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VIRTUDE
DO
NACIONALISMO
YORAM HAZONY
MINHA ARGUMENTAÇÃO APONTA para uma série
decisiva de vantagens de se organizar o mundo político em
torno de Estados nacionais independentes. Dentre outras
coisas, defendo que esse modo de organização é o que ofe
rece as melhores condições para a autodeterminação
coletiva dos povos; que ele inculca nas pessoas uma aver
são à conquista por parte de nações estrangeiras, e abre as
portas para uma tolerância maior para com diversos tipos
de vida; e que ainda estabelece uma competitividade s u r
preendentemente produtiva entre as nações, na medida
em que cada uma luta por promover o máximo possível
suas capacidades e as de seus membros individuais. Além
disso, considero que as fidelidades mútuas e sólidas, que
estão sempre no coração de um Estado nacional, nos dão o
único fundamento possível para o crescimento das livres
instituições e das liberdades individuais.
— YORAM HAZONY
A virtude do nacionalismo
Yoram Hazony
I o edição — setembro de 2019 — c e d e t
Título original: The Virtue ofNationalism.
Copyright © 2018 by Yoram Hazony
Esta edição foi publicada em acordo com a Basic Books de Nova York, n y .
Editor:
Thomaz Perroni
Tradução:
Evandro Fernandes de Pontes
Revisão:
José Lima
Letícia de Paula
Luiz Fernando Alves Rosa
Jéssica Cardoso
Preparação do texto:
Letícia de Paula
Capa:
Gabriella Regina
Diagramação:
Virgínia Morais
Conselho editorial:
Adelice Godoy
César Kyn d’Ávila
Silvio Grimaldo de Camargo
FICHA CATALOGRÁFICA
Hazony, Yoram
A virtude do nacionalismo / Yoram Hazony; tradução de Evandro Fernandes de Pontes
— Campinas, SP: v i d e Editorial, 2019.
ISBN : 978-85-9507-073-8
1. Ciência política 2. Nacionalismo
I. Título. II. Autor.
cdd — 3 2 0 / 320.54
ÍNDICE PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO
Tech elet
E f r a im
Ya r d e n a
H a d a r A h ia d
G a v r ie l
B in y a m in Z e ’e v N e t z a h
Yo se f
E l ia h u
Sumário
PARTE I
O nacionalismo e a liberdade ocidental
PARTE II
Defesa do Estado nacional
Agradecimentos....................................................................... 229
A
ntes de conhecer o professor Hazony pessoalmente, dei o
primeiro passo e conheci a sua obra — não apenas esta, mas
todo o seu pensamento — para então remontar o seu percur
so intelectual. Ato contínuo, voltei a esta obra e selecionei os textos
que julguei centrais para o pensamento do autor: John Stuart Mill,
Giuseppe Mazzini, Immanuel Kant, John Locke, Thomas Hobbes,
Johann Gottfried von Herder, Emer de Vattel,Theodore Herzl, Ludwig
von Mises e, last but never the least, as Escrituras Sagradas.
Fiz questão de estudar essas obras centrais para Hazony nos res
pectivos detalhes — isto é, fiz um esforço hercúleo para me colocar na
posição do próprio autor até onde fosse possível. Boa parte dos livros
usados por ele (Mill, Kant, Burke, Locke, Hobbes e Mises) possuem
traduções para o português que oscilam entre o razoável e o bem
feito. Embora Mill, Locke, Burke e Hobbes tenham sido citados no
original, dei-me ao trabalho de buscar as traduções dos trechos citados
e reproduzi-las sempre que fossem seguras e consolidadas, em vez de
traduzir os trechos eu mesmo. Em apenas um dos casos tive que fazer
reparos, em nota.
Deram-me um trabalho mais complexo, no entanto, as obras de
que o autor lançou mão em versões não originais, mas traduzidas:
refiro-me a Mazzini, Herder, Mises e Kant. Consultei três versões para
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A VIRTUDE DO NACIONALISMO
li
YORAM HAZONY
12
INTRODUÇÃO
Um retorno ao nacionalismo
A
política na Grã-Bretanha e nos eua deu uma guinada para
o nacionalismo. Isso incomodou muitos, especialmente nos
círculos mais intelectualizados, onde a integração global vem
desde há muito sendo vista como um pré-requisito para políticas
sólidas e uma decência moral. A partir dessa perspectiva, o voto da
Grã-Bretanha para deixar a União Européia e a retórica “América em
primeiro lugar”, vinda de Washington, dc , parecem anunciar a reversão
para um estágio mais primitivo da história, quando o belicismo e o
racismo eram verbalizados abertamente e permitidos justamente para
pautar a agenda política das nações. Temendo o pior, figuras públicas,
jornalistas e acadêmicos deploraram a volta do nacionalismo para a
vida pública dos eua e Grã-Bretanha nos termos mais duros possíveis.
Mas o nacionalismo nem sempre foi entendido como o mal que
esse discurso corrente do senso comum vem sugerindo. Até poucas
décadas atrás, uma política nacionalista era comumente associada
a uma mentalidade aberta e um espírito generoso. Progressistas
reconhecem os Catorze Pontos de Woodrow Wilson e a Carta do
Atlântico de Franklin Roosevelt e Winston Churchill como faróis
de esperança para a humanidade — e justamente porque eles foram
considerados expressões de nacionalismo, prometendo independência
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A VIRTUDE DO NACIONALISMO
política obscura qualquer, que invade países sem razão alguma ou sem
o fundamento de um bom propósito, como muitos nos eua e na Grã-
-Bretanha parecem pensar hoje em dia. É, pelo contrário, uma teoria
política familiar sob a qual muitos deles foram educados — uma teoria
sobre como o mundo político deve ser organizado.
Sobre o que fala, portanto, essa teoria política nacionalista? O na
cionalismo em meio ao qual cresci é um ponto de vista fundamentado
na idéia de que o mundo é mais bem governado quando as nações
estão em condições de traçar seu caminho de forma independente,
cultivando suas próprias tradições e buscando seus próprios interesses
sem qualquer interferência. Isso se opõe ao imperialismo, que busca
trazer a paz e a prosperidade ao mundo, unificando a humanidade,
na sua máxima extensão possível, sob um único regime político. Não
suponho que a questão do nacionalismo seja inequívoca. Ponderações
podem ser reunidas em favor de ambas as teorias. Mas o que não se
pode fazer sem que se escamoteie argumentos é evitar a escolha entre
essas duas posições: ou você defende, em princípio, o ideal de um
governo ou regime internacional que imponha a sua vontade sobre
nações submetidas a esse mesmo regime em todas as ocasiões em que
seus líderes entendam ser necessário; ou você acredita que as nações
devem ser livres para estabelecer elas mesmas seus próprios destinos
na ausência desse governo ou regime internacional.3
Esse debate entre nacionalismo e imperialismo tornou-se aguda
mente relevante novamente a partir da queda do Muro de Berlim em
1989. Naquele tempo, a luta contra o comunismo havia se encerrado
e as mentes dos líderes ocidentais foram invadidas por dois grandes
3 Minha definição de nacionalismo baseia-se em uma tradição de pensamento explanada por
Mill, que diz que “uma condição necessária para a existência das instituições livres é, em
geral, a correspondência aproximada entre as fronteiras dos governos e as fronteiras das
nacionalidades” . John Stuart Mill, Considerações sobre o governo representativo (p. 283).
Da mesma forma, Mazzini diz que “com a exceção da Inglaterra e da França, talvez não
exista uma única nação cujos confins correspondam àquele desenho [divino] [...]. As divi
sões naturais e inatas, as espontâneas tendências dos povos serão substituídas por divisões
arbitrárias sancionadas por maus governos. O mapa da Europa será redesenhado. Pátrias
pertencentes aos povos surgirão, com base na escolha daqueles que são livres” . Giuseppe
Mazzini, I Doveri Dell’Uomo. A tradicional associação do nacionalismo a visões desse tipo
vem sendo confundida com a proliferação de novas definições avançadas na Academia.
Dentre estas, talvez a mais próxima da visão tradicional seja a de Ernst Gellner, que sugere
que o nacionalismo é um “princípio político, que sustenta que a unidade política e nacional
seja congruente” . Gellner, Nations and Nationalism, Oxford, uk : Blackwell, 1983, p. 1.
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Sobre o ponto de vista de Thatcher, veja o seu Discurso no College of Europe (“The
Bruges Speech” ), em 20 de setembro de 1988; Margaret Thatchei; Statecraft, Nova York:
HarperCollins, 2002), pp. 320-411.
Do original em inglês “ openness” , termo inspirado no popperismo das Open Societies. — nt
Em relação à hesitação entre os imperialistas em relação ao uso desse termo, Thomas
Donnelly lembra: “ N ão há tantas pessoas que falarão abertamente sobre isso [...] é
desagradável para muitos americanos. Eles apenas usam frases de efeito como ‘Os eua são
uma superpotência’” . Thomas E. Ricks, “Empire or Not?”, Washington Post, 21 de agosto de
2001. N ão obstante, depois do ataque da Al-Qaeda de 11 de setembro, ambos, proponentes
e oponentes começaram a falar mais enfaticamente de império. V. M ax Boot, “The Case for
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American Empire” , Weekly Standard, 15 de outubro de 2001; Stephen Peter Rosen, “An
Empire If You Can Keep It” , National Interest (Spring 2002); Stanley Kurtz, “ Democratic
Imperialism: The Blueprint” , Policy Review (Maio de 2003); Herfried Münkler, Empires,
trad.: Patrick Camiller (Malden, m a : Polity, 2007 [2005]); Niall Ferguson, “America as
Empire, Now and in the Future” . The National Interest (23 de junho de 2008). Opinião mais
crítica aparece em Andrew Bacevich, American Empire (Cambridge, m a : Harvard University
Press, 2002); Michael Ignatieff, “The American Empire” . Nova York Times Magazine, 5 de
janeiro de 2003; John Judis, The Folly o f Empire (Nova York: Scribner, 2004). Para uma
formulação de ordem política universal que não use o termo “ império” , veja, dentre outros,
Alexander Wendt, “Why a World State is Inevitable” , European Journal o f International
Relations 9 (2003), 491-542; Anne-Marie Slaughter e Jonh Ikenberry, Forging a World o f
Liberty Under Law (Princeton, n j : Woodrow Wilson School, Princeton University, 27 de
setembro de 2006).
Autores contemporâneos defendem uma ordem de Estados nacionais independentes ou
aspectos dessa mesma ordem, incluindo Roger Scruton, “ In Defense of the Nation” in The
Philosopher on Dover Beach (Nova York: St. Martin’s Press, 1990, pp. 299-328); David
Miller, Nationality (Oxford, UK: Oxford University Press, 1992); Gertrude Himmelfarb,
“The Dark and Bloody Crossroads: Where Nationalism and Religion Meet” , The N ational
Interest 32 (Summer 1993), pp. 53-61; Margaret Canovan, Nationhood and Political Theory
(Northampton, MA: Edward Elgar, 1996); Lenn Goodman, “The Rightsand Wrongs of
Nations”, in Judaism , Human Rights, and Human Values (Oxford, UK: Oxford University
Press, 1998, pp. 137-161); John Bolton, “ Should We Take Global Govemance Seriously?” ,
Chicago Journal o f International Law 1 (2000); David Conway, In Defense o f the Realm
(Hampshire, uk : Ashgate, 2004); Jeremy Rabkin, Law Without N ations? (Princeton, n j :
Princeton University Press, 2005); Pierre Manent, A World Beyortd Politics? (Princeton, n j :
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que seja clara e a mais ampla possível, tratarei por “globalismo” aquilo
que obviamente ele é — uma versão do velho imperialismo. No mesmo
sentido, não vou perder tempo tentando fazer o nacionalismo mais
palatável chamando-o de “patriotismo” , como muitos hoje o fazem em
círculos onde o nacionalismo é considerado como algo inconveniente.
Normalmente, patriotismo se refere ao amor ou à lealdade que alguém
sente pela sua própria nação independente.*9 O termo nacionalismo
pode ser usado nesse mesmo sentido quando falamos de Mazzini como
um nacionalista italiano ou de Gandhi como um nacionalista hindu.
M as nacionalismo pode, da mesma forma, ser algo mais abrangente.
Há, como venho dizendo, uma longa tradição de uso desse termo para
se referir a uma teoria da melhor ordem política — qual seja, a uma
teoria anti-imperialista que busca estabelecer um mundo composto de
nações livres e independentes. É nesse sentido que o termo será usado
neste livro.
Uma vez que os eventos sejam vistos à luz desse longo histórico de
conflito irreconciliável entre duas posições sobre a ordem política, o
assunto como um todo se torna bem mais fácil de ser compreendido,
e uma conversa mais inteligente pode daí surgir.
Meu esquema de argumentação será o seguinte: na primeira parte
do livro, “ O nacionalismo e a liberdade ocidental” , estabeleço uma
configuração histórica básica para se compreender o confronto entre
imperialismo e nacionalismo, tal qual se desenvolveu entre as nações
do Ocidente. Apresento assim a diferença entre uma ordem política
baseada no Estado nacional, que busca legislar sobre uma única nação,
e aquela cuja proposta é trazer paz e prosperidade pela união de toda
a humanidade sob um único regime político em um Estado imperial.10
Princeton University Press, 2006); Natan Sharansky, Defending Identity (Nova York: Public
Affairs, 2008); John Fonte, Sovereigrtity or Submission (Nova York: Encounter, 2011); Dani
Rodrik, The Globalization Paradox (Nova York: Norton, 2011); Bemard Yack, Nationalism
and the M oral Psychology o f Community (Chicago: University of Chicago Press, 2012);
Amitai Etzioni, “The Democratization Mirage” , Survival: G lobal Politics and Strategy 57
(julho de 2015, pp. 139-156).
9 V. John Breuilly, Nationalism and the State, Chicago: University of Chicago Press, 1982, p.
8.
10 Evitei o termo “nação-Estado” , freqüentemente compreendido como a nação que consiste
no conglomerado de indivíduos vivendo em determinado Estado. Para a relação entre nação
e Estado, v. os cap. 9 e 10.
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11 Aqui e ao longo deste livro, considero o liberalismo como uma teoria política racionalista
baseada na suposição de que os seres humanos são livres e iguais por natureza, e essa
obrigação para com o Estado e outras instituições surge por meio do consentimento dos
indivíduos. Como o liberalismo é uma teoria racionalista, seus preceitos devem ser universais,
isto é, aplicáveis em todos os tempos e lugares. Às vezes é útil referir-se especificamente
ao “liberalismo clássico” , que, além disso, propõe que a motivação política humana esteja
grandemente preocupada em proteger a vida e a propriedade.
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YORAM HAZONY
Muito ainda permanece incerto acerca do exato curso que está fa
zendo renascer o nacionalismo na Grã-Bretanha e nos e u a , e que outras
nações estão assumindo. Mas seja qual for a direção que os ventos
políticos possam ainda tomar, é certo que a falha sísmica desnudada
no coração da vida pública do Ocidente não irá mais se esvanecer. A
política das nações está se rearranjando no espaço deixado por esse
abalo sísmico, separando aqueles que queriam conservar as vetustas
fundações nacionalistas de nosso mundo político daquelas elites educa
das que têm, sob certo grau, se tornado comprometidas com um futuro
sob uma ordem imperial. Neste momento, portanto, dificilmente há um
tema que demanda tanta atenção e cuidado quanto essa divergência
entre nacionalismo e imperialismo.
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PARTE I
P
or séculos, a política nas nações ocidentais foi caracterizada por
uma luta entre duas visões antitéticas de ordem mundial: uma
ordem de livres e independentes nações, cada qual buscando o bem
político de acordo com a sua própria tradição e entendimentos; e uma
ordem de pessoas unidas sob um único regime jurídico, promulgado e
mantido por uma única autoridade supranacional. Em recentes gera
ções, a primeira visão foi representada por nações como a índia, Israel,
Japão, Noruega, Coréia do Sul, Suíça — e, claro, pela Grã-Bretanha, no
despertar de sua virada pela independência. A segunda visão foi tomada
pela maioria das lideranças da União Européia, que reafirmou o seu
compromisso com o conceito de uma “ união ainda mais estreita” entre
as pessoas naquele Tratado de Maastricht, em 1992, e assim procedeu,
desde então, para introduzir as leis e a moeda da Comunidade Européia
na maioria das nações, exigindo livres movimentações de povos entre
a maioria desses Estados-membros.12 Os e u a , comprometidos desde a
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A VIRTUDE DO NACIONALISMO
habitaram em paz nos domínios por mim forjados” .16 E isso não era
nenhuma pretensão ambiciosa. Pondo fim aos períodos de guerra em
vastas regiões e aproveitando suas respectivas populações para o traba
lho agrícola produtivo, os poderes imperialistas estavam de fato aptos
a trazer para milhões um estado de paz relativa e pôr fim às ameaças
de fome. Não é de se admirar que naquele tempo os legisladores im
periais do mundo antigo viam suas próprias funções, nas palavras do
Rei babilônico Hamurabi, como responsáveis por “ submeter quatro
quartos do mundo à absoluta obediência” . Aquela obediência foi feita
para salvar o mundo da guerra, de doenças e da possível fome.17
Ainda assim, apesar das vantagens econômicas óbvias de uma paz
egípcia ou babilônica que unificasse o mundo, a Bíblia nasceu de uma
profunda oposição a esses mesmos planos. Para os profetas de Israel,
o Egito foi “ a casa dos escravos” e eles não pouparam palavras para
lamentar a crueldade e o derramamento de sangue envolvidos nas
conquistas e governos imperiais — que recorreríam à escravidão, ao
assassinato, à exploração de mulheres e à violação de propriedades.18
Tudo isso, os profetas de Israel debateram com base na idolatria egípcia
— da submissão aos deuses que justificava quaisquer sacrifícios para
o avanço dos domínios da paz imperial, assegurando a produção de
grãos em sua capacidade máxima.
Havia uma alternativa viável para esse império universal? O Oriente
Médio antigo já tinha muita experiência com o poder político local
na forma das cidades-Estado. Mas na maior parte, elas eram inúteis
diante de exércitos imperiais e do ideário de um império universal que
os sustentava. É na Bíblia que encontramos a primeira apresentação
razoável de uma possibilidade diferente: uma ordem política baseada
na independência de uma nação que vivesse dentro de fronteiras limi
tadas ao lado de outras nações independentes.
lé Apud Harold Nicolson, Monarchy, London: Weidenfeld and Nicolson, 1962, p. 20.
17 Tradução de G. R. Driver and John C. Miles para o The Code o f Hammurabi, Oxford,
UK: Clarendon, 1955, qual seja, O código de Hamurabi; James B. Pritchard [organizador],
Ancient Near Eastern Texts, Princeton, n j : Princeton University Press, 1969, p. 163.
18 Sobre o termo “casa dos escravos” , v. Êxodo 13, 3; 20, 2; Deuteronômio 5, 6. [O termo
original é »3TD yn, qual seja, Beit Yvarim. — n t ]
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15 Neste livro, faço a distinção entre a nação e as tribos e clãs que, juntos, constituem a nação.
Usarei a palavra povo (people) mais abertamente para me referir a agrupamentos nacionais,
tribais ou de clãs sem referência a sua escala. Sobre isso, v. o cap. 9.
20 Sobre o antigo Reino de Israel como um Estado nacional clássico, v. Hans Kohn, The Idea of
Nationalism (Toronto: Collier, 1944, pp. 27-30); Steven Grosby, Biblical Ideas ofNationality
(Winona Lake, in : Eisenbrauns, 2002); Anthony Smith, Chosen Peoples (Oxford, u k : Oxford
University Press, 2003); Aviei Roshwald, The Endurance o f Nationalism (Cambridge, u k :
Cambridge University Press, 2006, pp. 14-22); David Goodblatt, Elements o f Ancient
Jewish Nationalism (Cambridge, u k : Cambridge University Press, 2006, pp. 21-26); Doron
Mendels, The Rise and Fali o f Jewish Nationalism (Nova York: Doubleday, 1992). Com
efeito, a história bíblica de Israel não retrata o Estado nacional como ideal. A preferência
inicial de Deus é que a unidade nacional israelita seja alcançada sob a ordem de tribos e
clãs, sem um governo permanente. É o fracasso desta ordem no livro de Juizes que faz Deus
consentir no estabelecimento de um Estado. V. Juizes, esp. 17-21 e 1 Samuel 8; Hazony,
The Philosophy ofHebrew Scripture, pp. 144-154.
21 A respeito do rei, v. Deuteronômio 17,15 e Jeremias 30,21; sobre os profetas, v. Deuteronômio
18,15-18; sobre os sacerdotes ensinando os reis, v. Deuteronômio 17,18-20. [No original,
ao fim desta nota o autor destaca: “Todas as traduções a partir da Bíblia Hebraica são de
minha responsabilidade” . De minha parte, trouxe para mim essa responsabilidade,evitando
transpor do inglês para o português um texto cujo sentido originalmente está no hebraico.
Imitando aqui o autor no trabalho de traduzir direto do hebraico, cheguei a uma conclusão
que se aproxima bem do termo usado por Hazony no inglês: so that his thought. Na versão
de Gorodovits & Friedlin (op. cit., idem, p. 531; Deuteronômio 17,15) o trecho vai assim
traduzido: “ a fim de que o seu coração não se eleve sobre seus irmãos” . É também o que
se extrai da versão católica da Bíblia. A diferença (e, talvez, a chave de compreensão) está
no termo 'apl (levavoh), literalmente “coração” , mas que pode dar origem, por exemplo,
ao verbo 'asifi (livcôt), o que autoriza uma tradução desprendida do sentido literal ou
fisiológico do órgão, para uma conotação mais expandida e literariamente metonímica para
traduzir então o que ele representa e nem tanto o que é: sentimentos (todos, sem exceção e
sem hierarquia). — n t ]
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que são uma herança de sua nação e jamais sujeitas a seus caprichos.
Nem mesmo pode nomear para o sacerdócio, fazendo assim a lei e a
religião subservientes ao seu arbítrio. Além disso, a lei Mosaica limita
o direito do rei de tributar e escravizar pessoas, da mesma forma que
as fronteiras de Israel evitam que o rei se lance em aventuras ou sonhos
de conquista universal.24
É importante notar que a concepção israelense de nação nada
tem a ver com biologia, ou com aquilo que se convencionou chamar
de raça.25 Para as nações bíblicas, tudo depende de uma compreensão
compartilhada transmitida de pai para filho — de história, língua e
religião, uma religião, aliás, à qual outros outsiders podem se juntar.
Assim, no livro do Êxodo ensina-se que haviam muitos egípcios que
se afeiçoaram e se ligaram aos escravos hebreus em fuga do Egito, e
assim teriam recebido os Dez Mandamentos (mais bem traduzidos
como os Dez Pronunciamentos)26 no Sinai com o restante do povo de
24 Deuteronômio 17, 14-20.
25 O termo “raça” não assumiu o sentido que tem hoje em dia, restrito a concepções biológicas,
que teve início a partir dos fins do século xix. Depois da Segunda Guerra Mundial,
termos como “ etnia” e “grupo étnico” foram criados para substituir o termo, que havia
se contaminado por sua associação com as teorias raciais nazistas. Azar Gat, Nations.
Cambridge, Reino Unido: Cambridge University Press, 2013, p. 27.
26 Segundo versão do Tattah de Gorodovits & Friedlin (op. cit., idem, p. 509; Deuteronômio
10,4), a tradução para o que se convencionou chamar no mundo lusófono como “ Os Dez
Mandamentos” não é tão simples. Há no Livro do Deuteronômio, o Devarim do Torah,
duas passagens importantíssimas para o termo: 5 ,9 e 10,4. Neles, os vocábulos usados no
texto original em hebraico são diferentes. Para que se possa compreender a dimensão do
exemplo dado por Hazony, é necessário conhecer ambas as passagens no original da Torah.
Em 5 ,9 , a passagem em que Ele diz, segundo a Bíblia católica “e uso de misericórdia com
milhares dos que me amam e guardam meus Mandamentos” e que segundo a versão de
Gorodovits & Friedlin seria “ e faço misericórdia até duas mil gerações dos que me amam
e aos que guardam meus preceitos” é referida no original em relação aos “ preceitos” ou
“ mandamentos” como mitzvat (fiyn?). São as “ obrigações” do pacto do Povo com Deus.
É exatamente o mesmo termo usado quando Moisés se refere a tais obrigações em 8, 1.
Contudo, em 10,4, na passagem em que Moisés reforça a importância de cumprimento do
pacto, em que os católicos lêem em sua versão na Bíblia: “Então o Senhor escreveu nas tábuas
conforme a primeira escritura, os dez mandamentos [...]” e Gorodovits & Friedlin traduziram
como “e escreveu sobre as tábuas como a primeira escritura, os dez pronunciamentos [...]” ,
a palavra usada é exatamente a que abre o livro, HaDevarim (/rpTfl), qual seja, literalmente
as dez palavras, o que pode ser mais bem traduzido por dez sentenças ou, uma melhor opção
de acordo com Gorodovits 8c Friedlin, dez pronunciamentos. Portanto, ambas as palavras
utilizadas para absorver a compreensão do conteúdo desse pacto (mitzvat ou devarim) teriam
sua pior tradução pelo termo impositivo “ mandamento” . O contexto original sugere ao
leitor que há aí não uma ordem, mas sim, de fato, um pacto, cuja adesão marcou o destino
do Povo de Israel por toda a eternidade — é, literalmente, um compromisso de um povo
com o Eterno. — nt
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27 Diz-se que os não-judeus se juntaram a Israel durante o êxodo do Egito, cf. Êxodo 12,38,
Números 11, 4. Para Jetro, v. Números 10, 29 e Rute 1 ,1 6 . A punição mosaica do karet,
sendo “cortado” do povo, é especialmente voltada para aqueles que não participam dos
aspectos mais básicos da nacionalidade israelita: circuncisão (Gênesis 17, 14); jejum no
Yom Kippur, o Dia do Perdão (Êxodo 12,15.19); e manter a “ pureza” sexual (Levítico 18,
1-29). V. também Números 15, 31; Mishna Keritot 1 ,1 ; Maimonides, Comentários sobre
o Mishna para Keritot 1:1, que oferece uma lista mais extensa, incluindo o resguardo do
Shabat e a Páscoa (Pesach).
28 Políbio, H istória, 5.104. Em contrapartida, relata que Fiilipe n da M acedônia
desdenhosamente declarou: “ Que Grécia é esta que vocês exigem que eu abandone?” (18.5).
Expressões de lealdade à nação grega como um todo também podem ser encontradas em
Heródoto e Isócrates, entre outros. V. Roshwald, The Endurance ofNationalism, pp. 26-30.
Mas nenhum Estado nacional grego, nem um trabalho filosófico ou literário descrevendo
tal Estado nacional unido parece ter existido. Para discussão dos Estados nacionais da
antiga Edom, Aram e Armênia, v. Grosby, Biblical Ideas o f Nationality, pp. 120-165.
Uma pesquisa mais ampla sobre antigos Estados nacionais no Oriente Médio e na Ásia
pode ser encontrada em Azar Gat, Nations, pp. 89-110. [Do original em Políbio (18.5.5),
“ètcxcopeív 'EÀÂáôoç m i n&ç âipopíCete raúrrçv” ; (Qual Grécia é esta que devo abandonar e marcar
os limites?) — NT]
33
YORAM HAZONY
29 Como Cícero, estadista e filósofo romano, dizia: “ não serão leis diferentes em Roma ou
Atenas, ou leis diferentes agora e no futuro, mas uma lei eterna e imutável será válida para
todas as nações e para todos os tempos” . República, 3:33. O estoicismo está intimamente
relacionado à idéia de uma “cidadania mundial” ou cosmopolitismo, descendente de
Diógenes, o cínico. V. Malcolm Schofield, The Stoic Idea o f tbe City, Cambridge, u k :
Cambridge University Press, 1991; Julia Annas, The Morality o f Happiness, Oxford, u k :
Oxford University Press, 1993, pp. 159-179. [Do original em M. T. Cícero (3.33), “ [...]
nec erit alia lex Romae, alia Athenis, alia nunc, alia posthac, sed et omnes gentes et omni
tempore una lex et sempiterna et imtnutabilis continebit [...]” . — nt ]
30 Sobre a busca romana do império universal e a adoção desse objetivo imperial romano pelo
cristianismo, v. Anthony Pagden, Lords ofA ll tbe World, New Haven, CT: Yale University
Press, 1995, pp. 11-62. Sobre a ordem cristã na Europa e sua busca por uma “ paz cristã” ,
v. Garrett Mattingly, Renaissance Diplomacy, Nova York: Dover, 1988.
31 O leitor brasileiro não pode confundir o trecho original de Hazony, quando o autor se refere
ao termo grego original KadoXiKÓç [k atb ólikos], que significa literalmente “universal” , com
aquela religião neopentecostal autodenominada no Brasil como “Igreja Universal” , “ Igreja
Universal do Reino de Deus” , “ iu r d ” ou simplesmente “Universal” . — NT
32 Como dizia o sultão otomano Mehmed, o Conquistador, aparentemente depois de ter
tomado Constantinopla para o Islã em 1453, “ deve haver apenas um império, uma fé e
uma soberania no mundo” . Franz Babinger, Mehmed tbe Conqueror o f his Time, trad.:
Ralph Manheim, Princeton, n j : Princeton University Press, 1978 (1953), p. 112. Após a
queda de Constantinopla, a Rússia reivindicou ser a “ Terceira Roma” e protetora de todo
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A VIRTUDE DO NACIONALISMO
o cristianismo, que também deu origem a uma longa tradição de um império universal
russo. V. Smith, Chosen Peoples, pp. 98-106; Henry Kissinger, World Order, Nova York:
Penguin, 2014, pp. 51-59. [Há uma versão para o português da obra de Kissinger pela
Editora Objetiva, traduzida por Cláudio Figueiredo com o título Ordem Mundial (São
Paulo, 2015), cujo trecho citado por Hazony corresponde às pp. 41-48 (subcapítulo “ O
enigma russo” ao cap. 2). — nt ]
33 Sobre o desenvolvimento dos Estados nacionais na Europa cristã e a ausência de tais Estados
sob o Islã, v. Grosby, Biblical Ideas o f Nationality, 6, n. 17.
34 Como salientou Hastings: “ O Antigo Testamento forneceu o paradigma. Nação após nação
aplicou-o para si, reforçando sua identidade em um processo” . Hastings, The Construction
o f Nationhood, 196. Na França, v. Joseph Strayer, “France: The Holy Land, the Chosen
People, and the Most Christian King” , em Medieval Statecraft and Perspectives ofH istory,
John Benton and Thomas Bisson, orgs. (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1971,
pp. 300-314). Sobre os tchecos, v. Howard Kaminsky, A History ofthe Hussite Revolution
(Berkeley: University of Califórnia Press, 1967); Derek Sayer, The Coasts o f Bohemia
(Princeton, NJ: Princeton University Press, 1998).
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YORAM HAZONY
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A VIRTUDE DO NACIONALISMO
37 E assim ninguém impediu Luís xiv, o “ Rei Sol” , de buscar um império universal sponte
própria no dia seguinte. V. Franz Bosbach, “The European Debate on Universal Monarchy ”
In David Armitage (org.), Theories o f Empire, 1450-1800, Nova York: Routledge, 1998,
pp. 81-98.
38 Bula Papal Zelo Domus Dei, 26 de novembro de 1648. Tradução minha.
39 Os três tratados da Westfália não anunciam uma nova ordem política. Eles ainda se referem
à Europa como uma respublica Christiana universal — uma República mundial cristã. Este
ponto é discutido longamente por Croxton, sugerindo que a interpretação dos tratados
tenha sido responsável por dar origem a um sistema “westfaliano” de Estados soberanos,
ignorado na literatura de relações internacionais até que Pierre-Joseph Proudhon o apontasse
em 1863. Derek Croxton, Westphalia. Nova York: PalgraveMacMillan,2013,pp. 339-362.
Como é evidente, Vattel já havia escrito sobre um sistema de Estados supostamente “ iguais”
e “soberanos” na Europa de 1758, um século depois dos tratados da Westfália, mas a opinião
de Croxton está basicamente certa: o que mais tarde seria chamado de sistema westfaliano
está longe de ser a única visão possível da ordem emergente durante a Guerra dos Trinta
Anos.
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vida política da Europa foi reconstruída com base nos dois princípios
a seguir, ambos com origem no Antigo Testamento:
1. O mínimo moral necessário para a legitimidade de um governo.
Primeiro: o rei ou governante, para estabelecer uma regra de direito,
deve dedicar-se à proteção de seu próprio povo, incluindo suas vidas,
as de suas famílias e suas respectivas propriedades, fazendo justiça
nos tribunais pela manutenção do dia de descanso (shabat) e pelo
público reconhecimento de um único Deus — praticamente os Dez
Mandamentos passados no Sinai, considerados por Lutero e Calvino
como leis naturais que deveríam ser reconhecidas por todos os homens.
Tais mandamentos eram considerados a fonte dos requisitos mínimos
para uma vida pessoal livre e digna para todos. Um governo incapaz
de manter esse mínimo moral era um governo falho quanto a sua
obrigação mais básica para o bem-estar de seu povo.40
2. O direito de uma autodeterminação nacional.
Segundo: as nações coesas e suficientemente fortes a ponto de assegu
rar sua independência política deveríam doravante ser consideradas
como detentoras do que mais tarde seria designado como o direito à
autodeterminação, pelo qual definiu-se o direito de se autogovernarem
sob suas próprias constituições nacionais e igrejas, sem a interferência
de um poder estrangeiro. Na medida em que a existência de requisitos
naturais mínimos para a manutenção de uma sociedade civilizada
era aceita, e que, de acordo com o primeiro princípio, tais requisitos
alinhavam todos os governos, não era esperado que as nações se tor
nassem todas homogêneas em suas formas de pensar, suas leis ou seus
modos de vida.41
40 O jurista inglês Matthew Hale, um discípulo de Selden, escreve que embora Deus tenha dado
os Dez Pronunciamentos “ a uma nação em particular, à igreja judaica, contudo fez com que
aquele sinal para aquela nação ficasse evidente e conspícuo para todo o mundo por meio de
símbolos, maravilhas e a providência observável, que funcionariam como um farol em uma
colina, como uma poderosa e imponente coluna criada no meio do mundo para sustentar as
tábuas da justiça natural, que poderíam ser visíveis e legíveis para a maior parte do mundo
gentio de muitas eras” . Matthew Hale, Treatise ofthe Nature ofthe Law in General, apud
Richard Tuck, Natural Rights Theories, Cambridge, u k : Cambridge University Press, 1979,
p. 163.
41 Os Estados nacionais europeus travaram guerra por território, mas “não extinguiam a
soberania do outro” . V. Jackson, Sovereignty, p. 66.
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48 Todo o Segundo tratado pode ser lido como um comentário sobre a Bíblia Hebraica. Para
uma discussão sobre o biblicismo de Locke, v. Joshua Mitchell, Not By Reason Alone.
Chicago: Universidade de Chicago Press, 1993, pp. 73-97; Leiter, John Locke’s Political
Hebraism. A teoria liberal do contrato social é, em particular, uma interpretação das
obrigações [covenants] da Bíblia Hebraica. V. Roshwald, The Endurance of Nationalism,
16; Michael Walzer, Exodus and Revolution, Nova York: Basic Books, 1985, pp. 83-84. Em
nenhum desses trabalhos lê-se que a teoria liberal do contrato social é uma interpretação
especialmente sólida do ensino bíblico.
49 Locke é um reconhecido empirista, mas essa visão de seu pensamento é baseada em grande
parte em seu Essay Concerning Human Understandmg, Oxford, Reino Unido: Oxford
University Press, 1975 (1789), que é um trabalho influente na psicologia empírica. Seu
Segundo tratado sobre o governo não é, contudo, um esforço análogo para trazer um ponto
de vista empírico para a Teoria do Estado. Locke foi um dos poucos escritores políticos
de sua época a não argumentar com base na experiência histórica (Trevor Colbourn, The
Lamp o f Experience [Indianapolis, I N : Liberty Fund, 1998], pp. 5-6), e o Segundo tratado
começa com uma série de axiomas sem qualquer conexão evidente com o que se pode saber
acerca do estudo histórico e empírico do fenômeno do Estado, afirmando que (i) antes do
estabelecimento do governo, existem homens em um “ estado de natureza” (p. 381), no qual
(ii) “todos os homens estão naturalmente em um estado de perfeita liberdade” (p. 382), bem
como em (iii) um “ estado de perfeita igualdade, em que não há superioridade ou jurisdição
de ninguém sobre outro qualquer” (p. 382). Além disso, (iv) esse estado de natureza “ tem
para governá-lo uma lei da natureza” (p. 384); e (v) esta lei da natureza é, como acontece,
nada mais do que a “razão” humana em si, que “ ensina a todos aqueles que a consultem”
(p. 384). É essa razão universal que leva os seres humanos a (vi) saírem do estado natural,
“ por seu próprio consentimento, se tornam membros de alguma sociedade política” (p.
394) por um ato de livre consentimento (cf. John Locke, Segundo tratado, Seções 4, 6-7,
15.) A partir desses axiomas, Locke passa a deduzir o caráter adequado da ordem política
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51 Locke, Segundo tratado, seções 55-69. Locke é incapaz de justificar as obrigações entre pais
e filhos depois que os filhos atingem a maturidade, por isso ele recorre à tradição mosaica
“honra teu pai e tua mãe” (Êxodo 20, 11; Deuteronômio 5, 16) para que seu sistema de
obrigações funcione (Seção 66).
52 “ O fim maior e principal para que os homens se unam em sociedades políticas e submetam-
se a um governo é, portanto, a conservação da propriedade” (itálicos originais na versão de
Fischer, p. 495). Por “propriedade” Locke entende “ vidas, liberdades e bens” dos indivíduos
que se juntam ao governo. Locke, Segundo tratado, seções 123-124. V. também 87,173,222.
Locke admite a existência de clãs, tribos ou nações antes do estabelecimento do Estado. A
única coletividade de interesses para ele é o povo ou a nação criada “ sempre que qualquer
número de homens no estado de natureza, entra em sociedade para formar um povo, um
corpo político sob um único governo supremo” (p. 460 [da tradução de Fischer], Seção
89, ênfase adicionada). Esta é outra maneira de dizê-lo para Locke, em que, ao contrário
de empiristas como Selden e Burke, o conceito político de nação é totalmente ausente. Este
ponto é enfatizado por Uday Singh Mehta, “Edmund Burke on Empire, Self-Understanding
and Sympathy” , em Empire and Modem Political Thought, org.: Sankar Muthu, Cambridge,
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sob uma razão universal, isso implica que homens guiados somente
pela razão não seriam nem corruptos nem viciados, dispensando assim
qualquer necessidade de fronteiras nacionais sob qualquer forma.
Como as teorias políticas liberais foram promovidas em um con
texto ainda sob a influência de fortes tradições calvinistas e anglicanas
assentadas no Antigo Testamento, a inabilidade de tais teorias liberais
em fornecer qualquer sentido de nação — como sinônimo de uma co
munidade dotada de fronteiras — acabou sendo de nula conseqüência.
Estadistas e filósofos criados sob a influência da Bíblia apenas assumiram
que a própria nação era, como a antiga Israel, uma entidade dotada
de fronteiras que promovia a liberdade e a independência inclusive de
outras nações. M as como o liberalismo se desvinculou de suas origens
bíblicas e protestantes, sua característica não-nacionalista tornou-se
muito mais proeminente. Como todos os homens são iguais em sua
necessidade de ter suas respectivas vidas e propriedades protegidas,
uma política baseada apenas no liberalismo — sem qualquer suple-
mentação de uma tradição bíblica — significa que a persistência de
Estados nacionais independentes há de ser, na melhor das hipóteses,
uma questão indiferente.56 E se a independência e a coesão interna das
nações incluir a previsão de um custo em vidas e em propriedades, ainda
assim essa indiferença rapidamente se dissipará, deixando liberais com
uma inclinação para fazê-lo sem precisar inteiramente da existência
de um Estado nacional independente.57 Por isso é que no início do
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5. Nacionalismo em descrédito
Até não muito tempo atrás, o apoio à independência e à autodetermi
nação das nações era uma indicação de uma política progressista e de
um espírito generoso. Os americanos não eram os únicos a celebrar
anualmente a própria independência, em 4 de julho, com fogos, música,
desfiles, churrascos e o ressoar dos sinos nas igrejas. Ainda em mea
dos século xx, a independência de outros estados nacionais — desde
Grécia, Itália e Polônia até Israel, índia e Etiópia — era amplamente
considerada uma expressão de justiça histórica, bem como o prenúncio
de tempos melhores.
Mas, ao mesmo tempo, uma mudança na maré tomou o lugar dessas
posturas quanto a expressões de particularidades nacionais e religio
sas. As duas Guerras Mundiais trouxeram uma catástrofe dificilmente
imaginável para a Europa, e os crimes monstruosos praticados pelas
forças alemãs durante a Segunda Guerra Mundial foram o coroamento
de um mal absoluto. Enquanto as nações se esforçavam para compre
ender o que havia ocorrido, lá estavam aqueles — ambos, marxistas e
liberais — ávidos para explicar que a causa da catástrofe havia sido a
própria ordem dos Estados nacionais. Esse argumento avançou pouco
depois da Primeira Guerra Mundial, que foi amplamente vista como
Clinton. V. Bacevich, American Empire, pp. 32-3 8; David Graham, “ O lado errado do ‘lado
certo da história’ ” , Atlantic, 21 de dezembro de 2015. Os sucessores de Clinton, George W.
Bush e Barack Obama abraçaram essa retórica, como se nota no discurso de Bush: “ Nós
acreditamos que a liberdade é a direção da história” . Discurso para o “National Endowment
of Democracy” , Washington, d c , 6 de novembro de 2003.
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Alemanha que “um dia irá dominar a terra” .64 A Alemanha Nazista
foi, de fato, um Estado imperial sob todos os aspectos, que queria pôr
um fim no princípio da independência nacional e na autodeterminação
dos povos de uma vez por todas.65
Não é possível interpretar os esforços da Alemanha em destruir os
judeus senão como resultado do princípio da Westfália acerca da auto
determinação nacional. O extermínio nazista dos judeus na Polônia, bem
como o extermínio na Rússia, no resto da Europa e no norte da África,
não foi uma política nacional, mas sim uma política global exercida em
locais tão remotos quanto o gueto judeu de Shangai, implementado pelos
japoneses a pedido dos nazistas. Isso jamais poderia ser concebido ou
tentado fora do contexto dos esforços de Hitler em reviver um longo
e perfeito Império Germânico com aspirações universais.
Tudo isso estava perfeitamente claro durante a guerra. Nas trans
missões de rádio, os eua e a Grã-Bretanha enfatizavam sem parar que,
enquanto aliança de nações independentes, seu objetivo era restaurar a
independência e a autodeterminação dos Estados nacionais de toda a
Europa. E no fim, foi o nacionalismo americano, britânico e russo — até
mesmo Stalin já havia abandonado a besteira marxista a respeito da
“revolução mundial” em favor de apelos explícitos a um patriotismo
russo — o que derrotou a tentativa germânica de um império universal.
64 Hitler explicitamente rejeita tanto o Estado liberal do contrato social quanto o Estado
nacional construído sob a unificação de tribos díspares com base na língua e na história,
chamando tais Estados de “ monstruosidades infames” . O Estado, na visão de Hitler tinha
um propósito totalmente diferente do Estado nacional. Consistiu, primeiro, na “conservação
e avanço de uma comunidade de criaturas física e psiquicamente homogêneas” , por meio
do “ agrupamento e preservação dos mais valiosos elementos raciais básicos” ; e depois, para
além disso, passou a ser elevar essa raça a uma “ posição dominante” , até ela se tornasse
o “ povo mestre” , uma “ senhora do globo” . Adolf Hitler, Meín Kampf, trad. de Ralph
Manheim, Nova York: Houghton Mifflin, 1971 (1925), pp. 393, 396, 398. Assim, se os
alemães lidassem firmemente com o “envenenamento racial” que os afligia, “ algum dia se
tornariam senhores da terra” . Hitler; Meitt Kampf, p. 688.
65 Anthony Smith acertadamente vê uma “divergência fundamental” entre o nazismo de Hitler
e o nacionalismo, devido à sua adoção de um “ imperialismo biológico” incompatível com
a existência de uma pluralidade de Estados nacionais. Anthony Smith, Hationalism in the
Twentieth Century, Oxford, u k : Martin Robertson, 1979, pp. 78-80. Como lembra um
renomado acadêmico alemão, toda a proposta de Hitler era “ destruir o sistema do Estado-
Nação para retornar à uma ordem imperial” . Münkler, Empires, p. 144. De fato, a única
coisa que Hitler admirava na Grã-Bretanha, era o seu aspecto imperial. V. Niall Ferguson,
Empire, Nova York: Basic Books, 2002, pp. 279-282.
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A era dos Estados nacionais chegou a um fim [...]. Nós na Europa deve
mos abandonar o hábito de pensar em termos de Estados nacionais [...].
Acordos europeus [...] são formulados para fazer com que as guerras entre
nações européias se tornem algo impossível no futuro [...]. Se a idéia de
uma Comunidade Européia puder sobreviver por cinqüenta anos, nunca
mais haverá uma guerra européia.66
66 Konrad Adenauer, World Indivisible with Liberty and Justice for All, trads.: Richard e
Clara Winston, Nova York: Harper and Brothers, 1955, pp. 6-10. V. também Jean Monnet,
Memoirs, Londres: Collins, 1978, pp. 285-286. Compare com esta passagem de Helmut
Kohl, chanceler da Alemanha, de quatro anos mais tarde: “A integração européia é de verdade
uma questão da guerra e paz para o século xxi [...]. Nós não temos a menor vontade de
retornar ao Estado-Nação de outros tempos” . The Times, 03 de fevereiro de 1996, citado
em David Conway, With Friends Like These, Londres: Civitas, 2014, p. 105.
67 Como MargaretThatcher colocou, logo após ser demitida do cargo de Primeira Ministra: “ a
preponderância da Alemanha dentro da Comunidade [Européia] é tão óbvia que nenhuma
decisão é tomada sem que as vontades germânicas sejam atendidas. Nessas circunstâncias,
a comunidade aumenta o poder da Alemanha, muito mais do que o limita” . Margaret
Thatcher, The Path to Power, Nova York: Harper Collins, 1995, p. 614.
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68 V. cap. 21 e 23.
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a Joint Session of Congress on the Persian Gulf Crisis and the Federal Budget Déficit” , 11
de setembro de 1990.
71 Jürgen Habermas descreve esse “transnacionalismo” como “ uma política global interna sem
um governo mundial [...] dentro da estrutura de uma organização mundial com o poder
de impor paz e implementar os direitos humanos” . Habermas, The Divided West, Malden,
m a : Polity Press, 2006, p. 136. V. também Rabkin, Law Without Nationsf, pp. 41-43.
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74 V. Parte m.
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79 Sobre a política global americana pós-Guerra Fria, v. Bacevich, American Empire. Bacevich
conclui: “Ter influência não apenas sobre uma, mas sobre inúmeras regiões de importância
geopolítica fundamental, desdenhando da legitimidade de princípios econômicos e políticos
que não sejam os seus, declarando que uma ordem existente é sacrossanta, afirmando
inquestionável supremacia militar com uma força implantada globalmente, configurada
não para autodefesa, mas para coerção: estas são as ações de uma nação engajada em um
governo imperial [...]. Gostem ou não, a América hoje é Roma” (p. 244). Tom Friedman
salientou: “ a ordem global emergente carece de uma autoridade executiva [enforcer], Esse é o
novo fardo que pesa sobre a América” . Thomas Friedman, “A Manifesto for a Fast World” ,
Nova York Times Magazine, 28 de março de 1999. V. também de Thomas Friedman, O
Lexus e a Oliveira, Nova York: Picador, 1999, pp. 465-468; Francis Fukuyama, O fim da
história e o último homem-, Shimon Peres, The New Middle East, Nova York: Henry Holt,
1995, além de muitos outros trabalhos desse tipo.
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Cambridge, Reino Unido: Cambridge University Press, 1987 ed., esp. 30-55, 148-181;
Harold J. Berman, “The origins of historical jurisprudence: Coke, Selden, Hale” , Yale Law
Journal 103 (maio de 1994), pp. 1652-1738; Colbourn, The Lamp o f Experience; Kirk,
Rights and Duties; Ethan Alexander-Davey, “ Restoring Lost Liberty: François Hotman
and the Nationalist Origins of Constitutional Self-Government” , Constitutional Studies
1 (2016), pp. 37-66; Haivry, “John Selden and the Western Political Tradition” ; Haivry e
Hazony, “ What is Conservatism?” .
S1 Muito tempo depois que o iluminismo tornou brega citar passagens da Bíblia entre os
teóricos da política, as idéias bíblicas continuam sendo passadas de uma geração para outra,
velando apenas as citações. Como Michael Lind escreveu sobre os e u a de hoje em dia, “ o
calvinismo e a common law juntos produziram o que talvez seja a cultura nacional mais
biblicista do mundo” . Michael Lind, The Next American Nation, Nova York: Free Press,
1996, p. 272.
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PARTE II
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quando nada há por lá, ou acreditam que tais Estados podem ser trazi
dos à existência mesmo quando tal possibilidade é inviável. E quando
eles consideram o Estado em que vivem, não podem lembrar que todos
os Estados estão perpetuamente à beira de perder sua coesão e inde
pendência, e assim, tomam gratuitamente a unidade e a independência
de seu próprio Estado como premissa universal. Como conseqüência,
tendem a desprezar os esforços necessários para manter a coesão e a
independência do Estado, defendendo, com a melhor disposição, políticas
que trabalhem diretamente para destruir sua própria coesão e diluir sua
independência, sempre acreditando que o Estado pode sustentar tudo
isso e ainda assim permanecer sólido como era antes.
A filosofia do governo é útil em sua devida e própria esfera. Mas,
para ser eficaz, deve ser construída a partir do entendimento das
causas subjacentes à formação, coesão e independência do Estado,
bem como às de sua destruição. Este é o tipo de investigação política
que encontramos nas primeiras grandes obras da tradição política
ocidental — a saber, aquelas que foram extraídas da Bíblia Hebraica.
É aqui que encontramos uma conscientização sobre a possibilidade
de os seres humanos viverem fora do Estado, em uma ordem estabe
lecida sobre residências, clãs e tribos, e sobre a ameaça que o Estado
representa a tal ordem. É na Bíblia, também, onde nos são expostas as
ambigüidades que estão na base da fundação do Estado, e onde somos
ensinados a reconhecer a fragilidade de todos esses Estados, que estão
a todo momento ascendendo ou caindo, rumo a uma consolidação ou
dissolução. É neste ponto que somos ensinados a pensar o modo como
os governos justos contribuem para a consolidação da ordem política,
ainda que políticas tolas direcionem para a dissolução dessa mesma
ordem, pavimentando o caminho rumo à anarquia e à submissão ao
estrangeiro. É aqui que somos expostos pela primeira vez à questão
acerca da liberdade humana ser ou não assistida, ou dificultada, pelo
Estado, e se a extensão do Estado imperialista implica, necessariamente,
na escravização de toda humanidade.
O que se segue é um estudo sobre os fundamentos da filosofia
política. Em vez de assumir que homens razoáveis necessariamente
formarão um Estado coeso e independente, considerarei as causas
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82 Com freqüência, também se atua individualmente por diversos motivos. Por exemplo, é
comum os pais trabalharem para aumentar sua própria propriedade com vistas a beneficiar
seus filhos; e um soldado pode atuar sob o ímpeto de um desejo de aumentar sua própria
reputação, ao mesmo tempo em que serve ao seu país. Mas esse fato importante não afeta
o argumento que trago aqui: a motivação humana é na maior parte do tempo relacionada
com a ação que se empenha em nome de uma coletividade ou outra.
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83 Esta extensão do eu (self) é descrita por Hume, que diz que o sentimento de orgulho e
vergonha são com relação às coisas que são “partes de nós mesmos, ou algo proximamente
relacionado a nós” (A Treatise ofHuman Nature, 2.1.5), incluindo orgulho pela família e
pelo país (2.1.9). Ele então conclui que tal orgulho é de fato amor (2.2.1). Para uma teoria
semelhante à luz de pesquisas recentes em psicologia, v. Jonathan Haidt, The Righteous
Mind, Nova York: Vintage, 2012, pp. 256-318.
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84 Sobre o significado moral de tais laços de lealdade mútua, v. David Miller, N ationality,
Oxford, uk: Oxford University Press, 1992, pp. 65-80; Bernard Yack, Nationality and the
Moral Psychology ofCommunity, Chicago: University of Chicago Press, 2012, pp. 169-183.
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A intensidade com que essas lealdades são sentidas depende da presença ou ausência de
circunstâncias de perigo para a família, clã, tribo ou nação em questão. Dependerá também
da intensidade com que os pais experimentam os desafios para sua família, tribo e nação
e da sensibilidade com que cada criança os sente. Algumas crianças resistem às lealdades
ensinadas por seus pais e são mais fortemente influenciadas por outros, como um professor
de colégio, um clérigo, ou um comandante militar que se torna, por assim dizer, um segundo
pai ou mãe para eles. E, claro, até mesmo lealdades infantis podem ser quebradas ou
enfraquecidas quando a confiança atribuída a elas é rompida.
87 Este uso do termo “ coesão” vem de John Stuart Mill, “Representative Government”, em
Utilitarianism, on Liberty, and Considerations on Representative Government, ed. Geraint
Williams, London: Everyman, 1993 (1861), p. 241 [Considerações sobre o governo
representativo, p. 89. — nt]; Henry Sidgwick, The Elements ofPolítics, n.p.: Elibron Classics,
2005 (1891), pp. 233,276. Como Sidgwick escreve: “ O que é realmente essencial [...] para
uma nação é [...] que as pessoas que a compõem tenham consciência do pertencimento de
um indivíduo em relação ao outro, de serem [os indivíduos] membros de um único corpo,
além e acima do fato de derivarem de uma situação passageira por estarem sob um mesmo
governo; de modo que, se o governo deles for destruído pela guerra ou por uma revolução,
eles ainda se manteriam firmemente juntos” (p. 202). Isso se refere ao mesmo fenômeno
que Mill também chama de “sentimento de companheirismo” (fellow-feeling; p. 281), que
aparece em Herder como “ vínculos de afetividade” (inneres leben; p. 316 da obra original
Ideen zur Philosophie der Geschicbte der Menschheit, vol. ii Karlsruhe: Christian Gottlieb
Schmieder, 1794); e como o “ sentimento de solidariedade em face a outros grupos” em
M ax Weber, “The Nation” , em From Max Weber, tradutores e coordenadores do volume
H. H. Gerth e C. Wright Mills, Oxford, UK: Oxford University Press, 1946 (1921), p. 172.
[Lanço mão aqui do texto citado por Hazony em sua versão original segundo a Ia edição
de 1922: “ [...] ein spezifisches Solidaritátsempfinden anderen gegenüber [...]” , onde o
Solidaritàtsempfinden é uma “ consideração empática” pela “ solidariedade” . — n t ]
88 Discussões acessíveis sobre a ordem das tribos e dos clãs aparecem em Mark Weiner, The Rule
o f the Clan, Nova York: Farrar, Straus and Giroux, 2013; Azar Gat, Hations, Cambridge,
u k : Cambridge University Press, 2013, pp. 29-66. V. também Adam Ferguson, An Essay
on the History ofthe Civil Society, org.: Fania Oz-Salzberger, Cambridge, UK: University of
Cambridge Press, 1995 (1767), p. 85. Steven Grosby aponta que na Bíblia, o clã (mishpaha)
é claramente descrito como uma subdivisão da tribo (sbevet), e a família (beit av) como
uma subdivisão do clã. As doze tribos são subdivisões dos israelitas como povo (am). Steven
Grosby, Biblical Ideas o f Nationality, Winona Lake, IN : Eisenbrauns, 2002, pp. 15-22.
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92 A base para tal sentimento familiar entre as nações reside em uma língua, religião ou
legislação em comum. M as estes elementos podem ser insuficientes para evitar que nações
entrem em guerra, como no caso das guerras entre Estados Unidos e Grã-Bretanha. Os
esforços mútuos para combater um inimigo comum no passado é, contudo, um elemento
mais poderoso para unir as nações, registrando lealdades mútuas de longa data e que, ás
vezes, pode ser revivido em condições de adversidade ou prosperidade.
93 Isso não exclui a possibilidade de solidarizar-se com outros seres humanos, ou com outros
seres vivos em geral. A inclinação para identificar-se com os outros, ou prestar auxílio aos
outros, é certamente muito difundida, e não se limita às coletividades às quais somos fiéis.
Por outro lado, tais sentimentos de simpatia (feelings o f sympathy) são, em sua maioria,
capazes de motivar apenas atos de bondade de curto prazo, que podem ser significativos
no contexto, mas não estabelecem compromisso duradouro como a lealdade mútua
oferecería. Por serem relativamente fracos e pouco confiáveis, os sentimentos de simpatia
não desempenham um papel significativo na criação e manutenção da ordem política. Nos
casos em que encontramos assistência continuamente prestada ou quando esta é oferecida
às custas de grandes sacrifícios, as lealdades mútuas da coletividade são quase sempre
identificadas como suas verdadeiras causas. Para uma análise mais completa, v. Eric Schliesser
[org.]. Sympathy, Oxford: Oxford University Press, 2015.
82
A VIRTUDE DO NACIONALISMO
83
YORAM HAZONY
97 Diz-se frequentemente que uma grande variedade de fatores pode contribuir para a identidade
humana. No entanto, as diferentes “ identidades” em questão, mesmo quando refletem um
conteúdo inédito na antiga história humana estabelecem meramente novos clãs e novas
tribos.
98 Embora esse uso seja incomum em relação à sociedade no Estado moderno, vou continuar
a usar o termo clã para me referir a instituições locais e organizações, e tribo para me
referir a coletividades em grande escala que são fortes o suficiente para interferir em âmbito
nacional. Escolhi usar esses termos em vez de outros mais comuns, como “comunidade” ,
porque falta a conotação de um sistema hierárquico de ordenação coletiva, que é essencial
para a teoria política empírica. Pelo bem da simplicidade, adotei uma hierarquia de quatro
camadas: família, clã, tribo e nação. Mas a escolha de um sistema de quatro camadas é de
certa forma arbitrária. Na política atual das sociedades, muitas vezes pode-se encontrar
muito mais camadas de hierarquia antes de se chegar ao topo da estrutura política. — nt
84
A VIRTUDE DO NACIONALISMO
99 Tal herança cultural, evidentemente, nunca é uniforme. Uma tradição nacional tem muitas
tendências, e cada tribo, clã e família enfatiza e desenvolve diferentes tendências dentro
de uma mesma tradição, muitas vezes no contexto de uma competição consciente de uns
contra os outros.
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YORAM HAZONY
100 Tal discussão tipicamente invoca Thomas Hobbes, Leviatã 1.13-14; John Locke, Segundo
tratado sobre governo civil, seção 97; ou Jean-Jacques Rousseau, O contrato social, 1.6.
88
A VIRTUDE DO NACIONALISMO
Aqui, uma resposta plausível se torna mais difícil. Tal qual a história
da cegonha, pode-se dizer que a tradição de introduzir estudantes na
teoria do governo por meio desta história fantástica protege as men
tes dos alunos de algumas verdades feias e desagradáveis. E é aí que
as semelhanças terminam. A história da cegonha destina-se apenas
a manter as crianças em sua inocência infantil por um período mais
longo, reconhecendo-se que num certo momento seus pais lhes dirão a
verdade, enquanto que a história de como o Estado nasce é impressa em
homens e mulheres jovens e é reintroduzida inúmeras vezes em todas
as fases da sua educação — começando no ensino fundamental, depois
no ensino médio, passando pela universidade (sobretudo nos cursos de
direito) e chegando até as fases finais dos estudos em pós-graduação
(inclusive nos mestrados stricto sensu e em programas de doutorado).
Finalmente esses alunos se tornam legisladores, tratadistas, juristas e
professores de renome, fazendo com que esse conto de fadas se agarre
aos seus pensamentos políticos, ocupando o espaço que deveria estar
ocupado pela competência real de análise. E a cada dia se vê quanto
dano é causado em muitas empreitadas importantes, tanto na política
interna quanto nos assuntos externos, porque as ações são perseguidas
por estadistas que continuam a confiar neste mito da tomada de decisão
em nome do Estado. Este ponto tem sido observado vigorosamente
por quase todo teórico político que tentou abordar o assunto empi-
ricamente, incluindo Selden, Hume, Smith, Ferguson, Burke e Mill.101
101 Como escreve Hume: “ E nada prova mais claramente que uma teoria desse tipo é errônea
do que o fato de ela conduzir a paradoxos que repugnam aos sentimentos da maioria dos
homens, e aos usos e opiniões de todas as nações e de todas as épocas. A doutrina que baseia
todo o governo legítimo num contrato original [...] pertence a esse tipo” . David Hume,
“ Of the Original Contract” , in Essays, ed. Eugene F. Miller, Indianapolis, IN : Liberty Fund,
1985 (1753), pp. 465-487, esp. 486. [Ensaios morais, políticos e literários, São Paulo:
Nova Cultural, 1996, p. 212. — n t ]. A rejeição do contrato social como base para o Estado
também aparece em Adam Smith, Lectures on Jurisprudence, Indianapolis, i n : Liberty
Fund, 1982 [1766]), pp. 402-404; Ferguson, An Essay on the History o f Civil Society, pp.
24-29,118-120; Edmund Burke, Reflections on the Revolution in Erance, em Revolutionary
Writings, ed. Iain Hampsher-Monk, Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2014, pp.
32-33, 100-101 [Reflexões sobre a Revolução na França, Campinas, s p : Vide Editorial,
2017, pp. 59-60 e 153-154. — n t ]; Benjamin Constant, “Principies of Politics” , in Political
Writings, org.: Biancamaria Fontana, Cambridge, Reino Unido: Cambridge University
Press, 1988 (1815), pp. 176-178; G. F. W. Hegel, Philosophy ofRight, trad. de T. M. Knox,
Nova York: Oxford University Press, 1967 [1820]), pp. 156-167 [Princípios da filosofia do
Direito, Lisboa: Guimarães, 1986, pp. 200-208. — n t ]; Mill, Representative Government,
p. 212 [Considerações sobre o governo representativo, pp. 48 e ss. — n t ] ; Theodor Herzl,
The Jewish State, trad. de Harry Zohn, Nova York: Herzl Press, 1970 (1896), pp. 91-94.
89
YORAM HAZONY
[Hazony usa a versão traduzida por Harry Zohn, Nova York: Herzl Press, 1970, embora a
mais usada seja a de Jacob De Haas (1904), ambas sob o título The Jeu/ish State. No trecho
citado por Hazony a versão original traz a engenhosa tese de Herzl que aproxima a natureza
jurídica do Estado a uma gestão de negócios (negotiorum gestio). — nt
90
A VIRTUDE DO NACIONALISMO
91
YORAM HAZONY
para emitir decretos que são então impostos — quando necessário, por
meio de uma força armada. Esse governo concentra um inédito grau
de poder nas mãos de um pequeno número de indivíduos, poder esse
que pode ser usado para defender as tribos contra inimigos externos,
para julgar e dirimir disputas e para instituir ritos religiosos uniformes
em escala nacional.
Mas como pode tal Estado vir a existir por meio de métodos que
necessariamente privam os clãs e tribos de sua liberdade e impõem
cargas tão pesadas sobre eles? Há duas razões sabidas para isso:
Primeiro, existe a possibilidade de estabelecer um Estado livre, em
que a cooperação dos governados é dada ao governo voluntariamente.
Isso pode acontecer se os chefes de uma coalizão entre tribos, reco
nhecendo um vínculo comum, bem como uma necessidade comum,
se reúnem para estabelecer um governo permanente. Nesse caso, os
próprios chefes tribais realizam a seleção do governante da nação e
integram uma assembléia quando decisões importantes precisam ser
tomadas. A lealdade do indivíduo é assim emprestada ao Estado por
lealdade a seus pais, à sua tribo e à sua nação, e é por esse motivo
que ele se submeterá ao sofrimento e ao sacrifício se assim o Estado
solicitar. Além disso, o indivíduo pode oferecer sua lealdade ao Estado
mesmo quando as pessoas que ocupam o governo naquele momento,
ou as políticas específicas que desejam implementar, não sejam de seu
agrado. O desejo feroz de manter a integridade da nação e sua lealda
de para com ela movem o indivíduo a continuar lutando nas guerras
definidas pelo governo nacional, obedecendo às suas leis e pagando
os impostos, ao mesmo tempo em que espera que melhores líderes e
políticas venham mais cedo ou mais tarde.104
Temos visto muitos desses Estados estabelecidos na história. O
caso mais famoso de tal unificação de tribos é o do Israel antigo,
que serviu como modelo de nação-Estado.105 O Estado ateniense,
104 Esta disposição para contribuir com o Estado nacional resulta de uma confiança básica
nos outros, que só é possível quando a comunidade em questão é considerada como sendo
a própria comunidade. V. Sidgwick, The Elements o f Politics, pp. 201-203, 276; Miller,
Nationality, pp. 90-98; Roger Scruton, England and the Need for Nations, Londres: Civitas,
2004, pp. 6-12,24-25.
105 O Estado nacional não governa (rule over) sobre todo o membro da nação que o estabelece,
nem governa apenas os membros desta nação. M as como Yack acertadamente aponta, os
92
A VIRTUDE DO NACIONALISMO
nacionalistas tendem a estar mais preocupados com que os limites geográficos permitam
liberdade nacional e autodeterminação do que com a perfeita e devida congruência entre
políticas nacionais e suas respectivas fronteiras. Yack, Nationalism and the Moral Psychology
o f Community, pp. 122-123. V. o debate sobre a liberdade nacional no cap. 13.
106 Sobre a conscientização em Atenas e em outras cidades-Estados de uma nação pan-helênica de
língua grega, v. Aviei Roshwald, The Endurance o f Nationalism, Cambridge, u k : Cambridge
University Press, 2006, pp. 26-30; Jonathan Hall, Hellenicity, Chicago: Universidade de
Chicago Press, 2002. Tem sido sugerido que os atenienses eram uma “ nação” , como na obra
de Edward Cohen, The Athenian Nation, Princeton, NJ: Princeton University Press, 2000,
mas é improdutivo falar de Atenas como uma nação quando este termo descreve bem a
nação grega como um todo, cujas cidades-Estado eram sociedades tribais que falharam em
se unir sob um único Estado nacional.
93
YORAM HAZONY
94
A VIRTUDE DO NACIONALISMO
107 Minha dissertação se apóia na famosa comparação de Burke entre o contrato estabelecido
“em um acordo de associação (partnership) em um negócio de pimenta e café, chita, ou
tabaco” e a associação prestada à manutenção da sociedade. V. Edmund Burke, Reflections
on tbe Revolution in France, pp. 100-101 [Reflexões sobre a revolução na França, p. 153. —
n t ] . Sobre a “renúncia do cálculo dos benefícios transitórios” em associações (partnerships),
v. Michael Kochin, “The Constitution of the Nations” , The Good Society 14 (2005), pp.
68-76.
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A VIRTUDE DO NACIONALISMO
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A VIRTUDE DO NACIONALISMO
— uma parte de si mesmo não só até que seus filhos atinjam a idade
adulta, o que consiste, afinal, apenas na primeira parte do encargo d e.
um pai, mas pelo resto de suas vidas, para sempre.
Alguns vão dizer que essa distinção entre um negócio e uma famí
lia é imprecisa. Afinal de contas, existe o divórcio e a possibilidade
de separação dentro da família, assim como existe uma espécie de
lealdade com os parceiros de negócios. Tais ressalvas são certamente
importantes quando não se está falando em teoria, mas considerando
condições particulares em que os seres humanos encontram-se na vida
real. Dito isto, não podemos esperar entender o domínio político se
não conseguirmos ver que a empresa e a família não são apenas insti
tuições muito diferentes, mas instituições que refletem uma oposição
entre dois tipos idéias de instituição: a empresa opera na esfera da vida
humana em que a liberdade, o cálculo e o consentimento dos indiví
duos são mais vantajosos; já a família opera naquela esfera em que a
lealdade, a devoção e a restrição trazem mais benefícios. Justamente
porque empresas são aptas para conceder grandes benefícios materiais
para aqueles que dela participarem, assim como mais amplamente na
comunidade, toleramos uma ética empresarial na qual o indivíduo é
encorajado para agir como se fosse livre de todas as obrigações que
não sejam aquelas com as quais consentiu. Mas a licenciosidade e a
promiscuidade que reinam na esfera dos negócios são tão ruins quan
to inúteis nas relações entre pais e filhos, maridos e esposas, irmãos e
irmãs, avós e netos. Dentro do domínio da família, para ser confiável,
para ser verdadeiro em face da adversidade, para recusar o desejo
de começar tudo de novo, estes laços são indispensáveis e a raiz de
todas as virtudes. Apenas um tolo conduziría uma vida familiar pelos
princípios que beneficiam o seu negócio, sujeitando seus pais, esposa
e filhos a avaliações periódicas, e abandonando-os quando calculasse
que eles deixaram de representar algum lucro em face dos demais. As
mesmas atitudes e comportamentos que trazem a maior prosperidade
nos negócios são aqueles que trazem ruína absoluta para a família.
O que, então, devemos dizer sobre o clã, a tribo e a nação? Essas
coletividades são do mesmo tipo que a família, embora em uma escala
maior — e, de fato, em hebraico, esses coletivos maiores são referidos
99
YORAM HAZONY
100
A VIRTUDE DO NACIONALISMO
109 Marc van de Mieroop, Cuneiform Texts and the Writing o f the History, Nova York:
Routledge, 1999, p. 70.
110 Do pertinente lema de Manent: “A cidade significava guerra e liberdade. O império significava
101
YORAM HAZONY
paz [...] e propriedade” . Pierre Manent, A World Beyond Politicsf, Princeton, Nj: Princeton
University Press, 2006, p. 48.
111 As ordens “feudais” da Europa medieval e do Japão eram versões altamente desenvolvidas
da ordem de tribos e clãs. Como Brierly enfatiza, a discussão do “Estado” com referência a
esses e outros vários períodos na história humana é do tipo anacrônica. James Brierly, The
Law ofNations, 2nd ed., Oxford, UK: Oxford University Press, 1936, p. 3. Um argumento
contemporâneo para ordem política anárquica ou feudal é apresentado por Hedley Bull,
The Anarchical Society, 4th ed., Nova York: Columbia University Press, 2012. Na transição
do feudalismo para o Estado nacional, v. Hendrik Spruyt, The Sovereign State and Its
Competitors, Princeton, n j : Princeton University Press, 1994.
102
A VIRTUDE DO NACIONALISMO
112 Não poucos imperadores se colocaram em grandes encrencas para fazer seus caprichos
conhecidos por seus súditos, para fazê-los sentirem-se leais ao imperador em pessoa. No
entanto, os resultados estão muito longe da lealdade prestada no âmbito familiar.
103
YORAM HAZONY
seja colocada acima da lealdade para com o indivíduo familiar que lhes
proporcionou proteção e cuidado, esses agentes do império deman
dam nada menos do que a separação e traição dos vínculos pessoais
concretos que serviram de base para a sociedade.
A partir dessas observações, entendemos que o império e a anar
quia não são apenas métodos concorrentes de ordenação do poder
político: cada um é um princípio normativo de ordenação, delineando
sua legitimidade segundo o modo pelo qual está enraizado na ordem
moral. Isso está de acordo com a nossa experiência, em que os defen
sores do império e da anarquia apresentam seus pontos de vista não
só em termos das vantagens práticas que cada tipo de ordem deveria
fornecer, mas em termos de legitimidade moral e sanção que deve ser
atribuída a cada um. Nós podemos pensar nesses princípios normativos
de ordenação conforme segue.
Em uma ordem anárquica, a lealdade e a própria vida política estão
enraizadas no princípio moral da gratidão aos indivíduos das famí
lias que ofereceram assistência. O indivíduo vive sob a proteção da
família ou do clã — proteção que inclui sustento material, recurso em
casos de injustiças, defesa contra estrangeiros, uma educação sobre as
vicissitudes e tradições de seu povo e rituais para atrair os deuses. Por
gratidão e respeito por aqueles que lhe forneceram esses ensinamen
tos, o indivíduo presta serviços, conforme a solicitação dos chefes da
família ou clã. Desta forma, o indivíduo tem tudo que precisa, e suas
obrigações para aqueles que lhe deram rumo na vida e lhe forneceram
esses ativos são totalmente cumpridas.
Embora a base moral para tal política seja convincente e evidente,
as dificuldades envolvidas na manutenção de uma estrutura anárquica
ou feudal são bem conhecidas. Em primeiro lugar, os clãs e tribos que
vivem em uma sociedade anárquica estão constantemente à beira da
guerra, de modo que a guerra, que nós tendemos a imaginar como algo
periférico na sociedade, é trazida para o centro da vida das pessoas em
todos os lugares. Da mesma forma, enquanto as sociedades anárquicas
podem e desenvolvem elaboradas tradições para resolver as reivindica
ções concorrentes de indivíduos e coletividades, tal justiça é não raro
difícil de ser aplicada sem recorrência ou ameaça de guerra, de modo
104
A VIRTUDE DO NACIONALISMO
que a própria justiça é refém das relações de poder entre clãs e tribos.
Além disso, o papel do indivíduo familiar em governar o clã não é pura
e simplesmente um bem: a natureza pessoal da regra local significa
que a qualidade de suas relações pessoais com um chefe ou senhor
afetam cada aspecto da sua vida. Como conseqüência, até mesmo a
mais fatídica das questões pode ser decidida com base no preconceito,
com base em algum insulto antigo ou outro assunto irrelevante, sem a
possibilidade de um recurso. Finalmente, a liberdade oferecida a cada
clã e tribo em uma ordem anárquica significa que a ação defensiva
coordenada é difícil, e não pode ser sustentada por longo tempo frente
a uma ação militar disciplinada de um Estado invasor que possua um
exército profissional sob um comando unificado.
Em uma ordem imperial, por outro lado, toda a vida política
está enraizada no princípio moral da unidade de uma humanidade
não-familiar, um princípio que exige de cada indivíduo obrigações
para com o bem-estar comum da humanidade. A conquista de realezas
anárquicas de clãs e tribos, os quais o Estado imperial sempre se refere
como o domínio da selvageria, um “ reinado de guerra” , cria em seu
lugar um reino de paz e prosperidade. Através da conquista de terras
governadas sob a ordem de clãs e tribos, o Estado imperial afasta a
guerra desses territórios e a exila para uma distante fronteira, estabe
lecendo em seu lugar uma lei universal e imparcial entre os homens. E
por meio dessa paz e dessa lei universal, o Estado imperial abre uma
vasta esfera para a agricultura, indústria e comércio, trazendo prospe
ridade econômica para todos. É esta paz e prosperidade que dá sanção
moral às leis e guerras do Estado imperial, que, diz-se, beneficiam a
todos na humanidade.113
Como em uma ordem anárquica, descobrimos que a base moral
para o Estado imperial é, pelo menos inicialmente, convincente. No
entanto, aqui também existem dificuldades. A primeira delas é o
fato de que, onde quer que o princípio da unidade da humanidade
não-familiar tenha penetrado no coração do Estado, necessariamente
temos a conquista, a subjugação de povos distantes e a destruição do
113 Sobre a unidade humana como princípio ordenador dos Estados imperiais, v. Michael Walzer,
“ Nation and Universe” , em Tanner Lectures on Human Values, Salt Lake City: University
of Utah Press, 1990, pp. 11: 538-542.
105
YORAM HAZONY
seu modo de vida para que o “reino da paz” , como o império entende,
possa ser estendido. Isto é verdade mesmo quando o Estado imperial
parece, em um dado momento, ser benevolente em suas relações com
pessoas de fora, porque o princípio da unidade da humanidade não
permite qualquer comprometimento consistente com os forasteiros.
No curso normal dos assuntos políticos, todos os vizinhos, clãs ou
tribos acabam, mais cedo ou mais tarde, entrando em conflito com o
império por algum pedaço de terra, recurso ou política. M as a mente
imperial, que considera todos os recursos como pertencentes a toda
a humanidade, e que vê o Estado imperial como responsável pelo
bem-estar da humanidade, não pode aceitar outro resultado para tais
conflitos senão a “ pacificação” do clã dissidente ou tribo e a anexação
da terra ou recurso contestado. Cada uma dessas conquistas envolve
privar outro clã ou tribo de sua liberdade, que tende a ser concedida
apenas sob um custo terrível em termos de perdas humanas. E como
o império não possui um princípio interno que impeça a reafirmação
desse monstruoso hábito de conquista e devastação, a recorrência deste
padrão é limitada apenas pela medida de força que o Estado imperial
pode sustentar em suas fronteiras.
Não menos preocupantes, além disso, são os tributos do Estado
imperial para a manutenção de seus exércitos e fortificações, seus pa
lácios, templos e burocracia. A imposição de tributos e recrutamentos,
tanto para obras públicas como para o serviço militar, é uma carga
pesada para o indivíduo, quando não é de fato uma calamidade. Do
ponto de vista de tribos e clãs, acostumados a uma vida de liberdade
e autodeterminação, toda a ordem imperial significa escravização.
Além disso, o regime de paz e prosperidade imposto pelo império tem
uma qualidade muito particular. O império, que afirma dar a lei a toda
a humanidade, necessariamente se preocupa com categorias abstratas
de necessidade e obrigação humana, categorias que são, aos seus olhos,
“ universais” . Mas essas categorias são sempre destacadas das circuns
tâncias e interesses, tradições e aspirações do clã ou tribo particular a
quem agora serão aplicadas. Isso significa que, do ponto de vista do clã
ou tribo em particular, a lei imperial freqüentemente parecerá ter sido
mal concebida, injusta e perversa. No entanto, a própria premissa do
império, que é sua preocupação com as necessidades da humanidade,
106
A VIRTUDE DO NACIONALISMO
deixa o clã único ou tribo sem bases para protestar, ao afirmar que seus
próprios interesses e aspirações devem inevitavelmente se chocar com
a ordem imperial, sendo assim uma ordem tacanha e contrária ao bem
evidente da humanidade como um todo. Desta forma o princípio da
unidade da humanidade, tão nobre em teoria, rapidamente divide os
homens em dois campos: aqueles que são considerados favorecedores
do bem da humanidade, na medida em que adotam as categorias do
império para determinar o que é benéfico e certo; e aqueles considerados
como opositores do bem da humanidade, que insistem em pensar pelas
categorias habituais da tribo, que o império invariavelmente condena
como primitivas e bárbaras.
Esse choque entre a lei imperial e as tradições e ideais da tribo chama
a nossa atenção para o que é talvez o dilema central do Estado imperial:
como a aspiração em unificar a humanidade pode ser reconciliada com
a natureza humana empírica? O império, como já foi dito, exige que
o indivíduo estabeleça e expresse lealdade a uma coletividade que, em
princípio, inclui todos os outros seres humanos. Mas por que deve o
indivíduo desenvolver laços de lealdade mútua que se estendem tão
longe? Vimos que a lealdade encontra sua expressão mais característica
no esforço em defender os membros de uma determinada coletividade
contra ameaças externas: os cônjuges brigam até serem confrontados
pela adversidade, mas depois enfrentam o desafio diante deles como
uma unidade. Do mesmo modo, as tribos que compõem uma nação
competem umas com as outras, até o perigo as unir em uma defesa co
mum.114 O que, então, deveria estabelecer a lealdade do indivíduo com
todos os outros seres humanos? Na ausência de uma ameaça comum
para fornecer uma base genuína para a ação unificada, o chamado
para unir toda a humanidade parece mais do que vazio. Isso equivale
a um convite para ignorar os verdadeiros perigos que uma dada tribo
ou nação pode enfrentar nas mãos de outros em nome de uma causa
comum, que a seus olhos não seria mais do que uma ficção edificante.115
1.4 V. Theodor Herzl, “Judaism”, em Zionist Writings, trad. Harry Zohn, Nova York: Herzl Press,
1973, p. 51. [Na obra original Zionistiscbe Schriften, (Berlim: Jüdischer, 1920), coletânea
que inclui os vários estudos do autor (incluindo o seu clássico Der Judenstaat) o excerto
“Judaism” não consta. Trata-se de um texto publicado meses antes da publicação da obra
Der Judenstaat, segundo informado pelo Herzl Institut, do qual o autor é presidente. — n t ]
1.5 Adam Ferguson, An Essay on the History o f Civil Society, p. 29.
107
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108
A VIRTUDE DO NACIONALISMO
119 Como regra geral, os defensores do Estado imperial não se vêem como artificies apenas
da exploração das outras nações do mundo. Há, naturalmente, exceções e Niall Ferguson
descreve a ascensão do Império Britânico exatamente nestes termos. Niall Ferguson, Empire,
Nova York: Basic Books, 2002. Para um tratado mais completo, v. Anthony Pagden, Lords of
All the World, New Haven, c t : Yale University Press, 1995; David Armitage, The Ideological
Origins o f the British Empire, Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2000.
120 Conhecida por muitos como “Torre de Babel” , o autor usa o termo, no original em inglês,
“tower of Babylon” , abrindo mão do termo original hebraico para Babilônia ou BaveU
Babel (do original do Gênesis 11, 1-9, Midgal Bavel - ap) —nt
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129 Pode-se dizer que a “ dor” é usada metaforicamente quando se refere à dor de uma família,
porque o que se entende por dor de família não é exatamente o mesmo que a dor sentida
pelo indivíduo. Isso é aceitável contanto que entendamos que a dor de família, embora seja
algo diferente do individual, não será menos concreta. Pensando dessa maneira, torna-se
necessário que usemos o termo “ metáfora” de uma maneira que esteja em desacordo com
o uso aristotélico habitual.
114
A VIRTUDE DO NACIONALISMO
130 V. Lenn Goodman, “The Rights and Wrongs of Nations” , em Judaism, Human Rigbts
and Human Values, Oxford, u k : Oxford University Press, 1998, p. 143. Bolsas de estudos
acadêmicas tendem a ressaltar o impacto dos meios modernos de comunicação sobre tais
experiências coletivas. Mas, como enfatiza Gat, as sociedades não-alfabetizadas têm seus
próprios meios de transmissão cultural em larga escala, incluindo uma rede de centros
religiosos por todo país, reuniões públicas nos dias úteis para ouvir rumores (news) e músicos
itinerantes, poetas, contadores de histórias e leitores. V. Gat, Nations, pp. 12-13.
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132 Sobre a violência na ordem das tribos e clãs, v. Steven Pinker, The Better Angels o f Our
Hature, Nova York: Penguin, 2012, pp. 47-55.
133 Em um regime federal ou similar, haverá tribunais locais e polícia local e até mesmo leis
locais. Mas estes ainda responderão ao governo, que os supervisionará. V. o cap. 15.
119
YORAM HAZONY
raramente, e quase sempre a uma longa distância da sua casa, onde sua
família pode viver tranqüilamente, mesmo quando a guerra ocorre em
outro lugar. A criação dessa esfera de paz, na qual a família e a vida
econômica pode se desenvolver amplamente protegida da violência, é
a primeira inovação do Estado nacional, sobre a qual muitas outras
inovações são construídas.
2. Desprezo pela conquista imperial. Um Estado nacional é uma
instituição em uma escala limitada. Isso significa que os governantes
do Estado nacional herdam uma tradição política que reconhece como
limites naturais as fronteiras da nação e suas necessidades defensivas, e
assim tendem a desprezar a idéia de conquista de nações estrangeiras.
É o oposto do que ocorre no Estado imperial, onde se transmite uma
tradição política que não reconhece tais fronteiras, e seus governan
tes estão sempre encontrando razões para conquistar outros povos.
Como já foi dito, cada uma dessas visões está enraizada na ordem
moral — os imperialistas insistem que é justo estender o reino da paz
e da prosperidade econômica que seu governo trará à humanidade; e
os nacionalistas enfatizam que a coisa certa é a liberdade das nações
e sua autodeterminação. Cada uma dessas posições tem uma certa
plausibilidade. Mas o desprezo por guerras de expansão indefinida,
que é tanto uma causa quanto uma conseqüência do ideal político do
Estado nacional, é um benefício tão grande que pode, por si só, ser
suficiente para decidir sobre o melhor argumento dentre essas visões.
Embora a aversão à conquista de nações estrangeiras seja em geral
apresentada como uma gentileza para com os outros, é importante
reconhecer que, antes de mais nada, representa de um certo modo os
interesses da própria nação. Por muitas vezes assume-se equivocada
mente que todas as nações tendem a se considerar, como os romanos
fizeram, mais fortes quando subjugam mais nações ao seu governo,
expandindo o tamanho da economia a partir da qual captam impos
tos e, portanto, o tamanho dos exércitos que podem levar a campo.
Mas há uma tradição alternativa que descende do antigo Israel, que
considera tais Estados imperiais intrinsecamente fracos, desprezando
suas expansões indefinidas como algo que prejudica a nação, e não a
beneficia. Isso vai bem expresso por Herder, quando ele escreve sobre
120
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134 J. G. Herder, Ideas for a Philosophy o f the History o f Mankind, p. 324 [Idéias para uma
filosofia da história da humanidade, pp. 315-316 do original alemão Ideen zur Philosophie
der Geschichte der Menschheit, vol. ii , Karlsruhe: Christian Gottlieb Schmiedei, 1794. — nt ].
Hume argumenta de modo parecido, apontando para a falta de interesse que muitas nações
têm em lutar muito longe de casa. Como conseqüência, ele escreve sobre os impérios que “ sua
queda [...] nunca está muito distante de sua ascensão” , cf. David Hume, “ Of the Balance
of Power” , Essays, org.: Eugene E Miller, Indianápolis, in : Liberty Fund, 1985 (1753), pp.
340-341. Montesquieu, Burke e Adam Smith também expressaram desaprovação em face
dos impérios. Suas opiniões são discutidas em ensaios por Michael Mosher, Uday Singh
Mehta e Emma Rothschild em Empire and Modem Political Thought, org.: Sankar Muthu,
Cambridge, Reino Unido: Cambridge University Press, 2012.
[Como não há uma tradução para o português da obra de Herder, fizemos uma versão
compatível a partir da tradução direta do alemão, e não por meio da tradução de segunda
mão do inglês. Nossa primeira observação diz respeito ao uso do termo “ partes coladas
umas às outras” : o termo original usado por Herder é zusammengeleimt, que foi traduzido
na versão inglesa para patched up contraption. O termo original zusammengeleimt decorre
do verbo zusammenleimen, que é a junção de zusammen (junto) com leim, que era um tipo
de cola usada na carpintaria para juntar pedaços de madeira para fazer mesas, cadeiras ou
peças afins. É também um tipo de cola que permitia unir peças de naturezas distintas, como
madeira com tecido, ou madeira com papel, ou ainda tecido com papel. N o português popular
do Brasil, o leim alemão é algo como o nosso “ Super Bonder” . O sentido dado por Herder
a essas “ partes coladas umas às outras” por meio de uma cola própria para juntar coisas
que não são feitas para serem coladas umas às outras, no ótimo português, seria o mesmo
que gambiarra. O segundo termo ao qual me coube dar especial destaque foi “ maldição
do destino” , que no original alemão é der Fluch der Schiksals e se tomou, em inglês, the
course offaith. A tradução literal deveria ser “maldição dos Shiksals” , mas esse sentido seria
apreendido por poucas pessoas, uma vez que trata-se de uma referência às shiksa, mulheres
não-judias que tiram o rapaz judeu do seu “caminho” . O termo é sempre usado em tom
agressivo e pejorativo nas comunidades judaicas ortodoxas e o shiksal se presta para designar
aquela criança nascida em uma comunidade judaica mas de mãe não-judia. Quando Herder
diz “ somente a maldição do destino condenaria à imortalidade essas uniões forçadas” (no
original em alemão nur der Fluch der Schiksals sie zur Unsterblichkeit verdammen konnte),
121
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122
A VIRTUDE DO NACIONALISMO
ocas e sem sentido; assim, tendem eles a fazer tanto o mal quanto o
bem, ao aplicar as categorias superficiais e supostamente “universais”
à sua predisposição a circunstâncias que se passam nos confins da
terra.135 Enquanto isso, quando alguém lhes aborda com uma questão
sobre a saúde e a prosperidade das suas próprias nações, concedem
escassa atenção a tais problemas, e secretamente passam a lamentar
a intromissão de “questões domésticas” enquanto urgem os grandes
problemas. Nesse sentido, a mentalidade dos governantes se transforma,
e eles se tornam tão desavisados a respeito das preocupações de seu
próprio povo quanto em relação aos interesses das nações estrangeiras
que buscam governar.
Tudo isso é visto com horror pelos povos com fortes tradições em
torno de um Estado nacional, que tendem a desprezar a idéia de que os
líderes de seus países devem se perder nos esforços para a preservação e
governo de um império de nações estrangeiras, em vez de fortalecer as
tribos de sua própria nação em sua própria terra. Desde tal perspectiva,
os governantes da nação são nomeados entre seus membros por causa
dos laços de lealdade mútua que os ligam ao seu próprio povo, per
mitindo-lhes experimentar as necessidades da nação como suas. Onde
esta fidelidade é honrada, os olhos dos governantes permanecem fixos
em aumentar a saúde e a prosperidade de sua própria nação, não só
expandindo seu poder econômico e militar; mas também mantendo e
fortalecendo sua integridade interna, e testemunhando assim a conso
lidação e a transmissão de sua herança cultural. Permanecendo leais ao
seu próprio povo, eles experimentarão tais coisas como se estivessem
constantemente crescendo em força, e tendo medo de dissipá-las na
expansão imperialista. De fato, ao lado da derrota no campo de bata
lha, esta aversão em desperdiçar a força da nação no governo de terras
estrangeiras é o maior fator que se opõe à inclinação de governantes ao
engrandecimento através de conquistas. São, portanto, nos vínculos de
135 Como Mill diz sobre os ingleses na índia, sua interferência foi “ quase sempre no lugar errado.
As causas reais que determinam a prosperidade ou a miséria, o avanço ou a deterioração
dos indianos escapam totalmente à sua compreensão. Não têm o conhecimento necessário
para sequer suspeitar da existência dessas causas, muito menos para julgar a atuação delas.
Os interesses mais fundamentais do país podem ser bem administrados sem qualquer
aprovação da parte deles ou mal administrados quase ao exagero sem que se apercebam”
Mill, Representative Government, p. 418 [Considerações sobre o governo representativo,
p . 314. — n t |
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A VIRTUDE DO NACIONALISMO
Estado nacional.
137 Um tratado comparável, porém disposto em outros termos é o de Henry Kissinger, World
Order, Nova York: Penguin, 2014, pp. 37,41-44 [Ordem Mundial, p. 37-41. — n t ]
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A VIRTUDE DO NACIONALISMO
138 Da mesma forma, Hitler declarou que os povos eslavos seriam para Alemanha o que a índia
foi para a Grã-Bretanha. Ferguson, Empire, p. 279.
139 O debate acerca da obra de Fritz Fischer Germany’$ WarAims in the First World War, Nova
York: Norton, 1968, foi em grande parte moldado pela tese que Fischer erigiu sobre o fato
de a Alemanha carregar grande parte da culpa pela Primeira Guerra Mundial. Mas não é
preciso aceitar essa conclusão para reconhecer o poder do argumento de Fischer de que
os alemães foram movidos por uma estratégia imperialista no continente, preparavam-se
para implementar esta estratégia há anos, e aparentemente encontraram na crise da Sérvia
uma oportunidade de finalmente perseguir esse intento. Esses fatos conseguem atribuir a
culpa da guerra à Alemanha apenas se se assumir que os imperialismos britânico e francês
desempenharam pouco ou nenhum papel na provocação da crise e no prolongamento da
guerra, uma vez em curso. Livros como de Christopher Clark, The Sleepuialkers, Nova
York: Harper Collins, 2012, que vê a Primeira Guerra Mundial como iniciada quase
acidentalmente, tendem a ignorar ou subestimar as décadas de competição imperialista que
levaram a Alemanha a enfrentar Grã-Bretanha em resposta ao caráter da ordem mundial
que esta pretendia impor (deixando assim convenientemente os nacionalistas sérvios, cujas
maquinações foram a causa imediata da guerra, como os únicos “vilões” na história). Para
uma visão geral da disputa em relação à tese de Fischer, v. John C. G. Rõhl, “ Good bye to AU
that Again? The Fischer Thesis, the New Revisionism, and the Meaning of the First World
War” , International Affairs 91 (2015). Sobre as aspirações imperiais alemãs, v. também
Gabriel Liulevicius, War Land on the Eastern Front, Cambridge, Reino Unido: Cambridge
University Press, 2005; Pierre Manent, A World Beyond Politicsi, pp. 83-84.
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140 Não muito antes disso, evitar possessões no exterior era uma política americana consistente.
O Presidente Grover Cleveland, por exemplo, argumentou em 1893 que a anexação do
Havaí era “ uma perversão da missão da nossa nação. A missão da nossa nação é construir
e fazer um grande país, em vez de termos de sair anexando ilhas” . Citado em John Judis,
The Folly ofEmpire, Nova York: Scribner, 2003, p. 26.
141 Stuart Creighton Miller, Benevolent Assimilation, New Haven, c t : Yale University Press,
1984. Para um exemplo pungente das aspirações do imperialismo dessa época, v. Theodore
Roosevelt, “ Expansion and Peace” , The Independent, 21 de dezembro de 1899, em The
Strenuous Life, Mineola, ny: Dover; 2009 (1910), pp. 11-18.
128
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142 Teddy Roosevelt, originalmente um dos mais sinceros defensores do império americano,
mudou de lado, atacando “ internacionalistas profissionais” e “caprichosos de todos os
tipos que pervertem o nacionalismo sadio” . Citado em Judis, The Folly ofEmpire, p. 113.
De fato, os presidentes americanos foram incapazes de engajar sua nação em guerras no
exterior novamente até que os japoneses atacassem Pearl Harbor em 1941.
143 A perversidade dessa dualidade talvez seja melhor expressa no fato de que a Inglaterra,
cuja tradição de direito consuetudinário (common law) proibia a escravidão em seu próprio
solo, era também uma grande potência comercializadora de escravos, com seus navios
transportando milhões de escravos africanos para as Américas. Eventualmente, no final
do século xvni, o engajamento cristão conseguiu transformar o governo britânico em um
agente ativo nos esforços pela abobção da escravidão em todo o mundo (v. David Brog, In
Defense ofFaith, Nova York: Encounter, 2010, pp. 125-156). Mesmo essa mudança central
não impediu que a Grã-Bretanha perseguisse a expansão de seu império, na crença de que
estava levando o cristianismo e as instituições civilizadas ao alcance da humanidade.
144 Contudo, o apoio americano a uma ordem de Estados nacionais independentes não foi
inequívoco. O entusiasmado apoio de Woodrow Wilson à autodeterminação dos povos não
o impediu de trabalhar para estabelecer a Liga das Nações como uma forma de governo de
cooperação internacional coercitiva. Seu objetivo era estabelecer um tribunal internacional
de leis “como a regra real de conduta entre os governos” — precisamente o oposto da
129
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autodeterminação para seus países membros (Pacto da Liga das Nações, Preâmbulo e Artigos
10°-17°). Durante a Segunda Guerra Mundial, Franklin Roosevelt também combinou um
compromisso de autodeterminação dos povos com a crença em um “ sistema permanente
de segurança mundial” (Carta do Atlântico, Artigo 8°). Tais visões eram abertamente anti-
imperialistas, mas também procurou prover-se uma nova ordem mundial que exigisse a
estabelecimento de alguma forma de império.
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145 Emer de Vattel, The Law o f Nations, 3.47-48. Tradução minha. [Direito das gentes, p.
435. — nt ], Para uma discussão mais geral da liberdade como exigindo a “ diversificação e
descentralização do poder na sociedade” , v. Robert Nisbet, “The Contexts of Democracy” ,
em The March o f Freedom, org.: E. J. Feulner Jr., Washington, DC: Heritage Foundation,
2003, p. 223; Michael Oakeshott, “The Political Economy of Freedom” , em Rationalism
in Politics and Other Essays, Indianapolis, in : Liberty Fund, 1991 (1962), pp. 388-389.
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O que fez da família das nações européias uma parte da humanidade que se
aprimora, em vez de estacionar? N ão alguma excelência ou superioridade,
as quais, quando existem, existem como efeito, e não como causa; mas sua
notável diversidade de caráter e cultura. Indivíduos, classes e nações têm
sido extremamente dessemelhantes uns dos outros; eles deram início a uma
grande variedade de caminhos, cada um levando a alguma coisa valiosa; e,
embora, em cada época, aqueles que percorriam caminhos diferentes tivessem
sido intolerantes uns com os outros, e cada um achasse que seria excelente
que todos os outros fossem obrigados a percorrer o mesmo caminho que
o seu [...] cada um teve tempo de receber o que outros lhe ofereciam de
bom. A Europa [...] deve totalmente a essa pluralidade de caminhos [seu
desenvolvimento progressista e multilateral].151
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152 Foi essa letargia do império que De Gaulle tinha em mente ao prever que uma Europa
unificada se tornaria “ uma massa materialista, sem alma, sem idealismo” . Citado por
Margaret Thatcher: Statecraft, Nova York: Harper Collins, 2002, p. 365.
153 Friedrich Hayek, “The Economic Conditions of Interstate Federalism” , New Commonwealth
Quarterly 5, (setembro de 1939), pp. 131-149.
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154 Thatcher, Statecraft, pp. 374-376, 420. Um argumento semelhante é apresentado com
detalhes por Dani Rodrik, The Globalization Paradox, Nova York: Norton, 2011.
155 No caso da delegação de poderes de decisão da Grã-Bretanha para a União Européia,
Thatcher conclui que os britânicos foram ingênuos. Ela descreve como os órgãos europeus
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160 O argumento de Mill sobre este ponto é bem conhecido. “As instituições livres são
praticamente impossíveis num país formado por diversas nacionalidades. Num povo
desprovido de sentimento mútuo de identidade, sobretudo se lêem e falam línguas diferentes,
não é possível existir uma opinião pública unificada, necessária para o funcionamento do
governo representativo [...]. Um exército composto por várias nacionalidades tem como
único patriotismo a devoção à bandeira. Tais exércitos foram os algozes da liberdade durante
toda a história moderna” . Mill, Representative Government, pp. 392-394. [Considerações
sobre o governo representativo, pp. 280-281,282. — nt ]. Menos conhecida é a conclusão
de Mill, em que ele argumenta que a Grã-Bretanha nunca saberá o suficiente sobre a Índia
para poder governá-la apropriadamente. V. Parte ii , nota 138, acima.
146
A VIRTUDE DO NACIONALISMO
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161 Raymond Aron, por exemplo, propõe um regime federal internacional como um compromisso
entre um Estado nacional homogêneo e um Estado imperial universal. V. The Dawn of
Universal History, Nova York: Basic Books, 2002 (1996), p. 5.
162 A posição de Kant é declarada inequivocamente em “ Idea for a Universal History with a
Cosmopolitan Purpose”, em Immanuel Kant, Political Writings, ed. Hans Reiss, trad. H.
B. Nisbet, Nova York: Cambridge University Press, 1970 (1784). [Idéia de uma história
universal de um ponto de vista cosmopolita, tradução brasileira de Rodrigo Novaes ÔC
Ricardo Terra, já em sua 4a edição pela WMF Martins Fontes, São Paulo, 2016. — n t ]:
“ numa federação de nações em que todo Estado, mesmo o menor deles, pudesse esperar
sua segurança e direito não da própria força ou do próprio juízo legal, mas somente desta
grande confederação de nações [Foedus Amphictyonum], de um poder unificado e da
decisão segundo leis de uma vontade unificada” (p. 47). Ou, como ele escreve: “ um poder
unificador que dê peso a esta lei, de modo a introduzir um Estado cosmopolita de segurança
pública [entre os Estados]” (p. 49). E: “ um futuro grande corpo político [Staatskòrper]
[...] o propósito supremo, um Estado cosmopolita universal, como seio no qual podem se
desenvolver todas as disposições originais da espécie humana” (p. 51). Uma visão semelhante
é apresentada em ensaio posterior de Kant, “Perpetuai Peace: Philosophical Sketch” , em
Political Writings, pp. 102-105. [A paz perpétua, Porto Alegre, rs : l &pm , 2017, pp. 31-36. —
nt ], em que um “Estado internacional” , aparentemente sem divisões federais, é apresentado
como um ideal a ser buscado, ao passo que uma federação internacional é descrita como
um objetivo intermediário. V. os cap. 21 e 23.
lí3 V. August Heckscher, Woodrow Wilson, Nova York: Scribner, 1993, p. 551. A Liga das Nações
proposta por Wilson obrigou todos os membros ao compromisso de “preservar, contra a
agressão externa, a integridade territorial e a independência política de todos os membros da
Liga” , de acordo com um mecanismo complexo de governança internacional. V. a Carta da
Liga das Nações, Artigos 10 a 17. Isso levou ao famoso apelo do republicano Henry Cabot
Lodge para que o povo americano estivesse “ de agora em diante a favor do americanismo e
do nacionalismo e contra o internacionalismo” . Anais da 17a Convenção Nacional do Partido
Republicano, citado por William Widenor, Henry Cabot Lodge and the Search for an American
Foreign Policy, Berkeley, ca : University of Califórnia Press, 1980, pp. 347-348.
164 Friedrich Hayek, The Economic Conditions o f Interstate Federalism. V. também Sidgwick,
The Elements o f Politics, pp. 268-269; Ludwig von Mises, Liberalism in the Classical
Tradition, trad. Ralph Raico, San Francisco: Cobden Press, 1985 (1927), p. 150. [Liberalismo,
p. 163. — nt ], V. também cap. 5 (Parte i), notas 69-70 acima.
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nas questões de guerra e paz. Eles dizem que a federação será conduzi
da de acordo com uma Carta constitucional escrita — um documento
vinculativo que irá enumerar esses assuntos em que a federação inter
nacional pode intervir, deixando o resto dos poderes de governo nas
mãos dos Estados como uma questão meramente jurídica.
No entanto, a suposição de que um governo federal internacional
pode de alguma forma ser limitado de modo a interferir somente em
certos assuntos é falsa, como podemos perceber ao refletir sobre o prin
cípio em si, examinando o histórico de prática de instituições federais.
Com relação ao princípio, vamos supor que um Estado mova uma
queixa (ou uma ação judicial) junto ao governo federal internacional
referente às políticas ou práticas de um país vizinho. A queixa pode
rá se dar em relação ao estabelecimento de bases militares em suas
fronteiras ou a rápida expansão entre as forças armadas dos vizinhos,
ou sua respectiva indústria bélica; ou pode ser sobre a supressão de
certas minorias nacionais pelo Estado vizinho, ou setores religiosos que
peçam repetidamente por auxílio externo; ou o Estado demandante
pode ver-se prejudicado por práticas econômicas de seu vizinho, ou
pelo incentivo de imigração ilegal através da sua fronteira, ou pelo au
mento dos cartéis de drogas ou organizações terroristas do outro lado
da fronteira; ou ainda pela utilização excessiva ou destruição de um
abastecimento de água comum ou outros recursos compartilhados; ou
por interferência nas suas eleições ou por força de sua política interna;
ou mesmo por espionagem ou assassinatos, ou perturbações públicas
que considera terem sido instigadas pelo seu vizinho; ou pelo que vê
como propaganda hostil na mídia da vizinhança e em escolas. Em
outras palavras, virtualmente qualquer ação ou política adotada por
um Estado pode se tornar um motivo genuíno para ação militar — e se
não for isso, então, pelo menos, um pretexto inventado para essa ação
militar. E agora, depois de meses ou anos de falhas ao tentar resolver
o assunto por meio de acordos, subornos e ameaças, a liderança do
Estado demandante, às vésperas de decidir se resolve a questão pela
força, recorre às instituições da federação internacional com o objetivo
de ter uma solução imposta para que a guerra possa ser evitada.
Quem, então, irá determinar se a queixa (ou ação) é dotada de
legitimidade para ser levada aos funcionários da federação interna
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167 Philip Hamburger, Separation o f Church and State, Cambridge, m a : Harvard University
Press, 2002, pp. 147-189.
lí8 Apesar da conhecida posição de Lincoln de que ele estava lutando para preservar a União,
em vez de erradicar a escravidão, vejo pouco sentido em separar as duas questões. Foi a
herança cultural escravagista do Sul e sua relutância em separar-se disso que deu causa
à secessão. Além disso, com a guerra já em andamento, o governo federal avançou para
abolir toda a escravidão nos E U A e o fez entre 1863 e 1865, inclusive em estados que não
se separaram. Se a guerra tivesse sido travada somente sobre a questão formal da secessão,
154
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170 Sobre as origens bíblicas do federalismo, v. Daniel Elazat, Covenant and Polity In Biblical
Israel, New Brunswick, n j : Transaction, 1995.
171 Os signatários do tratado, incluindo Alemanha, França e Grã-Bretanha, resolveram “continuar
o processo de criar uma união cada vez mais próxima entre os povos da Europa, em que as
decisões são tomadas o mais próximo possível do cidadão, em conformidade com o princípio
da subsidiariedade” (Preâmbulo). Sobre a passagem citada, v. Artigos B e G, Seção 5.
172 V. Jeremy Rabkin, Law Without Nations?, Princeton, n j : Princeton University Press, 2005,
p. 43. O direito dos cidadãos europeus de recorrer ao direito da Comunidade Européia
contra as leis de seus próprios governos nacionais foi estabelecido pelo Tribunal Europeu
de Justiça em 1963. Caso 26/62, Van Gend en Loos v. Nederlandse Administratie der
Belastingen (1963), e c r 1; John Fonte, Sovereignty or Submission, Nova York: Encounter,
2011, pp. 132-133.
157
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173 As leis da União Européia têm de ser ratificadas por órgãos nomeados e eleitos, e legislaturas
nacionais também têm poderes limitados para intervir. Mas em todo caso, a autoridade
decisória permanece com as cortes federais européias. Estimativas sugerem que talvez metade
da nova legislação nos Estados europeus é imposta pela burocracia da ue em conformidade
com este procedimento e sustentada pela hierarquia judicial. Para uma visão geral da
restrição imposta às autoridades nacionais dos Estados-membros na União Européia, v.
Fonte, Sovereignty or Submission, pp. 121-158.
158
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contra as opiniões desses agentes. Pois são eles que têm autoridade para
interpretar esses documentos e, assim, determinar o curso de todos os
assuntos. Eles irão interpretar, ignorar ou alterar qualquer documento
à luz de sua própria compreensão do que é necessário para a saúde e
a prosperidade do Estado imperial — que eles inevitavelmente, e de
acordo com a tradição de longa data, identificarão com a saúde e a
prosperidade da humanidade como um todo.
160
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174 Para uma visão geral deste assunto, v. Will Kymlicka, Politics in the Vernacular, Oxford,
UK: Oxford University Press, 2001, pp. 23-24. As vantagens do Estado cívico ou neutro
são enfatizadas, especialmente, por Lord Acton, citado por John Emerich Dalbert-Acton,
“Nationality” , Essays on Freedom and Power, org.: Gertrude Himmelfarb, Boston: Beacon
Press, 1949 (1862), pp. 166-195. Tornou-se um princípio normativo orientador no estudo
acadêmico do nacionalismo com o surgimento de obras como a de Kohn, The Idea o f
Nationalism, e Kedourie, Nationalism.
175 Para críticas ao mito da “ nação cívica” , v. Yack, Nationalism and the Moral Psychology
o f Community, pp. 23-43; Roshwald, The Fndurance o f Nationalism, pp. 253-295; Taras
Kuzio, “The Myth of the Civic Nation: A Criticai Survey of Hans Kohn’s Framework for
Understanding Nationalism” , Ethnic and Racial Studies 25 (janeiro de 2002), pp. 20-39;
Stephen Shulman, “ Challenging the Civic/Ethnic and West/East Dichotomies in the Study
of Nationalism”, Comparative Political Studies 35 (junho de 2002), pp. 554-585; Will
Kymlicka, Politics in the Vernacular, pp. 23-27.
176 Michael Walzer, por exemplo, descreve os Estados Unidos como caracterizados por um
“ acentuado divórcio entre Estado e etnia” , embora admita que “ índios americanos e
negros foram em grande parte excluídos desta unidade” . V. o seu “ Pluralism in Political
Perspective” , em The Politics o f Ethnicity, orgs.: Michael Walzer et al. Cambridge, MA:
Harvard University Press, 1982, pp. 17-18. A conveniência de separar a nacionalidade do
Estado aparece repetidamente no pensamento político judaico-alemão, notadamente nos
escritos de Hermann Cohen, Martin Buber e seus seguidores. V. minha abordagem em Yoram
Eíazony, The Jewish State, Basic Books, 2000, pp. 181-264. Um tratamento contemporâneo
161
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desta tradição está em Yael Tamir, Liberal Nationalism, Princeton, n j : Princeton University
Press, 1993.
177 Sobre a teoria do “ patriotismo constitucional” como uma alternativa ao nacionalismo
numa Alemanha “ pós-nacional” , vide Jürgen Habermas, “The European Nation-state” e
“ Does Europe Need a Constitution?” , The Inclusion ofthe Otber, coords.: Ciaran Cronin
e Pablo De Greiff, Cambridge, Mass: Massachusetts Institute of Technology Press, 1998, pp.
117-120,160-161. Alguns proponentes enfatizam que não são propriamente os documentos
constitucionais, mas sim os princípios que vão neles consagrados, que devem ser objeto de
lealdade. Meu argumento vai na mesmo sentido, contudo, independentemente de se extrair
o problema do documento ou dos princípios descritos no documento que supostamente
deveríam ser o objeto da lealdade.
162
A VIRTUDE DO NACIONALISMO
178 Sobre a reverência religiosa à bandeira americana cultivada depois da Guerra Civil nos
Estados Unidos, v. Samuel Huntington, Who Are We?, Nova York: Simon and Schuster,
2004, pp. 127-128.
163
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179 Eu me referi aqui à maior nação dentro de um Estado nacional livre como nação majoritária.
No entanto, também pode haver um Estado nacional livre em que a maior nação não goza
164
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186 Sobre Israel como um Estado nacional judeu, v. Hazony, The Jewish State, pp. 267-275.
169
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187 N a Europa Oriental, na índia e no Oriente Médio, muitos dos mais bem-sucedidos Estados
nacionais foram estabelecidos como resultado de intercâmbios populacionais, frequentemente
acompanhados de violência. Como Roshwald escreve, “Valores pluralistas, ao que parece, são
170
A VIRTUDE DO NACIONALISMO
muito mais fáceis de serem adotados na ausência de diversidade” . Roshwald, The Endurance
o f Nationalism, p. 264. Os locais onde os Estados nacionais, no entanto, confrontam-se
com conflitos internos prolongados, são justamente as regiões em que uma minoria nacional
forma uma maioria local forte: na Cashemira muçulmana na índia, nas províncias curdas do
sudeste da Turquia, em territórios de maioria árabe mantidos por Israel, e assim por diante.
188 Como Margaret Canovan escreve: “ O problema de manter a unidade e estabilidade [...]
tem sido historicamente mais difícil de resolver em termos democráticos do que em termos
não-democráticos [...]. Quanto mais democrático é o Estado, mais necessidade tem o povo
de ter algum vínculo de unidade além daquelas fornecidas pela sujeição comum” . Canovan,
Nationho de teoria política, Northampton, m a : Edward Elgar, 1996, p. 22. Estas conclusões
são apoiadas por Dorina Bekoe, em sua pesquisa de Estados africanos internamente
divididos, “ Democracia e conflitos africanos: incitar, mitigar, reduzindo a violência” , em
Democratization in África, conferência relatório do National Intelligence Council, 2008,
p. 30. V. também Anthony Smith, The Ethnic Origins ofNations, p. 146.
171
YORAM HAZONY
que tais Estados fossem estabelecidos sempre que possível.189 Tal po
sição não requer, contudo, que demos o passo adicional de endossar
um direito universal à independência nacional e à autodeterminação,
aplicável a todos os povos, como sugerido por Woodrow Wilson.190 E,
de fato, parece que não pode haver tal direito. Explicarei aqui porque
isso é assim, e o que isso significa para a elaboração da política externa
e para o avanço da ordem dos Estados nacionais.191
Grande parte do discurso político atual se preocupa com a afir
mação de vários direitos naturais e universais que diz pertencerem
a indivíduos e coletividades. Nessas discussões, há muitas vezes uma
transição muito fácil do reconhecimento de que algo é bom, para a
afirmação de que todos os indivíduos ou nações têm um “ direito” a
esse “ algo bom” (good). N a realidade, nem tudo que é bom pode ser
entregue a cada indivíduo ou nação: a disponibilidade de um bem
para um indivíduo impede a possibilidade de alcançar outro; ou então
priva outros indivíduos de vários bens; ou então sua disponibilidade
hoje resulta em uma deterioração muito mais severa das condições de
amanhã; e assim por diante. Isto significa que os bens que podem ser
disponibilizados são uma questão prática que não pode ser determina
da sem tentativa e erro nas sociedades atuais. Os verdadeiros direitos,
172
A VIRTUDE DO NACIONALISMO
aqueles que incorrem em obrigações para os outros, são, por isso, in
calculáveis sem referência às restrições dos contextos do mundo real.
Por exemplo, podemos dizer que um bom regime político será aquele
em que os indivíduos não sofrem de fome e em que estão protegidos
das devastações da guerra. No entanto, reconhecer essas coisas como
aspectos do bem político não equivale a reconhecê-las como um di
reito. A obrigação de prevenir toda espécie de fome só poderá existir,
potencialmente, em uma sociedade que possua os recursos econômicos
e logísticos para realizar tal missão; assim como o direito de não ser
chamado à guerra só pode existir, potencialmente, em uma sociedade
cujas forças armadas sejam fortes o suficiente, e cujos vizinhos sejam
suficientemente pacíficos para permitir tal garantia. E o mesmo pode
ser dito de muitos outros direitos universais que foram declarados nos
dois últimos séculos sem que se considerasse a existência ou não de
recursos que pudessem disponibilizá-los. É difícil entender como se
pode afirmar que a simples nomeação de um bem, onde não existem os
recursos para a sua entrega, acarreta um direito, que é uma obrigação
que deve ser assumida por outrem.
Este é o caso que diz respeito à proposta universal de um direito
à independência nacional. A melhor ordem política que conhecemos
é uma ordem de Estados nacionais independentes. Isto não significa,
porém, que todas as nações tenham o direito de ser independentes. Ao
sugerir que as aspirações nacionais seriam respeitadas e que nenhum
povo continuaria a ser governado contra a sua vontade, Wilson estava
sugerindo uma certa visão do que é bom ou melhor. Mas ele também
estava afirmando o direito de um povo de não ser governado contra a
sua vontade e, portanto, uma obrigação de ser suportado por outros,
para garantir este resultado. A afirmação de tal direito e tal obrigação
parte do pressuposto de que existe um mundo em que é possível fazer
determinações claras sobre o que constitui uma nação que merece
independência, e na qual há recursos suficientes para a tarefa de as
segurar um Estado nacional independente, sempre que houver uma
reivindicação plausível. Mas o mundo das nações não é tão nítido.
Nem há recursos remotamente suficientes disponíveis para a concessão
de tal direito universal em todos os casos em que uma reivindicação
assim venha a ser feita.
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A VIRTUDE DO NACIONALISMO
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YORAM HAZONY
como tribos de uma nação americana, com sua distinta cultura pú
blica, mas sem língua ou religião separadas. Mas o mesmo poderia
ter sido dito do inglês-americano que se revoltou contra o domínio
britânico. O que faz com que a independência americana pareça ter
sido um esforço plausível não é tanto as formas relativamente leves
de abuso que americanos sofreram nas mãos do governo britânico,
mas sim o fato topográfico de que um oceano os dividia. Os estados
do Sul não estavam do outro lado de um oceano, e Lincoln entendeu
corretamente que o surgimento de uma nação possuidora de escravos
ao sul teria assegurado aos e u a o sofrimento de séculos de competição
hostil decorrentes daquela secessão. Ele precisava apenas olhar para
o relato bíblico das guerras fratricidas entre os reinos de Israel e Judá,
que no final enfraqueceram a ambos e prepararam o caminho para
sua destruição, para ver o futuro diante dele. E esse futuro, juntamente
com o mal de permitir à escravidão perdurar na América para sempre,
justificou de fato negar autodeterminação à Confederação. As razões
para distinguir o caso da independência americana do da independência
confederada não são, portanto, encontradas na forma como definimos
o que é uma “nação” , ou na forma como formulamos uma proposta de
direito universal à autodeterminação nacional. Os casos distinguem-se
apenas na balança moral e prudencial das considerações para apoiar
ou se opor à independência em um caso particular.
O mesmo se aplica a todos os outros casos. Após a Primeira Guerra
Mundial, a política de Versalhes de desmantelamento da Áustria-Hun-
gria em uma série de Estados nacionais foi, após o colapso da Rússia,
um convite aberto à expansão alemã para o sul e o leste. O próprio
Wilson teve a capacidade de prever que a Alemanha buscaria para
si mesma “ um lugar de domínio” entre os povos do mundo, mas o
acordo do pós-guerra não tinha como objetivo assegurar que isso não
poderia acontecer, mas sim buscar o princípio da autodeterminação
nacional de todos os povos, sejam eles fortes ou fracos. Essa política
fortaleceu drasticamente a Alemanha rumo ao leste, abrindo o cami
nho para a devastação de Hitler em cada um desses países vinte anos
depois.194 Da mesma forma, Eisenhower apoiou o nacionalismo árabe
194 Woodrow Wilson, “ Discurso à sessão conjunta do congresso sobre as condições de paz” , 8
de janeiro de 1918;Henry Kissinger, Diplomacy, Nova York: Simon and Schuster, 1994, pp.
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mais forte, sobre esta parte mais forte ser ou não digna de confiança
para cumprir seu papel na aliança; ou, ainda, sobre os vários danos
causados pela força adicional de tal nação serem ou não, ao final do
processo, maiores que os benefícios que trará para si mesma e para
outros aliados. Além disso, os estadistas podem fazer investimentos
em partes mais fracas que eles estimam que crescerão mais fortes
com o tempo, ou em partes mais fracas onde a aparência de uma
política justa será benéfica para o público interno ou em alguma
outra arena. Estes e outros fatores similares significam que, na maior
parte do tempo, os cálculos de interesse próprio nacional oferecem
respostas ambíguas a questões de política. Esta ambigüidade inerente
aos assuntos políticos abre um espaço substancial para considerações
morais que desequilibram a tomada de decisões de uma forma ou de
outra, sem, de forma alguma, trair a responsabilidade do estadista
de perseguir os interesses da nação.
Por estas razões, as figuras políticas que entendem a irrelevância
do idealismo wilsoniano para os assuntos mundiais podem, entretan
to, preocupar-se com a construção da ordem dos Estados nacionais
independentes. O estadista, reconhecendo que esta é a melhor forma
de ordem política, não se propõe então, como alguns Napoleões, a
derrubar tudo o que existe para que ele possa impor este ideal em toda
a terra. Nem considera-se a si mesmo como tendo a capacidade de ditar
a política apropriada em todo e qualquer caso. N o entanto, a ordem
dos Estados nacionais independentes será para ele uma imagem do bem
que é mantido firmemente em vista, entrando em suas deliberações e
decisões de forma equilibrada e moderada, sem jamais atraí-lo para
a loucura dogmática. Isso significa que, quando a independência de
um povo em particular não está dentro do âmbito das possibilidades
da sua geração, ele não irá dedicar recursos à defesa desta causa. E
quando a aplicação do princípio da autodeterminação nacional vier
a prejudicar sua própria nação, causar muitos danos a um aliado
importante, ou estabelecer um regime instável, hostil ou pernicioso,
ele se oporá a este. Ao mesmo tempo, ele continuará a considerar a
liberdade das nações como um bem a ser levado em conta, e em raras
ocasiões também perseguirá vigorosamente o estabelecimento de um
novo Estado nacional, ou a dissolução de um Estado não-nacional
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19< Como Sidgwick sugere, os princípios freqüentemente descritos como “direito internacional”
são apropriadamente chamados de “moralidade internacional” . Sidgwick, The Elements
o f Politics, p. 256. As “ leis naturais” (ou “ obrigações naturais” ) das nações a que me refiro
aqui são princípios ou obrigações que são conhecidos pela experiência, e por isso estão
abertos à revisão, como nas ciências naturais. Estes devem ser distinguidos das afirmações
racionalistas da lei natural ou direito natural, que são derivados de axiomas supostamente
auto-evidentes.
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A VIRTUDE DO NACIONALISMO
1,7 Os termos direito [right] e soberania [sovereignty] só podem ser aplicáveis se forem entendidos
em um sentido restrito. O termo “ soberania” é problemático por sua origem em doutrinas
absolutistas, sustentando que a vontade do rei é inviolável dentro do seu reino. De fato, nem
a vontade do rei, nem a do parlamento, nem a do povo (vista como “ soberania popular” )
podem ser consideradas como absolutas. As pessoas não são mais infalíveis do que um rei
ou um parlamento, como confirma a eleição popular dos nazistas em 1933. Em alguns casos
extremos, então, indivíduos, grupos tribais ou nacionais, junto de atores estrangeiros podem
ter motivos para violar as leis ou políticas de um governo nacional em seu solo. A vontade
de nenhum indivíduo ou instituição pode ser devidamente declarada como inviolável. Por
esse motivo, a Soberania pertence apenas a Deus. Sobre “ soberania popular” , v. Edmund
Morgan, Inventing the People, Nova York: Norton, 1988. Da mesma forma, o termo “ right” ,
que hoje é freqüentemente usado para sugerir uma derivação a priori de uma razão universal,
não pode assumir esse mesmo significado aqui. Direitos [rightsl sob uma lei internacional
[intemational lata], como os direitos deduzidos de uma legislação nacional interna, só podem
ser derivados empiricamente, como as normas que foram exemplificadas para sustentar um
dado sistema moral ou legal e para beneficiar aqueles que vivem sob ele.
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199 Sobre demografia e declínio nacional, v. David Goldman, How Civilizations Die, Nova York:
Regnery, 2011. Kissinger enfatiza que o objetivo do concerto da Europa não era congelar
fronteiras, mas garantir que as mudanças ocorressem em um “ processo de evolução” .
Kissinger, World Order, p. 66 [Ordem mundial, p. 53. — nt ]. Isso é mais realista do que
tentar manter virtualmente todas as fronteiras fixadas perpetuamente, que é, de fato, a
posição de muitas personagens políticas e intelectuais de nossos dias.
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A VIRTUDE DO NACIONALISMO
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liberdade nacional parece ser o seu direito, seu último grande ato de
autodeterminação nacional.
Vejo esta questão como a mais complicada. Se os holandeses, por
exemplo, quiserem se tornar um estado federado ou protetorado da
Alemanha, considerando essa ação como a melhor alternativa que ve
nha a seguir, então talvez não tenhamos outra escolha senão aceitá-la,
por muito que lamentemos ver um Estado nacional com uma herança
cultural esplêndida abdicar de seu lugar no mundo. Tal passo pode
ser justificado sob o princípio da parcimônia, e poderia, teoricamente,
ser considerado como um ajustamento das fronteiras de um Estado
nacional alemão.201 Mas é outra coisa inteiramente diferente quando
os poderes de um Estado são transferidos para uma União Européia
dominada pela Alemanha, que é, na verdade, um Estado universal, sem
fronteiras naturais e governando em nome de doutrinas universais, cujo
alcance será limitado apenas pelo poder que este império pode impor
sozinho. Quando um Estado nacional transfere poderes de governo
para um tal Estado imperial, não só renuncia à sua própria liberdade
nacional (como também seria verdade no caso da Holanda se tornar
um estado dentro de uma federação alemã expandida): isso também
colabora diretamente na destruição da ordem dos Estados nacionais
independentes — transferindo o poder para um sistema internacional
ilimitado e para a ordem imperial que a liderança desse Estado procura
estabelecer. Tal ordem imperial não pode e não irá tolerar a existência
de organizações nacionais de Estados independentes. À medida que
se fortalecer, trabalhará para deslegitimar e minar a independência de
todos os demais Estados nacionais, declarando-os como um resquício
(,holdover) de uma era selvagem e primitiva. Na medida em que a ordem
imperial for capaz de reunir os poderes necessários, irá se esforçar por
coagir os Estados restantes e, finalmente, reduzi-los a uma situação de
sujeição, ao mesmo tempo em que declara estar tomando essas medidas
para o bem da paz e da prosperidade para toda a humanidade. Isto é
201 Algumas nações ou tribos preferem até hoje continuar sendo governadas por um Estado
nacional muito mais forte, como um protetorado sob um ou outro tipo de organismo
federativo. O governo dos e u a em Porto Rico, um país de língua espanhola com uma
população de quase quatro milhões, é um exemplo bem conhecido, e u a , Grã-Bretanha,
França e outros países continuam a governar dezenas de protetorados, embora suas
populações sejam geralmente menores.
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202 Sobre a Organização Mundial do Comércio (o m c ), v. Rabkin, Law Without Nations?, pp.
193-232. Sobre a “globalização” da política interna sob a rubrica da busca dos direitos
humanos universais, v. Rabkin, Law Without Nations?, pp. 158-192; Fonte, Sovereignty
or Submission, pp. 201-278.
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PARTE III
Antinacionalismo e ódio
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204 V. o cap. 3.
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Vemos com profundo desprezo o apego dos selvagens à sua liberdade sem
lei. Eles preferem se envolver incessantemente em lutas do que submeterem
a uma coerção legal [...]. Nós consideramos isso como bárbaro, grosseiro
e brutal rebaixamento da humanidade. Poderiamos pensar que os povos
civilizados (cada um unido em um Estado nacional) teriam de apressar-se
a abandonar um estado de natureza tão degradante. Em vez disso, porém,
cada Estado coloca antes sua própria majestade [...] precisamente por
não estar submetido a nenhuma coerção legal externa, e o esplendor de
seu governante consiste no seu poder de ordenar que milhares de pessoas
se sacrifiquem.206
198
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Há apenas uma maneira, segundo a razão, pela qual os Estados que coexis
tem com outros Estados podem emergir da condição sem lei da guerra pura
[...]. Eles devem renunciar à sua liberdade selvagem e sem lei, consentir com
as leis públicas de coerção, para assim formarem um Estado internacional,
que continuaria a crescer até comportar, em si, todos os povos da terra.207
207 Ibid., p. 105. Ênfase no original. Quando Kant usa o termo “ Estado dos povos” aqui, ele
aparentemente se refere a um Estado não-federal com uma jurisdição única (“ uma república
mundial” ). Ele reconhece que tal Estado não é ainda viável e propõe “ federação consistente,
sempre expansiva ” como alternativa prática (105). Uma federação universal ainda é, contudo,
um Estado imperial universal, e não algo a ser desejado. V. minha discussão no cap. 15.
199
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208 Jürgen Habermas, “The European Nation-State” , em The Inclttsion o fth e Other, orgs.:
Ciaran Cronin e Pablo De Greiff, Cambridge: Massachusetts Institute of Technology Press,
1998, p. 118.
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201
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209 Termo original usado por Davi Ben-Gurion é homeland, muito mais amplo que “terra natal” ,
“ lar” ou “pátria” . Homeland é um conceito abrangente que envolve a idéia de segurança,
por isso foi empregada nesse discurso com tanta ênfase. — n t
210 Discurso de Ben-Gurion perante a Assembléia Nacional em sessão especial, 30 de novembro
de 1942, pasta J/l 366, Central Zionist Archives, Jerusalém.
202
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[...] uma federação de nações em que cada Estado, mesmo o menor deles,
pudesse esperar sua segurança e direito não da própria força ou do pró
prio juízo legal, mas somente desta grande confederação de nações, de um
poder unificado e da decisão segundo as leis de uma vontade unificada.213
212 Immanuel Kant, “ Idea for a Universal History with a Cosmopolitan Purpose” , em Political
Writings, p. 53.
213 Ibid., p. 47.
208
A VIRTUDE DO NACIONALISMO
Kant não acreditava que no seu próprio tempo qualquer nação ainda
tivesse atingido esse nível de “maturidade moral” . Mas ele acreditava
que a Europa provavelmente o alcançaria eventualmente, tendo sido
obrigada a alcançá-lo pela dor e sofrimento induzidos por tantas guer
ras.214 O resto do mundo, enquanto isso, permaneceu em condição de
selvageria, e ainda não havia dado o passo inicial de se unir em forma
de Estados nacionais. Isso eles obviamente teriam que fazer primeiro,
antes que pudessem galgar postos mais altos.
Os três estágios do progresso humano de Kant são reproduzidos
mais ou menos exatamente do mesmo modo que os antinacionalistas
europeus falam sobre assuntos internacionais. De acordo com essa
visão, há apenas um lugar no mundo onde se pode encontrar nações
que finalmente alcançaram o estágio de “ maturidade moral” : a União
Européia. Só na Europa ficou perfeitamente claro para muitos mi
lhões de pessoas que a ordem dos Estados nacionais deve agora ser
transcendida. Só lá o ideal de independência nacional está em vias de
ser descartado. Deste ponto de vista, é evidente supor o que se pensa
a respeito do Irã, Turquia, dos árabes e do Terceiro Mundo, que são
todos considerados como em um estágio muito mais primitivo de sua
história. Diz-se que esses seriam os povos que ainda tentam escapar
da selvageria, ainda tentando consolidar os Estados nacionais regidos
pelo Estado de Direito interno (rule oflaw). Uma vez que eles chegaram
a este ponto, possivelmente daqui a séculos, eles também começarão
gradualmente a reconhecer a racionalidade de superar seus Estados
nacionais e alcançar “maturidade moral” sob um governo internacional.
A prevalência desta visão de três etapas da história explica muito
sobre o entusiasmo de muitos líderes europeus em estabelecer novos
Estados no Oriente Médio e no Terceiro Mundo, bem como seu rela
tivo desinteresse pela agressão e atrocidades cometidas nessas regiões.
Aos seus olhos, estas guerras e atrocidades são apenas uma etapa pela
qual os povos dos “países em desenvolvimento” têm de passar. Como
crianças, eles supostamente não conhecem outra coisa melhor — e
continuarão a não conhecer nada melhor por algum tempo.215
214 Ibid., pp. 47-49. Além disso, a Europa “que provavelmente um dia dará leis a todas as
outras” [partes do mundo], p .52.
215 Kant compara repetidamente a imaturidade moral da humanidade com a imaturidade das
crianças, como em Idea for a Universal History, p. 42.
209
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Nada disto pode ser dito sobre Israel, é claro. Considerados a partir
da perspectiva do liberalismo europeu, os judeus não são muçulmanos
nem pessoas do Terceiro Mundo. Os judeus devem ser vistos como um
povo europeu, e os padrões aplicados a nós são aqueles que devem ser
aplicados à Europa, que finalmente chegou ao estágio de “maturidade
moral” . Daí o desgosto e a raiva que se abateu sobre israelenses e ju
deus por insistirem na nossa autodeterminação nacional. Sempre que
agimos unilateralmente em assuntos militares, ou confiamos em nosso
próprio julgamento independente em assuntos jurídicos e constitucio
nais, somos vistos como ex-europeus que grotescamente viraram as
costas para o caminho da maturidade moral. Nós não somos como
crianças, que não podem ser responsabilizadas por desconhecer o
que deva ser feito. Somos como adultos, que sabem muito bem o que
fazem, mas que ainda assim escolheram conscientemente o caminho
da irracionalidade e da imoralidade.
Isso explica a razão de existir tal desequilíbrio entre a forma com que
muitos na Europa vêem Israel não da mesma forma com que eles vêem o
Irã, a Turquia, os Estados árabes e o Terceiro Mundo. A duplicidade de
padrões decorre diretamente da interpretação kantiana da história. Onde
quer que o novo paradigma se enraize, lá você verá que as exigências
morais feitas a Israel são cada vez mais rigorosas, enquanto as críticas
públicas aos vizinhos muçulmanos de Israel são amenas ou mesmo não
ocorrem. Isto pela simples razão de que os iranianos, turcos e árabes
não são considerados como povos no estágio certo de sua história para
entender a moralidade e a razão. Como diria Kant, com eles “ ao final
mostra-se, no seu conjunto, entretecido de tolice, capricho pueril e fre-
qüentemente também de maldade infantil e vandalismo” .216
É claro que não é nem polido nem político dizer que todas essas
nações não são melhores do que simples e violentas crianças, e que
por essa razão há pouco a se esperar delas. Mas raspe a superfície
educada, e você constatará que esta chocante condescendência, na
fronteira do racismo, está em toda parte. A insistência de que os
israelenses devem ser responsabilizados por um padrão moral mais
elevado do que os árabes ou iranianos, porque somos, acima de tudo,
210
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222 V. a discussão de Michael Mack sobre a filosofia anti-semita de Kant em Germatt Idealism
and tbe Jetv, Chicago: University of Chicago Press, 2003, pp. 1—41.
21 7
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223 V. Yoram Hazony, “There’s No Such Thing as an ‘IlliberaP” , Wall Street Journal, 4 de agosto
de 2017.
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CONCLUSÃO
A virtude do nacionalismo
E
notável que Moisés, que fala com o Senhor do céu e da ter
ra, no entanto, não inicia nenhuma conquista universal, e se
apresenta como legislador apenas para Israel. Os profetas de
Israel certamente entenderam que a Torá tinha sido dada para o bem
de toda a humanidade. E ainda as Escrituras hebraicas mantêm uma
distinção permanente entre o Estado nacional sancionada por Moisés
no Deuteronômio, que deve governar dentro de fronteiras prescritas;
e a aspiração de ensinar a palavra de Deus às nações do mundo, que
ocorre quando as nações vêm a Jerusalém para aprender os caminhos
de Israel, estando associadas sem a necessidade de uma conquista.
Quão diferente é essa sensibilidade bíblica do que encontramos entre
os impérios da Antigüidade, que sempre têm seus olhos na conquista,
e procuram impor sua visão de paz e prosperidade às nações a qual
quer custo!
Neste livro, procurei entender o que está por trás da preferência
bíblica por uma ordem política baseada no Estado nacional, uma
preferência que nos tempos modernos se tornou pilar da construção
protestante da civilização ocidental. A instituição do Estado nacional,
como sugeri, oferece uma série de vantagens sobre as formas alterna
tivas de ordem política que nos são conhecidas: o Estado nacional,
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22 2
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224 Theodore Herzl, The Jewish State, trad. de Harry Zohn, Nova York: Herzl Press, 1970, p.
107.
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Diz-se que quando Deus chama Abraão, Ele lhe diz “ farei de ti uma
grande nação [...] e em ti serão abençoadas todas as famílias da ter
ra” .225 Contudo, em nenhum lugar os patriarcas ofereceram um império
sobre a terra, apenas um reino sobre a terra de Israel. As outras nações
que um dia encontrarão seu caminho para Deus e seus ensinamentos o
farão em seu próprio tempo e de acordo com seu próprio entendimento.
Cada nação julga de acordo com uma perspectiva que é a sua. Não há
qualquer ser humano, e não há qualquer nação que possa reivindicar
ter apanhado toda a verdade para todos os outros.
Esta visão mosaica é diametralmente oposta àquela oferecida pelo
imperialismo supostamente esclarecido de Kant, que afirma que a ma
turidade moral chega com a renúncia da independência nacional e com
a incorporação a um único império universal. Mas não há maturidade
moral no anseio por um império benevolente que governe a terra e cuide
de nós, julgando por nós e impondo seus julgamentos sobre nós. Na
verdade, não é nada além de um apelo para voltar à dependência da
infância, quando nossos pais cuidavam de nós e nos julgavam em todos
os assuntos importantes. A verdadeira maturidade moral só é alcançada
quando nos mantemos sobre nossos próprios pés, aprendendo a nos
governar e a nos defender sem prejudicar desnecessariamente os que nos
cercam e, sempre que possível, prestando também assistência a vizinhos
e amigos. E o mesmo vale para as nações, que atingem uma genuína
maturidade moral quando podem viver em liberdade e determinar seu
próprio curso, beneficiando outros onde isso é viável, mas sem aspirações
de impor seu governo e suas leis às outras nações por meio da força.
Desejando alcançar a maturidade, devemos arcar com os encargos
da liberdade e da independência nacional que recebemos como herança
de nossos antepassados. Façamos tudo o que estiver ao nosso alcance
para garantir que este precioso dom ainda esteja intacto quando chegar
a hora de transmitir essa liberdade nacional aos nossos filhos.
E
ste livro foi escrito por sugestão de Steven Grosby, cujo próprio
trabalho sobre o nacionalismo e sua relação com a Bíblia judaica
tem sido uma inspiração para mim. Steven tem me guiado neste
e em muitos outros assuntos já por muitos anos. Tenho o prazer de
ter a oportunidade de expressar minha gratidão por sua orientação,
colaboração e amizade.
O núcleo do livro é uma teoria do Estado nacional que desenvolví
em conversa com Ofir Haivry durante a primeira década de nossa
parceria no Centro Shalem nos idos de 1994. Passamos por muitas
coisas juntos desde então. Eu não podería ter escrito tal livro sem
suas muitas contribuições ao meu pensamento, que estão expressas
ao longo destas páginas.
Meu tratamento de Locke e sua relação com a Bíblia foi alimentado
pelas dicas de Jonathan Silver sobre o assunto. Minha visão da vida
política como fundada nas relações de lealdade mútua também chegou
à maturidade à luz das discussões com minha filha Avital Hazony Levi.
Minha exposição deve muito a ambos.
Eu gostaria de agradecer aos estudiosos que dedicaram tempo
precioso para comentar partes do manuscrito, incluindo Randy Barnett,
Rafael Ben-Levi, Peter Berkowitz, R. Rafi Eis, Steven Grosby, Ofir
Haivry, Yael Hazony, Michael Kochin, Neal Kozodoy, Julius Kerin,
229
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23 0
índice remissivo
A ateísm o 67
Auschwitz 8 ,2 0 1 ,2 0 2 ,2 0 3 ,2 0 4 ,
Adenauer, K onrad 56 , 57 , 58 2 0 5 ,2 0 6
Á frica 4 2 , 54 , 5 5 ,1 2 6 ,1 2 7 ,1 2 9 , A ustrália 170
1 6 7 ,1 7 4 ,2 1 1 ,2 1 4 Á ustria-H ungria 1 2 5 ,1 4 5 ,1 7 6
alaw itas 168 A utodeterm inação 172
A lcorão 162 autodeterm inação coletiva 2 2 ,2 3 ,
Alem anha 37, 54 , 5 5 ,5 6 , 57 , 58, 1 1 9 ,1 3 0 ,1 3 1 ,1 3 2 ,1 3 3 ,
1 2 6 ,1 2 7 ,1 2 9 ,1 4 0 ,1 5 7 , 1 3 5 ,1 6 9 ,1 7 4 ,1 7 5 ,1 8 2 ,
1 5 9 ,1 6 2 ,1 7 6 ,1 8 2 ,1 8 6 , 222
1 8 8 ,2 0 0 ,2 0 2 ,2 0 3 ,2 0 5 , autoritarism o 68
206
Alem anha nazista 55 B
Amenemhet i 28 Babilônia 2 8 , 3 1 ,5 9 ,1 1 0
Am on 31 Ben-Gurion, D avid 1 4 ,2 0 1 ,2 0 2
an arquia 109 Bíblia 1 0 ,2 0 ,2 8 ,2 9 , 30, 31, 32,
À p a z p e r p é t u a (Kant) 11, 4 8 ,1 4 8 , 35, 36, 4 3 ,4 4 , 50, 64, 68,
1 9 8 ,1 9 9 69, 7 3 ,8 0 ,1 0 9 ,1 6 5 ,1 6 9 ,
arbitragem 152 233
Arm ênia 33 Bósnia 1 8 3 ,1 8 5
A ssíria 28, 31 Burke, Edm und 9, 11, 4 7 , 4 8 , 68,
231
YORAM HAZONY
89, 9 5 ,1 2 1 ,1 4 4 , 226 D
Bush, George H. W. 53, 59 D avi (Rei israelense) 33, 35
deslegitim ação 6 4 ,1 9 5 , 2 07, 214,
c 215
D inam arca 3 7 ,2 1 8
Calvino, Jo ã o 35, 38
caráter nacional 1 2 1 ,1 2 2 direito internacional 51, 52, 67,
C arta do Atlântico 1 3 ,4 2 ,1 3 0 180
casam ento 67, 9 7 ,1 4 4 direitos hum anos e liberdades 67
catolicism o 35 diversidade 62, 63, 65, 8 7 ,1 2 2 ,
China 3 5 ,2 1 3 1 3 7 ,1 3 9 ,1 4 0 ,1 4 1 ,1 5 3 ,
Churchill, W inston 1 3 ,4 2 ,4 3 , 234 171, 2 2 7 , 228
cidade-Estado 9 3 ,1 3 6 ,1 4 0
clãs 3 0 ,4 6 , 72, 73, 74, 79, 80, 81, E
82, 83, 8 4 ,9 0 ,9 1 ,9 2 ,9 3 , Edom 30, 33
9 4 ,1 0 1 ,1 0 2 ,1 0 4 ,1 0 5 , 106, Egito 28, 29, 31, 32, 3 3 ,1 1 3 ,1 7 7
1 1 1 ,1 1 9 ,1 3 0 ,1 3 1 ,1 3 2 , Eisenhower, Dwight 1 4 ,1 7 6
1 3 5 ,1 3 6 , 1 5 3 ,1 7 4 ,1 7 5 , Elisabeth i 3 6 ,1 9 7
1 8 2 ,1 8 3 , 2 2 5 ,2 2 6 ,2 2 7 em pirism o 61, 6 8 ,1 3 7 ,1 3 8 , 141,
coesão 22 , 40, 48 , 50, 72, 73, 78, 1 4 4 ,2 2 7
80, 9 3 ,9 4 , 112, 1 4 6 ,1 4 7 , eqüidade 25, 44
1 6 1 ,1 6 6 , 1 6 7 ,1 7 0 ,1 7 4 , Escócia 50
1 7 5 ,1 7 8 ,1 8 4 ,1 8 5 ,2 2 2 , escravidão 2 9 ,1 1 3 ,1 1 5 ,1 1 6 ,1 2 9 ,
230 1 3 3 ,1 4 3 ,1 5 4 , 1 5 5 ,1 7 6 ,
c o m m o n latv 6 9 ,1 2 9 ,1 5 6 ,1 6 5 189
com unidade internacional 17, 65, Espanha 3 7 ,4 7 ,1 2 9 , 134, 205
1 9 6 ,2 1 2 Estado 7 ,1 4 ,1 9 , 2 0 ,2 1 , 23, 25,
com unidades 4 7 , 63 , 7 2 ,1 1 0 ,1 2 2 , 2 8 ,2 9 ,3 0 ,3 1 ,3 3 , 3 6 ,3 9 ,
1 3 6 ,1 6 5 , 230 42, 44, 4 6 ,4 7 , 49, 5 0 ,5 1 ,
co m u n ism o , M a r x ism o 1 5 , 1 7 7 , 52, 54, 55, 56, 57, 58, 59,
1 8 4 ,1 9 2 6 3 ,6 7 ,6 8 ,6 9 ,7 1 ,7 2 , 73,
C on go 171, 1 8 5 ,2 1 4 74, 83, 84, 88, 89, 90, 91,
consentim ento 21 , 25 , 44, 45 , 46, 92, 93, 94, 9 5 ,1 0 0 ,1 0 1 ,
52, 90, 94 , 95, 96, 98 , 99, 1 0 2 ,1 0 3 ,1 0 5 ,1 0 6 ,1 0 7 ,
1 0 0 ,1 4 4 ,1 7 2 1 0 8 ,1 0 9 ,1 1 0 ,1 1 1 ,1 1 2 ,
conservadorism o 68, 91 1 1 3 ,1 1 8 ,1 1 9 ,1 2 0 ,1 2 2 ,
C o n s id e r a ç õ e s s o b r e o g o v e r n o 1 2 3 ,1 2 4 ,1 2 6 ,1 2 7 ,1 2 9 ,
(Mill) 11, 15,
r e p re s e n ta tiv o 1 3 0 ,1 3 1 ,1 3 2 ,1 3 3 ,1 3 4 ,
80, 9 0 ,1 2 3 , 1 4 4 ,1 4 6 1 3 5 ,1 3 6 ,1 3 8 ,1 3 9 ,1 4 0 ,
C onstituição dos e u a 1 5 4 ,1 5 5 , 141, 1 4 3 ,1 4 4 ,1 4 5 ,1 4 6 ,
166 1 4 7 ,1 4 8 ,1 4 9 ,1 5 0 ,1 5 1 ,
Coréia 2 7 ,1 1 3 ,1 7 0 ,2 1 4 1 5 2 ,1 5 3 ,1 5 4 ,1 5 5 , 156,
C uba 128 1 5 9 ,1 6 0 ,1 6 1 ,1 6 2 ,1 6 3 ,
1 6 4 ,1 6 5 ,1 6 6 ,1 6 7 ,1 6 8 ,
1 6 9 ,1 7 0 ,1 7 1 , 1 7 3 ,1 7 5 ,
232
A VIRTUDE DO NACIONALISMO
1 7 7 .1 7 8 , 1 7 9 ,1 8 1 ,1 8 2 , 4 3 ,4 7 , 5 0 ,5 1 ,5 3 , 54, 55,
1 8 3 ,1 8 4 ,1 8 5 ,1 8 6 ,1 8 7 , 5 6 ,5 7 , 62, 6 7 ,6 8 ,7 4 ,1 1 0 ,
1 8 8 ,1 8 9 ,1 9 2 ,1 9 3 ,1 9 5 , 1 1 8 ,1 1 9 ,1 2 1 ,1 2 4 ,1 2 5 ,
1 9 6 ,1 9 7 ,1 9 8 ,1 9 9 , 200, 1 2 6 .1 2 7 .1 2 8 .1 2 9 .1 3 0 ,
2 0 1 .2 0 3 , 2 0 4 ,2 0 5 ,2 0 7 , 1 3 3 ,1 3 4 ,1 3 9 ,1 4 0 ,1 4 1 ,
2 0 8 ,2 0 9 ,2 1 1 ,2 1 4 ,2 1 5 , 1 4 3 ,1 4 5 ,1 4 7 ,1 4 8 ,1 5 0 ,
2 1 7 ,2 2 1 , 2 2 2 , 2 2 4 , 226, 1 5 2 ,1 5 7 ,1 5 9 ,1 6 0 ,1 6 6 ,
2 2 9 ,2 3 0 ,2 3 3 1 6 7 ,1 7 0 ,1 7 1 ,1 7 2 ,1 7 3 ,
Estado despótico 93 1 7 4 ,1 7 5 ,1 7 6 ,1 7 9 ,1 8 0 ,
E stado im perial 19, 5 5 ,1 0 3 ,1 0 5 , 1 8 1 ,1 8 2 ,1 8 3 ,1 8 4 ,1 8 5 ,
1 0 6 ,1 0 7 ,1 0 8 ,1 0 9 ,1 1 2 , 1 8 6 ,1 8 7 ,1 8 8 ,1 8 9 ,1 9 0 ,
1 2 0 .1 2 2 .1 3 1 .1 3 2 .1 3 3 , 1 9 1 ,1 9 3 ,1 9 6 ,1 9 7 ,2 0 0 ,
1 3 4 ,1 4 0 ,1 4 3 ,1 4 5 ,1 4 6 , 2 0 2 , 2 0 7 ,2 0 8 , 2 0 9 ,2 1 3 ,
1 4 7 .1 4 8 .1 4 9 .1 5 0 .1 5 2 , 2 1 5 ,2 1 6 ,2 2 2 ,2 2 3 ,2 2 4 ,
1 5 3 .1 5 6 .1 5 9 .1 6 0 .1 7 8 , 2 2 6 ,2 3 0
1 8 3 ,1 8 7 ,1 8 8 ,1 9 9 E stados U nidos ( e u a ) 8 ,4 2 , 82,
E stado livre 92, 93, 94 , 9 5 ,1 0 0 , 1 1 3 ,1 5 5 ,1 6 1 ,1 6 3 ,1 7 2 ,
1 0 1 .1 3 3 .1 6 4 .1 6 9 .1 7 0 , 211
181 E stado tribal 93
Estado nacional 7 ,1 9 , 2 0 , 2 1 , 2 3 ,
28 , 30, 33, 36, 47 , 5 0 , 52,
F
54 , 55 , 56 , 57 , 58, 69 , 71,
Faixa de G aza; G aza 1 9 5 ,2 0 6
83, 84, 92, 93, 9 4 ,1 0 2 ,1 1 0 ,
fam ília 7 ,1 4 ,2 2 , 43, 46, 47, 52,
1 1 1 ,1 1 2 ,1 1 8 ,1 1 9 ,1 2 0 ,
67, 74, 77, 78, 79, 80, 82,
1 2 2 ,1 2 3 ,1 2 4 ,1 2 6 ,1 2 7 ,
83, 84, 85, 86, 87, 88, 90,
1 2 9 .1 3 0 .1 3 1 .1 3 2 .1 3 3 ,
9 1 ,9 5 , 96, 97, 9 9 ,1 0 0 ,1 0 1 ,
1 3 4 ,1 3 5 ,1 3 6 ,1 3 9 ,1 4 0 ,
1 0 2 ,1 0 4 ,1 1 0 ,1 1 1 ,1 1 2 ,
1 4 3 .1 4 5 .1 4 8 .1 5 0 .1 5 2 ,
1 1 3 ,1 1 4 ,1 1 5 ,1 1 6 ,1 1 7 ,
1 5 3 ,1 5 4 ,1 6 0 ,1 6 1 ,1 6 2 ,
1 1 8 .1 1 9 .1 2 0 .1 2 1 .1 3 0 ,
1 6 4 .1 6 8 .1 6 9 .1 7 0 .1 7 1 ,
1 4 0 ,1 6 3 ,1 6 4 ,1 6 5 ,1 9 4 ,
1 7 3 ,1 7 5 ,1 7 8 ,1 7 9 ,1 8 1 ,
2 0 1 ,2 3 0 ,2 3 4
1 8 2 ,1 8 3 ,1 8 4 ,1 8 5 ,1 8 6 ,
Federação internacional 1 4 8 ,1 4 9 ,
1 8 7 ,1 8 8 ,1 8 9 ,1 9 2 ,1 9 3 ,
1 5 1 ,1 5 2 ,1 5 3 ,1 5 6 ,1 5 9 ,
1 9 6 ,1 9 7 , 1 9 8 ,1 9 9 ,2 0 0 ,
2 16
2 0 1 .2 0 3 , 2 0 4 ,2 0 7 ,2 1 1 ,
federalism o 1 5 3 ,1 5 5 ,1 5 6 ,1 5 7
2 1 5 ,2 1 7 ,2 2 1 ,2 2 2 ,2 2 4 ,
Ferguson 1 8 ,5 5 , 80, 8 9 ,1 0 7 ,1 0 9 ,
2 2 6 ,2 2 9 , 233
1 2 7 ,1 4 0
autodeterminação coletiva no, 131
Fiilipe li 33
autodeterminação sob, 130
Filipinas 128
Estado não-nacional 1 6 7 ,1 7 9
Filosofia da ordem política 72
Estado neutro 7 ,1 6 0 ,1 6 1 ,1 6 2 ,
força coercitiva 181
1 6 4 ,1 6 5 ,1 7 0
Fortescue, John 3 9 ,4 0 ,4 7 ,4 9 ,6 8
Estados árabes 2 10
França 1 1 ,1 5 , 20, 35, 37, 50, 57,
Estados nacionais 7 ,1 8 , 20 , 21 , 23,
58, 67, 89, 9 5 ,1 2 4 ,1 2 6 ,
3 3 ,3 5 ,3 6 ,3 7 ,3 8 ,4 1 ,4 2 ,
233
YORAM HAZONY
234
A VIRTUDE DO NACIONALISMO
1 3 6 ,1 3 7 ,1 4 3 ,2 1 6 ,2 2 3 , 2 1 6 , 2 1 7 ,2 2 8 ,2 2 9
228 K osov o 1 8 3 ,1 8 5 ,2 1 4
Império 7 , 1 6 , 1 7 , 2 0 , 2 1 , 33, 34, Krautham mer, Charles 16
36 , 3 7 ,4 1 , 54 , 57, 5 8 ,1 0 1 , Kuhn, T hom as 1 9 5 ,1 9 6
1 0 9 ,1 2 5 ,1 2 6 ,1 2 7 ,1 2 8 ,
1 4 3 ,1 7 7 ,1 9 7 ,2 0 0
L
Austríaco 125
lealdade 8 1 ,9 4 ,1 1 9 ,1 6 4 ,2 2 6
Austro-Húngaro 16
lei universal 105
Romano 16,20,34,37,54,57,197,
Líbano 1 7 1 ,1 9 4 ,1 9 5 , 206
200
L i b e r a l i s m o (von M ises) 7 ,1 1 ,5 1 ,
Inglaterra 1 5 ,2 0 , 35 , 36 , 37, 39,
5 9 ,1 4 8
4 0 ,4 7 ,4 9 ,5 0 ,1 2 9 ,1 3 4 ,
liberdade 7 ,1 1 ,1 4 , 1 9 , 2 0 , 2 2 , 2 5 ,
1 4 0 .1 4 4 .1 5 5 .1 6 5 .1 6 8 ,
2 7 ,3 1 ,3 5 , 3 6 ,3 9 ,4 0 ,4 2 ,
197
4 3 .4 4 .4 9 , 50, 53, 5 6 ,6 2 ,
I n P r a is e o f t h e L a w s o f E n g l a n d
6 5 ,6 9 ,7 3 , 84, 8 8 ,9 1 ,9 2 ,
(Fortescue) 39
9 3 ,9 9 ,1 0 0 ,1 0 1 ,1 0 5 ,1 0 6 ,
instituições livres 1 5 ,2 3 ,1 4 3 ,1 4 4 ,
1 0 9 ,1 1 2 ,1 1 3 ,1 1 6 ,1 1 7 ,
1 4 5 ,1 4 6 ,1 4 7 ,1 6 9 ,2 2 2
1 1 8 ,1 1 9 ,1 2 0 ,1 3 0 ,1 3 1 ,
integridade interna 85, 86, 8 7 ,1 1 9 ,
1 3 2 ,1 3 3 ,1 3 4 ,1 3 5 ,1 3 6 ,
1 2 2 ,1 2 3 ,1 2 8 ,1 3 0 ,1 3 1 ,
1 3 7 .1 4 0 .1 4 3 .1 4 4 .1 4 6 ,
1 4 5 ,1 5 3 ,1 5 4 ,1 7 0
1 5 0 ,1 5 3 ,1 5 5 ,1 6 5 ,1 6 9 ,
Irã 169, 2 0 7 , 2 0 9 ,2 1 0 ,2 1 3 , 2 1 4 ,
1 7 2 ,1 7 7 ,1 7 9 ,1 8 2 ,1 8 3 ,
215
1 8 4 ,1 8 5 ,1 8 8 ,1 8 9 , 190,
Iraque 64 , 6 6 ,1 6 7 ,1 6 8 ,1 6 9 ,1 7 1 ,
1 9 3 ,1 9 6 ,1 9 7 ,1 9 8 ,1 9 9 ,
1 8 3 ,1 8 5
2 0 1 ,2 0 5 ,2 0 7 ,2 0 8 ,2 1 3 ,
Irlanda 5 0 ,1 1 3 ,1 6 0 ,1 7 4
21 9 , 2 2 8 ,2 3 1
Islã 34, 35, 87
liberdade nacional e autodeterm i
Israel 8 ,1 4 , 2 7 , 2 8 , 2 9 , 30, 31 , 32,
n ação 9 3 ,1 4 3
33, 34, 36, 3 9 ,4 2 , 50, 53,
liberdades individuais 23, 6 8 ,1 1 8 ,
64 , 8 0 ,9 1 ,9 2 ,1 1 0 ,1 1 3 ,
1 3 4 .1 4 3 .1 4 4 .1 4 5 .1 4 6 ,
1 1 8 ,1 2 0 ,1 2 4 ,1 3 5 ,1 3 8 ,
1 6 1 ,1 6 7 ,1 6 8 ,2 2 2
1 3 9 .1 4 9 .1 5 4 .1 5 7 .1 6 8 ,
Lincoln 1 5 4 ,1 7 6
1 6 9 ,1 7 0 ,1 7 1 ,1 7 6 ,1 9 3 ,
língua 30, 32, 47, 55, 68, 82, 87,
1 9 4 ,1 9 5 ,1 9 6 ,1 9 7 ,1 9 8 ,
8 8 ,9 3 ,9 7 ,1 0 0 ,1 0 9 ,1 1 0 ,
2 0 1 ,2 0 2 ,2 0 3 , 2 0 4 ,2 0 5 ,
1 1 2 ,1 1 5 ,1 3 0 ,1 3 2 ,1 3 5 ,
2 0 6 ,2 0 7 ,2 1 0 ,2 1 1 ,2 1 2 ,
1 4 3 ,1 4 6 ,1 4 7 ,1 4 9 ,1 5 3 ,
2 1 3 ,2 1 5 ,2 1 6 ,2 1 8 ,2 2 1 ,
1 5 4 ,1 5 6 ,1 6 5 ,1 6 6 ,1 6 7 ,
228
1 6 9 ,1 7 0 ,1 7 1 ,1 7 6 ,1 8 8 ,
Itália 50, 5 3 ,1 2 9 ,1 9 7
200
livre com ércio 142
K Locke, John 7, 9 ,1 1 ,4 2 ,4 4 , 45,
K ant, Immanuel 8, 9 ,1 1 ,4 1 , 48, 4 6 .4 7 .4 8 .4 9 , 5 0 ,5 1 ,8 8 ,
5 7 ,1 4 8 ,1 9 6 ,1 9 8 ,1 9 9 , 200, 90, 94, 9 5 ,1 4 4 , 22 9 , 233
2 0 2 ,2 0 7 ,2 0 8 ,2 0 9 ,2 1 0 , Lutero, M artinho 38
235
YORAM HAZONY
M 2 2 6 ,2 2 7 , 2 2 9 ,2 3 3
M azzini, Giuseppe 9 , 1 0 , 1 2 , 1 5 , N ações U nidas ( n u ) 52, 60, 67,
19, 50 1 8 9 ,1 9 7 ,2 1 2 ,2 1 3
McKinley, W illiam 128 não-interferência 1 8 1 ,1 8 2
m étodo cartesiano 41 N aom i (figura bíblica) 33
M ill, John Stuart 9, 11, 15, 80, 90, N asser, G am ai Abdel 177
110, 123, 140, 144, 146, 171 ,1 7 2 , natureza hum ana 5 3 ,1 0 7 ,1 1 8
1 9 8 ,2 2 9 negociações bilaterais 189
M u n d o in d iv is ív e l c o m lib e r d a d e e negócios em presariais 52
(Adenauer) 56
ju s tiç a p a ra t o d o s neonacionalism o 68
M uro de Berlim 15 N igéria 171
N oruega 2 7
N ov a ordem m undial 1 7 ,4 3 , 59,
N
6 6 ,1 3 0
N aç ão 1 5 ,1 7 ,1 9 , 22, 25 , 28 , 29,
30, 31, 32, 33, 34, 35, 36,
3 8 ,3 9 , 4 0 ,4 1 , 4 2 , 4 6 , 4 7 , O
49 , 50, 58, 64, 66 , 67 , 68, O fim d a h is t ó r ia e o ú l t i m o h o
69, 74, 75, 80, 81, 82, 83, m em (Fukuyam a) 65, 66
84, 85, 86, 87, 88, 92, 93, O L e x u s e a O liv e ir a (Friedman)
94, 95, 9 9 ,1 0 0 ,1 0 7 ,1 0 8 , 65, 66
1 0 9 ,1 1 0 ,1 1 1 ,1 1 2 ,1 1 3 , O n N a t u r a l L a w a n d N a t io n a l
1 1 5 ,1 1 6 ,1 1 7 ,1 1 8 ,1 1 9 , L a w (Selden) 40
1 2 0 ,1 2 1 ,1 2 2 ,1 2 3 ,1 2 5 , O rganização do T ratado do A tlân
1 2 8 ,1 2 9 ,1 3 0 ,1 3 1 ,1 3 2 , tico N orte ( o t a n ) 159
1 3 3 ,1 3 4 ,1 3 5 ,1 3 6 ,1 3 7 ,
1 3 8 ,1 3 9 ,1 4 3 ,1 4 4 ,1 4 5 ,
P
1 4 6 ,1 4 7 ,1 4 9 ,1 5 2 ,1 5 3 ,
Paquistão 124
1 5 4 .1 5 6 .1 6 0 .1 6 1 .1 6 2 ,
patriotism o 19, 5 5 ,1 4 6
1 6 3 ,1 6 4 ,1 6 5 ,1 6 6 ,1 6 7 ,
patriotism o constitucional 162
1 6 8 ,1 6 9 ,1 7 0 ,1 7 1 ,1 7 2 ,
paz e prosperidade 19, 28, 34, 59,
1 7 3 ,1 7 4 ,1 7 5 ,1 7 6 ,1 7 8 ,
6 6 ,1 0 1 ,1 0 3 ,1 0 5 ,1 0 6 ,1 8 7 ,
1 7 9 ,1 8 0 ,1 8 1 ,1 8 3 ,1 8 4 ,
2 2 1 ,2 2 2 ,2 2 3
1 8 5 ,1 8 6 ,1 8 7 ,1 8 9 ,1 9 1 ,
Peres, Shimon 65, 66
1 9 2 ,1 9 3 ,1 9 6 ,2 0 1 ,2 0 2 ,
Políbio (historiador grego) 33
2 0 3 , 2 0 5 ,2 0 9 ,2 1 1 ,2 1 3 ,
Polônia 35, 37, 50, 53, 5 5 ,1 1 3 ,
2 1 5 ,2 1 7 ,2 1 8 ,2 1 9 ,2 2 2 ,
1 2 5 ,1 6 0 , 2 0 2 ,2 1 2 ,2 1 3 ,
2 2 6 , 2 2 7 ,2 2 8 , 2 3 0 ,2 3 1
218
nacionalism o 1, 3, 4, 7, 8, 1 3 ,1 4 ,
populações m inoritárias 186
1 5 ,1 8 ,1 9 , 2 0 ,2 1 ,2 4 , 27,
Primeira G uerra M undial 53, 54,
36, 50, 54 , 55, 57 , 62, 63,
66, 67, 6 9 ,1 2 5 ,1 2 9 ,1 3 7 , 1 2 5 ,1 2 6 , 1 2 7 ,1 7 2 ,1 7 6
Protestantism o 3 5 ,1 6 5
1 4 4 .1 4 7 .1 4 8 .1 6 1 .1 6 2 ,
1 6 5 ,1 7 0 , 1 7 7 ,1 9 1 ,1 9 2 ,
1 9 3 ,2 1 5 , 2 2 1 ,2 2 3 ,2 2 4 , R
236
A VIRTUDE DO NACIONALISMO
23 7
YORAM HAZONY
Versalhes 1 7 4 ,1 7 6 ,1 7 7
vínculos de afetividade 8 0 ,1 2 1 ,
122
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6 1 ,1 4 8
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Wilhelm ii (Kaiser Alem ão) 54,
126
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1 4 8 ,1 7 2 ,1 7 3 ,1 7 4 ,1 7 6 ,
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238