaduais.
E dinheiro no bolso é apenas parte dos privilégios: ainda há os assessores.
No Congresso Federal, cada deputado tem direito a contratar até 25
comissionados para auxiliá-lo, recebendo por isso um total de R$ 92.053,20 por
mês. Em quatro estados, essa verba é ainda maior nas Assembleias Legislativas:
Pernambuco (R$ 97.200 mensais por deputado estadual), São Paulo (R$
125.996,30, para contratar até 32 funcionários), Rio de Janeiro (R$ 171.491,
para contratar até vinte funcionários) e Distrito Federal (R$ 173.265, para
contratar até 23 funcionários). A média geral nas Assembleias Legislativas é um
pouco menor que a da Câmara dos Deputados: R$ 81,9 mil por deputado
estadual.

outubro2018
Clube SPA

Nas capitais brasileiras, os vereadores dispõem em média de R$ 37,1 mil


para a contratação de assessores. São Paulo é a grande campeã nesse quesito,
com uma verba de R$ 130,1 mil por vereador, 41% a mais que o disponível para
os setenta deputados federais eleitos no estado. O Rio de Janeiro é o segundo
colocado na lista, com R$ 89,9 mil por mês.73

outubro2018
Clube SPA

Toda essa estrutura, evidentemente, encarece muito o trabalho legislativo


em todo o país. As 26 Assembleias Estaduais e a Câmara Legislativa do Distrito
Federal aprovaram 4.661 leis em 2016. Na ponta do lápis, cada uma delas teve
um custo médio de até R$ 4 milhões para os pagadores de impostos,
comparando o orçamento total das Assembleias com o número de leis
aprovadas. E como você leu no primeiro capítulo deste livro, das homenagens
aos projetos de leis inconstitucionais, boa parte delas é inútil: apenas 35% da
produção dos nossos deputados estaduais têm impacto real no dia a dia.74 Ou
seja, o custo é ainda maior do que parece.

Quanto custa uma lei?

outubro2018
Clube SPA

Em 2015, um estudo da Transparência Brasil propôs dividir os estados e


capitais brasileiros em grupos de maiores e menores PIBs per capita e
confrontar esses dados com os dos gastos parlamentares – incluindo salários,
verbas para assessores e cotas diversas, para deputados estaduais e vereadores.
O resultado final é uma prova contundente da inversão lógica que existe na
organização do Estado brasileiro: os estados mais pobres gastam, em média,
20% a mais com a manutenção das suas estruturas de poder legislativo do que
os mais ricos; e as capitais mais pobres gastam 16% a mais.
O estado do Pará, por exemplo, com um terço do PIB per capita de São Paulo,
gasta 30% a mais por deputado estadual. Natal, com metade do PIB per capita
de Curitiba, empenha o dobro com seus vereadores em relação à capital
paranaense.
Em 2015, na maior parte dos estados brasileiros, o orçamento previsto para
a Assembleia Legislativa foi inferior a 1% do PIB estadual – oscilou entre 0,07%
(em São Paulo) e 0,89% (em Tocantins). Em quatro estados, porém, esse mesmo
orçamento superou 1%. E a campeã com louvores nesse quesito foi a
Assembleia Legislativa de Roraima, que utilizou o equivalente a 2,3% do PIB
estadual para cobrir seus gastos. Roraima, aliás, é a unidade da Federação onde
cada contribuinte tirou mais dinheiro do bolso para manter seu Legislativo:
cada cidadão desembolsou, em média, R$ 352 no ano apenas para sustentar o
trabalho de seus deputados estaduais. Amapá e Acre também estão no topo do
ranking, tanto em relação ao tamanho da economia como na contribuição por
habitante.

outubro2018
Clube SPA

Por fim, há o foro privilegiado. Ao todo, 54.990 autoridades têm direito a ele
no Brasil, previsto tanto na Constituição Federal quanto nas legislações
estaduais – além do presidente e do vice, todos os ministros de Estado,
governadores, prefeitos, senadores e deputados federais.
O foro – que diz respeito à posição ocupada e não necessariamente à pessoa
que ocupa o cargo – é a versão privilegiada de Justiça do Reino dos Camarotes.
Em teoria, ele existe para garantir o direito de que os ocupantes desses cargos
citados, e ainda outros, sejam julgados por determinados órgãos judiciais, como
um mecanismo de proteção para que essas figuras exerçam suas funções com
tranquilidade – ou seja, sem estar à mercê de abusos de ações que poderiam ser
movidas de forma desproporcional apenas para intimidá-las.
O conceito já existe desde a Constituição Imperial de 1824, mas, embora
presente em todo o mundo, em nenhum lugar abarca tantas autoridades como
no Brasil.

outubro2018
Clube SPA

Ao lado de Argentina, Paraguai e Uruguai, os políticos brasileiros têm o


maior grau de proteção contra prisão e processos no mundo.75

O país do Estado-ostentação

outubro2018
Clube SPA

E engana-se quem pensa que essa estrutura de privilégios condiciona-se


apenas ao trabalho dos parlamentares e seus assessores. Nas diferentes
instâncias de poder país afora, as regalias inundam todos os setores que
atendem à política brasileira.
A cada R$ 100 em despesas com salários, a União gasta R$ 77 com
gratificações e incentivos aos servidores dos três poderes da República e do
Ministério Público da União. Em 2017, esses gastos somaram R$ 42,3 bilhões.
Esses benefícios foram criados para aumentar a remuneração e ao mesmo
tempo estimular a eficiência dos servidores – e são pagos de acordo com
variáveis como desempenho do funcionário e da instituição em que trabalha. Na
prática, servem apenas como instrumento de privilégios. Como os próprios
órgãos são os únicos responsáveis pela escolha dos parâmetros a que se
sujeitam, não existe um mísero caso em que as metas institucionais não sejam
atingidas. Entre 95% e 100% dos servidores federais sempre ganham a maior
nota por seu desempenho.76
Durante o governo Lula (2003-2010), esses gastos cresceram 53% acima da
inflação. Em 2017, após seis anos de estabilidade, essas despesas com
penduricalhos voltaram a crescer acima da inflação, com um aumento de 6,5%
em relação a 2016.

outubro2018
Clube SPA

Em setembro de 2016, o Senado Federal pagou mais de R$ 20 mil líquidos


para 25% de seus funcionários. Quase 40% dos seus servidores, aliás, ganharam
mais que R$ 15 mil naquele mês.77 Por ano, o Senado desembolsa R$ 1,3 milhão
apenas com ascensoristas.78
Mesmo cidades pequenas ou de porte médio não escapam. Na Câmara
Municipal de Sorocaba, no interior de São Paulo, um porteiro chega a ganhar R$
11 mil.79 Em Ribeirão Preto, quase um terço dos servidores da Câmara ganha
mais que os vereadores – há entre os funcionários até uma radiotelefonista que
precisou de apenas um ano e um mês de atividade, com salário-base de R$ 1,5
mil, para adquirir um rendimento bruto seis vezes maior, de R$ 9 mil, por ter
desempenhado cargo em comissão anteriormente.80

outubro2018
Clube SPA

Até a cidade mais desenvolvida do país possui sua casta de privilegiados no


serviço público. Em 2017, a Câmara Municipal de São Paulo gastou mais de R$
10 milhões com salários acima do teto para seus funcionários (que é de R$
24.165,87, o salário do prefeito da cidade). Em setembro, exatos 137
funcionários da Câmara recebiam remunerações mensais acima desse valor.
Entre as profissões que mais aparecem na lista dos supersalários da Câmara,
os técnicos administrativos lideram, com 78 funcionários, seguidos por 16
procuradores legislativos, 11 contadores, 10 economistas, 7 revisores e 6
biblioteconomistas.81 Mesmo para aqueles que ganham abaixo do teto, no
entanto, o pagador de impostos paulistano é um patrão caridoso.
Na Câmara Municipal de São Paulo, um motorista ganha um salário de R$
11.612,46, valor um pouco abaixo do que ganha um garagista, que recebe R$
12.241,70, e acima do lavador de veículos, que fatura R$ 9.160,82. Um
telefonista recebe R$ 8.936,90, enquanto um encanador embolsa R$ 12.002,11.
O chaveiro ganha R$ 11.832,33, a auxiliar de copeira fica com R$ 12.313,91 e o
engraxate leva R$ 8.425,23. O taquígrafo recebe a bolada de R$ 18.052,77, valor
um pouco maior do que os R$ 16.302,93 da enfermeira, dos R$ 13.352,81 do
arquivista e dos R$ 11.415,10 do responsável pela impressora. Os pagadores de
impostos paulistanos ainda bancam R$ 9.294,89 para um ascensorista e R$
8.816,96 para um barbeiro cuidar da imagem dos funcionários do Palácio
Anchieta.82 Todos esses salários listados são líquidos, já com descontos.
A farra dos benefícios, previstos em lei, faz a Câmara gastar mais da metade
do orçamento anual de R$ 600 milhões apenas com o salário de 2.020
funcionários.
A situação é tão desproporcional que não é incomum encontrar pelos
corredores do poder legislativo da maior cidade da América do Sul servidores
com rendimentos até vinte vezes maiores que os praticados no mercado.
Em setembro de 2017, por exemplo, um garçom recebeu um salário de R$
12.465,60. A média salarial de um garçom em São Paulo é de R$ 1.200. Mesmo
um profissional que trabalhe em restaurantes como o D.O.M, de Alex Atala, um
nome de peso da gastronomia da cidade, não terá um rendimento maior que R$
4.500.
A matemática é tão irracional que 10% dos empregados do Palácio Anchieta
abocanham quase um quarto da folha de pagamento.
Servidor público há 32 anos, Benevenuto Theodoro Neto, um fiscal de
garagem, embolsa dez vezes mais na Câmara Municipal de São Paulo do que se
trabalhasse num posto idêntico na iniciativa privada. Até pouco tempo, ele

outubro2018
Clube SPA

trabalhava em dias intercalados, com turnos de doze horas de vigília por 36 de


descanso. O esquema, que vigorou em toda sua carreira no local, foi alterado em
agosto de 2016. O expediente agora é diário. Mas ele reclama: “Era melhor
antes, porque eu tinha mais tempo livre para fazer minhas caminhadas e
exercícios.”83 Em fevereiro de 2018, sua remuneração líquida foi de R$
12.232,56.
E os privilégios não se concentram apenas na atividade legislativa. Ainda há
o judiciário. O nosso está entre os mais caros do mundo.
Em termos do PIB, nós gastamos 1,3% de tudo o que produzimos apenas
com a Justiça. O número é quatro vezes o que gasta a Alemanha (0,32%), oito
vezes o que gasta o Chile (0,22%) e dez vezes o que gasta a Argentina (0,13%).
Some a esse montante o gasto com o Ministério Público e chegamos a incríveis
1,8% do PIB. Na prática, nós gastamos com a Justiça um valor muito próximo ao
que o governo federal despende em educação (R$ 95 bilhões) e saúde (R$ 97
bilhões).
O retorno é um dos Judiciários mais inoperantes do mundo, segundo o Banco
Mundial: o trigésimo mais lento entre 133 países.84
Em 2016, o Poder Judiciário custou aos pagadores de impostos a bagatela de
R$ 84,8 bilhões85 – três vezes mais que o desembolso com o Bolsa Família.86

O orçamento destinado ao Poder Judiciário brasileiro é muito provavelmente


o mais alto em relação ao PIB entre todos os países do Ocidente – per capita, ele
é equivalente a cerca de € 94,23, valor superior ao de todos os países da OCDE,
com exceção somente dos gastos dos tribunais suíços (€ 122,1) e alemães (€
103,5), e muito superior em valores absolutos ao de países mais ricos, como
Suécia (€ 66,7), Holanda (€ 58,6), Itália (€ 50), Portugal (€ 43,2), Inglaterra (€
42,2) e Espanha (€ 27).
A conta é alta. A julgar as folhas de pagamento entregues no final de 2017 ao

outubro2018
Clube SPA

Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por tribunais de todo o país, ao menos nas
cortes estaduais, receber remunerações superiores ao teto constitucional é a
regra: ignorando os benefícios a que todos os servidores dos três poderes têm
direito, como férias e décimo terceiro salário, um número assustador de 71,4%
dos magistrados dos Tribunais de Justiça (TJs) dos 26 estados e do Distrito
Federal somou rendimentos superiores a R$ 33.763 no período.
Nós estamos falando de um exército de servidores bancados com impostos
fazendo fortuna num país onde o acesso à Justiça é precário: 11,6 mil juízes e
desembargadores dos TJs ganhando acima do teto, dos 16 mil disponíveis. A
remuneração média desse grupo de magistrados foi de R$ 42,5 mil por mês no
final de 2017. Parte considerável disso graças a auxílios, gratificações e
pagamentos retroativos.87
A lista de regalias – também conhecidas como direitos adquiridos – é longa:
sessenta dias de férias, auxílio-moradia, auxílio-pré-escolar (destinado a
indenizar os custos escolares dos filhos dos magistrados), auxílio-saúde (para
cobrir os gastos com planos de saúde), auxílio-alimentação, ajuda de custo (que
pode incluir tanto as despesas de mudança de cidade do magistrado quanto
auxílios diversos como Bolsa Livro).88
Há também gratificação por cargos de direção, por integrarem comissão
especial, por serem juízes auxiliares, licenças especiais, gratificações
relacionadas ao magistério, Bolsa Pesquisa. Tudo dentro da lei.
No Brasil, o teto salarial da magistratura é mais de quinze vezes o
rendimento médio mensal da população, enquanto os juízes europeus ganham
cerca de quatro vezes mais que a média salarial nacional.89
E esse gasto todo, claro, não significa que temos necessariamente um bom
número de juízes atendendo à população. Pelo contrário: a média de juízes no
Brasil é baixa comparada à de inúmeros países. Nós bancamos 8,2 magistrados
para cada 100 mil habitantes, contra, por exemplo, 24,7 da Alemanha e 11,4 da
Argentina.

outubro2018
Clube SPA

Mesmo sem tantos juízes, em nenhum outro lugar do mundo há um número


tão alto de servidores empregados na área como no Brasil: a média é de 205
servidores para cada 100 mil habitantes, contra 150 na Argentina, 66,9 na
Alemanha e 42,1 no Chile.

O Poder Judiciário é tão imponente no país, concentrando tamanha


quantidade de renda, que nós nos transformamos numa máquina reprodutora
de funcionários para atender a todo esse sistema. O Brasil possui 1.240 cursos
superiores de direito. É mais do que a soma total de todas as demais faculdades
de direito no mundo.90
Pior: esse gasto todo não dá conta do recado. Com tanta gente e tantas
regalias – e ao mesmo tempo tantas leis ruins produzidas pelos legisladores,
com excesso de demandas e atribuições –, o Poder Judiciário simplesmente não
foi pensado para funcionar.
A considerar que tivemos nada menos que 95 milhões de processos em
tramitação em 2013 – praticamente um para cada dois habitantes do país –,
cada magistrado brasileiro tem o equivalente a 6.041 processos para atender
em um ano.
Como cada juiz produz, em média, 1.616 sentenças por ano – uma média
relativamente boa: o número de sentenças é de 959 para os juízes italianos, 689
para os espanhóis e 397 para os portugueses91 –, a matemática é inflexível com

outubro2018
Clube SPA

a organização do poder público brasileiro. Mais uma vez, a conta não fecha.

O eterno fim de semana que é a vida do político


brasileiro

Para os políticos brasileiros, os privilégios em moeda forte não são os únicos


benefícios dos cargos que ocupam. Poder ausentar-se do batente é, sem
nenhuma dúvida, um dos maiores atrativos para encorajar uma disputa
eleitoral.
Na Câmara dos Deputados, nem mesmo as votações mais importantes, como
a reforma trabalhista, são suficientes para incentivar os parlamentares a
comparecerem às sessões do Plenário. Em 2017, a Câmara realizou 119 sessões
deliberativas (aquelas em que a presença dos deputados é obrigatória). Do total
das ausências, 2,6 mil não foram justificadas até o dia 10 de janeiro de 2018. O
número de faltas equivale a mais de dois terços (67%) de todas as 12.501
presenças registradas no ano. Oito deputados faltaram a mais da metade das
sessões. Outros onze faltaram mais de 25 vezes sem apresentar qualquer
justificativa.92
A Constituição prevê que perderá o mandato o parlamentar que “deixar de
comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da
Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada”. Mas na
prática quase não há punição aos faltosos: até hoje, apenas dois deputados
foram cassados por excesso de faltas – e isso faz muito tempo: aconteceu com o
paulista Felipe Cheidde (MDB/SP) e o mineiro Mário Bouchardet (MDB/MG),
em 1989.
Pelas regras internas da Câmara, o deputado tem exatos trinta dias para
justificar suas ausências, “exceto no caso de licença médica, cuja documentação
comprobatória poderá ser apresentada a qualquer tempo”.93 Ou seja: na prática
não há prazo para a entrega de atestados médicos ou de dentistas. A medida,
além de livrar o parlamentar do risco de ter o mandato cassado, no caso de as
explicações serem dadas posteriormente, ainda permite a ele receber o
reembolso do valor do salário descontado.94
País afora, nossos políticos vivem em eterno feriado.
Há onze vereadores eleitos em Poço Branco, município potiguar com quinze
mil habitantes a sessenta quilômetros de Natal. Em 2017, eles trabalharam

outubro2018
Clube SPA

apenas 29 dias no ano. E não dá para dizer que esse foi um período atípico. Há
25 anos a regalia se mantém estável. Ao todo, são cinco meses de férias e sete de
trabalho: a cada dois meses trabalhados, os vereadores têm um mês de
descanso. E do período trabalhado, falta razão para cansaço. As sessões na
cidade ocorrem apenas uma vez por semana e duram em média duas horas.
Para desempenhar esse compromisso com a democracia, cada vereador de
Poço Branco ganha um salário de R$ 4.500 – o dobro do que recebe um
professor da rede municipal que trabalha trinta horas semanais, quinze vezes
mais.95 O rendimento é suficiente para colocá-los entre os 4% mais ricos do Rio
Grande do Norte.96
A 184 quilômetros, no município de Baía da Traição, litoral norte da Paraíba,
os nove vereadores em atividade trabalham apenas 24 dias por ano. E nada
disso, mais uma vez, é ilegal: a regalia está prevista no regimento interno da
Câmara, elaborado há quase três décadas. O horário de trabalho é o mais
vagaroso possível: prevê seis meses por ano de recesso nas atividades
parlamentares.
Em 2017, os vereadores de Baía da Traição trabalharam em fevereiro,
março, abril, setembro, outubro e novembro, e descansaram em janeiro, maio,
junho, julho, agosto e dezembro. No período de batente, quase nenhum esforço
é necessário: a média é de apenas uma sessão por semana, nas sextas-feiras. O
salário é de R$ 3.500, o equivalente a R$ 1.750 por dia de trabalho. O presidente
da Casa recebe o dobro do valor.97
Em Vista Serrana, outro pequeno município do interior da Paraíba, o cenário
se repete: seus nove vereadores trabalham em média apenas catorze dias por
ano; dessa vez, nas terças-feiras. Para desempenhar essa importante atividade
eles recebem R$ 2.700 por mês.98
No Centro-Oeste não é muito diferente. Grande parte dos vereadores com os
maiores salários em Goiás tem, em média, apenas cinco dias de trabalho no mês.
Das sete Câmaras cujos vereadores ganham mais de R$ 9 mil, apenas os de
Goiânia, a capital do estado, têm sessões ordinárias em mais de dois dias em
todas as semanas do mês. Nos outros municípios o trabalho pouco dá as caras:
ou não há sessão na última semana do mês, ou ela só acontece uma ou duas
vezes por semana.
Em Aparecida de Goiânia e Anápolis, por exemplo, as maiores cidades do
interior de Goiás, os vereadores estão em plenário nove vezes por mês. Eles
recebem salários de R$ 12 mil e R$ 9,2 mil, respectivamente, o suficiente para
incluí-los entre os 2% mais ricos do Brasil.

outubro2018
Clube SPA

Em Águas Lindas de Goiás, os vereadores se reúnem apenas na primeira


semana útil dos meses em que não estão de recesso – sim, eles tiram férias nos
meses de julho, dezembro e janeiro. Ganham R$ 10 mil por mês – o que é o
mesmo que dizer que, para o bolso dos pagadores de impostos, cada vereador
da cidade equivale a três professores da educação básica do estado.
Em Formosa, a 280 quilômetros da capital, a Câmara tem cinco sessões
mensais – e elas funcionam apenas nas duas primeiras semanas do mês.99
Mesmo em grandes capitais, nós ainda temos enormes problemas em
convocar nossos legisladores a comparecer ao trabalho. De 2013 a 2016, entre
um total de 408 sessões ordinárias previstas na Câmara de Vereadores do Rio
de Janeiro, 67 foram canceladas por falta de quórum – uma média de 16% de
sessões canceladas. Em 2016, ano eleitoral, o cenário foi ainda pior: em mais de
31% das sessões, nada foi votado por falta de políticos presentes. O quórum
mínimo para que uma sessão comece é de apenas sete vereadores.
Segundo dados da própria Câmara, cada vereador faltou, em média, a 22
sessões no decorrer do mandato.100 Nada parecido acontece no mundo
desenvolvido.
Em fevereiro de 2018, o secretário de Desenvolvimento Internacional do
Reino Unido, o conservador Michael Bates, renunciou ao cargo por chegar
atrasado ao trabalho no Parlamento britânico. O inconveniente o impediu de
responder a uma pergunta formulada pela deputada trabalhista Ruth Lister,
fato que o devastou – lorde Bates pediu suas “mais sinceras desculpas pela
descortesia”, disse que estava “absolutamente envergonhado” com o atraso e
acrescentou que nos cinco anos em que teve “o privilégio de responder às
perguntas em nome do Executivo”, sempre acreditou que os funcionários do
governo deveriam “alcançar os mais elevados níveis de cortesia possíveis”. A
renúncia não foi aceita pela primeira-ministra, Theresa May. Bates chegou
exatos dois minutos atrasado ao Parlamento.101

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA


Quando Cabral aqui chegou
e semeou sua semente,
naturalmente começou
a lapidação do ambiente.
Roubaram o ouro, roubaram o pau.
Pra ficar legal, ainda tiraram o couro
do povo dessa terra original,
e só deixaram a má semente.
Presente de grego
que logo se proliferou
e originou a nossa gente.
– Bezerra da Silva1

Breve história da fundação da rapinagem na terra de


Pindorama

O primeiro registro de corrupção que se tem notícia no Brasil está presente


logo na certidão de nascimento do país, na embarcação que trouxe Pedro
Álvares Cabral ao nosso litoral: na Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei
português d. Manuel I.
Responsável por relatar a descoberta do novo território de Portugal, naquele
que se tornou o documento mais conhecido do país em cinco séculos, Caminha
aproveitou-se de sua proximidade com o alto escalão real para pedir um favor
pessoal ao rei, misturando o público com o privado pela primeira vez em nossa
história, ainda na costa de nosso descobrimento: libertar Jorge de Osório, seu
genro, da prisão e do degredo na ilha de São Tomé, na costa ocidental da África.
Casado com sua única filha, Isabel, Osório havia roubado uma igreja e ferido um
padre.

E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra
qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim
muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande
vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro, o que Dela receberei
em muita mercê. Beijo as mãos de Vossa Alteza. Deste Porto Seguro, da
Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.

Na virada do século XV para o XVI, os delitos sujeitos a degredo eram os mais


variados possíveis. Roubos, assassinatos, má-fé em transações comerciais, não

outubro2018
Clube SPA

faltavam razões que pudessem levar alguém a uma estada forçada além-mar. E
elas eram extremamente comuns. Nos lugares mais ricos do Brasil – como
Pernambuco e Bahia –, os degredados chegavam a compor de 10 a 20% da
população portuguesa. Nas regiões periféricas, em contrapartida, como o
Maranhão, esses números alcançavam os 80 e até 90%.2
Parte significativa dos nossos primeiros habitantes era de criminosos. Mais
do que isso: literalmente encaravam o Brasil como uma prisão.
É o caso do primeiro português a pisar em solo brasileiro, Afonso Ribeiro.
Condenado por “culpas de morte” – ou seja, acusado de ter cometido um
assassinato –, Ribeiro era, como relatou Caminha, “um mancebo degredado,
criado de d. João Telo”, e estava para casar com uma certa Elena Gonçalves, que,
desiludida com o seu destino, fez votos de religiosa. Poucos dias após a chegada
à costa, Cabral ordenou-o “para lá andar com eles”, os índios, para “saber de seu
viver e maneiras”.
Segundo os relatos, assim que o nosso descobridor decidiu partir em direção
às Índias, Afonso Ribeiro apossou-se de uma piroga – uma embarcação indígena
a remo muito parecida com uma canoa, feita a partir de um tronco de árvore – e
se aventurou como pôde, desesperado, mar adentro, na tentativa de alcançar a
frota que o havia deixado para trás. Após remar por algum tempo, no entanto,
viu, exausto, apenas as velas das embarcações já em alto-mar. Ribeiro se
conformou, em desesperança, e pediu em oração para morrer ali mesmo. Mas
apesar do mar agitado, e dos desejos suicidas, acabou reconduzido
vagarosamente à areia, condenado a cumprir sua pena na maior gaiola do
mundo.
Em pouco tempo, no entanto, ele ganharia novas companhias.
Desde os nossos primeiros anos, os funcionários portugueses que ousavam
desembarcar por aqui eram inegavelmente gananciosos, dispostos a alavancar
suas condições sociais a qualquer custo, perseguindo possibilidades de
ascensão que o Velho Continente não lhes permitiria. O Brasil era tudo ou nada,
e este era o único incentivo capaz de fazê-los querer atravessar o Atlântico.
Sobre esses portugueses que pariram o Brasil, o historiador britânico
Charles R. Boxer não economizou nos adjetivos:3

Uma nobreza e uma fidalguia turbulentas e traiçoeiras; um clero


ignorante e lasso; camponeses e pescadores trabalhadores mas imbecis; e
uma ralé urbana de artífices e empregados diaristas, como a plebe
lisboeta descrita pelo maior dos romancistas portugueses, Eça de Queiroz,

outubro2018
Clube SPA

cinco séculos depois, como “beata, suja e feroz”; tais eram as classes
sociais de que advieram os descobridores e os colonizadores pioneiros.

Mal pagos, endividados até o pescoço com o alto custo do deslocamento até
seus novos postos de trabalho além-mar, e ainda dominados por uma
mentalidade de conquista, repetidamente presente em outras colônias ibéricas
na América, esses homens do Império não pensavam duas vezes antes de se
lançar em atividades econômicas ilegais.
Em seu nascimento, vasto e praticamente terra sem lei, na prática, quando
não castigo, o Brasil era um mísero trampolim para as pretensões particulares
dessa gente. E na mão deles nós não demoraríamos muito tempo para registrar
nosso primeiro grande escândalo.
Logo a primeira grande obra de estreia por aqui, a construção da primeira
capital do país, Salvador, fundada para servir como sede da Coroa portuguesa
em solo tupiniquim, foi envolta em uma série de suspeitas de corrupção: custou
o equivalente a um terço das receitas do reino, indicando um nítido caso de
superfaturamento.
Durante o período de sua construção – muito antes que qualquer operação
da Polícia Federal pudesse parar o país com entrevistas coletivas denunciando
casos de corrupção – quando os pregões de arrematação das empreitadas se
encerravam, o nome do vencedor, anunciado com certa pompa, não era capaz
de causar qualquer surpresa a quem quer que fosse. Os próprios empreiteiros,
numa prática que atravessaria os séculos, dividiam as obras entre si,
combinando os lances de forma antecipada, na maioria das vezes em conluio
com o funcionário público responsável pelo pregão, superfaturando o custo.4
Na construção de Salvador, o caso foi ainda pior: não faltavam suspeitas
sobre um dos homens mais importantes do governo-geral do Brasil, o
provedor-mor da Fazenda, Antônio Cardoso de Barros, o homem por trás da
liberação das verbas para a construção da cidade. Enquanto a capital saía do
papel, Barros montava um engenho em seus arredores.
Mas seu projeto não vingou. Ao ser acusado por Tomé de Sousa de ter
desviado dinheiro da Coroa para esse fim, o português simplesmente deu no pé
– rompeu com o governador-geral, Duarte da Costa, e partiu para as terras
lusitanas em companhia de dom Pero Fernandes Sardinha, o primeiro bispo do
Brasil. O destino, contudo, não lhe revelaria muita sorte: seu barco acabaria
naufragando na costa do rio Coruripe, em Alagoas, onde ele e o bispo partiram
desta pra melhor devorados por índios caetés.5

outubro2018
Clube SPA

Figuras como Antônio Cardoso de Barros sempre estiveram presentes em


nossa história. Há provas de prática de corrupção no Brasil desde o primeiro
governo, o de Tomé de Sousa, o homem autorizado pelo rei d. João III a fazer
“dádivas a quaisquer pessoas” a fim de consolidar a conquista lusitana do
Brasil6 – e que gastou no seu triênio trezentos mil cruzados, uma quantia
considerável para a época, em soldos, edifícios da Sé, casa dos padres da
Companhia, ordenados dos ministros, sinos e artilharia.7
Nada disso, claro, se concentrava apenas nos governadores. Em nossas
primeiras décadas, a corrupção serviu como um mecanismo de compensação. A
Coroa, sabendo que pagava mal aos seus funcionários, em troca exigia apenas
duas condições: que se respeitassem as receitas régias e que qualquer ato ilícito
fosse feito com a maior discrição possível.
Desde o começo, as promessas implícitas de enriquecimento sempre foram o
principal atrativo para convencer a nobreza do Reino a estabelecer morada
numa terra tão distante e sem qualquer estrutura. Aos interessados, a tática
juntava o útil ao agradável: a Coroa utilizava recursos humanos e financeiros de
terceiros para viabilizar seus projetos, sem arcar com a maior parte desse custo
e mantendo poder sobre o território, e, em troca, cedia apoio, terras, rendas,
títulos nobiliárquicos e cargos.
A distribuição dos cargos, aliás, permitia ainda aos seus funcionários
caminho livre na constituição de atividades produtivas – a julgar que era a
administração que controlava o acesso aos escravos e às terras, as concessões
das licenças para a exploração de pau-brasil e o comando dos engenhos
“estatais”, atalhos indispensáveis para que os principais representantes da
corte no Brasil se tornassem também ricos proprietários de terras. No topo, os
cargos mais importantes também concediam prestígio e poder político, pessoal
e familiar, fazendo com que essas famílias controlassem, com mais ou menos
força, algumas importantes capitanias.8 Barcos lotados de gente atravessavam o
oceano incentivados por esse esquema: em troca de rentismo e poder. O Brasil
estava condenado a ser uma colônia de parasitas.
No caso dos governadores, para impedir que a linha entre o legal e o ilícito
fosse rompida com facilidade – muito antes da existência do cotão – benefícios
como ajuda de custo, cota de gêneros alimentícios, aposentadoria, comissão
sobre os contratos de arrecadação de impostos e, não menos importante, uma
remuneração sob a forma de soldos e emolumentos, existiam como vantagens
materiais para desestimular a corrupção.9
Mas nada disso funcionava. Fundado em bases predatórias, o Brasil estava

outubro2018
Clube SPA

completamente entregue à dilapidação do patrimônio público desde os seus


primeiros anos de fundação.
As primeiras acusações de enriquecimento ilícito em nossa história ainda
remontam ao primeiro século de domínio lusitano por aqui, no ano de 1562,
quando Gaspar de Barros Magalhães e Sebastião Álvares, oficiais da Fazenda e
vereadores de Salvador, enviaram ao rei de Portugal um extenso relatório
denunciando o governador-geral Mem de Sá. No documento, pediam a
Sebastião I que mandasse ao Brasil alguém para substituí-lo que fosse “homem
fidalgo, virtuoso e que não seja cobiçoso”.10
Mem de Sá, nosso terceiro governador-geral, foi proprietário de dois
engenhos e criador de mais de quinhentas cabeças de gado. Enquanto exercia o
poder, ele negociava açúcar, explorava pau-brasil e mantinha representantes
comerciais em Portugal. Foi provavelmente o maior senhor de engenho de seu
tempo. Em um período relativamente curto, acumulou um patrimônio invejável,
incluindo o engenho de Sergipe do Conde – o maior e mais importante da época
e o principal centro de aporte de negros trazidos da África pelo tráfico (Mem de
Sá possuía mais de quatrocentos escravos, dos quais 303 nesse engenho).
Seu inventário listava mais de mil arrobas de açúcar e seis mil quintais de
pau-brasil, além de mercadorias orçadas em mais de três mil cruzados. Tudo
conquistado em míseros catorze anos, entre 1558 e 1572, período em que
esteve à frente do governo-geral, como representante administrativo da Coroa
portuguesa no Brasil.11
E Mem de Sá não era nenhum alienígena. Os treze governadores-gerais que
tomaram posse entre 1549 e 1630 – desconsiderando os substitutos, que pouco
se sabe a respeito – apresentaram perfil parecido, aproveitando de suas
posições no governo para obter vantagens financeiras, explorando ao máximo o
cargo.
Diogo Botelho, nosso oitavo governador-geral, chegou a passar por uma
devassa no início do século XVII. Nela, foi acusado de: vender ofícios e tomar
parte dos salários dos oficiais; confiscar vinho ilegalmente, vendendo-o a preços
extorsivos; apropriar-se da renda dos mortos para comprar escravos; mandar
tomar escravos dos moradores por valores irrisórios; pagar o preço que bem
quisesse pelos escravos que escolhia a dedo dos navios que vinham de Angola;
barrar despachos do ouvidor.12
E essas não eram as únicas denúncias contra a figura mais importante da
corte no Brasil entre 1602 e 1607. Fernão Roiz de Souza, um serviçal de Diogo
Botelho, confessou também que ambos cometeram o “pecado nefando de

outubro2018
Clube SPA

sodomia”, por inúmeras ocasiões ao longo de uma década – “a primeira noite


uma vez somente per força e contra vontade dele” que “confitente e com medo
de o dito cúmplice o matar, não se atreveu a gritar”. Fernão contou que era
pública e notória a prática por parte do governador-geral, descrevendo com
riqueza de detalhes seus encontros sexuais, deixando bem claro o que entendia
por pecado de sodomia: o de “meter sua natura pela parte traseira do cúmplice
e derramar dentro em seu corpo a semente genital ou consentir fazer-lhe o
cúmplice o mesmo”.13
No Brasil, a homossexualidade foi crime até 1830, algo tão horrendo que não
merecia sequer ser pronunciado (daí a expressão “pecado nefando”).14 Apesar
disso, foi por seus inúmeros negócios ilícitos, e não pela prática daquilo que não
deveria ser dito, que Diogo Botelho teve seus bens confiscados, decisão que o
colocou e a sua família em apuros.15
Dos políticos do período colonial, no entanto, o mais célebre na arte de
enriquecer à custa do poder foi certamente Salvador Correia de Sá e Benevides,
governador do Rio de Janeiro em diferentes ocasiões no século XVII.
Sá e Benevides, descendente de Mem de Sá, foi acusado “de prevaricador, de
locupletar-se com os dinheiros da Fazenda Real, de proteger os parentes e
amigos com proventos indevidos, de oprimir o povo com tributos ilegais de que
êle mesmo se fazia o administrador, e de outras muitas irregularidades
administrativas com o que já tinha aumentado a sua fortuna pessoal de mais de
300 mil cruzados desde que assumira o govêrno da Capitania”.16
Entre as tantas acusações contra ele, constava a de baixar um alvará
obrigando todas as embarcações que navegassem pelo porto a pagar uma
determinada quantia – com a justificativa de custear a armada destinada a
vigiar a costa, tomada de navios holandeses –, assumindo o cargo de tesoureiro
desses recursos; e a de tomar 14 mil cruzados de dinheiro arrecadado em
dízimo, com a desculpa de que se destinavam ao pagamento de soldados, algo
que nunca aconteceu.
Proprietário de cinco engenhos de açúcar e quarenta currais de gado, ele foi
um dos homens mais ricos da história do Brasil. Mestre na arte de fazer pedidos
ao rei, chegou a escrever uma petição à corte lamentando que estava impedido
de enviar seu açúcar ao Reino por não haver mais lugar em nenhum navio – por
entender que uma figura do nível dele não deveria arcar com esse tipo de
problema, ele solicitava encarecidamente que todas as embarcações que
saíssem do Rio de Janeiro, sem exceção, fossem obrigadas a separar 10% de
suas cargas para o embarque do açúcar produzido por ele mesmo, por um frete

outubro2018
Clube SPA

mais barato do que o cobrado pelo mercado. Pedido que foi prontamente
atendido.
Sá e Benevides sempre encarou o Rio como um feudo pessoal e o cargo de
governador como um mero instrumento para fazer o máximo de dinheiro
possível. Em todos os principais cargos da cidade ele alocou seus tios, primos e
filhos. Com tamanho poder, chegou a pressionar a Câmara para conceder-lhe o
monopólio da pesagem na alfândega. Na prática, fez com que todo o açúcar que
saísse da capital fosse pesado em suas balanças. E não se contentou apenas com
isso. Como o Rio não tinha grana suficiente para erguer um armazém próximo à
pesagem, ao lado do porto, tratou de adquirir também essa concessão. Toda a
exportação estava em suas mãos.17
Filho de Martim Correia de Sá, bandeirante que descendia da família dos
fundadores do Rio de Janeiro, Mem de Sá e Estácio de Sá, Sá e Benevides exercia
o poder com tamanha tirania que tomava os escravos de seus proprietários,
obrigando-os a trabalhar em suas fazendas, sem deixar outra alternativa aos
senhores a não ser vendê-los o mais barato possível. Fazia o mesmo com as
propriedades dos senhores de engenho, algo que acabou fazendo dele o maior
dono de terras do Brasil.
Quando embarcações angolanas atracavam no Rio de Janeiro, ele escolhia os
melhores escravos pelo menor preço possível, fazendo com que os mestres das
embarcações preferissem cair nas mãos dos piratas do que nas suas garras.
Fazia o mesmo com as embarcações lotadas de vinho – confiscando as pipas por
preços absurdamente baratos para revendê-las o mais caro que pudesse.
Chegou ao ponto de proibir os criadores de carne de vaca de vendê-las, para
que só se consumisse o seu gado.18
Desde as primeiras décadas de sua fundação, o Brasil foi um grande faroeste
político, dominado por déspotas gananciosos.
Já em 1627, logo no primeiro livro de história publicado sobre o país, frei
Vicente do Salvador, pai da historiografia brasileira, tratou da nossa
predisposição ao ilícito.

Donde nasce também, que nenhum homem nesta terra é repúblico, nem
zela, ou trata do bem comum, senão cada um do bem particular. (…) Pois o
que é fontes, pontes, caminhos e outras coisas públicas é uma piedade,
porque atendo-se uns aos outros, nenhum as faz, ainda que bebam água
suja, e se molhem ao passar dos rios, ou se orvalhem pelos caminhos, e
tudo isto vem de não tratarem do que há cá de ficar, senão do que hão de

outubro2018
Clube SPA

levar para o reino.19

Poucos anos depois, em seus sermões, era padre Antônio Vieira quem
denunciava a prática. Em seu Sermão da visitação de Nossa Senhora a Santa
Isabel, proferido na então Misericórdia da Bahia, em 1638, ele condenava a sede
dos portugueses em espoliar a população, comparando-os às chuvas.

Com terem tão pouco do céu os ministros que isto fazem, temo-los
retratados nas nuvens. Aparece uma nuvem no meio daquela baía, lança
uma manga ao mar, vai sorvendo por oculto segredo da natureza grande
quantidade de água, e, depois que está bem cheia, depois que está bem
carregada, dá-lhe o vento, e vai chover daqui a trinta, daqui a cinqüenta
léguas. Pois, nuvem ingrata, nuvem injusta, se na baía tomaste essa água,
se na baía te encheste, por que não choves também na Bahia? Se a tiraste
de nós, por que a não despendes conosco? Se a roubaste a nossos mares,
por que a não restituis a nossos campos? Tais como isto são muitas vezes
os ministros que vêm ao Brasil, e é fortuna geral das partes ultramarinas.
Partem de Portugal estas nuvens, passam as calmas da Linha, onde diz
que também reservem as consciências, e em chegado verbi gratia a esta
baía, não fazem mais que chupar, adquirir, ajuntar, encher-se por meios
ocultos, mas sabidos e ao cabo, de três ou quatro anos, em vez de
fertilizarem a nossa terra com a água que era nossa, abrem as asas ao
vento, e vão chover a Lisboa, esperdiçar a Madrid. Por isso nada lhe luz ao
Brasil por mais que dê, nada lhe monta e nada lhe aproveita por mais que
faça, por mais que se desfaça. E o mal mais para sentir de todos é que a
água que por lá chovem e esperdiçam as nuvens não é tirada da
abundância do mar, como noutro tempo, senão das lágrimas do miserável
e dos suores do pobre, que não sei como atura já tanto a constância e
fidelidade destes vassalos.20

Em 1655, ele voltou a condenar a prática no Sermão da Terceira Dominga da


Quaresma, proferido em São Luís, no Maranhão.

Quem há de governar e mandar três e quatro mil léguas longe do rei, onde
em três anos não pode haver recurso de seus procedimentos nem ainda
notícias, que verdade, que justiça, que fé, que zelo deve ser o seu! (…) Nos
Brasis, nas Angolas, nas Goas, nas Malacas, nos Macaus, onde o rei só se
conhece por fama e se obedece só por nome, aí são necessários os criados

outubro2018
Clube SPA

de maior fé e os talentos de maiores virtudes. Se em Portugal, se em


Lisboa, onde os olhos do rei se vêem e os brados do rei se ouvem, faltam a
sua obrigação homens de grandes obrigações, que será in regionem
longinquam? Que será naquelas regiões remotíssimas, onde o rei, onde as
leis, onde a justiça, onde a verdade, onde a razão, e onde até o mesmo
Deus parece que está longe?21

É em Resposta aos capítulos que deu contra os religiosos da Companhia, em


1662, o procurador do Maranhão Jorge de Sampaio que Antônio Vieira questiona
as forças políticas do próprio Maranhão, num sermão em Portugal, onde diz ao
rei que, no estado, “não há outro ouro nem outra prata mais que o sangue e o
suor dos índios”.

São os interesses dos que governam, porque as rendas dos dízimos de


Vossa Majestade em todo aquele estado chegam a montar seis até oito mil
cruzados, os três dos quais toma o Governador inteiramente e no melhor
parado, e na mesma forma se pagam de seus ordenados os procuradores e
os oficiais da fazenda, com que vem a ficar muito pouco para as despesas
ordinárias das igrejas, vigários, oficiais de milícia e soldados, aos quais se
não paga nem a quarta parte do que lhes pertence, com que é força que
busquem outros modos de viver e se sustentar, que muitas vezes são
violentos, e todos vêm a cair às costas do povo. Assim também levam
consigo os ditos governadores muitos criados, que provêm nos melhores
ofícios, e eles com confiança no poder de seu amo os servem com
insolência, dominando não só as pessoas, mas as fazendas, de que se
recolhem a Portugal ricos e os povos ficam despojados.22

No Maranhão, padre Antônio Vieira fez parte importante de seus sermões no


Convento das Mercês, construído em 1655 e tombado pelo Patrimônio Histórico
Nacional. Nem seu espaço de pregação escapou da corrupção. No início da
década de 1990, mais de três séculos após sua construção, o então governador
do estado, Epitácio Cafeteira, doou arbitrariamente o local à família Sarney –
que logo transformaria o lugar religioso no Convento das Mercês Memorial José
Sarney. Em junho de 2009, a Justiça decretou a devolução do prédio ao
patrimônio estatal e, em outubro do mesmo ano, a fundação foi fechada após
denúncias de corrupção.23
A ideia de Sarney era transformar o convento num museu-mausoléu. E ele
apostava alto nisso. Em 2005, chegou a dizer que seu jazigo, outrora palco de

outubro2018
Clube SPA

sermões contra a iniquidade dos poderosos, seria “um atrativo turístico e, no


futuro, até ponto de peregrinação”.24
De Caminha a Sarney, cinco séculos separam um país incansavelmente
disposto a repetir a ilicitude em seus homens públicos como parte da sua
cultura política: a do “quem quer rir tem que fazer rir”, também conhecida como
“farinha pouca meu pirão primeiro“ ou Lei de Gerson.
Como escreve o cientista político Francis Fukuyama:

As instituições humanas são “pegajosas”, isto é, persistem com o passar


do tempo e são alteradas somente com muita dificuldade. Instituições
criadas para satisfazer um conjunto de condições muitas vezes
sobrevivem, mesmo quando as condições mudam ou desaparecem, e a
incapacidade de adaptação implica declínio político.25

Como os livros de história nos contam, a corrupção não é uma invenção do


século XXI, fruto desse ou daquele Congresso, resultado de um único partido ou
governo – é mais do que isso: uma espécie torta de identidade nacional,
apelidada carinhosamente de “jeitinho”, uma metástase espalhada em nossa
democracia sem o menor interesse de ir embora.

Estado cleptocrático de direito

Em 2017, cada brasileiro trabalhou 153 dias para pagar tributos. Longos
cinco meses. Mas isso tudo, quase metade do ano, não foi o bastante. Segundo
um levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT),
cada pagador de impostos brasileiro também trabalhou outros 29 dias, quase
um mês, apenas para arcar com o custo da corrupção.
O cálculo é baseado no resultado do Projeto Lupa nas Compras Públicas, que
monitora todas as compras de órgãos governamentais e cruza o valor pago por
eles com o preço da mesma mercadoria ou serviço comprado na iniciativa
privada.26
Segundo o projeto, o sobrepreço médio pago pelos órgãos públicos
brasileiros na compra de mercadorias é 17% acima dos valores praticados no
mercado. Em algumas compras, a variação alcança 160,98% de diferença. O
Projeto Lupa nas Compras Públicas analisou mais de três milhões de notas
fiscais de mercadorias compradas por órgãos públicos de todas as esferas. As

outubro2018
Clube SPA

notas referem-se a 2012, 2013 e 2014, totalizando R$ 27,55 bilhões em


transações. O sobrepreço foi de R$ 4,68 bilhões.27
E isso é apenas a ponta do iceberg. Segundo o Tribunal de Contas da União,
dos empreendimentos que o órgão fiscalizou nos últimos dez anos, sete em cada
dez grandes obras feitas com verbas federais no Brasil têm graves
irregularidades, como atrasos, editais direcionados, projetos com defeito,
excesso de aditivos e sobrepreço. O tribunal calcula que essas irregularidades
somam R$ 20,1 bilhões, considerando as multas que devem ser pagas à União e
o ressarcimento por projetos que foram concluídos com falhas. Entre 2007 e
2016, o TCU analisou 1.725 obras públicas: em 1.275 delas havia alguma
irregularidade.28
O custo da ilicitude é altíssimo. Nas estimativas adotadas pela ONU e pelo
Fórum Econômico Mundial, a corrupção custa 5% do PIB mundial.29 Se
aplicássemos esses números à realidade brasileira, considerando que o nosso
PIB foi de R$ 6,266 trilhões em 2016 e que estamos no meio da tabela nos
índices de percepção de corrupção, esses desvios poderiam estar na casa dos R$
313 bilhões por aqui.
Segundo o coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, fazendo uma média
sobre as pesquisas envolvendo a percepção de corrupção no país, com todos os
limites que esse tipo de análise naturalmente impõe, os recursos desviados em
esquemas ilícitos no Brasil movimentam algo próximo dos R$ 200 bilhões por
ano.30
Se tomarmos esse número como realidade, o valor corresponde a mais de 1,1
milhão de novas ambulâncias do Samu (número 340 vezes maior do que toda a
frota nacional disponível31), a quatro milhões de casas populares (suficiente
para zerar o déficit habitacional do país em apenas dois anos32), a 3,8 milhões
de viaturas policiais e a 4,4 milhões de novas quadras poliesportivas (o
mastodôntico número de oitocentas quadras construídas em cada cidade
brasileira).33
Com esse dinheiro seria possível ainda dobrar a quantidade de escolas
públicas no Brasil em menos de três anos, ou oferecer merenda escolar para
cada um dos 39,7 milhões de alunos matriculados na rede pública de ensino em
201734 por 2.268 dias, o equivalente a 11,3 anos de ensino, considerando os
dias letivos, ou quase toda a sua formação no ensino básico (vale lembrar que,
no Brasil, o tempo médio total de estudo da população é de 7,8 anos,
insuficiente até para completar o Ensino Fundamental35).
Em apenas doze meses, seria possível também construir 7.272 hospitais –

outubro2018
Clube SPA

mais do que triplicar a quantidade de hospitais públicos no Brasil36 – e


multiplicar por cinco o total de leitos disponíveis no SUS.
Considerando o desembolso total e o benefício médio do Bolsa Família em
2016,37 seria possível ainda elevar esse valor para R$ 1.250 mensais por família
cadastrada no programa.
Num país onde cem milhões de pessoas não têm coleta de esgoto e 35
milhões não têm sequer água encanada, com R$ 200 bilhões jogados no ralo a
cada doze meses, seria possível, em dois anos e meio, universalizar os acessos a
água encanada, coleta de esgoto, processamento de resíduos e drenagem.38
Segundo um estudo de pesquisadores do Fundo Monetário Internacional,
elaborado pelo economista Carlos Eduardo Gonçalves, o Brasil poderia ser até
30% mais rico se as suas instituições públicas fossem menos corruptas. O
estudo afirma que o PIB per capita do país, “com todas as cautelas associadas a
um exercício econométrico”, poderia crescer próximo aos R$ 9,6 mil nessas
circunstâncias. Em 2016, o PIB per capita do país foi de R$ 30.407, segundo o
IBGE.39
Na classe política, quase nenhum partido escapa.
Em 2016, um levantamento feito com os membros do Congresso mostrou
que 299 parlamentares da legislatura 2015-2018 possuíam “ocorrências” na
Justiça e/ou nos tribunais de contas – ou seja, quase 60% do total. E 76 deles já
foram inclusive condenados e, dessas condenações, pelo menos 36 aconteceram
por improbidade administrativa. Trinta e quatro parlamentares ainda eram
investigados por crimes contra a Lei de Licitações.
No total, os 299 parlamentares acumulavam 1.131 “ocorrências judiciais”.
Desse grupo, 191 representantes possuíam mais de um inquérito ou processo.40
Nessa mesma legislatura, em 2017, seis em cada dez senadores respondiam
a acusações criminais no STF: pelo menos 48 senadores com procedimentos
abertos na mais alta instância do Poder Judiciário, dos quais 34 investigados na
Operação Lava Jato (o número de investigados pode ser ainda maior, já que o
STF mantém inquéritos ocultos).
De todos os estados brasileiros, somente o Distrito Federal e Mato Grosso do
Sul não tinham nenhum senador acusado ou suspeito de envolvimento em
práticas criminosas em 2017. Em contrapartida, todos os representantes
titulares de ao menos seis estados brasileiros tinham procedimentos criminais
em andamento no STF: Acre, Alagoas, Amazonas, Minas Gerais e Rondônia
tinham todos os três senadores em exercício respondendo a procedimentos
criminais. O mesmo não ocorreu com São Paulo somente porque um dos seus

outubro2018
Clube SPA

senadores titulares (o tucano Aloysio Nunes, então ministro das Relações


Exteriores), também com pendências no tribunal, estava licenciado do cargo.41
Na Câmara, em 2017, 77 dos 404 inquéritos e ações penais abertos contra os
deputados federais foram motivados por indícios de crimes de corrupção, a
mais recorrente acusação contra os parlamentares.42
A situação é tão absurda que nós temos inclusive uma bancada da Papuda.
Celso Jacob, preso em 6 de junho de 2017, foi condenado a sete anos e dois
meses de reclusão em regime semiaberto pelos crimes de falsificação de
documento público e dispensa de licitação quando era prefeito de Três Rios, no
interior do Rio de Janeiro, em 2002.43 Em 2017, ele só foi autorizado a deixar o
Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, durante o dia, para exercer seu
trabalho: o de parlamentar na Câmara dos Deputados.
Em junho, Jacob chegou a ser o único deputado federal a marcar presença
numa sessão na Câmara, forçado pelas circunstâncias a preferir o Congresso
numa sexta-feira a permanecer encarcerado.44 Mesmo preso, ele recebia um
auxílio-moradia de R$ 4,2 mil por mês.45
Em novembro, no entanto, a mamata acabou. O deputado do MDB carioca
perdeu o direito ao semiaberto – e de ir, portanto, ao Congresso durante o dia –
porque foi pego tentando entrar na Papuda com dois pacotes de biscoito e um
de queijo provolone dentro da cueca. Ele passou uma semana na solitária.46
Em fevereiro de 2018, após o Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF)
negar seu pedido para voltar ao regime semiaberto, o Conselho de Ética da
Câmara dos Deputados instaurou um processo por quebra de decoro contra
Jacob.47 Nelson Nahim (sem partido/RJ), irmão do ex-governador Anthony
Garotinho, virou o primeiro nome da lista de suplentes da coligação para
assumir o seu lugar. Nahim, no entanto, também não comunga de um passado
ilibado: foi condenado a doze anos de prisão por estupro de vulnerável e
exploração sexual de adolescentes em Campos dos Goytacazes, também no
interior do Rio de Janeiro. O suplente foi preso em junho de 2016 e solto graças
a um habeas corpus do STF, quatro meses depois. No começo de 2018, Nahim
chegou a assumir o mandato de deputado federal entre 4 e 18 de janeiro,
substituindo a deputada Cristiane Brasil (PTB/RJ), filha de Roberto Jefferson,
em sua curta temporada no Ministério do Trabalho.48
Jacob e Nahim não foram os únicos deputados federais eleitos para a
legislatura 2015-2018 com problemas envolvendo a prisão. Assim como eles, o
senador Ivo Cassol (PP/RO) e os deputados Paulo Maluf (PP/SP, que também foi
parar na Papuda49), Paulo Feijó (PR/RJ) e Roberto Góes (PDT/AP) foram

outubro2018
Clube SPA

igualmente condenados à prisão pelo Supremo Tribunal Federal. Em fevereiro


de 2018, foi a vez do deputado João Rodrigues (PSD/SC) ser preso no Aeroporto
de Guarulhos.50 No mesmo mês, o STF decidiu, por maioria, condenar o senador
Acir Gurgacz (PDT/RO) a quatro anos e seis meses de prisão em regime
semiaberto por crimes contra o sistema financeiro nacional.51 Além deles,
Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, foi preso em outubro
de 2016.52
Localmente o cenário é ainda pior.
Dos 165 candidatos que disputaram os governos estaduais nas eleições de
2014, 63 (38%) respondiam a 327 processos na Justiça ou nos tribunais de
contas – 46 deles (28%) inclusive, já condenados, quatro cassados e dois presos
no exercício do mandato.
Mais da metade dos candidatos processados respondia na Justiça por crimes
e delitos que diziam respeito à má gestão do bem público no exercício da
função: 249 processos no total, dos quais 170 por improbidade administrativa
e/ou dano ao erário. Outros nove diziam respeito a crimes contra a Lei de
Licitações, oito de corrupção passiva e seis a peculato.
Entre os 63 processados, 33 estavam envolvidos em irregularidades
eleitorais: exatos 45 processos, dos quais 31 diziam respeito a contas
problemáticas de partido ou de campanha. Outras ocorrências frequentes ainda
diziam respeito a abuso de poder político e/ou econômico (oito no total) e
compra de votos (outros três).
Ao menos dez governadores eleitos em 2014 já haviam sido condenados
antes do pleito.53
Entre 2013 e 2016, o Brasil teve um prefeito retirado do cargo a cada oito
dias pela Justiça Eleitoral. Foram 136 prefeitos que, cassados, acabaram
retirados da função, e outros 93 que, apesar de igualmente cassados,
conseguiram a manutenção do cargo com liminares e recursos. A maioria dos
prefeitos foi cassada em razão de captação ilícita de votos e abuso de poder
econômico durante a campanha. Há também casos de conduta vedada pela
legislação eleitoral.
O levantamento não inclui os cassados pela Justiça comum, fato que
aumentaria consideravelmente a lista. É o caso de Teresópolis, na Região
Serrana do Rio. O prefeito eleito da cidade, Mário Tricano (PP), não foi
diplomado porque estava inelegível até 2013 com base na Lei da Ficha Limpa.
Seu substituto, Arlei Rosa (MDB), assumiu a posição, mas também acabou
cassado pela Câmara em 2014, acusado de má administração dos recursos do

outubro2018
Clube SPA

Instituto de Previdência dos Servidores Públicos Municipais. Arlei deixou o


cargo para o vice, mas Tricano, que já havia cumprido a condenação, entrou
novamente na briga e conseguiu assumir a prefeitura numa decisão do STF, em
2016.54
Bariri, cidade de 35 mil habitantes no interior de São Paulo, viu seu prefeito
e vice-prefeito eleitos em 2016 – Francisco Leoni Neto e Benedito Mazotti,
ambos do PSDB – afastados do cargo graças à Lei da Ficha Limpa. No início de
2017, a cidade passou a ser administrada pelo então presidente da Câmara de
Vereadores, Paulo Henrique de Araújo, também do PSDB. No dia 21 de abril de
2018, Paulo foi preso, acusado de raptar e estuprar uma menina de oito anos.
Ele confessou o crime.55
E não é apenas a classe política que participa da corrupção no país. Parte da
população, direta ou indiretamente, com ou sem a ajuda dos políticos, também
cumpre esse papel.
Segundo o Ministério Público Federal, a partir do cruzamento de dados do
antigo Ministério do Desenvolvimento Social, com informações de órgãos como
a Receita Federal, tribunais de contas e o TSE, só em 2013 e 2014, pelo menos
R$ 2,6 bilhões do total da verba reservada ao Programa Bolsa Família foram
parar na carteira de quem não precisava. O exame detectou mais de 1 milhão de
casos de fraude em todos os estados brasileiros, dos quais 585 mil beneficiários
ilegais eram funcionários públicos. Mais da metade.56
No início de 2018, a Controladoria-Geral da União publicou um relatório
revelando que pelo menos 345.906 famílias teriam recebido dinheiro do Bolsa
Família sob “fortes indícios” de terem falsificado ou omitido informações de
renda no momento do cadastro – e outros 2,5 milhões estariam recebendo o
benefício com indícios de inconsistência cadastral. O prejuízo estimado alcança
mais de R$ 1,3 bilhão.57 Em 2009, um gato chegou a fazer parte dos
beneficiários do Bolsa Família.58
Em abril de 2016, o TCU chegou a determinar a paralisação imediata do
programa de reforma agrária do Incra em todo o país. A medida veio como
resposta a uma auditoria que identificou mais de 578 mil beneficiários
irregulares do programa de reforma agrária do governo federal (30% de toda a
sua base de beneficiários). Entre eles, 144 mil funcionários públicos, 1.017
políticos eleitos, 61 mil empresários, 4.293 proprietários de carros de luxo
(como Porsche, Land Rover ou Volvo), 202 pessoas com renda superior a vinte
salários mínimos (mais de R$ 17.600, em 2016), 213 estrangeiros e 37 mil
mortos.59

outubro2018
Clube SPA

E ainda há as organizações não governamentais.


O Ipea analisou as transferências de verba federal para ONGs, fundações,
pastorais de igrejas e outros tipos de organizações civis entre 1999 e 2010. Em
uma década, o valor desses repasses dobrou. Era de R$ 2,2 bilhões em 1999.
Passou para R$ 4,1 bilhões em 2010.
Segundo o estudo, até 2010 3.342 entidades sem fins lucrativos de todo o
país recebiam repasses do governo federal. Vale lembrar que essas entidades
não são obrigadas por lei a prestar contas. De acordo com o TCU, entre 1999 e
2010, mais da metade dos repasses federais às ONGs brasileiras não foram
fiscalizados: são R$ 21,1 bilhões empenhados, cuja aplicação não teve qualquer
acompanhamento. Para o Ipea, houve picos no repasse das verbas em anos
eleitorais e pré-eleitorais (2006, 2009 e 2010).
Segundo o instituto, “há uma concentração no valor dos repasses, com
poucas organizações recebendo muito e muitas recebendo pouco, e também no
tipo de entidades beneficiadas”. Em geral, para ONGs apadrinhadas
politicamente, a fiscalização tende a ser mais falha; para as demais, tende a ser
mais rigorosa.60
Os problemas atingem todas as esferas. Nos três anos anteriores aos Jogos
Olímpicos do Rio, por exemplo, o TCU encontrou irregularidades em pelo menos
61% das verbas públicas destinadas ao esporte brasileiro, em todos os níveis. O
tribunal apontou uma série de problemas nos repasses da Lei Agnelo/Piva e Lei
Pelé feitos pelo governo federal ao Comitê Olímpico do Brasil (COB), ao Comitê
Paralímpico Brasileiro (CPB), à Confederação Brasileira de Clubes (CBC) e a dez
confederações escolhidas por amostragem. Segundo o relatório publicado pelo
órgão, de um total de R$ 337 milhões, pelo menos R$ 207 milhões eram
passíveis de devolução à União. A lista de problemas que fizeram o TCU
questionar os repasses são os mais diversos possíveis: vai desde licitação para
contratar serviços até a prestação de contas. Entre todas as entidades
analisadas, apenas a Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes
Visuais (CBDV) não apresentou problemas em seus balanços.61

O tribunal de faz de conta da União

Os tribunais de contas, principais órgãos auxiliares do Poder Legislativo para


fiscalizar como os recursos públicos estão sendo gastos, remontam sua
existência ainda ao século XIX, instituídos no longínquo ano de 1890, quando

outubro2018
Clube SPA

nasceram para verificar a legalidade das contas públicas num país que havia
acabado de se tornar República.
Por aqui, nem eles escapam da politicagem. Em 2016, dos 233 conselheiros
que atuavam nas 34 cortes do país, 80% já haviam ocupado, antes de serem
nomeados para o tribunal, cargos eletivos (como o de prefeito, vice-prefeito,
vereador, deputado estadual, deputado federal e senador) ou de destaque na
alta administração pública (como o de dirigente de alguma empresa pública ou
de uma autarquia, ou ainda secretário estadual ou municipal). Quase a metade,
107 conselheiros, já havia sido deputado estadual.
No Ceará, um caso de concentração de poder é tamanho que alcança o
período imperial: o clã político cearense Paula Pessoa, presente no Tribunal de
Contas do Estado, conta com oito gerações de políticos influentes. O conselheiro
Luís Alexandre Albuquerque Figueiredo de Paula Pessoa (deputado estadual
por duas legislaturas pelo MDB), além de ter pai (ex-deputado estadual), irmão
(ex-prefeito de Santa Quitéria, município no interior do estado) e sobrinho (ex-
deputado estadual) na política regional, tem como antepassado um senador do
Império (Francisco de Paula Pessoa, deputado provincial e senador de 1849 a
1879).
Entre todos os conselheiros, aliás, 31% eram parentes de outros políticos em
2016 – em muitos casos, indicados ao cargo pelos próprios primos, tios ou
irmãos governadores (no TCE-RN, seis dos sete conselheiros tinham parentes
influentes) – e 23% sofriam processos ou receberam alguma punição na Justiça
ou nos próprios tribunais de contas – em 2016, dos 233 conselheiros, 53
possuíam 104 citações ou condenações na Justiça e nos tribunais de contas, com
improbidade administrativa sendo a ação mais comum.62
Como os números atestam, há um evidente sequestro político da atividade
dos tribunais de contas no Brasil. Desde a Constituição de 1988, o sistema de
indicação para as cortes é misto: dos sete conselheiros, um é indicado pelo
Executivo e outros quatro pelo Legislativo, restando míseras duas vagas
destinadas às carreiras técnicas.
E a politização não acontece por acaso. Não há quase exigência para o cargo –
apenas ter entre 35 e setenta anos, dez anos de experiência profissional
correlata e atender a critérios vagos como “idoneidade moral”, “reputação
ilibada” e “notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e
financeiros ou de administração pública”.63 Ainda assim, nem a Constituição é
respeitada. Mesmo com tamanho papel das indicações políticas na ordem legal
dos tribunais, em 2016, apenas 22% de todos os conselheiros do país eram

outubro2018
Clube SPA

promotores ou auditores – um déficit de catorze conselheiros em relação ao que


é estabelecido em nossa Carta Magna.
Essa presença política, claro, cria uma enorme controvérsia. Como aponta a
ONG Transparência Brasil, a taxa de processados entre os conselheiros que
jamais ocuparam qualquer cargo eletivo ou foram secretários de governo em
algum momento da vida foi de 6% em 2016. Entre os conselheiros com passado
político profissional, esse número foi consideravelmente maior: 27%.
Há evidentes motivos que apontam por que um representante de um partido
político teria interesse em trabalhar num tribunal de contas. Ao julgar as contas
do Executivo, um conselheiro pode perfeitamente preservar seus aliados e
dificultar a vida de seus adversários políticos – e esse papel possui uma
importância ainda maior depois da aprovação da Lei da Ficha Limpa.
Além disso, essa é uma posição com um mar de regalias. Mesmo com limites
constitucionais estabelecidos aos salários dos servidores dos Legislativos
estaduais, os estados brasileiros equiparam seus conselheiros aos
desembargadores de Justiça – dessa forma, o salário-base da categoria, em
quase todas as unidades da Federação, é de R$ 30.471. E mesmo este número,
como em boa parte do funcionalismo público, é apenas parte dos seus
rendimentos. Com gratificações e outras vantagens, o vencimento de um
conselheiro de um tribunal de contas no Brasil pode passar dos R$ 50 mil
mensais.
E ele não é suficiente. Os conselheiros possuem também direito a verbas
indenizatórias, ao auxílio-moradia, auxílio-alimentação e à prerrogativa de
nomear funcionários comissionados. O cargo, não bastasse, é vitalício, com
aposentadoria compulsória aos setenta anos. E no caso do Tribunal de Contas
da União, os conselheiros ainda são designados ministros e possuem o mesmo
status dos integrantes do STJ.
As vantagens de uma posição como essa são tão evidentes que há inclusive
casos em que a disputa política pela nomeação é negociada com corrupção.
Em janeiro de 2017, a Justiça de Mato Grosso determinou o bloqueio de até
R$ 4 milhões em bens de Blairo Maggi (MDB/MT) – ministro da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento no governo Michel Temer – e de outras oito pessoas
envolvidas nas investigações da Operação Ararath, que desmontou um esquema
de lavagem de dinheiro e crimes financeiros. Segundo a Polícia Federal, a
cadeira do conselheiro Sérgio Ricardo, do Tribunal de Contas do Estado de Mato
Grosso, aliado de Blairo Maggi, teria custado R$ 4 milhões. Para receber esse
montante, o ex-conselheiro e ex-deputado estadual Alencar Soares se aposentou

outubro2018
Clube SPA

cinco anos após sua nomeação para o cargo, apenas para deixar a vaga em
aberto. Na mesma decisão, o juiz da Vara Especializada em Ação Civil Pública e
Ação Popular, Luis Aparecido Bortolussi Júnior, determinou o afastamento de
Sérgio Ricardo do cargo.
Tudo isso, claro, custa muito dinheiro. O valor da manutenção dos tribunais
de contas é tão alto no Brasil que em alguns estados o orçamento total do TCE
se assemelha ao da Assembleia Legislativa. O Tribunal de Contas do Estado do
Rio de Janeiro, por exemplo, custa 77% da Assembleia Legislativa do estado. O
TCE do Rio Grande do Sul alcança 81% da Assembleia gaúcha. E o TCE do
Amazonas chega a incríveis 83% do orçamento da Aleam.
Na ponta do lápis, os nossos tribunais de contas já custam mais de R$ 10
bilhões por ano.64 Só o Tribunal de Contas da União, o mais caro deles, tem um
orçamento previsto de R$ 2,15 bilhões em 2018.65
Todos os nove ministros do TCU recebem valores acima do teto. Essa é a
conclusão de um levantamento feito pelo próprio TCU, entregue em fevereiro
de 2018 à Comissão dos Supersalários, da Câmara dos Deputados, descrevendo
suas remunerações entre setembro de 2016 e agosto de 2017.
Há caso de ministro recebendo em um mês R$ 78 mil, somando ao salário
incontáveis penduricalhos. Outro ministro alcançou os R$ 69 mil em setembro
de 2016. Há ainda um terceiro, que embolsou R$ 44,4 mil, incluindo nessa conta
o ressarcimento do plano de saúde no valor de R$ 6,9 mil.
Saúde, aliás, é o penduricalho que mais onera a remuneração dos ministros
do TCU: as restituições de planos, remédios e despesas médicas, somadas,
ficaram em R$ 1,7 milhão no período analisado. O auxílio-moradia, em
contrapartida, pesou R$ 372 mil aos cofres públicos66 (apenas um dos nove
ministros não utiliza nenhum tipo de ajuda, justamente por ser casado com uma
ministra do Superior Tribunal de Justiça, que já é favorecida pela verba; três
ministros recebem um auxílio-moradia de R$ 4.378 por mês, mesmo tendo
imóveis em Brasília; outros cinco ocupam imóveis funcionais67).
Toda essa grana não representa necessariamente muito trabalho.
Entre janeiro e julho de 2017, em míseros sete meses, os nove ministros do
Tribunal de Contas da União passaram, ao todo, 158 dias viajando no exterior,
uma média de 22 dias por mês. Um ano antes, em 2016, considerando os doze
meses, as principais autoridades do maior tribunal de contas do país ficaram
204 dias fora do Brasil, uma média de dezessete dias por mês. Alguns ministros
chegam a ficar quase um terço do tempo viajando. Juntos, eles visitaram
quarenta países em apenas dois anos e meio.

outubro2018
Clube SPA

É um verdadeiro festival de turismo bancado com o dinheiro dos pagadores


de impostos.
Dez dias na Austrália, com tudo pago. Doze dias em Paris e Lisboa, sem botar
a mão no bolso. Dois longos meses nos Estados Unidos para fazer um curso
bancado pelo patrão mais generoso do mundo. Não faltam viagens
internacionais aos ministros do TCU. No primeiro semestre de 2017 foram
quase R$ 500 mil em diárias e passagens. Só o ministro Aroldo Cedraz, em seis
meses, torrou R$ 72 mil. Ele passou 61 dias viajando no período, 56 deles fora
do Brasil: quatro dias em Bogotá, onze nas Bahamas, doze em Amsterdã, treze
em Viena, dezessete em Lisboa.
As desculpas são sempre as mesmas: a participação em seminários
internacionais. O problema é que esses eventos costumam durar apenas dois ou
três dias.
Cedraz, por exemplo, permaneceu quase duas semanas na Holanda para um
evento da ONU que durou apenas um dia. Em dois anos e meio, ele permaneceu
171 dias fora do Brasil, viajando por dezessete países. E ele não é sequer o mais
viajado da corte…
Entre deslocamentos dentro e fora do país, em dois anos e meio, Augusto
Nardes foi o ministro que permaneceu por mais tempo fora de Brasília. Foram
exatos 264 dias distante, nove meses nômade pelo mundo.
O ministro visitou onze países nesse período de tempo. Entre eles,
permaneceu catorze dias nos Estados Unidos para um congresso na
Universidade da Pensilvânia que durou apenas dois (à CBN, ele se justificou
dizendo que houve um erro de digitação ao incluir as informações dessa
viagem: ela na verdade teria durado cinco dias). O mesmo Nardes também ficou
nove dias na Armênia para um congresso que durou apenas três.
Bruno Dantas também possui histórico de longas viagens. Em julho de 2017,
o ministro permaneceu quinze dias em Roma. No ano anterior ele já havia
passado dois meses inteiros nos Estados Unidos para um curso que custou R$
130 mil – grana igualmente bancada pelo pagador de impostos brasileiro. Em
2015, o mesmo Dantas permaneceu um mês na terra do Tio Sam, a um custo de
R$ 80 mil.68
Em 2017, considerando os doze meses, os gastos com diárias e passagens
para viagens nacionais e internacionais do Tribunal de Contas da União
somaram R$ 5,9 milhões. A maior parte, R$ 3,8 milhões, com deslocamentos de
servidores em território nacional. Entre as autoridades, o que inclui ministros
do tribunal e procuradores, esse gasto foi de R$ 876,3 mil, sendo R$ 148 mil

outubro2018
Clube SPA

dentro de uma cota em que não é necessário apresentar qualquer justificativa.


Entre os ministros, o campeão de gastos foi Augusto Nardes (R$ 135 mil), com
Aroldo Cedraz (R$ 101,4 mil) em segundo lugar.69
Todas essas viagens impactam negativamente a produtividade do TCU. No
primeiro trimestre de 2017, o tribunal realizou 104 ações de fiscalização, contra
141 no mesmo período no ano anterior, uma queda de 26%. A quantidade de
processos apreciados, aliás, caiu de 1.400 para 1.197, uma redução de 15%.
Considerando o ano inteiro, em 2016 o TCU teve seu pior desempenho no
volume de processos autuados desde o início da década. Foram pouco mais de
4.500 processos, contra uma média anual de 5.500, uma redução de 20%.
Cabe lembrar que dos nove ministros do TCU, cinco são investigados ou
citados na Lava Jato: Aroldo Cedraz, Vital do Rego, José Múcio Monteiro,
Raimundo Carreiro e Augusto Nardes, este último também investigado pelo STF
no âmbito da Operação Zelotes.70
E nossos problemas não se restringem aos homens que analisam como o
dinheiro dos pagadores de impostos está sendo gasto. Eles também atingem em
cheio nossos representantes políticos: boa parte deles sequer se dá ao trabalho
de colocar num papel como esse dinheiro está sendo administrado.
A Lei de Responsabilidade Fiscal, em seu artigo 51, determina o dia 30 de
abril de cada ano como prazo máximo para que os municípios brasileiros
encaminhem suas contas referentes ao exercício anterior para a Secretaria do
Tesouro Nacional, que por sua vez tem sessenta dias para disponibilizá-las ao
público.71
Apesar disso, até o dia 3 de julho de 2017, os dados de 1.024 municípios
brasileiros não estavam disponíveis ou apresentavam inconsistências que
impediram a análise. Ou seja, 18,4% das 5.570 prefeituras brasileiras
simplesmente não deram qualquer transparência à gestão dos recursos que
administram.
Nesses municípios sem transparência vivem mais de 25 milhões de
brasileiros, uma população maior do que a de países como Austrália, Chile,
Holanda, Portugal, Suécia e Grécia.
Este é um problema especial para os habitantes da região Norte do país,
onde 35,3% dos municípios ou 159 das 450 prefeituras da região não possuem
qualquer transparência (no Pará, não há transparência em 63,2% das cidades;
no Amapá esse número alcança os 87,5%).
Mesmo algumas grandes cidades, com mais de 300 mil habitantes, passam
por esse problema. É o caso da capital Florianópolis (SC) e de municípios, como

outubro2018
Clube SPA

São Gonçalo (RJ), Montes Claros (MG) e São José dos Pinhais (PR).72
A falta de transparência é generalizada. Quase metade dos principais órgãos
públicos brasileiros descumpre a Lei de Acesso à Informação. No primeiro
semestre de 2017, a organização Transparência Brasil enviou pedidos de
informação a 206 órgãos públicos de todos os poderes e esferas federativas.
Desses, 95 (46%) simplesmente ignoraram a solicitação, sem prestar qualquer
satisfação. Outros 35 (17%) negaram o acesso à informação, 47 (23%)
concederam parcialmente e somente 29 (14%) concederam integralmente o
acesso à informação solicitada. O descaso com a transparência é tamanho que,
numa prefeitura de uma capital brasileira, a única servidora responsável pelo
atendimento de pedidos de acesso à informação não sabia sequer o que era uma
planilha e respondia aos pedidos por meio de sua conta de e-mail pessoal.73

outubro2018
Clube SPA

São as instituições, estúpido!


Não raramente nós somos condicionados a acreditar que o brasileiro é um
troglodita político, incapaz de votar corretamente. Mas o fato é que não é a urna
eletrônica, mas as instituições que garantem a eleição dos corruptos. Não é uma
coincidência que eles tenham tamanha participação na democracia brasileira,
de norte a sul do país.
Um sistema político que magnetiza criminosos e impede pessoas como eu ou
você de participar de seu processo, condena o país a sempre eleger as mesmas
figuras. É o que em economia se chama de “seleção adversa”: um fenômeno de

outubro2018
Clube SPA

informação assimétrica que ocorre quando os compradores são condicionados


a selecionar de maneira incorreta determinados produtos. Todo processo
eleitoral no Brasil, da formação dos partidos à proibição de candidaturas
avulsas, colabora como uma grande rede de incentivos para que os piores
sempre sejam eleitos.
O mercado de políticos por aqui é uma espécie de revenda de carros usados
– e assim como os veículos, uma vez adquirido, o eleitor deverá aguentá-lo por,
no mínimo, quatro longos anos. É uma decisão e tanto.
Se você já adquiriu um carro usado, deve conhecer de perto o problema da
informação assimétrica: o cara que está tentando te vender o veículo conhece
exatamente a qualidade dele, mas você não faz a menor ideia se está fazendo
realmente um bom negócio ou se levará para casa uma grande dor de cabeça.
Esse é o problema com a seleção adversa.
Imagine um mercado em que dez pessoas querem vender e outras dez
desejam adquirir carros usados. Todos sabem que cinco veículos são de boa
procedência e outros cinco de qualidade duvidosa, mas só o dono de cada
veículo sabe quais são de cada tipo.
Considere, por exemplo, que o proprietário de um veículo ruim esteja
disposto a vendê-lo por R$ 10 mil e o do veículo com melhor qualidade por R$
20 mil. Os compradores, em contrapartida, estão dispostos a pagar até R$ 24
mil por um bom veículo, mas no máximo R$ 12 mil por um de qualidade
duvidosa. Se não for possível diferenciar esses carros, sem ter acesso a mais
informações sobre suas qualidades e seus defeitos, esses compradores estarão
condicionados a fazer o cálculo do valor médio, de R$ 18 mil por um carro. Ou
seja: nesse mercado, os proprietários de veículos de boa procedência não terão
incentivos suficientes para vender seus veículos. E os carros com pior
qualidade, inflacionados, dominarão as revendas.
A boa notícia é que é possível alterar as regras do jogo. Quando encontramos
revendas de veículos usados de boa procedência no mercado, garantia de troca
ou conserto por alguns meses ou anos, acesso a fóruns de discussão dos
proprietários de veículos em que estamos interessados, ou ainda a
possibilidade de consultar nossos mecânicos de confiança antes de fechar
qualquer venda e permissão para um test drive, nós diminuímos o risco da
seleção adversa e aumentamos a probabilidade de levar um bom veículo para a
garagem da nossa casa.
Na prática, são as regras disponíveis que nos induzem a fazer escolhas
equivocadas – e, no caso da política brasileira, é o sistema que é construído para

outubro2018
Clube SPA

beneficiar a lata-velha.
Imagine o processo de divulgação para o preenchimento de uma vaga numa
determinada empresa que permita:

1. acesso privilegiado a um caminhão de dinheiro;


2. liberdade para determinar como essa grana toda é coletada e onde ela
deve ser gasta, sem prestar grandes satisfações por isso;
3. uma cota para comprar aliados, reportagens em grandes veículos e
propagandas para alterar positivamente a visão das pessoas a seu
respeito;
4. espaço para usar toda a estrutura da empresa para caluniar potenciais
candidatos ao seu cargo, sem risco de qualquer punição por isso;
5. a possibilidade de indicar apadrinhados para cargos importantes de
algumas das maiores empresas do país, aglutinando poder e influência
para seus amigos e familiares;
6. um salário capaz de colocá-lo na parcela mais rica da população,
beneficiado por uma série de regalias e acesso a cotas e bolsas para todos
os propósitos;
7. foro privilegiado e uma quase certeza de impunidade caso qualquer
delito seja cometido nas suas decisões nessa empresa;
8. livrá-lo da cadeia através de uma decisão amparada por uma eleição
simples dos seus próprios companheiros de trabalho;
9. o direito a criar leis que facilitem a vida dos seus aliados e dificultem a
dos seus concorrentes;
10. a transferência do seu lugar de trabalho para uma cidade isolada dos
grandes centros do país.

É perfeitamente compreensível que uma vaga com essas características


atraia o interesse de candidatos pouco republicanos. Mais do que isso – que
afaste do pleito a participação de pessoas que não estão dispostas a arcar com o
alto custo da empreitada, desconfiadas que o processo, muitas vezes perigoso, é
também viciado em proteger cartas marcadas.
E a oferta política mal construída não é o nosso único obstáculo. Ainda há os
problemas decorrentes do próprio eleitor. É simplesmente contraprodutivo
aguardar que o fim da eleição de corruptos se dê graças a um estalo de
consciência política mágico da população. Como afirma a “teoria da ignorância
racional”, formulada ainda na década de 1950 pelo economista Anthony Downs,

outubro2018
Clube SPA

as pessoas frequentemente escolhem – e fazem isso de forma racional –


permanecer ignorantes sobre determinados assuntos porque os custos de
coletar as informações necessárias para obter conhecimento são maiores que as
recompensas esperadas com esse trabalho todo.74
Tempo é um bem escasso. Acompanhar os processos políticos de um Estado
com tantas atribuições, seguindo as propostas e o trabalho de novos candidatos,
vereadores, deputados estaduais, deputados federais, senadores, governadores,
prefeitos e presidente da República, construindo uma base sólida de
conhecimentos ligados a diferentes áreas – da ciência política à economia – para
embasar críticas ou elogios, pode ser algo perfeitamente plausível para o leitor
deste livro, mas é uma tarefa inviável para a imensa maioria dos eleitores, que
entendem intuitivamente que cada voto tem um peso irrisório numa eleição, e
que, justamente por isso, sobram razões para gastar suas horas em outras
atividades. Para esse eleitor, permanecer ignorante em matéria de política traz
mais incentivos do que abrir mão das atividades com mais recompensas diárias,
como descansar com a família ou gastar tempo navegando sem propósito na
internet.
Outro economista, Bryan Caplan, vai além – afirma que os eleitores não são
apenas ignorantes, mas ainda piores: são irracionais e vaidosos. Para ele, não
existem incentivos para que o cidadão médio seja racional em relação à política.
Pelo contrário: muitas vezes é racional insistir em equívocos.
Imagine que um determinado país, a Estadolândia, possua uma democracia
direta para algumas importantes decisões e proponha um plebiscito a respeito
de aumentar as restrições do país ao comércio internacional. Se o eleitor médio
estadolandense for uma figura racional – leia-se, alguém disposto a buscar e
interpretar informações de forma isenta –, muito provavelmente a tendência é
que o plebiscito seja contrário a um maior protecionismo, a julgar que há
robustas evidências apontando que o livre comércio é um arranjo melhor para a
economia de um país (93% dos economistas acreditam que tarifas e cotas de
importação geralmente reduzem o bem-estar econômico geral75).
Se o eleitor médio, no entanto, acreditar que graves problemas podem
decorrer de uma abertura comercial (desemprego, crises econômicas, falência
de indústrias nacionais), superestimando suas crenças, apesar de todas as
evidências empíricas relevantes apontarem que no livre comércio os ganhos à
população são maiores do que as perdas, então muito provavelmente a política
irracional será a escolhida.
Para Caplan, no mundo real, em primeiro lugar, concordando com Anthony

outubro2018
Clube SPA

Downs, as pessoas não procurariam se informar sobre as evidências dos efeitos


positivos do livre comércio porque o peso de seu voto no resultado final de um
plebiscito seria irrelevante. Mas não apenas isso. Ainda que elas se
informassem, e exatamente por possuírem uma crença irracional a respeito
daquele assunto que é anterior à eleição, “é previsível que os eleitores adotem
seu pior comportamento cognitivo”76 e exibam “ausência de espírito crítico,
irritabilidade, credulidade e simplicidade”.77 O eleitor tomará suas decisões
baseado num profundo desinteresse, completamente dominado por
preconceitos e carregado de vaidades ao não querer arcar com o custo social de
mudar de opinião.
Para Caplan, portanto, o grande obstáculo para o sucesso de um país não
parte necessariamente dos seus políticos ruins, mas das falsas concepções
populares, das crenças irracionais assumidas pelo eleitor comum, que não
raramente elege o político ruim. Como diz o economista americano Thomas
Sowell, “o fato de que muitos políticos de sucesso são mentirosos, não é
exclusivamente reflexo da classe política, é também um reflexo do eleitorado:
quando as pessoas querem o impossível somente os mentirosos podem
satisfazê-las”.78
Para dificultar, portanto, a seleção adversa num processo eleitoral,
diminuindo o poder dos políticos corruptos e do eleitor irracional, nós
deveríamos apostar numa nova estrutura institucional, baseada em leis que:

1. permitam que o voto seja facultativo, afastando da urna eleitores pouco


interessados no processo político;
2. obriguem os partidos políticos a serem mais transparentes e menos
dependentes do dinheiro público, combatendo a natureza das legendas
de aluguel e o poder dos caciques em controlar a distribuição do dinheiro
internamente;
3. incentivem candidaturas mais baratas, com limites de gastos e
campanhas mais simples;
4. promovam campanhas eleitorais focadas em distritos menores, capazes
de fazer com que os candidatos lidem com um eleitorado em menor
escala, atendendo diretamente às suas cobranças, fazendo com que esses
eleitores tenham maior interesse pelo processo político;
5. limitem os partidos e os candidatos a buscar dinheiro junto aos próprios
eleitores, e não nos cofres públicos;
6. liberem a doação de pessoas jurídicas às campanhas eleitorais,

outubro2018
Clube SPA

estabelecendo não apenas um teto para a prática, mas também


impedimentos, para que essas empresas não participem de licitações
públicas durante o período de mandato do candidato agraciado e deixem
de receber benefícios fiscais ou qualquer tipo de subsídio (seja em nome
próprio, no de outra sociedade do grupo econômico ou no de pessoa
jurídica da qual o indivíduo constante do quadro social da doadora seja
sócio);
7. apliquem a penalidade de proibição de participar de licitações por um
longo tempo, com punição para os sócios, às pessoas jurídicas
condenadas por crimes de corrupção e caixa dois;
8. reduzam as regalias dos altos cargos públicos, benefícios que
transformam a classe política, e alguns dos servidores nas posições mais
importantes do país, numa casta privilegiada, distante da população;
9. criem instrumentos mais claros de recall político;
10. eliminem a sensação de impunidade de quem exerce o poder, com
punições mais duras aos crimes de corrupção, compra de votos e caixa
dois, maior agilidade na apuração e no julgamento de denúncias
envolvendo representantes políticos e maior integração de órgãos de
controle como Receita Federal, Polícia Federal e Tribunais de Contas;
11. facilitem a privatização ou desestatização de empresas públicas
inegavelmente ineficientes e prejudiciais aos pagadores de impostos,
excluindo cabides de emprego que servem apenas como moeda de troca
para a prática do fisiologismo político;
12. considerem a previsão expressa de que o mandato parlamentar pode ser
suspenso por decisão judicial fundamentada em caso de indícios de
prática de crimes hediondos ou contra a administração pública;
13. retirem a influência política dos tribunais de contas, aumentando a
participação de membros do Ministério Público Especial de Contas e do
corpo de auditores;
14. declarem a rejeição de contas de campanha como causa de
inelegibilidade;
15. incentivem a fusão de municípios com menos de 10 mil habitantes,
aumentando os ganhos de escala com o gasto público e diminuindo o
poder de coronéis locais;
16. indiquem penas mais duras para os prefeitos que não apresentarem as
contas de seus municípios até a data mencionada na Lei de
Responsabilidade Fiscal;

outubro2018
Clube SPA

17. indiquem penas mais duras aos servidores dos órgãos que falham com a
transparência da atividade pública, descumprindo a Lei de Acesso à
Informação;
18. diminuam o poder de rent-seeking da classe política, que é pouquíssimo
regulada e tem acesso a amplos poderes – e isso não será possível sem
necessariamente reduzir o grau de liberdade que os nossos legisladores
possuem para constituir regimes tributários especiais, fornecer
subsídios e alterar as regras do mercado, podendo favorecer
empresários aliados a bel-prazer;
19. regulem a atividade do lobby, para que ele seja feito de modo
transparente – e não jogado debaixo do tapete –, com agendas claras e
indicadores de performance para estabelecer por que deveríamos, por
exemplo, abrir mão de um determinado imposto para um setor
econômico ou criar uma determinada norma;
20. estabeleçam a obrigação da “análise de impacto regulatório“ – leia-se,
uma ampla investigação técnica que aponte malefícios e benefícios para
cada regulação proposta no país, impedindo eleitores e classe política de
apostarem em crenças irracionais.

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA


Quando compra e venda são reguladas por lei, a primeira coisa a ser comprada e vendida são os
legisladores.
– P.J. O’Rourke

O império do lobby

Em 1808, quando d. João VI, o Clemente, desembarcou no Rio de Janeiro,


fazendo com que pela primeira e única vez na história uma colônia passasse a
sediar uma corte europeia, o Brasil, embora vasto em terras, ainda era pequeno
em gente, com seus quatro milhões de habitantes.1
O monarca ancorou na Cidade Maravilhosa trazendo a companhia de um
infindável número de agregados, homens e mulheres da corte portuguesa que
se espalharam pelo Rio em residências da própria população, confiscadas. Cada
moradia era assinalada com duas iniciais: “P.R.”, “Príncipe Regente”, logo
transformadas em “Ponha-se na Rua” ou “Prédio Roubado” pelo imaginário
carioca.
O Rio virou um caos. De dez a quinze mil portugueses invadiram a cidade do
dia para a noite, demandando o primeiro auxílio-moradia em massa da nossa
história. Com sessenta mil habitantes, três vezes menos do que Lisboa,2 a nova
capital do Império não oferecia a mínima estrutura para acolher seus novos
moradores. Mais do que isso, a chegada dos portugueses havia retirado
qualquer motivo para a construção de novas residências, já que cada antigo
habitante alimentava o receio de perder suas moradias confiscadas sem
indenização.
A lei era categórica: brasileiros que possuíssem mais de uma habitação
teriam de cedê-la aos cortesãos portugueses em troca de um arrendamento. Em
pouco tempo os aluguéis explodiram. A imposição provocou um novo sistema
de rentismo. Quem tinha imóvel poderia então viver do aluguel do aposento.
Vivia literalmente de uma aposentadoria.
Assim que pisou em solo carioca, dom João VI passou pelo mesmo problema.
O Rio não possuía apenas carência de espaços residenciais, mas especialmente
ausência de moradias suntuosas para acolher a alta nobreza lusitana. O príncipe
regente, entretanto, futuro rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves,
seria salvo por uma figura improvável: um traficante de escravos sírio-libanês
chamado Elias António Lopes, nome aportuguesado de Elie Antun Lubbusum.

outubro2018
Clube SPA

Foi esse empresário, forjado no coração de um sistema que carregara à força


milhões de negros à servidão além-mar, o responsável por presentear a alteza
lusitana com uma resolução para a crise habitacional – cedendo ao monarca a
melhor residência da cidade, no mais belo terreno do Rio.
Elias apostava numa pechincha real. Estava disposto a entregar sua
residência, um casarão sobre uma colina com uma vista excepcional da baía de
Guanabara, em troca de postos e condecorações. A tática deu certo. A Quinta da
Boa Vista, como a residência ficaria conhecida, abrigaria os Bragança no Brasil
por 81 anos e o empresário abraçaria o status de “amigo do rei” até a morte.3
Na prática, o presente foi um grande investimento, parte importante de um
toma lá dá cá imperial. Ainda em 1808, Elias receberia do monarca a comenda
da Ordem de Cristo e a propriedade do ofício de tabelião e escrivão da Vila de
Paraty, em retribuição ao “notório desinteresse e demonstração de fiel
vassalagem, que vem de tributar a minha Real Pessoa”. Pouco tempo depois, o
traficante herdaria do mesmo dom João VI o posto de deputado da Real Junta do
Comércio, seria sagrado cavaleiro da Casa Real, agraciado com a perpetuidade
da Alcaideria-Mor e do Senhorio da Vila de São José Del Rei, e nomeado corretor
e provedor da Casa de Seguros da Praça da Corte.
Quando Elias morreu, em 1815, depois de tornar-se responsável pela
arrecadação de impostos de diferentes localidades, tinha em seu nome 110
escravos e uma fortuna avaliada em 236 contos de réis, distribuídos em
fazendas, palácios, navios negreiros e ações do Banco do Brasil.4
O lobby definitivamente havia funcionado. E não tinha a menor intenção de
abandonar as raízes do poder.
Na chegada da Família Real ao Brasil era perfeitamente comum que senhores
de engenho e traficantes de escravos estabelecessem um sistema de trocas
ordinárias com o rei, que chegou ao Brasil praticamente falido. O país, que
desde a sua gênese estava condenado a sobreviver à cultura do “quem quer rir
tem que fazer rir”, da mistura prostituída do público com o privado, vivia agora,
com a chegada da corte portuguesa, um novo ciclo de subdesenvolvimento: uma
explosão de novos amigos da realeza, dispostos a adquirir títulos nobiliárquicos
e alcançar as mais altas posições sociais a qualquer custo.
Na chegada da Família Real ao Rio de Janeiro, o Brasil estava dividido ao
meio. Havia a corte de um lado, amparada por um direito considerado divino de
governar como bem entendesse, distribuindo privilégios aos caprichos do
monarca, embora com a evidente desvantagem de não ter grandes quantias em
dinheiro; e a colônia de outro, já mais rica do que a metrópole, mas ainda

outubro2018
Clube SPA

iletrada, suja e ignorante, sem qualquer refinamento ou traço de nobreza.


Em apenas oito anos, dom João VI distribuiu mais títulos nobiliárquicos do
que em séculos de monarquia portuguesa. Até aquele momento, Portugal havia
nomeado, em títulos hereditários, 16 marqueses, 26 condes, 8 viscondes e 4
barões. Nesse curtíssimo intervalo de tempo, o Brasil viu surgir, em títulos ad
personam, 28 marqueses, 8 condes, 16 viscondes e 21 barões.5
No Rio, um ditado popular logo ganhou corpo nas ruas:

Quem furta pouco é ladrão,


quem furta muito é barão,
quem mais furta e mais esconde
passa de barão a visconde.

Seu alvo era o tesoureiro-mor do Reino, Francisco Bento Maria Targini,


agraciado com o título de barão de São Lourenço, em 1811, elevado a visconde,
em 1819. Targini teve rápida elevação ao posto de homem forte das finanças do
Reino com o apoio de um poderoso grupo de negociantes ingleses. Um dos
boatos que circulavam pela capital do Brasil envolvendo o seu nome dizia
respeito à compra de mantas para o Exército que Targini fizera a um fornecedor
britânico. O tesoureiro-mor teria mandado dividir cada uma das peças ao meio,
revendendo-as depois ao governo pelo dobro do preço original.6
O lobby para atender a interesses privados era presença constante no século
XIX. Em 16 de janeiro de 1827, Felicio Moniz Pinto Coelho da Cunha, ex-sogro
de Domitila de Castro Canto e Melo, já marquesa de Santos, escreveu uma carta
à amante de dom Pedro I em busca de favores especiais, pedindo ajuda para
vender aos ingleses suas lavras de minérios na província de Minas Gerais.
Felicio prometia pagar a Domitila uma comissão equivalente à metade do valor
da operação, que seria superfaturada.7
Como diferentes embaixadores atestam, a marquesa de Santos promovia um
poderoso tráfico de influência junto à corte, além de conseguir títulos reais para
seus parentes. Quem nutrisse a audácia de pedir um favor especial a dom Pedro,
inclusive para dificultar a vida de um adversário ou concorrente, poderia
consegui-lo por meio de sua amante. Não sem motivo, sua riqueza triplicou
desde a chegada à nobreza. Domitila tinha terras, escravos, fazendas, e
rapidamente alcançou o posto de mulher mais rica de São Paulo.
Em seu inventário, além das diversas casas na cidade e no campo, alimentava
também uma coleção de joias, com diamantes e rubis, muitas delas com retratos

outubro2018
Clube SPA

de dom Pedro, presenteadas pelo próprio imperador. No total, seus bens


inventariados chegaram a 1.308:848$600 (um mil, trezentos e oito contos,
oitocentos e quarenta e oito mil e seiscentos réis), valor tão impressionante
que, à época de seu falecimento, seria suficiente para alimentar, com um prato
de feijoada, mais de seis milhões de pessoas. Em valores atualizados, ele
corresponde a uma fortuna estimada em R$ 120 milhões.8
Domitila foi certamente uma das primeiras figuras a ganhar fortunas com o
lobby em nosso país. Mas não foi a única. A história do Brasil pode ser resumida
como uma coleção de grupos de pressão buscando conquistar o máximo de
privilégios por meio da atividade política, dentro ou fora do serviço público. Nós
somos inquestionavelmente dominados pelo lobby. Da formação das nossas leis
à construção das nossas ruas. Mas antes de conhecer como ele funciona por
aqui, precisamos entender o que ele significa de verdade.

Rent-seeking é a expressão mais importante da


política brasileira (e você já deveria saber disso)

Lobby é uma expressão universalmente conhecida como um amplo salão de


entrada presente em grandes hotéis. É nesses espaços que, em geral, grupos de
pressão buscam espremer autoridades governamentais para o atendimento de
seus interesses – uns repúblicos, outros ilícitos. A palavra se popularizou com o
18º presidente dos Estados Unidos, o republicano Ulysses S. Grant. Apreciador
de um bom conhaque, Grant era abordado todas as noites por inúmeras figuras,
sobretudo empresários, no lobby do hotel Willard, enquanto fumava seus
charutos, descansando de mais um dia de trabalho. O republicano se referia
àquelas pessoas como “os lobistas do hotel Willard”.9
O fenômeno é global. E como as manchetes dos jornais escancaram com
frequência, também insistentemente presente no Brasil.
Imagine por um instante que você é um grande empresário. Desses que a
gente desenha sempre que procura construir a imagem de um bonachão
capitalista: um com terno e gravata, relógio de ouro, fumando um charuto no
alto de um prédio comercial, com os pés apoiados em uma mesa de mogno.
Você tem uma coleção de zeros em sua conta bancária, centenas de
empregados, dúzias de gente puxando seu saco diariamente e uma grande
preocupação na cabeça: como manter tudo isso funcionando a pleno vapor, 24
horas por dia.

outubro2018
Clube SPA

Há duas possibilidades aqui. Você pode arriscar enfrentar dezenas, talvez


centenas de empreendedores numa livre competição de mercado, buscando
oferecer o melhor serviço, com o melhor preço, e assumindo o risco dos seus
investimentos. Ou pode esquecer tudo isso e bater numa sala em Brasília,
colocar um ou outro político no bolso e burlar as regras do jogo. Nesta opção,
dependendo da sua oferta, você provavelmente conseguirá privilégios como
isenções tributárias, barreiras aos seus concorrentes, concessões de crédito
subsidiado a juros baixos, amplo acesso a licitações fraudulentas e proteções
alfandegárias, garantindo à sua empresa um lugar cativo no reino dos
escolhidos.
Economistas como James M. Buchanan e Gordon Tullock, dois dos principais
nomes por trás da teoria da “escolha pública” (Buchanan inclusive ganhador do
Nobel de Economia em 1986), há décadas chamaram a atenção para este fato:
grupos de interesses privados, especialmente grandes empresas, no lugar de
investirem em melhores serviços ou produtos para os seus clientes ou
associados, frequentemente optam por pagar a lobistas, fazer contribuições de
campanha ou corromper políticos para garantir privilégios. É daí que vem,
inclusive, a expressão rent-seeking – “busca de renda”, numa tradução literal –, a
manifestação da tentativa de obter renda pela manipulação do ambiente de
mercado ou político. No rent-seeking, agentes privados usufruem privilégios
pagos forçosamente por consumidores e pagadores de impostos. E não apenas
isso: causam um prejuízo ainda maior, se considerarmos que, em vez de
aplicarem seus recursos para produzir melhores produtos ou serviços a preços
mais baixos, melhorando os padrões de vida gerais, esses agentes preferem
empregá-los viciando e estagnando o próprio mercado.
Há diferentes níveis de rent-seeking. A busca de renda acontece, por
exemplo, quando uma determinada categoria consegue a aprovação de uma
regulação que limita o número de profissionais autorizados a atuar em seu
setor, bloqueando a entrada de novos concorrentes no mercado. Imagine um
aplicativo de celular que ofereça um bom serviço de transporte privado. Aos
antigos e improdutivos atores desse setor, acostumados em alcançar um grande
número de clientes sem grandes esforços, é inegavelmente mais fácil procurar
impedir a atuação de seus concorrentes do que buscar melhorar seus serviços
no mercado. A aprovação de uma lei que inibe a competição atua, portanto,
como uma garantia de renda aos lobistas, bancada pelos consumidores
proibidos de consumir os serviços de seus competidores.
Há rent-seeking também quando empresas ou indústrias nacionais praticam

outubro2018
Clube SPA

lobby pelo aumento das tarifas de importação dos produtos estrangeiros que
concorrem diretamente com elas no Brasil. Essas empresas, protegidas da
concorrência, não comungam de qualquer incentivo para oferecer bons
produtos ou serviços a preços mais baixos para dominar seus setores de
atuação. Pelo contrário. Ao afastar concorrentes diretos, podem inclusive fixar
os preços mais elevados, lucrando acima do que seria possível num livre
mercado, sem necessariamente fornecer bons produtos, prejudicando os mais
pobres. Como aponta um relatório publicado pelo Banco Mundial em março de
2018:10

A liberalização do comércio é outro elo importante entre produtividade e


inclusão: ela aumenta a produtividade e pode reduzir diretamente a
pobreza pela redução de preços e ampliação da produção, conforme
demonstrado pela experiência do Brasil na década de 1990. Novas
conclusões deste relatório mostram que a redução das tarifas de 30,5 por
cento para 12,8 por cento entre 1990 e 1995 no Brasil beneficiou as
famílias na média em toda a distribuição de renda. O crescimento da
produtividade introduzido pela liberalização comercial favoreceu os mais
pobres com melhorias de renda e consumo. Os benefícios reais de renda
para famílias no quintil mais baixo da distribuição de renda chegaram a
quase 4 por cento da renda total per capita do agregado familiar,
enquanto os benefícios para o quintil mais alto atingiram apenas 2 por
cento. Isso se deveu à abertura comercial, que criou empregos e
aumentou os rendimentos trabalhistas em maior proporção para
trabalhadores menos qualificados e menos favorecidos (os salários dos
trabalhadores qualificados caíram em relação aos de trabalhadores
menos qualificados, devido à redução na proteção de setores de maior
capacitação, como a eletrônica, contribuindo para o declínio do skill
premium). A abertura do comércio também reduziu os preços dos bens
comercializáveis que eram comparativamente mais consumidos pelos
pobres (as famílias no quintil mais baixo atribuíram uma parcela maior do
seu orçamento a produtos como alimentos e roupas, em comparação aos
quintis superiores, que gastam mais com serviços).

Mesmo agentes de áreas ligadas à cultura ou educação realizam rent-seeking


quando cobram mais investimentos, proteções de mercado ou crédito
subsidiado em seus setores. Esses mesmos agentes, inclusive, não raramente
apelam aos mesmos instrumentos para a busca de renda: propaganda e

outubro2018
Clube SPA

retórica, quase nenhum dado concreto sobre os efeitos do privilégio requisitado


e escassa investigação sobre quem realmente recebe os benefícios (em geral,
grandes produtores culturais ou donos de universidades privadas) e quem paga
por eles (em geral, seus concorrentes sem recursos aos atalhos do poder e os
pagadores de impostos).
Quase todos esses lobistas, aliás, têm em comum o fato de suas justificativas
sempre girarem em torno de supostos benefícios coletivos: a soberania
nacional, a segurança dos consumidores, a preservação dos empregos, a renda
gerada para a economia, o desenvolvimento das crianças, a defesa da
cultura/indústria brasileira.
E os lobistas não são os únicos a atuar nesse jogo em interesse próprio. Os
políticos estão longe de exercer seus cargos como agentes passivos nessa
abordagem. Quer dizer, não é como se o altruísmo fosse um instrumento
passível de ser acionado com um simples botão e cada representante eleito
abandonasse a condição humana de atuar em autointeresse. Os eleitos,
independentemente de partido ou ideologia, em qualquer época ou lugar, são
suscetíveis às mesmas motivações tanto na vida pública quanto na vida privada,
e ignorar esta informação é provavelmente o maior equívoco que cometemos
na nossa relação com a política.
Como George Stigler, Richard Posner e diferentes economistas da Escola de
Chicago apontaram ainda na década de 1970: ao constituir tamanho poder
sobre uma parcela significativa da economia nacional, com direito a modificar
as regras do jogo a qualquer momento, as autoridades governamentais acabam
recebendo imensos incentivos pessoais na oferta de benefícios para os setores,
em troca de contribuições de campanha (por meios legais ou caixa dois) ou
divisão de superfaturamento nas obras públicas. As suas decisões políticas,
portanto, longe de atenderem a um suposto interesse coletivo, são resultado de
um jogo em que cada representante do Estado e de grupos de interesse negocia
privadamente a melhoria de seu bem-estar.
E ainda há um outro problema de ordem coletiva nessa relação entre público
e privado. Esta não é uma luta em igualdade. Grupos de pressão enfrentam um
negócio que a microeconomia chama de free rider problem, que é o que acontece
quando um ou mais agentes econômicos acabam pegando carona num
determinado benefício, sem realizar qualquer contribuição para isso. Isso é um
problema porque, como as conquistas desses grupos alcançam todos os seus
membros (por exemplo: nenhum brasileiro pode ser excluído do benefício da
segurança pública, inclusive os que quase não pagam impostos ou aqueles que

outubro2018
Clube SPA

são contrários à existência dela), os indivíduos escolhem racionalmente não


assumir esses custos (organizar ou participar de protestos, utilizar recursos
para o lobby, procurar convencer outras pessoas de suas pautas etc.). Quanto
mais dividido for o benefício, maior é a expectativa para que outros membros
do grupo realizem esse trabalho. Ou, como disse o economista Mancur Olson,
quanto maior for o grupo de pessoas envolvidas, “mais distante ele ficará de
atingir um ponto ótimo de provimento do benefício coletivo, e os grupos muito
grandes normalmente não conseguirão se prover, na ausência de coerção ou
incentivos independentes e externos, nem sequer de quantidades mínimas do
benefício coletivo”. Nos grupos grandes, portanto, os indivíduos tendem a
adotar comportamentos do tipo free rider.
Vamos considerar a democracia uma espécie de colcha de retalhos
improvisada, por onde indivíduos, ideologias e grupos de pressão interagem de
modo completamente desordenado, competindo uns com os outros em busca
de vantagens bancadas por grupos menos organizados (grupos de pressão
como grandes empresas, prefeitos, governadores e movimentos sociais
procuram somar o máximo de repasses e benefícios possíveis para suas causas
por meio de uma fonte escassa, que é o bolso dos pagadores de impostos).
Diante desse incentivo ao não engajamento, os grupos que obtêm maiores
conquistas são exatamente os mais restritos, capazes de gerar grandes
benefícios diretamente a quem se envolver na atividade do lobby.11
Ou seja, grupos com interesses econômicos bem definidos (como sindicatos
de taxistas, associações de juízes e desembargadores, grandes bancos,
montadoras de veículos e empreiteiras) têm chances maiores de garantir
benefícios públicos do que grupos que patrocinam causas coletivas, com
interesses difusos e por vezes contraditórios, sem homogeneidade – como a
saúde pública, o bem-estar das pessoas na terceira idade ou a proteção aos
animais.
A estrutura do lobby segue alguns incentivos universais. Por exemplo:
quanto mais caro for o custo de uma eleição (e a nossa está entre as mais
onerosas do mundo), maior será a propensão dos políticos para receber
contribuições de campanha – o que, por sua vez, aumentará a influência dos
grupos de pressão sobre as suas decisões. Na prática, quanto maior o peso que o
político dá às contribuições, maior será a diferença de tratamento entre ele e o
seu financiador.
Outro exemplo: grupos de pressão tendem a contribuir nas eleições, mesmo
que isso funcione apenas para manter seu status. As marcas mais conhecidas do

outubro2018
Clube SPA

mundo são as que mais gastam com marketing. No lobby político funciona mais
ou menos da mesma maneira.
Quanto menor é a importância monetária de um grupo de pressão numa
campanha eleitoral, menor é a capacidade desse grupo de evitar o sucesso de
seus concorrentes no período pós-eleitoral. O cálculo do lobby deve ser
equilibrado: para o político, vender seu papel por um preço superior ao bem-
estar especulado pelo grupo de pressão é muito provavelmente optar ser
preterido pelo grupo, que buscará apoiar outro candidato ao pleito; ao grupo de
pressão, em contrapartida, a sua doação deve ser suficiente para compensar o
político pela perda de bem-estar decorrente de sua decisão de apoiá-lo em
detrimento de outro grupo.12
Grupos de pressão, a propósito, não bancam apenas favores políticos, mas
principalmente salvo-condutos para evitar desfavores da classe política.
Rent-extraction, ou extração de renda, segundo definida pelo economista
Fred S. McChesney,13 é essencialmente um modelo de extorsão dos políticos.
Nesse caso, eles são pagos não para legislar em defesa de um grupo de pressão,
mas para não ameaçar atrapalhá-lo. A preocupação é legítima. O status de
regulador confere poder não apenas para criar facilidades, mas também para
impor custos. Considerando que o governo pode legalmente tributar, os
políticos se sentem no direito de extorquir grupos privados sob a ameaça de
expropriar seus rendimentos.
Além disso, para que os políticos sejam pagos para não regular, suas
ameaças devem ser minimamente convincentes, caso contrário haverá poucos
incentivos para afastar a ação do rent-extractor.14
Em resumo, seja para se beneficiar das decisões públicas (no rent-seeking),
seja para evitar desfavores políticos (no rent-extraction), os grupos de pressão
procurarão influenciar as decisões políticas. E o resultado dessa combinação
muito provavelmente será positivo para eles.
O cientista político Dalson Britto Figueiredo Filho pesquisou dezenas de
artigos internacionais que investigam empiricamente, em votações ocorridas
em inúmeros países em todo o planeta, se os políticos se comportam de acordo
com a vontade de seus financiadores de campanha. Segundo a amostra, em
60,5% das publicações, o autor encontrou evidências estatisticamente
relevantes de que as doações de campanha influenciam suas decisões.15

Robin Hood às avessas

outubro2018
Clube SPA

Como a história narra, grupos de pressão buscando renda por meio da


política é uma prática recorrente no Brasil. O diplomata Mário Augusto Santos,
num trabalho sobre o papel da Associação Comercial da Bahia, em
funcionamento desde 1811 e provavelmente a mais antiga em atividade no país,
aponta inúmeros exemplos de como a entidade atuou em defesa dos interesses
de seus associados perante o Congresso Nacional da Primeira República.16 E
não faltaram grupos como ela em nosso passado. Como conta o cientista político
Murillo de Aragão:

Um exemplo notável da atuação dos grupos de pressão no Brasil foi o


debate e aprovação do Código Nacional de Radiodifusão, em 1962, cujos
mais de 50 vetos presidenciais foram derrubados no Congresso Nacional
por conta da poderosa mobilização dos proprietários de emissoras de
rádio e TV do país. Em decorrência do sucesso desta ação de lobbying, os
radiodifusores criaram a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e
Televisão (Abert), uma das mais atuantes entidades empresariais no
Congresso Nacional. O jornalista João Calmon, que liderou o movimento
em defesa dos interesses dos radiodifusores, terminou entrando na
carreira política sendo senador por muitos anos.

O mesmo Murillo de Aragão, aliás, identificou a participação de 383 grupos


de pressão e entidades públicas e privadas nas batalhas de influência na
concepção da nascente Constituição brasileira em 1988. E vale destacar que
esse número não representa o total de grupos de pressão envolvidos, visto que
não existia obrigatoriedade de identificação do grupo perante a Mesa Diretora
da Assembleia Nacional Constituinte. O lobby, especialmente sindical, é parte
muito importante da construção da nossa Carta Magna.17
Há dois modelos possíveis de lobby: o que é feito às claras e o escondido. Os
Estados Unidos muito provavelmente são o grande exemplo de país que tenha
permitido ao longo de sua história uma maior atenção legislativa à prática.18
Não é o nosso caso.
No Brasil, pouco se sabe sobre a comunidade de lobistas – o que dificulta
consideravelmente o trabalho de pesquisadores interessados em analisar esse
fenômeno. Apesar disso, o regimento interno da Câmara dos Deputados admite
o credenciamento de entidades que “possam, eventualmente, prestar
esclarecimentos” à Casa.19 Graças ao cadastro da Primeira Secretaria da Câmara
dos Deputados é possível entender, ainda que com limitações, como a prática
atua por aqui. Ao todo, 179 organizações tinham representantes credenciados

outubro2018
Clube SPA

junto à Mesa Diretora da Câmara dos Deputados no biênio 2011-2012.


Essas organizações, como aponta um relatório publicado pelo Ipea em
setembro de 2017,20 podem ser divididas em quatro grupos:

• Noventa e quatro representantes do mundo do capital e do trabalho


(52,5% do total de organizações cadastradas na Câmara), entre
associações empresariais, sindicatos, entidades do Sistema S e
organizações de profissionais liberais;
• Setenta e nove representantes do setor público (44,1% do total), sendo a
grande maioria deles ligada ao Poder Executivo federal, com cinco
entidades do Poder Judiciário;
• Quatro organizações não governamentais (ONGs) ou representantes da
sociedade civil (2,2% do total), não ligados diretamente à produção ou à
distribuição de bens e serviços;
• Duas organizações que não puderam ser classificadas (1,1% do total).

Outra forma de estruturar as engrenagens do lobby no Brasil é analisar o


engajamento dos nossos congressistas com as chamadas frentes parlamentares,
que você muito provavelmente já ouviu falar como “bancadas”: ruralista, da
bala, ambientalista, evangélica.
Em abril de 2018, existiam 319 frentes parlamentares registradas sobre os
mais variados assuntos na legislatura 2015-2018 – da que propõe o
fortalecimento das relações comerciais entre o Brasil e o Texas à que defende a
vaquejada, da que atua em defesa do escotismo no Brasil à que luta em favor da
vida e da família.21 Estar inserido numa dessas frentes é uma espécie de
sinalização do parlamentar a assumir publicamente seu compromisso com
determinados interesses no Congresso Nacional. Vale tanto para as empresas
quanto para o seu nicho eleitoral.
Ao cruzar os dados de filiação a essas frentes com as doações recebidas por
seus membros durante o período eleitoral, o economista Bruno Carazza
descobriu que o percentual de parlamentares que receberam contribuições de
empresas dos setores abraçados por suas bancadas em geral cresceu entre a
legislatura 2011-2015 e a 2015-2018, na última eleição majoritária em que as
doações empresariais legais foram permitidas. E nunca é demais lembrar que as
doações ocultas, o famoso caixa dois, quando empresas privadas doam
ilegalmente para candidatos sem declarar o valor, mesmo crime, ainda é prática
comum, e não deve ser ignorado no cálculo de incentivos políticos no Brasil.

outubro2018
Clube SPA

Considerando as 235 frentes parlamentares registradas até o momento em


que sua tese de doutorado foi redigida,22 Carazza destaca que as bancadas que
mais receberam doações de empresas do setor foram as com os perfis mais
abrangentes, como as frentes de apoio à indústria (com quase 90% de seus
membros com financiamento de empresas industriais) e as relacionadas ao
setor de construção civil e infraestrutura: Habitação e Desenvolvimento Urbano
(65,4%), Mercado Imobiliário (60,7%) e Infraestrutura (60%).
O resultado não provoca qualquer surpresa. Quanto mais abrangente a
atuação da bancada, mais setores econômicos ela acaba defendendo. A
conclusão mais relevante dessa pesquisa vem justamente das frentes
parlamentares com foco mais restrito de atuação. Nesse campo, destacam-se as
bancadas de apoio à indústria têxtil e de confecção (54,3% de seus membros
com doações do setor), do setor sucroenergético (41,7%), da mineração
(38,2%) e da indústria marítima (36,2%).
Cabe destacar também a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que
você muito provavelmente conhece como “bancada ruralista”. Na pesquisa feita
por Carazza, esse grupo apresentou um percentual relativamente baixo de
membros que foram agraciados com recursos de empresas do setor – em torno
de 23%. Há outra informação relevante, no entanto, que não deve ser
desconsiderada a seu respeito: 13 membros da 54ª Legislatura e 12 na 55ª,
mesmo não tendo recebido doações de empresas da categoria, declararam atuar
como “produtores rurais”, “pecuaristas”, “agricultores familiares”,
“agropecuaristas” e afins, indicando um evidente interesse em comandar a
forma como esse setor é regulado.
Em 2014, quase metade dos deputados federais eleitos recebeu
financiamento de doadores que estavam na lista de autuados do Ibama. Dos 513
eleitos, 249 faturaram um total de R$ 58,9 milhões em doações oficiais de
pessoas físicas e jurídicas que desmataram e queimaram florestas, entre outros
crimes e infrações ambientais.23
É importante também ressaltar que entrar numa dessas bancadas tem um
custo irrisório aos parlamentares, que basicamente precisam assinar uma lista
de filiação, sem necessariamente se envolver com qualquer discussão ou
elaboração de projetos de lei que beneficiem um determinado setor. Além disso,
é perfeitamente compreensível que um parlamentar participe de uma bancada
sem receber doações, interessado no capital eleitoral daquele tema (como, por
exemplo, ser membro da Frente Parlamentar em Defesa da Conclusão das Obras
de Duplicação da BR-116, trecho Guaíba-Pelotas/RS, ou dos Interesses da Classe

outubro2018
Clube SPA

dos Taxistas).
As bancadas, claro, não são os únicos termômetros da atividade parlamentar
para identificar o papel que o lobby exerce no Congresso. Há também as
comissões, órgãos de suma importância da estrutura do Congresso, a julgar que
possuem competência para regular o processo legislativo, fiscalizar o Poder
Executivo e ainda estabelecer interlocução com a sociedade (mediante, entre
outras coisas, a realização de audiências públicas).24 É nesses lugares que
ocorrem as interações legais entre os parlamentares com os diferentes grupos
de pressão.
De acordo com o cientista político Manoel Leonardo Santos,25 após analisar
481 propostas legislativas de interesse da Confederação Nacional da Indústria
(CNI) que tiveram sua tramitação encerrada entre 1993 e 2010, o lobby teve
sucesso em 63% delas. Um importante ponto de destaque desse levantamento é
que boa parte do resultado positivo da indústria esteve presente em
proposições que não viraram norma jurídica (39% nas arquivadas, 10% nas
prejudicadas, 13% nas rejeitadas). Como afirma Manoel, “é factível especular
que este sucesso está associado à manutenção do status quo”. Ou seja, grande
parte do êxito do lobby desse setor reside no fato de que a realidade não foi
alterada. Vale lembrar que o Brasil está na posição 125 no ranking de facilidade
de fazer negócios do Banco Mundial, atrás de países como Irã, Tadjiquistão e
Uganda.26 Nós também somos os campeões mundiais em burocracia fiscal27 e a
economia mais fechada do G20.28 Na prática, os grandes lobistas que atuam no
Brasil pressionam o país a manter sua economia fechada – tanto internamente,
com setores dominados por essas empresas, quanto externamente, sem risco de
sofrer concorrência do mercado internacional.
Manoel também destaca que dessas 481 propostas legislativas de interesse
da Confederação Nacional da Indústria, apenas 34 – ou 7,1% do total – foram a
Plenário. As demais terminaram nas próprias comissões, que possuem
capacidade legislativa plena, prevista na Constituição.
O fato é revelador de como as comissões atuam como um lugar privilegiado
para os lobistas. E por duas razões. Primeiro porque nelas os custos de
convencimento são bem menores do que no Plenário (a julgar que o total de
membros de uma comissão é consideravelmente inferior à soma de todos os
parlamentares eleitos). Depois porque esses trabalhos legislativos estão menos
sujeitos ao escrutínio público, visto que o expediente nas comissões é pouco
noticiado. Levantar interesses de lobby longe do Plenário evita grandes
resistências da opinião pública. E é exatamente por isso que esses espaços

outubro2018
Clube SPA

demandam uma análise ainda maior.


Como Carazza revela, com exceção de quatro comissões (Finanças e
Tributação, Relações Exteriores e de Defesa Nacional, Fiscalização Financeira e
Controle e Legislação Participativa), todas as demais permanentes da Câmara
dos Deputados (são 2529) possuem mais da metade de seus membros
vinculados a bancadas que tratam de matérias sujeitas à sua competência
regimental. Mais do que isso: há também uma relação importante entre o
financiamento eleitoral empresarial – neste caso legal, já que a análise diz
respeito à campanha de 2014 – e a participação nas comissões.
O resultado mais marcante, por motivos óbvios, é o da Comissão de
Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio: na campanha de 2014,
quase todos os seus membros (96,7%) receberam contribuições de empresas
do setor industrial e comercial. Esse número, no entanto, precisa ser
relativizado – 91% dos deputados eleitos em 2014 receberam doações de
empresas industriais ou comerciais.
Há outras comissões, porém, que chamam a atenção. É o caso das comissões
de Desenvolvimento Urbano (em que 75,8% de seus membros receberam
doações dos setores da construção civil e água e esgoto), de Finanças e
Tributação (em que 61% de seus membros receberam apoio do setor
financeiro) e de Minas e Energia (com 46,7% de seus membros financiados
eleitoralmente por empresas mineradoras ou do setor de energia).
E isso é apenas parte da história. Além de promover suas propostas, os
lobistas também se preocupam com uma “agenda defensiva”, contrária a
projetos de lei que afetam negativamente seus interesses.
Como Carazza demonstra, essa lógica é evidenciada, por exemplo, pela
tendência do setor agropecuário de financiar uma parcela consideravelmente
maior dos membros da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável. Dificultar o trabalho de grupos de pressão com pautas antagônicas
é parte importante do lobby. É por esse motivo que todos os setores
econômicos, independentemente da área de atuação, buscam marcar presença
nas comissões de Finanças e Tributação (na qual as matérias tributárias são
discutidas) e de Relações Exteriores e Defesa Nacional (em que os debates
relacionados a importação e exportação acontecem).
Há também os relatores, um ator especialmente importante para os grupos
de pressão, tanto para garantir a aprovação ou o incremento de dispositivos
quanto para evitar uma piora em seu status. Quase 54% das 180 medidas
provisórias editadas entre 2003 e 2014 cujo objetivo era beneficiar

outubro2018
Clube SPA

explicitamente um determinado setor foram relatadas por parlamentares que


receberam doações do mesmo setor nas eleições anteriores.
Por fim, é possível medir também o grau de influência do lobby na atividade
parlamentar brasileira por meio da proposição de emendas. Considerando as
3.806 emendas propostas por deputados nas medidas provisórias publicadas
entre 2003 e 2014 em que expressamente se mencionava, em sua justificativa, o
setor econômico a ser beneficiado, 55% foram propostas por deputados que
receberam recursos de empresas desse setor.
O lobby é tão influente no trabalho do Congresso que projetos de lei são
escritos literalmente pelos próprios grupos de pressão. É o caso do PL30 que
regulamenta aplicativos de carona paga no Brasil, como o Uber ou o Cabify. Ele
foi redigido no Sindicato de Taxistas de São Paulo.31
A proposta para o projeto de lei nº 28/2017, que teve iniciativa do deputado
Carlos Zarattini (PT/SP), teve como coautores os parlamentares Luiz Carlos
Ramos (PTN/RJ), Osmar Serraglio (MDB/PR), Laudivio Carvalho (SD/MG) e
Rôney Nemer (PP/DF). Todos, com exceção de Serraglio, são integrantes da
Frente Parlamentar em Defesa dos Interesses da Classe dos Taxistas,
coordenada pelo próprio Zarattini.32
De forma muito parecida, lobistas empresariais foram autores de uma em
cada três propostas de mudanças apresentadas por parlamentares na discussão
da recente Reforma Trabalhista. Os textos foram protocolados por vinte
deputados federais como se tivessem sido elaborados por seus gabinetes. Mais
da metade dessas propostas foi incorporada ao texto apoiado pelo Palácio do
Planalto. Das 850 emendas apresentadas por 82 deputados durante a discussão
do projeto na comissão especial da Reforma Trabalhista, 292 (34,3%) foram
integralmente redigidas em computadores de representantes da Confederação
Nacional do Transporte (CNT), da Confederação Nacional das Instituições
Financeiras (CNF), da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Associação
Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística).33
E a manipulação do trabalho do Congresso não é interesse exclusivo dos
grandes grupos de interesse, como sindicatos e associações empresariais. As
grandes empresas fazem o mesmo. Em uma década, a Odebrecht usou
influência e propina na tramitação de pelo menos catorze propostas no
Congresso, das quais pelo menos doze eram medidas provisórias. A articulação
custou no mínimo R$ 18,1 milhões em repasses aos congressistas, além de
doações milionárias para campanhas. Como contrapartida, a empresa se
beneficiou com redução de impostos, benefícios fiscais e a obtenção de

outubro2018
Clube SPA

contratos para suas subsidiárias.34


Vale destacar que, em quase trinta anos, o Congresso aprovou apenas quatro
projetos de iniciativa popular, nenhum deles tratado formalmente como de
autoria da população.35
Nem os políticos escapam do lobby em causa própria.
Em 2017, o deputado federal Sandro Alex Cruz de Oliveira (PSD-PR)
escreveu um projeto de lei obrigando smartphones comercializados no Brasil a
terem rádio FM.36 O deputado, segundo um processo judicial,37 é listado como
proprietário de uma rádio, a Rádio Mundi FM,38 de Ponta Grossa, no Paraná. A
emissora foi construída por Sandro em parceria com o irmão, Marcelo Rangel
(PSDB-PR), atual prefeito de Ponta Grossa.39 Para driblar a Constituição, que
proíbe deputados e senadores de “firmar ou manter contrato com pessoa
jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia
mista ou empresa concessionária de serviço público”40 – o que inclui a
concessão de radiodifusão –, a emissora é registrada em nome dos pais do
deputado do PSD: Maria Luiza de Conceição Cruz de Oliveira e Nilson Paulino de
Oliveira.
E defender empresas da família por meio de regulação não é a única forma
de legislar em causa própria no Congresso Federal. Quando analisamos a
relação dos deputados federais e senadores da legislatura 2015-2018 que são
devedores, corresponsáveis ou exercem função de sócios, administradores ou
dirigentes de empresas inscritas na Dívida Ativa da União,41 e relacionamos
essas informações com a propositura de emendas nas medidas provisórias que
tratam de parcelamento de débitos junto à União, descobriremos que em torno
de 50% das emendas apresentadas para este fim tiveram a autoria de
parlamentares com dívidas junto ao fisco. Ou seja, metade das propostas para
alterar os programas de parcelamento de débitos tributários e não tributários
introduzidos pelo governo federal partiu de parlamentares que tentavam
legislar em causa própria.42
Esses parlamentares, a propósito, também possuem uma espécie de foro
privilegiado fiscal. Em 2017, 6.052 autoridades, mais que o dobro do ano
anterior, só poderiam ser investigadas após a autorização de algum chefe da
Receita. É uma espécie de lista vip do fisco. Na relação estão pessoas
denominadas politicamente expostas, autoridades que ocupam, ou ocuparam
nos últimos cinco anos, os cargos de deputado federal, senador, presidente da
República, ministro de Estado, dirigente de empresas estatais e reitor de
instituições federais.43

outubro2018
Clube SPA

Todos esses servidores foram beneficiados por uma medida proposta por
Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda nos governos Lula e Dilma, em 2010. A
lista surgiu como uma tentativa de abafar a quebra de sigilo de tucanos ligados
ao presidenciável José Serra feita pela Receita Federal durante a campanha
daquele ano.
Com o foro privilegiado na Receita, procedimentos de investigações que
poderiam ser antecipados acabam sendo protelados e só ocorrem após outros
órgãos, como a Polícia Federal ou o Ministério Público, iniciarem suas
apurações. Foi exatamente o que aconteceu na Lava Jato. Diretores da
Petrobras, como Paulo Roberto Costa, Renato Duque, Sergio Machado e Nestor
Cerveró, estavam entre essas pessoas protegidas. Esse também foi o caso de
figuras como o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB), o ex-
senador Delcídio do Amaral (PT/MS) e o ex-deputado federal Eduardo Cunha
(MDB/RJ). A Receita só passou a olhar para eles com mais atenção após o início
da operação.
Ou seja, na prática, há uma lista de contribuintes de primeira classe e outra
de segunda.44 Como quase tudo que divide a atividade pública em nosso país.

A solução é alugar o Brasil

Os ganhos com a atividade do lobby são inegáveis. Dentro ou fora do Brasil.


Ao analisar 20.202 firmas que possuem conexões políticas espalhadas em 47
países – de casos em que ministros de Estado e membros do Parlamento são
sócios ou diretores das empresas que contratam com o governo até instituições
privadas que contribuem para as campanhas de membros do Parlamento ou de
ministros de Estado –, a especialista em finanças Mara Faccio chegou à
conclusão que essas empresas são mais comuns em países que possuem maior
percepção de corrupção. Além disso, elas também lucram mais em países mais
corruptos, pagam menos impostos, abocanham uma fatia maior do mercado e
possuem fácil acesso ao crédito bancário. Segundo a pesquisadora, o valor de
mercado dessas empresas que operam em países altamente corruptos aumenta
significativamente com o fortalecimento de suas conexões políticas. O mesmo,
no entanto, não pode ser dito sobre os países com baixos níveis de corrupção.
Nesses lugares, a maioria das empresas decide não se envolver com conexões
políticas.45
De fato, mesmo no Brasil, poucas empresas se envolvem com a atividade

outubro2018
Clube SPA

política – e das que se envolvem, poucas são as que doam volumes substanciais.
Dos milhões de empresas que existem no país, apenas vinte mil realizaram
doações nas eleições de 2014. E dessas vinte mil, as cem primeiras concentram
57% dos recursos doados por todas as empresas.
Nas eleições regionais de 2012, das dez maiores contribuições de campanha,
seis foram oriundas de empresas do ramo da construção civil. Quando se
compara as doações de empresas por segmentos econômicos, o resultado é que
o setor de construção contribuiu com mais de R$ 600 milhões. O segundo
segmento no ranking foi o da indústria de transformação, com quase a metade,
um valor pouco acima de R$ 300 milhões.46
Como os números demonstram, nossos candidatos tendem a depender
excessivamente de poucos doadores. Mesmo com a predominância de recursos
privados nas campanhas, os postulantes aos cargos públicos no Brasil, sem
qualquer conexão com a população – que não se sente representada por seus
políticos –, não conseguem distribuir o risco, arrecadando valores menores de
muitos doadores. Há uma dependência estrutural entre candidatos e doadores
importantes.47
As empresas, em contrapartida, se encontram distribuídas de forma desigual
pelos setores econômicos no jogo das doações eleitorais, como o gráfico na
página seguinte revela. Alguns deles doam proporcionalmente muito mais do
que a sua participação no PIB do país justificaria. É o caso da indústria de
transformação, do setor de construção, do setor financeiro, do setor de
entretenimento (artes, cultura, esporte e recreação), de saneamento básico e
tratamento de resíduos (água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e
descontaminação). Os demais setores contribuem para as campanhas eleitorais
em percentual inferior à sua participação no PIB. Como atesta Carazza, “esses
dados indicam que alguns setores aplicam mais recursos nas eleições do que os
demais, revelando que a decisão de contribuir para candidatos e partidos
políticos pode estar relacionada com interesses nas políticas públicas a serem
produzidas durante o exercício dos mandatos eletivos, seja por meio de
execução orçamentária, da regulação ou dos benefícios tributários”.

outubro2018
Clube SPA

No Brasil, um estudo decidiu acompanhar o desempenho das ações das


empresas doadoras de campanha na bolsa de valores, além de seus números
contábeis após as eleições, comparando-os com os da concorrência. O resultado
é previsível: os autores identificaram que variações positivas nas doações
empresariais geram aumento acima da média no valor de mercado das
empresas. Além disso, o efeito sobre a cotação das ações das empresas é ainda
maior e mais significativo quando as doações são direcionadas para os
candidatos que venceram as eleições, para candidatos que já exerciam
mandatos e para candidatos que pertenciam à coalizão governista (seja ela do
PSDB em 1998 ou do PT em 2002).48
E ainda há o lobby nas licitações. Em geral, empresas que participam da
atividade política tendem a obter vantagens significativas na hora de negociar
as obras do governo.
As três principais formas de corromper licitações já são conhecidas há muito
tempo.

1. Com um acordo prévio entre os participantes. Nessa modalidade


define-se, por exemplo, a ordem em que cada empresa de um cartel
vencerá. Os estádios da Copa do Mundo de 2014 foram distribuídos
assim. As propostas são previamente acordadas entre as empresas
envolvidas. Os ganhadores da licitação ganham e perdem em rodízio.

outubro2018
Clube SPA

Para a empresa A vencer, as empresas B e C realizam propostas mais


caras. Em seguida é a vez de a empresa B vencer. Para finalmente ser a
vez da empresa C.
2. Com superfaturamento. O governante pode trabalhar com valores
muito acima dos de mercado, escancarando os desvios.
3. Com especificações subjetivas definidas nos processos de licitação
pelo próprio governo. Ao elaborar o edital, o burocrata tem a
prerrogativa de identificar “condições especiais” para a realização do
serviço ou da obra, além de poder definir fatores relativos à “qualidade”
desse serviço prestado. Licitações podem ser direcionadas quando se
coloca, na definição do objeto, um requisito sem tanta importância que
apenas uma ou duas empresas podem cumprir, direcionando o vencedor.

Cabe repetir que, contrariando parte de um discurso incansavelmente


divulgado pelas máquinas de propaganda dos partidos, os políticos e os demais
atores do Estado não são agentes passivos diante dos pleitos dos lobistas. Pelo
contrário. Não há outra vítima nessa relação senão pagadores de impostos e
consumidores. Os reguladores, afinal, são os que estabelecem as regras do jogo.
E eles fazem isso levando em conta o fato de que podem extrair inúmeras
vantagens para si – de propinas a colocação profissional em grandes empresas
privadas. O conluio em licitações, portanto, é um jogo que interessa aos dois
atores envolvidos: o pequeno grupo de grandes empresas privadas interessadas
em conquistar capital político para fazer dinheiro fácil e os reguladores, que
facilitam acesso interessados nas benesses que esse jogo possibilita.
A entrada para esse jogo é praticamente livre. Os editais para as obras
públicas, segundo a lei 8.666/1993,49 são feitos por comissões de licitação.
Qualquer funcionário público, mesmo os ocupantes dos cargos de confiança,
que não são concursados, pode participar desse processo. A única exceção é
para os funcionários temporários. Segundo um membro da Controladoria-Geral
da União, se você não possui vocação para a corrupção ou interesse em ganhar
dinheiro ilícito através do serviço público, participar de uma comissão de
licitação significa apenas muita dor de cabeça e aplicação para se atualizar com
relação à legislação. Não há outro incentivo.50
E não vá pensando que o caminho do conluio entre lobistas e poder público
se encerra nessas comissões. Vencida a licitação, o passo seguinte é o acréscimo
de aditivos contratuais, uma possibilidade garantida em lei de aumentar até
25% o valor do contrato inicial. A negociação em torno desses aditivos é algo

outubro2018
Clube SPA

tão importante que chega a emperrar o fluxo de propina de empresas para os


agentes políticos. Um acréscimo no valor na obra da Usina Hidrelétrica de Belo
Monte por meio de um aditivo contratual, por exemplo, abalou por um tempo a
relação entre a construtora, a Andrade Gutierrez, e os partidos políticos, o PT e
o MDB.51
Os problemas com o lobby são universais. E seguem determinadas
características.
Na Letônia, o principal benefício obtido pelos doadores de campanha é
participar de licitações públicas em um ambiente com 20% menos concorrência
em relação às empresas que não possuem ligações políticas.52
Também na Europa, os economistas Decio Coviello e Stefano Gagliarducci
analisaram uma série de dados públicos de licitações sob responsabilidade de
diversos prefeitos de municípios italianos. A constatação é que quanto mais
tempo um político permanece no poder, maior a possibilidade de haver uma
deterioração sistemática do mecanismo de licitação. Há menos concorrência,
obras públicas mais caras, um aumento na probabilidade de o vencedor ser uma
empresa com ligações políticas e mais chances de uma empresa sair vencedora
frequentemente. Coviello e Gagliarducci destacam que as obras licitadas no
segundo mandato apresentam descontos na licitação 4,7% inferiores às obras
do primeiro mandato. Além disso, a concorrência das disputas é reduzida em
11,7%. Para os autores, seus achados provam que quando um político
permanece no poder por muito tempo há uma probabilidade maior de conluio.
Mais do que isso: sugerem que um regulador interessado na racionalização dos
gastos públicos precisa incentivar políticas que favoreçam a rotatividade
política e diminuam a autoridade de coronéis e forças políticas que se propõem
a permanecer infinitamente no poder.53
Na Rússia, empresas que possuem pelo menos 5% de suas receitas
provenientes de contratos públicos realizam transferências anormalmente
elevadas perto da data da eleição – especialmente a partir de três semanas
antes, persistindo até quatro semanas após o pleito – em relação às empresas
que não possuem receitas provenientes de contratos públicos.54
No Brasil, a vitória eleitoral de um candidato aumenta substancialmente o
número de contratos do seu doador de campanha com o governo. Em termos de
valor dos contratos assinados após as eleições, esse retorno pode variar entre
14 e 39 vezes o montante aplicado nas campanhas eleitorais.55
O economista João Ricardo Pereira constatou a existência de viés no preço de
contratação de obras públicas em favor de empresas que realizaram doações de

outubro2018
Clube SPA

campanha, utilizando um modelo econométrico com dados de 1.107 contratos


de obras rodoviárias no âmbito do Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes (Dnit) entre 2007 e 2013 e dados de prestação de contas das
eleições de 2010 e 2012.
O que João descobriu é que as licitações vencidas pelas empresas doadoras
de campanha apresentaram um desconto – o valor que é ofertado por elas ao
governo em relação ao preço de referência do próprio governo – inferior às
licitações vencidas pelas empresas não doadoras. Quando a licitação é vencida
por uma empresa que não participou do processo eleitoral, seu desconto médio
é 50% superior ao apresentado nas licitações vencidas por empresas doadoras.
Na amostra avaliada, 66% das obras foram contratadas com empresas
doadoras.
Considerando que o valor somado desses editais, um universo
consideravelmente restrito, é de R$ 31 bilhões, a conclusão de João é de que,
“numa situação de maior competitividade, sem o viés de empresas doadoras de
campanha, poderia haver um desconto adicional de 1,5% em relação ao
referencial da Administração nesses editais, representando, em valores
absolutos, uma economia de R$ 465 milhões para o erário”.56

O banco do descrédito

Bancos de desenvolvimento são, ao menos em teoria, instituições financeiras


patrocinadas pelo governo, voltadas para o fornecimento de capital de longo
prazo à indústria.
Aos olhos da história, essas instituições existem ao menos desde o século
XIX, quando foi criada na Bélgica, em 1822, a Société Général pour Favoriser
l’Industrie National, e, mais tarde, um grupo de entidades na França, como
Comptoir d’Escompte (1848), Crédit Foncier (1852) e Crédit Mobilier (1852).
Durante a reconstrução do pós-Segunda Guerra Mundial, com a escalada das
intervenções estatais na economia, o Plano Marshall exigiu que os países
canalizassem fundos internacionais para as suas reestruturações por meio da
criação de bancos de desenvolvimento. É nesse período que foi criado o KfW
alemão (Kreditanstalt für Wiederaufbau, 1948), o JDB japonês (Banco de
Desenvolvimento do Japão, 1951) e o nosso BNDES, em 1952 (no começo,
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico; o Social só entraria no nome
em 1982).

outubro2018
Clube SPA

Enquanto os bancos proliferavam, novas teorias desenvolvimentistas


surgiam. Grosso modo, elas afirmavam que créditos induzidos pelo Estado
seriam fundamentais para estimular investimentos produtivos, agregadores de
valor – essa ideia nasce sustentada pela concepção de que bancos privados, em
geral, relutam em conceder crédito a projetos arriscados, de longo prazo.
Em 2011, como aponta uma pesquisa publicada por Aldo Musacchio e Sérgio
Lazzarini, existiam 288 bancos de desenvolvimento em todo o mundo,
concentrados na América Latina e Caribe (17,7%), na África (24,3%) e no sul e
no leste da Ásia (29,5%).57
O que a teoria desenvolvimentista não previu, no entanto, é que:

1. Capitalistas possuem incentivos para tomar parte considerável do


crédito subsidiado, mais barato, para projetos que poderiam
perfeitamente ser financiados por bancos privados. Ou seja, na prática,
políticos possuem estímulos para manter bancos de desenvolvimento em
atividade não com a intenção de canalizar fundos para usos sociais
eficientes, mas para atingir objetivos pessoais, como moeda de troca na
relação com o lobby, subvertendo o propósito teórico, promovendo
ineficiência e desigualdade. Vale destacar que num país historicamente
marcado pelas altas taxas de juros, empresas que se envolvem com a
atividade política com a pretensão de obter retorno com os bancos de
desenvolvimento, adquirem uma imensa vantagem em relação aos seus
concorrentes.
2. Bancos de desenvolvimento atuam frequentemente para salvar
empresas ineficientes, sem propósitos sociais – instituições privadas que
fracassariam caso não alimentassem fortes laços com a atividade política.
E neste ponto, bancos de fomento não apenas colaboram para subverter
a democracia, como são estímulos à ineficiência.

É exatamente o que vimos no Brasil nos últimos anos.


Um estudo publicado pelos economistas holandeses Stijn Claessens, Erik
Feijen e Luc Laeven58 analisou o acesso das empresas que doaram às
campanhas eleitorais no Brasil à obtenção de crédito. Confirmando as suspeitas
do primeiro ponto não previsto pela teoria desenvolvimentista, contribuições à
classe política também aumentaram a alavancagem financeira das empresas
doadoras em relação às concorrentes. E aqui, mais uma vez, há um coeficiente
político importante: houve um ganho maior quando essas doações foram
realizadas para candidatos eleitos.

outubro2018
Clube SPA

E esse ganho, confirmando o segundo ponto não previsto pela teoria


desenvolvimentista, não significa maior eficiência. Nem por parte dessas
empresas nem por parte dos agentes políticos: essas mesmas empresas
doadoras apresentaram eficiência mais baixa (considerando a variação do
retorno dos ativos antes do pagamento de impostos) que as demais empresas
do mercado no período pós-eleição. Ou seja: facilitar o acesso ao crédito graças
à influência política beneficia empresas menos eficientes. Segundo os
economistas holandeses, o custo dessa engrenagem, num cálculo conservador, é
de pelo menos 0,2% do PIB brasileiro por ano.
A Produtividade Total dos Fatores (PTF) não acompanhou o crescimento do
crédito direcionado/subsidiado no país na última década. Na verdade,
aconteceu o exato oposto – ela caiu.
Uma pesquisa publicada em 2011 levou em consideração as doações
eleitorais como variável para indicar o grau de conexão entre políticos e
empresas. Os autores encontraram evidências de que as contribuições de
campanha reduziram o custo da dívida da empresa em quase 10% no período.59
Em outro estudo, publicado em 2014 e centrado no período de 2002 a 2009,
os autores apontam evidências estatisticamente relevantes de que o volume de
empréstimos do BNDES aumenta com o volume de doações para candidatos a
deputado federal que conseguiram se eleger. Segundo o cálculo dos autores, as
doações geraram um ganho financeiro estimado entre US$ 1,8 milhão e US$ 5,5
milhões num período de quatro anos após as eleições, superando
consideravelmente o valor médio das doações, estimado em US$ 22,8 mil em
2002 e US$ 43,9 mil em 2006.
De fato, muito dinheiro. Em apenas nove anos, de maio de 2007 a maio de
2016, o BNDES aprovou operações no valor de R$ 1,56 trilhão. O total
desembolsado no período foi de R$ 1,2 trilhão, o equivalente a 43 vezes o
orçamento do Bolsa Família (que foi de R$ 28 bilhões em 2016). De lá para cá,
esses desembolsos dispararam: cresceram 189% de 2007 a 2015.60 De 2003 a
2016, os desembolsos do banco superaram os R$ 2,287 trilhões, em valores
corrigidos para dezembro de 2017 pelo IGP-M (FGV).61 Entre 2003 e 2017, o
montante destinado a benefícios tributários, financeiros e creditícios pelo
governo federal, bancado pelos pagadores de impostos brasileiros, chegou a R$
3,997 trilhões, em valores atualizados pela inflação para maio de 2018.62 No
período, o bolsa empresário, como a política por trás do BNDES é conhecida,
consumiu quase três vezes mais dinheiro público do que todos os programas
sociais somados.63 Em 2010, o banco chegou a emprestar o equivalente a US$

outubro2018
Clube SPA

95,7 bilhões de dólares às empresas brasileiras – 63% a mais do que o valor


total dos empréstimos concedidos no mesmo ano pelo Banco Mundial, de US$
58,7 bilhões, para fomentar o desenvolvimento dos países em todo o planeta.64
O que aconteceu no país foi uma festa com crédito subsidiado pelos
pagadores de impostos – com a maioria esmagadora disso indo parar nas
grandes empresas do país, a maior parte delas relacionada com os nossos
principais partidos políticos e problemas na Justiça.
Entre 2012 e 2015, por exemplo, 1.160 pessoas jurídicas (entre empresas,
governos e entidades) fecharam operações diretas e indiretas não automáticas
com o BNDES. Mas apenas 57, menos de 5% do total, abocanharam 52,5% do
montante contratado no período. Ou seja, esse pequeno grupo de grandes
empresas ficou com R$ 168,775 bilhões de um total de R$ 321,345 bilhões.65
Entre 2005 e 2017, dos quase R$ 14,5 bilhões liberados pelo BNDES para a
internacionalização de empresas brasileiras, R$ 11,7 bilhões – 80% do total –
foram para os frigoríficos. E um detalhe importante: no total, somando
financiamento, aportes via debêntures e ações, o banco contribuiu com a
internacionalização de dezesseis empresas de diferentes setores – como
bebidas, mineração e petroquímica – mas apenas uma delas, a JBS, ficou com
mais da metade dos recursos: 56% de tudo que o sistema BNDES investiu ao
longo de uma década em favor de todas as empresas que se lançaram na
internacionalização de suas operações. Dos R$ 12,7 bilhões que o BNDES
investiu na globalização de empresas brasileiras, R$ 11,5 bilhões – 90% do total
– ficaram com três empresas do setor de carnes.66
As grandes empreiteiras, em contrapartida, conseguiram R$ 13,6 bilhões
para tocar obras em países da África e da América Latina. Isso representa 93%
do total financiado pelo BNDES para exportação de bens e serviços. Só a
Odebrecht ficou com 64% do total.67
No final da história, um grupo de 25 empresas que doou um total de R$ 976
milhões nas eleições de 2014 recebeu R$ 109 bilhões do maior banco de
fomento do país.68 Segundo uma auditoria do Tribunal de Contas da União, o
valor que o BNDES emprestou para que grandes empresas realizassem obras
fora do país é incompatível com o gasto realizado pelo banco para obras no
Brasil.69
E grandes empresas e agentes políticos não foram os únicos a lucrar com o
BNDES. Os grandes bancos privados também souberam fazer caixa com o bolsa
empresário.
Como o BNDES não possui agências e sua capacidade de distribuir os

outubro2018
Clube SPA

recursos é limitada, considerando tudo o que o banco liberou entre 2009 e


2015, cerca de 91% se deram através das chamadas operações indiretas, feitas
pela rede de bancos credenciados à instituição. Ou seja: durante esse período,
todo o risco da operação, realizada com juros menores do que a inflação no
período, ficou com o BNDES, enquanto o custo real de captação do dinheiro
permaneceu com o governo. Com os lucros, no entanto, a coisa mudou de figura.
Apenas no Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que liberou R$ 359
bilhões no período, os bancos privados lucraram R$ 8 bilhões, contra R$ 2
bilhões do próprio BNDES. Em inúmeros casos, a taxa de juros praticada pelo
banco chegou a ser de 0%, contra 1,5% nos empréstimos de maior risco (valor
que se somaria aos 5,5% que o banco era obrigado a pagar ao governo pelo
empréstimo dos recursos). Na prática, o governo criou não apenas um bolsa
empresário, mas também um bolsa banqueiro, com lucros altos e risco zero.70
Os grandes bancos, aliás, também participaram ativamente do financiamento
eleitoral de campanha em 2014. O Bradesco e o Itaú doaram R$ 10,2 milhões
para as campanhas eleitorais na última disputa majoritária. As doações
ocorreram tanto em nome de candidatos quanto para as direções nacionais de
partidos das coligações dos presidenciáveis.71
E ainda há as desonerações, uma história que começa em 2011, quando a ex-
presidente Dilma e seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, com a ideia de
aquecer a economia e estimular a criação de empregos, decidem alterar a lógica
de tributação para a Previdência. O plano era o mais simples possível: em
alguns setores empresariais, o governo trocaria o modelo baseado na folha de
pagamentos (com alíquotas em torno de 20%) para um sistema novinho em
folha, baseado na tributação sobre o faturamento das empresas (entre 1% e
2%).
Foi com essa justificativa que nasceu a medida provisória nº 540/2011. Num
primeiro momento, e apenas temporariamente, ela beneficiaria alguns poucos
setores que, ao menos na visão do governo – e sem nenhuma análise técnica que
corroborasse essa decisão –, estavam tendo certa dificuldade de recuperar o
ritmo pré-crise do subprime:72 setores de vestuário e seus acessórios, artigos de
couro, calçados e móveis, além de empresas prestadoras de serviços de
tecnologia da informação (TI) e tecnologia da informação e comunicação (TIC).
O problema é que esse tipo de privilégio quase nunca permanece preso aos
seus atores iniciais. Como vimos inúmeras vezes neste capítulo, grupos de
pressão trabalham 24 horas por dia na busca de renda, procurando brechas
para conquistar privilégios bancados por pagadores de impostos, num trabalho

outubro2018
Clube SPA

feito em parceria com a classe política, que estabelece com a regulação um


verdadeiro balcão de negócios.
Enquanto a medida provisória completava seu ciclo de vida útil no
Parlamento, diferentes grupos de pressão se organizavam para uma carona. E
dessa vez ela não seria gratuita.
Quando a medida provisória virou a lei nº 12.546/2011, mais um grande
bloco de grupos de interesse entrou na festa, que esticou sua temporada de
2012 para o final de 2014: de empresas de call center a fabricantes de artigos
para academias de ginástica.
Era apenas migalha. Sem nenhum critério técnico – reagindo à mera
negociação predatória da coisa pública travada sem escrúpulos pelos poderes
Executivo e Legislativo e grupos de interesse –, até o final de 2014 foram
editadas dezenas de decretos e medidas provisórias buscando regular quem
participaria ou não da festa. Todas quase sem vetos presidenciais, aprovadas na
velocidade de uma flecha pelo Congresso.
Quando a corrida do lobby chegou ao fim, e a crise bateu na porta, os
escassos quinze setores da primeira medida provisória já haviam ultrapassado
os quarenta. Abraçando a farra, o governo diminuiu e até zerou alíquotas de
tributos como PIS/Cofins, Imposto de Renda e Contribuição Sobre o Lucro
Líquido das empresas.73 Em 2014, 84 mil CNPJs passaram a contar com a
desoneração.74
O custo total da renúncia para os cofres públicos? Nada menos que R$ 77,9
bilhões entre 2012 e 2016, segundo a Receita Federal. Apesar de toda essa
grana, como atesta um relatório publicado em janeiro de 2018 pelo Ipea, não
houve qualquer impacto positivo na economia.
Mesmo o ex-presidente Lula, padrinho político de Dilma, ao analisar a
situação econômica do país em 2016, lamentou o fato de o governo ter feito
desonerações sem cobrar contrapartidas das empresas. Segundo ele, o dinheiro
fez falta quando a crise chegou.75
No fim, a conta ficou mais uma vez com o pagador de impostos. E o governo
brasileiro agiu, como parece predestinado, para cumprir a única tarefa que
parece saber desempenhar com autoridade: a de ser um grande banco
especializado em descrédito.

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA


Se me virem dançando com uma mulher feia é porque a campanha já começou.
– Juscelino Kubitschek

A pátria dos santinhos

Santinhos são pequenos cartões impressos, produzidos em massa a partir do


século XV, com o intuito de retratar devoções para o uso de fiéis católicos. Em
geral, seu conteúdo representa passagens bíblicas ou homenageia algum santo
em tamanho reduzido, a fim de difundir a leitura de orações. O mais antigo
exemplar de um santinho remonta a 1423. Ele foi pintado a mão para
homenagear são Cristóvão.
Na política, muito parecidos graficamente com os impressos da tradição
cristã, os santinhos são objetos de propaganda partidária, produzidos em época
eleitoral para expor não apenas a imagem de candidatos, como seus números na
urna, o logo de seus partidos e suas principais propostas. No Brasil, eles
possuem ainda outra característica: a de transformar as vias públicas em
grandes lixões uma vez a cada dois anos.
Se considerarmos os dados das eleições municipais de 2012, o lixo gerado
com material impresso de propaganda eleitoral, boa parte de santinhos,
corresponde à produção de quarenta milhões de livros escolares de cinquenta
páginas cada. Colocado um ao lado do outro, essa quantidade de papel
possibilitaria dar 143 voltas ao redor do planeta.
Levando-se em conta que para produzir a quantidade de vinte mil panfletos
em 2012 gastaria-se o valor de R$ 250, com o montante declarado pelos
candidatos e partidos na eleição é possível supor que seria concebível imprimir
a quantidade de 57 bilhões de santinhos (medindo 10x7cm, em papel de
75g/m2), o que corresponde a trinta mil toneladas de papel. Se para cada
tonelada de papel produzido consomem-se aproximadamente vinte árvores e
cem mil litros de água, nas eleições municipais de 2012, para a produção desse
material, foi necessária a derrubada de seiscentas mil árvores e o consumo de
três bilhões de litros de água, suficientes para encher 1.200 piscinas olímpicas.
Tudo isso foi simplesmente jogado no lixo.
A cidade do Rio de Janeiro consumiu 350 toneladas de lixo durante as
eleições de 2014,1 o equivalente a dezessete aviões do tipo Boeing 747 feitos de
entulho. Goiânia despejou nas ruas 143 toneladas na mesma eleição2 e Salvador

outubro2018
Clube SPA

somou cem toneladas a essa conta.3 O lixo provocado pelos santinhos é tão
problemático no Brasil que em 2014 uma mulher desmaiou ao escorregar num
entulho de propaganda perto de seu local de votação, em Curitiba.4 Em 2012,
uma senhora de 64 anos não teve a mesma sorte: ela morreu após fraturar a
bacia durante uma queda em meio ao lixo eleitoral.5
E sujeira em papel não é o nosso único problema ambiental. Como não
reduzimos nossas dimensões eleitorais aos distritos, forçamos nossos partidos
e candidatos a rodar infindáveis quilômetros em campanha com veículos
automotores. Em 2012, considerando o valor declarado ao TSE de gasto com
combustível e lubrificantes, nossos postulantes aos cargos municipais
consumiram 110.590.118 litros de gasolina, o que permitiria a um carro
econômico rodar 44.153 voltas em torno do planeta Terra, despejando 250 mil
toneladas de CO2 na natureza.6
Em 2016, todo esse custo foi gerado com um único propósito: fazer com que
495.403 pessoas7 disputassem uma das 57.949 vagas para o cargo de vereador
ou outras 5.568 vagas para o cargo de prefeito.8
De todos os candidatos eleitos em 2016, 1.157 declararam ao TSE saber
apenas ler e escrever. Outros 9.106 assumiram ter apenas o Ensino
Fundamental incompleto como formação.
Os agricultores representam 9,7% das profissões dos candidatos eleitos em
2016 – é a maior ocupação declarada, abaixo apenas de “vereador” (uma
aparente profissão para 13.006 candidatos eleitos, dos quais 190 prefeitos).
Entre os quase setenta mil prefeitos, vice-prefeitos e vereadores eleitos naquele
ano, apenas 55 se declararam economistas (0,08% dos eleitos), menos que
donas de casa, pescadores, cabeleireiros e vigilantes. Foram dezessete
sociólogos (0,02% dos eleitos), menos que garis, porteiros, motoboys,
recepcionistas e encanadores; oito historiadores (0,01% dos eleitos), menos
que lavadores de veículos, faxineiros, garçons e cozinheiros; e cinco cientistas
políticos (0,01% dos eleitos), menos que catadores de recicláveis, manicures,
garimpeiros e empregadas domésticas.
Entre os 57.949 vereadores eleitos em 2016, 390 se elegeram com “saúde”
no nome e outros 282 com “farmácia”. Na lista ainda constam 257 eleitos como
“enfermeiro” ou “enfermeira” e 159 com “ambulância”. A liderança, no entanto,
é dos educadores: foram 1.396 “professores” ou “professoras”, incluindo
abreviações.
Na lista ainda há espaço para os religiosos, como “irmã/irmão” (319),
“pastor” (214) e “bispo” (27); patentes militares como “sargento” (94), “cabo”

outubro2018
Clube SPA

(54) e “soldado” (25); e indicativos do campo profissional, como “sindicato”


(209), “posto” (114), “táxi/taxista” (111) ou “bar” (109). Ao todo, 146
vereadores eleitos usaram o espaço máximo que tinham à disposição para
exibir seus nomes nas urnas. Alguns decidiram apelar para o parentesco com
pessoas conhecidas na cidade, como “Rodrigo Filho do João do Banco”, eleito em
São João del Rei (MG) pelo PDT, “Titi Filho do Luiz da Autoescola”, eleito em
Pirangi (SP) pelo PSDB, ou ainda “Renata Filha do João da Banha”, eleita em
Portelândia (GO) pelo PMDB.9
Nas eleições majoritárias de 2014, dos candidatos eleitos, apenas dezoito se
declararam economistas e um assumiu a profissão de sociólogo (menos do que
os seis eleitos que admitiram apenas ler e escrever). Nenhum historiador ou
cientista político foi eleito.10
No mesmo ano, 25 candidatos que utilizaram um título religioso associado
ao nome na urna foram eleitos – ou 6% dos 418 postulantes aos cargos. Dos 272
candidatos que utilizaram a palavra “pastor” em seus nomes nas urnas, catorze
saíram vitoriosos. Dos quinze que utilizaram “padre”, oito se elegeram. Um
“bispo”, um “irmão” e um “frei” completam a lista de eleitos que utilizaram
alcunhas religiosas. O Partido Republicano Brasileiro (PRB), ligado à Igreja
Universal do Reino de Deus,11 foi o que mais emplacou políticos ligados à
religião: elegeu seis deputados estaduais e um federal. O Partido Social Cristão,
com três estaduais e dois federais, e o Partido dos Trabalhadores, com três
estaduais e um federal, completam a lista dos três primeiros colocados.12

Profissão: candidato bizarro

Entre os candidatos, em toda eleição, surge uma infindável lista de figuras,


de norte a sul do país, interessadas em chamar a atenção do eleitorado
apelando para os palanques mais bizarros possíveis. Na seleção abaixo, todos
os nomes em itálico são candidatos reais das eleições municipais de 2016,
tanto ao cargo de vereador como ao de prefeito. Nenhum nome dessa lista é
inventado ou foi editado, cortado ou incrementado.
Em 2016, Goiás teve uma Piriguete e uma Delícia. Em Pernambuco a urna
recebeu uma candidata chamada Natália a Gostosa. Em Mato Grosso rolou
uma Evaneide a Gata. E em Minas Gerais teve a Irene a Cara da Riqueza.
Beleza e nobreza, porém, não foram unanimidade nas eleições daquele
ano. Teve Mocreia em Buriti, Feioso em Juramento, Cara Feia em Três Barras
do Paraná, Cara de Pneu em Ouro Branco, Cabaço em Tucumã, Todo Feio em

outubro2018
Clube SPA

Conceição da Barra e Bizarro em Breu Branco.


Em diferentes cantos do país, a demonologia também teve seus
representantes, com os candidatos Diabo Loiro, Satanas, Demônio, Diabinho e
Mensageiro do Apocalipse.
A nossa democracia também pode contar com os salvadores da pátria,
saídos direto dos quadrinhos: o Batman, o Hulk, o Homem-Aranha, o
Wolverine e a Mulher-Maravilha. E com diversos personagens de TV e cinema,
do Darth Verde (Vader) ao Bob Esponja, passando por inúmeros Kikos, Chaves
e Chiquinhas, além de alguns poucos autodeclarados Seu Barriga, Seu
Madruga, Nhonho e Chapolin.
Do corpo humano, tiveram candidatos-boca para todos os gostos: o Boca
Aberta, o Boca Nervosa, o Boca Torta, o Boca Xoxa, o Boca de Vei, o Boca de Pia
e até o Boca Junior. Não faltaram também candidatos-pães para todas as
bocas: o Pão Velho, o Pão Molhado, o Pão Doce, o Pão Seco, o Pão Torrado, o
Pão de Queijo e o X-Salada.
Do Caburaí ao Chuí, nós tivemos candidatos representando todas as
nações. A América Latina marcou presença na eleição com o candidato Brasil
e a candidata Bolívia. E eles não foram os únicos do continente. Rolou
também espaço para os pretendentes Chile, Paraguai, Peru, Panamá e Cuba.
Em São Miguel do Oeste, no interior catarinense, um candidato a vereador
se apresentou com o nome Vereador. Por todo o país, nomes de cargos foram
uma constante em 2016: o candidato Deputado disputou uma vaga de
vereador, assim como o Prefeito, o Presidente e o Senador. Em Feliz Deserto,
um antigo aldeamento de índios caetés no leste alagoano, teve até candidato
chamado Governo.
Os covers e os homônimos também marcaram presença. No Paraná, um
candidato a vereador se apresentou com o nome Sergio Moro. Outro
declarou-se Vin Diesel Curitibano. No Espírito Santo apareceu um Tony Ramos
Popular Tony Boneco. E ainda inúmeros covers, espalhados pelo país: um Zé
Ramalho Cover, um Silvio Santos Cover, um Tiririca Cover, um Michael Jackson
Cover.
De fato, muitos dos nomes escolhidos para a exposição nas urnas
eletrônicas em 2016 não fizeram o menor sentido.
É o caso do Silvanio do Boquete, em Água Boa, Minas Gerais. E do Super
Biba, em Edeia, Goiás. No Rio, um candidato a vereador pediu voto com o
nome Joaquim,gas, Ovo, Queijo e Pão. Em Cachoeira, na Bahia, outro saiu nas
urnas como Helio Quebra Bunda. Teve um Cueca, em Porto Alegre do Norte,

outubro2018
Clube SPA

Mato Grosso. E um Bigode Safadão, em Macau, no Rio Grande do Norte. Nem a


terceira idade escapou. No estado de São Paulo concorreu um Vovô do Funk e
uma Vovó Equilibrista.
Em 2016, também não faltou gente anunciando ter passado dessa pra
melhor: teve candidato Morto, em Taquaritinga, Já Morreu, em Embu-Guaçu,
Pé Na Cova, em São Luiz do Paraitinga, e até Gasparzinho Camarada, em
Araçariguama.
Com os nomes de animais disponíveis seria possível montar um imenso
zoológico da nossa democracia, com os candidatos Perereca, Sapo, Cavalo,
Jegue, Bode, Tatu, Galinha, Pernilongo, Mosca, Formiga, Peixe e Mosquito.
O ano de 2016 acolheu ainda polarizações de todos os tipos. Teve Jumento
e Cavalinho, Dadinho e Zé Pequeno, Xuxa e Mara Maravilha, Bebê e Velhinho,
Papai e Mamãe, Big Brother e Novela, Soneca e Soninho.
Os presidentes americanos também concorreram ao pleito. Rolou um
candidato a vereador chamado Barack Obama, em São Paulo; um Jimmy
Carter, no Rio Grande do Sul; um John Kennedy, no Maranhão; e um Bill
Clinton, no Ceará (teve também um Jorge Bush no interior de Pernambuco).
Juntando os candidatos certos, foi possível até criar um prato de comida
típico brasileiro, com os candidatos Feijão, Arroz, Farofa, Bife, Batatinha e
Salada (com Tomate, Cebola, Milho Verde, Cenoura e Repolho). Tudo isso
acompanhado de Vinagre, Mostarda, Pimenta e um Pacote de Sal.
A sétima arte também não ficou de fora, do Wall Disney ao Zé do Caixão:
teve o candidato Titanic, o Vento Levou, o Gladiador e o Ben-Hur.
Como em todas as eleições, não faltaram os menos confiáveis. É o caso do
Mentiroso, o Perigoso, o Burro Veio, o Doidão Natural e o Preguiça.
Os candidatos sem muito interesse em chamar a atenção também
acabaram… chamando a atenção: é o caso do candidato Ninguém e do Sem
Nome. Além deles, outros decidiram roubar o bordão de candidatos mais
famosos – é o caso do Meu Nome É Eneas. Outros preferiram se esconder
atrás de seus companheiros, como a Esposa do Baixinho do Gás, a Mulher do
Professor e o Joelson Marido da Julia (que é oficialmente solteiro).
Ao menos dois candidatos davam medo: o Bin Laden (figura carimbada em
inúmeras cidades) e o Stalin. Outros apelavam para pontos de exclamação:
teve o Pensando em Você, em Jaboatão dos Guararapes; o Agora e Nois, em
Guaçuí; o Aonde É, em Fortaleza; o Chega Pra Cá, em Barrinha; o Belezinha,
em Caicó; o Fala Comigo Jovem, em Ourizona; o Nada Me Aborrece, em Além-
Paraíba; o Caraka-Meu, em Sena Madureira; e o Hang Louse, em São Luís.13

outubro2018
Clube SPA

Em 2016, 97 municípios de treze estados brasileiros registraram apenas um


candidato a prefeito (nesses casos, além do nome do candidato único, o eleitor
teve apenas a opção de votar em branco ou anular o voto).14 O fenômeno é
parte natural da discrepância habitacional entre as cidades brasileiras. Em
geral, esse cenário acontece em municípios muito pequenos, com parcela
significativa da população vivendo nas zonas rurais. Como o número de
eleitores desses lugares não permite que seus políticos saiam da posição de
prefeito para deputado estadual, federal, senador ou governador, pelo baixo
impacto nas zonas maiores, a falta de oportunidade desestimula o surgimento
de novos candidatos. Na prática, o processo político permanece concentrado na
mão de uma pequena elite que, aglutinando todos os partidos disponíveis da
cidade, termina sempre lançando as mesmas pessoas aos mesmos postos, sem
qualquer oposição.
E candidatura única não é o único caso inusitado no país. Em 2016, na cidade
de Cariús, um município com pouco menos de 20 mil habitantes, no interior do
Ceará, dois candidatos, Nizo (PMB) e Iran (PSDB), tiveram o mesmo número de
votos: 5.811, o equivalente a 48,34% dos votos válidos. Com o resultado pouco
usual, a eleição foi decidida no critério de desempate: pelo quesito idade. É isso
que afirma o artigo 110 do Código Eleitoral: “em caso de empate, haver-se-á por
eleito o candidato mais idoso”.15 Iran, de 46 anos, acabou levando a melhor
sobre Nizo, de 41.16
Nas eleições de 2014, todos os mais de 24 mil candidatos declararam um
total de bens de R$ 17 bilhões. No entanto, 41% deles declararam não possuir
qualquer coisa. A lista de bens inclui 100 avestruzes, 80 galinhas, 50 toneladas
de tambaqui e 49 búfalos. Também inclui 138 lanchas ou embarcações
(excluindo jet skis, motos aquáticas, botes e cascos), 48 aeronaves e 6
helicópteros.
Em 2014, Fernando Collor (PTB-AL) declarou 14 carros entre os seus bens
(1 BMW 760IA, 1 Ferrari Scaglietti, 1 Mercedes E320, 1 Citroën C6, 2 Kia Grand
Carnival, 1 Toyota Land Cruiser PR, 2 Toyotas Hilux, 1 Hyundai Vera Cruz, 1
Land Rover, 1 Cadillac SRX, 1 Honda Accord e 1 Volkswagen Gol Rallye). Felipe
Carreras, candidato a deputado federal pelo PSB de Pernambuco, por sua vez,
declarou R$ 175 mil em relógios (são 6 Rolex, 1 Patek Philippe, 1 Submarinner,
1 Audemars Piguet e 1 Hublot). Marcelo, da S.A. Advocacia, candidato a
deputado federal pelo PSB de Minas Gerais, declarou quinhentos quilos de
ouro.17 Luis Felipe Fromming de Mello, candidato a deputado estadual pelo PSD
do Rio Grande do Sul, declarou uma ilha, situada em São Lourenço do Sul,

outubro2018
Clube SPA

avaliada em R$ 3,2 milhões.


E nem tudo é riqueza. Em 2014, sobraram declarações inusitadas entre os
postulantes à Câmara dos Deputados. Sylvio Rodrigues Junior (PMN/SP)
declarou um jumento espanhol registrado. Dr. Wilson Sami (MDB/MS) fez o
mesmo com um aparelho de videocassete quitado. Marinaldo Rosendo
(PSB/PE), por sua vez, prestou conta de uma carroça avaliada em R$ 500.18
Guardar dinheiro em casa também parece uma sina dos candidatos. Dos
cerca de 25 mil postulantes a alguma vaga nas eleições de 2014, 7,7%
declararam ao TSE ter recursos em espécie – desde R$ 30 no bolso até R$ 3,8
milhões. A maioria, no entanto, é alta. Um terço desses candidatos guarda
valores acima de R$ 100 mil. Outros 33 declararam guardar mais de R$ 1
milhão em espécie; só a fortuna desse pequeno grupo alcança R$ 50,5 milhões.
Nem os candidatos à Presidência escaparam da ideia de guardar dinheiro em
casa. Dilma Rousseff (PT) declarou possuir R$ 152 mil em espécie; Levy Fidelix
(PRTB) registrou R$ 140 mil “mantidos no país” à Justiça Eleitoral; Eymael
(PSDC) declarou o valor mais baixo: R$ 1 mil. No total, a soma de dinheiro vivo
declarado pelos candidatos alcançou a marca de R$ 269,7 milhões.19
O candidato mais rico da eleição de 2016 pleiteou ser prefeito de São Carlos,
cidade do interior de São Paulo com 250 mil habitantes. Airton Garcia, do
Partido Socialista Brasileiro, declarou ser dono de R$ 439 milhões, distribuídos
entre investimentos em negócios imobiliários, como hotéis e fazendas, além de
R$ 7,7 milhões em espécie. Ao fim, o milionário conquistou o pleito à prefeitura.
Apesar disso, não liderou a lista dos cem candidatos com as maiores fortunas do
Brasil.
Antes dele, espalhados por todo o país, dez postulantes a vereador e um a
prefeito declararam ser mais ricos – todos eles com problemas na hora de
preencher o zero nas suas papeladas ao TSE. Antônio Guimarães da Silva, do PR,
candidato a vereador em Bom Jesus do Amparo, no interior de Minas Gerais,
declarou a incrível marca de R$ 4 bilhões: uma casa de R$ 1,5 bilhão e lojas de
R$ 2,5 bilhões. Antônio cancelou a candidatura antes do domingo final e alegou
que os problemas no registro foram do partido.
Em Araguari, também em Minas, José Radi Neto, do PEN, disse possuir uma
casa de R$ 3 bilhões e outra de R$ 350 mil. O salário de vereador na cidade é de
R$ 10 mil. José doou apenas R$ 501 do próprio bolso para a campanha.
Em Colinas, no Rio Grande do Sul, o candidato a vereador Carlos (PMDB)
declarou R$ 650 milhões num Fiat Uno 1996. Em Ubá, Minas Gerais, Aurélio
Pimenta (PSL), afirmou possuir um terreno de R$ 600 milhões. Em

outubro2018
Clube SPA

Curionópolis, no Pará, a Loirinha da Serra Pelada (PR), uma técnica em


enfermagem, declarou uma cota no Sistema Integrado de Assistência à Saúde
Humana (Siashum) de R$ 540 milhões.
A lista dos candidatos mais ricos apresenta sete bilionários (que você não
encontrará nas reportagens da Forbes) e outros 93 milionários, com valores que
vão de R$ 37,2 milhões a R$ 650 milhões.20
Entre todos os candidatos, alguns infelizmente ainda não nasceram para
vencer eleições no Brasil.
Em 2014, apenas 3% dos eleitos se declararam negros. Na verdade, longe da
disputa ideológica do azul contra o vermelho, uma cor sobressaiu em relação às
outras nas eleições daquele ano: de cada quatro políticos eleitos, três se
apresentaram como brancos. Dos 1.627 vencedores, 1.229 se declararam
brancos, o equivalente a 76% do total (brancos são 44,2% da população
brasileira); os pardos ficaram com 342 vagas; os negros, com 51; os amarelos
(de origem oriental), três; e os indígenas, duas.21
Em 2016, entre os LGBTs, apenas 25 vereadores foram eleitos (0,04% dos
eleitos) e dois prefeitos (0,03%): Têko (PHS), em Itapecerica, Minas Gerais, e
Edgar de Souza (PSDB), em Lins, no interior de São Paulo.22 Apenas um
deputado federal assumidamente LGBT foi eleito em 2014: Jean Wyllys, do Psol
do Rio de Janeiro.
E ainda há as mulheres. Com apenas 10,7% da presença delas na Câmara dos
Deputados, a Inter-Parliamentary Union coloca o Brasil numa posição
vexaminosa em seu ranking de representatividade de gênero: 152º lugar entre
193 países, à frente apenas de algumas poucas nações, a maioria delas
africana.23
Há tão poucas candidatas na disputa dos cargos políticos que, em 2016, entre
todos os postulantes às prefeituras das capitais brasileiras, havia mais
milionários concorrendo do que mulheres.24 Quase um quarto das câmaras
municipais, em 2016, não recebeu nenhuma vereadora.25 No total, mesmo
sendo 51,4% da população,26 as mulheres conquistaram apenas 13% das
prefeituras e das câmaras em 2016 (o MDB é o partido com o maior número de
mulheres prefeitas: 128). Até o Partido da Mulher Brasileira (PMB) elegeu mais
homens que mulheres: 165 vereadores contra 51 vereadoras.27
Em 2015, aliás, quando nasceu, o Partido da Mulher Brasileira recebeu seus
primeiros filiados com mandato no Congresso Nacional: todos homens. No final
do ano, o partido já contava com 22 deputados federais, dentre os quais apenas
duas mulheres (inferior inclusive à média dos demais partidos). Em janeiro de

outubro2018
Clube SPA

2016, o PMB chegou a figurar entre as dez maiores legendas da Casa – à frente
de partidos mais tradicionais como DEM, PDT, PRB, PV, PC do B e PSC. Em dois
meses, no entanto, o partido desmoronou: vinte deputados subitamente
abandonaram a sigla, tornando-a a menor legenda dentro da Câmara. No início
de 2018, o Partido da Mulher Brasileira já não tinha mais nenhum
representante no Congresso. Um ano antes, ele foi processado pelo Tribunal
Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) por descumprir o percentual
mínimo do tempo das inserções para promoção e divulgação da participação
política feminina em suas propagandas.28
Na verdade, mesmo aprovando uma lei que determina que os partidos e
coligações reservem pelo menos 30% de suas vagas para candidatas do sexo
feminino,29 as mulheres recebem um percentual muito baixo de votos nas
eleições brasileiras – e essa porcentagem não aumentou depois da cota, ainda
que o número de candidatas tenha crescido.
Matureia, uma cidade com um eleitorado de 4.950 pessoas, no sertão da
Paraíba, deu um único voto para mulheres nas eleições de 2016. E não foi por
falta de opções. Cumprindo as cotas, a cidade apresentou doze candidatas e 23
candidatos na disputa à Câmara Municipal – ou seja, as mulheres eram 34% dos
postulantes às nove vagas. Vanessa, do PDT, foi a única a ter seu número
digitado na urna. Ela encerrou sua participação com 0,02% dos votos. Nenhum
homem ficou sem voto na disputa (o presidente da Câmara, Paulo Orlando de
Souza, do PSB, foi preso em 2017 em flagrante, com um caminhão clonado30).
As demais candidatas não receberam o voto nem delas mesmas.31
O exemplo do sertão paraibano não é um caso isolado. Desde que as cotas de
gênero passaram a ser parte do processo eleitoral brasileiro, o número de
mulheres que não recebem sequer um voto nas eleições explodiu.
Ao todo, 14.498 candidatas não receberam nenhum voto nas disputas para
as Câmaras Municipais país afora em 2016. Elas representam 10% das
candidatas a vereadora – número dezesseis vezes superior, proporcionalmente,
aos candidatos masculinos que não receberam nenhum voto. Em 2008, antes da
cota, duas mil mulheres passaram em branco na disputa (o mesmo número dos
homens naquela eleição). Em 2016, em mais de 170 municípios, as mulheres
sem voto representaram pelo menos metade de todas as candidatas. Enquanto
as mulheres eram metade de todas as candidaturas sem voto em 2008,
assumiram nove de cada dez nas duas eleições municipais em que a cota passou
a valer.
Na prática, tudo o que as cotas permitiram foram candidaturas-fantasmas.

outubro2018
Clube SPA

Em 2016, 35 partidos apresentaram candidatos a vereador por todo o país. Em


mais da metade deles, um número inacreditável de mais de 10% das candidatas
sem um mísero voto (15% das candidatas do PRTB, o partido do folclórico Levy
Fidelix, no topo do ranking). Nas eleições daquele ano, apenas duas siglas não
tiveram candidatas zeradas na urna: PCO e Novo.
A maioria esmagadora dos partidos recorre à presença das mulheres no
ticket apenas para não sofrer punições. Em 2008, antes da medida, elas eram
22% das candidatas e foram eleitas para 12,5% das vagas. Após a cota, o
balanço das urnas foi parecido: 13,3% em 2012; 13,5% em 2016.
De fato, a participação das mulheres na política é extremamente restrita. Nos
partidos políticos, os homens são maioria em todos os 29 diretórios nacionais
listados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em 24 deles, as mulheres não
ocupam nem um terço das cadeiras. E essa não é uma informação irrelevante.
Na prática, são eles que possuem competência para decidir questões
fundamentais da administração dos partidos – especialmente financiamento.
Em 2016, os candidatos homens receberam, em média, 30% a mais de recursos
para as campanhas às Câmaras Municipais que as mulheres.32

Quatro motivos por que você provavelmente jamais


vencerá uma eleição na sua vida

Nem tudo são espinhos na disputa eleitoral brasileira. Há certamente alguns


atributos que facilitam o acesso ao poder em nosso país. Se você está
interessado em travar alguma disputa nas urnas nos próximos anos, é melhor
estar atento aos próximos parágrafos. Neles estará o caminho das pedras que
leva ao oásis da democracia tupiniquim. Tome nota.

a) Seja milionário.

Cá entre nós, em se tratando de política, dinheiro nunca é demais. A verdade


é que quanto mais grana você tiver disponível na sua conta bancária, maior será
a possibilidade de ser eleito no Brasil.
Quase metade da Câmara dos Deputados eleita em 2014 foi formada por
candidatos milionários. Segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),

outubro2018
Clube SPA

248 políticos declararam possuir um patrimônio superior a R$ 1 milhão (a


incrível marca de 48% dos 513 eleitos). No total, os parlamentares declararam
um patrimônio de R$ 1,2 bilhão – o que representa uma média de R$ 2,4
milhões para cada um. O eleito mais rico da legislatura 2015-2018 foi o
deputado Alfredo Kaefer (PSDB/PR). O industrial declarou possuir R$ 108,6
milhões. Na contramão de Alfredo, contrariando a lógica eleitoral, onze
deputados eleitos em 2014 declararam não possuir qualquer patrimônio ao
TSE.33
Nas Assembleias Legislativas, a presença de milionários também é marcante:
em 2014, dos 1.059 deputados estaduais eleitos, 375 declararam possuir mais
de R$ 1 milhão. O patrimônio médio dos eleitos também é milionário: R$ 1,446
milhão. Ao todo, 55 deputados não assumiram qualquer bem em seus nomes. O
deputado estadual mais rico do país é o empresário Zeca Viana (PDT/MT). Ele
registrou R$ 87 milhões no TSE, entre fazendas, terrenos, veículos e cotas de
aeronaves.34
Entre os 5,5 mil prefeitos eleitos nas eleições municipais de 2016, 1,1 mil
declarou um patrimônio superior a R$ 1 milhão – ou seja, um em cada cinco
prefeitos assumiu ser milionário. Do total, 55 prefeitos declararam possuir mais
de R$ 10 milhões – destes, 29 admitem possuir mais de R$ 20 milhões. Na
disputa das 26 capitais brasileiras, onze foram conquistadas por candidatos
milionários.35

b) Tenha parentes importantes na política.

É inegável: ter membros importantes da classe política na família aumenta


substancialmente a chance de ganhar uma eleição no Brasil.
Seis em cada dez parlamentares brasileiros têm parentes na política. O
número é assustador: pelo menos 319 deputados federais (62%) e 59
senadores (73%) têm laços de sangue com outros políticos. Os números são tão
expressivos que fazem o Brasil superar até a Índia nesse quesito, conhecida
mundialmente por sua sociedade de castas. Uma pesquisa publicada em 2011
pelo historiador britânico Patrick French mostra que 28% das cadeiras da
Câmara indiana eram ocupadas por deputados com políticos na família. A
metade do nosso Congresso.36
E aqui, atenção. Essa relação de parentesco ganha ainda mais importância
caso você seja um candidato das regiões Norte e Nordeste: nesses lugares, na

outubro2018
Clube SPA

legislatura 2015-2018, os números de deputados federais com laços políticos de


sangue alcançaram 52% e 63%, respectivamente. Os cinco estados com
percentuais mais elevados nesse quesito foram nordestinos: Rio Grande do
Norte (100%), Paraíba (92%), Piauí (80%), Alagoas (78%) e Pernambuco
(76%). No Senado, as regiões marcaram números ainda piores: 67% e 59%,
respectivamente. Em seis estados brasileiros, todos os senadores eleitos em
2014 tinham ou já tiveram algum parente eleito (Acre, Alagoas, Espírito Santo,
Paraíba, Paraná e Sergipe).37

Fonte: Transparência Brasil.

E a formação de castas não se concentra apenas em Brasília. O cientista


político Vanuccio Pimentel coletou dados de 1.511 municípios do Nordeste e
descobriu que 43% deles possuem um ou mais parentes de prefeitos como
secretários das principais pastas: Saúde, Educação e Assistência Social. O
próprio Pimentel aponta que “o percentual real certamente é muito maior que
isso, se levar em conta todas as secretarias”.38

outubro2018
Clube SPA

Fonte: Transparência Brasil.

Na prática, parte importante do país é controlada por clãs políticos:


organizações baseadas nos laços consanguíneos, grupos com parentescos
dedicados em dominar as siglas partidárias, com o único interesse de controlar
o processo político regional e se reproduzir na administração pública,
retroalimentando suas posições de poder.
E é fácil entender por que o domínio se dá nas secretarias municipais. A
Constituição Federal de 198839 tornou inelegíveis filhos ou parentes
consanguíneos dos membros do Executivo (presidente da República,
governadores e prefeitos), que não podem disputar a eleição subsequente aos
seus mandatos, com o evidente objetivo de impedir que grupos familiares
controlassem o poder político eternamente. O único problema é que ela não
criou qualquer restrição à estruturação dos clãs nos cargos comissionados da
administração pública, indicados pelo chefe do Executivo. Ou seja: mesmo
impedido de deixar um parente como seu sucessor, os prefeitos podem
preencher os cargos de livre nomeação como quiserem, inclusive empregando
toda a sua parentela nas secretarias.
Já em 1910, há mais de um século, e apenas 21 anos após a proclamação da
República, o intelectual sergipano Sílvio Romero apontava a presença dessas
oligarquias regionais como o principal motivo para o atraso político no Brasil.
Em Provocações e debates: contribuições para o estudo do Brasil social,40 Romero
acusava o Brasil de ser governado por uma ditadura das oligarquias e apontava
a existência do “filhotismo” em nossa cultura política, ainda tão presente no país
– a tal herança do capital político de pai para filho, escolhido e propagado como
sucessor e guardião de sua tradição familiar:

Porque é que o Brasil é esse produto amorpho, originalíssimo, que se não


parece de todo com algum outro povo conhecido…
Com a sua divisão da população nos vinte Estados em dous grupos – o
dos que governam, mandam, opprimem e dispõem para si e seus amigos
ou apaniguados de todos os cargos, empregos e proventos das rendas
publicas directa ou indirectamente, e – o dos adversarios, verdadeiros
Pariás, que ou trabalham mal ou vivem da mendicidade ou da rapina; com
a sua implacavel politica-meio-de-vida, política que não passa da
symbolisação de reles e vil egoísmo, política de extorsão que fornece o
goso e o alimento a um vasto mandarinato de incapazes, cujo valor se
reduz a manhas e traças para guardar as posições; com a empregomania e

outubro2018
Clube SPA

pendor para o genero facil e commodo de vida das carreiras officiaes,


grave molestia que devasta a mocidade, annulla os talentos e deteriora os
caracteres; com a sua incuravel e devassa advocacia administrativa,
sugadoiro de toda a vergonha dos governos; com as suas obras publicas,
quasi todas de índole sumptuaria; (…) com suas roubalheiras chronicas na
administração; com seus desfalques nos cofres das repartições fiscaes;
com sua falsificação das eleições, o descaro com que os donos e senhores
dos Estados opprimem os povos, sugam-nos com impostos, denegam com
negregado desplante a justiça: com o desmantelo de todos os serviços
publicos, nomeadamente os que se referem á instrucção, á educação e á
applicação do direito; com o seu abatimento geral de todas as forças
ideaes, impulsionadoras da alma dos povos á segurança de altos destinos
autonomos; com o abatimento de tudo que não seja pedir dinheiro para
gastar e mentir para fascinar, funcção unica dos governos desta boa terra
na hora presente, com todas essas maculas e mil outras que todas se
calam por não poderem entrar num só periodo, o nosso querido e
desventurado Brasil tem sido levado a não se parecer com povo algum da
terra.
Não se parece com os antigos imperios militares da Assyria, da
Babylonia, da Persia: – Monarcha e os seus Satrapas…
Não se parece com o Imperio Romano: – o Imperador e seus
proconsules…
(…) Não se parece com a Inglaterra do self-government, da iniciativa
pessoal, do liberalismo pratico, da riqueza e do poder…
Não se parece com os Estados Unidos, livres, opulentos, industriaes,
fortes, conscios da propria prosperidade…
Não se parece com a França unitaria, culta, severa no emprego da
justiça, grande na evolução das ideias…
Não se parece com a Suissa, democratica, a terra do referendum, da
pratica segura da liberdade effectiva do povo.
Não, nada disso. O Brasil de hoje, como foi organisado por certos
phantasistas sem cultura real, sem plasticidade organica de talento e de
doutrinas, confundidores famosos de phrases com idéas, e como tem
andado ao sabor e sob o tacão de criminosos exploradores, – é uma
desarticulada dictadura, de joelhos perante o exercito, repartida em vinte
oligarchias fechadas, feudos escusos, pertencentes a vinte bandos de
sicarios…

outubro2018
Clube SPA

Semelha-se a um enorme mastodonte, dividido em vinte pedaços que


apodrecem lentamente sob o corvejar de abutres que os devoram…
A prova resalta da analyse das varias zonas do paiz. Por toda a parte
campeam o filhotismo, a denegação da justiça, o desconhecimento de
direito aos adversarios, a oppressão das opposições, a impunidade dos
amigos e correligionarios, as malversações de toda a casta, os desfalques
nas rendas publicas, a miseria de populações inteiras, tosquiadas pelo
fisco, os calotes officiaes, o immenso funccionalismo mezes e annos sem
receber vencimentos, os simulacros de eleições a bico de penna, os
deficits em todos os orçamentos, a torpe advocacia administrativa, a
traição como meio de obter e guardar o mando, o desvergonhado
hetairismo nos palacios governamentaes, em que chafurdam varios
presidentes estadoaes, as escandalosas concessões de dinheiros publicos
a marafonas conhecidas…
Tudo isto escorado em duas fortes alavancas: Uma dellas, emprestimos
e mais emprestimos do estrangeiro, sob todas as fórmas e com todas a
humilhações, inclusive a de hypotheca das rendas das alfandegas.
(…) A outra, grupo de bandidos organisados, como forças alliadas dos
oligarchas, obedientes ás sua ordens, mantendo o terror onde este se faz
mister…
Nada de serio se tem tentado em parte alguma para reerguer e
aviventar o povo. Nenhum desses grandes processos, desses energicos
estimulos que fortalecem as nações tem sido postos em pratica.
Percorre-se o paiz inteiro. Nada se encontra nelle de novo, além da
negrura e da desfaçatez das oligarchias…

Os clãs políticos brasileiros são produtos originários do século XIX.


Historicamente eles se sustentam – tanto na forma mais primitiva (a do
coronelismo) quanto na evoluída (a da instituição partidária) – apostando no
mesmo instrumento: o clientelismo.
Esses grupos oligárquicos se promovem apelando para a natural
desigualdade que seus membros (os senhores de terras e os representantes
políticos) possuem em relação às suas clientelas (os trabalhadores agrários e os
eleitores das periferias urbanas). E fazem isso invocando o personalismo
familiar, fingindo-se intermediadores quase divinos entre os recursos públicos
locais e suas clientelas. É através dessa suposta proteção (social ou econômica)
oferecida por esses oligarcas a populações completamente desamparadas, que

outubro2018
Clube SPA

estas estabelecem quase um dever cívico de lealdade política ao seu clã.


Além disso, parte importante dessa estrutura é construída fora das eleições,
dentro da máquina pública, local onde o chefe do clã amplia seu capital político
aumentando o gasto dos municípios na forma de empregos, de promoções por
indicação política e por um sistema de compensação que cria posições
entrelaçadas de privilégio (e comprometimento) para os indivíduos dentro da
administração pública.
Como conta o sociólogo fluminense Edson de Oliveira Nunes:41

Estas redes envolvem uma pirâmide de relações que atravessam a


sociedade de alto a baixo. As elites políticas nacionais contam com uma
complexa rede de corretagem política que vai dos altos escalões até as
localidades. Os recursos materiais do Estado desempenham um papel
crucial na operação do sistema; os partidos políticos – isto é, aqueles que
apoiam o governo – têm acesso a inúmeros privilégios através do
aparelho de Estado. Esses privilégios vão desde a criação de empregos até
a distribuição de outros favores como pavimentação de estradas,
construção de escolas, nomeação de chefes e serviços de agências, tais
como o distrito escolar e o serviço local de saúde.

Alguns clãs são tão estapafúrdios que beiram o grotesco. É o caso da família
Andrada, que desde 1821, antes mesmo de d. Pedro I proclamar a
independência do Brasil, se perpetua no Congresso.
O tucano Bonifácio de Andrada, deputado federal por Minas Gerais, é o
principal membro de um clã que já está na sua sexta geração em cargos
públicos, com catorze representantes no Parlamento nos últimos 197 anos.
Completando seu décimo mandato na Câmara dos Deputados na legislatura
2015-2018, o representante mineiro chegou a deter o recorde de número de
mandatos políticos no país: quinze no total, considerando seu período como
deputado estadual e vereador. Desde o fatídico ano em que Getúlio Vargas se
suicidou com um tiro no coração, em seu quarto, no Palácio do Catete, que
Bonifácio nunca atravessou uma primavera sem exercer um cargo eletivo. O
precursor dessa história, e o mais famoso membro do clã – para quem ainda não
ligou o nome à pessoa –, é José Bonifácio de Andrada e Silva, nascido em 1763 e
figura cativa dos nossos livros de história.42
Apesar de seu papel de destaque em nossa história, o “Patriarca da
Independência” terminou a vida no ostracismo, aos 75 anos, destituído do posto
de tutor do príncipe herdeiro durante uma conspiração política travada por

outubro2018
Clube SPA

seus adversários. Apesar disso, o protagonismo do clã dos Andrada se


intensificou na segunda geração, quando seus descendentes tiveram uma
importante atuação como deputados, senadores e ministros de Estado durante
o reinado de dom Pedro II.43
José Bonifácio de Andrada e Silva, conhecido como “o Moço” por ter o mesmo
nome do tio-avô, foi senador e ministro da Marinha (há uma estátua em
homenagem a ele na Faculdade de Direito de São Paulo). Seu irmão, Martim
Francisco Ribeiro de Andrada, comandou o Ministério de Relações Exteriores,
da Justiça e presidiu a Câmara de Deputados. Antonio Carlos Ribeiro de
Andrada – seu outro irmão – foi deputado e senador.
José Bonifácio Lafayette de Andrada – pai do deputado do PSDB – teve papel
de destaque na Revolução de 1930. Ele foi membro da Assembleia Nacional
Constituinte de 1946, deputado federal por oito mandatos e presidente da
Câmara dos Deputados (1968-1970).44 Já Antônio Carlos Lafayette de Andrada,
tio do parlamentar tucano, presidiu o STF entre 1962 e 1963 (ele foi casado
com Maria Hilda Diniz de Andrada, filha do senador mineiro Henrique Diniz,
com quem teve os seguintes filhos: José Bonifácio Diniz de Andrada, deputado
federal entre 1971 e 1979, e Henrique Augusto Diniz de Andrada, advogado e
juiz do Tribunal Superior Eleitoral).
Bonifácio de Andrada, na quinta geração do clã, teve oito filhos. Entre eles, o
vice-procurador-geral da República, José Bonifácio Borges de Andrada; Antônio
Carlos Doorgal de Andrada, vereador mais votado e o mais jovem prefeito eleito
da história de Barbacena, deputado estadual por duas ocasiões e conselheiro do
Tribunal de Contas de Minas Gerais, onde foi seu presidente; e Lafayette Luiz
Doorgal de Andrada, que já foi vereador de Lavras e de Juiz de Fora, além de
deputado estadual por três mandatos consecutivos (2007-2018).
Constituir um clã é tão importante eleitoralmente no Brasil que 33 famílias
conseguiram eleger mais de um representante no Congresso Nacional na
legislatura 2015-2018. É o caso, por exemplo, dos senadores Antonio Carlos
Valadares (PSB/SE), Benedito de Lira (PP/AL), Cássio Cunha Lima (PSDB/PB),
Fernando Coelho Bezerra (PSB/PE), Garibaldi Alves (MDB/RN), João Alberto
Souza (MDB/MA), José Agripino (DEM/RN) e Vicentinho Alves (PSD/TO), pais,
respectivamente, dos deputados federais Valadares Filho (PSB/SE), Arthur Lira
(PP/AL), Pedro Cunha Lima (PSDB/PB), Fernando Coelho Filho (PSB/PE),
Walter Alves (MDB/RN), João Marcelo Souza (MDB/MA), Felipe Maia
(DEM/RN) e Vicentinho Junior (PSD/TO).
Alguns compartilham até escândalos políticos. É o caso de Benedito e Arthur

outubro2018
Clube SPA

Lira, investigados na Operação Lava Jato. Pai e filho são acusados de receber
propina do esquema de corrupção na Petrobras.45

c) Seja dono de um veículo de comunicação.

Se você não é milionário e não possui nenhum parente importante na


política, sem desespero. Há uma outra maneira de incrementar sua chance de
ocupar um cargo eletivo no Brasil: sendo dono de um veículo de mídia.
Nas eleições majoritárias de 2014, os candidatos que se apresentaram aos
diferentes pleitos em todo o país eram donos ou acionistas de 32 empresas de
televisão, 141 rádios e dezesseis jornais impressos.
O artigo 54 da Constituição é categórico: nossos parlamentares não devem
“firmar ou manter contrato com empresa concessionária de serviço público”. No
Brasil, a concessão para emissoras de TV ou rádios é pública, concedida pela
União e aprovada pelo Congresso Nacional.
Em 2014, Tasso Jereissati (PSDB/CE) foi o candidato que declarou o maior
patrimônio em veículos de comunicação no Brasil. Ele informou ter R$ 3,2
milhões em ações da TV Jangadeiro, afiliada da Rede Bandeirantes. Em segundo
lugar na lista estava o candidato a deputado federal José Sarney Filho (PV/MA),
filho de José Sarney (MDB/MA). Ele disse ser dono de cotas da Televisão
Mirante, afiliada da Rede Globo, no valor de R$ 2,7 milhões. O terceiro maior
patrimônio em veículos de comunicação foi declarado pelo candidato a
deputado federal Paulo César de Oliveira Lima (MDB/SP), que informou ter R$
2,4 milhões em cotas da TV Fronteira, afiliada da Rede Globo.46
O problema não vem de hoje. Já em 1980, uma reportagem do Jornal do
Brasil, “No ar a voz do dono”, da jornalista Elvira Lobato, apresentava um
levantamento com nomes e filiação partidária de 103 políticos de dezesseis
estados que tinham controle, direto ou indireto, de emissoras de rádio e
televisão.47
A importância dos veículos de comunicação na constituição dos clãs políticos
é histórica no Brasil. Não faltam exemplos. Na Bahia, o grupo do qual fazem
parte a TV Bahia (afiliada da Rede Globo) e o jornal Correio da Bahia é
controlado pela família Magalhães, do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM),
reeleito em 2016. No Paraná, quem controla a Rede Massa (afiliada do SBT) é o
apresentador Carlos Massa, pai de Ratinho Filho (PSD), que foi deputado
estadual e federal. Em Alagoas, o grupo que possui a TV Gazeta Alagoas (afiliada

outubro2018
Clube SPA

da Rede Globo), o jornal Gazeta de Alagoas e a emissora de rádio FM Gazeta 94,


é liderado por Fernando Collor de Mello (PTC), senador reeleito em 2014. No
Pará, o grupo que possui o jornal Diário do Pará e a TV Tapajós (afiliada da Rede
Globo) pertence ao senador Jader Barbalho (MDB) e sua família.48
Na legislatura 2015-2018, 8,4% do total dos membros da Câmara dos
Deputados assumiram ser concessionários de serviços de rádio ou TV: 43
deputados. No Senado Federal, esse número é ainda pior: dezenove senadores,
ou 23,5% dos membros da Casa. Ou seja, de 594 parlamentares eleitos, 63
declararam ser outorgados de meios de comunicação, mais de 10% do
Congresso Nacional. Em alguns estados, como o Rio Grande do Norte, Roraima e
Santa Catarina, a situação é tão caótica que a propriedade de canais de rádio e
TV por políticos ultrapassa 50% do total.49
Nas eleições municipais de 2016, 216 proprietários de emissoras locais de
rádio (FM) se candidataram a prefeito. Desses, 94 saíram vencedores nas urnas,
entre eles: ACM Neto (DEM/BA), prefeito de Salvador (BA) e proprietário, entre
outras, da Rádio 90,1 FM; Humberto Souto (PPS/MG), deputado federal por sete
mandatos, eleito prefeito de Montes Claros (MG) e controlador da Rádio
Educadora de Montes Claros; e Walter Caveanha (PTB/SP), que venceu pela
quinta vez a Prefeitura de Mogi Guaçu (SP) e é sócio da Rádio e TV Vale do Mogi
Guaçu.50
A maior parte desses prefeitos radiodifusores atua em cidades muito
pequenas do interior do país, locais em que essas rádios são a única fonte de
informação disponível. Ter o controle criativo de um canal com esse tipo de
visibilidade, podendo definir prioridades na programação ou ignorar
solenemente pautas defendidas por adversários políticos, permite uma
ferramenta poderosíssima de propaganda, um monopólio da informação,
preparado não apenas para garantir eleições, mas também reeleições,
pavimentando o sucesso do clã político.
Desses 94 prefeitos, 76 (80,85%) são membros da diretoria de alguma rádio
comunitária, uma modalidade de radiodifusão criada em 199851 como
alternativa às emissoras comerciais, e que foi logo dominada pelos clãs
políticos, que detectaram nesses espaços uma boa possibilidade de aumentar o
capital eleitoral.
Nas eleições de 2016, 43,5% foi a taxa de sucesso dos candidatos
proprietários de rádios locais. Entre todos os candidatos, considerando os
15.803 postulantes às vagas disponíveis de prefeito, esse número foi de 34,6%.
Ou seja: ter uma rádio local desequilibra consideravelmente os pleitos

outubro2018
Clube SPA

municipais, aumentando a chance de sucesso eleitoral. Na verdade, o simples


fato de possuir uma licença de uma rádio FM fez com que esses candidatos
aumentassem em 25,8% as chances de serem eleitos em 2016.52
E quando não cuidam da administração de veículos de comunicação, nossos
políticos estão ocupados tentando censurá-los. Nas eleições de 2016, candidatos
moveram ao menos vinte ações buscando suspender programas específicos de
rádios locais ou dias inteiros da programação das emissoras. A maior parte
desses pedidos, dezoito, aconteceu no Nordeste – foram seis ações na Bahia,
cinco no Ceará e cinco em Pernambuco, os três estados campeões. Desses, os
juízes acolheram três pedidos, com duas suspensões de 24 horas de
programação das rádios Diário FM, de Fortaleza, e São Domingos, de Santa Cruz
do Capibaribe, em Pernambuco.53
Também em 2016, 342 diferentes veículos de comunicação receberam 606
processos judiciais para retirar conteúdo do ar: 149 jornais, 44 blogs, 22
portais, 13 rádios e 13 TVs. O Facebook foi o campeão de processos, citado 237
vezes (em 39% das ações), seguido pelo Google, citado quarenta vezes, e pelo
UOL, citado vinte vezes.54
Durante as eleições de 2016, 88 ações judiciais pediram o recolhimento de
jornais locais – mais da metade delas partindo de candidatos de São Paulo (36)
e Paraná (23), com alguns veículos recebendo pedidos de recolhimento em mais
de uma ocasião. Ao todo, os juízes deferiram 41% das requisições para
restringir a circulação dos jornais.55
Nas eleições de 2014, a Justiça Eleitoral registrou, até o final do pleito, 190
ações movidas por pelo menos vinte partidos para barrar e punir a divulgação
de informações por veículos de comunicação. Os três maiores partidos
brasileiros foram os que mais buscaram a censura naquele ano: PMDB, PSDB e
PT foram autores de 97 denúncias, 48% do total.56
Cabe destacar que o Brasil só perde para a Rússia no ranking de países que
mais enviam ordens para o Google remover conteúdo de suas plataformas:
entre 2009 e 2016, foram 5.261 solicitações de órgãos governamentais, quase
70% assinadas pelo Judiciário, envolvendo 54 mil itens na internet.
A quantidade surpreende o próprio Google. Para a companhia de Mountain
View, “o problema brasileiro é o excesso de cerceamento judicial das liberdades
de expressão, informação e imprensa”.57

d) Esteja no poder.

outubro2018
Clube SPA

Por fim, se você não é milionário, nem parte de um clã político e não tem
uma empresa de comunicação para chamar de sua, há uma outra maneira de
você vencer uma eleição no Brasil: já estando no poder.
Desde 2000, quando a reeleição para as prefeituras passou a valer no Brasil,
até 2016, o percentual de sucesso de um candidato que busca se manter
prefeito é de 57% (e esse percentual pode ser maior, já que o levantamento não
considera os casos em que o prefeito deixou o cargo no meio do mandato para
que seu vice pudesse concorrer à reeleição). Para os governadores, que
passaram a contar com o artifício a partir de 1998, o índice, considerando a
série histórica até 2014, é ainda pior: 69%.58
No Congresso a situação não é muito diferente. Em 2014, 391 deputados
federais buscaram a reeleição: 290 conseguiram um novo mandato. Ou seja,
apenas um quarto desse total não conseguiu se reeleger.59
A explicação é simples. No poder, os políticos possuem uma série de regalias
que pavimentam suas candidaturas ao longo de quatro anos. Das cotas para
divulgar a atividade parlamentar à grande exposição na mídia, o exercício de
poder é quase sempre um instrumento para a sua própria perpetuação. E em
ano eleitoral vira uma desculpa para o aumento do gasto público.
Para os prefeitos, o último ano de mandato é tipicamente aquele em que os
municípios mais investem: em média, 20% a mais do que nos três anos
anteriores.60
Os investimentos do Ministério da Saúde em obras e compras de
equipamento, por exemplo, costumam acelerar significativamente em ano de
campanha. A prática foi constatada pelo CFM, que analisou a execução
orçamentária da União durante os primeiros quadrimestres de 2001 a 2014.
Segundo dados oficiais, o investimento nos anos de eleições gerais ou
municipais subiu em média 48%, confirmando a tendência de aumento dos
gastos públicos em anos de pleitos eleitorais e de contenção de despesas nos
anos subsequentes.61

outubro2018
Clube SPA

E a saúde não é a única atendida. Entre janeiro e abril de 2014, o antigo


Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), por exemplo, investiu R$ 1,5
bilhão. O valor é mais de 1.000% superior ao investido pelo órgão no mesmo
período em 2013.
Em 2011, o Ipea publicou um estudo tendo como base dados de 1995 a 2011
e demonstrou que os investimentos do governo federal, dos estados e dos
municípios, em todas as áreas, são influenciados pelo calendário eleitoral: “Os
anos subsequentes às eleições presidenciais e dos governadores estaduais
normalmente coincidem com quedas muito fortes da taxa de investimento
público, relacionadas a programas de ajustes fiscais, que posteriormente são
revertidas no decorrer do ciclo eleitoral.”62
Não faltam pesquisas que confirmam a relação entre a situação econômica
de uma região ou de um país e o seu papel de influência na hora do voto. O
cientista político Gerald Kramer publicou um estudo ainda em 1971 analisando
o fenômeno, comparando o resultado das eleições norte-americanas para a
Presidência e o Congresso entre 1896 e 1964. Segundo ele, a relação entre o
desempenho da economia e a manutenção do partido titular no poder ficou
evidente. A conclusão é que uma redução de 10% na renda per capita gera uma
perda de aproximadamente 5% das cadeiras ocupadas pelo partido do
presidente no Congresso. Além disso, Kramer sugere que flutuações econômicas

outubro2018
Clube SPA

explicam cerca de 50% da variação do voto no Legislativo americano.63


Na prática, os eleitores atribuem uma grande importância ao desempenho da
economia na hora de escolher seus candidatos. Ou seja: votam, em grande parte,
pelo bolso. É exatamente por isso que há um imenso incentivo para que um
político no poder procure induzir o crescimento econômico em anos de
campanha eleitoral – muitas vezes manipulando os dados oficiais. É por isso
que estar no poder, especialmente no Executivo, é uma posição cômoda para
ganhar uma eleição. Você não possui apenas um amplo destaque durante os
quatro anos de trabalho: ainda tem acesso à máquina pública. No Brasil, os
gastos com publicidade chegam a crescer 20,8% em ano eleitoral.64
Se você, no entanto, alcançou essa posição milionário, membro de um clã
político e dono de algum canal de comunicação, como é extremamente comum
em nosso país, utilizar a máquina a seu favor, interessado em receber o bônus
eleitoral por uma eventual sensação de melhora induzida por ela, é apenas a
cereja do bolo. Na prática, você já tem tudo o que precisa para vencer qualquer
eleição no Brasil.

O sistema é mau, mas minha turma é legal

Para ser eleito no Brasil, todo candidato deve se submeter às leis do nosso
sistema eleitoral.
Atualmente, o voto no Brasil é facultativo para analfabetos, idosos com mais
de setenta anos e jovens com mais de 16 e menos de 18 anos. Para os demais
brasileiros ele é obrigatório. É o que diz a nossa Constituição em seu artigo 14.
Caso não compareça às urnas no dia da votação, ainda que para anular ou
justificar a ausência em sua seção, você deve prestar satisfação à Justiça
Eleitoral. Aqueles que ignoram essa convocação podem ser proibidos de prestar
concurso público, renovar a matrícula em universidades públicas, pegar
empréstimos em bancos ou tirar passaporte e carteira de identidade.
A obrigatoriedade, definitivamente, não é algo popular no Brasil. Segundo
uma pesquisa do instituto Datafolha, divulgada em 2014, 61% dos brasileiros
são contra o voto compulsório. Mais do que isso: 57% dos eleitores nem sequer
votariam nas próximas eleições presidenciais se não fossem obrigados. A
maioria dos descontentes são brasileiros com renda familiar mensal acima de
dez salários mínimos (68%) e ensino superior (71%). Gente que integra as
camadas mais instruídas da população.65

outubro2018
Clube SPA

Segundo uma pesquisa publicada pelo próprio Tribunal Superior Eleitoral


em 2015, o número de insatisfeitos com a obrigatoriedade é ainda maior: 76%
dos eleitores brasileiros são contrários ao voto compulsório.66
De fato, o voto é encarado como um direito na maior parte do mundo – e não
como um dever, como aqui. De acordo com o International Institute for
Democracy and Electoral Assistance, com sede na Suécia, 86% dos países do
mundo não têm votação compulsória, enquanto 13% deles têm. No 1% restante
não há eleição. Das dez maiores economias do mundo, apenas no Brasil o voto é
obrigatório. Entre os países com voto compulsório, apenas quatro são
desenvolvidos – a Bélgica e a Austrália, além de duas cidades-Estado que,
somadas, não alcançam seis milhões de pessoas: Cingapura e Luxemburgo.67

Países onde o voto é compulsório

Há também outras peculiaridades do nosso sistema. No Brasil, um candidato


precisa necessariamente estar filiado a um partido político para disputar uma
eleição. Em apenas 9,5% dos países do mundo candidatos independentes não
podem concorrer tanto ao Executivo quanto ao Legislativo. Entre as vinte
maiores economias globais, o Brasil é o único presente nessa lista. Nós estamos
nessa ao lado de países como Nicarágua, Camboja, Suriname, Uzbequistão e
Zanzibar.68

Podem candidatos independentes competir em eleições presidenciais ou legislativas? (Nem nas


presidenciais, nem nas legislativas)

outubro2018
Clube SPA

E ainda há o Tribunal Superior Eleitoral. Em apenas 12,1% dos países do


mundo há tribunais eleitorais como o nosso. Em 59,6% das democracias (como
na Austrália, no Canadá, na Alemanha, no Reino Unido e na Holanda) quem
cuida do processo eleitoral é o próprio Judiciário. Em outras 37,2% (como em
Israel, na Coreia do Sul e na Noruega) há um corpo de administração eleitoral
responsável pelos pleitos.69 O nosso TSE custa R$ 5,4 milhões por dia, ou R$ 2
bilhões por ano, pagos pelos pagadores de impostos.70
Mesmo num ano sem eleição, aliás, a Justiça Eleitoral chega a custar R$ 21
milhões por dia, ou R$ 7,7 bilhões. Esses são os números de 2017. Na conta
estão os gastos com o Tribunal Superior Eleitoral, os 27 tribunais regionais e o
fundo partidário.

Quais as agências responsáveis pelo primeiro nível de disputa eleitoral? (Tribunal Eleitoral
especialmente indicado/eleito)

Na prática, a Justiça Eleitoral é o único órgão do Poder Judiciário brasileiro

outubro2018
Clube SPA

com uma função administrativa que extrapola sua própria área de atuação.
Cabe a ela administrar todo o processo eleitoral, alistando eleitores e
candidatos, apurando e diplomando vencedores, fiscalizando contas de
campanha, julgando e normatizando. É um caso único no mundo, como aponta o
cientista político Gilberto Guerzoni Filho: “A situação não é uniforme em outros
países, onde vamos encontrar as mais diversas formas de organização, variáveis
conforme a história, o sistema político-eleitoral e o sistema judicial de cada um.
Nas democracias mais antigas, não há uma Justiça específica para tratar dessas
questões eleitorais.”71
Entregar tamanho poder sobre o processo eleitoral ao Judiciário é fruto da
própria falta de confiança da população brasileira na sua classe política. Criada
em 1932, no governo Getúlio Vargas, a Justiça Eleitoral veio ao mundo
exatamente para combater a escancarada corrupção que marcava as eleições,
então subordinadas e administradas pelo Poder Executivo – vale lembrar que
em todo o mundo é comum que esse trabalho fique com ele: seja nacional
(como na Finlândia e na Argentina), seja municipal (como nos Estados Unidos,
na França e na Alemanha).72
E ainda há o próprio modelo eleitoral.
No Brasil, presidente da República, governadores, senadores e prefeitos são
escolhidos pelo sistema majoritário – ou seja: no final de cada eleição
envolvendo algum desses cargos, ganha quem atinge o maior número de votos
válidos. Deputados e vereadores, no entanto, são eleitos por um modelo
completamente diferente e confuso, um sistema proporcional de votos.
Para esses cargos, em primeiro lugar calcula-se quais partidos e coligações
tiveram mais votos. Só depois disso é que as vagas disponíveis passam a ser
distribuídas entre os candidatos mais votados de cada partido ou coligação – o
que significa dizer que, para saber se um candidato a deputado ou vereador foi
eleito, nós devemos antes listar quais foram os partidos políticos mais votados
para só então, dentro de cada partido, reconhecer quais candidatos receberam o
maior número de votos. Estes serão os vencedores da disputa.
Vale lembrar que a quantidade de vagas disponíveis para os cargos de
vereador ou deputado varia, dependendo do número de habitantes do
município ou do estado – há leis que estabelecem regras para o número máximo
de vagas, e elas são calculadas de maneiras distintas para cada cargo. É
importante também destacar que as coligações serão extintas a partir de
2020.73
Para entender melhor como isso funciona, imagine que um determinado

outubro2018
Clube SPA

município, Eleitópolis, possua apenas quatro partidos (o PA, o PB, o PC e o PD),


dois deles coligados (PA e PB), e nove vagas em disputa para o cargo de
vereador. Considere que no final da eleição foram contabilizados 2.700 votos
válidos. Como saber qual é o quociente eleitoral aqui? Dividindo os votos
válidos pela quantidade de vagas. Ou seja, 2.700 votos válidos dividido por 9
vagas é igual a 300.
Agora imagine que, nessa eleição, a coligação (PA e PB) recebeu 1.200 votos,
o PC ganhou 1.100 e o PD ficou com 400. Como são distribuídas essas vagas?

Legendas Votos válidos Coeficiente partidário


PA e PB 1.200 1.200/300 = 4
PC 1.100 1.100/300 = 3
PD 400 400/300 = 1

Pelo coeficiente, então, a Câmara de Vereadores de Eleitópolis distribuiria 4


vagas para a coligação PA e PB, 3 para o PC e 1 para o PD, certo? Só tem um
problema: são 9 vagas e há apenas 8 espaços preenchidos. O que fazer com essa
vaga que está sobrando? Um novo cálculo: é preciso agora dividir a quantidade
total de votos que cada legenda recebeu pelo número de vagas que nós achamos
na tabela anterior, acrescentando mais 1 a essas vagas (1.200/[4+1],
1.100/[3+1] e 400/[1+1]). Quem alcançar o maior resultado dessa divisão leva
a vaga que está sobrando.

Legendas Sobras Vagas


PA e PB 1.200/(4+1) = 240 4
PC 1.100/(3+1) = 275 3+1 = 4
PD 400/(1+1) = 200 1

Na conta final, Eleitópolis receberá os 4 vereadores mais votados da


coligação PA e PB, outros 4 mais votados do PC (que ficou com a vaga que
estava sobrando) e o mais votado do PD.
Como você pode observar durante esses cálculos, a quantidade de votos que
um partido ou uma coligação recebe tem um peso muito importante na hora de
definir a quantidade de vagas a serem distribuídas. É por isso que um candidato
com muitos votos ajuda a eleger outros candidatos de sua legenda ou coligação
que tenha obtido menos votos. Também é por isso que é perfeitamente possível
que candidatos sem tanto sucesso nas urnas fiquem com as vagas de candidatos
bem votados. Considerando o nosso exemplo: se o quarto candidato mais

outubro2018
Clube SPA

votado do PC recebeu 100 votos e o segundo mais votado do PD ganhou 200,


como o PC tem direito a quatro vagas e o PD a apenas uma, um candidato menos
votado será eleito.
O modelo confuso modifica radicalmente nossa compreensão sobre a
representatividade política no Brasil. Apenas 36 dos deputados federais
brasileiros eleitos em 2014 – como Chico Alencar (Psol/RJ), Jair Bolsonaro
(PSL/RJ), Tiririca (PR/SP) e Celso Russomano (PRB/SP) – conseguiram os votos
de urna necessários para obter uma das 513 cadeiras da Câmara na legislatura
2015-2018. Isso quer dizer que só 7% dos parlamentares superaram o mínimo
necessário de votos – o tal quociente eleitoral – para garantir um espaço na
Câmara dos Deputados (o mesmo número, aliás, da eleição de 2010).
Como entraram os demais 477 deputados federais? Carregados pelos
partidos (e seus puxadores de votos).
O palhaço Tiririca, por exemplo, eleito em 2010 pela primeira vez, é um bom
exemplo de como o sistema é passível de distorções. Sua participação na
política rendeu-lhe 1.016.796 votos em 2014, número muito acima do
quociente necessário proporcionalmente para o tamanho do seu partido e para
as vagas disponíveis para os deputados paulistas na Câmara. Com ele se
elegeram o Capitão Augusto, que teve somente 46.905 votos e Miguel Lombardi,
com 32.080 votos.
Em doze das 27 unidades da Federação, quem se elegeu em 2014 teve que
contar com votos que não eram seus, dados aos seus partidos ou companheiros
de coligação.74
Em 2002, quando ainda não era exigida uma quantidade mínima de votos
para o Poder Legislativo,75 Enéas Carneiro, do Prona, com 1,57 milhão de votos,
garantiu outras seis vagas ao partido – incluindo o médico Vanderlei Assis de
Souza, que acabou se tornando deputado federal com apenas 275 votos.76
Por fim, ainda resta a urna eletrônica, há muito tempo motivo de polêmica
nas discussões políticas país afora.
Em apenas 7,9% das democracias ao redor do mundo há o uso de urnas
eletrônicas nos processos eleitorais. Apenas no Brasil e na Venezuela, no
entanto, a urna é o único instrumento de contagem dos votos. Em 92% dos
países os votos ainda são registrados majoritariamente em cédulas de papel –
alguns poucos deles, é verdade, também usam a urna eletrônica como
complemento, como é o caso dos nossos vizinhos Argentina, Equador, Peru e
Paraguai.77
E se a urna eletrônica é, por si só, pouco utilizada em todo o mundo, a nossa

outubro2018
Clube SPA

é ainda menos.
Há três gerações de urnas eletrônicas.
A terceira, e mais recente, tem tela sensível ao toque, impressora, além de
um gravador e leitor de chips. Cada voto é registrado numa cédula de papel, que
contém um chip de radiofrequência. O leitor óptico verifica se o chip coincide
com o voto impresso. Em caso positivo, o eleitor insere a cédula em uma urna
comum. Esse é o modelo que atende a países como Argentina, Equador e Israel.
A segunda geração é o modelo que introduziu nas urnas eletrônicas a
possibilidade de emitir comprovante de papel. O modelo permite que os
eleitores chequem os candidatos escolhidos antes de confirmar o voto. O papel
fica na seção eleitoral.
A primeira geração é a mais antiga. A urna serve apenas para contar os votos
eletronicamente, sem permitir verificação pelo eleitor nem recontagem dos
sufrágios por não ter versão impressa do voto. O Brasil é o único país do mundo
a usar esse modelo,78 o que torna a nossa urna eletrônica a mais defasada do
planeta.79
Em dezembro de 2017, o Tribunal Superior Eleitoral divulgou os resultados
de uma série de testes que o órgão realizou, envolvendo o trabalho de diversos
especialistas em tecnologia da informação, para identificar possíveis falhas de
segurança da nossa urna eletrônica. De acordo com o tribunal, foram detectados
seis problemas durante os testes.80
Não sem razão, numa pesquisa feita pelo próprio TSE, 20% dos eleitores
brasileiros registraram total desconfiança nas urnas brasileiras (dando nota
zero à confiabilidade do sistema eletrônico), enquanto 16% registraram
confiança total (dando nota dez). E 38% deram notas de 0 a 4. A média geral foi
de nota 5. Quanto mais estudado o eleitor, menor foi a confiança dele na urna.81

outubro2018
Clube SPA

Os fundos do poço

Até 1994, o modelo de financiamento eleitoral estabelecido no Brasil proibia


expressamente as doações de pessoas jurídicas aos partidos políticos e seus
candidatos.82
Tudo mudou com o processo de impeachment do ex-presidente Fernando
Collor de Mello, acusado de beneficiar-se de um esquema de doações ilícitas de
campanha – também conhecidas como caixa dois – de empresas interessadas
em estabelecer contratos com o governo. Quando o “caso PC Farias” estourou, já
não era mais segredo para ninguém: a proibição de doação eleitoral de
empresas no Brasil era lei para inglês ver.
Em pouco tempo, nós passamos a adotar um novo modelo eleitoral.83 De
acordo com esse sistema, as despesas de campanha dos candidatos a cargos
eletivos poderiam ser cobertas não apenas com recursos do fundo partidário,

outubro2018
Clube SPA

por autofinanciamento ou doações de pessoas físicas – a festa da democracia


passava a aceitar também, e de forma oficial, o ingresso das doações de pessoas
jurídicas.
E assim nós viramos o ano. E o ano se transformou em década. E a década
virou um novo século. Tudo isso durou até 2015, quando o Supremo Tribunal
Federal decidiu proibir, mais uma vez, as doações de empresas no Brasil,
acabando com a fonte de 75% do dinheiro movimentado nas eleições por
aqui.84
E este é um ponto importante da nossa história para entender como os
incentivos funcionam.
Imagine por um instante que o governo decida proibir o comércio de leite
em nosso país. Você acorda um dia e simplesmente não encontra mais nenhum
litro à disposição no supermercado mais próximo da sua residência.
Convenhamos, você muito provavelmente não irá parar de tomar seu café com
leite da noite para o dia. E se seguir por esse caminho, certamente conviverá
com inúmeras pessoas que não respeitarão a restrição imposta pelo governo.
De fato, quem faz o mercado é o consumo, não a demanda. A proibição da
compra e venda de leite no Brasil acarretaria uma série de consequências
diretas e indiretas na sua vida. A principal delas seria jogar todo o setor na
marginalidade, atraindo o interesse de criminosos para ele, deixando o mercado
de produtos lácteos inteiramente nas mãos de empreendedores pouco
preocupados com a qualidade dos produtos que comercializam ou em respeitar
qualquer código do consumidor.
E isso é só uma parte do problema. Você não teria apenas uma oferta
extremamente reduzida de comerciantes clandestinos – e pouco confiáveis –
dispostos a vender litros de leite por aí, mas pacotes cada vez mais caros.
É fácil entender a razão. Imagine que você mesmo resolvesse atuar no setor.
Além dos constantes subornos a policiais e juízes (que estão na caçada dos
comerciantes que descumprem a lei), você teria também que sustentar uma
grande coleção de armas de fogo para proteger sua posição de mercado, além
de fornecer aos seus empregados salários compatíveis com o nível de estresse
que o seu negócio provoca – todos nós sabemos, afinal, que grana no bolso é a
única coisa que você conseguirá oferecer para atrair mão de obra num setor
com risco de morte e prisão a cada segundo.
Para manter as vendas, você seria forçado a produzir litros de leite com
qualidade cada vez pior, já que os custos para sustentar seu negócio seriam
altíssimos. É isso ou você quebra.

outubro2018
Clube SPA

Os Estados Unidos experimentaram um modelo parecido no início da década


de 1920, durante o segundo mandato do democrata Woodrow Wilson. No lugar
do leite, a proibição se deu com o comércio de bebidas alcoólicas. O resultado
foi um desastre.
Sempre que um legislador promove uma restrição artificial à oferta de um
serviço ou produto, sem se preocupar em impor qualquer solução para reduzir
a demanda, nós teremos consequências muito parecidas com as da Lei Seca.
Especialmente quando esse legislador não alimenta nenhuma preocupação com
a ilegalidade.
Condenar doações de pessoas jurídicas não significa dizer que elas deixarão
de existir – como o escândalo responsável por afastar Fernando Collor da
Presidência nos mostra. Muito menos esgotará a relação entre empresas e
governo. Como escreve Rodrigo Bandeira-de-Mello, professor e pesquisador da
FGV:85

A doação para campanha é apenas uma das ações políticas das empresas.
Impedir esse canal de atuação poderia reduzir momentaneamente os
problemas, mas a tendência é o aumento da atuação em outros canais. Na
França, por exemplo, onde a doação de pessoas jurídicas é proibida, há
forte relação entre a burocracia estatal e os homens de negócio,
principalmente por meio da elite das escolas de negócio e de formação de
administradores públicos. Vários estudos mostram que executivos que se
relacionam com o governo francês aumentam o número de postos de
trabalho em distritos eleitorais de seus aliados. Além disso, a pantouflage
(gestão de empresas por profissionais com experiência política ou a
atuação de homens de negócio na burocracia pública) é uma prática
corrente. Ainda, tal como no Brasil, onde o lobbying não é regulamentado,
a atuação de empresas e associações na Assembleia Nacional é uma
prática corriqueira.
Já nos Estados Unidos a doação de empresas para campanha, o
lobbying e o revolving door (equivalente à pantouflage na França) são
permitidos e regulamentados. Também há aqui estudos cujos resultados
mostram que os investimentos em lobbying são preferidos em relação aos
direcionados para a doação para campanha. Apesar dos consideráveis
valores doados, os sistemas eleitoral e regulatório favorecem a
participação de indivíduos e diminuem a possibilidade de que a doação
crie um mercado de votos atrativo. A pressão sobre o processo legislativo
e sobre os gastos do Executivo parece ser mais eficiente por meio do

outubro2018
Clube SPA

lobbying, apesar de seus efeitos no desempenho das empresas sejam


difíceis de serem medidos. Diferentemente da ideia recebida sobre essa
ação política, o lobbying envolve somente o fornecimento de informações
sobre as implicações de uma determinada legislação. Contudo, nos
Estados Unidos, as empresas que prestam esse serviço formam uma
poderosa indústria.

De fato, há muita coisa em jogo para que as empresas interessadas em obter


renda simplesmente abram mão de participar do jogo político. E nenhuma
comprovação de que o novo modelo de financiamento eleitoral reduzirá essa
relação.
Não bastasse, a decisão de proibir o financiamento empresarial de campanha
não veio acompanhada de qualquer medida para combater o caixa dois. Pelo
contrário: no apagar das luzes, nós comungamos de um profundo desinteresse
pelo tema. O Ministério Público Eleitoral, por exemplo, não possui sequer uma
estrutura própria para isso. Mais da metade da Justiça Eleitoral, por sua vez, é
composta por mão de obra de outros órgãos ou poderes. A verdade é que nós
não dispomos do básico para lidar com um problema tão sério. Não por acaso,
apenas 3.004 ações que tramitaram em 2014 na Justiça Eleitoral trataram de
crimes eleitorais – o que representa pífios 0,64% do total desse ramo da
Justiça.86
Além do mais, quando o principal tribunal do país decide proibir as doações
de pessoas jurídicas, sem qualquer preocupação em mitigar a demanda por
dinheiro nas eleições – e até existe um teto de gastos, é verdade, mas ele é
insuficiente, como veremos a seguir –, o primeiro resultado previsto é a
elevação do preço do produto. Ou seja: a partir deste ponto da história, os
partidos irão aumentar a procura por recursos legais, tanto das pessoas físicas
como dos próprios candidatos, mas especialmente do fundo partidário.
Em 2018, na primeira eleição majoritária sem nenhuma doação legal de
pessoas jurídicas desde o pleito que empossou Fernando Collor, candidatos
conquistaram o direito a dois fundos públicos para financiar suas campanhas: o
uso de recursos do novo fundo eleitoral, orçado em R$ 1,7 bilhão em 2018 (dos
quais R$ 472,3 milhões retirados da saúde e da educação87), mais o do velho
fundo partidário, de R$ 888 milhões88 (quase três vezes mais do que o valor
desembolsado em 201489).
O conceito do próprio fundo público para partidos políticos, que são
organizações privadas, é sem pé nem cabeça. Especialmente porque ele

outubro2018
Clube SPA

transforma o processo democrático original num mercado de partidos, em algo


consideravelmente lucrativo, atraindo rent-seekers para a própria atividade
política – figuras pouco republicanas interessadas em caçar renda dentro das
instituições, e não mais com lobby empresarial.
PCO, PCB, PPL e PSTU receberam somados, entre 2011 e 2017, a quantia de
R$ 30.045.636,12 do fundo partidário, mesmo sem eleger um mísero deputado
federal, ou um senador, ou um governador ou um deputado estadual. Tanto o
PCO quanto o PSTU não possuem sequer um vereador entre os 57.941 eleitos
em 2016. O PCB possui apenas um (eleito com 636 votos em Nossa Senhora do
Socorro, no interior de Sergipe). Os três não contam com um único prefeito. O
PPL tem quatro em seu cartel: dois no Piauí, um no Amapá e um no Paraná (as
cidades somadas possuem menos de 27 mil habitantes).
O PCO é o partido brasileiro com o menor número de filiados: são 2.919 (o
que significa dizer que cada filiado custou R$ 1.828 aos cofres públicos desde
2011). O PCB possui 14.760. O PSTU tem 17.184. O PPL conta com 39.460.90 A
soma deles alcança quase a metade dos filiados do PRTB, o partido nanico de
Levy Fidelix. Três deles não defendem a democracia como regime de governo –
o que é um sintoma paradoxal dos nossos problemas políticos. O outro, PPL, foi
fundado por membros do Movimento Revolucionário Oito de Outubro, de
extrema esquerda, internacionalmente conhecido por sequestrar o embaixador
norte-americano no Brasil, Charles Burke Elbrick, em setembro de 1969.
Aos dirigentes falta transparência. Em sua prestação de contas, o Partido
Republicano Progressista (PRP) informa ao Tribunal Superior Eleitoral que a
sua sede nacional fica na rua Santo André, em São José do Rio Preto, no interior
de São Paulo. As contas de água e luz da sigla, no entanto, bancadas pelo fundo
partidário, trazem o endereço residencial do presidente Ovasco Roma Altimari
Resende. O PRP também declarou gastar mil reais em vinhos.
Na prestação de contas ao TSE, o PPS apresentou uma nota de R$ 160
referente a duas garrafas de vinho e outra de R$ 9,50 de uma caipirinha
consumida em um hotel de Brasília. No PSDC, as notas indicam que o partido
contratou duas empresas fornecedoras de serviços que pertencem a dirigentes
do seu diretório nacional.91
Em 2015, o Partido Republicano da Ordem Social (PROS) usou R$ 2,4
milhões do fundo partidário para adquirir um helicóptero (só a empresa que
intermediou o negócio recebeu R$ 266 mil). O modelo, um Robinson R66
Turbine, prefixo PP-CHF, foi comprado à vista e se juntou a um bimotor que a
sigla arrematou por R$ 400 mil um ano antes, também com dinheiro do fundo.92

outubro2018
Clube SPA

A história do PROS é sintomática. Até 2004, Eurípedes Gomes de Macedo


Júnior era apenas um cidadão de Planaltina, cidade no interior de Goiás a
sessenta quilômetros de Brasília, proprietário de um campo de futebol de
grama sintética, conhecido como Júnior do Sintético. Motivado por amigos,
Eurípides decidiu lançar-se na política como candidato a vereador. Ganhou 342
votos na primeira disputa, insuficiente para abocanhar uma vaga, e 810 na
segunda, em 2008, quando, já mais experiente, se transformou no terceiro
vereador mais bem votado do município.
Em 2010, Eurípedes tentou emplacar um salto maior: uma cadeira na
Assembleia Legislativa. Passou longe, com 3.093 votos. Mas decidiu, do próprio
gabinete da Câmara de Vereadores de Planaltina, sem qualquer passado
relevante na política ou compromisso ideológico, entrar de cabeça num projeto
ainda mais ambicioso: fundar um partido para chamar de seu.
Para isso, com o desafio de coletar quinhentas mil assinaturas, reuniu a
família. Maria Aparecida dos Santos, sua mãe, morou seis meses em Rondônia
para obter apoio à sigla. Fabrício dos Santos, seu irmão, também se mobilizou.
Eurípides desembolsou R$ 2 por assinatura para angariar seiscentos
captadores. Ao final da corrida, coletou o apoio de 1,5 milhão de pessoas, a um
custo de R$ 3 milhões que o ex-vereador de Planaltina não explica de onde
veio.93
Falta de transparência, aliás, é uma marca pessoal. O presidente do PROS
possui três nomes, com três RGs e CPFs diferentes – um emitido no Distrito
Federal, outro em Goiás e o terceiro em Mato Grosso do Sul. Num ele é
“Eurípedes Gomes de Macedo Júnior”, filho de Maria Aparecida dos Santos e
Eurípedes Gomes de Macedo.94 Em outro é “Eurípedes George Junior”, filho de
Maria Aparecida George Gomes e Eurípedes Gomes de Macedo. E no terceiro é
“Eurípedes George Macedo Júnior”, filho de Maria Aparecida Macedo dos Santos
e Eurípedes George Macedo. Ele ainda tem passagem na polícia pelo crime de
receptação de produto roubado e, numa delação da Odebrecht, é citado como
um dos destinatários de R$ 7 milhões distribuídos pela empreiteira aos partidos
que apoiaram a reeleição de Dilma Rousseff, em 201495 (a transferência é
confirmada pelo ex-tesoureiro do PROS, Alexandrino Alencar). O ex-presidente
de honra do partido, Henrique Pinto, afirma que a sigla também vendeu, em
2014, seu apoio a outras campanhas:96

Na campanha do Paulo Skaf, em São Paulo, na campanha do Anthony


Garotinho, no Rio, na campanha do Marconi Perillo, em Goiás, e na
campanha do Zé Melo, no Amazonas, apesar do Zé Melo ser do PROS, mas

outubro2018
Clube SPA

ele exigiu que o Zé Melo desse dois milhões. Na campanha do Delcídio


também, em Mato Grosso, dois milhões.

No mesmo período em que adquiriu o helicóptero, Eurípides também usou o


fundo partidário para comprar cinco imóveis. Dois deles, uma mansão no Lago
Sul de Brasília, adquirida pela bagatela de R$ 4,5 milhões, e uma casa vizinha,
comprada por R$ 2,2 milhões. A lista de aquisições ainda inclui duas residências
na própria cidade de Planaltina, sem qualquer indicação de que tenham sido
adquiridas para servir às atividades do partido.97
Até o momento, Cid e Ciro Gomes, filiados entre 2013 e 2015, foram os dois
principais cabos eleitorais da legenda, levando ao PROS dezenas de deputados,
secretários, vereadores e prefeitos cearenses. Em 2017, o partido recebeu R$
13.416.480,67 do fundo partidário.98 Em 2018, além do fundo partidário, o
fundo eleitoral disponibilizado para a legenda alcançou R$ 24 milhões.99 Na
legislatura 2015-2018, o PROS elegeu onze deputados.100 Em outubro de 2017,
Helio José, do Distrito Federal, também se filiou à sigla, se transformando no
primeiro senador eleito pelo partido.
Entregar tanto dinheiro público nas mãos das legendas, além de não
combater a relação promíscua entre empresas e governo, como o caso de
Eurípedes escancara, também aumenta o poder dos caciques e dos coronéis nas
siglas partidárias – piorando ainda mais a oligarquização do nosso sistema
político. Com o fundão, a determinação é que cabe às executivas nacionais
definir quanto será aplicado nas campanhas para cada cargo e em cada
candidato individualmente, o que concentra ainda mais poder nas mãos das
figuras mais importantes dos partidos, dificultando uma ampla renovação
política. Uma pesquisa que analisou a composição das executivas nacionais e
dos diretórios nacionais de todos os partidos políticos registrados no país,
considerando o período de uma década (2007-2017), revelou que menos de
25% das nossas agremiações renovam suas lideranças.101
Há um gráfico disponível no blog do economista Bruno Carazza, chamado O
E$pírito das Leis, que ajuda a entender melhor como a concentração de
dinheiro na mão dos partidos beneficia os caciques. (Acesse:
https://goo.gl/8N9tod.) Nesse gráfico interativo, as bolinhas representam, em
cada estado, todo o dinheiro repassado pelos partidos aos seus candidatos a
deputado federal em 2014. Em amarelo estão destacados os parlamentares
investigados na Lava Jato por receber propinas ou caixa dois.
Como é possível observar, há uma enorme disparidade na divisão do

outubro2018
Clube SPA

dinheiro dos partidos, com alguns poucos candidatos recebendo muito –


incluindo a maior parte dos investigados na Lava Jato – e a maioria não
recebendo nada.102
Quando analisamos os dados sobre as campanhas políticas no Brasil,
detectamos que há uma forte relação entre gastos e sucesso eleitoral.
Comparando a média de gastos dos eleitos com a dos não eleitos na corrida à
Câmara dos Deputados em 2010, os cientistas políticos Ana Luiza Backes e Luiz
Cláudio Pires dos Santos detectaram que a dos eleitos foi em média doze vezes
maior.
Se considerarmos que o número de candidatos numa eleição ao Congresso é
enorme e que muitos dos que se inscrevem nessa corrida nem sequer fazem
campanha, há um forte viés nesse tipo de cálculo em ignorar o rebaixamento
dos gastos da média dos não eleitos – e é por isso que Ana e Luiz acrescentam
aos seus estudos o cálculo da média de gastos dos candidatos “competitivos” –
leia-se: dos que não conseguiram se eleger, mas ficaram o mais próximo
possível da eleição.
Ainda assim, a importância do dinheiro numa eleição continua forte: na
média nacional, os eleitos gastaram o dobro dos não eleitos “competitivos”. Em
diversos estados, eles chegaram a gastar o quádruplo ou ainda mais que seus
adversários competitivos (PE: 7,2x; AC: 5,9x; SE: 5,2x: PI: 4,7x; RN: 4,1x; GO:
4,0x). Dos 513 eleitos para a Câmara em 2010, 369 estão entre os que mais
gastaram nos respectivos estados.103
Se dinheiro é uma variável importante numa eleição, e se parte significativa
do financiamento eleitoral brasileiro está nas mãos de caciques políticos, é
perfeitamente compreensível que eles permanecerão no poder, agora desde a
eleição sustentados diretamente pelos pagadores de impostos – que não
comungam da opção de deixar de sustentar partidos políticos que promovem
bandeiras antagônicas às suas convicções, muitos deles sem um mísero prefeito
eleito.
Por fim, essa restrição também aumenta a possibilidade de os partidos
procurarem soluções mais baratas, como candidatos milionários, com
condições de bancar suas próprias campanhas. De acordo com a lei nº
9.504/1997, pessoas físicas podem destinar até 10% dos rendimentos brutos
recebidos no ano anterior para financiar candidatos ou partidos – se a figura for
candidata, no entanto, pode utilizar seu patrimônio até o limite máximo de
gastos autorizado pela Justiça Eleitoral. Não é uma coincidência que o país
tenha visto tanta gente rica ganhando eleição em 2016. O número de prefeitos

outubro2018
Clube SPA

que se elegeram botando a mão no bolso para bancar suas candidaturas cresceu
50% em comparação à eleição anterior – 41% dos prefeitos eleitos em 2016
(um em cada cinco deles milionários), contra 26% em 2012.
E se nomes como João Dória (PSDB/SP), Rodrigo Pacheco (MDB/MG) e
Vitorio Medioli (PHS/MG) chamam a atenção pelos desembolsos milionários em
cidades de médio e grande portes, a importância do autofinanciamento nesse
modelo é ainda maior nos municípios pequenos. Em muitas dessas localidades
venceu a eleição em 2016 quem colocou mais dinheiro do próprio bolso na
campanha – é o caso de Serra da Raiz, na Paraíba, e Presidente Castelo Branco,
em Santa Catarina, com menos de três mil habitantes. Em ambos os municípios,
os vencedores bancaram 100% das suas candidaturas com recursos próprios.
Embora em escala menor, o fenômeno também ocorreu em capitais como
Palmas, onde o prefeito reeleito, Carlos Amastha (PSB), bancou 89% da
campanha, investindo R$ 3,9 milhões.104
Não bastasse o privilégio concedido aos postulantes mais ricos, a restrição
também aumenta a importância de candidatos famosos no pleito – como líderes
religiosos, apresentadores de TV e celebridades, figuras já conhecidas do
público e que não demandam grandes investimentos dos partidos.
Segundo um estudo publicado em 2017 pelos economistas Eric Avis, Claudio
Ferraz, Frederico Finan e Carlos Varjão, uma solução positiva para conter essas
distorções seria adotar tetos mais rígidos que limitem os gastos dos políticos
nas campanhas eleitorais.
A nova legislação criou regras diferentes para os gastos dos candidatos. Isso
permitiu aos pesquisadores investigar o que ocorreu, em 2016, em municípios
com características parecidas, mas sujeitos a regras distintas. E o que eles
descobriram foi que em cidades com limites mais restritivos, o número de
candidatos foi maior, a taxa de reeleição foi menor e houve menos vitórias do
concorrente mais rico.
Segundo o estudo, um teto de gastos 25% menor leva a um crescimento de
9% no número de candidatos a prefeito e a uma queda de 40% na renda média
dos candidatos. Além disso, nas cidades com tetos de gastos com limites menos
rígidos para os candidatos, a reeleição dos prefeitos ficou 11% acima da dos
candidatos nas cidades com mais restrição – e eles também tiveram fatias de
votos maiores.105
Ou seja: estipular tetos mais rígidos de gasto na eleição, diminuindo a
desigualdade no poderio do marketing dos grandes partidos – algo muito
importante num país em que os custos de campanha são naturalmente altos por

outubro2018
Clube SPA

conta do seu modelo eleitoral –, é uma solução mais racional para encarar o
problema do rent-seeking do que simplesmente jogar um caminhão de dinheiro
no bolso dos partidos políticos.
Segundo um levantamento publicado em 2012 pela Transparência
Internacional, mesmo que alguns países europeus tenham proibido
completamente as doações de pessoas jurídicas nas eleições (como Bélgica,
Estônia, França, Hungria, Letônia, Lituânia, Polônia e Portugal), a organização
entende que a medida não deve ser encarada como uma solução mágica. É
preciso muito mais do que isso.
É por esse motivo, aliás, que quase metade dos países europeus, longe de
proibirem pessoas jurídicas de financiar as campanhas, decidiram impor limites
às doações privadas, seja de indivíduos, seja de empresas.106 O estabelecimento
de limites às despesas – de candidatos, de partidos ou de ambos – é aplicado em
65% dos países-membros da OCDE.107
Na eleição de 2016, com as doações restritas às pessoas físicas, outro
fenômeno curioso aconteceu: do conjunto de doadores dos candidatos a
prefeito do Rio de Janeiro, 59 deles doaram, individualmente, mais de R$ 30 mil.
Só um deles, no entanto, não estava ligado a nenhuma empresa. Todos os
demais, 58 doadores, possuíam altos cargos em companhias – como sócio,
diretor, administrador ou presidente. Somados, eles representam um total de
643 empresas. A maior parte delas do setor de engenharia e construção.108
No Brasil pós-Lava Jato, o caminho escolhido pelos legisladores na hora de
elaborar as regras do jogo democrático é o da simulação: a classe política finge
que restringe a atuação do lobby e os lobistas fingem que não possuem
qualquer relação com essa história. Quem paga a conta por tudo isso, mais uma
vez, é o pagador de impostos.

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA


Subdesenvolvimento não se improvisa; é obra de séculos.
– Nelson Rodrigues

O atual modelo político brasileiro não resolverá os


nossos problemas: ele é o problema

O resultado inevitável de tamanho descaso dos homens públicos é uma


nação problemática, tomada por alguns poucos ricos e incontáveis miseráveis.
Um quarto da população brasileira, 52,1 milhões de pessoas, vivia abaixo da
linha da pobreza em 2016, segundo o IBGE. Esse é o total de brasileiros que
paga todas as suas contas ganhando menos de US$ 5,50 (ou R$ 18,24) por dia,
equivalente a uma renda mensal de R$ 387,07 por pessoa.1 Se nós colocássemos
todos esses brasileiros numa ilha, ela seria mais habitada que o Canadá e a
Espanha. Na prática, 52,1 milhões de brasileiros precisam de 140 dias de
trabalho para, somados, e sem gastar um centavo, alcançar a fortuna de Jorge
Paulo Lemann, o homem mais rico do país.
Segundo o mesmo IBGE, há 24,8 milhões de brasileiros vivendo com uma
renda inferior a um quarto do salário mínimo por mês, o equivalente a R$ 220.
Isso significa dizer que 12,1% da população do nosso país sobrevive na
miséria.2
Ou seja: há uma Austrália vivendo no Brasil com dinheiro suficiente no mês
apenas para abastecer um carro com 52 litros de gasolina, ou adquirir 14 Big
Macs, ou ainda conseguir pagar apenas a metade de uma cesta básica em São
Paulo. E mais nada.
Esses 24,8 milhões de pessoas precisam de 520 dias de trabalho, quase um
ano e meio, para alcançar, somados, a fortuna de Jorge Paulo Lemann.
Ainda segundo o IBGE, metade dos trabalhadores brasileiros recebem por
mês, em média, 15% menos que o salário mínimo. Do total de trabalhadores, 4,4
milhões (5%) recebiam, em média, apenas R$ 73 mensais em 2016,3 o
suficiente para adquirir 17% de uma cesta básica em São Paulo.

outubro2018
Clube SPA

E nós não somos apenas um país cheio de gente muito pobre, nós também
somos muito violentos.

outubro2018
Clube SPA

Em 2016, o Brasil atingiu a marca de 61.619 homicídios. Quando você


terminar de ler este capítulo, ao menos sete pessoas terão sido assassinadas no
nosso país. Em números gerais, ninguém mata mais que o Brasil em todo o
mundo.4
Há um furto ou roubo de veículos a cada minuto em nosso país – foram 557
mil em 2016.5 Além disso, há 63 roubos de carga por dia.6 Em São Paulo, o
estado mais seguro do país,7 há um crime contra o patrimônio a cada trinta
segundos.8 No Brasil, todos os anos, R$ 130 bilhões deixam de ser investidos na
produção industrial em função da violência no país – esse é o volume que a
indústria de transformação nacional gasta a cada doze meses em custos com
segurança privada e as perdas decorrentes de roubo de carga e vandalismo.9
O Brasil registra uma denúncia de violência contra a mulher a cada sete
minutos, segundo os dados da própria Presidência da República. Metade desses
casos corresponde a acusações de violência física; 77,83% das vítimas têm
filhos e mais de 80% desses filhos presenciaram ou também sofreram a
violência.10
No mesmo âmbito, há sete estupros registrados pela polícia por hora no
Brasil.11 E esses números não traduzem a realidade. De acordo com uma
pesquisa do Ipea, 70% das vítimas de estupro em nosso país são crianças e
adolescentes (50,7% delas têm até treze anos). A pesquisa estima que 527 mil
pessoas são estupradas por ano no Brasil – e que desses casos, apenas 10%
chegam ao conhecimento da polícia. Do total, mais de 10% das pessoas
agredidas sofriam de alguma deficiência física e/ou mental. Os números
mostram ainda que 24,1% dos agressores das crianças são os próprios pais ou
padrastos e 32,2% são amigos ou conhecidos da vítima. E 15,8% dos estupros
cometidos em 2014 no Brasil foram coletivos.12
Mantendo a coerência dos números dos parágrafos anteriores, nós também
somos, não por acaso, um país com baixo índice educacional.
Se somássemos a população do Uruguai, da Nova Zelândia e da Irlanda, não
alcançaríamos o número de analfabetos que existe no Brasil (e isso sem
considerar os analfabetos funcionais: segundo um estudo publicado pela ONG
Ação Educativa, 27% da nossa população pertence a essa categoria). No total,
50 milhões de brasileiros são analfabetos ou analfabetos funcionais – se
reuníssemos todos eles e formássemos um país, seria o 28º mais populoso do
mundo.13
Nas escolas, metade das nossas crianças de oito e nove anos não é
alfabetizada.14 E quando são, crescem sem adquirir o hábito da leitura: 30% dos

outubro2018
Clube SPA

brasileiros afirmam nunca ter adquirido um único livro em toda a vida.


Nem os nossos professores leem: segundo o Ibope, quando questionados
sobre o título do último livro lido, metade respondeu “nenhum” e 22% citaram
a Bíblia.15
E nossa dificuldade não se restringe ao português: o nível de inglês no Brasil
é pior até mesmo que na Nigéria e no Vietnã.16
Educação é inquestionavelmente um grande problema por aqui. Nós somos o
penúltimo país do mundo, entre 64 nações analisadas, no quesito aprendizado
em matemática básica, ciências e leitura – à frente apenas da Indonésia17
(segundo um relatório do Banco Mundial, publicado em fevereiro de 2018, no
ritmo de evolução atual, o Brasil irá demorar 260 anos para atingir o nível
educacional de países desenvolvidos em leitura e 75 anos em matemática18).
Considerando 33 países, nós temos os alunos que cometem mais violência
contra professores19 e os mais indisciplinados do planeta (em média, cada
professor brasileiro perde 20% das suas aulas lidando com bagunça20).
Por aqui, um em cada quatro jovens de quinze a dezessete anos terminará o
ano fora da escola.21 E na faculdade, apenas 4,6% dos filhos de pais sem
instrução conseguirão obter o diploma.22
Por fim, justificando tudo acima, nós também temos os piores políticos do
mundo. E isto não é um exagero retórico: segundo o International Institute for
Management Development, nós, literalmente, temos o pior governo do
mundo.23
Em 137 países analisados pelo Fórum Econômico Mundial, somos o número
137 entre os que menos confiam em sua classe política.24 Segundo os critérios
da mesma instituição, somos também o segundo pior país do mundo no quesito
regulação governamental (atrás apenas da Venezuela25) e disputamos as
primeiras posições na categoria ineficiência do gasto público, com a Venezuela,
El Salvador e o Zimbábue.26
O Brasil é o campeão mundial em burocracia fiscal,27 o líder global em
encargos trabalhistas28 e o quinto pior país do mundo no quesito “facilidade
para começar um negócio” no The Global Innovation Index (atrás apenas de
Bolívia, Etiópia, Camboja e Zimbábue).29 O Congresso brasileiro é o mais caro
do mundo na comparação com o PIB30 e o nosso Judiciário é o mais caro do
Ocidente.31 Com tamanha irracionalidade nos gastos, coerentemente, segundo o
Banco Mundial, nós estamos entre os dez piores países do planeta no quesito
pagamento de impostos.32 Somos, no entanto, o país que oferece o menor
retorno desses impostos ao cidadão.33

outubro2018
Clube SPA

A nossa estrutura é inquestionavelmente precária, mesmo com tudo tão


dispendioso: no índice que mede a qualidade da infraestrutura de um país,
organizado pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupa o vergonhoso 120º
lugar em 144 posições possíveis, atrás de países como Etiópia, Suazilândia,
Uganda, Camboja e Tanzânia.34
Nossas estradas são piores que as da Bolívia, do Zimbábue, do Butão e do
Paquistão.35
No Brasil, 92% dos lares têm celular e 63% possuem acesso à internet,36 mas
quase cem milhões de pessoas ainda não possuem acesso à coleta de esgoto – e
desse esgoto coletado, apenas 40% dele é tratado.37
Na velocidade atual, nós só alcançaremos a universalidade do serviço de
coleta de esgoto em 2053.

Por aqui, dezessete milhões de pessoas (uma Holanda) não têm acesso à
coleta de lixo;38 quatro milhões (uma Croácia) não possuem sequer um
banheiro em casa.39
Nossa infraestrutura é tão pobre que, dos 29.165 quilômetros de malha
ferroviária que o Brasil possui, apenas um terço é produtivo (o número é
equivalente ao período do Império).40
No G20, nós somos a economia mais fechada.41 Há tamanha aversão ao livre
comércio por aqui que nós ocupamos o quarto lugar entre as nações com a
menor relação de comércio externo como porcentagem do PIB (27,36%) –
mesmo sendo a nona economia global, nosso comércio representa apenas 1,2%
do total mundial42 (de acordo com o Banco Mundial, um crescimento de 7% e

outubro2018
Clube SPA

6,6% nas exportações e importações, respectivamente, possibilitaria um


aumento permanente do PIB de cerca de 1% e mais de 400 mil novos
empregos). Segundo um relatório publicado pela OCDE em fevereiro de 2018,
uma abertura econômica a importados em nosso país aumentaria o poder de
consumo da população brasileira em 8%. E esse efeito seria ainda maior nas
famílias de baixa renda, que dedicam a maior parte de seus rendimentos à
compra de alimentos, roupas e eletrodomésticos: no caso delas, o aumento seria
de 15%.43 O Banco Mundial sustenta que uma aceleração na abertura comercial
poderia tirar seis milhões de pessoas da pobreza no Brasil.44

E se você não fazia ideia de nenhuma dessas informações, não se sinta um


alienígena: nós também somos o segundo país mais ignorante do mundo,
segundo o Perils of Perception (Perigos da Percepção), disputando a liderança
global entre as nações que menos sabem sobre si mesmas.45 Nós temos tão
pouca noção sobre quão pobre é parte significativa da nossa população que
nove em cada dez brasileiros acham que estão entre a metade mais pobre do
país.46 Mesmo entre os que ganham ao menos R$ 4.700 mensais, 68% pensam
estar na metade com menor renda, quando na verdade estão entre os 93% mais
ricos do país.47
Nós somos tão desinformados sobre a nossa realidade que, a cada quatro
pessoas no Brasil, uma não sabe sequer que paga impostos no dia a dia.48 Tudo
isso é resultado inevitável de como se constrói a organização política em nosso
país, a julgar pelo impacto que a burocracia possui nas nossas instituições.
Três entre cada quatro municípios do Brasil (76%) não são eficientes no uso
dos recursos disponíveis para as áreas básicas de saúde, educação e

outubro2018
Clube SPA

saneamento – e quanto maior o percentual de aumento do número de


servidores entre 2004 e 2014, pior a eficácia das prefeituras nessas áreas. Entre
os 5% dos municípios com os piores índices de eficiência, o funcionalismo
cresceu 67%, em média, entre 2004 e 2014. A população brasileira cresceu
apenas 12% no período.49
Na verdade, cerca de 70% dos municípios brasileiros dependem hoje em
mais de 80% de verbas que vêm de fontes externas à sua arrecadação. Ainda
assim, nossas prefeituras – os maiores empregadores do país, com 6,3 milhões
de funcionários – aumentaram em 53%, em média, o total de funcionários em
seus quadros na última década.50

Estado de exceções

Nada disso acontece por acaso. Como foi possível perceber ao longo de todo
este livro, o sustento da máquina pública, e dos atores dessa engrenagem, é a
principal função do gasto público no Brasil, e não a manutenção dos serviços
que atendem à população. Por alguma razão, nós não confiamos nos políticos,
mas entregamos parte muito importante do nosso trabalho nas mãos deles. O
fato incontestável ao menor fact-checking, no entanto, é que a principal
prioridade da nossa burocracia é atender aos interesses da própria burocracia,
e não da população. É a busca por renda, por emprego, por filhotismo, pela
manutenção de privilégios dentro da máquina. É isso que consome parte
substancial dos mais de R$ 2 trilhões coletados em impostos a cada doze meses.
Nós temos a impressão de que o Estado é um grande instrumento em defesa
dos desvalidos e que suas ações se justificam como uma tentativa de reparar
injustiças históricas contra grupos marginalizados, mas, como aponta um
estudo51 do próprio Ipea – uma fundação pública federal vinculada ao
Ministério do Planejamento –, o Estado brasileiro é, pelo contrário, um grande
catalisador de desigualdade: “O Estado não é uma instituição completamente
autônoma, e suas ações, em parte, refletem conflitos distributivos preexistentes;
consequentemente, em vez de reduzir desigualdades, o Estado pode, na
verdade, aumentá-las.”
Ainda no estudo do Ipea,

o Estado contribui com muito da desigualdade no país, e isto resulta do


fato de o Estado operar suas políticas salariais e sociais em três níveis

outubro2018
Clube SPA

diferentes: no primeiro nível, o Estado mantém uma elite de


trabalhadores no setor público por meio de salários mais altos e
Previdência mais generosa que a dada à sua contraparte privada; no
segundo nível, o Estado fornece benefícios previdenciários intermediários
e seguro-desemprego apenas aos trabalhadores formais do setor privado;
no terceiro, dá pouco peso a medidas redistributivas, tais como tributos e
programas de renda básica para as massas de baixa renda no setor
informal do mercado de trabalho. Implícita nessa hipótese está a ideia de
que as ações regressivas do Estado se assentam sobre dois pilares.
Primeiro, parte da regressividade foi herdada de políticas sociais
corporativistas, que asseguraram uma proteção razoável aos
trabalhadores nos setores mais desenvolvidos do mercado de trabalho –
incluindo os trabalhadores do setor público –, mas excluíram a maioria da
população. Em uma situação típica de dependência de trajetória política,
tornou-se difícil reverter concessões feitas a grupos bem organizados.
Segundo, boa parte do gasto público foi capturada por um grupo de
interesse poderoso, um conjunto de funcionários públicos que tem grande
capacidade para influenciar as políticas salariais do Estado.

No Brasil, segundo uma pesquisa realizada pela Diretoria de Análise de


Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV-DAPP), o total de
funcionários públicos na ativa – nos três níveis de governo (federal, estadual e
municipal) e nos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) – passou de
5,8 milhões, em 2001, para quase nove milhões, em 2014. Esse é um aumento
de 54,4%. Vale destacar que neste cálculo não estão incluídos os funcionários
terceirizados – mais de dezoito mil apenas no governo federal.
Em catorze anos, as despesas com pessoal tiveram um aumento de 127,3%,
em valores já corrigidos pela inflação. Nesse tempo, o gasto per capita dos
brasileiros para pagar os salários dos nossos funcionários públicos quase
dobrou: de R$ 976 para R$ 1.925.
Enquanto no setor público os salários subiram, em média, cerca de 50% nos
três níveis de governo entre 2001 e 2014, já descontada a inflação do período,
na iniciativa privada esse aumento médio ficou em 21,4%. O aumento real do
funcionalismo, na média, foi mais que o dobro do obtido no setor privado.

outubro2018
Clube SPA

Na Alemanha, os salários do funcionalismo são, em média, 7% menores que


no setor privado. Na França, 8%. Mesmo em países em que os salários do setor
público são maiores, como Espanha, Grécia e Itália, a diferença fica em torno de
30%, bem aquém do que acontece no Brasil. Segundo um levantamento do
economista Marcos Köhler, consultor legislativo do Senado, o único paralelo
parecido com o Brasil em todo o mundo é o de Portugal, onde alcança 58%.52
É o que mostra um estudo publicado em 2017 pelo Banco Mundial:53

Embora o funcionalismo público brasileiro não seja grande para padrões


internacionais, o nível dos salários dos servidores públicos federais é, em
média, 67% superior aos do setor privado, mesmo após levar em
consideração o nível de educação e outras características dos
trabalhadores como idade e experiência. Este prêmio salarial do setor
público é atípico em relação a padrões internacionais. A remuneração dos
servidores estaduais também é muito alta e, na média, é mais de 30%
superior àquela oferecida a trabalhadores equivalentes no setor privado.

Conforme afirma o estudo do Banco Mundial, a imensa maioria (83%) dos


servidores públicos federais brasileiros integra o quintil mais rico da população.
Nos cálculos da instituição, uma redução de 50% do prêmio salarial dos
funcionários públicos em relação ao setor privado geraria uma economia
equivalente a 0,9% do PIB, ou R$ 53 bilhões, dinheiro suficiente para quase
triplicar o Bolsa Família (a equiparação do prêmio salarial à média
internacional de 16% reduziria a massa salarial em 1,3% do PIB ao ano, ou R$
79 bilhões).

outubro2018
Clube SPA

De acordo com os dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a


relação entre o número de funcionários públicos versus a população no Brasil
(5,6%) é mais alta que a média da América Latina (4,4%), mas é bem mais baixa
que a dos países da OCDE, da Europa e da África. A verdade é que o emprego
público como parte do emprego assalariado no Brasil é relativamente pequeno,
cerca de 18% (ou 24%, se considerarmos apenas os empregos formais).
Ainda assim, nós temos um gasto muito alto com funcionalismo em
proporção ao PIB.
Ou seja: se há tamanho gasto com a classe, mas há tão menos funcionários
públicos no Brasil do que a média mundial (inclusive em outros países
federalistas, como Estados Unidos, Canadá e Austrália), isso ocorre devido aos
altos salários da categoria. Na prática, nós gastamos com o funcionalismo
público como países de Primeiro Mundo, mas temos bem menos servidores
atendendo à população do que a média mundial. É possível afirmar com
segurança que os funcionários públicos brasileiros – à exceção dos municipais –
constituem a força laboral mais organizada do planeta. Também é possível dizer
que em poucos lugares os sindicatos possuem tamanho impacto na economia
como no Brasil.

Em comparação aos trabalhadores brasileiros do setor privado, não é um


exagero assumir que nossos servidores públicos são, em geral, ricos. Como
revela a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de 2015, 54%
dos servidores públicos (em todos os níveis administrativos) encontram-se no
quintil superior da distribuição de renda nacional e 77% estão entre os 40%
mais ricos. Mais de 25% dos nossos servidores públicos ganham mais de R$ 10

outubro2018
Clube SPA

mil por mês e mais de 17% encontram-se na faixa mais alta, com salários
mensais acima de R$ 13 mil, o suficiente para incluí-los entre o 1% mais rico do
país.54

Pacote de benefícios dos servidores públicos federais

Benefícios:
• Auxílio-alimentação.
• Assistência médica e odontológica.
• Auxílio-transporte: compensação pelo uso de veículo próprio para
viagens de trabalho.
• Diárias: compensação pelos custos de missões e viagens de trabalho
(bilhetes e despesas diárias).
• Auxílio-moradia: reembolso de despesas com aluguel e moradia. O
auxílio-moradia é concedido aos servidores públicos com base em
critérios predefinidos.
• Auxílio-creche.
• Ajuda de custo: compensação por despesas de mudança para nova
localidade.
• Auxílio-funeral: auxílio para despesas funerárias.
• Auxílio-natividade: auxílio para despesas de parto.
• Programa previdenciário RPPS.
Gratificações e adicionais:
• Retribuição pelo exercício de função de direção, chefia e
assessoramento.
• Gratificação natalina;
• Adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas ou
penosas.
• Adicional pela prestação de serviço extraordinário.
• Adicional noturno.
• Adicional de férias.
• Outros, relativos ao local ou à natureza do trabalho.
• Gratificação por encargo de curso ou concurso.

Nota: Alguns desses adicionais são previsões constitucionais, também


previstos para o trabalhador do setor privado, como por exemplo o adicional

outubro2018
Clube SPA

por trabalho noturno; o adicional por exercício de atividades insalubres,


perigosas ou penosas; e a gratificação natalina (13º salário).

Fontes:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8112cons.htm
https://www.servidor.gov.br/gestao-de-pessoas/lei-8112-anotada

Elaboração: Banco Mundial (2017)

Os benefícios da categoria não nasceram no século XXI. Os funcionários


públicos, principalmente os federais, já recebiam gratificações injustificadas
para serem transferidos para Brasília assim que a capital do país nasceu.
Durante a construção da cidade, no final da década de 1950, até 1963, os
servidores ganhavam dois salários: um pelo serviço e outro por terem aceitado
a mudança. Essa foi a forma encontrada pelo governo para vencer a resistência
da categoria em trocar o Rio por Brasília. A prática ficou conhecida como
dobradinha. Foi a primeira barganha do funcionalismo público na capital
federal. Ainda antes da sua chegada.55
Hoje, os servidores públicos federais estão no alto da pirâmide: dois terços
no decil superior de distribuição de renda, 83% entre os 20% mais ricos, e
praticamente todos, 94%, entre os 40% mais ricos (onde também estão 89%
dos servidores públicos estaduais e 66% dos servidores municipais).
Na prática, toda essa grana contribui para a desigualdade no país. A
considerar que os servidores públicos estão no topo da distribuição de renda,
financiados pelos pagadores de impostos (num modelo de tributação que não é
progressivo), esses altos salários para a realidade brasileira constituem, como
escreve o próprio Banco Mundial, “uma forma de redistribuição de renda dos
mais pobres e da classe média aos mais ricos”.

outubro2018
Clube SPA

Os sindicatos exercem grande influência para esse cenário. Como citado no


estudo do Ipea:56

Em muitos países, inclusive no Brasil, os servidores públicos formam


categorias ocupacionais numerosas, relativamente homogêneas e com um
único empregador, o que facilita o surgimento de sindicatos fortes e com
alto poder de barganha por melhores salários. Sindicatos fortes e
negociações centralizadas são um dos determinantes dos baixos níveis de
desigualdade em muitos países desenvolvidos, mas isto não
necessariamente ocorre quando a ação coletiva tem um viés
corporativista em um contexto social extremamente polarizado como o
brasileiro. No Brasil, coexistem sindicatos fortes no setor mais organizado
e protegido do mercado de trabalho, relacionado ao Estado, e um baixo
nível associativo entre os trabalhadores informais. O primeiro setor
emprega cerca de 10% da força de trabalho, enquanto o segundo engloba
cerca de metade da força de trabalho. Neste contexto, sindicatos e centrais
sindicais poderosas podem, de fato, aumentar a desigualdade total.

outubro2018
Clube SPA

Na última década, o país testemunhou um aumento nos investimentos em


programas de assistência social, como o Bolsa Família, mas, apesar disso, a
desigualdade por aqui não diminuiu. No Brasil, crianças com origem no topo da
pirâmide social têm catorze vezes mais chances de continuarem nesse estrato
do que pessoas nascidas na base de ascenderem para essa posição.57
Segundo um estudo realizado pelo cientista de dados Leonardo Sales,
coordenador-geral do Observatório da Despesa Pública na Controladoria-Geral
da União, fatores socioeconômicos e condições da escola explicam 86% da nota
no Enem. Ou seja: como afirma Leonardo, “cada estudante, ainda antes da
prova, já traz consigo um potencial de desempenho predefinido, que o posiciona
a priori numa faixa de nota não muito larga: em média, as notas previstas para
os estudantes só diferem das reais em 48 pontos, para mais ou para menos. Vale
lembrar que a nota final do Enem pode variar de 0 a 1.000 pontos”.58
O nível educacional é um dos fatores mais importantes para o crescimento
da produtividade e da renda de um país. Uma pesquisa conduzida por
economistas da Fundação Getulio Vargas, publicada no início de 2018, aponta
que, levando em consideração a origem e a qualidade da formação do
trabalhador brasileiro, sua renda pode variar de 2% a 13% para cada ano a
mais de estudo.59 No Brasil, a probabilidade de um jovem com renda familiar
per capita mensal de R$ 250 estudar em uma universidade pública é
virtualmente nula: de cerca de 2%. Entre jovens, porém, com uma renda
familiar per capita mensal de R$ 20 mil reais, essa chance alcança os 40%.60 Na
prática, a imensa desigualdade que existe no sistema público de ensino
brasileiro também colabora diretamente para sustentar nossa desigualdade
econômica.
De acordo com um estudo feito pelo World Wealth and Income Database, um
instituto de pesquisa codirigido pelo economista francês Thomas Piketty, a
desigualdade de renda no Brasil não caiu entre 2001 e 2015.61 Na verdade, os
10% mais ricos da população aumentaram sua fatia na renda nacional de 54%
para 55%, enquanto os 50% mais pobres ampliaram sua participação de 11%
para 12% no período. Na prática, o crescimento econômico visto no país no
período analisado pelo estudo não surtiu impacto na redução da desigualdade:
ele foi capturado principalmente pelos 10% mais ricos, que ficaram com 61,3%
desse crescimento no período, enquanto a metade mais pobre da população
apreendeu apenas 21,8% desses ganhos.
Outro estudo,62 publicado pelos economistas do Ipea Marcelo Medeiros e
Pedro H.G. Ferreira de Souza com o auditor da Receita Federal Fábio Avila de

outubro2018
Clube SPA

Castro, mostra que a concentração de renda permaneceu praticamente estável


entre 2006 e 2012. Os autores concluíram que os coeficientes de Gini, usados
para medir a desigualdade, foram 0,696 (em 2006), 0,698 (em 2009) e 0,690
(em 2012). Vale lembrar que, quanto mais próximo de 1, maior é a
concentração de renda.
No estudo, os autores utilizaram as Declarações de Ajuste Anual do Imposto
de Renda da Pessoa Física (Dirpf) dos 10% mais ricos (de 2006, 2009 e 2012) e
combinaram com os dados da Pnad para os outros 90% da população. O modelo
minimiza o problema de pesquisas com base em declarações de entrevistados,
como a Pnad, do IBGE, nas quais os mais ricos tendem a omitir sua renda. Na
opinião dos autores, mesmo usando o imposto, a renda dos mais ricos pode
estar subestimada, já que os ganhos de pessoa jurídica não são tributados nas
declarações do imposto de renda da pessoa física. Ou seja: a diferença entre
ricos e pobres pode ser ainda maior.63
Como aponta o Banco Mundial, em comparação aos Estados Unidos, os
brasileiros de hoje não estão em situação melhor que há uma geração: a renda
per capita brasileira em termos de paridade de poder de compra – ou seja,
considerando que os custos de vida são diferentes em ambos os países –
permanece estagnada em torno de 25% dos níveis americanos (em 1994, o
produto por trabalhador brasileiro era equivalente a 31% do americano).
Segundo o relatório, hoje, um trabalhador médio brasileiro é apenas cerca de
17% mais produtivo que há vinte anos – esse aumento entre os trabalhadores
em países de alta renda foi, em média, de 34% no período.

outubro2018
Clube SPA

Entre 1994 e 2016, não sem motivo, nós aumentamos a distância de


desenvolvimento em relação tanto a países ricos quanto emergentes. Enquanto
o Brasil viu o seu PIB per capita expandir 31%, a América Latina e Caribe
cresceu 37% e outros países emergentes mais que dobraram sua renda per
capita, crescendo 152% no mesmo período. Os países-membros da OCDE e os
Estados Unidos, nações desenvolvidas, também exibiram um crescimento
superior – de 42% e 46%, respectivamente. Ou seja: se o Brasil testemunhou
um crescimento econômico nas últimas duas décadas, durante os governos de
PSDB e PT, ele foi menor que a média mundial – e especialmente menor
comparado aos países emergentes. Na prática, longe das propagandas
partidárias, nós perdemos uma janela de desenvolvimento.
Como afirma o relatório “Renda e produtividade nas duas últimas décadas”,
publicado pelo Insper em parceria com a consultoria Oliver Wyman, em abril de
2018,64

Comparando apenas com a América Latina e Caribe, no período 1995-


2011, a taxa de crescimento do Brasil acompanhou a da região, sendo
apenas 0,3 ponto percentual acima da média desses países.
Surpreendentemente, essa diferença se mantém tanto no subperíodo de
menor crescimento, 1995-2003 quanto 2004-2011, quando crescemos
uma média de 3,3% ao ano. Isso significa que mesmo no subperíodo de
melhor performance da economia brasileira, o desempenho do país
parece apenas seguir a tendência da região. A partir de 2012, a
performance do Brasil parece descolar dessa tendência, porém de forma
negativa. Enquanto a região expandiu 3,7%, a economia brasileira retraiu
6% no período. Com isso, a renda por habitante do país recuou a um nível
inferior ao de 2010, enquanto outros países continuaram crescendo.
Como resultado, o Brasil permaneceu uma nação de renda média e
muito aquém dos países desenvolvidos. Registrou um PIB per capita de
aproximadamente 15 mil dólares anuais em 2016, o equivalente a apenas
26% do norte-americano (57 mil dólares anuais) – em 1994, esse número
correspondia a 29%. Em termos relativos, o país regrediu.
Se o Brasil mantiver no futuro uma taxa de crescimento econômico
igual à sua média das últimas duas décadas (aproximadamente 1,2% ao
ano), ele levará 31 anos para alcançar o nível de 2016 da renda per capita
do Uruguai (US$ 21.902), 38 anos para atingir o do Chile (US$ 23.915) e
pouco mais de um século para se equiparar ao dos Estados Unidos.

outubro2018
Clube SPA

Mesmo a queda da pobreza extrema, tão alardeada nas últimas duas


décadas, não foi uma conquista isolada do nosso país – pelo contrário, foi
também um fenômeno testemunhado tanto em nosso continente quanto nos
países emergentes.
Parte importante do nosso crescimento econômico esteve associado ao
bônus demográfico – ou seja, a maior fração de pessoas em idade ativa no país,
que era de 54% em 1960, avançou para 70% em 2016.
Como afirma o relatório do Insper em parceria com a consultoria Oliver
Wyman:

Como o bônus demográfico fornece recursos adicionais aos países


beneficiados, ele lhes confere uma oportunidade de promoverem um salto
em seu nível de desenvolvimento. O Brasil, entretanto, não aproveitou
esses recursos de maneira eficiente. Embora a proporção da população
em idade produtiva no país tenha crescido 12% no acumulado das últimas
duas décadas (1995-2016), seu PIB per capita cresceu apenas 31%. No
mesmo período, OCDE, EUA, Emergentes e ALC obtiveram um bônus
demográfico menor, porém cresceram economicamente mais.
O bônus demográfico é um fenômeno temporário e a fração de pessoas
em idade ativa atingirá seu ápice até 2023 no Brasil, quando então
passará a decair continuamente pelas próximas décadas, gerando um
efeito oposto ao do bônus. Assim, se nos últimos vinte anos o país
encontrou dificuldades para se desenvolver economicamente, nos
próximos vinte anos, elas tendem a ser ainda maiores.
Se, em um primeiro momento, a rápida queda nas taxas de natalidade
amplia a proporção de adultos, em momento posterior, esse grupo
envelhece e chega à terceira idade. Isso provoca um aumento na razão de
dependência de idosos.

Ou seja, nós seremos uma nação com um número relativamente maior de


aposentados, proporcionalmente com menos atores produtivos. E as projeções
de receitas e despesas da nossa Previdência Social, sem nenhuma reforma no
modelo atual, não são nada animadoras.

outubro2018
Clube SPA

Em qualquer país do mundo, o crescimento da produtividade é um fator


crítico para o seu desenvolvimento. E é fácil entender o motivo. Considere o
setor automotivo como exemplo. Em média, um brasileiro precisa trabalhar
cinco vezes mais que um canadense para alcançar o poder de consumo
necessário para adquirir um carro como o Toyota Corolla. Quando um
trabalhador precisa de menos tempo para realizar as mesmas tarefas que antes
– ou seja, consegue produzir mais a cada dia de trabalho –, a consequência
inevitável é que a empresa em que ele exerce sua função fica mais competitiva.
É a partir disso que ela poderá abaixar os preços dos seus produtos, vender
mais e aumentar seus anúncios de emprego, conseguindo, com o tempo, pagar
melhores salários. Se você for contratado para trabalhar no setor
automobilístico no Canadá ganhará, em média, mais de US$ 19 por hora – por
aqui, esse salário será de pouco mais de US$ 6 por hora. Como a produção na
fábrica canadense é maior e mais eficiente, a fábrica brasileira é mais cara. Para
compensar essa diferença – somando a isso ainda outras características do
Custo Brasil –, um Toyota Corolla vendido no Canadá custa 75% menos que no
Brasil. Ou seja, no final da história, os problemas com a produtividade
atrapalham nossos salários e encarecem os produtos que consumimos. Nossa
produtividade é tão baixa que precisamos trabalhar dezessete vezes mais que
um inglês para comprar um chocolate.66
Como podemos ver no relatório do Banco Mundial:67

No cerne da produtividade baixa e estagnada do Brasil existe um sistema


econômico que desincentiva a concorrência e estimula a ineficiência e a
alocação inadequada de recursos. As empresas brasileiras operam em um

outubro2018
Clube SPA

ambiente de custos elevados. Esses custos elevados, frequentemente


chamados de Custo Brasil, são resultado de mercados financeiros
ineficientes e taxas de juros altas, um sistema de impostos
demasiadamente complexo e oneroso, uma infraestrutura nacional
inadequada, um conjunto extenso de regras administrativas e outros
desafios inerentes a operações em um país federativo com uma miríade
de regras distintas e em constante mutação. Até o momento, a redução
desses custos – por meio de reformas transversais financeiras, fiscais e
administrativas e do aumento dos investimentos em infraestrutura – tem
sido difícil. Em vez disso, o governo recorreu a uma série de intervenções
no funcionamento dos mercados de produtos, financeiro e de trabalho
para compensar os custos elevados – medidas que, possivelmente,
reduziram ainda mais a concorrência. Foram introduzidas barreiras
onerosas à importação, requisitos de conteúdo local, alíquotas
diferenciadas e isenções fiscais, subsídios de crédito e outras medidas
para beneficiar indústrias específicas, regiões e, muitas vezes, empresas
particulares (os chamados “campeões nacionais”). Esses benefícios pouco
fizeram para estimular a produtividade nos setores ou empresas que os
receberam. Em vez disso, acabaram distorcendo o mercado,
desestimulando a entrada de novos participantes e gerando incentivos
para que as empresas já estabelecidas buscassem apoio do governo. Como
resultado, os recursos no Brasil são mal alocados, o crescimento do
emprego e da renda está enfraquecido e os consumidores pagam preços
elevados por produtos de baixa qualidade. Esse fenômeno não é recente;
ele remonta, de modo geral, à adoção de políticas de industrialização da
década de 1930, baseadas na substituição de importações. Muitos
defendem o modelo de desenvolvimento liderado pelo Estado brasileiro,
que levou ao rápido crescimento observado durante o meio século após a
introdução da política de substituição de importações. No entanto, a fase
inicial de crescimento para compensar o atraso no Brasil acabou gerando
grandes desequilíbrios macroeconômicos, e caracterizou-se pelo aumento
da desigualdade.

Qual a principal estratégia do governo para combater a pobreza e a


desigualdade? Os programas sociais. Não é difícil entender, no entanto, por que
houve tão pouco impacto deles na nossa economia na última década. A
remuneração do funcionalismo e a Previdência Social são, com ampla margem,
as duas maiores fontes de fluxos estatais: representam quase 95% do valor

outubro2018
Clube SPA

bruto transferido pelo Estado para as famílias brasileiras. Logo, como afirma o
Ipea, é natural que a contribuição do Estado para a desigualdade no Brasil “seja
quase totalmente determinada pela distribuição destas duas fontes que, por sua
vez, é altamente influenciada pela distribuição do diferencial salarial público-
privado”.68
Em 2017, por exemplo, segundo dados disponibilizados pela Secretaria do
Tesouro Nacional, praticamente todos os estados brasileiros gastaram mais da
metade da arrecadação líquida com servidores públicos na ativa, aposentados e
pensionistas. Das 27 unidades federativas, apenas três gastaram menos com
seus servidores: o Distrito Federal, Goiás e Sergipe. Algumas superam a marca
de 60%, como, por exemplo, Minas Gerais (60%), Rio de Janeiro (65%),
Tocantins (66%) e Roraima (77%).69

Os estados possuem, entre outras atividades, a responsabilidade pela


segurança pública (como o comando das polícias civis e militares), pelo
fornecimento de serviços especializados de saúde e de alta complexidade (onde
são obrigados, segundo a Constituição, a gastar 12% de suas receitas líquidas),
pela construção de moradias populares, pelo corpo de bombeiros, pelo sistema
prisional, pela construção de infraestrutura (como as rodovias que ligam as
suas cidades) e pela participação no Ensino Fundamental e no Ensino Médio
(onde são obrigados, segundo a Constituição, a gastar 25% de suas receitas
líquidas).
A prioridade do gasto público, no entanto, é concentrada nos próprios

outubro2018
Clube SPA

agentes públicos. Mesmo gastos com custeio – como combustível, uniformes,


locação de imóveis e veículos, tarifas de água e energia elétrica, entre outras
coisas necessárias para a manutenção da máquina – representaram para os
estados brasileiros, em 2017, de 18% a 28% (neste caso, da receita total).

O gráfico abaixo apresenta a incidência absoluta do gasto público com


transferências monetárias – leia-se: a parcela das transferências por cada
estrato de renda. Como é possível observar nele, a parte destinada ao quintil
mais elevado – ou seja, os 20% mais ricos do país – é cerca de dez vezes maior
que a parte que beneficia o quintil mais pobre da população.

outubro2018
Clube SPA

Fonte: Efeito Redistributivo da Política Fiscal no Brasil, Ministério da Fazenda.

Não bastasse, ao contrário do que se espera com os programas de


redistribuição de renda, estima-se que no Brasil menos de um terço das
transferências realmente chegue aos relativamente pobres. O resto é apenas o
governo retirando e retornando ao mesmo pagador de impostos. Fora isso,
enquanto programas como o Bolsa Família e impostos diretos diminuem a
desigualdade medida pelo coeficiente de Gini, respectivamente, em 6% e 2%,
impostos indiretos aumentam a desigualdade em 3%.70 Em 2015, o governo
federal desembolsou R$ 26,9 bilhões com o maior programa de transferência de
renda do país.71 No mesmo ano, o gasto dos pagadores de impostos brasileiros
apenas com os funcionários públicos federais, considerando os três poderes, foi
de R$ 255,3 bilhões, dos quais R$ 151,7 bilhões de salários para funcionários da
ativa, R$ 66,2 bilhões de aposentadorias e R$ 37,3 bilhões de pensões.72
No mundo real, longe das propagandas partidárias, nossos programas
sociais, como o Bolsa Família ou o Benefício da Prestação Continuada, são
apenas uma gota de redistribuição em meio a um mar de ações estatais
regressivas, compondo apenas uma fração mínima da renda líquida nacional –
menos de 1%. Por isso, seus impactos sobre a desigualdade são extremamente
limitados: -1%.
Na prática, o Estado não apenas não ajuda a diminuir a desigualdade no país
– ele é também em parte responsável por sustentá-la. Segundo o Ipea, em seu
estudo “Gasto público, tributos e desigualdade de renda no Brasil”,73 um terço
da desigualdade total em nosso país “pode ser diretamente relacionado às
transferências e aos pagamentos feitos pelo Estado aos indivíduos e às famílias,
mesmo depois de considerados os efeitos progressivos dos tributos diretos e
das contribuições”.
Em outro estudo, publicado em dezembro de 2017, é o próprio Ministério da
Fazenda quem admite o problema:74

Apesar de o governo brasileiro transferir para as famílias uma proporção


maior da sua renda do que a média dos países da OCDE, o Estado
brasileiro não consegue ser tão efetivo na redução da desigualdade de
renda como esses países, o que torna o Estado brasileiro um Robin Hood
às avessas, que, em vez de tributar os mais ricos para distribuir para os
mais pobres, termina tributando a todos para distribuir via transferência
monetária, em especial aposentadorias e pensões, para a metade mais rica
da população. Os resultados deste estudo indicam que o efeito

outubro2018
Clube SPA

equalizador da política fiscal no Brasil é relativamente modesto,


considerando o montante de recursos envolvidos e o desempenho de
outros países. A principal razão para isso é que a maioria das
transferências públicas monetárias são benefícios de aposentadorias e
pensão, cuja distribuição entre as famílias é análoga à concentração da
renda de mercado (pré-transferências).

Segundo o estudo, uma mudança na forma de tributação no país pode até


melhorar nosso cenário em relação à desigualdade, “mas não será suficiente
para compensar o efeito pouco distributivo das transferências monetárias do
Estado brasileiro, que gasta excessivamente com aposentadorias e pensões,
com efeito distributivo concentrador de renda, uma vez que tais gastos”,
benefícios pagos com recursos públicos, “são alocados majoritariamente no
quintil de renda mais elevado”. No Brasil, os 20% de domicílios de maior renda
per capita recebem mais da metade do pagamento de aposentadorias e pensões
(RGPS e RPPS) pagas pelo Estado.
Em 2015, o déficit do governo federal com a aposentadoria dos cerca de um
milhão de servidores da União foi maior do que todo o registrado com 33
milhões de aposentados da iniciativa privada; o rombo dos servidores
aposentados da União foi de R$ 90,7 bilhões, ante R$ 85 bilhões da Previdência
geral.75 Considerando os últimos quinze anos, o déficit do sistema de
Previdência Social do setor público somou R$ 1,3 trilhão para um milhão de
pessoas, enquanto o déficit do INSS somou R$ 450 bilhões para 29 milhões de
aposentados.76
Na prática, o déficit com 980 mil funcionários públicos é igual ao de todo o
INSS.77 Vale lembrar que o gasto no Brasil com previdência não é apenas o mais
alto entre os países de população jovem,78 nós também gastamos mais que o
dobro de países desenvolvidos com a previdência dos funcionários públicos.79 A
nossa relação com a previdência é tão grotesca que ainda há no Brasil cinco
pensões pagas a familiares de militares que lutaram a Guerra do Paraguai, que
acabou em 1870.80 Segundo o Ipea, 21% da desigualdade total no Brasil é fruto
direto desse modelo concentrador de aposentadorias e pensões.

outubro2018
Clube SPA

Fonte: Efeito Redistributivo da Política Fiscal no Brasil, Ministério da Fazenda.

Na prática, o Sistema Previdenciário brasileiro está estratificado em pelo


menos três grupos. No nível mais baixo, há uma massa de aposentadorias
e pensões iguais ao salário mínimo, altamente subsidiadas e pagas a
antigos trabalhadores rurais ou urbanos que viveram mais ou menos à
margem do mercado de trabalho formal. No meio, há os aposentados do
setor privado e a parcela dos servidores públicos inativos cujos benefícios
são menores ou iguais ao teto legal do RGPS. No topo, há alguns poucos
funcionários públicos cujas aposentadorias e pensões excedem – e muito,
em alguns casos – o teto do RGPS. O grupo dos funcionários públicos cujas
aposentadorias e pensões excedem o teto representa menos de 5% dos
beneficiários, mas se apropria de quase 20% dos recursos distribuídos
pela Previdência. Por causa disso, as aposentadorias e pensões dos
servidores públicos são extremamente concentradas. Seu coeficiente de
concentração é de 0,824, valor 47% maior que a desigualdade de renda no
Brasil, que já é alta. Apesar de apenas 4% da população viverem em
domicílios beneficiados, os valores transferidos para eles representam
6% da renda disponível nacional e 9% do coeficiente de Gini. Não há
nenhuma outra fonte de renda que contribua tanto, proporcionalmente,
para a desigualdade.

Com tamanha disfunção, o Estado brasileiro acaba contribuindo mais com a

outubro2018
Clube SPA

desigualdade social no país do que a iniciativa privada. E essa é a constatação


do Ipea, num estudo publicado em 2013:81

Proporcionalmente, o Estado contribui mais para a desigualdade que o


mercado de trabalho privado. Como o mercado de trabalho privado
responde por mais de 60% da renda disponível, mais que o dobro da
renda líquida de origem estatal, ele causa a maior parte da desigualdade.
No entanto, como o coeficiente de concentração dos fluxos estatais
líquidos de tributos é maior que a desigualdade total e o coeficiente dos
rendimentos do trabalho no setor privado é menor, a participação
percentual do Estado na desigualdade é maior que sua participação na
renda – 32% versus 30%; o inverso ocorre com o mercado de trabalho
privado – 58% versus 63%. Se a renda estatal líquida de tributos tivesse um
aumento proporcional de 1%, o coeficiente de Gini aumentaria 0,021%. No
caso do mercado de trabalho privado, sua contribuição marginal é
negativa: um aumento proporcional de 1% diminuiria o Gini em 0,044%.

A diferença entre os salários na iniciativa privada e na pública contribui com


cerca de 6% da desigualdade no Brasil. É uma contribuição pequena, mas, como
diz o Ipea, “sua importância no longo prazo não deve ser subestimada, pois tais
rendimentos são extremamente concentrados e, no futuro, sua concentração
será replicada no sistema previdenciário” – na aposentadoria, esses servidores
custarão aos pagadores de impostos, inclusive os mais pobres, em média, o
triplo dos aposentados na iniciativa privada.82 Além disso, o efeito do prêmio
salarial sobre a desigualdade é uma medida suficiente para anular metade do
efeito progressivo dos tributos diretos.
Não sem motivo, das dez profissões mais bem remuneradas do país, seis são
da elite do funcionalismo público. O ranking foi elaborado pelo pesquisador José
Roberto Afonso, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio
Vargas (Ibre/FGV), professor do mestrado do Instituto Brasiliense de Direito
Público (IDP). A base de dados é oficial: o relatório “Grandes Números”,
divulgado recentemente pela própria Receita Federal a partir de declarações de
imposto de renda da pessoa física.83
Em oitavo lugar estão os servidores das carreiras de auditoria fiscal e de
fiscalização, com um rendimento médio anual de praticamente R$ 265 mil.
Em sétimo estão os servidores de carreira do Banco Central, da Comissão de
Valores Mobiliários e da Superintendência de Seguros Privados, com
rendimento de praticamente R$ 270 mil, em média, por ano.

outubro2018
Clube SPA

Em sexto está o advogado do setor público, como o procurador de Fazenda.


O rendimento médio anual da categoria é de R$ 284 mil. Isso quer dizer que o
ganho dessa carreira é praticamente o dobro do declarado por advogados do
setor privado, cujo rendimento médio anual é de R$ 143 mil.
Em quarto estão os diplomatas, com ganho anual médio de R$ 332 mil.
Em terceiro estão os membros do Poder Judiciário e dos tribunais de contas,
com rendimento anual médio de R$ 512 mil.
Em segundo, membros do Ministério Público, como procuradores e
promotores, que também têm formação em direito e recebem anualmente, em
média, R$ 527 mil.
Em primeiríssimo lugar, com rendimento médio anual de mais que o dobro
do segundo colocado no ranking, está uma profissão que não é exatamente
exercida por funcionários públicos, mas por agentes privados que detêm o
direito a uma concessão pública: os titulares de cartório. Esses profissionais
ganham anualmente, em média, R$ 1,136 milhão.84

Não é difícil entender a razão.


O Estado brasileiro é excessivamente burocratizado, cartorial. Graças à nossa
herança lusitana, construímos ao longo dos séculos – ao menos desde 1º de
março de 1565, quando Pero da Costa foi nomeado o primeiro serventuário do
ofício de tabelião público do Judicial e das Notas da cidade do Rio de Janeiro85 –
uma rede com milhares de cartórios espalhados de norte a sul do país,
“destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos

outubro2018
Clube SPA

atos jurídicos”.86
Hoje, nós atribuímos a inúmeros agentes privados atividades ligadas ao
registro dos fatos mais importantes da nossa vida civil (do nascimento à morte)
e dos nossos negócios (da criação de empresas às nossas dívidas). E quando
escrevo inúmeros, não utilizo essa palavra por acaso. No mapa abaixo estão
todos os cartórios do país.

No Brasil, apenas dez cartórios arrecadam juntos mais de meio bilhão de


reais por ano. O faturamento total das 12,4 mil serventias foi de R$ 14 bilhões
em 2016, metade do Bolsa Família. Embora os dados do Conselho Nacional de
Justiça não sejam muito precisos, já que consideram a renda bruta dos cartórios
e estabelecem um corte a partir de um faturamento anual acima de R$ 500 mil,
é possível afirmar que das 7,6 mil serventias providas (ou seja, com titulares
aprovados em concurso), 2,3 mil (30%) arrecadam mais do que esse valor, meio
milhão de reais por ano.87
A arrecadação de cartórios de todo o país cresceu 42,6% de 2013 a 2017.88

outubro2018
Clube SPA

Mesmo considerando que boa parte dessa arrecadação é transferida ao Estado e


que outra parte é alocada na manutenção do próprio negócio, é inegável que
uma parcela considerável dos detentores desse serviço público se encontra
numa posição confortabilíssima, no topo da nossa pirâmide social.
Esse modelo também contribui para a desigualdade de renda no país.
Bilhões de reais são transferidos todos os anos do bolso dos pagadores de
impostos ao Estado e a um punhado de pessoas físicas privilegiadas,
encarregadas de prestar um serviço que, mesmo importante, poderia exercer
papel substancialmente menor na vida dos brasileiros – especialmente se
considerarmos o fato de já estarmos no século XXI, um capítulo memorável da
existência humana, com tecnologia abundantemente disponível para nos
relacionarmos com a burocracia de outra maneira. Além disso, nós também
colaboramos com a desigualdade quando deixamos de limitar os ganhos dos
cartórios ao teto da remuneração do serviço público, legalizando a formação de
uma verdadeira nobreza sustentada pelos pagadores de impostos.
O Estado é inegavelmente uma fonte de desigualdade no Brasil. Como atesta
o Ipea:

Alguns autores argumentam que políticas universalistas legitimam a


política social em geral e, portanto, países com Estados de bem-estar
social de moldes corporativistas, que destinam mais recursos para estas
políticas, são mais capazes de reduzir a desigualdade que os que optam
por políticas sociais focalizadas, uma vez que o universalismo resultaria
em um nível maior de gastos (Korpi e Palme, 1998; Smeeding, 2005). Não
há evidências de que isto se aplique ao Brasil. Gastos com aposentadorias
e pensões chegam a mais de 20% da renda disponível – uma proporção
alta mesmo quando se compara com países desenvolvidos –, mas os
gastos com Assistência Social permanecem baixos, em um nível cerca de
vinte vezes menor que o da Previdência. No caso brasileiro, faz mais
sentido argumentar que os trabalhadores nos setores mais desenvolvidos
da economia, incluindo a administração pública, conseguem se organizar
em grupos de interesse muito mais influentes que a massa não organizada
de potenciais beneficiários da Assistência Social. Ao contrário do que
Korpi e Palme defendem para países desenvolvidos, o que mais importa
para a desigualdade em um sistema de políticas sociais de um país como o
Brasil não é tanto o desenho das políticas – focalizadas versus universais
–, mas o desequilíbrio de poder entre as oligarquias e os pobres que
precede o desenho e determina o nível das transferências para os

outubro2018
Clube SPA

diversos grupos sociais, seja qual for a soma agregada dos gastos.
O resultado final é um sistema de proteção social altamente
estratificado. Em um extremo, uma grande quantidade de famílias pobres
só pode contar com os parcos recursos distribuídos pela Assistência
Social ou, no máximo, com benefícios equiparados ao salário mínimo para
os idosos e/ou familiares portadores de deficiência. No outro extremo, um
número reduzido de servidores públicos muito bem pagos durante sua
vida ativa desfruta ainda de um sistema previdenciário mais generoso.

O populismo é o ópio do povo

Inflacionar o salário dos servidores, colocando em risco as contas públicas e,


como consequência, os serviços disponíveis para a população – em especial sua
parcela mais simples, dependente diretamente de escolas e hospitais públicos –
não é estratégia exclusiva do rent-seeking dos grupos de pressão sindicais, é
também artifício eleitoreiro dos líderes populistas. No Brasil, como vimos no
capítulo anterior, os clãs políticos não constroem bases clientelistas apenas em
seus redutos eleitorais, mas também dentro do próprio serviço público,
oferecendo cargos e regalias a servidores – fortalecendo assim seus sindicatos –
em troca de capital político.
Líderes populistas, aliás, apelam quase sempre para os mesmos artifícios.
Em primeiro plano, declaram como inimiga uma parte da própria população,
associando esta parcela a planos mancomunados com agentes externos,
genuinamente interessada em transformar o país num lugar pior. Como atesta o
economista Friedrich Hayek, ganhador de um Nobel:89

Quase por uma lei da natureza humana, parece ser mais fácil aos homens
concordarem sobre um programa negativo – o ódio a um inimigo ou a
inveja aos que estão em melhor situação – do que sobre qualquer plano
positivo. A antítese “nós” e “eles”, a luta comum contra os que se acham
fora do grupo, parece um ingrediente essencial a qualquer ideologia capaz
de unir solidamente um grupo visando à ação comum. Por essa razão, é
sempre utilizada por aqueles que procuram não só o apoio a um
programa político, mas também a fidelidade irrestrita de grandes massas.

O ódio é a força motora do populismo: é a “eleitorização” da luta do bem

outubro2018
Clube SPA

contra o mal, do paraíso prometido contra a condenação ao inferno, dos


santificados contra os pecadores, dos defensores do Povo contra os inimigos do
Povo, dos pobres contra os ricos, do moderno contra o antigo, dos amantes da
pátria contra os adversários da pátria.
No centro do populismo reside uma força autoritária sem a mínima
capacidade de autocrítica, perfeitamente qualificada para cegar, emudecer e
ensurdecer, sempre que necessário. No epicentro dela, um líder político
amplamente propagandeado como uma figura irrepreensível, imaculada e
infalível – incapaz de qualquer ato de autointeresse – rege uma massa
domesticada pelo ódio, prometendo a chave mágica para a resolução dos seus
problemas, como se monopolizasse um canal de acesso quase divino entre a
multidão que o acolhe e o seu bem-estar.
No populismo, o povo é uma instituição mítica, honrada, sábia, soberana, e a
vontade popular é majoritariamente uma busca por ideais homogêneos e
sagrados, quase sempre instituídos de cima para baixo pelo próprio líder
político.
O mercado, esse ente abstrato, em contrapartida, é invariavelmente tratado
como o grande inimigo do povo pela autoridade populista. Mas para conseguir
entender a razão disso, nós precisaremos de um longo parêntese – e talvez
ainda mais do que isso: de uma máquina do tempo.
Ninguém sabe exatamente quando começou, mas há pelo menos cem mil
anos os seres humanos trocam seus excedentes com outros seres humanos com
os quais não possuem qualquer relação. Sabe-se que há 82 mil anos, no coração
do Marrocos, os africanos foram capazes de passar conchas Nassarius de mão
em mão ao longo de inacreditáveis duzentos quilômetros até o interior.
Na prática, esse modelo de trocas exerce uma profunda influência na vida
humana desde a sua gênese. A escrita nasceu há cinco mil anos como forma de
registrar as transações econômicas. Nossos primeiros documentos históricos –
ainda marcas em argila cozida – são registros de transações de longa distância
de grãos e metais entre a Mesopotâmia e o sul da Arábia. A matemática seguiu o
mesmo caminho: foi inventada no Crescente Fértil para computar custos e
estabelecer preços. A troca é parte da nossa condição há pelo menos tanto
tempo quanto o Homo sapiens é uma espécie.90
E aqui há uma regra importante, que de certa forma traduz como funciona
esse sistema: em bom economês, “indivíduos buscam maximizar a sua própria
utilidade”. Ficou complicado entender? Sem problema. Pense num conceito
parecido com o bem-estar, só que um pouco mais complexo. Eu, você, seu

outubro2018
Clube SPA

vizinho, todos nós agimos para melhorar ao máximo nossa vida. O tempo todo.
E no mercado não é diferente. Os consumidores buscam o conforto, a
praticidade, eliminar a fome, matar a sede, facilitar a vida; as empresas buscam
maximizar os lucros.
Em regra, essas trocas acontecem num lugar universalmente conhecido
como mercado. E o mercado, por sua vez – uma organização que centraliza um
conjunto de regras necessárias para as trocas –, existe graças a um negócio
chamado preço.
Pense, por exemplo, num supermercado. Se os clientes começam a pedir
muitos pacotes de macarrão, o dono do estabelecimento inadvertidamente
realizará uma encomenda maior com seu fornecedor de macarrão, certo? Se há,
porém, uma fome insaciável por massas em toda a cidade, o preço das massas
no atacado subirá. Pense num cenário em que há problemas com a colheita de
trigo e… bingo: na gôndola do supermercado mais próximo da sua casa, aquela
sua marca favorita de macarrão estará inevitavelmente mais cara.
O preço funciona como uma espécie de Google, um grande oráculo de
informação. É disso que se trata todo esse negócio de oferta e demanda. Se no
supermercado mais próximo houver mais pessoas interessadas em comer
macarrão do que pacotes de macarrão disponíveis, então o preço dos pacotes de
macarrão subirá. Essa é a maneira mais racional de lidar com a escassez. E
escassez é a base da economia. Não existe, afinal, nenhuma fonte infinita de
macarrão.
O “problema” é que nós não estamos mais presos às conchas Nassarius. O
nosso sistema de trocas é absurdamente complexo. E, cá entre nós, não é fácil
captar toda a abstração de uma economia moderna – formação de salários,
renda, juros, lucro. É tudo, ao menos aparentemente, subjetivo demais.
Toda noção intuitiva de criação de riqueza que a gente tem, sustentada por
uma longa relação da espécie humana com o intercâmbio direto de bens e
serviços, ainda valoriza produtores de bens de valor palpáveis (por exemplo,
um camponês que troca dois litros de leite por quatro ovos de galinha) em
detrimento de mercadores, rentistas e agiotas, que ganham dinheiro “apenas”
fazendo com que as coisas mudem de mão, sem propriamente criar novos
objetos. A nossa impressão é que esses caras todos não passam de parasitas ou
que, no mínimo, alimentam vidas nababescas sem ter que pegar no pesado.
Tudo isso é um grande problema para o marketing desse sistema de trocas,
já que ele permite como nenhuma outra ferramenta a proliferação de
atravessadores. No final da história, a economia moderna é complexa demais

outubro2018
Clube SPA

para criar a mínima empatia à maioria esmagadora das pessoas, ainda que seja
utilizada diariamente por todas elas.
Eu poderia apostar, por exemplo, que você não faz a mais remota ideia de
como foi construído o mouse que utilizo para escrever este livro. Nem você,
nem eu – e nem o dono da empresa que o produziu, acredite. Um mouse pode
parecer algo inofensivamente simples, mas é um instrumento complexo
oriundo de uma inteligência coletiva exposta a séculos de evolução.
E não estou falando de uma simples indústria que reúne todas as peças e sai
por aí vendendo. Um mouse é algo muito mais elaborado do que isso, e possui
literalmente o dedo de diversos trabalhadores: dos fabricantes de máquinas de
extração de petróleo aos que enchem o tanque do caminhão que transporta
seus botões; dos responsáveis pelos processos químicos que permitem que o
petróleo vire plástico aos caras por trás da construção de suas peças de metal;
do designer que projetou suas curvas às mentes criativas por trás de seu sensor.
São centenas, milhares de pessoas envolvidas na construção de um único
modelo.
E se você pensa que todo esse processo parou por aí, pense novamente. Toda
essa turma não está sozinha. Cada parte interessada nesse bolo é acompanhada
por dezenas de motoristas, secretários, zeladores, seguranças, atendentes,
telefonistas, fornecedores de máquinas de café. E ainda por comerciantes,
bancários, consultores, investidores, especuladores e uma horda de
atravessadores dos lugares mais remotos do mundo.
Não importa quão bem informada esteja a respeito de sua profissão,
nenhuma dessas pessoas domina sozinha todas as etapas necessárias para a
produção de um único mouse, vendido por algumas poucas notas de real em
qualquer loja de departamentos. E ainda assim ele repousa em absoluta
tranquilidade em minha mesa, atendendo com precisão a todos os meus
comandos, ao lado de um notebook que passou por uma rede ainda mais
complexa de trocas. Se todas essas pessoas não estivessem conectadas a uma
robusta teia, integradas à condução de uma mão invisível onipresente que
direciona cada parte interessada nesse processo, muito provavelmente a chance
de você ler este livro nesse momento seria próxima de zero.
Como diz, mais uma vez, o ganhador do Nobel, Friedrich Hayek, “a curiosa
tarefa da economia é demonstrar aos homens como eles realmente sabem
pouco sobre o que pensam que podem planejar”.91
Thomas Thwaites, um estudante de pós-graduação de desenho do Royal
College of Art, de Londres, resolveu testar quão condenados ao atraso

outubro2018
Clube SPA

estaríamos sem esse aparato todo de divisão do trabalho. Thomas decidiu


construir, sozinho, uma torradeira. Do zero. Para isso, desmontou uma velha
torradeira que tinha e, com espanto, descobriu que ela possuía mais de
quatrocentos componentes e subcomponentes.92 Mesmo algo estupidamente
simples ainda precisava de cobre (para fazer, entre outras coisas, a fiação
interna); ferro (para desenvolver a mola que empurra a torrada para cima);
níquel (para permitir o aquecimento das torradas); mica (onde o dispositivo de
aquecimento é enrolado); e de plástico (para o plugue).
O britânico tentou de tudo, mas nada funcionava. Atrás de minério de ferro,
viajou até uma velha mina no País de Gales, onde procurou fundir o ferro
usando uma tecnologia do século XV e fracassou de forma retumbante. Também
usou uma técnica um pouco mais moderna, com dois fornos de micro-ondas, e
não saiu do lugar (um deles morreu durante o experimento).
Para fugir do fiasco, Thomas desistiu da ideia de começar todo o processo do
zero. E encarou o jeitinho. Percebeu que “se começasse do zero absoluto,
poderia gastar a vida fazendo uma torradeira”. Assim, montou seu experimento
como pôde. Revirou um depósito de lixo atrás de plástico e fundiu algumas
moedas comemorativas para conseguir níquel. No final, o objeto construído
parecia qualquer coisa, menos uma torradeira – apesar disso, era capaz de
aquecer um pão quando conectada a uma bateria. Parecia bom o bastante.
Thomas, no entanto, não se convenceu. Decidiu ligar seu experimento na
tomada. Era dar certo ou jogar todo o tempo destinado ao seu desenvolvimento
no lixo. A “torradeira” faleceu sem titubear.
O americano Andy George tentou algo parecido. Responsável por um canal
no YouTube chamado How to Make Everything, Andy ousou uma tarefa
relativamente mais simples do que a de Thomas: desenvolver sozinho um
sanduíche de frango com queijo. Sim, um mero sanduíche – e se você acha que
produzi-lo é uma tarefa fácil, pense novamente. Andy plantou e colheu os
próprios vegetais, ordenhou uma vaca (para a produção do queijo), evaporou a
água do oceano (para o sal), preservou seu próprio picles, plantou e moeu o
próprio trigo, abateu, depenou e cozinhou um frango. Quanto tempo você acha
que esse processo todo tomou? Longos seis meses de vida, a um gasto de US$
1.500.93 Tudo por um mísero sanduíche.
Na prática, Thomas e Andy descobriram aquilo que, olhando todo o processo
de cima, nos parece óbvio: ninguém sozinho é capaz de construir uma
torradeira ou cultivando e criando os produtos, fazer um sanduíche de frango,
por mais simples que isso pareça. E isso pelo fato de que uma única torradeira,

outubro2018
Clube SPA

assim como um mouse ou um sanduíche, demanda o trabalho de milhares de


pessoas, dos mais diversos cantos do mundo.
Imagine que há mais de cem mil itens numa loja de departamentos como o
Walmart. Ou melhor, esqueça o Walmart e encare a calçada. Segundo o
economista Eric Beinhocker, do McKinsey Global Institute, se pegarmos todos
os livros, e os utensílios domésticos, e os sabonetes, e os celulares, e os
brinquedos, e os potes de maionese, e os remédios, e todo o resto que está à
venda numa cidade como São Paulo ou Nova York, há mais de dez bilhões de
produtos distintos sendo comercializados neste exato instante.94 Repito: dez
bilhões. Em cada megalópole do planeta. Já pensou a quantidade de gente
envolvida nesses processos todos? Quantos patrões, empregados, fornecedores,
transportadores, atravessadores e vendedores?
Com tanta gente inclusa nesses processos, com múltiplos empréstimos
envolvidos, juros cobrados, salários negociados e comissões pagas, a sensação é
que não há uma pessoa no mundo capaz de garantir que no meio dessa
complexidade toda você não está sendo explorado por alguém. Essa é a
percepção intuitiva de inúmeros trabalhadores. Se cada uma das centenas de
pessoas envolvidas em cada etapa desse processo recebe frações de centavos do
montante que gastei ao adquirir meu mouse, quem determina quem recebe
mais e quem recebe menos? Qual é o rosto desse tal de mercado? Com quem a
gente reclama se não concordar com a decisão dele? Como fazer com que as
pessoas encarem todo esse processo de remuneração como algo justo, com tão
poucas informações disponíveis a respeito das inúmeras escalas de trabalho
envolvidas?
É aí que entra em cena o líder populista, jurando encampar uma verdadeira
batalha em defesa dos interesses nacionais e dos trabalhadores: praguejando
contra o sistema financeiro; condenando investidores e atravessadores;
atacando um mar de espantalhos – os ianques, os colonizadores, os
publicitários, os países vizinhos –; jogando patrões contra empregados, nativos
contra migrantes, trabalhadores contra trabalhadores; regulando,
burocratizando, taxando, proibindo, ameaçando.
No meio desse tecido social de trocas tão complexo, o líder populista se
apresenta como uma espécie de oráculo popular, a solução definitiva para essa
intrincada rede, o juiz supremo contra as supostas injustiças naturais do
sistema.
Em suas peças de propaganda, a eleição do seu clã é a resposta para todos os
problemas do país, e a solução para cada adversidade passa necessariamente

outubro2018
Clube SPA

pelo mesmo instrumento: o aumento da autoridade política, a acumulação de


poder dos eleitos, a completa desregulação das atividades dos legisladores.
No Brasil, entre 2016 e 2017, apenas 25% dos nossos parlamentares
votaram contra matérias relevantes que procuram expandir privilégios e/ou
aumentar as atribuições do Estado; 39% deles se posicionaram timidamente
favoráveis a essas medidas; e outros 35% votaram consistentemente a favor
delas.
Para atingir seu objetivo, o populismo não raramente abarca uma retórica
religiosa, algumas vezes literalmente abraçando Igrejas constituídas;
fracionando, partindo ao meio, dividindo a parcela da população que está salva
pela fé depositada em seus dogmas contra a que está condenada pelos seus
pecados.
Nele, não há debate possível. Não dá diálogo. O líder populista, uma pretensa
ferramenta do altruísmo comunitário, não fala por si, mas em nome de uma
entidade soberana: o povo. Cada oposição às suas ideias, longe de qualquer
contestação praticada pelo uso da razão, é tratada devidamente como uma
artimanha demoníaca, uma manipulação astuta daqueles que se insurgem para
confundir seu sacro dogmatismo.
O populismo é uma doutrina escandalosamente equivocada porque ignora:

1. que os agentes do Estado não são espíritos elevados, mas também agem
motivados por egoísmo, em autointeresse, como qualquer indivíduo;
2. que um Estado interessado em concentrar poder é um instrumento para
atender à ambição de um pequeno grupo de atores privados
interessados em controlá-lo;
3. que o Estado possui vocação para ser uma ferramenta de concentração
econômica, criador de monopólios, oligopólios e privilégios, e, por isso,
motor de desigualdade;
4. que boas intenções não criam necessariamente boas políticas públicas;
5. que não existe absolutamente nada de graça;
6. que burocracia em excesso, em geral, serve apenas para atender aos
interesses de agentes privados já estabelecidos em seus setores no
mercado, aumentando o custo de entrada de potenciais concorrentes;
7. que o mercado também não é formado por anjos celestiais, que é um
instrumento sujeito a falhas e injustiças, disposto a ser manipulado por
grandes players, a celebrar empresários imorais e a criar vencedores e
perdedores, mas que parte das suas falhas, quando estudadas

outubro2018
Clube SPA

criteriosamente, revelam-se defeitos extramercado, de natureza


institucional, que tendem a ser ampliados (e não eliminados), quando as
ações estatais dispostas a corrigi-los não são amparadas por uma análise
técnica de impacto, seguindo preceitos da boa literatura econômica – e
há fartos estímulos para que esse seja o arranjo em nosso país;
8. que o rent-seeking é uma prática condenável não apenas quando
praticada por associações empresariais e industriais, mas também por
sindicatos de trabalhadores que representam verdadeiras oligarquias no
serviço público;
9. que um Estado que burocratiza em excesso também é corrompido em
excesso;
10. que apesar das Odebrechts e das JBSs, gigantes construídas em ampla
relação com o poder, a maioria esmagadora dos donos de negócios no
Brasil não é inimiga da população; pelo contrário: comunga com os
mesmos valores.

E aqui cabe mais um parêntese.


O número de empresas privadas que colaboraram nos últimos anos com as
campanhas eleitorais é extremamente baixo (atingiu pouco mais de 0,3% do
total nas eleições de 2014). No Brasil, a imensa maioria das empresas
simplesmente não participa do jogo político.

outubro2018
Clube SPA

Fonte: Interesses econômicos, representação política e produção legislativa no Brasil sob a ótica do
financiamento de campanhas eleitorais, de Bruno Carazza.

Mais do que isso: a imensa maioria das doações ultrapassou R$ 1 milhão. Em


2014, menos de 25% das contribuições de campanha foram abaixo desse valor
– o que significa que a cada R$ 4 doados, R$ 3 vieram de apenas 747 pessoas
físicas e jurídicas (dos quais apenas cem concentram 57% dos recursos doados
por todas as empresas).
Há cerca de 23 milhões de donos de negócios no Brasil.
Desse total, treze milhões (58%) estão catalogados como “baixa renda” – ou
seja, é gente que recebe até dois salários mínimos por mês (e desses caras,
quase seiscentos mil são empregadores; leia-se: ainda ajudam a sustentar
outras famílias, mesmo recebendo menos de R$ 2 mil por mês). Outros quase
seis milhões (25%) dos donos de negócios pertencem à modalidade “média
renda” – recebendo de dois a cinco salários mínimos por mês (desses, 1,3
milhão corresponde a empregadores). 27% dos donos de negócios de “baixa
renda” trabalham mais de 45 horas por semana neste país; esse número é de
46% entre aqueles que pertencem ao grupo de “média renda”.95
E mais: 44% dos donos de negócios no Brasil estudaram no máximo sete
anos, menos do que o necessário para terminar o Ensino Fundamental; 43%
deles trabalham dez horas por dia (na média, trabalham vinte horas a mais por
mês96 que seus empregados97); 51% deles nem sequer tiram férias – e entre os
que tiram, apenas 3% fazem isso por quatro semanas seguidas, como o
trabalhador com carteira assinada.98
Não se engane. Essa é a maioria esmagadora dos agentes da iniciativa
privada brasileira: gente que dá um duro danado para fechar a conta no fim do
mês. Mais da metade dos nossos empregadores recebe até cinco salários
mínimos. E quase a totalidade desses sujeitos cumpre horários mais longos de
trabalho do que os seus empregados.
De modo geral, o ambiente de negócios no Brasil (leia-se: o tamanho da
nossa burocracia, a carga de impostos, a estrutura tributária, a complexidade
das leis trabalhistas etc.) é pior do que no resto do mundo.
E quanto pior o ambiente de negócios, menos desenvolvido é o país. Estima-
se que para cada um ponto de melhora no ambiente de negócios há um
aumento de US$ 238 na produção por trabalhador. Em 2016, segundo o Banco
Mundial, o Brasil somava míseros 56,9 pontos em seu ambiente de negócios.
Baseando-se nesses números, caso melhorássemos o nosso indicador em seis
pontos – ou seja, alcançando o patamar dos países emergentes –, a nossa

outubro2018
Clube SPA

produção aumentaria aproximadamente US$ 147 bilhões, com um incremento


de 4,7% no PIB per capita. Caso o Brasil atingisse o nível de ambiente de
negócios do Chile, sua renda seria elevada em cerca de US$ 361 bilhões, com
uma expansão de 11,6% no PIB per capita.99

O que esses dados traduzem é que, na prática, nossos empreendedores não


precisam apenas encarar seus concorrentes diretos, como nos países
desenvolvidos, mas também o mais temido dos adversários: o próprio Estado
brasileiro.
Grosso modo, boa parte daqueles que contratam e são contratados neste país,
em condições institucionais insalubres, vivem num cenário muito parecido –
lidam com os mesmos problemas, almejam as mesmas ascensões sociais, têm os
mesmos sonhos de consumo.
Não por acaso, uma parcela importante da sua vida, posso apostar, é cercada
por donos de negócios, mesmo dentro da sua própria família. É o caso do dono
da padaria, da mecânica, do hortifrúti, da banca de revista, da papelaria, do
açougue. Esses sujeitos atravessam as mesmas esquinas que você. Pagam as
mesmas contas. Saem das mesmas escolas. E não possuem acesso a qualquer lei
trabalhista ou pertencem a associações e sindicatos que defendam seus
interesses. Greve é falência. Férias é improdutividade, e não descanso. Não há a
mais remota estabilidade nos negócios.
O fato é que o populismo é uma tragédia repetidamente presente na história
do Brasil – seja nas administrações locais, seja no Congresso Nacional, seja na
Presidência da República. O populismo promete respostas fáceis para
problemas complexos; ignora leis básicas da economia; incita o ódio, o
preconceito e a violência; suprime evidências para sustentar promessas

outubro2018
Clube SPA

inconsistentes; cria bolhas ideológicas; manipula a opinião pública; loteia o


Estado, distribuindo privilégios injustificados; personifica o debate e altera de
forma grosseira os acontecimentos do passado.
O líder populista é o caudilho, o coronel, o déspota, o candidato lobista
disfarçado de “não político”, o falso profeta, sempre em campanha, ainda
insistentemente presente em nossa democracia. Parte importante dos
problemas apontados por este livro é resultado direto desse fenômeno, que
atinge diferentes identidades partidárias desde o início do republicanismo no
Brasil.
O populismo, porém, não é uma doença. É um sintoma, uma oferta
atendendo a uma demanda. Ele indica um forte viés de uma parcela significativa
da população que insiste em enxergar a política como um instrumento de
libertação; uma catarse coletiva que, de quatro em quatro anos, atinge até os
mais céticos dos eleitores; uma grosseira noção de esperança relegada à mera
eleição de líderes messiânicos, salvadores da pátria e super-heróis.
Ou nós alteramos o rumo da história, modificando radicalmente a nossa
relação com o poder. Ou nós estaremos condenados a repeti-la até o fim dos
tempos.

outubro2018
Clube SPA

outubro2018
Clube SPA

Epígrafe

1. “Reunião de Bacana”, música composta por Ary do Cavaco e Bebeto di São João.

A maior fábrica de leis estúpidas do planeta

1. DUARTE, Alessandra; OTAVIO, Chico. “Brasil faz 18 leis por dia, e a maioria vai para o lixo”. O Globo,
3 nov. 2011. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/politica/brasil-faz-18-leis-por-dia-a-
maioria-vai-para-lixo-2873389>
2. AMARAL, Gilberto Luiz do; OLENIKE, João Eloi; AMARAL, Letícia M. Fernandes do; YAZBEK,
Cristiano Lisboa. “Quantidade de normas editadas no Brasil: 28 anos da Constituição Federal de
1988”. Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação, s/d. Disponível em:
<https://ibpt.com.br/img/uploads/novelty/estudo/2603/QuantidadeDeNormas201628AnosCF.pdf
3. PRATES, Marco. “Livro com toda lei tributária do Brasil pesa 2 hipopótamos”. Revista Exame, 26
mar. 2014. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/brasil/livro-gigante-revela-peso-de-
impostos-no-pais-2-hipopotamos/>
4. ALVARENGA, Darlan. “Empresas gastam 1.958 horas e R$ 60 bilhões por ano para vencer
burocracia tributária, apontam pesquisas”. G1 – Economia, 20 nov. 2017. Disponível em:
<https://g1.globo.com/economia/noticia/empresas-gastam-1958-horas-e-r-60-bilhoes-por-ano-
para-vencer-burocracia-tributaria-apontam-pesquisas.ghtml>
5. Doing Business 2018: Reforming to Create Jobs. Washington, D.C.: World Bank Group, 2018.
Disponível em:
<http://www.doingbusiness.org/~/media/WBG/DoingBusiness/Documents/Annual-
Reports/English/DB2018-Full-Report.pdf>
6. LIMA, Luís. “Tempo perdido com burocracia custa mais ao Brasil que impostos, diz diretora do
Banco Mundial”. Revista Época, 26 set. 2017. Disponível em:
<http://epoca.globo.com/economia/noticia/2017/09/custo-do-tempo-pesa-mais-que-o-
financeiro-diz-diretora-do-banco-mundial-sobre-burocracia-brasileira.html>
7. “A burocracia no ciclo de vida das empresas: descongestionar para o país andar”. Endeavor, s/d.
Disponível em: <https://endeavor.org.br/tudo-sobre-burocracia/>
8. Confederação Nacional da Indústria. As barreiras da burocracia: o setor portuário. Brasília: CNI,
2016.
9. LISBOA, Marcos; SCHEINKMAN. “As amarras para o crescimento da economia brasileira”. Folha de
S.Paulo – Ilustríssima, 18 dez. 2016. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2016/12/1841866-as-amarras-para-o-crescimento-
da-economia-brasileira.shtml>
10. ARRUDA, Carlos; BURCHART, Ana; RAMOS, Arthur. “Brasil segue trajetória de queda e ocupa a
antepenúltima posição em ranking de competitividade”. Fundação Dom Cabral, maio 2017.
Disponível em:
<http://acervo.ci.fdc.org.br/AcervoDigital/Relat%C3%B3rios%20de%20Pesquisa/Relat%C3%B3rios%20d
11. MENDONÇA, Heloísa. “Topa tudo por trabalho: brasileiros aceitam salários menores e postos sem
carteira para driblar desemprego”. El País Brasil, 5 fev. 2018. Disponível em:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/02/politica/1517580002_384940.html>
12. SILVEIRA, Daniel; ALVARENGA, Darlan. “Trabalhador sem carteira ganha 44% menos que
empregado formal, aponta IBGE”. G1 – Economia, 23 fev. 2018. Disponível em:
<https://g1.globo.com/economia/noticia/trabalhador-sem-carteira-ganha-44-menos-que-
empregado-formal-aponta-ibge.ghtml>
13. DE CHIARA, Márcia. “Após 11 anos, participação da economia informal volta a crescer no PIB”. O

outubro2018
Clube SPA

Estado de São Paulo – Economia & Negócios, 27 jun. 2016. Disponível em:
<http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,apos-11-anos-participacao-da-economia-
informal-volta-a-crescer-no-pib,10000059570>
14. COSTA, Diogo. “A Constituição brasileira é mais longa do que a de qualquer país da OCDE ou da
América Latina”. Infogram, s/d. Disponível em: <https://infogram.com/a-constituicao-brasileira-e-
mais-longa-do-que-a-de-qualquer-pais-da-ocde-ou-da-america-latina-1gj7259d5yq5m1l>
15. CUNHA, Luciana Gross; BUENO, Rodrigo de Losso da Silveira; OLIVEIRA, Fabiana Luci de; SAMPAIO,
Joelson Oliveira; RAMOS, Luciana de Oliveira; PIERI, Renan Gomes de; CAVALIERI, Cristiana de
Jesus Costa. Relatório ICJBrasil – 1º sem. 2016. Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio
Vargas, FGV, 2016.
16. CARDOSO, Maurício. “Quase 800 leis paulistas foram julgadas inconstitucionais em 2016”. Consultor
jurídico – Anuário da Justiça, 5 mar. 2017. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2017-mar-
05/800-leis-paulistas-foram-julgadas-inconstitucionais-2016>
17. PEREIRA, Robson. “No TJ-RJ, 79% das leis questionadas foram julgadas inconstitucionais”.
Consultor jurídico – Anuário da Justiça, 28 nov. 2017. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2017-nov-28/rio-janeiro-79-leis-foram-julgadas-inconstitucionais>
18. PEREIRA, Robson. “De cada três leis, duas foram julgadas inconstitucionais pelo STF em 2016”.
Consultor jurídico – Anuário da Justiça, 29 maio 2017. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2017-mai-29/cada-tres-leis-duas-foram-julgadas-inconstitucionais-
2016>
19. O Estado de S. Paulo, páginas da edição de 9 jun. 1971, p. 40. Disponível em:
<http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19710609-20501-nac-0040-999-40-not>
20. “Marcar carona pelo smartphone pode dar multa de R$ 5 mil”. Congresso em Foco, 8 mar. 2014.
Disponível em: <http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/marcar-carona-pelo-smartphone-
pode-dar-multa-de-r-5-mil/>
21. PONTE PRETA, Stanislaw. Febeapá: o festival de besteira que assola o país. São Paulo: Companhia
das Letras, 2015.
22. “Datas comemorativas e outras datas significativas”. Centro de Documentação e Informação –
Biblioteca digital da Câmara dos Deputados. Brasília: Edições Câmara, 2012. Disponível em:
<http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/10008>
23. “Datas comemorativas criadas por normas jurídicas/Apresentação”. Câmara dos Deputados.
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/publicacoes/datas-
comemorativas/leis/apresentacao>
24. “Datas comemorativas/Projetos de Lei/Tramitando”. Câmara dos Deputados. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/publicacoes/datas-
comemorativas/projetos-de-lei/projetos-de-lei/tramitando>
25. ALMEIDA, Acir. Processo legislativo: mudanças recentes e desafios. Ipea – Notas de Pesquisa.
Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/boletim_analise_politico/150714_boletim_analisepo
26. BERGAMIM JR., Giba; RODRIGUES, Artur. “Homenagens são um terço dos projetos aprovados na
Câmara Municipal de São Paulo”. Folha de S. Paulo – Eleições 2016, 5 set. 2016. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/poder/eleicoes-2016/2016/09/1810260-homenagens-sao-um-
terco-dos-projetos-aprovados-na-camara-municipal-de-sao-paulo.shtml>
27. CHEREM, Carlos Eduardo. “De cada 10 leis feitas e aprovadas por vereadores de BH, 7 são
homenagens”. Uol – Eleições 2016, 22 set. 2016. Disponível em:
<https://eleicoes.uol.com.br/2016/noticias/2016/09/22/de-cada-10-leis-feitas-e-aprovadas-por-
vereadores-de-bh-6-sao-homenagens.htm>
28. PITOMBO, João Pedro. “Leis custam R$ 4 milhões aos Legislativos de Estados e Distrito Federal”.
Folha de S.Paulo – Poder, 25 nov. 2017. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/11/1938098-leis-custam-r-4-milhoes-no-legislativo-

outubro2018
Clube SPA

de-estados-e-distrito-federal.shtml>
29. SALES, Leo. “Um raio-x da atuação das Assembleias Legislativas – parte 2”. Leo Sales Blog, 6 nov.
2017. Disponível em: <https://leosalesblog.wordpress.com/2017/11/06/um-raio-x-da-atuacao-
das-assembleias-legislativas-parte-2/>
30. NEUMANN, Larissa. “Honrarias representam 59% dos projetos de lei aprovados na Câmara de
Vereadores de Florianópolis”. Diário Catarinense – Política, 25 ago. 2017. Disponível em:
<http://dc.clicrbs.com.br/sc/noticias/noticia/2017/08/honrarias-representam-59-dos-projetos-
de-lei-aprovados-na-camara-de-vereadores-de-florianopolis-9879218.html>
31. SABÓIA, Gabriel. “Um quarto dos projetos na Câmara do Rio é sobre nomes de ruas ou
homenagens”. Rádio CBN – Política, 5 jul. 2017. Disponível em:
<http://cbn.globoradio.globo.com/editorias/politica/2017/07/05/UM-QUARTO-DOS-PROJETOS-
NA-CAMARA-DO-RIO-E-SOBRE-NOMES-DE-RUAS-OU-HOMENAGENS.htm>
32. BRISO, Caio Barretto; BACELAR, Carina; RAMALHO, Guilherme. “Vereadores do Rio: 67% das
propostas foram irrelevantes”. O Globo, 16 out. 2016. Disponível em:
<https://oglobo.globo.com/rio/vereadores-do-rio-67-das-propostas-foram-irrelevantes-
20296894>
33. DIAS, Marcelo. “Família do prefeito Pedro Ernesto critica falta de critério de vereadores para
concessão de medalhas na Câmara Municipal do Rio”. Extra – Rio, 14 jul. 2012. Disponível em:
<https://extra.globo.com/noticias/rio/familia-do-prefeito-pedro-ernesto-critica-falta-de-criterio-
de-vereadores-para-concessao-de-medalhas-na-camara-municipal-do-rio-5478760.html>
34. “Aposentada que baleou mendigo é condecorada no Rio”. A Tarde – Brasil, 23 out. 2006. Disponível
em: <http://atarde.uol.com.br/brasil/noticias/1162248-aposentada-que-baleou-mendigo-e-
condecorada-no-rio>
35. BRISO, Caio Barretto; BACELAR, Carina; RAMALHO, Guilherme. “Vereadores do Rio: 67% das
propostas foram irrelevantes”. O Globo, 16 out. 2016. Disponível em:
<https://oglobo.globo.com/rio/vereadores-do-rio-67-das-propostas-foram-irrelevantes-
20296894>
36. Idem.
37. SCHMIDT, Selma. “Em 2017, vereadores do Rio fizeram 4.460 homenagens na Câmara Municipal”. O
Globo, 1º jan. 2018. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/rio/em-2017-vereadores-do-rio-
fizeram-4460-homenagens-na-camara-municipal-22244105>
38. PATURY, Felipe. “Os títulos da dinastia Cabral: Filho do governador coleciona medalhas”. Revista
Época, 20 jul. 2013. Disponível em: <http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/felipe-
patury/noticia/2013/07/bos-titulos-da-dinastia-cabralb-filho-do-governador-coleciona-
medalhas.html>
39. “Título de Cidadania Honorária ao deputado federal Eduardo Cunha”. Câmara Municipal de Belo
Horizonte (vídeo), 23 jan. 2015. Disponível em:
<https://www.cmbh.mg.gov.br/comunica%C3%A7%C3%A3o/v%C3%ADdeos/solenidades/t%C3%ADtulo
de-cidadania-honor%C3%A1ria-ao-deputado-federal-eduardo-cunha-%3F-autoria--vereador-
marcelo-aro-23-01-2015>
40. “Depois de homenagear Marcelo Odebrecht, político se torna alvo por suposto caixa dois”. Yahoo –
Notícias, 26 dez. 2017. Disponível em: <https://br.noticias.yahoo.com/depois-homenagear-
marcelo-odebrecht-pol%C3%ADtico-040500487.html>
41. Diário Oficial do estado da Paraíba, n. 13.479, 29 mar. 2007. Disponível em:
<http://static.paraiba.pb.gov.br/diariooficial_old/diariooficial29032007.pdf>
42. “Operação Catilinárias: casa de Edson Lobão é alvo de buscas”. Terra – Brasil, 15 dez. 2015.
Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/brasil/residencia-de-edison-lobao-tambem-e-alvo-
de-buscas-da-operacao-catilinarias,a271b3eca0e229e5e613c150fb4f804cp38yjemv.html>
43. BORGES, Priscilla.”Maranhão tem a pior infraestrutura de ensino do país” Último Segundo – Brasil.
Disponível em: <http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2014-01-17/maranhao-tem-a-pior-

outubro2018
Clube SPA

infraestrutura-de-ensino-do-pais.html>
44. LINHARES, Carolina. “Justiça de Minas mantém condenação de Azeredo no mensalão tucano”. Folha
de S.Paulo – Poder, 22 ago. 2017. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/08/1912187-revisor-empata-julgamento-de-
azeredo-no-mensalao-tucano.shtml>
45. GAMA, Aliny. “Ação contesta homenagem em obras públicas de nome de amigos e aliados de
prefeito de Maceió”. Uol Notícias – Cotidiano, 25 mar. 2012. Disponível em:
<https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2012/03/25/acao-contesta-homenagem-
em-obras-publicas-de-nome-de-amigos-vivos-e-aliados-politicos-de-prefeito-de-maceio.htm>
46. Idem.
47. SARMENTO, Wagner. “Parque Dona Lindu, legado de Niemeyer no Recife”. Jornal do Commercio –
Brasil, 6 dez. 2012. Disponível em:
<http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/mundo/brasil/noticia/2012/12/06/parque-dona-lindu-
legado-de-niemeyer-no-recife-65891.php>
48. “Família Gomes disputa poder desde 1890”. Folha de S.Paulo – Brasil, 26 ago. 2002. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2608200229.htm>
49. ALBUQUERQUE, Kelvia Frota de; GUARANYS, Marcelo Pacheco dos. “Análise de impacto regulatório
e decisões baseadas em evidências”. Jota – Tributos e Empresas, 27 abr. 2018. Disponível em:
<https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/regulacao/analise-de-impacto-regulatorio-e-
decisoes-baseadas-em-evidencias-27042018>
50. GARCIA, Felipe; SACHSIDA, Adolfo; CARVALHO, Alexandre Xavier Ywata de. “Impacto da
desoneração da folha de pagamentos sobre o emprego: novas evidências”. In: Texto para discussão.
Brasília: Ipea, jan. 2018. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/180117_td_2357.pdf>
51. CALEIRO, João Pedro. “Desoneração da folha de pagamento não gerou empregos, diz Ipea”. Revista
Exame, 29 jan. 2018. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/economia/desoneracao-da-folha-
nao-gerou-empregos-diz-ipea/>
52. CALHEIROS, Renan. “Projeto de Lei do Senado nº 487”. Senado Federal, 2013. Disponível em:
<https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/115437>
53. YEUNG, Luciana. Medindo os impactos do PL 1.572 da Câmara dos Deputados, ou do PL 487 do
Senado Federal, que propõem o Novo Código Comercial Brasileiro. São Paulo: Insper, 2014.
Disponível em: <https://www.insper.edu.br/wp-content/uploads/2016/07/Impactos-PL1572-
Camara-Deputados-PL487-Senado-Federal-Novo-Codigo-Comercial-Brasileiro.pdf>
54. MÁXIMO, Wellton. “Governo Central encerra 2017 com déficit de R$ 124,4 bilhões”. Agência Brasil –
Economia, 29 jan. 2018. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2018-
01/governo-central-encerra-2017-com-deficit-de-r-1244-bilhoes>
55. SANTANA, Camilo. “Camilo sorteia areninha no Facebook”. O Povo, 12 dez. 2017. Disponível em:
<http://blogs.opovo.com.br/politica/2017/12/12/camilo-sorteia-areninha-no-facebook/>
56. Idem.
57. ALBUQUERQUE, Manoela. “Câmara da Serra aprova projeto de lei para estender horário de bares,
no ES”. G1 – Espírito Santo, 7 ago. 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/espirito-
santo/noticia/2015/08/camara-da-serra-aprova-projeto-de-lei-para-estender-horario-de-bares-
no-es.html>

A floresta dos elefantes brancos

1. “Câmaras municipais custam caro e nem sempre funcionam bem.” G1 – Jornal Nacional, 16 set.
2016. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2016/09/camaras-
municipais-custam-caro-e-nem-sempre-funcionam-bem.html>
2. CIPRIANI, Juliana. “Assembleias legislativas vão custar R$ 10,8 bilhões em 2015”. O Estado de Minas

outubro2018
Clube SPA

– Política, 15 jun. 2015. Disponível em:


<https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2015/06/15/interna_politica,658155/assembleias-
legislativas-vao-custar-r-10-8-bilhoes-em-2015.shtml>
3. Fonte: <http://www.contasabertas.com.br/website/arquivos/13678>
4. IBGE. “Produto Interno Bruto dos municípios – 2010-2015”. Contas Nacionais, n. 58, 2017.
Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101458.pdf>
5. CIA. “The world factbook”. Central Intelligence Agency Library, s/d. Disponível em:
<https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/rankorder/2001rank.html>
6. CORRÊA, Ricardo. “Congresso possui o dobro de funcionários da Polícia Federal”. O Tempo –
Política, 13 fev. 2016. Disponível em:
<http://www.otempo.com.br/capa/pol%C3%ADtica/congresso-possui-o-dobro-de-
funcion%C3%A1rios-da-pol%C3%ADcia-federal-1.1233926>
7. CACB. “Gastos com legislativos municipais ultrapassam limite legal e deixam de ir para serviços
básicos”. CACB – Notícias, 29 ago. 2017. Disponível em: <https://cacb.org.br/gastos-com-
legislativos-municipais-ultrapassam-limite-legal-e-deixam-de-ir-para-servicos-basicos/>
8. Fonte: <http://contasabertas.com.br/site/orcamento/em-2016-custo-com-servicos-relacionados-
a-carros-oficiais-foi-de-r-16-bi>
9. PEREIRA, Elvis. “Descubra o preço que você paga pelos carros oficiais dos políticos (com tanque
cheio)”. Folha de S.Paulo – São Paulo, 11 ago. 2013. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2013/08/1324162-descubra-o-preco-que-voce-paga-
pelos-carros-oficiais-dos-politicos-com-tanque-cheio.shtml>
10. “Política sem mordomia: quem são e como vivem os políticos da Suécia - os mais frugais do
planeta”. Superinteressante – Comportamento, 7 jan. 2015. Disponível em:
<https://super.abril.com.br/comportamento/politica-sem-mordomia/>
11. VILLA, Marco Antonio. “Os privilégios do STF”. O Globo – Blog do Noblat, 12 set. 2017. Disponível
em: <http://noblat.oglobo.globo.com/geral/noticia/2017/09/os-privilegios-do-stf.html>
12. FRANCO, Bernardo Mello. “Prefeito e vereador de Londres ganham vale-transporte em vez de
carro”. Folha de S.Paulo – São Paulo, 11 ago. 2013. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2013/08/1324221-prefeito-e-vereador-de-londres-
ganham-vale-transporte-em-vez-de-carro.shtml>
13. MAZZA, Carlos. “Veículos oficiais: o peso da frota do poder público”. O Povo, 13 set. 2015. Disponível
em:
<https://www20.opovo.com.br/app/opovo/dom/2015/09/12/noticiasjornaldom,3503046/veiculos-
oficiais-o-peso-da-frota-do-poder-publico.shtml>
14. “Orçamento cidadão: Projeto de Lei Orçamentária Anual 2017”. Brasília: Ministério do
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, 2016. Disponível em:
<http://www.planejamento.gov.br/assuntos/orcamento-1/orcamento-
cidadao/orcamentocidadao2017.pdf>
15. “Orçamento cidadão: Projeto de Lei Orçamentária Anual 2018”. Brasília: Ministério do
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, 2017. Disponível em:
http://www.planejamento.gov.br/assuntos/orcamento-1/orcamento-cidadao/orcamento-
cidadao2018.pdf>
16. “Publicidade da União – Redes sociais”. Poder 360, s/d. Disponível em:
<https://www.poder360.com.br/wp-content/uploads/2017/07/Publicidade-redes-sociais.pdf>
17. NITAHARA, Akemi. “Brasil ainda tem 112 municípios sem bibliotecas públicas”. Agência Brasil –
Geral, 3 jan. 2016. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/cultura/noticia/2016-
01/brasil-ainda-tem-112-municipios-sem-bibliotecas-publicas>
18. RODRIGUES, Basília. “Governo gastou mais de R$ 1,6 bi com serviços relacionados a carros oficiais”.
CBN – Política, 29 jul. 2017. Disponível em:
<http://cbn.globoradio.globo.com/editorias/politica/2017/07/29/GOVERNO-GASTOU-MAIS-DE-

outubro2018
Clube SPA

R-16-BI-COM-SERVICOS-RELACIONADOS-A-CARROS-OFICIAIS.htm>
19. “Investimento nas rodovias é menor que o gasto com acidentes”. Agência CNT de Notícias, 13 nov.
2017. Disponível em: <http://www.cnt.org.br/Imprensa/noticia/investimento-rodovias-menor-
gastos-acidentes>
20. TEMÓTEO, Antônio. “Estatais gastam R$ 2,3 bilhões com escritórios de advocacia terceirizados.
Ministério da Transparência auditará os serviços”. Correio Braziliense – Economia, 20 set. 2016.
Disponível em: <http://blogs.correiobraziliense.com.br/vicente/estatais-gastam-r-23-bilhoes-com-
escritorios-de-advocacia-terceirizados-ministerio-da-transparencia-auditara-os-servicos/>
21. Fonte: <http://www.contasabertas.com.br/site/transparencia/seguranca-de-orgaos-publicos-
custa-cerca-de-r-34-bilhoes-por-ano>
22. ALFANO, Bruno. “Câmara dos Vereadores do Rio ainda gasta R$ 3,6 milhões com selos para cartas”.
Extra – Rio, 15 set. 2017. Disponível em: <https://extra.globo.com/noticias/rio/camara-dos-
vereadores-do-rio-ainda-gasta-36-milhoes-com-selos-para-cartas-21825060.html>
23. BIANCHI, Paula. “Rio: menos de 1% do dinheiro da Segurança vai para investimentos na área”. Uol
Notícias – Cotidiano, 19 out. 2017. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-
noticias/2017/10/19/rio-destaca-menos-de-1-do-orcamento-de-seguranca-publica-para-
investimentos.htm>
24. ARAÚJO, Ricardo. “Gastos do Gabinete Civil com flores superam investimentos na Polícia Civil”.
Tribuna do Norte, 10 ago. 2017. Disponível em:
<http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/gastos-do-gabinete-civil-com-flores-superam-
investimentos-na-pola-cia-civil/388798>
25. NASCIMENTO, Bárbara. “Governo federal gasta meio bilhão de reais para armazenar documentos
em papel”. Extra – Economia, 5 set. 2017. Disponível em:
<https://extra.globo.com/noticias/economia/governo-federal-gasta-meio-bilhao-de-reais-para-
armazenar-documentos-em-papel-21786024.html>
26. “MEC libera R$ 384,1 milhões para merenda de estados e municípios”. Portal MEC, 6 out.2017.
Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/component/content/index.php?
option=com_content&view=article&id=55381%3Amec-libera-r-384-1-milhoes-para-merenda-de-
estados-e-municipios&catid=211&Itemid=86>
27. NASCIMENTO, Barbara. “Governo gasta R$ 466 milhões por ano para armazenar documentos de 13
ministérios”. O Globo – Economia, 5 set. 2017. Disponível em:
<https://oglobo.globo.com/economia/governo-gasta-466-milhoes-por-ano-para-armazenar-
documentos-de-13-ministerios-21785836>
28. “União tem 10,3 mil imóveis sem uso”. O Povo, 30 out. 2017. Disponível em:
<https://www.opovo.com.br/jornal/economia/2017/10/uniao-tem-10-3-mil-imoveis-sem-
uso.html>
29. BRÊTAS, Pollyanna. “Cortes orçamentários atingem programa ‘Minha casa, minha vida’”. Extra –
Economia, 29 out. 2017. Disponível em: <https://extra.globo.com/noticias/economia/cortes-
orcamentarios-atingem-programa-minha-casa-minha-vida-22004802.html>
30. Fonte: <http://contasabertas.com.br/site/noticias/governo-gasta-fortuna-com-alugueis-e-tem-18-
mil-imoveis-desocupados>
31. “Câmara gasta por ano mais de R$ 4 milhões em auxílio-moradia para deputados mesmo com 84
apartamentos vazios”. G1 – Política, 4 dez. 2017. Disponível em:
<https://g1.globo.com/politica/noticia/camara-gasta-mais-de-r-4-milhoes-em-auxilio-moradia-
para-deputados-mesmo-com-84-apartamentos-vazios.ghtml>
32. SOUTO, Luiza. “Cargos de confiança custam R$ 35 bi por mês, aponta TCU”. O Globo, 27 mai. 2016.
Disponível em: <https://oglobo.globo.com/brasil/cargos-de-confianca-custam-35-bi-por-mes-
aponta-tcu-19383152>
33. AFFONSO, Julia; MACEDO, Fausto. “OAB vai ao STF contra ‘inchaço’ dos comissionados no governo
federal”. O Estado de S. Paulo – Política, 12 dez. 2017. Disponível em:

outubro2018
Clube SPA

<http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/oab-vai-ao-stf-contra-inchaco-dos-
comissionados-no-governo-federal/>
34. “Dados estatísticos”. FNDE. s/d. Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/programas/programas-
do-livro/livro-didatico/dados-estatisticos?tmpl=component&print=1>
35. MOREIRA, Ardilhes. “Governo federal está desde 2014 sem comprar livros de literatura para
escolas públicas”. G1 – Educação, 29 set. 2017. Disponível em:
<https://g1.globo.com/educacao/noticia/governo-federal-seguira-sem-entregar-novos-livros-de-
literatura-para-bibliotecas-escolares-em-2018.ghtml>
36. IDOETA, Adamo. “‘Inquilinos’ do governo: União gastou mais de R$ 1,1 bilhão em auxílio-moradia
em 2016”. BBC – News Brasil, 23 set. 2017. Disponível em:
<http://www.bbc.com/portuguese/brasil-41182482>
37. Fonte: <http://www.contasabertas.com.br/website/arquivos/12424>
38. Fonte: <http://www.contasabertas.com.br/site/orcamento/governo-gasta-com-limpeza-o-
equivalente-a-227-mil-empregados-domesticos>
39. SACCONE, Rodrigo. “Gasto do governo com cafezinho é maior que orçamento de ministério”. G1 –
Política, 7 out. 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/10/gasto-do-
governo-com-cafezinho-e-maior-que-orcamento-de-ministerio.html>
40. Disponível em: <https://impostometro.com.br/>
41. “Obras paradas: cruzamento de base de dados de contratos de repasse (CEF) e Restos a Pagar
(Siafi)”. Estudos técnicos/CNM, maio 2017. Disponível em:
<http://www.cnm.org.br/cms/biblioteca/Obras%20paradas%20cruzamento%20de%20base%20de%20da
42. “Perdas com obras inacabadas podem chegar a R$ 1 trilhão”. Senado Notícias, 14 dez. 2016.
Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/12/14/perdas-com-
obras-inacabadas-podem-chegar-a-r-1-trilhao>
43. Idem.
44. VAZ, Lucio. “Desperdício de dinheiro público: mato cresce em ferrovia que custou R$ 4,6 bilhões”.
Gazeta do Povo, 15 set. 2017. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/lucio-
vaz/2017/09/15/desperdicio-de-dinheiro-mato-cresce-em-ferrovia-que-custou-r-46-bilhoes/>
45. TAVARES, Vitor; CODOGNO, Vivian. “Grupo de Sarney pegou 1% do valor de obra da ferrovia Norte-
Sul, afirmam delatores”. O Estado de São Paulo – Política, 12 abr. 2017. Disponível em:
<http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/grupo-de-sarney-pegou-1-do-valor-de-obra-
da-ferrovia-norte-sul-afirmam-delatores/>
46. “Deficiência estrutural nas ferrovias e portos faz Brasil desperdiçar bilhões”. G1 – Fantástico, 21
abr. 2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/fantastico/quadros/brasil-quem-paga-e-
voce/noticia/2013/04/deficiencia-estrutural-nos-portos-e-ferrovias-faz-brasil-desperdicar-
bilhoes.html>
47. KOJIKOVSKI, Gian. “Obra de R$ 196 milhões em Rio Grande foi inútil na prática”. Exame, 24 mar.
2016. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/revista-exame/obra-de-r-196-milhoes-em-rio-
grande-foi-inutil-na-pratica/>
48. KLEIN, Jefferson. “Rio Grande propõe dragar canal em etapas”. Jornal do Comércio – Economia, 18
jan. 2018. Disponível em: <http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2018/01/economia/607174-rio-
grande-propoe-dragar-canal-em-etapas.html>
49. “Em capítulos, os motivos do fracasso de um investimento de R$ 300 milhões”. Gaúcha ZH – Geral,
11 jun. 2016. Disponível em: <https://gauchazh.clicrbs.com.br/geral/noticia/2016/06/em-
capitulos-os-motivos-do-fracasso-de-um-investimento-de-r-300-milhoes-5939096.html>
50. FARINA, Jocimar. “Obra do Salgado Filho que custou mais de R$ 30 milhões à Infraero terá de ser
refeita pela Fraport”. Gaúcha ZH – Economia, 22 mar. 2018. Disponível em:
<https://gauchazh.clicrbs.com.br/economia/noticia/2018/03/obra-do-salgado-filho-que-custou-
mais-de-r-30-milhoes-a-infraero-tera-de-ser-refeita-pela-fraport-
cjf2sjmfq05fv01r48ob8cr2e.html>

outubro2018
Clube SPA

51. FARINA, Jocimar. “Infraero ainda não cancelou contrato de obra que está sendo destruída no
Aeroporto Salgado Filho”. Gaúcha ZH – Economia, 30 mar. 2018. Disponível em:
<https://gauchazh.clicrbs.com.br/economia/noticia/2018/03/infraero-ainda-nao-cancelou-
contrato-de-obra-que-esta-sendo-destruida-no-aeroporto-salgado-filho-
cjfdzd785038f01phncwrfs1r.html>
52. “Inaugurada por Alckmin, obra milionária da Sabesp está inoperante”. Revista Veja São Paulo –
Cidades, 1º jun. 2017. Disponível em: <https://vejasp.abril.com.br/cidades/obra-sabesp-29-
milhoes-operacao/>
53. PEREIRA, Cledivânia. “Obra de Niemeyer abandonada vira pista de skate improvisada em Natal”
Folha de S.Paulo – Cotidiano, 11 set. 2017. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/09/1917298-obra-de-niemeyer-abandonada-
vira-pista-de-skate-improvisada-em-natal.shtml>
54. REBELLO, Ajuri. “Brasil tenta há 2 anos encerrar parceria com Ucrânia que custou R$ 483 mi e não
lançou foguete”. Notícias Uol – Política, 15 fev. 2018. Disponível em:
<https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2018/02/15/tcu-critica-projeto-brasileiro-
que-custou-r-483-mi-e-nao-lancou-foguete-fragil-e-otimista.htm>
55. “TCU avalia cancelamento de acordo Brasil – Ucrânia”. Portal TCU – Notícias, 20 jan. 2018.
Disponível em: <http://portal.tcu.gov.br/imprensa/noticias/tcu-avalia-cancelamento-de-acordo-
brasil-ucrania.htm>
56. “Saúde continua o principal problema citado por entrevistados, diz Datafolha”. Folha de S.Paulo –
Poder, 2 out. 2017. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/10/1923431-
saude-continua-o-principal-problema-ciado-por-entrevistados-diz-datafolha.shtml>
57. CAMBRICOLI, Fabiana. “País tem 1.158 novas unidades do SUS que nunca foram abertas”. O Estado
de São Paulo – Saúde, 5 maio 2017. Disponível em:
<http://saude.estadao.com.br/noticias/geral,pais-tem-1158-novas-unidades-sus-que-nunca-
foram-abertas-custo-foi-de-r-1-bi,70001764226>
58. BRAGA, Lauriberto. “Fachada de hospital inaugurado por Ivete em Sobral desaba”. O Estado de São
Paulo – Política, 17 fev. 2013. Disponível em:
<http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,fachada-de-hospital-inaugurado-por-ivete-em-
sobral-desaba,998079>
59. “Estudo alerta que 70% dos hospitais públicos não têm condições de diagnosticar AVC”.
Entretenimento R7 – Hoje em Dia, 2 ago. 2017. Disponível em: <http://entretenimento.r7.com/hoje-
em-dia/videos/estudo-alerta-que-70-dos-hospitais-publicos-nao-tem-condicoes-de-diagnosticar-
avc-02082017>
60. KAPA, Raphael. “Mais de 90% das cidades brasileiras não possuem leitos de UTI neonatal”. O Globo,
26 ago. 2016. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/sociedade/saude/mais-de-90-das-
cidades-brasileiras-nao-possuem-leitos-de-uti-neonatal-17302358>
61. “Estudo inédito do CFM revela que leitos de Unidades de Terapia Intensiva no Brasil são insuficientes e
estão mal distribuídos”. Portal CFM, 16 mai. 2016. Disponível em:
<http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=26167:2016-05-16-
12-15-52&catid=3:portal>
62. Ministério da Saúde. “Portaria n. 1.101 de 12 jun. 2002”. DO 112, 13 jun. 2002. Disponível em:
<http://sna.saude.gov.br/legisla/legisla/informes/GM_P1.101_02informes.doc>
63. VELASCO, Clara. “Perda por água desperdiçada chega a R$ 8 bilhões ao ano, aponta estudo”. G1 –
Economia, 25 mar. 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/crise-da-
agua/noticia/2015/03/perda-por-agua-desperdicada-chega-r-8-bilhoes-ao-ano-aponta-
estudo.html>
64. SCRIVANO, Roberta. “Empresas privadas de saneamento atendem 6% dos municípios brasileiros”.
O Globo, 26 abr. 2017. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/economia/negocios/empresas-
privadas-de-saneamento-atendem-6-dos-municipios-brasileiros-21258549>

outubro2018
Clube SPA

“Burocracia e entraves ao setor de saneamento”. Confederação Nacional da Indústria, s/d.


65.
Disponível em:
<http://arquivos.portaldaindustria.com.br/app/conteudo_18/2016/01/11/10388/1101-
BurocraciaeEntravessaneamento.pdf>
66. Fonte: <http://www.contasabertas.com.br/website/arquivos/13699>
67. DANTAS, Tiago. “Obras de saneamento básico estão abandonadas em todo o país”. Jornal Extra –
Brasil, 2 abr. 2017. Disponível em: <https://extra.globo.com/noticias/brasil/obras-de-saneamento-
basico-estao-abandonadas-em-todo-pais-21147924.html>
68. Idem.
69. OLIVEIRA, Gesner; SCAZUFCA, Pedro; PIRES, Rodrigo Cintra. “Ranking do saneamento”. Instituto
Trata Brasil, fev. 2017. Disponível em:
<http://www.tratabrasil.org.br/datafiles/estudos/ranking/2017/relatorio-completo.pdf>
70. SHALDERS, André. “SUS joga fora R$ 16 milhões em medicamentos de alto custo”. BBC Brasil, 28
ago. 2017. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/brasil-41007650>
71. “Rio gasta quase R$ 3 milhões para incinerar medicamentos vencidos”. O Dia – Rio de Janeiro, 2
mar. 2016. Disponível em: <https://odia.ig.com.br/_conteudo/rio-de-janeiro/2016-03-02/rio-
gasta-quase-r-3-milhoes-para-incinerar-medicamentos-vencidos.html>
72. MUNIZ, Camilla; HERINGER, Carolina; CLAVERY, Elisa; LINS, Marina; BRETAS, Pollyanna; SOARES,
Rafael. “Desperdício na Saúde: em apenas 60 medicamentos e materiais incinerados, mais de R$ 14
milhões foram perdidos”. Jornal Extra – Rio, 3 mar. 2016. Disponível em:
<https://extra.globo.com/noticias/rio/desperdicio-na-saude-em-apenas-60-medicamentos-
materiais-incinerados-mais-de-14-milhoes-foram-perdidos-18793384.html>
73. Fonte: <https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2016-02-23/empresa-que-armazenava-remedios-
vencidos-recebera-r-30-milhoes.html>
74. CANZIAN, Fernando. “70% dos municípios dependem em mais de 80% de verbas externas”. Folha
de S.Paulo, 27 ago. 2016. Disponível em: <http://temas.folha.uol.com.br/remf/ranking-de-
eficiencia-dos-municipios-folha/70-dos-municipios-dependem-em-mais-de-80-de-verbas-
externas.shtml>
75. ARAÚJO, Edson C.; PONTES, Ezau. Análise da Eficiência do Gasto Público com Saúde. Brasília: World
Bank Group, 25 maio 2017. Disponível em:
<http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2017/maio/26/1.a-Banco-Mundial-Eficiencia-
do-Gasto-com-Saude-CIT.pdf>
76. “Proeducação: transformando escolas com o poder da escolha”. Índigo, s/d. Disponível em:
<http://indigo.org.br/cardapio-proeducacao/>
77. FERNANDES, Daniela. “OCDE: Brasil está entre os que menos gastam com ensino primário, mas tem
investimento ‘europeu’ em universidade”. Folha de S Paulo – Educação, 12 set. 2017. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2017/09/1917692-ocde-brasil-esta-entre-os-que-
menos-gastam-com-ensino-primario-mas-tem-investimento-europeu-em-universidade.shtml>
78. CASTRO, Gabriel de Arruda. “Brasil gasta 16% do orçamento com educação - mais do que a
Noruega”. Gazeta do Povo, 12 set. 2017. Disponível em:
<http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/brasil-gasta-16-do-orcamento-com-educacao---
mais-do-que-a-noruega-851b9v5o4av1rrmhe1ktietpc>
79. Banco Mundial. Um ajuste justo: análise da eficiência e equidade do gasto público no Brasil. Nov.
2017.
80. Quanto custa o deslocamento casa-trabalho-casa na Região Metropolitana de São Paulo? Rio de
Janeiro: Publicações Sistema Firjan, set. 2016. Disponível em:
<http://www.firjan.com.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?
fileId=2C908A8F57BEC0A80157C466C9DA171F>
81. O custo dos deslocamentos nas principais áreas urbanas do Brasil. Rio de Janeiro: Publicações
Sistema Firjan, set. 2015. Disponível em:

outubro2018
Clube SPA

<http://www.firjan.com.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?
fileId=2C908A8F4F8A7DD3014FB26C8F3D26FE>
82. “Dados do transporte público por ônibus”. Associação Nacional das Empresas de Transportes
Urbanos, fev. 2018. Disponível em: <http://www.ntu.org.br/novo/AreasInternas.aspx?idArea=7>
83. MAGALHÃES, João Carlos. “Emancipação político-administrativa de municípios no Brasil”. In:
CARVALHO, Carlos Wagner Albuquerque; MOTA, José Aroudo; PIANCASTELLI, Marcelo (orgs.).
Dinâmica dos municípios. Brasília: Ipea, 2008. Disponível em:
<http://ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/livros/Capitulo1_30.pdf>
84. MENDES, Marcos. Criar novos municípios é prejudicial ao país? São Paulo: Instituto Braudel, 21 nov.
2013. Disponível em: <http://www.brasil-economia-governo.org.br/2013/11/21/criar-novos-
municipios-e-prejudicial-ao-pais/>
85. “IFGF 2017 – Índice FIRJAN de Gestão Fiscal”. In: Pesquisas e estudos socioeconômicos. Rio de
Janeiro: FIRJAN, ago. 2017. Disponível em:
<http://www.firjan.com.br/data/files/4A/B0/A3/B1/C4CCD51063C6AAD5A8A809C2/IFGF%202017%20-
%20An_lise%20Especial%20-%20Vers_o%20Completa.pdf>
86. “O custo dos vereadores”. O Estado de S. Paulo, 3 set. 2017. Disponível em:
<http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,o-custo-dos-vereadores,70001963689>
87. Fonte: <http://bomjesusdaserra.ba.beneficiarios.org/>
88. Índice Firjan de Gestão Fiscal 2017, ano-base 2016. Publicações Firjan, ago. 2017. Disponível em:
<http://www.firjan.com.br/data/files/4A/B0/A3/B1/C4CCD51063C6AAD5A8A809C2/IFGF%202017%20-
%20An_lise%20Especial%20-%20Vers_o%20Completa.pdf>
89. MENDES, Marcos. “Criar novos municípios é prejudicial ao país?”. Instituto Braudel, 21 nov. 2013.
Disponível em: <http://www.brasil-economia-governo.org.br/2013/11/21/criar-novos-
municipios-e-prejudicial-ao-pais/>
90. MARTINI, Rafael; GORGES, Leonardo. “Cidades pequenas de Santa Catarina dependem da União
para sobreviver”. Diário Catarinense, 6 maio 2017. Disponível em:
<http://dc.clicrbs.com.br/sc/noticias/noticia/2017/05/cidades-pequenas-de-santa-catarina-
dependem-da-uniao-para-sobreviver-9787722.html>
91. Fonte:
<http://www.planejamento.gov.br/secretarias/upload/Arquivos/dest/empresas_estatais/170707_empresa
estatais-federais-2013-datas-de-criacao-e-constituicao-2013-informacoes-
siest.pdf/@@download/file/170707_Empresas%20Estatais%20Federais%20%E2%80%93%20datas%20d
92. AZEVEDO, Philippe. “TV Brasil bate recorde negativo e passa 12 horas sem audiência”. Observatório
da Televisão, 30 set. 2017. Disponível em:
<https://observatoriodatelevisao.bol.uol.com.br/audiencia-da-tv/2017/09/tv-brasil-bate-recorde-
negativo-e-passa-12-horas-sem-audiencia>
93. FELTRIN, Ricardo. “Após gastar mais de R$ 6 bilhões, TV Brasil dá menos ibope que Rede Vida”. Uol
– TV e Famosos, 29 fev. 2016. Disponível em:
<https://tvefamosos.uol.com.br/noticias/ooops/2016/02/29/apos-gastar-mais-de-r-6-bilhoes-tv-
brasil-da-menos-ibope-que-rede-vida.htm>
94. URIBE, Gustavo. “EBC corta despesas e muda a sua grade para tentar elevar audiência”. Folha de
S.Paulo, 27 dez. 2017. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/12/1946210-
ebc-corta-despesas-e-muda-a-sua-grade-para-tentar-elevar-audiencia.shtml>
95. “Orçamento Cidadão: projeto de lei orçamentária anual 2018”. Ministério do Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão – Secretaria de Orçamento Federal. Brasília/DF, 2017. Disponível em:
<http://www.planejamento.gov.br/assuntos/orcamento-1/orcamento-cidadao/orcamento-
cidadao2018.pdf>
96. REBELLO, Aiuri. “Estatais que mais dão prejuízo dobram quadro de funcionários em 12 anos”. Uol
Notícias – Política, 4 fev. 2018. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-
noticias/2018/02/04/estatais-dependentes-do-tesouro-dobraram-funcionarios.htm>

outubro2018
Clube SPA

97. HOLLAND, Márcio. “A nova lei das estatais”. Seminário do Observatório das Estatais, FGV, Brasília,
29 maio 2017. Disponível em:
<http://fgvprojetos.fgv.br/sites/fgvprojetos.fgv.br/files/arquivos/marcio_holland.pdf>
98. “Governo inaugura no Acre primeira fábrica estatal de camisinha”. O Estado de S. Paulo, 7 abr. 2008.
Disponível em: <http://saude.estadao.com.br/noticias/geral,governo-inaugura-no-acre-primeira-
fabrica-estatal-de-camisinha,152618>
99. PONTES, Fabio. “Governo do Acre vai privatizar gestão de estatal pioneira de preservativos”. Folha
de S. Paulo, 24 jul. 2016. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/07/1794756-governo-do-acre-vai-privatizar-
gestao-de-estatal-pioneira-de-preservativos.shtml>
100. “‘Bloomberg’: O fim da cultura de benefícios no serviço público do Brasil”. Jornal do Brasil, 26 set.
2017. Disponível em: <http://www.jb.com.br/pais/noticias/2017/09/26/bloomberg-o-fim-da-
cultura-de-beneficios-no-servico-publico-do-brasil/>
101. “Número de habitantes por médico”. Pordata. Disponível em:
<https://www.pordata.pt/Europa/N%C3%BAmero+de+habitantes+por+m%C3%A9dico-1705>
102. MORENO, Ana Carolina. “Nº de habitantes por médico no Norte é quase 3 vezes o do Sudeste; veja o
raio-x da carreira”. G1 – Educação, 20 jul. 2017. Disponível em:
<https://g1.globo.com/educacao/guia-de-carreiras/noticia/n-de-habitantes-por-medico-no-norte-
e-quase-3-vezes-o-do-sudeste-veja-o-raio-x-da-carreira.ghtml>
103. FRIAS, Maria Cristina. “Gasto público com remédio cresce em ritmo menor em 2017”. Folha de
S.Paulo, 20 jan. 2017. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/colunas/mercadoaberto/2017/01/1851422-gasto-publico-com-
remedio-cresce-em-ritmo-menor-em-2017.shtml>
104. PRADO, Maeli. “Plano de saúde de estatal federal custa o triplo do privado”. Folha de S.Paulo, 19 dez.
2017. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/12/1944411-plano-de-
saude-de-estatal-federal-custa-o-triplo-do-privado.shtml>
105. ELIAS, Antonio. “Correios: plano de saúde é responsável pelo rombo da estatal”. Correio Braziliense,
18 maio 2017. Disponível em:
<http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2017/05/18/internas_economia,595768/c
plano-de-saude-e-responsavel-pelo-rombo-da-estatal.shtml>
106. ARAÚJO, Carla. “No 5º ano de prejuízo, Correios projetam rombo de R$ 1,3 bi em 2017”. O Estado de
S. Paulo, 15 jun. 2017. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,no-5-ano-
de-prejuizo-correios-projetam-rombo-de-r-1-3-bi-em-2017,70001842017>
107. MARTELLO, Alexandro. “Estatais geraram mais custos do que retorno financeiro para a União nos
últimos 5 anos, diz Tesouro Nacional”. G1 – Economia, 18 dez. 2017. Disponível em:
<https://g1.globo.com/economia/noticia/estatais-geraram-mais-custos-do-que-retorno-para-a-
uniao-nos-ultimos-5-anos-diz-tesouro-nacional.ghtml>
108. MARTINS, Fernando. “Você tira R$ 92 do bolso por ano para financiar as estatais. Saiba por quê”.
Gazeta do Povo, 13 ago. 2017. Disponível em:
<http://www.gazetadopovo.com.br/politica/republica/voce-tira-r-92-do-bolso-por-ano-para-
financiar-as-estatais-saiba-por-que-1gcvm2toomk7d9rxjk8k0kjsj>
109. VETTORAZZO, Lucas. “Petrobras quer reduzir time de comunicação, hoje com 1.146 pessoas”. Folha
de S.Paulo, 17 maio 2015. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/05/1629984-petrobras-quer-reduzir-time-de-
comunicacao-hoje-com-1146-pessoas.shtml>
110. PEREIRA, Renée. “Ineficiência faz Eletrobrás desperdiçar R$ 85 bi em 15 anos”. O Estado de S. Paulo,
26 ago. 2017. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,ineficiencia-faz-
eletrobras-desperdicar-r-85-bi-em-15-anos,70001950880>
111. WARTH, Anne. “Distribuidoras da Eletrobrás pagam o triplo do salário da iniciativa privada”. O
Estado de S. Paulo, 21 abr. 2018. Disponível em:

outubro2018
Clube SPA

<http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,distribuidoras-da-eletrobras-pagam-o-triplo-do-
salario-da-iniciativa-privada,70002278300>
112. NUNES, Fernanda. “Presidente da Eletrobrás diz que grupo tem 40% de chefes ‘vagabundos’; ouça”.
O Estado de S. Paulo, 22 jun. 2017. Disponível em:
<http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,presidente-da-eletrobras-chama-funcionarios-de-
vagabundos-ouca,70001856722>
113. PRAÇA, Sérgio. “Os surdos precisam de órgão estatal? (ou: Minha redação do Enem”. Veja, 6 nov.
2017. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/blog/sergio-praca/os-surdos-precisam-de-orgao-
estatal-ou-minha-redacao-do-enem/>
114. “Correios têm um chefe para cada dois servidores e 9 mil estão em licença-médica”. O Globo, 14 jun.
2011. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/economia/correios-tem-um-chefe-para-cada-
dois-servidores-9-mil-estao-em-licenca-medica-2769829>
115. PARREIRA, Marcelo. “Triplica prejuízo dos Correios com pagamento de indenizações, aponta
relatório da CGU”. G1 – Economia, 15 dez. 2017. Disponível em:
<https://g1.globo.com/economia/noticia/triplica-prejuizo-dos-correios-com-pagamento-de-
indenizacoes-aponta-relatorio-da-cgu.ghtml>
116. LIMA, Flavia. “Governo dá nota 4 para gestão de empresas estatais”. Folha de S.Paulo, 10 nov. 2017.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/11/1934442-governo-da-nota-4-
para-gestao-de-empresas-estatais.shtml>

O Reino dos Camarotes

1. REZENDE, Joffre M. de. Linguagem médica, 3. ed. Goiânia: AB Editora e Distribuidora de Livros Ltda.,
2004.
2. GONÇALVES, Rodrigo Gurgel; MINUZZI-SOUZA, Thais Tâmara Castro e; COSTA-NETO, Eraldo
Medeiros; CUBA, César Augusto. “O que é um parasito? Uma análise etimológica e semântica do
termo parasito em diferentes idiomas”. Acta Scientiarum. Human and Social Sciences, v. 29, n. 2,
2007. Disponível em:
<http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHumanSocSci/article/view/824>
3. BOMFIM, Manoel. A América Latina: males de origem. Rio de Janeiro: Topbooks, 2005.
4. “Biblioteca”. Portal do Planalto, 10 ago. 2011. Disponível em:
<http://www2.planalto.gov.br/presidencia/palacios-e-residencias-oficiais/palacio-da-
alvorada/galeria-de-imagens/palacio-da-alvorada-3.jpg/view>
5. “Palácio da Alvorada”. Portal do Planalto. Disponível em:
<http://www2.planalto.gov.br/presidencia/palacios-e-residencias-oficiais/palacio-da-
alvorada/palacio-do-alvorada>
6. FERNANDES, Leticia. “Manutenção do Alvorada vazio consome quase R$ 6 milhões em 14 meses”, O
Globo, 8 jan. 2018. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/brasil/manutencao-do-alvorada-
vazio-consomequase-6-milhoes-em-14-meses-22264429>
7. MENEZES, Leilane. “Sem uso, residência da Granja do Torto custa mais de R$ 840 mil ao ano”,
Metrópoles, 19 nov. 2017. Disponível em: <https://www.metropoles.com/brasil/politica-br/sem-
uso-residencia-da-granja-do-torto-custa-mais-de-r-840-mil-ao-ano>
8. “Planalto emprega 11 vezes mais que a Casa Branca”, Band, 21 jul. 2017. Disponível em:
<http://noticias.band.uol.com.br/noticias/100000867836/planalto-emprega-11-vezes-mais-que-
a-casa-branca.html>
9. “Salário dos deputados: informações e legislação sobre subsídios de Deputados”. Portal da Câmara
dos Deputados, atualizado em 25 mar. 2015. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/transparencia/acesso-a-informacao/copy_of_perguntas-
frequentes/subsidios>
10. “Salário mínimo sobe para R$ 954 a partir de 1º de janeiro”. Portal do Planalto, 29 dez. 2017.

outubro2018
Clube SPA

Disponível em: <http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-planalto/noticias/2017/12/salario-


minimo-sobe-para-r-954-a-partir-de-1-de-janeiro>
11. “Cota parlamentar”. Portal da Câmara dos Deputados – Assessoria de Imprensa. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/comunicacao/assessoria-de-imprensa/cota-parlamentar>
12. BIG, Lúcio. “Congresso gasta com cotão em 2016 o equivalente a sete anos de salário do conjunto
dos senadores”. Congresso em Foco, 12 mar. 2017. Disponível em:
<http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/congresso-gasta-com-cotao-o-equivalente-a-sete-
anos-de-salario-dos-senadores-em-2016/>
13. MATSUI, Naomi. “Deputados gastaram pelo menos R$ 208 milhões em cotas parlamentares em
2017”. Poder 360, 3 jan. 2018. Disponível em:
<https://www.poder360.com.br/congresso/deputados-gastaram-pelo-menos-r-208-milhoes-em-
cotas-parlamentares-em-2017/>
14. CAESAR, Gabriela. “Viagens de jatinho, flat de luxo, refeição de R$ 1.000… Gastos de senadores com
cota parlamentar chegam a R$ 26,6 milhões em 2017”. G1 – Política, 21 abr. 2018. Disponível em:
<https://g1.globo.com/politica/noticia/viagens-de-jatinho-flat-de-luxo-refeicao-de-r-1000-gastos-
de-senadores-com-cota-parlamentar-chegam-a-r-266-milhoes-em-2017.ghtml>
15. SILVA, Marcos Sergio. “Câmara gasta R$ 47 mi em 1 ano com passagens aéreas; Paulinho da Força é
o campeão”. Uol Notícias – Política, 4 abr. 2017. Disponível em:
<https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/04/04/camara-gasta-r-47-milhoes-
com-passagens-aereas-paulinho-da-forca-e-o-campeao.htm>
16. SILVA, Marcos Sergio. “Câmara gasta R$ 1,5 milhão com comida para deputados; Zeca Dirceu e
Freire são campeões”. Uol Notícias – Política, 23 mar. 2017. Disponível em:
<https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/03/23/camara-gasta-r-15-milhao-
com-comida-para-deputados-zeca-dirceu-e-freire-sao-campeoes.htm>
17. VAZ, Lúcio. “Tudo do bom e do melhor: deputados gastam R$ 1,3 milhão com restaurantes”. Gazeta
do Povo, 22 fev. 2018. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/lucio-
vaz/2018/02/22/tudo-bom-e-melhor-deputados-gastam-r-13-milhao-com-restaurantes-em-
2017/>
18. Fonte: <https://www.tripadvisor.com.br/Restaurants-g303506-c37-
Rio_de_Janeiro_State_of_Rio_de_Janeiro.html>
19. SPIGARIOL, André. “Vale-combustível, vale-churrasco, vale tudo: deputados estão torrando o seu
dinheiro nos finais de semana”. Spotniks, 2 jan. 2018. Disponível em: <https://spotniks.com/vale-
combustivel-vale-churrasco-vale-tudo-deputados-estao-torrando-o-seu-dinheiro-nos-finais-de-
semana/>
20. Fonte: <http://www.derealpararealidade.com.br/>. Acessado em nov. 2017.
21. LIMA, Daniela. “Mesmo no recesso, deputados gastam R$ 10 mi com verba da Câmara que custeia
propaganda e viagens”. Folha de S.Paulo – Painel, 28 fev. 2017. Disponível em:
<http://painel.blogfolha.uol.com.br/2017/02/28/em-mes-de-recesso-deputados-gastam-r-103-
milhoes-com-propaganda-e-viagens/>
22. BIG, Lúcio. “Congresso gasta com cotão em 2016 o equivalente a sete anos de salário do conjunto
dos senadores”. Congresso em Foco, 12 mar. 2017. Disponível em:
<http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/congresso-gasta-com-cotao-o-equivalente-a-sete-
anos-de-salario-dos-senadores-em-2016/>
23. PAIXÃO, André. “Peugeot 208 2017: primeiras impressões”. G1, 27 abr. 2016. Disponível em:
<http://g1.globo.com/carros/noticia/2016/04/peugeot-208-2017-primeiras-impressoes.html>
24. Fonte: <http://www.derealpararealidade.com.br/>. Acessado em nov. 2017.
25. “PL 5.587/2016”. Portal da Câmara dos Deputados. Disponível em:
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2088280
26. “Os SUVs 0km que você pode comprar com até R$ 100 mil”. iCarros, 20 mar. 2017. Disponível em:
<http://www.icarros.com.br/noticias/geral/os-suvs-0km-que-voce-pode-comprar-com-ate-

outubro2018
Clube SPA

r$-100-mil/22159.html>
27. VAZ, Lucio. “Senadores torram R$ 3 milhões com correio. É muito desperdício de dinheiro público”.
Gazeta do Povo, 9 fev. 2018. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/lucio-
vaz/2018/02/09/senadores-torram-r-3-milhoes-correio-muito-desperdicio-dinheiro-publico/>
“Pesquisa de despesas”. Portal da Câmara dos Deputados. Disponível em:
<http://www.camara.gov.br/cota-parlamentar/index.jsp>
28. “Como a Câmara contribui indiretamente com as campanhas dos deputados? Apenas uma
especulação utilizando grafos”. Um novato em ciência de dados, 12 ago. 2017. Disponível em:
<https://leosalesblog.wordpress.com/2017/08/12/como-a-camara-contribui-indiretamente-com-
as-campanhas-dos-deputados-apenas-uma-especulacao-utilizando-grafos/>
29. PINTO, Ana Estela de Sousa. “20% dos deputados federais receberam doação de empresa à qual
fizeram pagamento”. Folha de S. Paulo – Poder, 21 ago. 2017. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/08/1911383-20-dos-deputados-federais-receberam-
doacao-de-empresa-a-qual-fez-pagamento.shtml>
30. BIG, Lúcio. “Deputado pede ressarcimento até pela compra de dois pães de queijo”. Congresso em
Foco, 1º. mar. 2017. Disponível em: <http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/deputado-pede-
ressarcimento-pela-compra-paozinho-de-queijo/>
31. Fonte: <http://contasabertas.com.br/site/english/deputados-gastam-quase-r-4-milhoes-com-
servicos-postais-em-um-ano>
32. VAZ, Lúcio. “Senadores torram R$ 3 milhões com correio. É muito desperdício de dinheiro público”.
Gazeta do Povo, 9 fev. 2018. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/blogs/lucio-
vaz/2018/02/09/senadores-torram-r-3-milhoes-correio-muito-desperdicio-dinheiro-publico/>
33. MARTINS, Guilherme. “Deputados usam cota parlamentar para comprar reportagens”. The Intercept
Brasil, 16 jan. 2018. Disponível em: <https://theintercept.com/2018/01/16/deputados-usam-cota-
parlamentar-para-comprar-reportagens/>
34. VAZ, Lúcio. “Deputados torram R$ 56 milhões com propaganda. Conheça os mais gastadores”.
Gazeta do Povo, 26 fev. 2018. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/lucio-
vaz/2018/02/26/deputados-torram-r-56-milhoes-com-propaganda-veja-quem-sao-os-mais-
gastadores/>
35. SILVA, Marcos Sergio. “Deputado do PMDB compra 75 passagens aéreas em um dia com dinheiro da
Câmara”. Uol Notícias – Política. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-
noticias/2017/03/30/deputado-do-pmdb-compra-75-passagens-aereas-em-um-dia-com-dinheiro-
da-camara.htm>
36. MASCARENHAS, Gabriel. “Integrante da Mesa Diretora, deputado gasta R$ 285 mil em voos”. Veja –
Política, 28 nov. 2017. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/blog/radar/integrante-da-mesa-
diretora-deputado-gasta-r-285-mil-em-voos/>
37. LINDNER, Julia. “Verba gasta por senadores com jatinhos cresce 40%”. O Estado de S. Paulo, 27 nov.
2017. Disponível em: <http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,verba-gasta-por-senadores-
com-jatinhos-cresce-40,70002098239>
38. MILITÃO, Eduardo. “Os políticos dos quais o Ministério Público pretende cobrar R$ 50 milhões pela
farra das passagens”. Congresso em Foco, 30 ago. 2017. Disponível em:
<http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/os-politicos-dos-quais-o-ministerio-publico-
pretende-cobrar-r-50-milhoes-pela-farra-das-passagens/>
39. “MPF denuncia 72 ex-deputados à Justiça pela ‘farra das passagens’.” Congresso em Foco, 8 ago.
2017. Disponível em: <http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/mpf-denuncia-72-ex-
deputados-a-justica-pela-farra-das-passagens/>
40. SARDINHA, Edson. “Antes de voar em avião de Joesley, Temer e Marcela fizeram turismo na Bahia
com verba pública”. Congresso em Foco, 8 jun. 2017. Disponível em:
<http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/antes-de-voar-em-aviao-de-joesley-temere-marcela-
fizeram-turismo-na-bahia-com-verba-publica/>

outubro2018
Clube SPA

41. PEREIRA, Joelma. “Tiririca usa verba pública da Câmara para viajar e fazer show em Ipatinga”
Congresso em Foco, 28 nov. 2017. Disponível em:
<http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/tiririca-usa-verba-publica-da-camara-para-viajar-e-
fazer-show-em-ipatinga/>
42. RODRIGUES, Basília. “Governo gastou mais de R$ 1,6 bi com serviços relacionados a carros oficiais”.
CBN, 29 jul. 2017. Disponível em:
<http://cbn.globoradio.globo.com/editorias/politica/2017/07/29/GOVERNO-GASTOU-MAIS-DE-
R-16-BI-COM-SERVICOS-RELACIONADOS-A-CARROS-OFICIAIS.htm>
43. RODRIGUES, Douglas. “Deputados gastaram R$ 12 milhões com viagens oficiais desde 2015”. Poder
360, 24 fev. 2018. Disponível em: <https://www.poder360.com.br/congresso/desde-2015-
deputados-gastaram-r-12-milhoes-com-viagens-oficiais/>
44. BIG, Lúcio. “Cinco deputados pagam aluguel pelos mesmos carros”. Congresso em Foco, 27 mar.
2016. Disponível em: <http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/empresa-inativa-operava-na-
camara-alugando-veiculos-a-deputados/>
45. BIG, Lúcio. “Deputado abastece carro no posto do tio. Câmara paga”. Congresso em Foco, 12 dez.
2016. Disponível em: <http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/deputado-abastece-carro-no-
posto-do-tio-camara-paga/>
46. BIG, Lúcio. “Deputado usa cota para abastecer em posto do irmão”. Congresso em Foco, 19 nov.
2015. Disponível em: <http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/deputado-usa-cota-para-
abastecer-em-posto-do-irmao/>
47. BILENKY, Thais. “Deputados usam verba da Câmara para abastecer em posto de colega”. Folha de
S.Paulo, 16 fev. 2018. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/02/deputados-
usam-verba-da-camara-para-abastecer-em-posto-de-colega.shtml>
48. BERTA, Ruben. “Com nova ordem, Galinha abrirá votação do impeachment na Câmara”. O Globo, 14
abr. 2016. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/brasil/com-nova-ordem-galinha-abrira-
votacao-do-impeachment-na-camara-19086050>
49. “O bom negócio da verba indenizatória”. Congresso em Foco, 23 dez. 2015. Disponível em:
<http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/o-bom-negocio-da-verba-indenizatoria/>
50. BIG, Lúcio. “Deputados usaram dinheiro público para apoiar aliados nas eleições municipais”.
Congresso em Foco, 19 jun. 2017. Disponível em:
<http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/deputados-driblam-regra-ao-bancar-campanha-
eleitoral-de-2016-e-alugar-avioes-com-verba-publica/>
51. “País tem mais de 130 tomógrafos quebrados em hospitais públicos”. G1 – Bom Dia Brasil, 23 fev.
2017. Disponível em: <http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2017/02/pais-tem-mais-de-
130-tomografos-quebrados-em-hospitais-publicos.html>
52. RODRIGUES, Larissa. “Fatura do Congresso com plano de saúde ultrapassa R$ 36 milhões ao mês”.
Metrópoles – Política, 25 mar. 2018. Disponível em: <https://www.metropoles.com/brasil/politica-
br/fatura-do-congresso-com-plano-de-saude-ultrapassa-r-36-milhoes-ao-mes>
53. VAZ, Lúcio. “Médico no exterior e ambulância aérea: conheça o generoso plano de saúde vitalício do
Senado”. Gazeta do Povo, 27 mar. 2018. Disponível em:
<http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/lucio-vaz/2018/03/27/medico-no-exterior-e-
ambulancia-aerea-conheca-o-generoso-plano-de-saude-vitalicio-senado/>
54. Fonte: <http://www.contasabertas.com.br/website/arquivos/13882>
55. “Aposentadoria de deputados”. Portal da Câmara dos Deputados – Assessoria de Imprensa.
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/comunicacao/assessoria-de-
imprensa/aposentadoria-de-deputados>
56. GONÇALVES, André. “Reforma da Previdência: oito regalias que deputados e senadores têm para se
aposentar (e você não)”. Gazeta do Povo, 24 abr. 2017. Disponível em:
<http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/lucio-vaz/2017/04/24/reforma-da-previdencia-oito-
regalias-que-deputados-e-senadores-tem-para-se-aposentar-e-voce-nao/>

outubro2018
Clube SPA

57. “Aposentadoria parlamentar é 7,5 vezes maior que a do INSS”. Veja – Economia, 4 out. 2016.
Disponível em: <https://veja.abril.com.br/economia/aposentadoria-media-de-parlamentar-e-7-5-
vezes-superior-a-media-do-inss/>
58. VAZ, Lucio. “Com aposentadorias de até R$ 33 mil, previdência do Congresso tem rombo de R$ 2,4
bi por ano”. Congresso em Foco, 24 fev. 2017. Disponível em:
<http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/previdencia-dos-servidores-do-congresso-tem-
deficit-anual-de-r-24-bilhoes/>
59. Máxima atribuída a Oscar Wilde (embora não existam evidências substanciais de que ele tenha dito
essa frase).
60. “A cidade livre: construção de Brasília”. Memorial da Democracia. Disponível em:
<http://memorialdademocracia.com.br/card/construcao-de-brasilia/6>
61. NIEMEYER, Oscar. Minha experiência em Brasília. 4. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2006, p. 14.
62. QUEIROZ, Helio. 1001 coisas que aconteceram em Brasília e você não sabia. São Paulo: Senac, 2014.
63. DIEGUEZ, Consuelo. “Poder e sexo em Brasília”. Folha de S.Paulo – Piauí, 23 fev. 2016. Disponível
em: <http://piaui.folha.uol.com.br/poder-e-sexo-em-brasilia/>
64. FROTA, Marcel; LIMA, Wilson. “Marcha dos Prefeitos alimenta mercado do sexo em Brasília”. Último
Segundo, 15 maio 2014. Disponível em: <http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2014-05-
15/marcha-dos-prefeitos-alimenta-mercado-do-sexo-em-brasilia.html>
65. ALMEIDA, Kelly; BITTAR, Bernardo. “Mercado de prostituição de luxo em Brasília não fica restrito
somente à ficção”. EM, 2 fev. 2015. Disponível em:
<https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2015/02/02/interna_nacional,613968/mercado-
de-prostituicao-de-luxo-em-brasilia-nao-fica-restrito-somente-a-ficcao.shtml>
66. FERREIRA, Flávio. “Dinheiro desviado da Petrobras também pagou prostitutas de luxo”. Folha de
S.Paulo – Poder, 13 jul. 2015. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/07/1654856-dinheiro-desviado-da-petrobras-
tambem-pagou-prostitutas-de-luxo.shtml>
67. “Vereadores são investigados por gastar combustível suficiente para dar volta ao mundo”. G1, 15
maio 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/to/tocantins/noticia/vereadores-sao-
investigados-por-gastar-combustivel-suficiente-para-dar-volta-ao-mundo.ghtml>
68. Câmara dos Deputados. “Cota para o exercício da atividade parlamentar – Ceap. Limites mensais
por deputado”. Anexo ao Ato da Mesa n. 76, de 3 fev. 2016, publicado no DCD, Supl. em 4 fev. 2016.
Disponível em: <http://www.camara.gov.br/cota-
parlamentar/ANEXO_ATO_DA_MESA_43_2009.pdf>
69. Fonte: <http://www.derealpararealidade.com.br/>. Acessado em nov. 2017.
70. SAKAI, Juliana; BERTI, Bianca. “Estados e municípios mais pobres gastam mais em verbas e auxílios
parlamentares”. Transparência Brasil. Disponível em:
<https://www.transparencia.org.br/downloads/publicacoes/Estados%20e%20municipios%20mais%20po
71. Fonte: <http://www.al.rn.gov.br/portal/verbas>
72. BARBOSA, Bernardo; MARANHÃO, Fabiana; AMORIM, Felipe; BEZERRA, Mirthyani; BIANCHI, Paula;
RAMALHOSO, Wellington. “Vereadores de 21 capitais ganham ao menos 5 vezes o salário médio do
trabalhador”. Uol Notícias – Política, 28 dez. 2016. Disponível em:
<https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2016/12/28/vereadores-de-21-capitais-
ganham-ao-menos-5-vezes-o-salario-medio-do-trabalhador.htm>
73. SAKAI, Juliana; BERTI, Bianca. “Estados e municípios mais pobres gastam mais em verbas e auxílios
parlamentares”. Transparência Brasil. Disponível em:
<https://www.transparencia.org.br/downloads/publicacoes/Estados%20e%20municipios%20mais%20po
74. PITOMBO, João Pedro. “Leis custam R$ 4 milhões aos Legislativos de Estados e Distrito Federal”.
Folha de S.Paulo – Poder, 25 nov. 2017. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/11/1938098-leis-custam-r-4-milhoes-no-legislativo-
de-estados-e-distrito-federal.shtml>

outubro2018
Clube SPA

75. REDDY, Karthik; SCHULARICK, Moritz; SKRETA, Vasiliki. “Immunity”. CESifo Working Paper Series,
4.445, CESifo Group, Munique, 2013. Disponível em:
<https://ideas.repec.org/p/ces/ceswps/_4445.html>
76. PRADO, Maeli. “União paga R$ 42,3 bilhões em gratificações”. Folha de S.Paulo – Economia, 10 mar.
2018. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/03/uniao-paga-r-423-
bilhoes-em-gratificacoes.shtml>
77. CAESAR, Gabriela. “Senado paga mais de R$ 20 mil líquidos para 25% de seus funcionários”. Poder
360, 13 dez. 2016. Disponível em: <https://www.poder360.com.br/congresso/senado-paga-mais-
de-r-20-mil-liquidos-para-25-de-seus-servidores/>
78. Fonte: <http://contasabertas.com.br/site/orcamento/senado-gasta-r-13-milhao-por-ano-com-
operacao-de-elevadores>
79. Câmara Municipal de Sorocaba. “Demonstrativo de pagamentos: relatório 221015”, 1o dez. 2016.
Disponível em: <http://www.camarasorocaba.sp.gov.br:8383/contas-publicas-
0.1/arquivo/getConteudo/811>
80. “Relação de servidores efetivos”. Câmara Municipal de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo.
Disponível em: <http://emc.acidadeon.com/dbArquivos/ACidadeONRibeirao/ba41b7b4-b4f8-
412c-a208-69b38fb745a5.pdf>
81. Atlas Cidadão. “Câmara Municipal de São Paulo tem 137 servidores ganhando acima do teto”.
Medium, 2 nov. 2017. Disponível em: <https://medium.com/@AtlasCidadao/c%C3%A2mara-
municipal-de-s%C3%A3o-paulo-tem-137-servidores-ganhando-acima-do-teto-a907cb720bed>
82. Valores referentes a setembro de 2017; remuneração líquida. Disponível em:
<http://www.camara.sp.gov.br/transparencia/salarios-abertos/remuneracao-dos-servidores-e-
comissionados/>
83. ZYLBERKAN, Mariana; FARIAS, Adriana. “Funcionários da Câmara recebem três vezes mais que
prefeito”. Veja São Paulo – Cidades, 3 fev. 2017. Disponível em:
<https://vejasp.abril.com.br/cidades/capa-camara-super-salario/>
84. ROS, Luciano Da. “O custo da Justiça no Brasil: uma análise comparativa exploratória”. The
Observatory of Social and Political Elites of Brazil, v. 2, n. 9, jul. 2015. Disponível em:
<http://observatory-elites.org/wp-content/uploads/2012/06/newsletter-Observatorio-v.-2-
n.-9.pdf>
85. Justiça em números 2017, ano-base 2016. Conselho Nacional de Justiça. Disponível em:
<http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2017/12/b60a659e5d5cb79337945c1dd137496c.pdf
86. Fonte: <http://www.contasabertas.com.br/website/arquivos/12421>
87. COUTO, Marlen. “Com extras, 71% dos juízes do país recebem acima do teto de R$ 33 mil”. O Globo,
17 dez. 2017. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/brasil/com-extras-71-dos-juizes-do-pais-
recebem-acima-do-teto-de-33-mil-22201981>
88. ALMEIDA, Rodolfo; ZANLORENSSI, Gabriel. “Quanto ganham desembargadores e juízes no Brasil”.
Nexo, 21 dez. 2017. Disponível em:
<https://www.nexojornal.com.br/grafico/2017/12/21/Quanto-ganham-desembargadores-e-
ju%C3%ADzes-no-Brasil>
89. “Juízes são uma casta no Brasil e na Argentina, mas servidores comuns na França”. El País – Brasil, 3
fev. 2018. Disponível em:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/01/politica/1517513564_490091.html>
90. “Brasil tem mais cursos de Direito do que todos os outros países do mundo juntos”. Guia do
Estudante – Universidades, 16 maio 2017. Disponível em:
<https://guiadoestudante.abril.com.br/universidades/brasil-tem-mais-cursos-de-direito-do-que-
todos-os-outros-paises-do-mundo-juntos/>
91. BRANCO, José Denilson. “O país dos paradoxos: tem os juízes mais produtivos do mundo, mas um
Judiciário dos mais morosos e assoberbados”. O Estado de S. Paulo, 9 set. 2014. Disponível em:
<http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/o-pais-dos-paradoxos-tem-os-juizes-mais-

outubro2018
Clube SPA

produtivos-do-mundo-mas-um-judiciario-dos-mais-morosos-e-assoberbados/>
92. MACEDO, Isabella. “Faltas dos deputados federais aumentaram 52% em 2017; confira a assiduidade
de cada um deles”. Congresso em Foco, 12 jan. 2018. Disponível em:
<http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/faltas-dos-deputados-federais-aumentaram-52-em-
2017-confira-a-assiduidade-de-cada-um-deles/>
93. Câmara dos Deputados. Ato da mesa n. 66, de 2010. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/int/atomes/2010/atodamesa-66-14-julho-2010-607368-
normaatualizada-cd-mesa.doc>
94. PEREIRA, João. “Deputado estoura limite de faltas na Câmara e corre risco de cassação”. Congresso
em Foco, 10 jan. 2017. Disponível em: <http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/deputado-
estoura-limite-de-faltas-na-camara-e-corre-risco-de-cassacao/>
95. RINCON, Michelle. “Com direito a 5 meses de férias, vereadores de cidade do RN trabalharão apenas
29 dias no ano”. G1, 27 abr. 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-
norte/noticia/com-direito-a-5-meses-de-ferias-vereadores-de-cidade-do-rn-trabalharao-apenas-
29-dias-no-ano.ghtml>
96. ZANLORENSSI, Gabriel; FERREIRA, Lucas. “O seu salário diante da realidade brasileira”. Nexo, 11
jan. 2018. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/interativo/2016/01/11/O-seu-
sal%C3%A1rio-diante-da-realidade-brasileira>
97. “Vereadores de Baía da Traição, na PB, trabalham em média 24 dias por ano”. G1, 18 jul. 2017.
Disponível em: <https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/vereadores-de-baia-da-traicao-na-pb-
trabalham-em-media-apenas-24-dias-por-ano.ghtml>
98. “Vereadores trabalham em média 14 dias por ano e têm 5 meses de férias, em Vista Serrana, PB”.
G1, 28 set. 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/vereadores-
trabalham-em-media-14-dias-por-ano-e-tem-5-meses-de-ferias-em-vista-serrana-pb.ghtml>
99. “Em Goiás, câmaras municipais têm média de 5 sessões por mês”. O Popular, 22 jul. 2017.
Disponível em: <https://www.opopular.com.br/editorias/politica/em-goi%C3%A1s-
c%C3%A2maras-municipais-t%C3%AAm-m%C3%A9dia-de-5-sess%C3%B5es-por-m%C3%AAs-
1.1314027>
100. BRISO, Caio Barretto; BACELAR, Carina; RAMALHO, Guilherme. “Vereadores do Rio: 67% das
propostas foram irrelevantes”. O Globo, 16 out. 2016. Disponível em:
<https://oglobo.globo.com/rio/vereadores-do-rio-67-das-propostas-foram-irrelevantes-
20296894>
101. “Lorde renuncia ‘por vergonha’ após chegar dois minutos atrasado ao Parlamento britânico”. El País
– Internacional, 1º fev. 2018. Disponível em:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/01/internacional/1517490699_450330.html>

Quem quer rir tem que fazer rir

1. “É Ladrão Que Não Acaba Mais”, composta por Otacílio da Mangueira e Ari do Cavaco.
2. Brasil: 500 anos de povoamento. IBGE, Centro de Documentação e Disseminação de Informações.
Rio de Janeiro: IBGE, 2007.
3. BOXER, Charles R. O império marítimo português (1415-1825). São Paulo: Companhia das Letras,
2002.
4. BUENO, Eduardo. A coroa, a cruz e a espada: lei, ordem e corrupção no Brasil Colônia. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2006.
5. Fonte: <https://www.institutodoceara.org.br/revista/Rev-apresentacao/RevPorAno/1919/1919-
AntonioCardosodeBarros.pdf>
6. MOREL, Marco. Corrupção, mostra a tua cara. Rio de Janeiro: LeYa, 2012.
7. MOREL, Marco. “Os mitos de origem”. Observatório da Imprensa, ed. 867, 8 set. 2015. Disponível em:
<http://observatoriodaimprensa.com.br/marcha-do-tempo/os-mitos-de-origem/>

outubro2018
Clube SPA

8. RICUPERO, Rodrigo. A formação da elite colonial através da conquista territorial (1530-1630). São
Paulo: Alameda, 2009.
9. ROMEIRO, Adriana. Corrupção e poder no Brasil: uma história, séculos XVI a XVIII. São Paulo:
Autêntica, 2017.
10. Annaes da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro, vol. XXVII, 1905. Rio de Janeiro: Officina
Typographica da Biblioteca Nacional, 1906. Disponível em:
<http://objdigital.bn.br/acervo_digital/anais/anais_027_1905.pdf>
11. RICUPERO, Rodrigo. A formação da elite colonial: Brasil, c.1530-c.1630. São Paulo: Alameda, 2009.
12. BONCIANI, Rodrigo. “A disputa por gentios e escravos no Atlântico Sul (1600-1615)”. In: MEDINA,
Diego Levano; ESTRADA, Kelly Montoya (Orgs.). Corporaciones religiosas y evangelización em
Iberoamérica: siglos XVI-XVIII. Lima: Centro Cultural de San Marcos, 2011, p. 23-60.
13. MOTT, Luiz. “Sodomia na Bahia: o amor que não ousava dizer o nome”. Revista Inquice, n. 0, s/d,
UFBa.
14. RISÉRIO, Antonio. Uma história da cidade da Bahia. Rio de Janeiro: Versal Editores, 2004.
15. BONCIANI, Rodrigo. O dominium sobre os indígenas e africanos e a especificidade da soberania régia
no Atlântico: da colonização das ilhas à política ultramarina de Felipe III (1493 – 1615). 2010. Tese
(Doutorado em História Social). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2010.
16. ROMEIRO, Adriana. Corrupção e poder no Brasil: uma história, séculos XVI a XVIII. São Paulo:
Autêntica, 2017, p. 193.
17. DORIA, Pedro. 1565 — Enquanto o Brasil nascia: a aventura de portugueses, franceses, índios e
negros na fundação do país. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.
18. ROMEIRO, Adriana. Corrupção e poder no Brasil: uma história, séculos XVI a XVIII. São Paulo:
Autêntica Editora, 2017.
19. DO SALVADOR, Frei Vicente. História do Brasil (1500-1627). Rio de Janeiro: Fundação Darcy Ribeiro,
2013.
20. VIEIRA, Padre Antônio. Sermões (Tomo IX). Lisboa: Editores, J.M.C. Seabra & T.Q. Antunes, 1856.
21. VIEIRA, Padre Antônio. Sermões (Volume I). São Paulo: Edições Loyola, 2008.
22. VIEIRA, Padre Antônio. Obras escolhidas (Volume V). Lisboa: Livraria Sá da Costa – Editora Lisboa,
1951.
23. ANDRADE, Claudia. “TCU aceita denúncia e investigação da Fundação Sarney segue”. Terra –
Política, 26 jan. 2011. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/brasil/politica/tcu-aceita-
denuncia-e-investigacao-da-fundacao-sarney-
segue,a30a97730cbda310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html>
24. PORTINHO, Luciana. “O mausoléu do coronel”. Folha 1, 15 jan. 2014. Disponível em:
<http://www.folha1.com.br/_conteudo/2014/01/blogs/lucianaportinho/1210677-o-mausol-u-
do-coronel.html>
25. FUKUYAMA, Francis. As origens da ordem política: dos tempos pré-humanos até a revolução
francesa. Rio de Janeiro: Rocco, 2011.
26. Fonte: <http://contasabertas.com.br/site/orcamento/a-corrupcao-no-pais-consome-29-dias-de-
trabalho-de-cada-cidadao>
27. CAVALLINI, Marta. “Sobrepreço em compras feitas por órgãos públicos é de 17%, diz IBPT”. G1 –
Economia, 4 ago. 2015. Disponível em:
<http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/08/sobrepreco-em-compras-feitas-por-orgaos-
publicos-e-de-17-diz-ibpt.html>
28. DANTAS, Tiago. “TCU diz que 70% das obras com verba federal têm irregularidades”. O Globo, 21
nov. 2016. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/brasil/tcu-diz-que-70-das-obras-com-verba-
federal-tem-irregularidades-1-20507417>
29. “ONU: Corrupção desvia 5% do PIB mundial”. Portal das Nações Unidas, 20 mar. 2014. Disponível

outubro2018
Clube SPA

em: <https://nacoesunidas.org/onu-corrupcao-desvia-5-do-pib-mundial/>
30. “Corrupção desvia R$ 200 bi, por ano, no Brasil, diz coordenador da Lava Jato”. O Estado de S. Paulo,
15 set. 2015. Disponível em: <http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/corrupcao-
desvia-r-200-bi-por-ano-no-brasil-diz-coordenador-da-lava-jato/>
31. CRUZ, Fernanda. “Temer entrega ambulâncias do Samu para mais de 200 municípios”. Agência
Brasil, 2 mar. 2018. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2018-
03/temer-entrega-ambulancias-do-samu-para-mais-de-200-municipios>
32. “Déficit Habitacional no Brasil”. CBIC, 22 ago. 2017. Disponível em:
<http://www.cbicdados.com.br/menu/deficit-habitacional/deficit-habitacional-no-brasil>
33. Fonte: <http://www.derealpararealidade.com.br/>. Acessado em nov. 2017.
34. Ministério da Educação. Notas estatísticas: censo escolar 2017. Brasília-DF, jan. 2018. Disponível
em:
<http://download.inep.gov.br/educacao_basica/censo_escolar/notas_estatisticas/2018/notas_estatisticas_C
35. MATOSO, Filipe. “Tempo de estudo no Brasil é inferior ao de países de Mercosul e Brics, aponta
IDH”. G1 – Mundo, 21 mar. 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/tempo-de-
estudo-no-brasil-e-inferior-ao-de-paises-de-mercosul-e-brics-aponta-idh.ghtml>
36. Fonte: <http://www.cns.org.br/links/DADOS_DO_SETOR.htm>
37. NASCIMENTO, Luciano. “Com reajuste, benefício médio do Bolsa Família sobe para R$ 176”. Agência
Brasil, 1º maio 2016. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-
05/com-reajuste-beneficio-medio-do-bolsa-familia-sobre-para-r-176>
38. DALLAGNOL, Deltan. A luta contra a corrupção: a Lava Jato e o futuro de um país marcado pela
impunidade. Rio de Janeiro: Primeira Pessoa, 2017.
39. DYNIEWICZ, Luciana. “Sem corrupção, renda per capita do País sobe US$ 3 mil”. O Estado de S.
Paulo, 13 out. 2017. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,sem-
corrupcao-renda-per-capita-do-pais-sobe-us-3-mil,70002041797>
40. Fonte: <http://www.contasabertas.com.br/website/arquivos/12770>
41. MACEDO, Isabella. “Seis em cada dez senadores respondem a acusações criminais no STF”.
Congresso em Foco, 18 jul. 2017. Disponível em:
<http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/pelo-menos-seis-estados-brasileiros-tem-todos-os-
senadores-investigados-no-stf/>
42. MACEDO, Isabella. “Crimes de corrupção são os principais motivos de inquéritos e ações penais
contra deputados no STF”. Congresso em Foco, 25 jul. 2017. Disponível em:
<http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/crimes-de-corrupcao-sao-os-principais-motivos-de-
inqueritos-e-acoes-penais-contra-deputados-no-stf/>
43. BOMFIM, Camila. “Condenado pelo STF, deputado Celso Jacob é preso pela PF no aeroporto de
Brasília”. G1 – Política, 6 jun. 2017. Disponível em:
<https://g1.globo.com/politica/noticia/deputado-condenado-pelo-stf-e-preso-pela-pf-no-
aeroporto-de-brasilia.ghtml>
44. “Deputado presidiário é o único a registrar presença na sessão desta sexta da Câmara”. G1 –
Política, 30 jun. 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/deputado-
presidiario-e-o-unico-a-registrar-presenca-na-sessao-desta-sexta-da-camara.ghtml>
45. PEREIRA, Joelma. “Preso no semiaberto, Celso Jacob recebe auxílio-moradia de R$ 4,2 mil”.
Congresso em Foco, 7 nov. 2017. Disponível em:
<http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/preso-no-semiaberto-celso-jacob-recebe-auxilio-
moradia-de-r-42-mil/>
46. MENDES, Adriana. “Preso no semiaberto, deputado é punido por tentar entrar na cadeia com queijo
e biscoitos na cueca”. O Globo, 23 nov. 2017. Disponível em:
<https://oglobo.globo.com/brasil/preso-no-semiaberto-deputado-punido-por-tentar-entrar-na-
cadeia-com-queijo-biscoitos-na-cueca-22103669>
47. CARDOSO, Daiene. “Conselho de Ética instaura processo por quebra de decoro contra Maluf, Jacob e

outubro2018
Clube SPA

João Rodrigues”. O Estado de S. Paulo, 27 fev. 2018. Disponível em:


<http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,conselho-de-etica-instaura-processo-por-quebra-
de-decoro-contra-maluf-jacob-e-joao-rodrigues,70002206222>
48. “TJDF nega recurso de Jacob e Maia terá de decidir sobre suplente”. Veja, 9 fev. 2018. Disponível em:
<https://veja.abril.com.br/politica/tjdf-nega-recurso-de-jacob-e-maia-tera-de-decidir-sobre-
suplente/>
49. TUROLLO JR., Reynaldo. “Juiz nega prisão domiciliar a Maluf, preso na Papuda”. Folha de S.Paulo, 17
jan. 2018. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/01/1951180-juiz-nega-
prisao-domiciliar-a-maluf-preso-na-papuda.shtml>
50. “Deputado João Rodrigues (PSD-SC) é preso em aeroporto em SP”. G1 – Jornal Nacional, 8 fev. 2018.
Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2018/02/deputado-joao-rodrigues-
psd-sc-e-preso-em-aeroporto-em-sp.html>
51. CURY, Teo. “Supremo condena o senador Acir Gurgacz à prisão por crime financeiro”. O Estado de S.
Paulo, 27 fev. 2018. Disponível em: <http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,supremo-
condena-o-senador-acir-gurgacz-a-prisao-por-crime-financeiro,70002206206>
52. DIONÍSIO, Bibiana; KANIAK, Thais; VIANNA, José; MAZZA, Malu; COSME, Marcelo. “Eduardo Cunha é
preso em Brasília por decisão de Sérgio Moro”. G1 – Paraná, 19 out. 2016. Disponível em:
<http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2016/10/juiz-federal-sergio-moro-determina-prisao-de-
eduardo-cunha.html>
53. PAIVA, Natália; SAKAI, Juliana; SCHOENSTER, Lauren. Quatro em cada dez candidatos a governador
têm ocorrência na Justiça ou nos Tribunais de Contas. Transparência Brasil, 2013. Disponível em:
http://www.excelencias.org.br/docs/Governadores_processados_X.pdf>
54. GOMES, Helton Simões; REIS, Thiago. “Brasil tem 1 prefeito retirado do cargo a cada 8 dias pela
Justiça Eleitoral”. G1 – Eleições 2016, 24 fev. 2016. Disponível em:
<http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2016/noticia/2016/02/brasil-tem-1-prefeito-retirado-do-
cargo-cada-8-dias-pela-justica-eleitoral.html>
55. “Prefeito de Bariri é preso e confessa ter estuprado menina de 8 anos, diz polícia”. G1 – Bauru e
Marília, 21 abr. 2018. Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/prefeito-de-
bariri-e-preso-suspeito-de-raptar-e-abusar-de-menina.ghtml>
56. “Bolsa Família perdeu R$ 2,6 bilhões com fraudes”. Veja – Brasil, 26 maio 2016. Disponível em:
<https://veja.abril.com.br/brasil/bolsa-familia-perdeu-r-26-bilhoes-com-fraudes/>
57. Relatório de avaliação da execução de programa de governo nº 75: programa Bolsa Família.
Ministério da Transparência e Controladoria Geral da União. Brasília, ago. 2017. Disponível em:
<https://auditoria.cgu.gov.br/download/10002.pdf>
58. VARGAS, Rodrigo. “Gato recebeu R$ 20 do Bolsa Família em MS por cinco meses”. Folha de S.Paulo,
24 jan. 2009. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2401200905.htm>
59. Fonte: <http://portal.tcu.gov.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?
fileId=8A8182A253D4239E0153F24D7BAC2406&inline=1>
60. Transferências federais a entidades privadas sem fins lucrativos (1999-2010). Comunicados do Ipea,
n. 123, 7 dez. 2011. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/comunicado/111207_comunicadodoipea123.pdf
61. REBELLO, Aiuri; COSTA, Guilherme. “TCU vê irregularidades graves em 61% da verba pública para
esporte olímpico”. Uol Esporte, 8 dez. 2016. Disponível em: <https://esporte.uol.com.br/ultimas-
noticias/2016/12/08/tcu-encontra-irregularidade-em-mais-de-60-da-verba-para-esporte-
olimpico.htm>
62. SAKAI, Juliana; PAIVA, Natália. “Quem são os conselheiros dos Tribunais de Contas?”. Transparência
Brasil, mar. 2016. Disponível em:
<https://www.transparencia.org.br/downloads/publicacoes/TBrasil%20-
%20Tribunais%20de%20Contas%202016%20F.pdf>
63. Fonte: <http://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/CON1988_05.10.1988/art_73_.asp>

outubro2018
Clube SPA

64. POMPEU, Ana. “Forma de composição dos tribunais de contas precisa ser revista, afirmam
entidades do setor”. Congresso em Foco, 19 jul. 2017. Disponível em:
<http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/forma-de-composicao-dos-tribunais-de-contas-
precisa-ser-revista-afirmam-entidades-do-setor/>
65. Orçamento cidadão: projeto de lei orçamentária anual 2018. Ministério do Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão. Brasília/DF, 2017. Disponível em:
<http://www.planejamento.gov.br/assuntos/orcamento-1/orcamento-cidadao/orcamento-
cidadao2018.pdf>
66. BRAGA, Juliana. “Todos os ministros do TCU recebem salários acima do teto constitucional”. O
Globo, 18 fev. 2018. Disponível em: <http://blogs.oglobo.globo.com/lauro-jardim/post/todos-os-
ministros-do-tcu-recebem-salarios-acima-do-teto-constitucional.html>
67. BRAGON, Ranier; MATTOSO, Camila. “PGR e TCU pagam auxílio-moradia a membros com imóvel no
DF”. Folha de S.Paulo, 6 fev. 2018. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/02/pgr-e-tcu-pagam-auxilio-moradia-a-membros-
com-imovel-no-df.shtml>
68. BALZA, Guilherme; CAUSIN, Juliana. “Ministros do TCU passam até um terço do ano viajando com
dinheiro público”. CBN – Política, 15 ago. 2017. Disponível em:
<http://cbn.globoradio.globo.com/editorias/politica/2017/08/15/MINISTROS-DO-TCU-PASSAM-
ATE-UM-TERCO-DO-ANO-VIAJANDO-COM-DINHEIRO-PUBLICO.htm>
69. BRAGA, Juliana. “TCU desembolsa R$ 5,9 milhões em viagens em 2017”. O Globo, 3 mar. 2018.
Disponível em: <http://blogs.oglobo.globo.com/lauro-jardim/post/tcu-desembolsa-r-59-milhoes-
em-viagens-em-2017.html>
70. BALZA, Guilherme; CAUSIN, Juliana. “Viagens de ministros aumentam, mas a produtividade do TCU
despenca”. CBN – Política, 16 ago. 2017. Disponível em:
<http://cbn.globoradio.globo.com/editorias/politica/2017/08/16/VIAGENS-DE-MINISTROS-
AUMENTAM-MAS-A-PRODUTIVIDADE-DO-TCU-DESPENCA.htm>
71. Presidência da República. Lei complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp101.htm>
72. IFGF 2017: índice Firjan de gestão fiscal. Ano-base 2016. Publicações Firjan, ago. 2017. Disponível
em:
<http://www.firjan.com.br/data/files/4A/B0/A3/B1/C4CCD51063C6AAD5A8A809C2/IFGF%202017%20-
%20An_lise%20Especial%20-%20Vers_o%20Completa.pdf>
73. SAKAI, Juliana; GALF, Renata. “Quase metade dos principais órgãos públicos brasileiros
descumprem a Lei de Acesso à Informação”. Transparência Brasil – Achados e Perdidos, set. 2017.
Disponível em:
<https://www.transparencia.org.br/downloads/publicacoes/Relato%CC%81rio_LAI_10112017.pdf
74. Fonte: <https://en.wikipedia.org/wiki/Rational_ignorance>
75. MANKIW, Greg. “News Flash: Economists Agree”. Greg Mankiw’s Blog, 14 fev. 2009. Disponível em:
<http://gregmankiw.blogspot.com.br/2009/02/news-flash-economists-agree.html>
76. CAPLAN, Bryan. The Myth of the Rational Voter. Why Democracies Choose Bad Policies. Nova Jersey:
Princeton University Press, 2007.
77. LE BON, Gustave. The Crowd: A Study of the Popular Mind. Start Publishing, 2012.
78. SOWELL, Thomas. “Big Lies in Politics”. Townhall, 22 maio 2012. Disponível em:
<https://townhall.com/columnists/thomassowell/2012/05/22/big-lies-in-politics-n1310792>

Lucros privados, prejuízos públicos

1. “Estatísticas do povoamento: evolução da população brasileira”. Brasil 500 Anos. Disponível em:
<https://brasil500anos.ibge.gov.br/estatisticas-do-povoamento/evolucao-da-populacao-
brasileira.html>

outubro2018
Clube SPA

2. CAVALCANTI, Nireu. O Rio de Janeiro setecentista: a vida e a construção da cidade da invasão


francesa até a chegada da Corte. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.
3. REZZUTTI, Paulo. D. Pedro: a história não contada. Rio de Janeiro: LeYa, 2015.
4. GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta
enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Editora Planeta do
Brasil, 2007.
5. ARMITAGE, John. Historia do Brazil desde a chegada da real familia de Bragança em 1808 até a
abdicação do imperador D. Pedro I em 1831. São Paulo: Typographia Brazil de Rothschild &amp; Cia,
1914.
6. LUSTOSA, Isabel. “Do ladrão ao barão”. Folha de S.Paulo, 3 jun. 2007. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs0306200707.htm>
7. FIGUEIREDO, Ney de Lima. O lobby no Brasil: uma trajetória histórica. Rio de Janeiro: Organicom,
2011.
8. REZZUTTI, Paulo. Domitila: a verdadeira história da marquesa de Santos. São Paulo: Geração
Editorial, 2013.
9. BROWNSTEIN, Elizabeth Smith. “The Willard Hotel”, s/d. Disponível em:
<https://www.whitehousehistory.org/the-willard-hotel>
10. Banco Mundial. Emprego e Crescimento: a Agenda da Produtividade. 2018.
11. OLSON, Mancur. A lógica da ação coletiva: os benefícios públicos e uma teoria dos grupos sociais.
São Paulo: Edusp, 1999.
12. GROSSMAN, Gene M.; HELPMAN, Elhanan. Special Interest Politics. MIT Press, 2001.
13. MCCHESNEY, Fred S. Money for Nothing: politicians, rent extraction, and political extortion. Harvard
University Press, 1997.
14. FIGUEIREDO FILHO, Dalson Britto. Gasto de campanha, níveis de pobreza e resultados eleitorais no
Brasil. 2012. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Centro de Filosofia e Ciências Humanas,
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2012.
15. FIGUEIREDO FILHO, Dalson Britto. O elo corporativo? Grupos de interesse, financiamento de
campanha e regulação eleitoral. 2009. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) – Centro de
Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2009.
16. SANTOS, Mário Augusto. Associação Comercial da Bahia na Primeira República: um grupo de
pressão. 2ª ed. Salvador: Associação Comercial da Bahia, 1991.
17. ARAGÃO, Murillo de. “A ação dos grupos de pressão nos processos constitucionais recentes no
Brasil”. Revista de Sociologia e Política, nº 6/7, p. 149-165, 1996.
18. Fonte: <https://www.gpo.gov/fdsys/pkg/BILLS-110s1enr/pdf/BILLS-110s1enr.pdf>
19. “Sugestões de alteração ao artigo”. Portal da Câmara dos Deputados – Wikilegis, s/d. Disponível em:
<http://arquivo.edemocracia.camara.leg.br/web/reg./wikilegis/-
/wikilegis/contribuicao/725442>
20. SANTOS, Manoel Leonardo; MANCUSO, Wagner Pralon; BAIRD, Marcello Fragano; RESENDE, Ciro
Antônio da Silva. Lobbying no Brasil: profissionalização, estratégias e influência. Texto para
discussão. Brasília: Ipea, 2017. Disponível em:
<http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/8060/1/td_2334.pdf>
21. “Frentes parlamentares da 55ª legislatura”. Portal da Câmara dos Deputados. Disponível em:
<http://www.camara.leg.br/internet/deputado/frentes.asp>
22. CARAZZA, Bruno. Interesses econômicos, representação política e produção legislativa no Brasil sob a
ótica do financiamento de campanhas eleitorais. 2016. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de
Direito, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2016.
23. ARANHA, Ana; ZOCCHIO, Guilherme. “Desmatadores doaram R$ 59 milhões a campanha de
deputados; 6 ministros estão na lista”. Uol Notícias – Cotidiano, 30 jan. 2018. Disponível em:
<https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2018/01/30/desmatadores-doaram-r-

outubro2018
Clube SPA

59-mi-a-campanha-de-deputados-ministros-estao-na-lista.htm>
24. Fonte: <http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=4419715>
25. SANTOS, Manoel Leonardo. “Representação de interesses na Câmara dos Deputados: o lobby e o
sucesso da agenda legislativa da indústria”. Revista Ibero-Americana de Estudos Legislativos, n. 1, p.
52-70, mar.2014.
26. “Classificação das economias”. Doing Business, 2017. Disponível em:
<http://portugues.doingbusiness.org/rankings>
27. OLIVEIRA, Júlio M.; MIGUEL, Carolina Romanini. “Brasil, campeão mundial em burocracia fiscal”.
Jota – Direito Tributário, 15 abr. 2016. Disponível em: <https://www.jota.info/opiniao-e-
analise/artigos/brasil-campeao-mundial-em-burocracia-fiscal-19042016>
28. LAPORTA, Taís. “Brasil é a economia mais fechada entre países do G20, mostra estudo”. G1 –
Economia, 5 set. 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/09/brasil-e-
economia-mais-fechada-entre-paises-do-g20-mostra-estudo.html>
29. “Comissões”. Portal da Câmara dos Deputados – Assessoria de Imprensa. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/comunicacao/assessoria-de-imprensa/comissoes>
30. Câmara dos Deputados. “Projeto de Lei da Câmara n° 28, de 2017”. Portal do Senado Federal –
Atividade Legislativa. Disponível em: <https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-
/materia/128659>
31. SPIGARIOL, André. “Exclusivo: Projeto de Lei que regulamenta o Uber no Brasil foi redigido no
Sindicato de Taxistas de São Paulo”. Spotniks, 26 set. 2017. Disponível em:
<https://spotniks.com/exclusivo-projeto-de-lei-que-regulamenta-o-uber-no-brasil-foi-redigido-no-
sindicato-de-taxistas-de-sao-paulo/>
32. ZARATTINI, Carlos (coord.). “Frente Parlamentar em Defesa dos Interesses da Classe dos Taxistas”.
Portal da Câmara dos Deputados, 6 maio 2015. Disponível em:
<http://www.camara.leg.br/internet/deputado/frenteDetalhe.asp?id=53536>
33. MAGALHÃES, Alline; COSTA, Breno; LAMBRANHO, Lúcio; CHAVES, Reinaldo. “Lobistas de bancos,
indústrias e transportes estão por trás das emendas da reforma trabalhista”. The Intercept – Brasil,
26 abr. 2017. Disponível em: <https://theintercept.com/2017/04/26/lobistas-de-bancos-
industrias-e-transportes-quem-esta-por-tras-das-emendas-da-reforma-trabalhista/>
34. TRISOTTO, Fernanda. “Odebrecht usou influência e propina na tramitação de 14 propostas no
Congresso”. Gazeta do Povo, 16 abr. 2017. Disponível em:
<http://www.gazetadopovo.com.br/politica/republica/odebrecht-usou-influencia-e-propina-na-
tramitacao-de-14-propostas-no-congresso-c1q71wibfi7mnolcvschm8xmb>
35. CALGARO, Fernanda. “Em quase 30 anos, Congresso aprovou 4 projetos de iniciativa popular”. G1 –
Política, 18 fev. 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/em-quase-30-anos-
congresso-aprovou-4-projetos-de-iniciativa-popular.ghtml>
36. ALEX, Sandro. “PL 8.438/2017”. Portal da Câmara dos Deputados. Disponível em:
<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2149923>
37. Ministério Público do Estado do Paraná. “Véio Nordo é motivo de disputa judicial/Empresa
desconhece liminar”. JusBrasil, 3 abr. 2009. Disponível em: <https://mp-
pr.jusbrasil.com.br/noticias/982322/veio-nordo-e-motivo-de-disputa-judicial-empresa-
desconhece-liminar>
38. Radio Nilson de Oliveira Ltda., CNPJ 03.043.886/0001-49.
39. “Marcelo Rangel: o comunicador da caixinha de lata”. Blog do Johnny, 11 set. 2017. Disponível em:
<http://www.blogdojohnny.com.br/postagens/marcelo-rangel-o-comunicador-da-caixinha-de-
lata/>
40. “Art. 54”. Portal do Senado Federal – Atividade Legislativa. Disponível em:
<https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_15.12.2016/art_54_.asp>
41. WIZIACK, Julio. “Deputados devedores propõem perdão de débitos em novo Refis”. Folha de S.Paulo
– Mercado, 24 abr. 2017. Disponível em:

outubro2018
Clube SPA

<http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/04/1877939-deputados-devedores-propoem-
perdao-de-debitos-em-novo-refis.shtml>
42. CARAZZA, Bruno. “O Brasil Velho que legisla em causa própria”. Folha de S.Paulo – O E$pírito das
Leis, 22 set. 2017. Disponível em: <http://oespiritodasleis.blogfolha.uol.com.br/2017/09/22/o-
brasil-velho-que-legisla-em-causa-propria/>
43. BENITES, Afonso. “Apuração de crimes fiscais de políticos esbarra em ‘lista VIP’ da Receita”. El País,
22 maio 2017. Disponível em:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2017/05/17/politica/1494977302_541198.html>
44. LOPES, Eugênia. “Receita protegerá ‘pessoas politicamente expostas’”. O Estado de S. Paulo, 15 set.
2010. Disponível em: <http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,receita-protegera-pessoas-
politicamente-expostas-imp-,610105>
45. FACCIO, Mara. “Politically Connected Firms”. American Economic Review, v. 96, 2006.
46. PEREIRA, João Ricardo. “Doações de campanha influenciam o preço de obras públicas?”. Revista do
TCU, 2017.
47. SPECK, Bruno Wilhelm; MARCIANO, João Luiz Pereira. O perfil da Câmara dos Deputados pela ótica
do financiamento privado das campanhas. IN: SATHLER, André; BRAGA, Ricardo (orgs.). Legislativo
pós-1988: reflexões e perspectivas. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2015.
48. CLAESSENS, Stijn; FEIJEN, Erik; LAEVEN, Luc. “Political connections and preferential access to
finance: The role of campaign contributions”. Journal of Financial Economics, vol. 88, n. 3, p. 554-
580, 2008.
49. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1993/lei-8666-21-junho-1993-
322221-norma-pl.html>
50. PRAÇA, Sérgio. Guerra à corrupção: lições da Lava Jato. São Paulo: Évora, 2017.
51. TALENTO, Aguirre. “Jader no centro da propina de Belo Monte”. IstoÉ – Brasil, 7 out. 2016.
Disponível em: <https://istoe.com.br/jader-no-centro-da-propina-de-belo-monte/>
52. JASČIŠENS, Vitālijs; RUMBA, Juris. Public Procurement and political connections: The case of Latvia.
Stockholm School of Economics in Riga, 2009.
53. COVIELLO, Decio; GAGLIARDUCCI, Stefano. “Building Political Collusion: Evidence from
Procurement Auctions”. IZA Discussion Papers from Institute for the Study of Labor (IZA), nº 4939,
may. 2010. Disponível em: <https://econpapers.repec.org/paper/izaizadps/dp4939.htm>
54. MIRONOV, Maxim; ZHURAVSKAYA, Ekaterina. Corruption in Procurement and Shadow Campaign
Financing: Evidence from Russia. 2011. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/228128754_Corruption_in_Procurement_and_Shadow_Campai
55. BOAS, Taylor C.; HIDALGO, F. Daniel; RICHARDSON, Neal P. “The Spoils of Victory: Campaign
Donations and Government Contracts in Brazil”. The Journal of Politics, v. 76, n. 2, 2014.
56. PEREIRA, João Ricardo. Relações entre doações de campanha, denúncias de corrupção e variação de
preço nas licitações de obras públicas. 2014. 50 f. Dissertação (Mestrado em Economia)—
Universidade de Brasília, Brasília, 2014.
57. MUSACCHIO, Aldo; LAZZARINI, Sergio. Reinventando o Capitalismo de Estado. O Leviatã nos
negócios: Brasil e outros países. São Paulo: Portfolio-Penguin, 2015.
58. CLAESSENS, Stijn; FEIJEN, Erik; LAEVEN, Luc. “Political connections and preferential access to
finance: The role of campaign contributions”. Journal of Financial Economics, Elsevier, vol. 88(3), p.
554-580, jun. 2008.
59. BANDEIRA-DE-MELLO, Rodrigo; MARCON, Rosilene. “The value of business group affiliation for
political connections: preferential lending in Brazil”. In: Annual Meeting Of The Academy Of
Management, 2, 2010, Montreal. Annals. Montreal: AOM, 2011.
60. VILLAS BÔAS, Bruno. “Após 9 anos e R$ 1,6 trilhão, legado de Coutinho no BNDES é controverso”.
Folha de S.Paulo – Mercado, 1º jun. 2016. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/06/1776948-apos-9-anos-e-r-16-trilhao-legado-
de-coutinho-no-bndes-e-controverso.shtml>

outubro2018
Clube SPA

61. “Estatísticas Operacionais do Sistema BNDES”. Portal do BNDES. Disponível em:


<https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/transparencia/estatisticas-desempenho>
62. PUPO, Fábio. “Brasil concedeu quase R$ 4 tri em subsídios nos últimos 15 anos”. Valor Econômico, 4
maio 2018. Disponível em: <http://www.valor.com.br/brasil/5503631/brasil-concedeu-quase-r-4-
tri-em-subsidios-nos-ultimos-15-anos>
63. CARNEIRO, Mariana; WIZIACK, Julio. “‘Bolsa empresário’ supera gastos com programas sociais”.
Folha de S.Paulo – Mercado, 6 ago. 2017. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/08/1907561-bolsa-empresario-
superabrprogramas-sociais.shtml>
64. ABRÃO, Ana Carla (Oliver Wyman); LISBOA, Marcos (Insper); CARRASCO, Vinicius (PUC-Rio). Renda
e produtividade nas duas últimas décadas. Série Panorama Brasil, 2018. Disponível em:
<https://www.insper.edu.br/conhecimento/wp-content/uploads/2018/04/Renda-Produtividade-
Panorama-Brasil.pdf>
65. BATISTA, Henrique Gomes; NOGUEIRA, Danielle; VASCONCELLOS, Fábio. “BNDES: apenas 57
empresas concentram 52,5% dos contratos”. O Globo, 4 jun. 2016. Disponível em:
<https://oglobo.globo.com/economia/bndes-apenas-57-empresas-concentram-525-dos-contratos-
16350835>
66. SALOMÃO, Alexa; GODOY, Marcelo. “Frigoríficos levaram 80% das verbas externas do BNDES”. O
Estado de S. Paulo, 20 ago. 2017. Disponível em:
<http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,frigorificos-levaram-80-das-verbasexternas-do-
bndes,70001942790>
67. “Empreiteiras da Lava Jato gastaram R$ 13,6 bilhões do BNDES no exterior”. Gazeta do Povo, 29
maio 2017. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/lucio-
vaz/2017/05/29/empreiteiras-da-lava-jato-gastaram-r-136-bilhoes-bndes-no-exterior/>
68. “BNDES financiou grandes doadores de campanhas eleitorais com mais de R$ 100 bilhões”. Gazeta
do Povo, 1º jun. 2017. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/lucio-
vaz/2017/06/01/bndes-financiou-grandes-doadores-de-campanhas-eleitorais-com-mais-de-r-
100-bilhoes/>
69. AMORA, Dimmi. “Financiamento do BNDES às obras no exterior é maior do que o feito no país”.
Folha de S.Paulo – Mercado, 1º jun. 2016. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/06/1777284-financiamento-do-bndes-as-obras-
no-exterior-e-maior-do-que-o-feito-no-pais.shtml>
70. SALOMÃO, Alexa. “Bancos privados também lucraram com o ‘bolsa empresário’ do BNDES”. O
Estado de S. Paulo, 10 jul. 2016. Disponível em:
<http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,bancos-privados-tambem-lucraram-com-o-bolsa-
empresario-do-bndes,10000062100>
71. “Juntos, Itaú e Bradesco doaram R$ 10,2 milhões para partidos nas eleições”. Uol Notícias – Política,
5 nov. 2014. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-
noticias/2014/11/05/juntos-itau-e-bradesco-doaram-r-102-milhoes-para-partidos-nas-
eleicoes.htm>
72. Crise das hipotecas que aconteceu nos EUA em 2008 e atingiu os principais bancos do país, com
reflexos em todo o mundo, inclusive no Brasil.
73. CASTRO, José Roberto. “Dilma disse que se arrependeu das desonerações: o que foi essa política e
quais as críticas a ela”. Nexo, 14 mar. 2017. Disponível em:
<https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/03/14/Dilma-disse-que-se-arrependeu-das-
desonerações-o-que-foi-essa-política-e-quais-as-críticas-a-ela>
74. “Governo eleva imposto sobre folha de pagamento; em 5 anos, desonerações somaram R$ 78
bilhões”. G1 – Economia, 29 mar. 2017. Disponível em:
<https://g1.globo.com/economia/noticia/governo-abriu-mao-de-r-78-bilhoes-com-desoneracao-
da-folha-em-5-anos.ghtml>

outubro2018
Clube SPA

“Lula critica política de desoneração fiscal de Dilma”. Exame, 14 jul. 2016. Disponível em:
75.
<https://exame.abril.com.br/brasil/lula-critica-politica-de-desoneracao-fiscal-de-dilma/>

A guerra dos tronos

1. “Comlurb recolhe 350 toneladas de lixo durante as eleições no Rio”. G1 – Eleições 2014, 6 out. 2014.
Disponível em: <http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/eleicoes/2014/noticia/2014/10/comlurb-
recolhe-350-toneladas-de-lixo-durante-eleicoes-no-rio.html>
2. “Moradores reclamam do lixo deixado nas ruas após as eleições em Goiás”. G1 – Eleições 2014, 6
out. 2014. Disponível em:
<http://g1.globo.com/goias/eleicoes/2014/noticia/2014/10/moradores-reclamam-do-lixo-
deixado-nas-ruas-apos-eleicoes-em-goias.html>
3. “Cerca de 100 toneladas de lixo eleitoral são recolhidas em Salvador”. G1 – Eleições 2014, 7 out.
2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/bahia/eleicoes/2014/noticia/2014/10/cerca-de-100-
toneladas-de-lixo-eleitoral-sao-recolhidas-em-salvador.html>
4. “Mulher desmaia após escorregar em santinhos perto de local de votação”. G1 – Eleições 2014, 5
out. 2014. Disponível em:
<http://g1.globo.com/pr/parana/eleicoes/2014/noticia/2014/10/mulher-cai-apos-escorregar-
em-santinhos-perto-de-local-de-votacao.html>
5. BONORA, Mariana. “Idosa que escorregou em ‘santinhos’ morre por complicações da queda”. G1 –
Eleições 2012, 10 out. 2012. Disponível em: <http://g1.globo.com/sp/bauru-
marilia/eleicoes/2012/noticia/2012/10/idosa-escorrega-em-santinhos-morre-por-complicacoes-
da-queda-em-bauru.html>
6. BEDRAN, Karina Marcos. Processo eleitoral brasileiro: impactos ambientais e o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado. 2013. 165 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Escola
Superior Dom Helder Câmara, Belo Horizonte, 2013.
7. TSE/STI. Registro de candidaturas – Brasil – 2016. Posição em 15 ago. 2016. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/dl/eleicoes-2016-numero-registros-ata-20h.pdf>
8. “Eleições municipais 2016 terão mais de 63 mil vagas em todo o país (atualizada)”. Portal do
Tribunal Superior Eleitoral, 15 ago. 2016. Disponível em:
<http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2016/Agosto/eleicoes-municipais-2016-terao-
mais-de-66-mil-vagas-em-todo-o-pais>
9. MONTEIRO, André; MENEGAT, Rodrigo. “Vereador ‘da Saúde’ e ‘da Farmácia’ está entre a maioria
dos eleitos; veja nomes comuns nas urnas”. Folha de S.Paulo – Eleições 2016, 12 out. 2016.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/eleicoes-2016/2016/10/1822015-
vereador-da-saude-e-da-farmacia-esta-entre-a-maioria-dos-eleitos.shtml>
10. Microdados do Tribunal Superior Eleitoral dos candidatos eleitos em 2014, listados por profissões
declaradas. Disponível em:
<https://public.tableau.com/profile/andr.spigariol#!/vizhome/PaineldoscandidatosdasEleies2014/Painel1
11. RUFFATO, Luiz. “A Igreja Universal avança”. El País – Opinião, 6 jul. 2016. Disponível em:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/05/opinion/1467746827_994929.html>
12. NUNES, Tadeu. “Apenas 25 candidatos com título religioso no nome de urna são eleitos”. G1 –
Eleição em Números, 23 out. 2014. Disponível em:
<http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2014/blog/eleicao-em-numeros/post/apenas-25-
candidatos-com-titulo-religioso-no-nome-de-urna-sao-eleitos.html>
13. SILVA, Rodrigo da. “Essa é a lista definitiva dos candidatos com os nomes mais bizarros das eleições
2016”. Spotniks, 6 set. 2016. Disponível em: <https://spotniks.com/essa-e-a-lista-definitiva-dos-
candidatos-com-os-nomes-mais-bizarros-das-eleicoes-2016/>
14. “Eleições 2016: 97 municípios de 13 estados registram apenas um candidato a prefeito”. Portal do
Tribunal Superior Eleitoral, 5 set. 2016. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-

outubro2018
Clube SPA

tse/2016/Setembro/eleicoes-2016-97-municipios-de-13-estados-registram-apenas-um-candidato-
a-prefeito>
15. Presidência da República. “Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965”. Portal do Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4737.htm>
16. “Em cidade do CE, disputa empata e prefeito é eleito pela idade”. G1 – Eleições 2016, 3 out. 2016.
Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2016/blog/eleicao-2016-em-
numeros/post/em-cidade-do-ce-disputa-empata-e-prefeito-e-eleito-pela-idade.html>
17. FUENTES, André. “Você sabia que nossos políticos têm…”. Veja, 12 fev. 2017. Disponível em:
<https://veja.abril.com.br/blog/impavido-colosso/voce-sabia-que-nossos-politicos-tem/>
18. “Jumentos e vacas magras: veja coisas estranhas declaradas pelos candidatos”. Uol Notícias –
Eleições 2014, 24 jul. 2014. Disponível em:
<https://eleicoes.uol.com.br/2014/noticias/2014/07/24/jumentos-e-vacas-magras-veja-coisas-
bizarras-declaradas-pelos-candidatos.htm>
19. ÉBOLI, Evandro; BARRETO, Eduardo; LUIZ, Washington. “Candidatos às eleições dizem guardar em
casa R$ 269,7 milhões”. O Globo, 27 jul. 2014. Disponível em:
<https://oglobo.globo.com/brasil/candidatos-as-eleicoes-dizem-guardar-em-casa-2697-milhoes-
13395199>
20. DENK, Eriksson. “Candidato mais rico do Brasil ‘empobrece’ frente a falsos bilionários das eleições”.
Gazeta do Povo – Eleições 2016, 26 set. 2016. Disponível em:
<http://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/eleicoes/2016/candidato-mais-rico-do-brasil-
empobrece-frente-a-falsos-bilionarios-das-eleicoes-9p1oy1kew5zqn96ff7exkgwio>
21. SARDINHA, Edson. “Só 3% dos eleitos em 2014 se declaram negros”. Congresso em Foco, 18 dez.
2014. Disponível em: <http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/so-3-dos-eleitos-em-2014-se-
declaram-negros/>
22. BEZERRA, Mirthyani. “26 candidatos ligados a causas LGBTs são eleitos; prefeito gay é ofendido”.
Uol – Eleições 2016, 8 out. 2016. Disponível em:
<https://eleicoes.uol.com.br/2016/noticias/2016/10/08/26-candidatos-ligados-a-causas-lgbts-
sao-eleitos-prefeito-gay-e-ofendido.htm>
23. “Women in national parliaments: Situation as of 1st June 2018”. Inter-Parliamentary Union.
Disponível em: <http://archive.ipu.org/wmn-e/classif.htm>
24. FERNANDES, Marcella. “Capitais brasileiras têm mais milionários que mulheres na disputa por
prefeituras”. Huffpost, 24 ago. 2016. Disponível em:
<https://www.huffpostbrasil.com/2016/08/24/capitais-brasileiras-tem-mais-milionarios-que-
mulheres-na-disput_a_21696965/>
25. MONTEIRO, André. “Quase 1/4 das Câmaras Municipais do país não terá nenhuma vereadora”.
Folha de S.Paulo, 13 out. 2016. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/eleicoes-
2016/2016/10/1822286-9-em-cada-10-cidades-terao-camaras-sem-minimo-de-mulheres.shtml>
26. “Mulheres são maioria da população e ocupam mais espaço no mercado de trabalho”. Portal oficial
do governo federal, 6 mar. 2015. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-
justica/2015/03/mulheres-sao-maioria-da-populacao-e-ocupam-mais-espaco-no-mercado-de-
trabalho>
27. “Mulheres são apenas 13% em prefeituras e câmaras em todo o país”. The Intercept – Brasil, 1º nov.
2016. Disponível em: <https://theintercept.com/2016/11/01/mulheres-sao-apenas-13-em-
prefeituras-e-camaras-em-todo-o-pais/>
28. MELLO, Alessandra. “Partido da Mulher Brasileira é condenado por não dar espaço para mulheres”.
EM, 16 fev. 2017. Disponível em:
<https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2017/02/16/interna_politica,848008/partido-da-
mulher-brasileira-e-condenado-por-nao-dar-tempo-para-mulher.shtml>
29. Presidência da República. “Lei nº 12.034, de 29 de setembro de 2009”. Portal do Planalto.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-

outubro2018
Clube SPA

2010/2009/Lei/L12034.htm#art3>
30. “Presidente da Câmara de Vereadores de Maturéia é preso com caminhão clonado, diz polícia”. G1 –
Paraíba, 16 out. 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/presidente-da-
camara-de-vereadores-de-matureia-e-preso-com-caminhao-clonado-diz-policia.ghtml>
31. “Eleições 2016: Resultado da apuração – Matureia, PB”. G1, 2 out. 2016. Disponível em:
<http://g1.globo.com/pb/paraiba/eleicoes/2016/apuracao/matureia.html>
32. ROSSI, Amanda; MAZOTTE, Natália. “Partidos recorrem a candidatas ‘fantasmas’ para preencher
cota de 30% para mulheres”. Gênero e Número, 27 out. 2016. Disponível em:
<http://www.generonumero.media/partidos-recorrem-candidatas-fantasmas-para-preencher-
cota-de-30-para-mulheres/>
33. REIS, Thiago. “Quase metade da nova Câmara dos Deputados será formada por milionários”. G1 –
Eleição em Números, 6 out. 2014. Disponível em:
<http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2014/blog/eleicao-em-numeros/post/quase-metade-da-
nova-camara-dos-deputados-sera-formada-por-milionarios.html>
34. “Cresce o número de milionários nas Assembleias Legislativas do país”. G1 – Eleição em Números,
13 out. 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2014/blog/eleicao-em-
numeros/post/cresce-o-numero-de-milionarios-nas-assembleias-legislativas-do-pais.html>
35. “1 em cada 5 prefeitos eleitos é milionário”. G1 – Eleições 2016, 31 out. 2016. Disponível em:
<http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2016/blog/eleicao-2016-em-numeros/post/1-em-cada-5-
prefeitos-eleitos-e-milionario.html>
36. SARDINHA, Edson. “Congresso, um negócio de família: seis em cada dez parlamentares têm
parentes na política”. Congresso em Foco, 1º ago. 2017. Disponível em:
<http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/congresso-um-negocio-de-familia-seis-em-cada-dez-
parlamentares-tem-parentes-na-politica/>
37. SCHOENSTER, Lauren. “Clãs políticos seguem dominando Congresso na próxima legislatura”.
Transparência Brasil, nov. 2014. Disponível em:
<http://www.excelencias.org.br/docs/parentes_%202015-2018%20vf.pdf>
38. “Clãs políticos. Famílias controlam 45% das prefeituras cearenses”. O Povo online, 7 fev. 2016.
Disponível em:
<https://www20.opovo.com.br/app/opovo/dom/2016/02/06/noticiasjornaldom,3572309/clas-
politicos-familias-controlam-45-das-prefeituras-cearenses.shtml>
39. ROMERO, Silvio. Provocações e debates: contribuições para o estudo do Brasil social. Porto:
Chardron, 1910.
40. Fonte: Portal da Câmara – Biblioteca Digital. Disponível em:
<http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/28479>
41. NUNES, Edson. A gramática política no Brasil: clientelismo e insulamento burocrático. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar,1997.
42. SARDINHA, Edson. “Família se ‘perpetua’ há dois séculos no Congresso”. Congresso em Foco, 20 abr.
2015. Disponível em: <http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/familia-se-perpetua-ha-dois-
seculos-no-congresso/>
43. COSTA, Fabiano; MODZELESKI, Alessandra. “Andrada: família do relator da denúncia contra Temer
ocupa cargos no poder desde o Império”. G1 – Política, 30 set. 2017. Disponível em:
<https://g1.globo.com/politica/noticia/andrada-familia-do-relator-da-denuncia-contra-temer-
ocupa-cargos-no-poder-desde-o-imperio.ghtml>
44. Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Bonif%C3%A1cio_Lafayette_de_Andrada>
45. SARDINHA, Edson. “De pai para filho, as “capitanias hereditárias” do Congresso”. Congresso em
Foco, 13 ago. 2017. Disponível em: <http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/de-pai-para-
filho-as-%E2%80%9Ccapitanias-hereditarias%E2%80%9D-do-congresso/>
46. ALESSI, Gil. “Candidatos têm 32 emissoras de TV e 141 rádios; prática não é regulamentada”. Uol –
Eleições 2014, 1º ago. 2014. Disponível em:

outubro2018
Clube SPA

<https://eleicoes.uol.com.br/2014/noticias/2014/08/01/candidatos-tem-32-emissoras-de-tv-e-
141-radios-pratica-nao-e-regulamentada.htm>
47. “Comunicação no Brasil recente”. Disponível em: <https://www.maxwell.vrac.puc-
rio.br/21172/21172_5.PDF>
48. “Quem controla a mídia no Brasil?”. Comunique-se, 1º nov. 2017. Disponível em:
<https://portal.comunique-se.com.br/quem-controla-midia-no-brasil/>
49. MOURA. Iara. “Raio x da ilegalidade: políticos donos da mídia no Brasil”. Observatório do direito à
comunicação, 1º ago. 2016. Disponível em: <http://www.intervozes.org.br/direitoacomunicacao/?
p=29753>
50. Fonte: <http://intervozes.org.br/wp-content/uploads/2017/08/radio_prefeito_no_ar_anexo.pdf>
51. “Decreto nº 2.615, de 3 de junho de 1998”. Portal da Anatel – Legislação, 4 jun. 1998. Disponível em:
<http://www.anatel.gov.br/legislacao/decretos/123-decreto-2615>
52. “Controle de emissoras de rádio favorece políticos, indica pesquisa”. Intervozes – Política, 22 ago.
2017. Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/blogs/intervozes/controle-de-emissoras-
de-radio-favorece-politicos-indica-pesquisa>
53. “Candidatos pediram à Justiça que tirasse 20 rádios do ar durante campanha”. Ctrl+X - Abraji, 15
dez. 2016. Disponível em: <http://www.ctrlx.org.br/noticia/candidatos-pediram-a-justica-que-
tirasse-20-radios-do-ar-durante-campanha>
54. “Quase 350 veículos foram processados para retirar informações do ar”. Ctrl+X - Abraji, 8 dez. 2016.
Disponível em: <http://www.ctrlx.org.br/noticia/quase-350-veiculos-foram-processados-para-
retirar-informacoes-do-ar>
55. “Políticos tentaram recolher jornais ao menos 88 vezes”. Ctrl+X - Abraji, 13 dez. 2016. Disponível
em: <http://www.ctrlx.org.br/noticia/politicos-tentaram-recolher-jornais-ao-menos-88-vezes>
56. “Brasil registra 190 ações de censura nas Eleições 2014”. EJO, 10 nov. 2014. Disponível em:
<https://pt.ejo.ch/media-e-politica/liberdade-de-imprensa/brasil-registra-190-acoes-de-censura-
nas-eleicoes-2014>
57. LUCHETE, Felipe. “Brasil é segundo país que mais manda Google apagar conteúdo da internet”.
Consultor Jurídico, 9 set. 2017. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2017-set-09/brasil-
pais-manda-google-tirar-conteudo-internet>
58. GOIS, Chico de; VASCONCELLOS, Fábio; ALLEGRO, Gabriela. “Maioria dos políticos em cargos
executivos conseguiu se reeleger no país”. O Globo, 7 jun. 2016. Disponível em:
<https://oglobo.globo.com/brasil/maioria-dos-politicos-em-cargos-executivos-conseguiu-se-
reeleger-no-pais-16372095>
59. “Apenas 1/4 dos deputados que tentaram reeleição ficam fora da Câmara”. Uol – Eleições 2014, 6
out. 2014. Disponível em: <https://eleicoes.uol.com.br/2014/noticias/2014/10/06/so-14-dos-
deputados-que-tentaram-novo-mandato-nao-sao-reeleitos-na-camara.htm>
60. Índice Firjan de Gestão Fiscal: ano-base 2016. Publicações Firjan, ago. 2017. Disponível em:
<http://www.firjan.com.br/data/files/4A/B0/A3/B1/C4CCD51063C6AAD5A8A809C2/IFGF%202017%20-
%20An_lise%20Especial%20-%20Vers_o%20Completa.pdf>
61. “Análise do orçamento da União mostra coincidente alta de investimentos em saúde com períodos
eleitorais”. Portal CFM, 29 maio 2014. Disponível em: <http://portal.cfm.org.br/index.php?
option=com_content&view=article&id=24787%3Aanalise-do-orcamento-da-uniao-mostra-
coincidente-alta-de-investimentos-em-saude-com-periodos-eleitorais-&catid=3&Itemid=46>
62. Fonte: <http://www.contasabertas.com.br/website/arquivos/8523>
63. KRAMER, Gerald H. “Short-Term Fluctuations in U.S. Voting Behavior, 1896-1964”. The American
Political Science Review, vol. 65, n. 1, 1971.
64. Fonte: <http://www.contasabertas.com.br/website/arquivos/9899>
65. Datafolha. Voto obrigatório: 07 e 08/05/2014. Disponível em:
<http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2014/05/12/voto-obrigatorio-site.pdf>

outubro2018
Clube SPA

“Pesquisa revela que compra de votos ainda é realidade no país”. Portal TSE, 2 fev. 2015. Disponível
66. em: <http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2015/Fevereiro/pesquisa-revela-que-compra-
de-votos-ainda-e-realidade-no-pais>
67. MCCARTHY, Niall. “The Countries Where Voting Is Compulsory”. Statista, 8 maio 2015. Disponível
em: <https://www.statista.com/chart/3466/the-countries-where-voting-is-compulsory/>
68. Fonte: <http://aceproject.org/epic-en/CDTable?question=PC008>
69. Fonte: <http://aceproject.org/epic-en/CDTable?question=LF007>
70. “TSE custa R$ 5,4 milhões por dia, aponta ONG Contas Abertas”. JC – Gastos Públicos, 9 jun. 2017.
Disponível em:
<http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/politica/nacional/noticia/2017/06/09/tse-custa-r-54-
milhoes-por-dia-aponta-ong-contas-abertas-288979.php>
71. “Justiça eleitoral do Brasil segue modelo único no mundo”. Gazeta Online, 6 ago. 2017. Disponível
em: <https://www.gazetaonline.com.br/noticias/politica/2017/08/justica-eleitoral-do-brasil-
segue-modelo-unico-no-mundo-1014086475.html>
72. Consultoria Legislativa do Senado Federal. “Funcionamento da justiça eleitoral em alguns países”.
Estudo n. 143, de 2000. Disponível em: <https://jus.com.br/pareceres/16832/funcionamento-dos-
orgaos-eleitorais-em-alguns-paises>
73. CALGARO, Fernanda. “Câmara recua e libera coligações partidárias para as eleições de 2018”. G1 –
Política, 20 set. 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/camara-recua-e-
libera-coligacoes-partidarias-para-as-eleicoes-de-2018.ghtml>
74. BENITES, Afonso. “Dos 513 deputados na Câmara do Brasil, só 36 foram eleitos com votos próprios.
Por quê?”. El País, 20 abr. 2016. Disponível em:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2016/04/19/politica/1461023531_819960.html>
75. LINHARES, Carolina; REVERBEL, Paula. “Nova lei cria piso de votos para vereadores serem eleitos”.
Folha de S.Paulo - Poder, 6 ago. 2016. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/08/1799564-lei-cria-piso-de-votos-para-vereadores-
serem-eleitos.shtml>
76. LINHARES, Carolina; REVERBEL, Paula. “Eleição proporcional levou deputado à Câmara com 275
votos em 2002”. Folha de S.Paulo – Poder, 6 ago. 2016. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/08/1799563-eleicao-proporcional-levou-deputado-
a-camara-com-275-votos-em-2002.shtml>
77. Fonte: <http://aceproject.org/epic-en/CDTable?question=VO011>
78. BRUNAZO FILHO, Amílcar. Modelos e gerações dos equipamentos de votação eletrônica. Atualizado
em fev. 2014. Disponível em: <http://www.brunazo.eng.br/voto-e/textos/modelosUE.htm>
79. “Urna é a mais defasada, diz professor que violou sistema do TSE”. Terra – Política, 25 jun. 2012.
Disponível em: <https://www.terra.com.br/noticias/brasil/politica/urna-e-a-mais-defasada-diz-
professor-que-violou-sistema-do-tse,dbeadf0a2566b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html>
80. BARROS, Fernando Rêgo. “TSE conclui testes de segurança em urnas; seis falhas foram identificadas
no sistema”. G1, 12 dez. 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/tse-conclui-
testes-de-seguranca-em-urnas-seis-falhas-foram-identificadas-no-sistema.ghtml>
81. “TSE disponibiliza pesquisa sobre Eleições 2014”. Portal do Tribunal Superior Eleitoral, 28 jan.
2015. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2015/Janeiro/tse-
disponibiliza-pesquisa-sobre-eleicoes-2014>
82. Presidência da República. “Lei n. 5.682, de 21 de julho de 1971”. Portal do Planalto. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/L5682.htm>
83. “Lei das Eleições – Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997”. Portal do Tribunal Superior Eleitoral.
Disponível em: <http://www.tse.jus.br/legislacao/codigo-eleitoral/lei-das-eleicoes/lei-das-
eleicoes-lei-nb0-9.504-de-30-de-setembro-de-1997>
84. Fonte: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=300015>
85. MELLO, Rodrigo Bandeira de. “Financiamento de campanha não esgota a relação entre empresas e

outubro2018
Clube SPA

governo”. O Estado de S. Paulo – Gestão, Política &amp; Sociedade, 8 abr. 2015. Disponível em:
<http://politica.estadao.com.br/blogs/gestao-politica-e-sociedade/financiamento-de-campanha-
nao-esgota-a-relacao-entre-empresas-e-governo/>
86. CARAZZA, Bruno. “O que o Al Capone e os Velhos Computadores MSX têm a ver com Financiamento
Eleitoral? Oferta e Demanda Aplicada à Proibição de Doações Empresariais para Campanhas
Eleitorais no Brasil”. Leis e Números, 16 jun. 2016. Disponível em:
<https://leisenumeros.com.br/2016/06/o-que-o-al-capone-e-os-velhos-computadores-msx-tem-a-
ver-com-financiamento-eleitoral-oferta-e-demanda-aplicada-a-proibicao-de-doacoes-empresariais-
para-campanhas-eleitorais-no-brasil/>
87. FRAZÃO, Felipe. “Saúde e educação perdem R$ 472 milhões para campanhas”. Uol Notícias, 8 jan.
2018. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-
estado/2018/01/08/saude-e-educacao-perdem-r-472-milhoes-para-campanhas.htm>
88. SOUZA, André de. “Candidatos terão dois fundos públicos para financiar campanha em 2018”. O
Globo, 14 fev. 2018. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/brasil/candidatos-terao-dois-
fundos-publicos-para-financiar-campanha-em-2018-22396526>
89. Fonte: <http://www.contasabertas.com.br/website/arquivos/9324>
90. Dados consultados em dezembro de 2017. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/eleitor-e-
eleicoes/estatisticas/estatisticas-de-eleitorado/filiados>
91. VENCESLAU, Pedro; BRAMATTI, Daniel. “Fundo Partidário banca de jatinhos a contas pessoais”. Uol
Notícias, 12 mar. 2017. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-
estado/2017/03/12/fundo-partidario-banca-de-jatinhos-a-contas-pessoais.htm>
92. BRAGON, Ranier. “Pros gasta R$ 2,4 mi em dinheiro público com helicóptero”. Folha de S.Paulo –
Poder, 11 nov. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/11/1704724-
pros-gasta-r-24-mi-em-dinheiro-publico-com-helicoptero.shtml>
93. GOIS, Chico de. “Depois de se filiar a três legendas, Eurípedes cria o Pros”. O Globo, 6 out. 2013.
Disponível em: <https://oglobo.globo.com/brasil/depois-de-se-filiar-tres-legendas-euripedes-cria-
pros-10267966>
94. ZOLINI, Helcio. “Fraude: presidente do Pros é dono de três CPFs”. R7, 9 fev. 2015. Disponível em:
<http://noticias.r7.com/blogs/helcio-zolini/fraude-presidente-do-pros-e-dono-de-tres-cpfs-
20150209/>
95. CASTRO, Gabriel. “As reuniões fantasmas do comando do Pros”. Veja, 31 maio 2015. Disponível em:
<https://veja.abril.com.br/brasil/as-reunioes-fantasmas-do-comando-do-pros/>
96. “Ex-dirigentes do Pros confirmam que partido vendeu tempo na TV”. G1 – Jornal Nacional, 29 abr.
2017. Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2017/04/ex-dirigentes-do-
pros-confirmam-que-partido-vendeu-tempo-na-tv.html>
97. MARQUES, Hugo. “Luxos e contratos suspeitos levam TSE a quebrar sigilo de partido”. Veja, 20 abr.
2017. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/brasil/luxos-e-contratos-suspeitos-levam-tse-a-
quebrar-sigilo-de-partido/>
98. “Distribuição do Fundo Partidário 2017 – Duodécimos”. Última atualização em 23 jan. 2018.
Disponível em: <http://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/tse-duodecimo-de-dezembro-2017-
desbloqueio>
99. PIERRY, Flávia. “Quanto cada partido vai ganhar do contribuinte brasileiro para fazer campanha em
2018”. Gazeta do Povo – Preço do Voto, 22 dez. 2017. Disponível em:
<http://www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2018/quanto-cada-partido-vai-ganhar-do-
contribuinte-brasileiro-para-fazer-campanha-em-2018-ec8uzqrey96bmoqi3dhjgtvt3>
100. “Veja os deputados federais eleitos por estado e como ficam as bancadas”. G1 – Eleições 2014, 6 out.
2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2014/noticia/2014/10/veja-os-
deputados-federais-eleitos-por-estado.html>
101. BATISTA, Vera. “Menos de 30% dos partidos renovam suas lideranças”. Correio Braziliense – Blog
do Servidor, 2 out. 2017. Disponível em: <http://blogs.correiobraziliense.com.br/servidor/menos-

outubro2018
Clube SPA

de-30-dos-partidos-renovam-suas-liderancas/>
102. CARAZZA, Bruno. “O ‘grande acordo nacional’ passa pela reforma política”. Folha de S.Paulo – O
E$pírito das Leis, 6 jul. 2017. Disponível em:
<http://oespiritodasleis.blogfolha.uol.com.br/2017/07/06/o-grande-acordo-nacional-passa-pela-
reforma-politica/>
103. BACKES, Ana Luiza; DOS SANTOS, Luiz Cláudio Pires. “Gastos em campanhas eleitorais no Brasil”.
Cadernos Aslegis, n. 46, p. 47-59, maio/ago., 2012.
104. AMORIM, Silvia; VASCONCELLOS, Fábio. “Vitória de prefeitos que bancaram a própria campanha
cresce 50%”. O Globo, 24 out. 2016. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/brasil/vitoria-de-
prefeitos-que-bancaram-propria-campanha-cresce-50-20343805>
105. AVIS, Eric; FERRAZ, Claudio; FINAN, Frederico; VARJÃO, Carlos Eduardo. “Money and Politics: The
Effects of Campaign Spending Limits on Political Competition and Incumbency Advantage”. NBER
Working Paper. n. w23508, jun. 2017. Disponível em: <https://ssrn.com/abstract=2984684>
106. MULCAHY, Suzanne. “Money, Politics, Power: corruption risks in Europe.” Transparency
International, jun. 2012. Disponível em:
<https://www.transparency.org/whatwedo/publication/money_politics_and_power_corruption_risks_in_eu
107. CARAZZA, Bruno. Interesses econômicos, representação política e produção legislativa no Brasil sob a
ótica do financiamento de campanhas eleitorais. 2016. Tese (doutorado em direito) – Faculdade de
Direito, UFMG, Belo Horizonte, 2016.
108. DUARTE, Alessandra. “Empresas driblam lei para doar a campanhas eleitorais”. O Globo, 18 set.
2018. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/brasil/empresas-driblam-lei-para-doar-
campanhas-eleitorais-20132632>

Estado-grande e senzala

1. “IBGE: 52 milhões de brasileiros estão abaixo da linha da pobreza”. Veja – Economia, 4 jan. 2018.
Disponível em: <https://veja.abril.com.br/economia/ibge-52-milhoes-de-brasileiros-estao-abaixo-
da-linha-da-pobreza/>
2. SILVEIRA, Daniel. “Em 2016, 24,8 milhões de brasileiros viviam na miséria, 53% a mais que em
2014, revela IBGE”. G1 – Economia, 15 dez. 2017. Disponível em:
<https://g1.globo.com/economia/noticia/em-2016-248-milhoes-de-brasileiros-viviam-na-miseria-
53-a-mais-que-em-2014-revela-ibge.ghtml>
3. SILVEIRA, Daniel. “Metade dos trabalhadores brasileiros tem renda menor que o salário mínimo,
aponta IBGE”. G1 – Economia, 29 nov. 2017. Disponível em:
<https://g1.globo.com/economia/noticia/metade-dos-trabalhadores-brasileiros-tem-renda-
menor-que-o-salario-minimo-aponta-ibge.ghtml>
4. “Brasil lidera em número de homicídios no mundo, diz Atlas da Violência ”. Valor Econômico, 22
mar. 2016. Disponível em: <http://www.valor.com.br/brasil/4493134/brasil-lidera-em-numero-
de-homicidios-no-mundo-diz-atlas-da-violencia>
5. AMÂNCIO, Thiago. “Brasil tem 1 roubo ou furto de veículo a cada minuto; Rio lidera o ranking”.
Folha de S.Paulo – Cotidiano,. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1931061-brasil-tem-1-roubo-ou-furto-de-
veiculo-a-cada-minuto-rio-lidera-o-ranking.shtml>
6. Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Crimes patrimoniais – tabela. Disponível em:
<http://www.forumseguranca.org.br/estatisticas/tableau-patrimoniais/>
7. BRETAS, Valéria. “Os estados mais violentos do Brasil”. Exame, 4 nov. 2017. Disponível em:
<https://exame.abril.com.br/brasil/os-estados-mais-violentos-do-brasil-3/>
8. PAGNAN, Rogério; MARIANI, Daniel. “Crimes contra o patrimônio fazem uma vítima em SP a cada
30 segundos”. Folha de S.Paulo – Cotidiano, 13 ago. 2017. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/08/1909472-crimes-contra-o-patrimonio-fazem-

outubro2018
Clube SPA

uma-vitima-em-sp-a-cada-30-segundos.shtml>
9. “Indústria perde R$ 130 bilhões por ano com a violência no Brasil”. Agência de Notícias CNI, 22 nov.
2016. Disponível em:
<http://www.portaldaindustria.com.br/agenciacni/noticias/2016/11/industria-perde-r-130-
bilhoes-por-ano-com-a-violencia-no-brasil/>
10. “Brasil tem 1 denúncia de violência contra mulher a cada 7 minutos”. O Estado de S. Paulo, 7 mar.
2016. Disponível em: <http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-tem-1-denuncia-de-
violencia-contra-a-mulher-a-cada-7-minutos,10000019981>
11. Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Crimes contra a dignidade sexual – tabela. Disponível em:
<http://www.forumseguranca.org.br/estatisticas/tableau-dignidade/>
12. CERQUEIRA, Daniel; COELHO, Danilo Santa Cruz; FERREIRA, Helder. Estupro no Brasil: vítimas,
autores, fatores situacionais e evolução das notificações no sistema de saúde entre 2011 e 2014.
Ipea, jun. 2017. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_2313.pdf>
13. Instituto Paulo Montenegro; Ação Educativa. Indicador de analfabetismo funcional – Inaf: estudo
especial sobre analfabetismo e mundo do trabalho. São Paulo, maio 2016. Disponível em:
<http://acaoeducativa.org.br/wp-
content/uploads/2016/09/INAFEstudosEspeciais_2016_Letramento_e_Mundo_do_Trabalho.pdf>
14. Fonte: <http://www.contasabertas.com.br/site/noticias/metade-das-criancas-de-8-e-9-anos-do-
pais-nao-esta-alfabetizada>
15. Instituto Pró-Livro. Retratos da leitura no Brasil, 4. ed., mar. 2016. Disponível em:
<http://prolivro.org.br/home/images/2016/Pesquisa_Retratos_da_Leitura_no_Brasil_-_2015.pdf>
16. GASPARINI, Claudia. “Nível de inglês no Brasil é pior que na Nigéria e no Vietnã”. Superinteressante
– Cultura, 13 nov. 2017. Disponível em: <https://super.abril.com.br/cultura/nivel-de-ingles-no-
brasil-e-pior-que-na-nigeria-e-no-vietna/>
17. NETTO, Andrei. “Brasil é 2º país com pior nível de aprendizado, diz estudo”. Exame – Ciência, 10 fev.
2016. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/ciencia/brasil-e-2o-pais-com-pior-nivel-de-
aprendizado-diz-estudo/>
18. CAFARDO, Renata. “País só deve dominar leitura em 260 anos”. O Estado de S. Paulo, 28 fev. 2018.
Disponível em: <http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,pais-so-deve-dominar-leitura-em-
260-anos,70002206631>
19. FERNANDES, Daniela. “Pesquisa põe Brasil em topo de ranking de violência contra professores”.
BBC – News Brasil, 28 ago. 2014. Disponível em:
<http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/08/140822_salasocial_eleicoes_ocde_valorizacao_profess
20. GUILHERME, Paulo. “Professor no Brasil perde 20% da aula com bagunça na classe, diz estudo”. G1
– Educação, 1º mar. 2015. Disponível em:
<http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/03/professor-no-brasil-perde-20-da-aula-com-
bagunca-na-classe-diz-estudo.html>
21. CRUZ, Elaine Patrícia. “Um em cada quatro jovens vai abandonar o ensino médio até o final do ano”.
Agência Brasil – Educação, 17 out. 2017. Disponível em:
<http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2017-10/um-em-cada-quatro-jovens-vai-
abandonar-os-estudos-ate-o-final-do-ano>
22. BÔAS, Bruno Villas. “Só 4,6% dos filhos de pais sem instrução concluem faculdade, diz IBGE”. Valor
Econômico, 15 dez. 2017. Disponível em: <http://www.valor.com.br/brasil/5229017/so-46-dos-
filhos-de-pais-sem-instrucao-concluem-faculdade-diz-ibge>
23. “Brasil tem ‘pior governo do mundo’, segundo relatório de competitividade”. Veja, 30 maio 2016.
Disponível em: <http://veja.abril.com.br/economia/brasil-tem-pior-governo-do-mundo-segundo-
relatorio-de-competitividade/>
24. “Public trust in politicians”. Global Competitiveness Index 2017-2018. World Economic Forum.
Disponível em: <http://reports.weforum.org/global-competitiveness-index-2017-

outubro2018
Clube SPA

2018/competitiveness-rankings/#series=EOSQ041>
25. “Burden of government regulation”. Global Competitiveness Index 2017-2018. World Economic
Forum. Disponível em: <http://reports.weforum.org/global-competitiveness-index-2017-
2018/competitiveness-rankings/#series=EOSQ048>
26. “Efficiency of government spending”. Global Competitiveness Index 2017-2018. World Economic
Forum. Disponível em: <http://reports.weforum.org/global-competitiveness-index-2017-
2018/competitiveness-rankings/#series=EOSQ043>
27. OLIVEIRA, Júlio M. de; MIGUEL, Carolina Romanini. “Brasil, campeão mundial em burocracia fiscal”.
Jota – Direito Tributário, 15 abr. 2016. Disponível em: <https://jota.info/artigos/brasil-campeao-
mundial-em-burocracia-fiscal-19042016>
28. MACHADO, Tainara. “País é líder em encargo trabalhista, apesar de desoneração”. Valor Econômico,
10 mar. 2016. Disponível em: <http://www.valor.com.br/brasil/4474276/pais-e-lider-em-
encargo-trabalhista-apesar-de-desoneracao>
29. “Brasil é o quinto pior país do mundo para se começar um negócio”. R7 – Economia, 30 jun. 2017.
Disponível em: <https://noticias.r7.com/economia/brasil-e-o-quinto-pior-pais-do-mundo-para-se-
comecar-um-negocio-30062017>
30. FRAGA, Plinio. “Congresso brasileiro, mais caro do mundo na comparação com a produção de
riqueza, escarnece ao aumentar gastos em ano de recessão”. Yahoo Notícias, 27 fev. 2015.
Disponível em: <https://br.noticias.yahoo.com/blogs/plinio-fraga/congresso-brasileiro-mais-caro-
do-mundo-na-153545567.html>
31. ARAÚJO, Lívia. “Judiciário brasileiro é o mais caro do Ocidente”. Jornal do Comércio, 19 ago. 2015.
Disponível em: <http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=205486>
32. BATISTA, Henrique Gomes. “Brasil está entre os 10 piores países do mundo para se pagar
impostos”. O Globo, 31 out. 2017. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/economia/brasil-esta-
entre-os-10-piores-paises-do-mundo-para-se-pagar-impostos-22013675>
33. SORIMA NETO, João. “De 30 nações, Brasil oferece o menor retorno dos impostos ao cidadão”. O
Globo, 21 set, 2016. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/economia/de-30-nacoes-brasil-
oferece-menor-retorno-dos-impostos-ao-cidadao-17555653>
34. SCHWAB, Klaus (ed.). The Global Competitiveness Report 2014-2015. World Economic Forum.
Disponível em: <http://www3.weforum.org/docs/WEF_GlobalCompetitivenessReport_2014-
15.pdf>
35. Fonte: <http://reports.weforum.org/pdf/gci-2016-2017-
scorecard/WEF_GCI_2016_2017_Scorecard_EOSQ057.pdf>
36. COSTA, Daiane. “No Brasil, 92% dos lares têm celular, mas apenas 66% têm esgoto tratado”. O
Globo, 24 nov. 2017. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/economia/no-brasil-92-dos-lares-
tem-celular-mas-apenas-66-tem-esgoto-tratado-22108160>
37. Fonte: <http://www.snis.gov.br/downloads/diagnosticos/ae/2014/Diagnostico_AE2014.zip>
38. CALIXTO, Bruno. “17 milhões de pessoas não têm acesso a coleta regular de lixo no Brasil” Época –
Blog do Planeta, 17 fev. 2016. Disponível em: <https://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-
planeta/noticia/2016/02/17-milhoes-de-pessoas-nao-tem-acesso-coleta-regular-de-lixo-no-
brasil.html>
39. Unicef. Progress in drinking water and sanitation: 2014 update. Disponível em:
<http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/112727/1/9789241507240_eng.pdf?ua=1>
40. CNT. Boletim estatístico, jan. 2016. Disponível em:
<http://cms.cnt.org.br/Imagens%20CNT/BOLETIM%20ESTAT%C3%8DSTICO/BOLETIM%20ESTAT%C3%
%2001%20-%202016.pdf>
41. Caleiro, João Pedro. “As 10 economias mais fechadas do mundo (Brasil lidera)”. Exame – Economia,
13 set. 2016. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/economia/as-10-economias-mais-
fechadas-do-mundo-o-brasil-lidera/>
42. “Of legumes and liberalisation”. The Economist, 2 jun. 2016. Disponível em:

outubro2018
Clube SPA

<https://www.economist.com/news/americas/21701510-big-protectionist-economy-starts-open-
up-legumes-and-liberalisation>
43. CARNEIRO, Mariana; PRADO, Maeli. “Abertura a importados aumentaria poder de compra de
brasileiro em 8%, diz OCDE”. Folha de S.Paulo, 28 fev. 2018. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/02/abertura-a-importados-aumentaria-poder-
de-compra-de-brasileiro-em-8-diz-ocde.shtml>
44. Banco Mundial. Emprego e Crescimento: a Agenda da Produtividade. 2018.
45. “Perigos da percepção 2017”. Ipsos, 7 dez. 2017. Disponível em: <https://www.ipsos.com/pt-
br/perigos-da-percepcao-2017>
46. BARBON, Júlia. “9 em cada 10 brasileiros acham que estão entre metade mais pobre do país”. Folha
de S.Paulo, 6 dez. 2017. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/12/1940971-9-em-cada-10-brasileiros-acham-
que-estao-entre-metade-mais-pobre-do-pais.shtml>
47. ZANLORENSSI, Gabriel; FERREIRA, Lucas. “O seu salário diante da realidade brasileira”. Nexo, 11
jan. 2016. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/interativo/2016/01/11/O-seu-
sal%C3%A1rio-diante-da-realidade-brasileira>
48. “A cada 4 brasileiros, 1 não sabe que paga imposto no dia a dia, diz estudo”. Uol – Economia, 12 ago.
2015. Disponível em: <https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2015/08/12/25-
brasileiros-desconhecem-que-pagam-impostos-diz-pesquisa.htm>
49. CANZIAN, Fernando; SOARES, Marcelo. “3 entre 4 municípios do Brasil não são eficientes no uso de
recursos”. Folha de S.Paulo, 28 ago. 2016. Disponível em:
<http://temas.folha.uol.com.br/remf/ranking-de-eficiencia-dos-municipios-folha/3-entre-4-
municipios-do-brasil-nao-sao-eficientes-no-uso-de-recursos.shtml>
50. CANZIAN, Fernando. “70% dos municípios dependem em mais de 80% de verbas externas”. Folha
de S.Paulo, 27 ago. 2016. Disponível em: <http://temas.folha.uol.com.br/remf/ranking-de-
eficiencia-dos-municipios-folha/70-dos-municipios-dependem-em-mais-de-80-de-verbas-
externas.shtml>
51. MEDEIROS, Marcelo; SOUZA, Pedro. “Gasto público, tributos e desigualdade de renda no Brasil”. In:
Texto para discussão. Brasília; Rio de Janeiro: Ipea, jun. 2013. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_1844b.pdf>
52. FUCS, José. “A batalha contra os privilégios”. O Estado de S. Paulo, 8 out. 2016. Disponível em:
<http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,a-batalha-contra-os-privilegios,10000081057>
53. A fair adjustment: efficiency and equity of public spending in Brazil. Volume 1 – Overview (English).
Washington, D.C.: World Bank Group, 2017. Disponível em:
<http://documents.worldbank.org/curated/en/643471520429223428/Volume-1-Overview>
54. ZANLORENSSI, Gabriel; FERREIRA, Lucas. “O seu salário diante da realidade brasileira”. Nexo, 11
jan. 2016. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/interativo/2016/01/11/O-seu-
sal%C3%A1rio-diante-da-realidade-brasileira>
55. QUEIROZ, Hélio. 1001 coisas que aconteceram em Brasília e você não sabia. São Paulo: Senac, 2014.
56. MEDEIROS, Marcelo; SOUZA, Pedro. “Gasto público, tributos e desigualdade de renda no Brasil”. In:
Texto para discussão. Brasília; Rio de Janeiro: Ipea, jun. 2013. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_1844b.pdf>
57. PERRIN, Fernanda. “Filho do topo tem 14 vezes mais chance de seguir nele do que pobre ascender”.
Folha de S.Paulo, 15 dez. 2017. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/12/1943334-filho-de-rico-tem-14-vezes-mais-
chance-de-seguir-rico-do-que-pobre-ascender.shtml>
58. “Fatores socioeconômicos e condições da escola explicam 86% da nota do Enem”. Um novato em
ciência de dados, 7 abr. 2018. Disponível em:
<https://leosalesblog.wordpress.com/2018/04/07/fatores-socioeconomicos-e-condicoes-da-
escola-explicam-86-da-nota-do-enem/>

outubro2018
Clube SPA

59. GAVRAS, Douglas; BRANDÃO, Raquel. “Origem e anos de estudo definem renda”. O Estado de S.
Paulo – Economia &amp; Negócios, 6 jan. 2018. Disponível em:
<http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,origem-e-anos-de-estudo-definem-
renda,70002140872>
60. GÓES, Carlos. “Como as universidades públicas no Brasil perpetuam a desigualdade de renda: fatos,
dados e soluções”. Mercado Popular – Políticas Públicas, 18 maio 2016. Disponível em:
<http://mercadopopular.org/2016/05/como-as-universidades-publicas-no-brasil-perpetuam-a-
desigualdade-de-renda-fatos-dados-e-solucoes/>
61. MORGAN, Marc. Extreme and Persistent Inequality: New Evidence for Brazil Combining National
Accounts, Surveys and Fiscal Data, 2001-2015. Primeira conferência da WID.world na École
d’économie de Paris, dez. 2017. Disponível em: <http://wid.world/wp-
content/uploads/2017/12/113-Morgan-slides.pdf>
62. MEDEIROS, Marcelo; DE SOUZA, Pedro H.G.; DE CASTRO, Fábio Avila. “O topo da distribuição de
renda no Brasil: primeiras estimativas com dados tributários e comparação com pesquisas
domiciliares, 2006-2012”. Dados [on-line], vol. 58, n. 1, p. 7-36, 2015. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0011-52582015000100007&script=sci_abstract&tlng=pt>
63. “Desigualdade no Brasil”. Folha de S.Paulo, 8 jun. 2015. Disponível em:
<http://temas.folha.uol.com.br/desigualdade-no-brasil/numeros/pesquisa-com-dados-do-ir-
mostra-desigualdade-estavel-de-2006-a-2012.shtml>
64. ABRÃO, Ana Carla (Oliver Wyman); LISBOA, Marcos (Insper); CARRASCO, Vinicius (PUC-Rio). Renda
e produtividade nas duas últimas décadas. Série Panorama Brasil, 2018. Disponível em:
<https://www.insper.edu.br/conhecimento/wp-content/uploads/2018/04/Renda-Produtividade-
Panorama-Brasil.pdf>
65. Gráfico elaborado por Gabriel Nemer.
66. SUTTO, Giovanna. “Brasileiro trabalha 17 vezes mais que um inglês para comprar um chocolate”.
InfoMoney, 13 mar. 2018. Disponível em: <http://www.infomoney.com.br/minhas-
financas/consumo/noticia/7326895/brasileiro-trabalha-vezes-mais-que-ingles-para-comprar-
chocolate>
67. Emprego e crescimento: a agenda da produtividade (Portuguese). Washington, D.C.: World Bank
Group, 2018. Disponível em:
<http://documents.worldbank.org/curated/en/203811520404312395/Emprego-e-crescimento-a-
agenda-da-produtividade>
68. MEDEIROS, Marcelo; SOUZA, Pedro. “Gasto público, tributos e desigualdade de renda no Brasil”. In:
Texto para discussão. Brasília; Rio de Janeiro: Ipea, jun. 2013. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_1844b.pdf>
69. MARTELLO, Alexandro. “Gasto com servidores ativos e aposentados supera metade da arrecadação
em 24 de 26 estados, apontam dados do Tesouro”. G1 – Economia, 6 maio 2018. Disponível em:
<https://g1.globo.com/economia/noticia/gasto-com-servidores-ativos-e-aposentados-supera-
metade-da-arrecadacao-em-24-de-26-estados-apontam-dados-do-tesouro.ghtml>
70. MONTEIRO, Solange. “How Brazil’s taxes affect the poor”. The Brazilian Economy, FGV, 2014.
71. Fonte: <http://www.contasabertas.com.br/website/arquivos/12421>
72. ALVES, Murilo Rodrigues. “Governo gasta 39,2% de suas receitas no pagamento de servidores
públicos”. O Estado de S. Paulo, 26 mar. 2016. Disponível em:
<http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,governo-gasta-39-2-de-suas-receitas-no-
pagamento-de-servidores-publicos,10000023309>
73. MEDEIROS, Marcelo; SOUZA, Pedro. “Gasto público, tributos e desigualdade de renda no Brasil”. In:
Texto para discussão. Brasília: Rio de Janeiro: Ipea, jun. 2013. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_1844b.pdf>
74. Fonte: <http://seae.fazenda.gov.br/destaques/redistributiva/efeito_redistributivo_12_2017.pdf>
75. GUIMARÃES, Ligia. “Serviço público puxa desigualdade na Previdência”. Valor Econômico, 27 mar.

outubro2018
Clube SPA

217. Disponível em: <http://www.valor.com.br/brasil/4914686/servico-publico-puxa-


desigualdade-na-previdencia>
76. “Servidor aposentado custa o triplo de empregado privado”. iG – Brasil Econômico, 19 jul. 2017.
Disponível em: <http://economia.ig.com.br/2017-07-19/aposentadoria.html>
77. SALOMÃO, Alexa. “Gasto com 980 mil servidores é igual ao de todo o INSS”. O Estado de S. Paulo, 27
mar. 2016. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,gasto-com-980-mil-
servidores-e-igualao-de-todo-o-inss,10000023311>
78. LAPORTA, Taís. “Gasto brasileiro com Previdência é o mais alto entre países de população jovem”.
G1 – Economia, 16 jun. 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/gasto-
brasileiro-com-previdencia-e-o-mais-alto-entre-paises-de-populacao-jovem.ghtml>
79. JASPER, Fernando. “Aposentadoria de servidores públicos vai custar ‘um Brasil’ nas próximas
décadas”. Gazeta do Povo – Previdência, 4 out. 2017. Disponível em:
<http://www.gazetadopovo.com.br/politica/republica/aposentadoria-de-servidores-publicos-vai-
custar-um-brasil-nas-proximas-decadas-5nqxyjykdjjtvmlqhmqwoi11z>
80. JARDIM, Lauro. “Herdeiras da Guerra do Paraguai”. O Globo, 30 jan. 2018. Disponível em:
<https://blogs.oglobo.globo.com/lauro-jardim/post/herdeiras-da-guerra-do-paraguai.html>
81. MEDEIROS, Marcelo; SOUZA, Pedro. “Gasto público, tributos e desigualdade de renda no Brasil”. In:
Texto para discussão. Brasília; Rio de Janeiro: Ipea, jun. 2013. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_1844b.pdf> (grifo do autor)
82. ALEGRETTI, Laís. “Servidor aposentado custa o triplo de empregado privado”. Folha de S.Paulo, 24
out. 2016. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/10/1825555-servidor-
aposentado-custa-o-triplo-de-empregado-privado.shtml>
83. AFONSO, José Roberto Rodrigues. “IRPF de 2015 – Ocupações Profissionais: alguns rankings do
declarado pelos contribuintes”. Artigo publicado no caderno virtual do IDP, v. 2, n. 35 (2016).
Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,elite-estatal-ocupa6-das-10-
profissoes-mais-bem-pagas,10000081214>
84. AFONSO, José Roberto Rodrigues. “IRPF de 2015 – Ocupações Profissionais: alguns rankings do
declarado pelos contribuintes”. FGV/Ibre, out. 2016. Disponível em:
<http://portalibre.fgv.br/main.jsp?
lumPageId=402880811D8E34B9011D9CCBFDD1784C&contentId=8A7C82C5557F25F20157D859E461620
85. DE MACEDO, Deoclécio Leite. Tabeliães do Rio de Janeiro do 1º ao 4º Ofício de Notas: 1565-1822. Rio
de Janeiro: Arquivo Nacional, 2007.
86. Presidência da República. “Lei n. 8.935, de 18 de novembro de 1994”. Portal do Planalto. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8935.htm>
87. VAZ, Lúcio. “Apenas 10 cartórios arrecadam meio bilhão de reais por ano. Saiba onde eles ficam”.
Gazeta do Povo, 2 out. 2017. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/lucio-
vaz/2017/10/02/conheca-10-cartorios-que-arrecadam-meio-bilhao-de-reais-por-ano/>
88. MENEZES, Dyelle. “Faturamento de cartórios cresceu mais de 40% em 5 anos”. Poder 360, 24 abr.
2018. Disponível em: <https://www.poder360.com.br/governo/arrecadacao-de-cartorios-cresceu-
mais-de-40-em-5-anos/>
89. HAYEK, Friedrich. O caminho da servidão. São Paulo: LVM, 2017.
90. MCMILLAN, John. A reinvenção do Bazar: uma história dos mercados. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2005.
91. HAYEK, Friedrich. The Fatal Conceit: The Errors of Socialism. Chicago: University of Chicago Press,
1988.
92. THWAITES, Thomas. The Toaster Project. Disponível em: <http://www.thomasthwaites.com/the-
toaster-project/>
93. “How to Make a $1500 Sandwich in Only 6 Months”. How To Make Everything, 15 set. 2015.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=URvWSsAgtJE>
94. Artigo do Financial Times. Disponível em: <https://www.ft.com/content/af45d11e-65df-11de-

outubro2018
Clube SPA

8e34-00144feabdc0>
95. BEDÊ, Marco Aurélio (coord.). Os donos de negócio no Brasil: análise por faixa de renda (2003-2013).
Brasília: Sebrae, ago. 2015. Disponível em:
<http://www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/5233f8a3bfff4044344
96. LIRA, Adriano. “Empreendedor brasileiro estuda mais e trabalha menos do que na década passada”.
Pequenas Empresas &amp; Grandes Negócios, 15 dez. 2016. Disponível em:
<https://revistapegn.globo.com/MEI/noticia/2016/12/empreendedor-brasileiro-estuda-mais-e-
trabalha-menos-em-comparacao-decada-passada.html>
97. “Jornada de trabalho fecha ano abaixo de 40 horas semanais”. EM, 26 dez. 2015. Disponível em:
<https://www.em.com.br/app/noticia/economia/2015/12/26/internas_economia,720281/jornada-
de-trabalho-fecha-ano-abaixo-de-40-horas-semanais.shtml>
98. GUERRA, Giane. “Quase metade dos empresários trabalha mais de dez horas por dia”. Acerto de
Contas, 6 dez. 2013. Disponível em:
<http://wp.clicrbs.com.br/acertodecontas/2013/12/06/quase-metade-dos-empresarios-trabalha-
mais-de-dez-horas-por-dia/?
topo=52%2C1%2C1%2C%2C171%2Ce171&relatedposts_order=2&status=encerrado>
99. ABRÃO, Ana Carla (Oliver Wyman); LISBOA, Marcos (Insper); CARRASCO, Vinicius (PUC-Rio). Renda
e produtividade nas duas últimas décadas. Série Panorama Brasil, 2018. Disponível em:
<https://www.insper.edu.br/conhecimento/wp-content/uploads/2018/04/Renda-Produtividade-
Panorama-Brasil.pdf>

outubro2018

Você também pode gostar